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NOSSO CADERNO DE RECEITAS
PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
MAIS Gente e Livros: Caixinhas Viajantes no Mundo Fantástico da
Literatura
NOSSO CADERNO DE RECEITAS: GENTE E LIVROS NA COZINHA
Subprograma Apoio às Licenciaturas
Programa de Extensão Universitária Universidade Sem Frontei-
ras – USF
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
- SETI
Setor de Educação
Pró Reitoria de Graduação – PROGRAD e Pró Reitoria de Exten-
são e Cultura – PROEC
Programa de Extensão “Qualificação de Professores Alfabetiza-
dores”
Universidade Federal do Paraná – UFPR
Curitiba, novembro de 2010
Ficha técnica
Autores:
Ana Luiza Suhr Reghelin, Andressa Machado Teixeira, Bruna Fialla
Alves, Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves, Fabiana da Cunha
Medeiros, Karla Fernanda Ribeiro Neves, Juliana Beltrão Leitoles, Jú-
lio Cezar Marques da Silva, Liliane Machado Martins, Luciane Fabiane
dos Santos, Márcia Tarouco de Azevedo Rocha, Rosicler Alves dos
Santos, Valéria Zimermann de Morais
Ilustrações:
Ana Luiza Suhr Reghelin
Capa:
Miriam Fialla
Diagramação:
Felipe Meyenberg
Revisão:
Bruna Fialla Alves
Assistente de Organização:
Bruna Fialla Alves
Organização:
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves
Prefácio:
Carmen Sá Brito Sigwalt
Apoio:
SETI
UFPR
Tiragem:
300 exemplares
Aos professores
Muito Obrigado!
À Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
- SETI,
À Universidade Federal do Paraná - UFPR,
Às pessoas das comunidades atendidas, escolas e outras insti-
tuições parceiras,
Aos que se dedicam à literatura e à educação,
Aos nossos amigos e familiares,
Aos livros que lemos e às histórias que ouvimos contar.
Índice
Primeira Parte
Capítulo 1 – MAIS escola
Capítulo 2 – MAIS dos livros
Capítulo 3 – MAIS gente
Capítulo 4 – MAIS das histórias
Capítulo 5 – MAIS viajantes
Segunda Parte
Capítulo 1: Matéria prima
“Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
Listagem das “caixinhas viajantes” e do acervo do projeto; sobre os livros
em uso e as narrativas de histórias de vida
Capítulo 2 - Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não apa-
rece, mas aparece na arte de fazer comida
Qualidades do contador de história; reflexões autobiográficas de quem
ama literatura
Capítulo 3 - História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
Depoimentos de integrantes do projeto da Universidade e da Comunidade
Capítulo 4 - Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena
sala de aula
Recursos externos e outras maneiras de contar histórias
15
20
32
37
41
47
66
74
89
Capítulo 5 - A massa desandou... virou virado!
Experiências com o inesperado
Situações-problema no projeto e o que se pode aprender com elas
Capítulo 6 - Culinária exótica: literatura FORA da sala de aula
Entrevistas com quem atua em hospital, brinquedoteca na clínica, brin-
quedoteca escolar e livraria especializada
Capítulo 7 - Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles
nos contam
MAIS entrevistas: contadora de histórias, escritor que ilustra e ilustrador
que escreve.
Capítulo 8 - Aprimorando o gosto: cozinheiros mirins
Práticas criativas protagonizadas pelos jovens leitores
Capítulo 9 - Pesquisa: em busca de iguarias
Sobre intertextualidade e auto-reconhecimento
Capítulo 10 - Em nossa cozinha
Integrantes da equipe, parceiros e outros colaboradores do projeto; nú-
meros e curiosidades
Referências
Apêndice
Receitas do nosso cardápio!
Materiais confeccionados, testados e aprovados
Antes de recolher os pratos
112
126
140
151
163
173
186
196
210
Prefácio
Carmen Sigwalt
Acredito que é na infância que se desperta o gosto pela literatu-
ra, mas para isso é necessário o incentivo de familiares e professores.
Dentro desta perspectiva nasceu o “Projeto Gente e Livros: caixinhas
viajantes no mundo fantástico da literatura”, que teve sua criação
graças ao desenvolvimento de outro projeto, chamado “Os Livros
Criam Asas”, realizado no país africano São Tomé e Príncipe com o
apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e do Ministério de
Relações Exteriores. Em parceria com o Ministério da Educação, o
projeto foi desenvolvido através de três universidades: Universidade
Federal do Paraná, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Os participantes deste projeto foram responsáveis por implan-
tar, orientar, acompanhar e avaliar cem turmas – composta de jovens
e adultos - em processo de alfabetização e letramento. Durante o
processo de formação inicial e continuada dos professores foi prio-
rizada uma concepção de língua que os levasse à adoção de uma
metodologia que contemplasse não apenas a dimensão gráfica do
processo de alfabetização, mas também atendesse à necessidade de
garantir um processo de letramento dos professores e alfabetizan-
dos. Esta metodologia teve como ponto de partida o trabalho com
textos significativos - que possibilitassem a compreensão do proces-
so de leitura e produção de texto, a função social do letramento e
da escrita, o interesse pela aquisição dessas habilidades e o domínio
sistemático do código da língua portuguesa.
Durante a realização do projeto percebemos que o trabalho só
se complementaria com a criação de condições de leitura para os
alunos e professores, por isso implementamos um projeto de litera-
tura que disponibilizou um acervo com obras de autores brasileiros,
portugueses e africanos. As caixinhas de literatura circularam pelo
pequeno país, e graças ao resultado altamente satisfatório desta ini-
ciativa nasceu o desejo de criar um projeto semelhante no Brasil.
Com a criação do Programa Universidade Sem Fronteiras - pela
Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SETI) – eu (professo-
ra de Pedagogia da UFPR), Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçal-
ves (recém formada em Pedagogia) e Martha Cristina Zimermann
de Morais (aluna do mestrado) nos unimos para a elaboração do
“Projeto Gente e Livros: caixinhas viajantes no mundo fantástico da
literatura”. Conhecimento, amor à literatura e o desejo de atuar no
contexto educacional nos uniram para concretizar esta idéia. Com
isso foi possível tornar realidade o sonho de buscar incentivo à leitu-
ra através da qualificação docente e de oficinas pedagógicas desen-
volvidas com alunos de escolas públicas. Já no inicio do projeto foi
possível ampliar a equipe com a seleção de novos alunos de gradua-
ção - com perfil adequado ao projeto - e também com alunos recém
formados, dentro das características exigidas.
Realizamos as primeiras intervenções nos municípios do Vale
do Ribeira, pois apresentavam um dos IDH’s (Índice de Desenvolvi-
mento Humano) mais precários dentre todos os outros municípios
paranaenses; a questão educacional também aparecia como proble-
mática. Posteriormente privilegiamos o município litorâneo de Gua-
raqueçaba e a cidade de Piraquara - ambas apresentavam indicati-
vos de desenvolvimento bastante limitados.
A repercussão do projeto e o empenho da equipe em ampliar
a socialização desta iniciativa possibilitaram que fôssemos além do
atendimento inicial previsto e pudéssemos atuar em escolas públicas
de Curitiba, em um Centro Municipal de Educação Infantil, em uma
escola particular de Educação Infantil e na Casa Amarela – espaço
da Funpar e, posteriormente, da UFPR para atendimento de crianças
portadoras de necessidades especiais. O sucesso do projeto se deve
ao empenho de pessoas e instituições que acreditam na literatura.
Foi necessária a desconstrução de todo o projeto para recons-
truí-lo no formato de um livro. A obra - recheada com poemas, con-
tos, canções, aperitivos, jogos, brincadeiras, receitas e depoimentos
pessoais - é resultado de todo o desenvolvimento do projeto. Os
alunos e ex-alunos, percorrendo diferentes caminhos, destacam a
importância do incentivo à leitura. Com muita propriedade conheci-
mento e poeticidade, nos fazem percorrer uma história de sucesso
e comprometimento. Uma história que nos mostra o quanto somos
capazes de contribuir para a construção de uma nova sociedade –
a partir de uma escola séria, sem ser triste – em que a verdadeira
alegria está no acesso ao conhecimento; e na qual a leitura e a es-
crita representam instrumentos básicos – ferramentas fundamentais
– para uma sociedade letrada.
Sinto muito orgulho “dos meus meninos e das minhas meninas”,
autores desta obra.
Apresentação
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves
Há quem diga que as pessoas buscam receitas. Há quem troque
receitas. E também aqueles que distinguem o que é essencial do que
é ornamento; do que faz da refeição mais que um alimento, uma
iguaria.
Na terceira edição do projeto de extensão universitária “Gente
e Livros”, a gente temperou um pouquinho MAIS. Além de promo-
ver formação continuada de docentes, fazer intervenções nas salas
de aula - com alunos e professores (e, vez ou outra, também com
familiares) -, e entregar um kit de livros - as “caixinhas viajantes”
- em cada escola municipal pelos municípios por onde já passou,
o projeto “MAIS Gente e Livros” ousou desenvolver um jogo, um
DVD e um livro que contemplassem um pouco do que já cozinhou,
trocou e provou de literatura na escola e na comunidade. Tudo isso
para contribuir com a formação de leitores desde as séries iniciais do
ensino fundamental, nas quais o ensino formal é direito e dever em
nosso país.
A primeira parte do livro traz produções da equipe, inspiradas
nas experiências de mundo e de leitura que o projeto proporcio-
nou. Na segunda parte, há escritos que variam muitíssimo em gê-
nero, número e grau. Com o cuidado de oferecer uma variedade em
nosso cardápio, oferecemos depoimentos sobre os encontros; dicas
sobre o uso da literatura em sala de aula; entrevistas com autores,
ilustradores, contadores e com quem usa o livro em outros espaços
que não a sala de aula; preciosidades em relação à pesquisa e com-
posição de textos; além de saborosas informações sobre os livros,
as parcerias e a equipe. De sobremesa, materiais desenvolvidos e
aprovados pelo projeto que podem ser úteis a outros cozinheiros de
contações e criações de histórias. Tudo com o visual para favorecer,
realizar e enriquecer a degustação.
Seja porque as narrativas são alimento para a alma; seja pela
liberdade de gostar, desgostar e escolher que a literatura e a culiná-
ria compartilham; ou pelas incontáveis comparações que tanto nós
quanto muitos autores (como Marta Morais da Costa e Jorge Larrosa
Bondía) já fizeram entre a comida e o leitor, NOSSO CADERNO DE
RECEITAS percorre os caminhos da literatura na cozinha. Pois sabe-
mos que não há uma só receita na educação, mas há ingredientes
essenciais. Para fazer bolo de chocolate é necessário chocolate; as-
sim como para alfabetizar são necessários textos, letras, palavras.
E, para formar leitores, gente, histórias e livros (muitos deles!) são
igualmente fundamentais.
Bom apetite.
Primeira Parte
Capítulo 1 - MAIS escola
16
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
ABANDONADA, EU
Minha mãe não chega
Meu pai também não,
e saber que estou com fome
Me dói o coração!
Já é tarde...
Estou há muito tempo na escola,
Queria ir pra casa
E tomar uma Coca-cola.
Minha mãe diz que sou lenta
Na hora da saída
Mas na hora da saída,
Não posso ser esquecida!
Primeira poesia de Valeria Zimermann de Morais, 1997- 11 anos, espe-
rando os pais na saída da escola.
17
Da cara... o quê?
(Pra cantar no embalo da cara preta)
Pro-fes-so-ra
Da cara brava
Tanto franziu a testa
Que só ruga eu enxergava
Não adianta
Essa cara de espanto
Quanto mais eu ouso
Mais dessa canção eu canto
Pro-fes-sor
Da cara amarrada
Nem quando eu crescer
Eu mato essa charada
Não adianta
Essa cara de tacho
Se adulto é ser assim
Eu não cresço, eu me agacho!
Meu a-mi-go
Da cara traquina
Só de olhar pro outro
É que a gente já combina
Sim, adianta!
Dar a cara a tapa!
Pra encontrar princesa
Vai beijar de sapa em sapa!
MAIS escola
18
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Mi-nha a-mi-ga
Da cara sem-vergonha
Pergunta o que quiser
Com a resposta a gente sonha
Sim, adianta!
Essa cara-de-pau!
Pó de pirilimpimpim
pra encantar o lobo mau!
Camila S G Acosta Gonçalves
28/02/2010
19
Nau do professor
Andressa Machado Teixeira
(cantiga para ciranda)
Quando ouviu o canto da sereia
minha turma se animou
Quando ouviu o canto da sereia
minha turma se animou
Foi a vela do barco pirata
que o vento soprou
Foi a vela do barco pirata
que o vento soprou
Se a maré subisse eu não olhava
qual o ponto que eu estou
Se a maré subisse eu não olhava
qual o ponto que eu estou
Pego a bússola e boto no bolso
pra qualquer canto eu vou
Pego a bússola e boto no bolso
pra qualquer canto eu vou
Se eu vejo todos de mãos dadas a girar
é o balanço forte pro meu barco marejar
eu entendo muito de saudade e de amor
mas quando se forem não me esqueçam
por favor...
MAIS escola
Capítulo 2 - MAIS dos livros
21
Se eu fosse uma vaca e soubesse voar
eu ia em sua janela pra você me mostrar
pro seu pai, pra sua mãe, sua avó e professora
que nem aquela bruxa
que tem uma vassoura
Andressa Machado Teixeira
MAIS dos livros
22
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Repenti du Lobo
(inspirado na “Verdadeira História dos Três Porquinhos”)
Muito boa tarde, minha sinhora
Boa tarde, meu senhô
E pra todas criancinha
Que são os anju do Senhô
Vim aqui contá uma história
que foi é muito mar contada
Fala sobre três porquinho
E umas casa derrubada
Pois intão vô lhes dizê
A verdadera versão
Tenho nada pra escondê
I o curpado fui eu não
Tava cuma gripe das brava
Cuma fome de leão
Fui pidi um bucad’i açúcra
Pruns vizinho di prantão
Eu bati i eu chamei
Mas ninguém respondeu, não
Eu, gripado, ispirrei
I a casa foi pru chão
O vizinho eu avistei
Tava morto o Seo Leitão
Mal passado eu o devorei
Pra num morrê di inanição
23
MAIS dos livros
E os cumpadi qui mi ouve
Pois intendam muito bem
Tava doente e cum fome
E eu num matei ninguém
Foi só uma devoração
Eu vô dizê pra você
Veja bem, juntô a fome
Cô a vontadi di cumê
E as cumadre qui mi iscuta
Já falei, vô repeti
Eu, gripado, sem açúcra
Fui pr’otro vizinho pidi...
Acredite se quisé
Eu sô um lobo di bem
Ispirrei, caiu a casa
Comi o otro vizinho tamém...
Morto qui nem o primero
O segundo tava lá
E eu ainda sem açúcra
Pra modi tomá meu chá!
Di um mal eu num padeço
Eu vô dizê pra você
Num suporto disperdício
Por isso tive qui comê!
Foi meu pai qui m’insinô
A num deixá nada no prato
Mas di nada me adiantô
Ixpricá pru delegado...
24
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Pois é qui a minha fama
Tava ruim pra chuchu!
Eu divia é tê deixado
Os porco pros urubu!
Quando menos isperava
Vi minha foto nu jornal
Muito mi caluniava
Mi chamand’i Lobo Mau!
Criancinhas num si ingane
Isso foi difamação
Eu num sô um lobo infame
Eu num sô ninhum vilão!
Essa é minha versão
Num tirei i nem ponhei
É verdade verdadêra
Num iscondi n’ixagerei!
Eu aqui atrás das grade
Isso muito m’indiguina
Sem açúcra, sem melado...
Nessa xícra Severina
Voismicê qui mi iscuta
Faz favor di ispaiá
Tem história i tem nutícia
Qui tem qui disconfiá!
Pela iscuta eu agradeço
Cada um tem qui jurgá
Mas di açúcr’indá pereço
Pra modi tomá meu chááááá!
Alexandre A. Lobo cantou pra Camila S G Acosta Gonçalves
25
MAIS dos livros
CARTILHA RAPIDOPOLINA
FArofa
FERradura
FIasco ou
FORmosura
FUrou o esquema do felpudo orelha trêmula...
FELPO FILVA
Famoso escritor
Ficou de orelha em pé
Foi com as cartas da Charlô
“XArope
CHEIra pum!
CHINchilhosa”, ele pensou.
CHOcado e quase azul com
CHUmaço de cartas dessa fã...
CHARLÔ PASPARTU
SHOW de classe e destremida
CHAmusca o sentimento
X-salada a sua vida!
FOmentando a relação
CHOcolate e açafrão
FIcam os dois a dialogar
CHIMbalando se encontrar
FUzuê com um postal
CHUva faz o festival
FElizmente se enganou
CHEga o Felpo até a Charlô
FARroupilha estão os dois
CHAmejante feijão com arrroz...
26
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
CHarlote Felpote e
Felpô Filvô Charlô
Finalmente juntaram
Xícaras, pires e cobertor!
CHamaram tia Filva,
Família, avó, sobrinhas
Firmaram matrimônio
CHocalhando as ladainhas!
Camila S G Acosta Gonçalves leu, foi à festa do casório e se inspirou.
27
MAIS dos livros
Adaptação do livro O Sumiço do Pote de Mel – Milton Célio de Oliveira
Filho e Mariana Massarani, São Paulo: Brinque-Book, 2003. Por Bruna Fialla
Alves.
O Sumiço do Pote de Mel (diálogo – teatro de sombra)
(urso entra)
Urso: Alguém me ajude, por favor! Alguém me ajude!
(cachorro entra)
Cachorro: Au-au, o que foi? O que foi?
Urso: Fui tomar banho na lagoa e quando voltei pra casa meu
pote de mel tinha sumido. Você precisa me ajudar!
Cachorro: Fique tranqüilo, eu tenho um bom faro e vou encon-
trar o culpado!
(urso sai)
Cachorro: É melhor eu começar pela lagoa..
(entra o sapo)
Cachorro: Olá Senhor Sapo, por acaso o senhor sabe quem
pode ter entrado na casa do senhor Urso e roubado seu pote de
mel?
Sapo: Qualquer um, tanto o gato quanto o pato, mas eu des-
confio mesmo é daquele rosado que passa a maior parte do tempo
sujo de lama.
(sapo sai)
Cachorro: Sujo de lama? Mas só pode ser o...
(porco entra)
Porco: Sinto informar Senhor investigador, mas nesta história
estou limpo. Para desvendar este mistério é só ir atrás de quem gos-
ta de uma cenoura e é todo branquinho.
(porco sai)
Cachorro: Acho que já sei quem é!
(coelho entra)
Coelho: Ih, eu não peguei pote nenhum, não! No dia do sumiço
eu estava longe daqui. Mas fiquei sabendo que alguém cheio de
listras andou rondando a casa do senhor Urso.
(coelho sai)
Cachorro: Animal listrado? Quem pode ser?
28
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
(zebra entra)
Cachorro: Então Dona Zebra, o que a senhora fazia perto da
casa do urso?
Zebra: Ora, eu estava apenas fazendo minha corrida matinal,
não entrei na casa de ninguém. Mas enquanto estive por perto ouvi
uns miados...
(zebra sai)
Cachorro: Só tem um animal que mia, e é o...
(gato entra)
Gato: Miau! Eu estava perto do lago sim, mas estava atrás de
peixe, não de pote. Mas vi outro felino andando por ali, ele era bem
maior que eu e tem uma juba bem grande.
(gato sai)
Cachorro: Algo me diz que só pode ser o dono da selva! Melhor
eu ir investigar...
(leão entra)
Leão: Imagina senhor investigar, não fui eu. Passei o dia todo no
alto da montanha. E de lá pude ver que tinha alguém andando pela
selva e não era animal, não.
Cachorro: Não era animal?
Leão: Não, era uma menina!
(leão sai)
(menina entra)
Cachorro: Ah, te encontrei! Posso saber por que você pegou o
pote de mel do senhor urso?
Menina: Eu só queria um pouquinho do mel, já ia devolver!
Cachorro: Espere aí, vou avisar o senhor urso que achamos seu
pote de mel.
(cachorro sai)
Urso: Oh, quer dizer que acharam meu pote de mel?
Menina: Ah senhor Urso, me desculpe. Eu juro que ia devolver
seu pote de mel.
Urso: Tudo bem, não tem problema. Dá próxima vez é só pedir
emprestado.
FIM
29
MAIS dos livros
Adaptação do livro O Caso das Bananas – Milton Célio de Oliveira Filho
e Mariana Massarani, São Paulo: Brinque-Book, 2003. Por Bruna Fialla Alves.
O Caso das Bananas (diálogo – teatro de sombra)
(macaco entra)
Macaco: (acaba de acordar) Ai, que soninho bom! Que manhã
linda.. epa, mas cadê minhas bananas? Preciso de ajuda, alguém me
ajude!
(coruja entra)
Coruja: Epa, roubo é comigo mesmo.. me conte o que aconte-
ceu? Estou pronta pra investigar!
Macaco: Ah Dona Coruja, alguém roubou minhas bananas.. Eu
deixei elas aqui ontem a noite e hoje de manhã.. Puf, tinha sumido!
Coruja: Caro Macaco, para começar do começo, melhor ouvir a
vítima. Primeiro, me diga: Há um suspeito?
Macaco: Dona Coruja, abomino o preconceito, mas.. Soube de
um bicho estranho que veio de muito longe. Não é, pois, destas
bandas. Não duvido que tenha escondido as bananas na bolsa que
trazia na barriga.
(macaco sai)
Coruja: Ah, bolsa na barriga, é? Tem caroço nesse angu. Vamos,
então, ouvir...
(canguru entra)
Canguru: Essa história já conheço. Só por ser um estrangeiro
já viro logo suspeito. Pois digo. Digo e repito: Nesta mata há um
tipo ainda mais esquisito, com um rabo bem fornido, tal e qual uma
lagartixa multiplicada por quatro.
(canguru sai)
Coruja: Ora, rabo bem fornido? Lagartixa bem grande? Ah,
agora eu desvendo esse mistério. Quero ter uma conversa com..
(lagarto entra)
Lagarto: Dona Coruja, eu não tenha nada com o pato. Mas..
tenho um palpite: Quem tapeou o macaco vive muito bem na mata,
com seu porte de madame e seu casaco de pintas.
30
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
(lagarto sai)
Coruja: Palpite não conta, mas não custa ir interrogar..
(entra onça)
Onça: Dona Coruja, tenho cara de malvada, pois quando bra-
va.. Viro mesmo uma onça, mas no fundo sou boa-praça. Não que-
ro atirar pedras na vidraça do vizinho. Pense, pense um pouquinho:
que bicho aqui desta mata poderia comer tantas bananas sem ficar
engasgado? Só mesmo com pescoço comprido, comprido como um
gargalo. Um gargalo de garrafa.
(onça sai)
Coruja: Mas quem se parece com um gargalo de garrafa é..
(girafa entra)
Girafa: Das bananas eu nem sabia, juro! Mas o maroto que as
levou deve ser muito ladino com um rabo bem peludo e bigode no
focinho.
(girafa sai)
Coruja: Ora, ora! Não posso perder a pose. Quero uma conver-
sa com esse sujeito de bigode agora mesmo..
(raposa entra)
Raposa: Minha cara coruja, sou famosa pela astúcia. Mas meu
negócio são galinhas, vez ou outra umas uvas. E vou lhe dar uma
dica: para mim o malandrão é o tal que ostenta juba e nunca perde
a majestade.
(raposa sai)
Coruja: Juba? Majestade? Esse não me escapa!
(leão entra)
Leão: Só lambo o beiço por carne. Bananas? Credo. Nem de
graça! Nós, os gatos – grandes ou pequenos – não nos damos com
fruta. Para resolver este caso preste atenção na charada: Quem pode
subir em árvores, embora não tenha patas?
(leão sai)
Coruja: Como é duro o ofício. Mãos a obra, vou correndo atrás
da..
(cobra entra)
Cobra: Dona Coruja, ouça: Tudo sobra para a cobra, em dobro.
31
MAIS dos livros
Dizem que sou uma víbora, mas no caso das bananas, creia, sou
inocente. Sem querer ser venenosa, achar o larápio é fácil, só reparar
em sua roupa listrada.
(cobra sai)
Coruja: Listras? Só pode ser..
(zebra entra)
Zebra: No dia dos fatos eu estava fora a visitar o cavalo, que é
meu contraparente. Para mim está óbvio: quem mais poderia agarrar
o cacho de bananas sem ter uma grande tromba?
(zebra sai)
Coruja: Aham, agora eu desvendo o caso das bananas!
(elefante entra)
Elefante: Dona Coruja, pouco uso minha tromba de uns tem-
pos para cá, pois ando resfriado. Se quiser saber de tudo consulte
quem tudo viu e quem tudo vê lá do alto.
(elefante sai)
Coruja: Acho que já sei quem vai me cantar esse mistério..
(passarinho entra)
Passarinho: Vi sim, e vi muito bem o macaco acordar esfome-
ado no meio da madrugada e comer uma, duas e até três bananas
de uma única vez. Até acabar com o cacho todo. Mas o coitado não
sabia, pois, enquanto comia, roncava.
(passarinho sai)
Coruja: O mistério chega ao fim, sem muito pano pra manga. O
meu compadre guloso é... Sonâmbulo!
FIM
Capítulo 3 - MAIS gente
33
Mais GENTE e livros
Mais uma vez por estradas tortuosas
Andaram os viajantes
Impulsionados por suas vontades virtuosas
Saem em direção ao seu destino, mesmo em dias trovejantes
Galopam por entre as estradas
Escrevendo novas histórias a serem contadas
Não imaginavam que nessas andanças
Tantas experiências vividas
Enredariam no livro de suas vidas tantas mudanças
E agora?
Leva vento mais uma história
Invade e explora cada canto da memória
Vai levando essas lembranças flutuantes
Risos, alentos, esperanças cintilantes
Ouçam os gritos e os apelos de glória
Saiam mais uma vez –personagens- dessas caixinhas viajantes...
Júlio Cezar Marques da Silva
Curitiba (com a cabeça em Guaraqueçaba),
21 de setembro de 2010
MAIS gente
34
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
POEMARES
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves
Guaraqueçaba, 30 e 31 de jan/2010
Na concha
Quem vive que nem ostra acaba engolido vivo.
(Lição de Biologia)
Ave do mar é peixinho.
Galope na água,
cavalo-marinho.
Peixe no ar,
passarinho.
Mergulho
Bem-me-quer
Mal-me-quer.
Bem-me-quer
Mar-me-quer:
Mar-me-quer-bem!
-- TCHIBUM! –
35
MAIS gente
Araraquáricas de Piraquara
- trava-bico! –
Sobrevoando ora ora
Por Piraquara ara ara
Passei por uma torneira
Que não vaza água agora
Aterrisando ora ora
Ali na praça ara ara
Avistei um’ outra arara
Que me olhou naquela hora
Sem ponto e vírgul’ora ora
É exclamada ara ara
Surpresa de Pintassilgo
Que poesia e voa embora
Estrada afora ora ora
Escolarada ara ara
Passarinhada na leitura
Ave! nossa senhora!
Ararizando ora ora
Em cachoeira ara ara
É fonte que faz nascer
Todo leitor que ri e chora!
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves Arara
36
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
No embalo
Fofinho balanço
Das asas de um anjo.
Viola tocando
E a gueixa dançando.
Charmoso balanço
Do rabo de um gato.
Flauta sussurrando,
Felino ronronando.
Criação de poesia mediada por Camila S G A Gonçalves. Professoras
participantes: Joselita Romualdo da Silva, Geniselia Maria Ribeiro dos Reis,
Nutzi C. V. Kaisernan, Mariza Ap. Pires Polati, Marili Nunes Cardoso, Luciane
Vilar Possebom. Piraquara, 13 de novembro de 2010.
Capítulo 4 - MAIS das histórias
38
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Caça ao tesouro
Andressa Machado Teixeira
(estilo bate-mão ou jogos de mão, cantar cada vez mais rápido)
Tinha uma cidade numa ilha a á
Tinha uma cidade numa ilha a á
Tinha uma ilha na floresta a á
Tinha uma ilha na floresta a á
Tinha uma floresta no ocean an ano
Tinha uma floresta no ocean an ano
Tinha um oceano num planeta a á
Tinha um oceano num planeta a á
Tinha um planeta e um cometa a á
Tinha um planeta e um cometa a á
Tinha um cometa e um ET e ê
Tinha um cometa e um ET e ê
Tinha um ET e uma pista a á
Tinha um ET e uma pista a á
Era uma pista de corrida a á
Era uma pista de corrida a á
Era corrida de tartaruga a á
Era corrida de tartaruga a á
A tartaruga é muito esperta a á
A tartaruga é muito esperta a á
39
A criança é mais esperta a á
A criança é mais esperta a á
Tinha uma criança numa ilha a á
Tinha uma criança numa ilha a á
Era ilha do pensamento to tô
Era ilha do pensamento to tô
MAIS das histórias
40
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Flores para a avó
Camila S G Acosta Gonçalves
Uma menina
Lá na floresta
Colhendo flores
Pra dar pra sua avó...
Mal ela sabia quem estava a espiar
Um velho lobo já pensando no jantar
A menina não seguiu o conselho
“Não pare no caminho e nem fale com estranhos!”,
Disse a mãe da Chapeuzinho Vermelho.
O lobo um plano traçou
Por chapeuzinho ele passou
A vovó ele devorou e passando uma ladainha
De sobremesa ele engoliu a netinha!
(óóóóóóóóóóhhhhhh)
Um caçador -- atento como ele só!—
Enfrentou o terrível lobo
E salvou a chapéu e sua avó!
A vovó desesperada
Quase não sabia de nada
Ficou na barriga do lobo
Com o que ele comeu na noite passada
E ao ser resgatada
Viu sua camisola toda usada!
* essa é uma canção aditiva, na qual pode-se repetir os versos e acrescen-
tar o verso seguinte à vontade.
Capítulo 5 - MAIS viajantes
42
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Longe do querer dizer e
Enquanto durar o ócio
Inventado entre uma
Tarefa e outra (agora ex-passadas),
Uma valente
Rapariga encontra novo mundo
Ao alcance dos dedos.
Camila S G Acosta Gonçalves, 02/01/2010
43
Eternidade
Era uma tarde de sol, numa rua tranquila.
Estava sentada no fio de luz uma dupla de pardais, estavam lado
a lado. Realizavam longo diálogo, um deles aproximou-se um pouco,
o outro recuou.
Na eternidade de tempo dos passarinhos o primeiro arriscou
aproximar-se um pouco mais.
Tanto fez que conseguiu permanecer junto, bem juntinho ao
outro por largo tempo... dentro da lógica dos pardais.
Foi uma eternidade linda. E a conversa entre os dois continuava,
até que o segundo novamente se esquivou, o diálogo entre os dois
esquentava.
O segundo, nervoso, lançou vôo e passou para o outro fio do
poste de luz da rua tranquila numa tarde de sol. Agora, um pouco
distante do primeiro pardal.
E naquela eternidade pardaica apareceu outro pardal, um ter-
ceiro (...) e sentou-se ao lado do segundo. Ficaram mais uma peque-
na eternidade ali no outro fio, sabe-se lá o que falavam...
O primeiro, isolado, não aguentou e foi ter com a nova dupla.
O segundo, muito irritado, lançou vôo, desta vez rumo ao céu...
será que volta?
Os outros dois pássaros ficaram sentados no mesmo fio de luz,
bem separados entre si, num profundo silêncio!
Assim, durante um eterno tempo de pardal!
Juliana Beltrão Leitoles
18/01/2010
MAIS viajantes
44
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Histórias para Esquecer
Ana Luiza Suhr Reghelin
Há algum tempo carrego comigo este cesto, é por ele que pas-
so os dias a falar com gente. Gente alta, gente baixa, gente rica,
pobre, alegre e triste. Toda essa gente me ajuda, assim como ajudei
alguém tempos atrás.
Era uma viagem. Viagem que fazia só, ia de um lugar longe
para um lugar distante. No meio deste caminho, quando o sol já ia
baixo e as cores da noite se mostravam, encontrei um homem. Gente
velha. O ar cansado denunciava mais do que a sua idade, mostrava
o cansaço dos olhos e da alma. Parei e ofereci a metade do pão, da
carne e das uvas que trazia comigo. Alimentou-se sem dizer palavra.
Seu olhar cansado fixou-se em mim e após um tempo sua fala
cansada disse: “Me ajude a esquecer!”
“Esquecer?” [Pensei eu] “O que você quer esquecer?”
Respondeu: “Tudo!”
Aquilo soou forte e pensei ser grave alguém daquela idade que-
rer livrar-se das lembranças de toda uma vida. Vida sofrida, conclui.
- Me ajude a esquecer! Continuou o homem. Não consigo es-
quecer, lembro de tudo, cada coisa, cada dia; isso me consome. Já
não posso com tudo isso.
Mostrou-me então o cesto que estava aos seus pés. Era grande
e estava cheio de lembranças e memórias. Disse que havia muitos
daqueles em sua casa e já não havia quase espaço para outros.
Achando aquilo tudo muito simples, praguejei: “Jogue-os fora!
Assim irá se livrar de todas essas coisas”.
Com um riso irônico, respondeu:
- Já fiz isso quando ainda era moço, fui até o rio mais fundo que
conhecia e despejei todas, até não ver mais nenhuma. Quando voltei
para casa lá estavam muitas outras... lembranças das lembranças.
Era sempre assim, quando voltava de uma dia de trabalho ou de um
bonito passeio, estavam lá cada carro que havia passado, a cor dos
olhos de cada moça que havia admirado, a quantidade de passos
45
que havia andado, o som de cada palavra dita e ouvida. No inicio era
bom, na escola eu era o melhor da turma, lembrava de cada fórmula
matemática e de todas as conjugações, sem hesitar. À medida que
fui crescendo, as lembranças começaram a pesar e os cestos passa-
ram a se multiplicar.
Com a voz irritada e com um gesto forte, continuou:
- É impossível viver sem esquecer!
Novamente seu olhar fixou-se no meu: “Me ajude a esquecer!”,
suplicou mais uma vez.
Pensei um pouco, ajeitei minhas coisas, sentei ao seu lado e
comecei a esquecer... calmamente...
“Esqueci que tinha uma flor e ela morreu sem água; esqueci da
música que fiz para um amigo que tinha orelhas grandes; esqueci
meu dedo na mira do martelo... doeu; esqueci que tive um amor e
perdi, quando saí em busca de outro...”
Falei por um tempo, até que olhei e vi que o meu velho dormia,
estava com o ar mais sereno, me acomodei na coberta e adormeci
também.
Acordei na outra manhã com a luz do sol. Totalmente desperto,
olhei ao redor mas não encontrei meu velho, só vi seu cesto e ele
estava menos cheio que na noite passada. Pensei que talvez o tivesse
ajudado de alguma forma, mas entendi também que ele ainda preci-
sava da minha ajuda e levei o cesto comigo.
Ainda hoje ofereço as lembranças do cesto para as gentes que
encontro pelo caminho, dou uma ou duas aos mais esquecidos e
peço que cada um esqueça uma lembrança e que ajude o meu velho.
O cesto reaparece cheio a cada fim de tarde, assim continuo
sabendo que o meu velho ainda se lembra e de nada se esquece.
MAIS viajantes
Segunda Parte
Capítulo 1 - Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma
história, plantei uma idéia...”
Listagem das “caixinhas viajantes” e do acervo do projeto;
sobre os livros em uso e as narrativas de histórias de vida
“Se você quiser conhecer alguém profundamente,
preste atenção nas histórias que essa pessoa conta, lê
ou assiste na televisão ou no cinema. Nossas histórias
preferidas sempre falam de nossos maiores segredos,
das emoções mais verdadeiras de nossas vidas, dos
nossos grandes sonhos e esperanças.” (prefácio de LÁ
VEM HISTÓRIA OUTRA VEZ, de Heloisa Prieto)
“Antes das sessões de fotos, eu conversava com as cri-
anças, para conhecê-las melhor. Descobria como eram
a família e os amigos, a escola e as brincadeiras, e o
que fazia cada criança ser especial.” (fotógrafo do livro
CRIANÇAS COMO VOCÊ)
49
Das viagens em que não fui...
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves
... mas das quais ouço falar são muitas!
Como uma das integrantes pioneiras do projeto, que participa
desde 2007 e é, portanto, uma das mais antigas (já condecorada
com cabelos brancos sem disfarce), estive em diversas viagens e
posso dizer que nenhuma foi, é e nem será igual à outra. E guardo
suspiros fortes para viagens em que não estive e afirmo piamente
que nenhuma foi, é, e nem mesmo será igual à outra.
Dessas viagens eu degusto os restos, tal qual uma criança que
lambe o que sobrou da massa do bolo na cuba da batedeira - mo-
vida à mão ou à eletricidade. É a lambida na tampa do iogurte, ou
mesmo de um restinho afetuosamente guardado para mim pela
equipe caridosa, deliciando-me de palavras, movimentos, brilho nos
olhos, expressões belíssimas ou inesperadas - inclusive amargas. Sa-
bemos, ora pois, em especial os já de cabelo grisalho como eu, que
nem tudo são flores, e até mesmo as mais belas das flores têm seus
espinhos, como a “rosa vermelha do meu bem-querer” da ciranda
nordestina.
E utilizo meus recursos imaginativos para construir essas via-
gens na minha cabeça, encontros que não tive, mas que igualmente
quero fazê-los presentes em minha bacia de memórias.
Dessas em que não fui, quero deixar o relato de uma - MAIS ou-
tra estratégia para não me fazer esquecer... se é que isso é possível,
pois traz aroma tão forte, tão inefável que é séria candidata a estar
guardada em meu baú das lembranças eternas de todos os tempos,
incluindo os imemoráveis.
Um dos livros da caixinha viajante 2008 é o Asa Branca, de Luiz
Gonzaga. É, dele mesmo. Do “rei do baião”. Por esse livro foi paixão
à primeira vista, pois as ilustrações são belíssimas, colorindo a letra
da canção de Gonzaga pelo talentosíssimo Maurício Pereira – livro
editado pela DCL. Como merecida, a canção vira música em uma
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
50
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
partitura para instrumento harmônico (piano, violão) e canto ou ins-
trumento melódico (flauta, clarinete, sax, violino...). A poesia é tra-
tada com merecida seriedade: escrita timtim por timtim apossada
de seu regionalismo, com os acentos dos falantes e cantantes lá do
sertão: “quando oiei a terra ardeno...”
Quando fiz a escolha desse livro para a caixinha, não tinha idéia
do acontecimento que se desencadearia...
Foi uma professora de Tunas do Paraná quem contou, nessa
viagem em que não estive. Ela leu o livro para seus alunos, mostrou
as figuras, cantou a música (será que tinha rádio para rodar o CD
que lá deixamos com a canção? não sei, prefiro imaginar que ela
cantou bem bonito a cappella, e depois os alunos cantaram junto) e
emprestou o livro ao aluno que havia lhe pedido.
Seus alunos eram iniciantes leitores de letra, e mestres leitores
de mundo. Um pouco eles devem ter aprendido com ela. O outro
pouco, com os pais, os tios, os vizinhos, os cachorros, as galinhas, os
porcos, os milhos, a terra. E com as outras crianças, é claro.
O menino levou o livro para casa. Ele nem sabia que, antes dis-
so, eu já havia me apaixonado pela mesma leitura, pela mesma tira-
gem desse exemplar que jazia em suas mãos.
Em sua casa, abriu o livro para o pai ler... o pai lia palavra ne-
nhuma!
(Será que ele fora “peão; sua mãe, solidão; seus irmãos (quase)
perderam-se na vida à custa de aventuras?” isso eu também não
sei... sei que essa outra canção me dá um arrepio parecido com essa
história... arrepio quente que me faz marejar os olhos de lágrimas)
O menino estava na escola tempo suficiente para conhecer da
amargura do pai. Sabia bem como era isso. Um frio gelado na es-
pinha, a boca seca tentando balbuciar algo. Algo que pudesse por
acaso fazer sentido com aquilo que se esperava de um leitor de letra.
Isso tudo vezes a idade do pai. O pai bebia uma tintura de boldo de
sentimento, somada à responsabilidade de pôr filho no mundo e
cuidar dele, saber dele, ler... para ele.
Entendendo o pai, o menino quebrou o silêncio silabando o
começo do texto de letra.
51
Felicidade é pouco pra dizer disso: o pai sorriu para o filho. Sor-
riso com olhos molhados. Ele vivera o bastante para conhecer aquilo
que não sabia iscrivinhado. Não só sabia da letra, mas também a
melodia.
E foi assim, cantando e lendo para e com o seu filho, que os
dois passaram aquele final de tarde. Em preciosíssima descoberta e
resgate: o filho descobriu o pai, leitor; o livro descobriu a fluência de
quem já o conhecia desde antes de ele nascer. Como a um filho que
resgata as origens de seus ascendentes desde seu ventre. O ventre
da cultura.
Foi então que de um leitor nasceram dois. De uma só letra nas-
ceram múltiplas imagens. E da memória de uma canção nasceu re-
conhecimento. E desse reconhecimento, o significado. Significado
que desbota meus cabelos só de ouvir falar. A experiência gera o
contraste das cores do cabelo, por meio das peculiaridades do vôo
de cada um de nós, três leitores, com Asa Branca.
Das viagens em que não fui, mas das quais sempre tenho notí-
cias, eu escrevi essa.
Simples música para meus ouvidos. Que me fazem escutar o
choro baixinho de emoção do pai na escuridão da noite, quando as
ilustrações se fundiram com o breu do descanso.
Esse pai que nem conheceu a gente. Mas que já conhecia o livro.
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
52
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
As muitas histórias
Liliane Machado Martins
Contar histórias pode ser uma sinfonia, desde que nessa sinfonia, or-
questrada com palavras, entrem todos os instrumentos: do sopro da respi-
ração ao metal da voz; do dedilhar do corpo ao ribombar do olhar (SISTO,
2007, p. 39).
Todos nós já contamos ou ouvimos alguma história, desde
aquelas narradas por nossos pais, as que nossos professores conta-
vam na escola ou mesmo aquela que ouvimos dos nossos amigos. E
não estou falando apenas das histórias tiradas dos livros, falo tam-
bém daquelas que a gente só tem na lembrança - dessas que vai
passando de geração pra geração.
Comigo não foi diferente, vários momentos da minha vida fo-
ram marcados pela contação de histórias. Uma história que me mar-
cou muito foi contada durante uma viagem de barco na Lagoa da
Conceição, em Florianópolis/SC. Foi neste dia que escutei pela pri-
meira vez a história do menino Yahoo, uma criança que acreditava
que poderia empurrar o céu para o alto, usando a força, a coragem
e a união de todas as crianças do mundo. Fiquei tão apaixonada por
esta história que já a contei diversas vezes.
Outra situação que eu lembro muito bem foi uma contação fei-
ta pelo Vinicius, participante do projeto em 2008 e 2009. Ele leu o
livro “Todo cuidado é pouco”, de Roger Mello. Fiquei encantada com
o modo que ele contou a história, envolvendo os ouvintes – a maio-
ria criança – durante toda a contação.
Nas histórias com fantoche, era maravilhoso perceber a curio-
sidade das crianças. Elas já entravam em sala tentando adivinhar o
que iria acontecer. Todo aquele momento antes da contação era en-
cantador.
Das várias atividades que fizemos pelo projeto, a maioria foi
desenvolvida em conjunto. A criação era desafiadora, porém sempre
muito empolgante. E ver o resultado final, construído com a ajuda de
todos, era gratificante.
53
Todo contato humano se dá por meio de uma leitura, em seu
sentido mais amplo: lê-se as histórias que possuem aquela criança,
as histórias que ela deseja possuir, as histórias do professor que to-
cam as da criança e, se esse momento for tratado com cuidado e
carinho, nascerá toda uma nova família de histórias, uma rede deli-
cada cuja beleza poderá gerar fios que se entrelaçam infinitamente.
(PRIETO, 1999, p. 33)
Referências:
PRIETO, H. Quer ouvir uma história? Lendas e mitos no mundo
da criança. São Paulo: Angra, 1999 (Jovem Século 21)
SISTO, Celso. Contar histórias, uma arte maior. In: MEDEIROS,
Fábio Henrique Nunes & MORAES, Taiza Mara Rauen (orgs.). Me-
morial do Proler: Joinville e resumos do Seminário de Estudos da
Linguagem. Joinville, UNIVILLE, 2007.
CIPIS, M. Era uma vez um livro. São Paulo: Cia das Letrinhas,
2002.
MELLO, R. Todo cuidado é pouco. São Paulo: Cia das Letrinhas,
1999.
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
54
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Caixinhas Viajantes 2008
A árvore generosa
Shel Silverstein
Editora Cosac Naify
A árvore que dava sorvete
Sergio Capparelli
Editora Projeto
A Festa das Palavras
Kátia Canton
Editora Girafinha
Armazém do Folclore
Ricardo Azevedo
Editora Ática
Asa Branca
Luiz Gonzaga
Editora Difusão Cultural do Livro
Cacoete
Eva Furnari
Editora Ática
Contos que brotam nas flo-
restas – Na trilha dos irmãos
Grimm
Kátia Canton
Editora Difusão Cultural do Livro
Dentro do espelho
Luise Weiss
Editora Cosac & Naify
Fada cisco quase nada
Sylvia Orthof
Editora Editora Ática
Fico à espera
Davide Cali e Serge Bloch
Editora CosacNaify
Lá vem história
Heloisa Prieto
Editora Companhia das Letri-
nhas
No fundo do fundo-fundo Lá
vai o tatu Raimundo
Sylvia Orthof
Editora Nova Fronteira
O cabelo de Lelê
Valéria Belém
Editora Companhia Editora
Nacional
O Carteiro chegou
As” Caixinhas Viajantes” são o acervo de livros entregue em
cada uma das escolas das séries iniciais da rede pública dos municí-
pios participantes-- Adrianópolis, Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná
(2008-2009); Guaraqueçaba e Piraquara (2010).
O “Acervo Gente e Livros“ são os livros adquiridos (através de
compra, troca ou doação) para a sede do projeto na universidade.
55
Janet e Allan Ahlberg
Editora Companhia das Letri-
nhas
O Equilibrista
Fernanda Lopes de Almeida e
Fernando de Castro Lopes
Editora Ática
O livro dos medos
Vários Autores
Editora Companhia das Letri-
nhas
O menino quadradinho
Ziraldo
Editora Melhoramentos
Pinote, o fracote e Janjão, o
fortão
Fernanda Lopes de Almeida e
Alcy Linares
Editora Ática
Sob o sol, Sob a lua
Cynthia Cruttenden
Editora Cosac Naify
Todo cuidado é pouco!
Roger Mello
Editora Companhia das Letri-
nhas
Traquinagens e Estripulias
Eva Furnari
Editora Global
Vacas não voam
David Milgrim
Editora Brinque-Book
Zig Zag
Eva Furnari
Editora Global
Caixinhas Viajantes 2009
Zé Pião
Ducarmo Paes
Editora Noovha America
Triângulos vermelhos
Ângela-Lago
Editora Rocco
O homem que amava caixas
Stephen Michael King
Editora Brinque-Book
O Caso das bananas
Milton Célio de Oliveira e Maria-
na Massarani
Editora Brinque-Book
Mania de Explicação
Adriana Falcão
Editora Salamandra
Histórias Fabulosas
Esopo e La Fontaine
Editora Difusão Cultural do Livro
Guilherme Augusto Araújo
Fernandes
Mem Fox e Julie Vivas
Editora Brinque-Book
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
56
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Crianças como você
UNICEF
Editora Ática
Caixinhas viajantes 2010
Fábrica de poesia
Roseana Murray
Editora Scipione
Felpo Filva
Eva Furnari
Editora Moderna
Lá vem história outra vez
Heloisa Prieto
Editora Cia das Letrinhas
O problema do Clóvis
Eva Furnari
Editora Global
Rabisco – Um cachorro per-
feito
Michele Iacocca
Editora Ática
Rápido como um gafanhoto
Audrey Wood / Don Wood
Editora Brinque-Book
Uni Duni Tê
Angela Lago
Editora Moderna
Vacas não voam
David Milgrim
Editora Brinque-Book
Acervo Gente e Livros
A árvore curiosa
Didier Levy
Editora Girafinha
A velhinha na janela
Sônia Junqueira
Editora Autêntica
A menina do Fio
Stela Barbieri
Editora Girafinha
A rainha das cores
Jutta Bauer
Editora Cosac Naify
A verdadeira história de cha-
péuzinho vermelho
Agnese Baruzzi e Sandro Nata-
lini
Editora Brinque-Book
A verdadeira história dos três
porquinhos
Jon Sciezka / Lane Smith
Editora Companhia das Letri-
nhas
Alguns contos e fábulas
La Fontaine
Editora Paulus
As narrativas preferidas de um
contador de histórias
Ilan Brenman
Editora Landy
57
Bisa Bia, Bisa Bel
Ana Maria Machado
Editora Salamandra
Bruxa, Bruxa – venha a minha
festa
Arden Druce / Pat Ludlow
Editora Brinque-Book
Carta errante, Avó atrapalha-
da, Menina aniversariante
Mirna Pinsky
Editora FTD
Chapeuzinho amarelo
Chico Buarque
Editora José Olympio
Chuva de manga
James Rumford
Editora Brinque Book
Clara manhã de quinta à noite
Don Wood / Audrey Wood
Editora Ática
Conta uma história?
Ana Lucia Brandão
Editora Paulinas
Contos de enganar a morte
Ricardo Azevedo
Editora Ática
Contos de Estimação
Vários Autores
Editora Objetiva
Contos de Morte Morrida
Ernani Ssó
Editora Companhia das Letri-
nhas
Da pequena toupeira que
queria saber quem tinha feito
coco na cabeça dela
Werner Holzwarth / Wolf Erl-
bruch
Editora Companhia das Letri-
nhas
De surpresa em surpresa
Fanny Abramovich
Editora Braga
Doze reis e a moça no labirin-
to do vento
Marina Colasanti
Editora Global
Estão Batendo na Porta
Ricardo Azevedo
Editora Melhoramentos
Fadas no divã – Psicanálise nas
histórias infantis
Diana L. Corso e Mario Corso
Editora Artmed
Histórias da Preta
Heloisa Pires Lima
Editora Companhia das Letri-
nhas
Histórias de fadas
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
58
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Oscar Wilde
Editora Nova Fronteira
Histórias do Cisne
Hans Christian Andersen
Editora Companhia das Letri-
nhas
Lilás
Mary E. Whitcomb
Editora Cosac Naify
Limeriques da Cocanha
Tatiana Belinky
Editora Companhia das Letri-
nhas
Marilu
Eva Furnari
Editora Martins Fontes
Meus primeiros contos
Antologia de Contistas Brasilei-
ros
Editora Nova Fronteira
Meus Primeiros Versos
Antologia de Poetas Brasileiros
Editora Nova Fronteira
Mil pássaros pelos céus
Ruth Rocha
Editora Editora Ática
No dia em que você nasceu
Debra Frasier
Editora Augustus
Nós
Eva Furnari
Editora Global
Nossa rua tem um problema
Ricardo Azevedo
Editora Ática
O caso do pote quebrado
Milton Célio de Oliveira
Editora Brinque-Book
O Circo da lua
Eva Furnari
Editora Atica
O Fantástico mistério de feiu-
rinha
Pedro Bandeira
Editora FTD
O gato e a menina
Sônia Junqueira
Editora Autêntica
O grande livro dos medos
Emily Gravett
Editora Salamandra
O livro inclinado
Peter Newell
Editora Cosac Naify
O menino e a gaiola
Sônia Junqueira
Editora Autêntica
O menino marrom
59
Ziraldo
Editora Melhoramentos
O outro lado
Istvan Banyai
Editora Cosac Naify
O pequenino grão de areia
Ricardo Filho
Editora Paulus
O que os olhos não vêem
Ruth Rocha
Editora Salamandra
O três mosqueteiros
Alexandre Dumas
Editora Melhoramentos
O Urubu e o Sapo e O Velho e
o tesouro do rei
Silvio Romero
Editora Paulus
Onde tem bruxa tem fada
Bartolomeu Campos Queirós
Editora Moderna
Os Cigarras e os Formigas
Maria Clara Machado
Editora Nova Fronteira
Poemas para brincar
José Paulo Paes
Editora Ática
Poemas para crianças
Fernando Pessoa
Editora Martins Editora
Procura-se Lobo
Ana Maria Machado
Editora Atica
Quem viu o meu soninho?
Alfredo Garcia
Editora Lê
Tem cavalo no chilique
Sylvia Orthof
Editora FTD
Um garoto chamado Rorbeto
Gabriel o Pensador
Editora Cosac Naify
Um zoológico de papel
Tatiana Belinky
Editora Noovha America
Uma idéia toda azul
Marina Colasanti
Editora Global
Uma professora muito malu-
quinha
Ziraldo
Editora Melhoramentos
Zoo
João Guimarães Rosa
Editora Nova Fronteira
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
60
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Brincando com narrativas na sala de aula: uma busca por
lacunas preenchidas em livros de recordações
	
Andressa Machado Teixeira
Você já deve ter pensado muitas vezes que ser criança é um
estado da gente que deixa saudades, não é mesmo? Pois bem. Ser
adulto tem responsabilidades agudas, mas, há coisas que podemos
fazer que são mais divertidas do que pagar contas. Uma delas é po-
der recordar e narrar, principalmente aos menores, coisas boas do
amadurecer. Se nossas recordações fossem um livro, ele seria escri-
to ao longo da vida inteira. Quanto mais percebemos a vida, mais
nosso livro adquire características próprias. Alguns podem ser gros-
sos volumes, outros ficam mais abertos do que fechados, uns são
esquisitos, também existem versões de bolso, e alguns poucos só
tem imagens. Há livros com conteúdos apagados, de páginas pouco
lidas e amareladas. Ou páginas e páginas de rabiscos tempestuosos
que quanto mais lidos, menos compreendidos. Mas há nesses livros
páginas bem conservadas que, ao lermos e relermos - para nós mes-
mos e para os outros -, ganham uma linguagem mais madura e clara
do que a própria recordação. É a diferença entre a espreguiçadeira e
a rede. A recordação e a narrativa.
Até que nossa adultência nos tome de assalto pelo meio do ca-
minho, muitas lembranças permanecem como uma extensa lacuna a
ser completada no texto do pensamento. Vamos crescendo e inter-
calando ao texto da nossa história lacunas de lembranças cheirosas
como o bolo da tia, chulezentas como primos reunidos, ardidas de
um beliscão, relaxantes como um banho quente depois de brincar
um dia todo, entre outras que não se pode escrever aqui, a não ser
na sua forma mais pura: ____________________. O que cabe a cada um
de nós para preencher essa lacuna torna nossas memórias preciosas,
enquanto as suas narrativas equivalem a uma verdadeira façanha de
gente grande!
Criança ou adulto, todos temos o que contar. Talvez se conside-
rarmos narrativas de cinco figuras cujos universos verbais são muito
61
distintos, algo surja na lacuna que temos sem preencher. Meu amigo
Enzo, que já viveu seu considerável primeiro ano de vida, contou a
minha irmã o seguinte episódio depois de uma trupicada: “Casi caí!”
Ele ainda não fala muitas palavras da nossa língua então esse foi o
primeiro causo compreensível e inteiro que ouvimos dele.
Já Juan tem oito anos. Sempre o encontro na casa de sua avó,
dona Neide. Na maioria das vezes brincamos juntos, exceto pelo dia
em que qualquer brincadeira seria imprópria diante dos dois rios
de lágrimas que corriam pela face vermelha e inchada de Juan. Eles
desaguavam numa bocarra aberta que fazia ecoar pela casa gritos
chorosos vindos das profundezas, de além da garganta. Segurei o
monstrinho indesejável perto, demonstrei minha compaixão por
suas lamúrias desconhecidas e minha curiosidade em conhecê-las.
A história foi mais chorada do que contada. Algo assim: Juan queria
a companhia de sua nova e única amiga, Meg, uma vira-lata encon-
trada na porta de sua casa alguns dias atrás. Pelo grande apego dele
pela cadelinha a família concordou em adotá-la. Desde então, sepa-
ravam-se apenas nos momentos inevitáveis - mas Juan achava que
as visitas à casa da vó Neide não se incluía neles. Ao fim, legitimava
o choro enquanto associava tudo isso a um plano maquiavélico de
sua mãe para separá-lo de Meg. Ele me contou como era linda a sua
pelagem, as coisas sapecas que aprontava e o choro foi soluçando, o
soluço cessando... até a respiração normalizar.
Numa certa noite meu pai lembrou-se, à toa, de um episódio
certamente inesquecível, passado no passado do interior de sua in-
fância - interior de seus grandes medos. Foi a vez que o mandaram
buscar, já de noitezinha, água no poço. Sem muita opção seguiu o
pequeno carregando um balde vazio e reluzente sob o luar. Apenas
o som quieto do mato era audível, além de seus modos ofegantes.
Tinha uma coragem muito cautelosa no seu caminhar que o manti-
nha atento pelo instinto, pois não exergava abaixo dos joelhos ou a
um palmo diante do nariz. De repente passa por ele um porco cor-
rendo, que o faz largar o balde, gritar e dar no pé rapidinho.. tudo
ao mesmo tempo! Ainda deu para ouvir o balde trepidar rolando
no mato enquanto voltava para a casa. Com toda a bambeira nas
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
62
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
pernas adentrou a porta, despertou o riso dos adultos e recebeu
ordens marotas para voltar e procurar o balde imediatamente! Ora
veja, medo de porco!
Thaise tem a minha idade, e é claro, também tem suas histó-
rias. Uma vez, quando tinha apenas dois aninhos explorava inocen-
temente o quintal e notou uma escada encostada na parede de sua
casa. Perguntei o que ela pensou, mas não houve resposta. Imedia-
tamente pensei naquela sensação de João ao observar o pé de feijão
emergindo continuamente para o alto. Continuando o causo, diante
de meus olhos e ouvidos, Thaise, como boa aproveitadora da vida,
simplesmente subiu a escada intercalando as mãozinhas e os pe-
zinhos a cada ripa até alcançar a laje. Lá sentou-se na beirada e se
preocupou em contemplar a vista. Passados vinte anos a memória
lhe permite ter essa vista novamente quando lhe aprouver, e caso
outrem estivesse diante dela escutando, como eu estive, veria em
seus olhos, não o reflexo de si mesmo, mas a vista da laje. Mas, con-
tinuando, tranqüilidade de criança dura pouco. Foi então que alguns
barulhos, que vinham do chão, chamaram a atenção da pequena.
Com cara de interrogação mirou em baixo e viu sua mãe aos berros,
impotente. “E o que você sentiu?” – insisti. Outra vez a resposta veio
cheia de silêncio. Thaise continuou, altiva e gigante, a encarar o mi-
núsculo rosto da mamãe desesperada, até que a cabeça de seu pai
veio à tona, ajeitando-se na escada para tomá-la nos braços e salvar
o dia, mesmo com terrível medo de esborrachar-se com Thaise, es-
cada e tudo.
Seo Ceriaco, um menino falador de oitenta e três anos, brinca
com sua linha do tempo e diz que faltava dinheiro para comprar
bicicleta, mas tinha condições de fazer. Era a bicicleta de pau. Per-
cebendo a minha curiosidade, ele explica passo a passo: “pegava
uma tábua, levava na serraria. Segurava um compasso e passava um
lápis que marcava a roda. Então, na serra fita, aquela que corta carne
no açougue e faz xiiim xiiiiiim, exatamente em cima do risco, virava
aos poucos para sair a roda. Com uma pua de manivela furava no
meio onde se encaixava o eixo. Pua é uma broca. Não tinha furadei-
ra elétrica, então o furo se fazia no muque. Depois apertava o eixo
63
com parafuso enquanto a roda de madeira ficava engatada. Passava
qualquer graxa que deixasse liso para deslizar o giro. Por fora da
roda era só pregar uma tirinha de pneu mais curta com uma ponta
bem pertinho da outra. Depois, puxava o pneu com força e apertava
a roda bem ajustado. Sem pneu, a roda saia fazendo pó pó pó pó
pó pó. O celim era de pano, ou trapo. Punha a tábua na altura que
quisesse pra sentar e cobria. Depois tinha cada corrida que Deus o
livre! Toda a gurizada queria ser o melhor na bicicleta. Quem tivesse
a bicicleta mais rápida ganhava o prêmio! A nossa rua era uma desci-
da e acabava numa curva lá em baixo. Não era fácil de fazer a curva.
Às vezes a gente se arrebentava. Todo mundo fazia. Algumas gurias
meio atrevidas faziam também. Era divertido...”
Vivendo, brincamos de criar histórias. Ouvindo histórias, brin-
camos com a criatividade. Linguagem e imagens são coreografadas
em nossos cenários mentais. Ao narrar, e ao escrever narrativas, cria-
mos jogos lingüísticos. Jogos com regras possíveis e impossíveis. E
a vida é uma oportunidade constante para jogar com a linguagem.
Cada ponto da linha do tempo de nossas vidas pode ser desvendado
com palavras. Futuro, presente e passado. A linguagem oferece ao
tempo aquele abraço de urso. Seo Ceriaco contava, setenta e sete
anos depois, sobre como fazer uma bicicleta de pau – com detalhes
fotográficos. Enquanto existir narrativa o garoto e o velho são ape-
nas um e não é muito fácil distingui-los. Assim como a criança Thaise
que contempla a vista sobre o telhado com seus olhos de moça. Gra-
ças a esses olhos, seus mirantes do passado, a narrativa desvela as
lembranças tão bem narradas, mesmo que a vida passe. Elementos
sinestésicos são tesouros que guardamos nos baús do pensamento,
e alguns deles transformamos em palavras ou imagens para publicar
em nosso livro de recordações. Meu pai relembrou-se no mato e de
fato - nunca saberemos ao certo - ouviu com nitidez o balde tilintar
e rolar no chão quando foi lançado para o ar e caiu. As lembranças
não permanecem intactas. Elas são ressignificadas. Quanto à matu-
ridade de nossa essência verbal, eu pergunto: quem teria gritado e
corrido enquanto o balde se perdia? O garoto tão alerta que não era
meu pai, ou o homem, ainda tão alerta?
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
64
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Nos três causos os “adultos” lançam-se em suas linhas do tem-
po - complexos nas suas narrativas de diferentes fases da vida. En-
quanto Juan, que pouco compreendia seu distanciamento com Meg,
falou de um tempo recente - apenas uma semana antes; Enzo narrou
algo muito repentino e muito próximo do momento de sua narrativa.
O tempo entre sua narrativa “Casi caí!” e o acontecimento narrado
tem a distância do pensamento. Seria por que as narrativas infantis
estão mais próximas de seu presente, de suas carências, emoções e
desequilíbrios? Nos livros das narrativas infantis percebe-se mais os
fatos do que a organização dos registros. O amadurecimento nos
ajuda a organizar as narrativas. Há lacunas em branco que surgem
pela vida e alguns de nossos textos mentais podem ter lacunas em
enorme quantidade. Há palavras que pulam nessas lacunas sem sa-
ber ao certo onde devem permanecer. Algumas delas passamos a
vida inteira sem saber onde se posicionar. Os critérios e regras para
dar-lhes um bom contexto semântico variam de pessoa crescida
para adulto infante, e no geral, não há como montar um esquema.
Ter disposição para ouvir e falar é um aprendizado tanto pessoal
quanto cultural. Por meio do contato com as narrativas, preenchemos
as lacunas e encontramos tesouros para o baú de sensações. Logo,
existe uma contribuição verbal das histórias cheias de preciosidades
às mentes cheias de lacunas. A escola é um espaço vital dessas expe-
riências. Para estimular o desenvolvimento da linguagem verbal e a
habilidade de narrar, é possível oferecer possibilidades para compor,
recriar, ouvir, perceber, restabelecer elementos que agucem nossa
vontade de contar o que vemos pelo mundo. Apresentar aos edu-
candos (as) a diversidade das formas de falar, escrever, representar,
seqüenciar, brincar com o tempo, descrever tempos, etc... mostrá-los
lugares com infinitas opções de mobília para decorar seus cenários
mentais. Levá-los em um mergulho ao chão do oceano onde há um
barco que afundou e conserva tesouros - não se sabe de onde vinha,
não se sabe desde quando, mas se sabe que traz uma história que
podemos inventar. Uma boa viagem verbal requer bagagem volu-
mosa, mas ao mesmo tempo singela. Como uma bagagem recheada
de livros e recordações que, uma vez abertos, são braços aconche-
65
gantes de escritores e ilustradores nos carregando no colo, ou em-
balando nossa rede. Podemos viajar carregando um jogo de caça ao
tesouro na mala e muita disposição para esconder pistas. Podemos
perguntar às crianças: que histórias tem ouvido? Que outras gos-
tariam de contar? Mas não esqueça! Quando a resposta delas vier,
mantenha os olhos e ouvidos abertos, mesmo que a resposta seja
uma lacuna vazia. Pois ela pode se transformar em narrativa. Talvez
do tempo presente, talvez para trás, talvez para frente.
Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
Capítulo 2 - Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do
que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida
Qualidades do contador de história; Reflexões autobiográ-
ficas de quem ama literatura
“Sou barulhento como um leão, sou quieto como uma
ostra, sou corajoso como um tigre, sou medroso como
um camarão...” (RÁPIDO COMO UM GAFANHOTO, de
Audrey Wood )
68
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Uma aventura na chácara: uma infância com uma pontinha
de medo.
Márcia T. Azevedo Rocha
Essa é a história de uma menina que aos oito anos de idade foi
morar com sua família em um sítio longe da cidade. O olhar dessa
menina brilhou ao entrar em contato com a natureza. Ela se sentia
encantada por poder ficar próxima aos animais; brincar, pular e cor-
rer em um campo enorme; andar de bicicleta e de balanço; colher as
frutas e verduras com seu pai, diretamente da plantação. Essas eram
algumas das diversões e distrações dessa menina. Um dia ela estava
brincando com suas bonecas e seu pai apareceu, dizendo:
- Vamos passear na chácara?
Ela ficou muito contente, pois seu pai sabia o quanto ela gostava
de ir até aquela chácara. Esse lugar encantador possuía um grande
lago; cada um dos animais tinha sua própria casa: os cavalos mora-
vam num lindo celeiro, os porcos em um chiqueiro e as galinhas em
um galinheiro. Era um lugar mágico em meio à beleza da natureza.
E ela respondeu dando um pulo de alegria:
- Já estou pronta!
Chegando lá, a menina encontrou com os donos daquela chá-
cara - eram os velhinhos mais queridos que ela já havia visto. En-
quanto aquele humilde senhor cuidava dos animais, sua senhora
fazia manteiga e queijo com o leite retirado da vaca.
- Uhmmmm...que delícia! - exclamou a menina ao provar um
dos deliciosos queijos fresquinhos.
Enquanto ela esperava na cozinha, seu pai foi buscar um barco
de madeira bem pequeno para levar sua filha pra passear no lago.
Ela não esperava por isso, pois sempre foi uma menina muito me-
drosa. Tinha tantos medos e o maior deles era justamente o de andar
de barco.
- E se ele virar? - perguntou ela ao seu pai.
Ele disse para ela não sentir medo, pois não iria virar. E não é
que virou?!
69
Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de
fazer comida
Foi assim que aconteceu: estavam os dois no barco quando seu
pai, para impressioná-la, começou a balançar o barco pensando que
a menina iria gostar daquela brincadeira. Só que o barco virou e ela
não viu mais nada, somente água. Nesse momento, aquele pequeno
lago tornou-se uma imensidão para ela.
Quando abriu os olhos, uma esperança nasceu ao ver uma das
mãos de seu pai resgatando-a do fundo do lago.
A menina saiu da água muito assustada, chorando e respirando
fundo.
Ao voltar para casa, depois do grande susto, percebeu que, a
partir daquele instante, não teria mais coragem para enfrentar uma
aventura como essa.
***
Vinte anos se passaram e essa menina cresceu. Hoje ela faz
parte de um projeto de literatura infantil e passou por uma situação
semelhante quando precisou vencer o desafio de atravessar, desta
vez não mais um lago, mas um imenso mar. O que fez ela viajar e
superar o seu medo foi o enorme desejo de levar um pouquinho
de literatura para crianças que moram em uma ilha. Foi com muita
superação que se rompeu mais uma barreira em sua vida, dentre
muitas, mas, com certeza, a MAIS prazerosa. Apesar de ter vivido um
grande medo em alto mar, ao desembarcar na ilha aquela menina
percebeu o entusiasmo dos alunos ao se depararem com algo que
eles não estavam acostumados a vivenciar todo dia. Era uma escola
pequena, mas com certeza agora com algum diferencial. A partir de
um trabalho sério, ela acabou entrando em MAIS uma aventura, com
o intuito de brotar uma sementinha no coração de cada criança e
despertar nelas uma fome de leitura e um desejo por histórias.
Hoje ela continua contando com a esperança de que no futuro
possa haver uma colheita embasada no amor pela leitura e pela lite-
ratura. Ela acredita que as histórias infantis podem levar às crianças
um prévio contato com situações imaginárias que serão vividas fu-
turamente em um dado momento de suas vidas, como as próprias
histórias de medo ou os contos de fadas.
70
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
O caso com a literatura!
Ela lá, eu cá,
ela andando pra cá
eu indo pra lá
Bum...
encontro
Quando criança eu sabia apenas que gostava de inventar...
ah, como minhas bonecas sabiam disso...
nem sempre era bom para elas,
por vezes eram devoradas por incríveis monstros da clandesti-
nidade
mas em compensação eram imensamente amadas por heróis
de algum reino escondido nas profundezas do meu quarto.
Quando adolescente, eu sabia apenas que nem todas aquelas
historinhas me convenciam,
mas bastava um belo versinho para me derreter toda, como
uma floquinha de neve que se derrete ao se apaixonar pelo grande
e quente sol.
e assim eu fui crescendo
entre fatos reais,
realidades tristes e alegres
fatos imaginários
cheios de razão, imaginação e teimosia!
e só depois de muito tempo eu fui entender
que esta tal literatura
que tanto falavam na escola
tão escondida lááá na biblioteca
estava dentro de mim o tempo todo!!!!
71
Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de
fazer comida
e mais uma vez o tempo
de uma experiência nem tão distante
me mostrou que o conhecimento sensível
mora mesmo dentro do meu peito!
hoje eu conto histórias para não deixar o tempo em branco
e sim colorir de sonhos, sons e gestos
o gosto pelo contato com o próximo
o gosto por conhecer o poder fantástico
de um mundo que sempre surpreende:
a vida!
Juliana Leitoles
72
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Quando penso nos tempos de infância lembro de boneca, de
armazém, de ursinho de pelúcia, de pega-pega, de desenho na tele-
visão, e de fazer João de Barro depois da chuva. Mas não me lembro
dos meus pais contando estórias durante o dia, ou antes da hora de
dormir; tão pouco me dando um livro com a estória do João Pé de
Feijão envolto num embrulho de presente de Natal ou aniversário.
Eles me davam brinquedos e roupas nas datas comemorativas por-
que julgavam ser o mais importante para o meu bem estar - e eu
era pequena demais para saber quais necessidades de fato eu tinha.
Como quem procura fotos antigas de família, aquelas que ficam
escondidas nos lugares mais difíceis do guarda-roupa, fui buscar
nas recordações de 1ª série algum momento em que a escola tenha
me dado a oportunidade de levar um livro de literatura infantil para
casa; para minha tristeza, lembro-me das estórias contadas apenas
em sala de aula pela professora. Ah, se ela soubesse o quanto eu
desejava ter o prazer de pegar um livro e folhear as páginas com
minhas próprias mãos, ler e reler a mesma estória, com o mesmo
entusiasmo que ela parecia sentir quando lia. Mas eu era pequena e
tímida para expressar meu desejo de experimentar, sozinha, as aven-
turas no mundo da leitura.
Na 2ª e 3ª série as únicas estórias que tive o prazer de eu mes-
ma ler, sem a leitura das professoras, estavam na cartilha ou em pe-
quenos papéis que deveriam ser colados no caderno para a execu-
ção de alguma tarefa. Mal eu sabia que os dias de pouco encanto e
fantasia estavam prestes a mudar. Certo dia na escola, na 4ª série, a
professora disse que todos da turma poderiam ir à biblioteca para
pegar livros emprestados. Lembro que entrei amedrontada na bi-
blioteca pela primeira vez e avistei a prateleira de livros de literatu-
ra infantil, rapidamente escolhi um e levei para a casa. A biblioteca
naquela época me causava arrepios, pois o silêncio reinava e até os
passos não deveriam fazer barulho. Eu não fazia idéia que depois
de ler o primeiro livro minha vida não seria mais a mesma. Pois as
estórias me levaram a vários cantos do mundo - é um universo sem
fim! Depois do primeiro livro, a biblioteca se tornou o meu baú de
tesouro. A ansiedade de ler as estórias só aumentava, tanto que eu
73
Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de
fazer comida
não aguentava esperar chegar em casa, já ia lendo no recreio. Esse
período marcou minhas lembranças, pois até hoje recordo de alguns
títulos da Coleção Vaga-lume: Sozinha no mundo, A Ilha Perdida; As
aventuras do cachorrinho Samba, dentre outros.
Depois que entrei no fantástico mundo encantado da litera-
tura, nunca mais consegui sair.
Luciane Fabiane dos Santos
Capítulo 3 - História encontra histórias ou Comendo no
mesmo prato
Depoimentos de integrantes do projeto da Universidade e
da Comunidade
“Eu quero agora:
A mesa farta
O canto alegre
O riso de festa
O odor de rosa.”
(poesia De volta, em A ÁRVORE QUE DAVA SORVETE,
de Sérgio Capparelli)
“Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu
pensamento reapresenta um capítulo.” (MANIA DE
EXPLICAÇÃO, de Adriana Falcão)
76
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Pedimos a todos que participam ou já participaram do(s)
projeto(s) Gente e Livros (2007-2009) e MAIS Gente e Livros (2010)
um breve relato de um encontro ou um depoimento de como foi o
projeto para cada um. Seguem os depoimentos dos que puderam
nos atender. Os relatos da equipe se encontram com os relatos dos
professores, comentando sobre os livros das caixinhas viajantes, a
gente, si mesmos, seus alunos e comunidade.
Gente e Livros
***
Depois das conversas iniciais, éramos designados para nossas
missões quase impossíveis, sempre desafiadoras e exaustivas. Dessa
vez já sabíamos o que iríamos enfrentar: depois de duas horas e
meia até chegarmos à secretaria de educação, faríamos outra via-
gem de cerca de duas horas por uma estrada de chão para chegar-
mos ao nosso destino. Passamos por paisagens ainda mais belas.
A estrada era cortada por riachos e quando a kombi passava por
dentro era como se pudéssemos sentir o frescor da água em nosso
espírito, aquele frio na barriga do barco em alto mar (acredito que
seja assim, nunca estive em alto mar).
Na escola havia certa expectativa. As crianças nos conheciam e
chegávamos, apesar do cansaço, com muita disposição - com cer-
teza influenciada pela nossa líder atômica. Nos apresentávamos e
interagíamos com as crianças ao mesmo tempo. O dia transcorria
cheio de histórias, músicas e brincadeiras.
A volta era animada pelas conversas sobre as impressões do dia
ou embalada pelas curvas (quando não pelo Dramin) que nos faziam
adormecer.
Jamais vou esquecer este dia maravilhoso.
Abraços.
Vinícius Rodrigues dos Santos, em sua primeira viagem às es-
colas rurais de Adrianópolis.
Equipe 2007/2008.
77
História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
***
Só tenho elogios aos nossos encontros. Em todos os encontros
aprendemos uma maneira diferente para trabalharmos com os nos-
sos alunos.
Professora de Adrianópolis
***
Não tenho críticas, só elogios, ao trabalho tanto da parte da
manhã quanto à tarde. Foi um verdadeiro aprendizado, nos deu uma
orientação de como trabalhar com as crianças.
Professores de Tunas do Paraná
***
Tem uma cena que será difícil de esquecer. Foi um sábado de
contação de estórias e brincadeiras divertidas com crianças – em
meio a árvores gigantes e montanhas cobertas de mata nativa - na
Comunidade Quilombola João Surá, em Adrianópolis, divisa dos es-
tados Paraná e São Paulo. Essa região é um espetáculo da natureza!
Quando eu e Liliane estávamos retornando pra casa, dentro
do carro com colegas de outro projeto, avistamos diversos animais
passeando pela estrada. Quando, de repente, avistamos uma cobra
espessa e comprida logo à nossa frente. Ela atravessava a rua lenta-
mente, exibindo sua elegância. Tudo que pudemos fazer foi desace-
lerar o carro, admirá-la e esperá-la passar. Diferente dos filmes, ela só
estava passeando, tomando seu banho de final de tarde, sem inten-
ção de nos perseguir, e nós, que nem éramos caçadores de bichos
peçonhentos, estávamos voltando para a casa. O que nos restou foi
guardá-la em nossas recordações para nossas futuras histórias.
Luciane Fabiane dos Santos,
Equipe 2007/2008/2009.
***
“O trabalho com livros de literatura incentiva os alunos a ler e
escrever cada vez melhor.” / “Essas histórias são muito interessantes.
Agradeço pela oportunidade.”
Professores de Tunas do Paraná
78
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
***
“A linguagem de imagens do livro Traquinagens e Estripulias
desperta o interesse e a imaginação, possibilitando uma interação
entre o leitor e a história, e permitindo que a criança crie suas pró-
prias histórias.”
“O livro Fico à espera retrata a vida humana em todas as suas
fases de uma maneira simples, direta, criativa e, acima de tudo, emo-
cionante. Com ilustrações e frases curtas, que permitem à criança a
criação e a interpretação de acordo com a sua experiência de vida.
Instiga a criança a descobrir a sua história genealógica, sua vivência
e cultura. Ela poderá notar que é igual a outras crianças (no curso
da vida) e ao mesmo tempo diferente (formação familiar e cultural,
experiências)”
Professoras de Bocaiúva do Sul
***
Como esquecer a minha primeira viagem... foi para Tunas do
Paraná, no teatro da cidade. As crianças todas reunidas para ouvir
as histórias e músicas que o projeto havia preparado. Não foi um
trabalho muito fácil, prender a atenção das crianças num espaço tão
grande exigia muito empenho. Mas as histórias foram maravilhosas,
criava-se um suspense, cantava-se uma música e até brincávamos
(de montanha-russa, foi muito divertido). A ludicidade do momento
envolvia as crianças nas atividades.
	 E os circuitos realizados em algumas escolas... era muita lou-
cura! Dividíamo-nos e montávamos diversas atividades: a sala de
música, de histórias, de criação, de brincadeiras de pátio. Assim, as
turmas - com uma média de 30 crianças cada pessoa do projeto
- iam circulando pelas atividades, permanecendo em cada uma 30
minutos. Uma verdadeira maratona. Nós nos cansávamos, mas, tam-
bém, nos divertíamos.
Liliane Machado Martins,
Equipe 2008/2009.
79
História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
***
“O tempo foi pouco; mas o conteúdo, ótimo. Amei.” / “O curso
contribuiu bastante para o meu crescimento profissional, trazendo
novas idéias e estimulando o prazer pela leitura.”
Professoras de Adrianópolis
***
“Foi de extrema importância o curso de hoje, pois vimos que
para ser criativo e dar uma aula gostosa e diferente não depende
somente de recursos financeiros, podemos usar materiais do dia-a-
-dia.”
“O quê achei do curso? Muito proveitoso, aprendi muitas ati-
vidades para fazer com meus alunos. Os professores foram muito
agradáveis, espero que voltem mais vezes (...) os alunos: dava para
ver o brilho nos olhos deles de tanta felicidade por estar aprendendo
coisas novas.”
Professores de Tunas do Paraná
***
Participar do Projeto Gente e Livros foi uma experiência ines-
quecível e também – sem exageros! – a realização de um sonho, pois
sempre ansiei por um trabalho que envolvesse capacitação docente
e literatura infantil.
E foi ainda melhor do que eu poderia esperar, pois tive a opor-
tunidade de sair de Curitiba – cidade onde moro e que em condições
“normais” seria a única em que eu trabalharia –, conhecer a realidade
educacional de três municípios pelos quais nunca tinha passado e
ajudar a modificá-la.
Fabiana da Cunha Medeiros,
Equipe 2008/2009.
***
Quarta-feira, 14h. Aguço os ouvidos para ouvir mais uma his-
tória... contos, cantos, versos, textos e contextos... palavras se agluti-
nam ao vento enquanto viajo na narrativa da companheira ao lado...
80
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
momento sublime de fantasia em meio ao caos do dia-a-dia.
Amanhã tem viagem. Planejamento elaborado e reelaborado,
materiais separados, carro confirmado (?), horário marcado. Lá, pes-
soas nos aguardam (quase sempre)...
Dia de festa... biscoitos na Van, conferência de responsabilida-
des, curvas, sonos e risos e é chegada a hora. Na platéia, perguntas
pipocam antes e depois da fala. Vozes e corpos se transvestem de
figuras e palavras, dando vida ao Local de Informações Variadas Reu-
tilizáveis e Ordenadas (L.I.V.R.O.), como diria o Millôr.
No retorno, o cansaço superado pela alegria da missão cum-
prida... comentários sobre os depoimentos que motivam a preparar
melhor o próximo encontro... mais curvas, mais sonos, mais risos...
E na próxima quarta, renovada... aguço os ouvidos para ouvir
mais uma história...
Silvana Galvani Claudino,
Equipe 2009.
***
Gostaria que o projeto continuasse para melhorar o desenvol-
vimento das crianças do nosso município. Essas histórias são muito
interessantes. Agradeço pela oportunidade.
Professora de Tunas do Paraná
***
Como sempre, o curso foi ótimo. Espero que possamos contar
com esse maravilhoso trabalho no próximo ano. Os livros sugeridos
e as propostas de trabalho proporcionam aulas e momentos muito
prazerosos para alunos e professoras.
Enfim, parabéns e que Deus abençoe todos.
Professora de Adrianópolis
81
História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
MAIS Gente e Livros
***
Primeiro a idéia. Depois a oportunidade. Aos poucos foi che-
gando um, mais um e MAIS um e, de repente, já éramos muitíssimos!
Muita gente para poucos livros.
E a mesma coisa martelando na cabeça da Gente: ô de casa,
vambora! Vamos fazer acontecer!
Vamos pegar a estrada, o barco, beirando a encosta, o vale, o
rio, o mar, o mangue; vamos espalhar literatura por esse mundo afo-
ra! e pra dentro da sala de aula também!
Saudades das viagens que fiz e das que não fiz, dos encontros
e dos desencontros, dos olhos nos olhos, das crianças e dos adultos
tornando-se meus mais novos velhos conhecidos, da torcida por dar
tudo certo, da acolhida dos educadores e parceiros das secretarias
de educação - cada vez mais unidos nessa missão que ainda não
acabou!
Pois há muito MAIS histórias e livros a serem semeados. Nos lei-
tores que nascem e naqueles que estão por nascer, e terão na escola
a nascente para conhecer como é a outra margem do rio - depois
daquela queda d’água por onde uma vez passou o pai do seu pai do
seu pai do seu pai... com a mãe da sua mãe da sua mãe da sua mãe...
e outros com os quais eles se encontraram.
Costumamos dizer que esse é um projeto despretensioso: só
temos o OBJETIVO de revolucionar o mundo por meio da literatura
na educação!
Certamente há o estopim para a revolução. A revolução da
mente, do meu pensamento, de meus conceitos. De ser e estar o
mais inteira possível por onde passo. Marcando em mim e nos ou-
tros o precioso momento que nenhum livro pode eternizar, mas que
pode provocar mudança nos momentos seguintes.
Agradeço a todos que já estiveram no projeto (toda a Gente e
todos os Livros), que incluíram a universidade em sua comunidade e
fizeram do encontro entre educação básica e educação universitária
um sonho possível, não somente um projeto encarcerado nas pági-
82
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
nas de um livro qualquer, cheio de “verdades” e fechado na estante
de intelectuais com a cabeça nas nuvens e seus pés também.
Para alguém que cursou pedagogia com o ideal de escrever
para crianças, Gente e Livros e MAIS Gente e Livros são um baita
presente! Foi aí que aprendi que “literatura infantil é aquela também
apreciada por adultos”, como me ensinou Ana Maria Machado em
minhas leituras e como comprovei, comprovo e comprovarei com-
provando em minhas andanças.
Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves,
Equipe 2007/2008/2009/2010.
***
“A iniciativa do projeto é importante, pois contar histórias já não
estava sendo muito freqüente nas escolas.” / “É muito boa, pois a
leitura é pouco praticada em nossa comunidade.” / “É muito boa e
ajuda muito no trabalho pedagógico de nossa escola.”
Professores de Guaraqueçaba
***
O que me atrai na Educação é ver como ela pode mudar a vida
das pessoas. Ver alguém interessado em aprender e ensinar é algo
que me encanta profundamente.
Fazer parte do Projeto Gente e Livros me permitiu contemplar
esta cena muitas vezes. Ver professores (nas cidades em que passa-
mos) interessados em criar repertórios, buscar mais e novas manei-
ras para o trabalho com as crianças, ouvir relatos de como colocaram
em prática os ensinamentos que aprenderam. Ver a expressão de
alegria e entusiasmo em seus rostos quando nos recebiam, só refor-
çaram as minhas crenças de que a Educação no Brasil e no mundo
dá certo!
Rosicler Alves dos Santos,
equipe 2008/2009/2010.
***
Gostei muito do trabalho realizado com as crianças, principal-
83
História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
mente a idéia do medômetro, que as crianças adoraram. O projeto
está de parabéns.
Professora de Piraquara
***
Lembranças de um tempo bom...
Lembro-me do ano em que entrei no Projeto Gente e Livros
(2008), quando começaram as primeiras viagens com as caixinhas
cheias de livros, sonhos e fantasia. Tudo aquilo foi tão fascinante:
trabalhar com contação de histórias e deixar as crianças se envolve-
rem no mundo da imaginação. Que maravilha ver o sorriso daqueles
alunos encantados com a literatura! E mais, sabendo que eles esta-
vam aprendendo muito com isso, pois em contato com os livros eles
acabam se identificando com alguns personagens e se sentem cada
vez mais atraídos pelas histórias, contribuindo desde cedo para o
processo de leitura e escrita.
Foi no projeto que pude me identificar mais com as diversas
histórias e perceber que era possível a aplicação delas em sala de
aula. Confesso que no início eu me identificava mais com os contos
de fadas, mas aos poucos a minha experiência no projeto foi de-
monstrando o quanto o universo literário é amplo e maravilhoso.
Percebi que, além de suscitar o imaginário, as histórias facilitam o
desenvolvimento infantil, levando as crianças a possíveis descober-
tas e a situações semelhantes as que serão vivenciadas futuramen-
te por elas. Minha experiência no projeto foi significativa, pois as
histórias infantis trouxeram de volta o encantamento de uma fase
maravilhosa que é a infância, bem como muitas lembranças, o que
tornou possível reviver pequenas situações em grandes histórias. E,
mais importante que isso, é saber que, de certa forma, fazendo par-
te do projeto eu pude contribuir para a formação de novos leitores
dentro da sociedade.
Márcia Tarouco de Azevedo Rocha,
Equipe 2008/2009/2010.
84
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
***
Achei o trabalho muito legal e gostei das idéias para trabalhar
com os livros. As crianças também gostaram e já perguntaram se
vocês vão voltar. Apesar de ter participado de outros momentos com
vocês, na prática é muito mais interessante.
Professora de Piraquara
***
Ler. Viajar.
Ler: conhecer as letras do alfabeto e saber juntá-las em palavras;
Viajar: ir de um lugar a outro, deslocar-se;
Nenhuma dessas definições traduz o que aprendi sobre ler
e viajar durante minha participação no projeto. Nesses dois anos
de atividade pude perceber que a leitura não se restringe ao livro.
Quando falamos de contação, aprender a ler os sinais é tão impor-
tante quanto ler uma história. É preciso saber interpretar o olhar da
criança; as mãos que não se controlam frente ao livro; o rosto que
expressa os momentos de angustia ou de felicidade; o corpo que
ora relaxa, ora tensiona. Esta sintonia entre contador e ouvinte é
fundamental para que a leitura se torne um prazer e não apenas um
discurso. É justamente esta via de mão dupla que vai levar o leitor a
viajar na história.
E é aí que entra o segundo aprendizado. Como eu disse, não
cabe aqui somente a definição do dicionário. Por mais que nosso
trabalho dependa de um deslocamento - ora de carro, a pé ou barco
- a viagem de que eu falo é outra. É uma viagem no tempo e no es-
paço, sem sair do lugar. Uma boa história sempre carrega o ouvinte
pra dentro dela e é preciso se deixar levar. Pois esse viajar não tem
limite de quilometragem, você não precisa ter milhas acumuladas e
seu lugar sempre estará reservado.
Bruna Fialla Alves,
Equipe 2009/2010.
***
“A reação dos meus alunos foi muito boa. São esses momentos
85
História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
que fazem com que os alunos desenvolvam suas habilidades e pas-
sem a ter gosto pela leitura.” / “No início da história ficaram encanta-
dos, e entraram para o mundo da fantasia e do faz-de-conta.”
Professores de Guaraqueçaba
***
Literal, literar.
Olhar, ouvir,
Sentir, falar,
O que mais eu poderia esperar
De um projeto que visa contar?
Contar o que se lê e se sente
De histórias de brincar, de contrariar,
De amar, de arrepiar.
Como querer fugir do que veio para unir?
Idéias, pensamentos, ações...
As situações também são de arrepiar,
Ora é a trepidação...
Ora é a embarcação...
Ai ai, que dá até um medão.
Às vezes aparece tudo diferente
E o que era estratégia
Vira mudança
Situação irreverente, difícil de lidar.
Inusitado...
Um tudo literal,
Às vezes
É preciso rebolar
Para que do fundo do coração
A gente possa
86
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Enfim
Literar!
Juliana Beltrão Leitoles,
Equipe 2010.
***
Gostei muito do trabalho e as crianças, mais ainda; vou usar a
música da caveira para apresentação da turma no início de ano. O
medômetro foi muito interessante porque podemos conhecer me-
lhor os alunos, claro que muitos deles colocaram alguns medos es-
tranhos, mas alguns confirmaram algumas situações que vivem. Vou
colar o medômetro no caderno deles, pedir que escrevam ou tentem
escrever seus medos. Espero que tenham gostado da nossa escola e
estamos com as portas abertas para quando quiserem voltar.
Professora de Piraquara
***
PROJETO, TRABALHO, GENTE, LIVROS, CRIAR, IMPRESSÕES,
INTENÇÕES, LINGUAGEM, ESCRITA, IMAGINAÇÃO FANTÁSTICA,
CONVERSAS, IDÉIAS... LIVROS, GENTE, PESSOAS, ESTRADA, TERRA...
PIRAQUARA, PROFESSORES IDÉIAS CONTAÇÃO SOMBRAS FANTO-
CHES, TERRA TRE-PI-DAN-TE, GUARAQUEÇABA MAR ILHA RASA
CRIANÇAS CRESCIDAS A “VERDADEIRA HISTÓRIA DOS TRÊS POR-
QUINHOS” ESCONDER RECOMEÇAR... CAIXAS CAIXAS CAIXAS PA-
PEL COLA, TERRA ESTRADA PIRAQUARA CRIANÇAS GAFANHOTOS
RETRATISTAS ESPELHO ANA ANA ANA ... MAR BARCO PROFESSORES
DESENHAR PLANEJAMENTO CLÓVIS É O MEU PROBLEMA LIVROS
NOSSO GRUPO. MAR ONDAS CAIXAS ONDAS ILHA ONDAS BELEZA
SUPERAGÜI CAIXAS PEÇAS MAR MAR MANGUE SEBUÍ MAR MAR
MAR MANGUE MANGUE TERRA TERRA VARADOURO OLHARES IN-
VASÃO SUSTO SORRISO LIVROS. CURITIBA MEGALOMANÍACO ES-
CREVEREDESENHARUMLIVRO GRAVARUMFILME JOGARUMJOGO
LIVRO LIVRO OFICINA ESTRADA TERRA SÃO JOSÉ OUVIR DESENHAR
RECEITAS POÉTICAS... LIVRO, DESENHO, TINTA, ORELHASFELPUDAS,
87
História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato
RITMOACELERADO, LIVRO, JUNTARTUDONUMACAIXAVIAJANTEELI-
TERÁRIA, ACONTECER, ACONTECEU...
Ana Luiza Suhr Reghelin,
Equipe 2010.
***
Acha que encontros como esse contribuem para seu crescimen-
to como educador?
“Acho que encontros como esse contribuem para meu cresci-
mento como educadora porque com essas atividades tenho certe-
za que meus alunos irão bem além.” “Acredito que esses encontros
trazem novas idéias.” “Todo aprendizado é uma troca, e em cada
trabalho feito por vocês eu aprendo.”
Professores de Guaraqueçaba
***
Optei por colocar em versos o meu depoimento. Quando fui
escrever, as letras se transformaram em sensações, palavras em can-
ção; ao pé do ouvido escutei meu coração.
Lá vem história outra vez
Os olhos que acompanham
Rápido como gafanhoto
O sorriso que agradece
Felpo Filva
O aplauso que enaltece
Bruxa, bruxa, venha à minha festa
A cada história
De vida, de fantasia
Rabisco
Cada cantinho
Aluno ou professor
O problema do Clóvis
O meu, o seu, agora nosso
88
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
A troca que acontece
Vacas não voam
Literatura e imaginação
Aprendizado e emoção
Lembranças
Uni duni tê
Saudade que fica
No coração habitou.
Karla Fernanda Ribeiro Neves,
Equipe 2010.
***
O que mais chamou minha atenção foi a história do passarinho
sem gaiola. Talvez em meu interior, apesar da idade, ainda exista um
ser que voa através da imaginação.
Professora de Guaraqueçaba
Capítulo 4 -Contar e (des) cansar é só começar: descas-
cando em plena sala de aula
Recursos externos e outras maneiras de contar histórias
“A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia
que a sábia sabia que o sábio não sabia
que o sabiá não sabia que a sábia não sabia
que o sabiá sabia assobiar.”
(ARMAZÉM DO FOLCLORE, de Ricardo Azevedo)
91
Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula
Bruna Fialla Alves
92
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
F...
Olá, gostaria de me apresentar. Talvez nós já nos conheçamos,
você pode já ter me visto por aí, mesmo assim gostaria que soubesse
um pouco (ou até muito) mais sobre mim. Vou começar falando das
qualidades: eu adoro falar! Se me derem voz, não perco tempo e de-
sando a falar. Sou super comunicativa, basta que você dê a oportuni-
dade para que eu me expresse. Sou muito versátil e por isso mesmo
faço o maior sucesso. Posso me vestir de vários personagens: já fui
fada, já fui bruxa, já fui príncipe e princesa, já fui dragão, já fui cava-
leiro, já fui rei e rainha, já fui idoso, já fui criança, já fui leão e já fui co-
bra e, se você se dispuser, posso ser qualquer animal. É a mais pura
verdade.. difícil de acreditar? Calma, lembre-se de que você está me
conhecendo, ainda vou revelar detalhes mais íntimos.
Como a maioria dos indivíduos, acredito que o ser é muito mais
importante que o ter, isto quer dizer que vale mais o que a gente tem
por dentro do que o quê a gente tem por fora, e é por isso que não
sou muito exigente quanto a minha forma física. Talvez eu não tenha
sido muito claro, então vou explicar melhor. Como sou por fora de-
pende mais de quem vai trabalhar comigo do que de mim mesmo.
Alguns preferem que eu seja de garrafa pet, saquinho de papel, de
colher de pau, de EVA, TNT, feltro, meia, retalhos de tecido, papel
machê e até de galhos de árvore. Isso depende da sua criatividade
e imaginação!
Se você ainda não descobriu quem eu sou, vou revelar: alguns
me chamam de marionete, outros de boneco, mas eu gosto mesmo
é que me chamem de fantoche.
Sou assim, vivo para e pela contação de histórias – e é por isso
que sou versátil. Elas me mantém vivo! E não é só isso, não. Neces-
sito de todos aqueles que de alguma forma são apaixonados pela
leitura e literatura, e que me utilizam como recurso para a contação
de histórias. Quando eles se propõem a investir parte do seu tempo
e talento para me confeccionar, me dando voz e movimentos, pas-
sam a ser a razão da minha existência e do meu sucesso. Em troca
eu também lhes ofereço muito mais, posso proporcionar horas de
93
recreação educativa, tanto para o professor como para as crianças;
pois, ao servir-se de mim para a contação de histórias, o professor
estimula seus alunos a desenvolverem certas atitudes como: empa-
tia, estima, cooperação, comunicação, coletividade, inclusão, ludici-
dade. Eu também auxilio no desenvolvimento da percepção visual,
auditiva e tátil; ajudo na organização de idéias e pensamentos; e
desperto a integração, a interação, a socialização e ampliação do
vocabulário do aluno.
	 É por tudo isso, e por proporcionar as pessoas um turbilhão
de emoções e sentimentos quando estou em cena, que sou muito
feliz!
Rosicler Alves dos Santos
Referências:
BLOIS, Marlene M. e BARROS, Maria A.F. Teatro de fantoches na
escola dinâmica. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico S.A., 1967.
LADEIRA, Idalina e CALDAS, Sarah. Fantoche e Cia. São Paulo:
Scipione, 1989.
Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula
94
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Quem sabe onde encontrar o que o vento roubou de nossa
imaginação?
Andressa Machado Teixeira
Pistas enigmáticas, chaves velhas, cadeados enferrujados, baús
acomodados no fundo do oceano e navios seculares... é muito fácil
adivinhar do que eu estou falando! É uma coisa misteriosa, vem do
tempo que os piratas não usavam fio dental, pois passavam me-
ses num convés! Bacalhau? Não, não é comida! Estou falando de
algo mais duradouro que porcelana chinesa, mais empolgante que
os bailes de máscaras, mais misterioso que a cortina do teatro (fe-
chada)! Ainda não adivinhou? Ô- ou! Vamos tentar a próxima pista...
Todas essas tralhas podem ser reunidas numa brincadeira só!
Ela é mais eletrizante que um choque, e já se viu das reações mais
inesperadas entre os participantes, como pulos involuntários e von-
tade de rolar no chão de alegria! Em alguns casos extremos os parti-
cipantes chegam a sentir o coração retumbante e os olhos saltados.
Também pode ser perigosamente envolvente e provocar uma imen-
sa vontade de abraçar quem você nunca abraçou, sem ao menos
pedir permissão. Quanto ao acompanhamento das pistas, alguns
sentem uma compaixão tão verdadeira por quem fica para trás que
insistem em jogar até o final de mãos dadas, mesmo que esse gesto
comprometa a primeira olhadela do objeto quando é encontrado. E
nessa hora ouve-se um coletivo e sonoro: oooooohhh!!! Expressão
de espanto e surpresa que nunca foi combinada, nem ensaiada! Ain-
da não descobriu?
Aí vai outra dica. Dá pra ser feito de muitos jeitos: usando pis-
tas e mapas em pequenas escalas, cochichos de coisas que todo
mundo sabe, personagens reais ou do além, caixas fechadas espa-
lhadas, objetos esquisitos sem ponta, sapatos de diversas cores e
tamanhos, dicas, bolas, músicas, teatro, histórias... ixe! É muita pos-
sibilidade para uma brincadeira só! Por isso que eu jogo tanto caça
ao tesouro e nunca me canso! AH meu Deus acabo de revelar o que
você tanto se esforçava para descobrir. Sem meias palavras.. é muito
simples, divertido e pode acontecer até dentro da sala de aula. Quer
um exemplo?
95
Dona Carochinha
(domínio público – Portugal
– recolhido por Raquel Marques
Guimarães)
Diz-se que uma vez
uma carochinha
achou cinco réis
varrendo a casinha.
Julgando-se rica
toda se enfeitou
e pra ter marido
pra janela foi.
Quem quer casar
com a Carochinha
que já não é pobre
e é bem bonitinha?
O porco que passa
apaixonado está
-- O que comes, porco?
-- Do que Deus me dá!
-- Passa fora, porco
que a ti não quero
pois melhor marido
do que tu espero!
O cão que passa
gamado está
-- O que comes, cão?
-- Do que Deus me dá!
-- Passa fora, cão
que a ti não quero
pois melhor marido
do que tu espero!
O gato que passa
enfeitiçado está
-- O que comes, gato?
-- Do que Deus me dá!
-- Passa fora, gato
que a ti não quero
pois melhor marido
do que tu espero!
Quem quer casar
com a Carochinha
que já não é pobre
e é bem bonitinha?
E o rato que passa
enamorado está
-- O que comes tu, rato?
-- Do melhor que há!
-- Vem cá, meu ratinho
que eu mais ninguém
quero
pois melhor marido
do que tu não espero!
Dona Carochinha
e o João Ratão
ambos à missinha
no domingo vão.
Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula
96
nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha
Mas já na igreja
mulher e marido
se dão pela falta
do leque esquecido.
-- Que dirá de nós
este zé-povinho?
vai buscar meu leque
ó, meu queridinho.
João Ratão em casa
foi ao caldeirão
provar o jantar
como um bom glutão.
E tanto o glutão
do jantar provou
que dentro do tacho
cozido ficou.
Uma vez em casa
Dona Carochinha
soube o que ao marido
sucedido tinha.
Viu-se que a triste
tinha um coração
pois morreu chorando
pelo João Ratão.
Fonte: CD “Dois a Dois”, DUO RODAPIÃO.
	
Copie as estrofes do poema que estão em negrito em papeizi-
nhos separados, e dobre-os bem pequenos. Coloque-os dentro de
balões de uma cor só, encha-os e dê um nó bem apertado. Depois,
cole nos balões figuras relacionadas às palavras sublinhadas que são
citadas no poema. Eles servirão como pistas. Distribua-os aos alunos
e leia apenas as partes do poema que não estão em negrito. Comece
a ler o poema e quando chegar na palavra sublinhada “cinco réis” a
pessoa que está com o balão que tem a figura correspondente a pa-
lavra deve estourá-lo e continuar o poema. Logo depois você conti-
nua a ler o poema até chegar novamente à outra palavra sublinhada.
Tenha o poema em mãos para guiar a seqüência e boa brinca-
deira!
Você já descobriu qual é o tesouro? O próprio poema! Nunca
leu poemas em forma de caça ao tesouro? Comece agora mesmo!
Especialmente este pode ser lido e cantado, pois está disponível no
CD da Caixinha Viajante fornecida pelo projeto Mais Gente e Livros.
Nós bolamos este caça, mas os próximos podem revelar os seus te-
souros prediletos. Onde será que eles estão escondidos?
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Nossa caderno-de-receias-gente-e-livros-110811145926-phpapp02

  • 1.
  • 2. NOSSO CADERNO DE RECEITAS
  • 3. PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA MAIS Gente e Livros: Caixinhas Viajantes no Mundo Fantástico da Literatura NOSSO CADERNO DE RECEITAS: GENTE E LIVROS NA COZINHA Subprograma Apoio às Licenciaturas Programa de Extensão Universitária Universidade Sem Frontei- ras – USF Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI Setor de Educação Pró Reitoria de Graduação – PROGRAD e Pró Reitoria de Exten- são e Cultura – PROEC Programa de Extensão “Qualificação de Professores Alfabetiza- dores” Universidade Federal do Paraná – UFPR Curitiba, novembro de 2010
  • 4. Ficha técnica Autores: Ana Luiza Suhr Reghelin, Andressa Machado Teixeira, Bruna Fialla Alves, Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves, Fabiana da Cunha Medeiros, Karla Fernanda Ribeiro Neves, Juliana Beltrão Leitoles, Jú- lio Cezar Marques da Silva, Liliane Machado Martins, Luciane Fabiane dos Santos, Márcia Tarouco de Azevedo Rocha, Rosicler Alves dos Santos, Valéria Zimermann de Morais Ilustrações: Ana Luiza Suhr Reghelin Capa: Miriam Fialla Diagramação: Felipe Meyenberg Revisão: Bruna Fialla Alves Assistente de Organização: Bruna Fialla Alves Organização: Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves Prefácio: Carmen Sá Brito Sigwalt Apoio: SETI UFPR Tiragem: 300 exemplares
  • 6. Muito Obrigado! À Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - SETI, À Universidade Federal do Paraná - UFPR, Às pessoas das comunidades atendidas, escolas e outras insti- tuições parceiras, Aos que se dedicam à literatura e à educação, Aos nossos amigos e familiares, Aos livros que lemos e às histórias que ouvimos contar.
  • 7. Índice Primeira Parte Capítulo 1 – MAIS escola Capítulo 2 – MAIS dos livros Capítulo 3 – MAIS gente Capítulo 4 – MAIS das histórias Capítulo 5 – MAIS viajantes Segunda Parte Capítulo 1: Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...” Listagem das “caixinhas viajantes” e do acervo do projeto; sobre os livros em uso e as narrativas de histórias de vida Capítulo 2 - Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não apa- rece, mas aparece na arte de fazer comida Qualidades do contador de história; reflexões autobiográficas de quem ama literatura Capítulo 3 - História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato Depoimentos de integrantes do projeto da Universidade e da Comunidade Capítulo 4 - Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula Recursos externos e outras maneiras de contar histórias 15 20 32 37 41 47 66 74 89
  • 8. Capítulo 5 - A massa desandou... virou virado! Experiências com o inesperado Situações-problema no projeto e o que se pode aprender com elas Capítulo 6 - Culinária exótica: literatura FORA da sala de aula Entrevistas com quem atua em hospital, brinquedoteca na clínica, brin- quedoteca escolar e livraria especializada Capítulo 7 - Mestres-cuca e seus narizes hiperdesenvolvidos: o que eles nos contam MAIS entrevistas: contadora de histórias, escritor que ilustra e ilustrador que escreve. Capítulo 8 - Aprimorando o gosto: cozinheiros mirins Práticas criativas protagonizadas pelos jovens leitores Capítulo 9 - Pesquisa: em busca de iguarias Sobre intertextualidade e auto-reconhecimento Capítulo 10 - Em nossa cozinha Integrantes da equipe, parceiros e outros colaboradores do projeto; nú- meros e curiosidades Referências Apêndice Receitas do nosso cardápio! Materiais confeccionados, testados e aprovados Antes de recolher os pratos 112 126 140 151 163 173 186 196 210
  • 9. Prefácio Carmen Sigwalt Acredito que é na infância que se desperta o gosto pela literatu- ra, mas para isso é necessário o incentivo de familiares e professores. Dentro desta perspectiva nasceu o “Projeto Gente e Livros: caixinhas viajantes no mundo fantástico da literatura”, que teve sua criação graças ao desenvolvimento de outro projeto, chamado “Os Livros Criam Asas”, realizado no país africano São Tomé e Príncipe com o apoio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e do Ministério de Relações Exteriores. Em parceria com o Ministério da Educação, o projeto foi desenvolvido através de três universidades: Universidade Federal do Paraná, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Os participantes deste projeto foram responsáveis por implan- tar, orientar, acompanhar e avaliar cem turmas – composta de jovens e adultos - em processo de alfabetização e letramento. Durante o processo de formação inicial e continuada dos professores foi prio- rizada uma concepção de língua que os levasse à adoção de uma metodologia que contemplasse não apenas a dimensão gráfica do processo de alfabetização, mas também atendesse à necessidade de garantir um processo de letramento dos professores e alfabetizan- dos. Esta metodologia teve como ponto de partida o trabalho com textos significativos - que possibilitassem a compreensão do proces- so de leitura e produção de texto, a função social do letramento e da escrita, o interesse pela aquisição dessas habilidades e o domínio sistemático do código da língua portuguesa. Durante a realização do projeto percebemos que o trabalho só se complementaria com a criação de condições de leitura para os alunos e professores, por isso implementamos um projeto de litera- tura que disponibilizou um acervo com obras de autores brasileiros, portugueses e africanos. As caixinhas de literatura circularam pelo pequeno país, e graças ao resultado altamente satisfatório desta ini- ciativa nasceu o desejo de criar um projeto semelhante no Brasil.
  • 10. Com a criação do Programa Universidade Sem Fronteiras - pela Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SETI) – eu (professo- ra de Pedagogia da UFPR), Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçal- ves (recém formada em Pedagogia) e Martha Cristina Zimermann de Morais (aluna do mestrado) nos unimos para a elaboração do “Projeto Gente e Livros: caixinhas viajantes no mundo fantástico da literatura”. Conhecimento, amor à literatura e o desejo de atuar no contexto educacional nos uniram para concretizar esta idéia. Com isso foi possível tornar realidade o sonho de buscar incentivo à leitu- ra através da qualificação docente e de oficinas pedagógicas desen- volvidas com alunos de escolas públicas. Já no inicio do projeto foi possível ampliar a equipe com a seleção de novos alunos de gradua- ção - com perfil adequado ao projeto - e também com alunos recém formados, dentro das características exigidas. Realizamos as primeiras intervenções nos municípios do Vale do Ribeira, pois apresentavam um dos IDH’s (Índice de Desenvolvi- mento Humano) mais precários dentre todos os outros municípios paranaenses; a questão educacional também aparecia como proble- mática. Posteriormente privilegiamos o município litorâneo de Gua- raqueçaba e a cidade de Piraquara - ambas apresentavam indicati- vos de desenvolvimento bastante limitados. A repercussão do projeto e o empenho da equipe em ampliar a socialização desta iniciativa possibilitaram que fôssemos além do atendimento inicial previsto e pudéssemos atuar em escolas públicas de Curitiba, em um Centro Municipal de Educação Infantil, em uma escola particular de Educação Infantil e na Casa Amarela – espaço da Funpar e, posteriormente, da UFPR para atendimento de crianças portadoras de necessidades especiais. O sucesso do projeto se deve ao empenho de pessoas e instituições que acreditam na literatura. Foi necessária a desconstrução de todo o projeto para recons- truí-lo no formato de um livro. A obra - recheada com poemas, con- tos, canções, aperitivos, jogos, brincadeiras, receitas e depoimentos pessoais - é resultado de todo o desenvolvimento do projeto. Os alunos e ex-alunos, percorrendo diferentes caminhos, destacam a importância do incentivo à leitura. Com muita propriedade conheci-
  • 11. mento e poeticidade, nos fazem percorrer uma história de sucesso e comprometimento. Uma história que nos mostra o quanto somos capazes de contribuir para a construção de uma nova sociedade – a partir de uma escola séria, sem ser triste – em que a verdadeira alegria está no acesso ao conhecimento; e na qual a leitura e a es- crita representam instrumentos básicos – ferramentas fundamentais – para uma sociedade letrada. Sinto muito orgulho “dos meus meninos e das minhas meninas”, autores desta obra.
  • 12. Apresentação Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves Há quem diga que as pessoas buscam receitas. Há quem troque receitas. E também aqueles que distinguem o que é essencial do que é ornamento; do que faz da refeição mais que um alimento, uma iguaria. Na terceira edição do projeto de extensão universitária “Gente e Livros”, a gente temperou um pouquinho MAIS. Além de promo- ver formação continuada de docentes, fazer intervenções nas salas de aula - com alunos e professores (e, vez ou outra, também com familiares) -, e entregar um kit de livros - as “caixinhas viajantes” - em cada escola municipal pelos municípios por onde já passou, o projeto “MAIS Gente e Livros” ousou desenvolver um jogo, um DVD e um livro que contemplassem um pouco do que já cozinhou, trocou e provou de literatura na escola e na comunidade. Tudo isso para contribuir com a formação de leitores desde as séries iniciais do ensino fundamental, nas quais o ensino formal é direito e dever em nosso país. A primeira parte do livro traz produções da equipe, inspiradas nas experiências de mundo e de leitura que o projeto proporcio- nou. Na segunda parte, há escritos que variam muitíssimo em gê- nero, número e grau. Com o cuidado de oferecer uma variedade em nosso cardápio, oferecemos depoimentos sobre os encontros; dicas sobre o uso da literatura em sala de aula; entrevistas com autores, ilustradores, contadores e com quem usa o livro em outros espaços que não a sala de aula; preciosidades em relação à pesquisa e com- posição de textos; além de saborosas informações sobre os livros, as parcerias e a equipe. De sobremesa, materiais desenvolvidos e aprovados pelo projeto que podem ser úteis a outros cozinheiros de contações e criações de histórias. Tudo com o visual para favorecer, realizar e enriquecer a degustação. Seja porque as narrativas são alimento para a alma; seja pela liberdade de gostar, desgostar e escolher que a literatura e a culiná-
  • 13. ria compartilham; ou pelas incontáveis comparações que tanto nós quanto muitos autores (como Marta Morais da Costa e Jorge Larrosa Bondía) já fizeram entre a comida e o leitor, NOSSO CADERNO DE RECEITAS percorre os caminhos da literatura na cozinha. Pois sabe- mos que não há uma só receita na educação, mas há ingredientes essenciais. Para fazer bolo de chocolate é necessário chocolate; as- sim como para alfabetizar são necessários textos, letras, palavras. E, para formar leitores, gente, histórias e livros (muitos deles!) são igualmente fundamentais. Bom apetite.
  • 15. Capítulo 1 - MAIS escola
  • 16. 16 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha ABANDONADA, EU Minha mãe não chega Meu pai também não, e saber que estou com fome Me dói o coração! Já é tarde... Estou há muito tempo na escola, Queria ir pra casa E tomar uma Coca-cola. Minha mãe diz que sou lenta Na hora da saída Mas na hora da saída, Não posso ser esquecida! Primeira poesia de Valeria Zimermann de Morais, 1997- 11 anos, espe- rando os pais na saída da escola.
  • 17. 17 Da cara... o quê? (Pra cantar no embalo da cara preta) Pro-fes-so-ra Da cara brava Tanto franziu a testa Que só ruga eu enxergava Não adianta Essa cara de espanto Quanto mais eu ouso Mais dessa canção eu canto Pro-fes-sor Da cara amarrada Nem quando eu crescer Eu mato essa charada Não adianta Essa cara de tacho Se adulto é ser assim Eu não cresço, eu me agacho! Meu a-mi-go Da cara traquina Só de olhar pro outro É que a gente já combina Sim, adianta! Dar a cara a tapa! Pra encontrar princesa Vai beijar de sapa em sapa! MAIS escola
  • 18. 18 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Mi-nha a-mi-ga Da cara sem-vergonha Pergunta o que quiser Com a resposta a gente sonha Sim, adianta! Essa cara-de-pau! Pó de pirilimpimpim pra encantar o lobo mau! Camila S G Acosta Gonçalves 28/02/2010
  • 19. 19 Nau do professor Andressa Machado Teixeira (cantiga para ciranda) Quando ouviu o canto da sereia minha turma se animou Quando ouviu o canto da sereia minha turma se animou Foi a vela do barco pirata que o vento soprou Foi a vela do barco pirata que o vento soprou Se a maré subisse eu não olhava qual o ponto que eu estou Se a maré subisse eu não olhava qual o ponto que eu estou Pego a bússola e boto no bolso pra qualquer canto eu vou Pego a bússola e boto no bolso pra qualquer canto eu vou Se eu vejo todos de mãos dadas a girar é o balanço forte pro meu barco marejar eu entendo muito de saudade e de amor mas quando se forem não me esqueçam por favor... MAIS escola
  • 20. Capítulo 2 - MAIS dos livros
  • 21. 21 Se eu fosse uma vaca e soubesse voar eu ia em sua janela pra você me mostrar pro seu pai, pra sua mãe, sua avó e professora que nem aquela bruxa que tem uma vassoura Andressa Machado Teixeira MAIS dos livros
  • 22. 22 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Repenti du Lobo (inspirado na “Verdadeira História dos Três Porquinhos”) Muito boa tarde, minha sinhora Boa tarde, meu senhô E pra todas criancinha Que são os anju do Senhô Vim aqui contá uma história que foi é muito mar contada Fala sobre três porquinho E umas casa derrubada Pois intão vô lhes dizê A verdadera versão Tenho nada pra escondê I o curpado fui eu não Tava cuma gripe das brava Cuma fome de leão Fui pidi um bucad’i açúcra Pruns vizinho di prantão Eu bati i eu chamei Mas ninguém respondeu, não Eu, gripado, ispirrei I a casa foi pru chão O vizinho eu avistei Tava morto o Seo Leitão Mal passado eu o devorei Pra num morrê di inanição
  • 23. 23 MAIS dos livros E os cumpadi qui mi ouve Pois intendam muito bem Tava doente e cum fome E eu num matei ninguém Foi só uma devoração Eu vô dizê pra você Veja bem, juntô a fome Cô a vontadi di cumê E as cumadre qui mi iscuta Já falei, vô repeti Eu, gripado, sem açúcra Fui pr’otro vizinho pidi... Acredite se quisé Eu sô um lobo di bem Ispirrei, caiu a casa Comi o otro vizinho tamém... Morto qui nem o primero O segundo tava lá E eu ainda sem açúcra Pra modi tomá meu chá! Di um mal eu num padeço Eu vô dizê pra você Num suporto disperdício Por isso tive qui comê! Foi meu pai qui m’insinô A num deixá nada no prato Mas di nada me adiantô Ixpricá pru delegado...
  • 24. 24 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Pois é qui a minha fama Tava ruim pra chuchu! Eu divia é tê deixado Os porco pros urubu! Quando menos isperava Vi minha foto nu jornal Muito mi caluniava Mi chamand’i Lobo Mau! Criancinhas num si ingane Isso foi difamação Eu num sô um lobo infame Eu num sô ninhum vilão! Essa é minha versão Num tirei i nem ponhei É verdade verdadêra Num iscondi n’ixagerei! Eu aqui atrás das grade Isso muito m’indiguina Sem açúcra, sem melado... Nessa xícra Severina Voismicê qui mi iscuta Faz favor di ispaiá Tem história i tem nutícia Qui tem qui disconfiá! Pela iscuta eu agradeço Cada um tem qui jurgá Mas di açúcr’indá pereço Pra modi tomá meu chááááá! Alexandre A. Lobo cantou pra Camila S G Acosta Gonçalves
  • 25. 25 MAIS dos livros CARTILHA RAPIDOPOLINA FArofa FERradura FIasco ou FORmosura FUrou o esquema do felpudo orelha trêmula... FELPO FILVA Famoso escritor Ficou de orelha em pé Foi com as cartas da Charlô “XArope CHEIra pum! CHINchilhosa”, ele pensou. CHOcado e quase azul com CHUmaço de cartas dessa fã... CHARLÔ PASPARTU SHOW de classe e destremida CHAmusca o sentimento X-salada a sua vida! FOmentando a relação CHOcolate e açafrão FIcam os dois a dialogar CHIMbalando se encontrar FUzuê com um postal CHUva faz o festival FElizmente se enganou CHEga o Felpo até a Charlô FARroupilha estão os dois CHAmejante feijão com arrroz...
  • 26. 26 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha CHarlote Felpote e Felpô Filvô Charlô Finalmente juntaram Xícaras, pires e cobertor! CHamaram tia Filva, Família, avó, sobrinhas Firmaram matrimônio CHocalhando as ladainhas! Camila S G Acosta Gonçalves leu, foi à festa do casório e se inspirou.
  • 27. 27 MAIS dos livros Adaptação do livro O Sumiço do Pote de Mel – Milton Célio de Oliveira Filho e Mariana Massarani, São Paulo: Brinque-Book, 2003. Por Bruna Fialla Alves. O Sumiço do Pote de Mel (diálogo – teatro de sombra) (urso entra) Urso: Alguém me ajude, por favor! Alguém me ajude! (cachorro entra) Cachorro: Au-au, o que foi? O que foi? Urso: Fui tomar banho na lagoa e quando voltei pra casa meu pote de mel tinha sumido. Você precisa me ajudar! Cachorro: Fique tranqüilo, eu tenho um bom faro e vou encon- trar o culpado! (urso sai) Cachorro: É melhor eu começar pela lagoa.. (entra o sapo) Cachorro: Olá Senhor Sapo, por acaso o senhor sabe quem pode ter entrado na casa do senhor Urso e roubado seu pote de mel? Sapo: Qualquer um, tanto o gato quanto o pato, mas eu des- confio mesmo é daquele rosado que passa a maior parte do tempo sujo de lama. (sapo sai) Cachorro: Sujo de lama? Mas só pode ser o... (porco entra) Porco: Sinto informar Senhor investigador, mas nesta história estou limpo. Para desvendar este mistério é só ir atrás de quem gos- ta de uma cenoura e é todo branquinho. (porco sai) Cachorro: Acho que já sei quem é! (coelho entra) Coelho: Ih, eu não peguei pote nenhum, não! No dia do sumiço eu estava longe daqui. Mas fiquei sabendo que alguém cheio de listras andou rondando a casa do senhor Urso. (coelho sai) Cachorro: Animal listrado? Quem pode ser?
  • 28. 28 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha (zebra entra) Cachorro: Então Dona Zebra, o que a senhora fazia perto da casa do urso? Zebra: Ora, eu estava apenas fazendo minha corrida matinal, não entrei na casa de ninguém. Mas enquanto estive por perto ouvi uns miados... (zebra sai) Cachorro: Só tem um animal que mia, e é o... (gato entra) Gato: Miau! Eu estava perto do lago sim, mas estava atrás de peixe, não de pote. Mas vi outro felino andando por ali, ele era bem maior que eu e tem uma juba bem grande. (gato sai) Cachorro: Algo me diz que só pode ser o dono da selva! Melhor eu ir investigar... (leão entra) Leão: Imagina senhor investigar, não fui eu. Passei o dia todo no alto da montanha. E de lá pude ver que tinha alguém andando pela selva e não era animal, não. Cachorro: Não era animal? Leão: Não, era uma menina! (leão sai) (menina entra) Cachorro: Ah, te encontrei! Posso saber por que você pegou o pote de mel do senhor urso? Menina: Eu só queria um pouquinho do mel, já ia devolver! Cachorro: Espere aí, vou avisar o senhor urso que achamos seu pote de mel. (cachorro sai) Urso: Oh, quer dizer que acharam meu pote de mel? Menina: Ah senhor Urso, me desculpe. Eu juro que ia devolver seu pote de mel. Urso: Tudo bem, não tem problema. Dá próxima vez é só pedir emprestado. FIM
  • 29. 29 MAIS dos livros Adaptação do livro O Caso das Bananas – Milton Célio de Oliveira Filho e Mariana Massarani, São Paulo: Brinque-Book, 2003. Por Bruna Fialla Alves. O Caso das Bananas (diálogo – teatro de sombra) (macaco entra) Macaco: (acaba de acordar) Ai, que soninho bom! Que manhã linda.. epa, mas cadê minhas bananas? Preciso de ajuda, alguém me ajude! (coruja entra) Coruja: Epa, roubo é comigo mesmo.. me conte o que aconte- ceu? Estou pronta pra investigar! Macaco: Ah Dona Coruja, alguém roubou minhas bananas.. Eu deixei elas aqui ontem a noite e hoje de manhã.. Puf, tinha sumido! Coruja: Caro Macaco, para começar do começo, melhor ouvir a vítima. Primeiro, me diga: Há um suspeito? Macaco: Dona Coruja, abomino o preconceito, mas.. Soube de um bicho estranho que veio de muito longe. Não é, pois, destas bandas. Não duvido que tenha escondido as bananas na bolsa que trazia na barriga. (macaco sai) Coruja: Ah, bolsa na barriga, é? Tem caroço nesse angu. Vamos, então, ouvir... (canguru entra) Canguru: Essa história já conheço. Só por ser um estrangeiro já viro logo suspeito. Pois digo. Digo e repito: Nesta mata há um tipo ainda mais esquisito, com um rabo bem fornido, tal e qual uma lagartixa multiplicada por quatro. (canguru sai) Coruja: Ora, rabo bem fornido? Lagartixa bem grande? Ah, agora eu desvendo esse mistério. Quero ter uma conversa com.. (lagarto entra) Lagarto: Dona Coruja, eu não tenha nada com o pato. Mas.. tenho um palpite: Quem tapeou o macaco vive muito bem na mata, com seu porte de madame e seu casaco de pintas.
  • 30. 30 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha (lagarto sai) Coruja: Palpite não conta, mas não custa ir interrogar.. (entra onça) Onça: Dona Coruja, tenho cara de malvada, pois quando bra- va.. Viro mesmo uma onça, mas no fundo sou boa-praça. Não que- ro atirar pedras na vidraça do vizinho. Pense, pense um pouquinho: que bicho aqui desta mata poderia comer tantas bananas sem ficar engasgado? Só mesmo com pescoço comprido, comprido como um gargalo. Um gargalo de garrafa. (onça sai) Coruja: Mas quem se parece com um gargalo de garrafa é.. (girafa entra) Girafa: Das bananas eu nem sabia, juro! Mas o maroto que as levou deve ser muito ladino com um rabo bem peludo e bigode no focinho. (girafa sai) Coruja: Ora, ora! Não posso perder a pose. Quero uma conver- sa com esse sujeito de bigode agora mesmo.. (raposa entra) Raposa: Minha cara coruja, sou famosa pela astúcia. Mas meu negócio são galinhas, vez ou outra umas uvas. E vou lhe dar uma dica: para mim o malandrão é o tal que ostenta juba e nunca perde a majestade. (raposa sai) Coruja: Juba? Majestade? Esse não me escapa! (leão entra) Leão: Só lambo o beiço por carne. Bananas? Credo. Nem de graça! Nós, os gatos – grandes ou pequenos – não nos damos com fruta. Para resolver este caso preste atenção na charada: Quem pode subir em árvores, embora não tenha patas? (leão sai) Coruja: Como é duro o ofício. Mãos a obra, vou correndo atrás da.. (cobra entra) Cobra: Dona Coruja, ouça: Tudo sobra para a cobra, em dobro.
  • 31. 31 MAIS dos livros Dizem que sou uma víbora, mas no caso das bananas, creia, sou inocente. Sem querer ser venenosa, achar o larápio é fácil, só reparar em sua roupa listrada. (cobra sai) Coruja: Listras? Só pode ser.. (zebra entra) Zebra: No dia dos fatos eu estava fora a visitar o cavalo, que é meu contraparente. Para mim está óbvio: quem mais poderia agarrar o cacho de bananas sem ter uma grande tromba? (zebra sai) Coruja: Aham, agora eu desvendo o caso das bananas! (elefante entra) Elefante: Dona Coruja, pouco uso minha tromba de uns tem- pos para cá, pois ando resfriado. Se quiser saber de tudo consulte quem tudo viu e quem tudo vê lá do alto. (elefante sai) Coruja: Acho que já sei quem vai me cantar esse mistério.. (passarinho entra) Passarinho: Vi sim, e vi muito bem o macaco acordar esfome- ado no meio da madrugada e comer uma, duas e até três bananas de uma única vez. Até acabar com o cacho todo. Mas o coitado não sabia, pois, enquanto comia, roncava. (passarinho sai) Coruja: O mistério chega ao fim, sem muito pano pra manga. O meu compadre guloso é... Sonâmbulo! FIM
  • 32. Capítulo 3 - MAIS gente
  • 33. 33 Mais GENTE e livros Mais uma vez por estradas tortuosas Andaram os viajantes Impulsionados por suas vontades virtuosas Saem em direção ao seu destino, mesmo em dias trovejantes Galopam por entre as estradas Escrevendo novas histórias a serem contadas Não imaginavam que nessas andanças Tantas experiências vividas Enredariam no livro de suas vidas tantas mudanças E agora? Leva vento mais uma história Invade e explora cada canto da memória Vai levando essas lembranças flutuantes Risos, alentos, esperanças cintilantes Ouçam os gritos e os apelos de glória Saiam mais uma vez –personagens- dessas caixinhas viajantes... Júlio Cezar Marques da Silva Curitiba (com a cabeça em Guaraqueçaba), 21 de setembro de 2010 MAIS gente
  • 34. 34 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha POEMARES Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves Guaraqueçaba, 30 e 31 de jan/2010 Na concha Quem vive que nem ostra acaba engolido vivo. (Lição de Biologia) Ave do mar é peixinho. Galope na água, cavalo-marinho. Peixe no ar, passarinho. Mergulho Bem-me-quer Mal-me-quer. Bem-me-quer Mar-me-quer: Mar-me-quer-bem! -- TCHIBUM! –
  • 35. 35 MAIS gente Araraquáricas de Piraquara - trava-bico! – Sobrevoando ora ora Por Piraquara ara ara Passei por uma torneira Que não vaza água agora Aterrisando ora ora Ali na praça ara ara Avistei um’ outra arara Que me olhou naquela hora Sem ponto e vírgul’ora ora É exclamada ara ara Surpresa de Pintassilgo Que poesia e voa embora Estrada afora ora ora Escolarada ara ara Passarinhada na leitura Ave! nossa senhora! Ararizando ora ora Em cachoeira ara ara É fonte que faz nascer Todo leitor que ri e chora! Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves Arara
  • 36. 36 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha No embalo Fofinho balanço Das asas de um anjo. Viola tocando E a gueixa dançando. Charmoso balanço Do rabo de um gato. Flauta sussurrando, Felino ronronando. Criação de poesia mediada por Camila S G A Gonçalves. Professoras participantes: Joselita Romualdo da Silva, Geniselia Maria Ribeiro dos Reis, Nutzi C. V. Kaisernan, Mariza Ap. Pires Polati, Marili Nunes Cardoso, Luciane Vilar Possebom. Piraquara, 13 de novembro de 2010.
  • 37. Capítulo 4 - MAIS das histórias
  • 38. 38 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Caça ao tesouro Andressa Machado Teixeira (estilo bate-mão ou jogos de mão, cantar cada vez mais rápido) Tinha uma cidade numa ilha a á Tinha uma cidade numa ilha a á Tinha uma ilha na floresta a á Tinha uma ilha na floresta a á Tinha uma floresta no ocean an ano Tinha uma floresta no ocean an ano Tinha um oceano num planeta a á Tinha um oceano num planeta a á Tinha um planeta e um cometa a á Tinha um planeta e um cometa a á Tinha um cometa e um ET e ê Tinha um cometa e um ET e ê Tinha um ET e uma pista a á Tinha um ET e uma pista a á Era uma pista de corrida a á Era uma pista de corrida a á Era corrida de tartaruga a á Era corrida de tartaruga a á A tartaruga é muito esperta a á A tartaruga é muito esperta a á
  • 39. 39 A criança é mais esperta a á A criança é mais esperta a á Tinha uma criança numa ilha a á Tinha uma criança numa ilha a á Era ilha do pensamento to tô Era ilha do pensamento to tô MAIS das histórias
  • 40. 40 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Flores para a avó Camila S G Acosta Gonçalves Uma menina Lá na floresta Colhendo flores Pra dar pra sua avó... Mal ela sabia quem estava a espiar Um velho lobo já pensando no jantar A menina não seguiu o conselho “Não pare no caminho e nem fale com estranhos!”, Disse a mãe da Chapeuzinho Vermelho. O lobo um plano traçou Por chapeuzinho ele passou A vovó ele devorou e passando uma ladainha De sobremesa ele engoliu a netinha! (óóóóóóóóóóhhhhhh) Um caçador -- atento como ele só!— Enfrentou o terrível lobo E salvou a chapéu e sua avó! A vovó desesperada Quase não sabia de nada Ficou na barriga do lobo Com o que ele comeu na noite passada E ao ser resgatada Viu sua camisola toda usada! * essa é uma canção aditiva, na qual pode-se repetir os versos e acrescen- tar o verso seguinte à vontade.
  • 41. Capítulo 5 - MAIS viajantes
  • 42. 42 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Longe do querer dizer e Enquanto durar o ócio Inventado entre uma Tarefa e outra (agora ex-passadas), Uma valente Rapariga encontra novo mundo Ao alcance dos dedos. Camila S G Acosta Gonçalves, 02/01/2010
  • 43. 43 Eternidade Era uma tarde de sol, numa rua tranquila. Estava sentada no fio de luz uma dupla de pardais, estavam lado a lado. Realizavam longo diálogo, um deles aproximou-se um pouco, o outro recuou. Na eternidade de tempo dos passarinhos o primeiro arriscou aproximar-se um pouco mais. Tanto fez que conseguiu permanecer junto, bem juntinho ao outro por largo tempo... dentro da lógica dos pardais. Foi uma eternidade linda. E a conversa entre os dois continuava, até que o segundo novamente se esquivou, o diálogo entre os dois esquentava. O segundo, nervoso, lançou vôo e passou para o outro fio do poste de luz da rua tranquila numa tarde de sol. Agora, um pouco distante do primeiro pardal. E naquela eternidade pardaica apareceu outro pardal, um ter- ceiro (...) e sentou-se ao lado do segundo. Ficaram mais uma peque- na eternidade ali no outro fio, sabe-se lá o que falavam... O primeiro, isolado, não aguentou e foi ter com a nova dupla. O segundo, muito irritado, lançou vôo, desta vez rumo ao céu... será que volta? Os outros dois pássaros ficaram sentados no mesmo fio de luz, bem separados entre si, num profundo silêncio! Assim, durante um eterno tempo de pardal! Juliana Beltrão Leitoles 18/01/2010 MAIS viajantes
  • 44. 44 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Histórias para Esquecer Ana Luiza Suhr Reghelin Há algum tempo carrego comigo este cesto, é por ele que pas- so os dias a falar com gente. Gente alta, gente baixa, gente rica, pobre, alegre e triste. Toda essa gente me ajuda, assim como ajudei alguém tempos atrás. Era uma viagem. Viagem que fazia só, ia de um lugar longe para um lugar distante. No meio deste caminho, quando o sol já ia baixo e as cores da noite se mostravam, encontrei um homem. Gente velha. O ar cansado denunciava mais do que a sua idade, mostrava o cansaço dos olhos e da alma. Parei e ofereci a metade do pão, da carne e das uvas que trazia comigo. Alimentou-se sem dizer palavra. Seu olhar cansado fixou-se em mim e após um tempo sua fala cansada disse: “Me ajude a esquecer!” “Esquecer?” [Pensei eu] “O que você quer esquecer?” Respondeu: “Tudo!” Aquilo soou forte e pensei ser grave alguém daquela idade que- rer livrar-se das lembranças de toda uma vida. Vida sofrida, conclui. - Me ajude a esquecer! Continuou o homem. Não consigo es- quecer, lembro de tudo, cada coisa, cada dia; isso me consome. Já não posso com tudo isso. Mostrou-me então o cesto que estava aos seus pés. Era grande e estava cheio de lembranças e memórias. Disse que havia muitos daqueles em sua casa e já não havia quase espaço para outros. Achando aquilo tudo muito simples, praguejei: “Jogue-os fora! Assim irá se livrar de todas essas coisas”. Com um riso irônico, respondeu: - Já fiz isso quando ainda era moço, fui até o rio mais fundo que conhecia e despejei todas, até não ver mais nenhuma. Quando voltei para casa lá estavam muitas outras... lembranças das lembranças. Era sempre assim, quando voltava de uma dia de trabalho ou de um bonito passeio, estavam lá cada carro que havia passado, a cor dos olhos de cada moça que havia admirado, a quantidade de passos
  • 45. 45 que havia andado, o som de cada palavra dita e ouvida. No inicio era bom, na escola eu era o melhor da turma, lembrava de cada fórmula matemática e de todas as conjugações, sem hesitar. À medida que fui crescendo, as lembranças começaram a pesar e os cestos passa- ram a se multiplicar. Com a voz irritada e com um gesto forte, continuou: - É impossível viver sem esquecer! Novamente seu olhar fixou-se no meu: “Me ajude a esquecer!”, suplicou mais uma vez. Pensei um pouco, ajeitei minhas coisas, sentei ao seu lado e comecei a esquecer... calmamente... “Esqueci que tinha uma flor e ela morreu sem água; esqueci da música que fiz para um amigo que tinha orelhas grandes; esqueci meu dedo na mira do martelo... doeu; esqueci que tive um amor e perdi, quando saí em busca de outro...” Falei por um tempo, até que olhei e vi que o meu velho dormia, estava com o ar mais sereno, me acomodei na coberta e adormeci também. Acordei na outra manhã com a luz do sol. Totalmente desperto, olhei ao redor mas não encontrei meu velho, só vi seu cesto e ele estava menos cheio que na noite passada. Pensei que talvez o tivesse ajudado de alguma forma, mas entendi também que ele ainda preci- sava da minha ajuda e levei o cesto comigo. Ainda hoje ofereço as lembranças do cesto para as gentes que encontro pelo caminho, dou uma ou duas aos mais esquecidos e peço que cada um esqueça uma lembrança e que ajude o meu velho. O cesto reaparece cheio a cada fim de tarde, assim continuo sabendo que o meu velho ainda se lembra e de nada se esquece. MAIS viajantes
  • 47. Capítulo 1 - Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...” Listagem das “caixinhas viajantes” e do acervo do projeto; sobre os livros em uso e as narrativas de histórias de vida
  • 48. “Se você quiser conhecer alguém profundamente, preste atenção nas histórias que essa pessoa conta, lê ou assiste na televisão ou no cinema. Nossas histórias preferidas sempre falam de nossos maiores segredos, das emoções mais verdadeiras de nossas vidas, dos nossos grandes sonhos e esperanças.” (prefácio de LÁ VEM HISTÓRIA OUTRA VEZ, de Heloisa Prieto) “Antes das sessões de fotos, eu conversava com as cri- anças, para conhecê-las melhor. Descobria como eram a família e os amigos, a escola e as brincadeiras, e o que fazia cada criança ser especial.” (fotógrafo do livro CRIANÇAS COMO VOCÊ)
  • 49. 49 Das viagens em que não fui... Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves ... mas das quais ouço falar são muitas! Como uma das integrantes pioneiras do projeto, que participa desde 2007 e é, portanto, uma das mais antigas (já condecorada com cabelos brancos sem disfarce), estive em diversas viagens e posso dizer que nenhuma foi, é e nem será igual à outra. E guardo suspiros fortes para viagens em que não estive e afirmo piamente que nenhuma foi, é, e nem mesmo será igual à outra. Dessas viagens eu degusto os restos, tal qual uma criança que lambe o que sobrou da massa do bolo na cuba da batedeira - mo- vida à mão ou à eletricidade. É a lambida na tampa do iogurte, ou mesmo de um restinho afetuosamente guardado para mim pela equipe caridosa, deliciando-me de palavras, movimentos, brilho nos olhos, expressões belíssimas ou inesperadas - inclusive amargas. Sa- bemos, ora pois, em especial os já de cabelo grisalho como eu, que nem tudo são flores, e até mesmo as mais belas das flores têm seus espinhos, como a “rosa vermelha do meu bem-querer” da ciranda nordestina. E utilizo meus recursos imaginativos para construir essas via- gens na minha cabeça, encontros que não tive, mas que igualmente quero fazê-los presentes em minha bacia de memórias. Dessas em que não fui, quero deixar o relato de uma - MAIS ou- tra estratégia para não me fazer esquecer... se é que isso é possível, pois traz aroma tão forte, tão inefável que é séria candidata a estar guardada em meu baú das lembranças eternas de todos os tempos, incluindo os imemoráveis. Um dos livros da caixinha viajante 2008 é o Asa Branca, de Luiz Gonzaga. É, dele mesmo. Do “rei do baião”. Por esse livro foi paixão à primeira vista, pois as ilustrações são belíssimas, colorindo a letra da canção de Gonzaga pelo talentosíssimo Maurício Pereira – livro editado pela DCL. Como merecida, a canção vira música em uma Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 50. 50 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha partitura para instrumento harmônico (piano, violão) e canto ou ins- trumento melódico (flauta, clarinete, sax, violino...). A poesia é tra- tada com merecida seriedade: escrita timtim por timtim apossada de seu regionalismo, com os acentos dos falantes e cantantes lá do sertão: “quando oiei a terra ardeno...” Quando fiz a escolha desse livro para a caixinha, não tinha idéia do acontecimento que se desencadearia... Foi uma professora de Tunas do Paraná quem contou, nessa viagem em que não estive. Ela leu o livro para seus alunos, mostrou as figuras, cantou a música (será que tinha rádio para rodar o CD que lá deixamos com a canção? não sei, prefiro imaginar que ela cantou bem bonito a cappella, e depois os alunos cantaram junto) e emprestou o livro ao aluno que havia lhe pedido. Seus alunos eram iniciantes leitores de letra, e mestres leitores de mundo. Um pouco eles devem ter aprendido com ela. O outro pouco, com os pais, os tios, os vizinhos, os cachorros, as galinhas, os porcos, os milhos, a terra. E com as outras crianças, é claro. O menino levou o livro para casa. Ele nem sabia que, antes dis- so, eu já havia me apaixonado pela mesma leitura, pela mesma tira- gem desse exemplar que jazia em suas mãos. Em sua casa, abriu o livro para o pai ler... o pai lia palavra ne- nhuma! (Será que ele fora “peão; sua mãe, solidão; seus irmãos (quase) perderam-se na vida à custa de aventuras?” isso eu também não sei... sei que essa outra canção me dá um arrepio parecido com essa história... arrepio quente que me faz marejar os olhos de lágrimas) O menino estava na escola tempo suficiente para conhecer da amargura do pai. Sabia bem como era isso. Um frio gelado na es- pinha, a boca seca tentando balbuciar algo. Algo que pudesse por acaso fazer sentido com aquilo que se esperava de um leitor de letra. Isso tudo vezes a idade do pai. O pai bebia uma tintura de boldo de sentimento, somada à responsabilidade de pôr filho no mundo e cuidar dele, saber dele, ler... para ele. Entendendo o pai, o menino quebrou o silêncio silabando o começo do texto de letra.
  • 51. 51 Felicidade é pouco pra dizer disso: o pai sorriu para o filho. Sor- riso com olhos molhados. Ele vivera o bastante para conhecer aquilo que não sabia iscrivinhado. Não só sabia da letra, mas também a melodia. E foi assim, cantando e lendo para e com o seu filho, que os dois passaram aquele final de tarde. Em preciosíssima descoberta e resgate: o filho descobriu o pai, leitor; o livro descobriu a fluência de quem já o conhecia desde antes de ele nascer. Como a um filho que resgata as origens de seus ascendentes desde seu ventre. O ventre da cultura. Foi então que de um leitor nasceram dois. De uma só letra nas- ceram múltiplas imagens. E da memória de uma canção nasceu re- conhecimento. E desse reconhecimento, o significado. Significado que desbota meus cabelos só de ouvir falar. A experiência gera o contraste das cores do cabelo, por meio das peculiaridades do vôo de cada um de nós, três leitores, com Asa Branca. Das viagens em que não fui, mas das quais sempre tenho notí- cias, eu escrevi essa. Simples música para meus ouvidos. Que me fazem escutar o choro baixinho de emoção do pai na escuridão da noite, quando as ilustrações se fundiram com o breu do descanso. Esse pai que nem conheceu a gente. Mas que já conhecia o livro. Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 52. 52 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha As muitas histórias Liliane Machado Martins Contar histórias pode ser uma sinfonia, desde que nessa sinfonia, or- questrada com palavras, entrem todos os instrumentos: do sopro da respi- ração ao metal da voz; do dedilhar do corpo ao ribombar do olhar (SISTO, 2007, p. 39). Todos nós já contamos ou ouvimos alguma história, desde aquelas narradas por nossos pais, as que nossos professores conta- vam na escola ou mesmo aquela que ouvimos dos nossos amigos. E não estou falando apenas das histórias tiradas dos livros, falo tam- bém daquelas que a gente só tem na lembrança - dessas que vai passando de geração pra geração. Comigo não foi diferente, vários momentos da minha vida fo- ram marcados pela contação de histórias. Uma história que me mar- cou muito foi contada durante uma viagem de barco na Lagoa da Conceição, em Florianópolis/SC. Foi neste dia que escutei pela pri- meira vez a história do menino Yahoo, uma criança que acreditava que poderia empurrar o céu para o alto, usando a força, a coragem e a união de todas as crianças do mundo. Fiquei tão apaixonada por esta história que já a contei diversas vezes. Outra situação que eu lembro muito bem foi uma contação fei- ta pelo Vinicius, participante do projeto em 2008 e 2009. Ele leu o livro “Todo cuidado é pouco”, de Roger Mello. Fiquei encantada com o modo que ele contou a história, envolvendo os ouvintes – a maio- ria criança – durante toda a contação. Nas histórias com fantoche, era maravilhoso perceber a curio- sidade das crianças. Elas já entravam em sala tentando adivinhar o que iria acontecer. Todo aquele momento antes da contação era en- cantador. Das várias atividades que fizemos pelo projeto, a maioria foi desenvolvida em conjunto. A criação era desafiadora, porém sempre muito empolgante. E ver o resultado final, construído com a ajuda de todos, era gratificante.
  • 53. 53 Todo contato humano se dá por meio de uma leitura, em seu sentido mais amplo: lê-se as histórias que possuem aquela criança, as histórias que ela deseja possuir, as histórias do professor que to- cam as da criança e, se esse momento for tratado com cuidado e carinho, nascerá toda uma nova família de histórias, uma rede deli- cada cuja beleza poderá gerar fios que se entrelaçam infinitamente. (PRIETO, 1999, p. 33) Referências: PRIETO, H. Quer ouvir uma história? Lendas e mitos no mundo da criança. São Paulo: Angra, 1999 (Jovem Século 21) SISTO, Celso. Contar histórias, uma arte maior. In: MEDEIROS, Fábio Henrique Nunes & MORAES, Taiza Mara Rauen (orgs.). Me- morial do Proler: Joinville e resumos do Seminário de Estudos da Linguagem. Joinville, UNIVILLE, 2007. CIPIS, M. Era uma vez um livro. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2002. MELLO, R. Todo cuidado é pouco. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1999. Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 54. 54 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Caixinhas Viajantes 2008 A árvore generosa Shel Silverstein Editora Cosac Naify A árvore que dava sorvete Sergio Capparelli Editora Projeto A Festa das Palavras Kátia Canton Editora Girafinha Armazém do Folclore Ricardo Azevedo Editora Ática Asa Branca Luiz Gonzaga Editora Difusão Cultural do Livro Cacoete Eva Furnari Editora Ática Contos que brotam nas flo- restas – Na trilha dos irmãos Grimm Kátia Canton Editora Difusão Cultural do Livro Dentro do espelho Luise Weiss Editora Cosac & Naify Fada cisco quase nada Sylvia Orthof Editora Editora Ática Fico à espera Davide Cali e Serge Bloch Editora CosacNaify Lá vem história Heloisa Prieto Editora Companhia das Letri- nhas No fundo do fundo-fundo Lá vai o tatu Raimundo Sylvia Orthof Editora Nova Fronteira O cabelo de Lelê Valéria Belém Editora Companhia Editora Nacional O Carteiro chegou As” Caixinhas Viajantes” são o acervo de livros entregue em cada uma das escolas das séries iniciais da rede pública dos municí- pios participantes-- Adrianópolis, Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná (2008-2009); Guaraqueçaba e Piraquara (2010). O “Acervo Gente e Livros“ são os livros adquiridos (através de compra, troca ou doação) para a sede do projeto na universidade.
  • 55. 55 Janet e Allan Ahlberg Editora Companhia das Letri- nhas O Equilibrista Fernanda Lopes de Almeida e Fernando de Castro Lopes Editora Ática O livro dos medos Vários Autores Editora Companhia das Letri- nhas O menino quadradinho Ziraldo Editora Melhoramentos Pinote, o fracote e Janjão, o fortão Fernanda Lopes de Almeida e Alcy Linares Editora Ática Sob o sol, Sob a lua Cynthia Cruttenden Editora Cosac Naify Todo cuidado é pouco! Roger Mello Editora Companhia das Letri- nhas Traquinagens e Estripulias Eva Furnari Editora Global Vacas não voam David Milgrim Editora Brinque-Book Zig Zag Eva Furnari Editora Global Caixinhas Viajantes 2009 Zé Pião Ducarmo Paes Editora Noovha America Triângulos vermelhos Ângela-Lago Editora Rocco O homem que amava caixas Stephen Michael King Editora Brinque-Book O Caso das bananas Milton Célio de Oliveira e Maria- na Massarani Editora Brinque-Book Mania de Explicação Adriana Falcão Editora Salamandra Histórias Fabulosas Esopo e La Fontaine Editora Difusão Cultural do Livro Guilherme Augusto Araújo Fernandes Mem Fox e Julie Vivas Editora Brinque-Book Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 56. 56 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Crianças como você UNICEF Editora Ática Caixinhas viajantes 2010 Fábrica de poesia Roseana Murray Editora Scipione Felpo Filva Eva Furnari Editora Moderna Lá vem história outra vez Heloisa Prieto Editora Cia das Letrinhas O problema do Clóvis Eva Furnari Editora Global Rabisco – Um cachorro per- feito Michele Iacocca Editora Ática Rápido como um gafanhoto Audrey Wood / Don Wood Editora Brinque-Book Uni Duni Tê Angela Lago Editora Moderna Vacas não voam David Milgrim Editora Brinque-Book Acervo Gente e Livros A árvore curiosa Didier Levy Editora Girafinha A velhinha na janela Sônia Junqueira Editora Autêntica A menina do Fio Stela Barbieri Editora Girafinha A rainha das cores Jutta Bauer Editora Cosac Naify A verdadeira história de cha- péuzinho vermelho Agnese Baruzzi e Sandro Nata- lini Editora Brinque-Book A verdadeira história dos três porquinhos Jon Sciezka / Lane Smith Editora Companhia das Letri- nhas Alguns contos e fábulas La Fontaine Editora Paulus As narrativas preferidas de um contador de histórias Ilan Brenman Editora Landy
  • 57. 57 Bisa Bia, Bisa Bel Ana Maria Machado Editora Salamandra Bruxa, Bruxa – venha a minha festa Arden Druce / Pat Ludlow Editora Brinque-Book Carta errante, Avó atrapalha- da, Menina aniversariante Mirna Pinsky Editora FTD Chapeuzinho amarelo Chico Buarque Editora José Olympio Chuva de manga James Rumford Editora Brinque Book Clara manhã de quinta à noite Don Wood / Audrey Wood Editora Ática Conta uma história? Ana Lucia Brandão Editora Paulinas Contos de enganar a morte Ricardo Azevedo Editora Ática Contos de Estimação Vários Autores Editora Objetiva Contos de Morte Morrida Ernani Ssó Editora Companhia das Letri- nhas Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito coco na cabeça dela Werner Holzwarth / Wolf Erl- bruch Editora Companhia das Letri- nhas De surpresa em surpresa Fanny Abramovich Editora Braga Doze reis e a moça no labirin- to do vento Marina Colasanti Editora Global Estão Batendo na Porta Ricardo Azevedo Editora Melhoramentos Fadas no divã – Psicanálise nas histórias infantis Diana L. Corso e Mario Corso Editora Artmed Histórias da Preta Heloisa Pires Lima Editora Companhia das Letri- nhas Histórias de fadas Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 58. 58 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Oscar Wilde Editora Nova Fronteira Histórias do Cisne Hans Christian Andersen Editora Companhia das Letri- nhas Lilás Mary E. Whitcomb Editora Cosac Naify Limeriques da Cocanha Tatiana Belinky Editora Companhia das Letri- nhas Marilu Eva Furnari Editora Martins Fontes Meus primeiros contos Antologia de Contistas Brasilei- ros Editora Nova Fronteira Meus Primeiros Versos Antologia de Poetas Brasileiros Editora Nova Fronteira Mil pássaros pelos céus Ruth Rocha Editora Editora Ática No dia em que você nasceu Debra Frasier Editora Augustus Nós Eva Furnari Editora Global Nossa rua tem um problema Ricardo Azevedo Editora Ática O caso do pote quebrado Milton Célio de Oliveira Editora Brinque-Book O Circo da lua Eva Furnari Editora Atica O Fantástico mistério de feiu- rinha Pedro Bandeira Editora FTD O gato e a menina Sônia Junqueira Editora Autêntica O grande livro dos medos Emily Gravett Editora Salamandra O livro inclinado Peter Newell Editora Cosac Naify O menino e a gaiola Sônia Junqueira Editora Autêntica O menino marrom
  • 59. 59 Ziraldo Editora Melhoramentos O outro lado Istvan Banyai Editora Cosac Naify O pequenino grão de areia Ricardo Filho Editora Paulus O que os olhos não vêem Ruth Rocha Editora Salamandra O três mosqueteiros Alexandre Dumas Editora Melhoramentos O Urubu e o Sapo e O Velho e o tesouro do rei Silvio Romero Editora Paulus Onde tem bruxa tem fada Bartolomeu Campos Queirós Editora Moderna Os Cigarras e os Formigas Maria Clara Machado Editora Nova Fronteira Poemas para brincar José Paulo Paes Editora Ática Poemas para crianças Fernando Pessoa Editora Martins Editora Procura-se Lobo Ana Maria Machado Editora Atica Quem viu o meu soninho? Alfredo Garcia Editora Lê Tem cavalo no chilique Sylvia Orthof Editora FTD Um garoto chamado Rorbeto Gabriel o Pensador Editora Cosac Naify Um zoológico de papel Tatiana Belinky Editora Noovha America Uma idéia toda azul Marina Colasanti Editora Global Uma professora muito malu- quinha Ziraldo Editora Melhoramentos Zoo João Guimarães Rosa Editora Nova Fronteira Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 60. 60 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Brincando com narrativas na sala de aula: uma busca por lacunas preenchidas em livros de recordações Andressa Machado Teixeira Você já deve ter pensado muitas vezes que ser criança é um estado da gente que deixa saudades, não é mesmo? Pois bem. Ser adulto tem responsabilidades agudas, mas, há coisas que podemos fazer que são mais divertidas do que pagar contas. Uma delas é po- der recordar e narrar, principalmente aos menores, coisas boas do amadurecer. Se nossas recordações fossem um livro, ele seria escri- to ao longo da vida inteira. Quanto mais percebemos a vida, mais nosso livro adquire características próprias. Alguns podem ser gros- sos volumes, outros ficam mais abertos do que fechados, uns são esquisitos, também existem versões de bolso, e alguns poucos só tem imagens. Há livros com conteúdos apagados, de páginas pouco lidas e amareladas. Ou páginas e páginas de rabiscos tempestuosos que quanto mais lidos, menos compreendidos. Mas há nesses livros páginas bem conservadas que, ao lermos e relermos - para nós mes- mos e para os outros -, ganham uma linguagem mais madura e clara do que a própria recordação. É a diferença entre a espreguiçadeira e a rede. A recordação e a narrativa. Até que nossa adultência nos tome de assalto pelo meio do ca- minho, muitas lembranças permanecem como uma extensa lacuna a ser completada no texto do pensamento. Vamos crescendo e inter- calando ao texto da nossa história lacunas de lembranças cheirosas como o bolo da tia, chulezentas como primos reunidos, ardidas de um beliscão, relaxantes como um banho quente depois de brincar um dia todo, entre outras que não se pode escrever aqui, a não ser na sua forma mais pura: ____________________. O que cabe a cada um de nós para preencher essa lacuna torna nossas memórias preciosas, enquanto as suas narrativas equivalem a uma verdadeira façanha de gente grande! Criança ou adulto, todos temos o que contar. Talvez se conside- rarmos narrativas de cinco figuras cujos universos verbais são muito
  • 61. 61 distintos, algo surja na lacuna que temos sem preencher. Meu amigo Enzo, que já viveu seu considerável primeiro ano de vida, contou a minha irmã o seguinte episódio depois de uma trupicada: “Casi caí!” Ele ainda não fala muitas palavras da nossa língua então esse foi o primeiro causo compreensível e inteiro que ouvimos dele. Já Juan tem oito anos. Sempre o encontro na casa de sua avó, dona Neide. Na maioria das vezes brincamos juntos, exceto pelo dia em que qualquer brincadeira seria imprópria diante dos dois rios de lágrimas que corriam pela face vermelha e inchada de Juan. Eles desaguavam numa bocarra aberta que fazia ecoar pela casa gritos chorosos vindos das profundezas, de além da garganta. Segurei o monstrinho indesejável perto, demonstrei minha compaixão por suas lamúrias desconhecidas e minha curiosidade em conhecê-las. A história foi mais chorada do que contada. Algo assim: Juan queria a companhia de sua nova e única amiga, Meg, uma vira-lata encon- trada na porta de sua casa alguns dias atrás. Pelo grande apego dele pela cadelinha a família concordou em adotá-la. Desde então, sepa- ravam-se apenas nos momentos inevitáveis - mas Juan achava que as visitas à casa da vó Neide não se incluía neles. Ao fim, legitimava o choro enquanto associava tudo isso a um plano maquiavélico de sua mãe para separá-lo de Meg. Ele me contou como era linda a sua pelagem, as coisas sapecas que aprontava e o choro foi soluçando, o soluço cessando... até a respiração normalizar. Numa certa noite meu pai lembrou-se, à toa, de um episódio certamente inesquecível, passado no passado do interior de sua in- fância - interior de seus grandes medos. Foi a vez que o mandaram buscar, já de noitezinha, água no poço. Sem muita opção seguiu o pequeno carregando um balde vazio e reluzente sob o luar. Apenas o som quieto do mato era audível, além de seus modos ofegantes. Tinha uma coragem muito cautelosa no seu caminhar que o manti- nha atento pelo instinto, pois não exergava abaixo dos joelhos ou a um palmo diante do nariz. De repente passa por ele um porco cor- rendo, que o faz largar o balde, gritar e dar no pé rapidinho.. tudo ao mesmo tempo! Ainda deu para ouvir o balde trepidar rolando no mato enquanto voltava para a casa. Com toda a bambeira nas Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 62. 62 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha pernas adentrou a porta, despertou o riso dos adultos e recebeu ordens marotas para voltar e procurar o balde imediatamente! Ora veja, medo de porco! Thaise tem a minha idade, e é claro, também tem suas histó- rias. Uma vez, quando tinha apenas dois aninhos explorava inocen- temente o quintal e notou uma escada encostada na parede de sua casa. Perguntei o que ela pensou, mas não houve resposta. Imedia- tamente pensei naquela sensação de João ao observar o pé de feijão emergindo continuamente para o alto. Continuando o causo, diante de meus olhos e ouvidos, Thaise, como boa aproveitadora da vida, simplesmente subiu a escada intercalando as mãozinhas e os pe- zinhos a cada ripa até alcançar a laje. Lá sentou-se na beirada e se preocupou em contemplar a vista. Passados vinte anos a memória lhe permite ter essa vista novamente quando lhe aprouver, e caso outrem estivesse diante dela escutando, como eu estive, veria em seus olhos, não o reflexo de si mesmo, mas a vista da laje. Mas, con- tinuando, tranqüilidade de criança dura pouco. Foi então que alguns barulhos, que vinham do chão, chamaram a atenção da pequena. Com cara de interrogação mirou em baixo e viu sua mãe aos berros, impotente. “E o que você sentiu?” – insisti. Outra vez a resposta veio cheia de silêncio. Thaise continuou, altiva e gigante, a encarar o mi- núsculo rosto da mamãe desesperada, até que a cabeça de seu pai veio à tona, ajeitando-se na escada para tomá-la nos braços e salvar o dia, mesmo com terrível medo de esborrachar-se com Thaise, es- cada e tudo. Seo Ceriaco, um menino falador de oitenta e três anos, brinca com sua linha do tempo e diz que faltava dinheiro para comprar bicicleta, mas tinha condições de fazer. Era a bicicleta de pau. Per- cebendo a minha curiosidade, ele explica passo a passo: “pegava uma tábua, levava na serraria. Segurava um compasso e passava um lápis que marcava a roda. Então, na serra fita, aquela que corta carne no açougue e faz xiiim xiiiiiim, exatamente em cima do risco, virava aos poucos para sair a roda. Com uma pua de manivela furava no meio onde se encaixava o eixo. Pua é uma broca. Não tinha furadei- ra elétrica, então o furo se fazia no muque. Depois apertava o eixo
  • 63. 63 com parafuso enquanto a roda de madeira ficava engatada. Passava qualquer graxa que deixasse liso para deslizar o giro. Por fora da roda era só pregar uma tirinha de pneu mais curta com uma ponta bem pertinho da outra. Depois, puxava o pneu com força e apertava a roda bem ajustado. Sem pneu, a roda saia fazendo pó pó pó pó pó pó. O celim era de pano, ou trapo. Punha a tábua na altura que quisesse pra sentar e cobria. Depois tinha cada corrida que Deus o livre! Toda a gurizada queria ser o melhor na bicicleta. Quem tivesse a bicicleta mais rápida ganhava o prêmio! A nossa rua era uma desci- da e acabava numa curva lá em baixo. Não era fácil de fazer a curva. Às vezes a gente se arrebentava. Todo mundo fazia. Algumas gurias meio atrevidas faziam também. Era divertido...” Vivendo, brincamos de criar histórias. Ouvindo histórias, brin- camos com a criatividade. Linguagem e imagens são coreografadas em nossos cenários mentais. Ao narrar, e ao escrever narrativas, cria- mos jogos lingüísticos. Jogos com regras possíveis e impossíveis. E a vida é uma oportunidade constante para jogar com a linguagem. Cada ponto da linha do tempo de nossas vidas pode ser desvendado com palavras. Futuro, presente e passado. A linguagem oferece ao tempo aquele abraço de urso. Seo Ceriaco contava, setenta e sete anos depois, sobre como fazer uma bicicleta de pau – com detalhes fotográficos. Enquanto existir narrativa o garoto e o velho são ape- nas um e não é muito fácil distingui-los. Assim como a criança Thaise que contempla a vista sobre o telhado com seus olhos de moça. Gra- ças a esses olhos, seus mirantes do passado, a narrativa desvela as lembranças tão bem narradas, mesmo que a vida passe. Elementos sinestésicos são tesouros que guardamos nos baús do pensamento, e alguns deles transformamos em palavras ou imagens para publicar em nosso livro de recordações. Meu pai relembrou-se no mato e de fato - nunca saberemos ao certo - ouviu com nitidez o balde tilintar e rolar no chão quando foi lançado para o ar e caiu. As lembranças não permanecem intactas. Elas são ressignificadas. Quanto à matu- ridade de nossa essência verbal, eu pergunto: quem teria gritado e corrido enquanto o balde se perdia? O garoto tão alerta que não era meu pai, ou o homem, ainda tão alerta? Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 64. 64 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Nos três causos os “adultos” lançam-se em suas linhas do tem- po - complexos nas suas narrativas de diferentes fases da vida. En- quanto Juan, que pouco compreendia seu distanciamento com Meg, falou de um tempo recente - apenas uma semana antes; Enzo narrou algo muito repentino e muito próximo do momento de sua narrativa. O tempo entre sua narrativa “Casi caí!” e o acontecimento narrado tem a distância do pensamento. Seria por que as narrativas infantis estão mais próximas de seu presente, de suas carências, emoções e desequilíbrios? Nos livros das narrativas infantis percebe-se mais os fatos do que a organização dos registros. O amadurecimento nos ajuda a organizar as narrativas. Há lacunas em branco que surgem pela vida e alguns de nossos textos mentais podem ter lacunas em enorme quantidade. Há palavras que pulam nessas lacunas sem sa- ber ao certo onde devem permanecer. Algumas delas passamos a vida inteira sem saber onde se posicionar. Os critérios e regras para dar-lhes um bom contexto semântico variam de pessoa crescida para adulto infante, e no geral, não há como montar um esquema. Ter disposição para ouvir e falar é um aprendizado tanto pessoal quanto cultural. Por meio do contato com as narrativas, preenchemos as lacunas e encontramos tesouros para o baú de sensações. Logo, existe uma contribuição verbal das histórias cheias de preciosidades às mentes cheias de lacunas. A escola é um espaço vital dessas expe- riências. Para estimular o desenvolvimento da linguagem verbal e a habilidade de narrar, é possível oferecer possibilidades para compor, recriar, ouvir, perceber, restabelecer elementos que agucem nossa vontade de contar o que vemos pelo mundo. Apresentar aos edu- candos (as) a diversidade das formas de falar, escrever, representar, seqüenciar, brincar com o tempo, descrever tempos, etc... mostrá-los lugares com infinitas opções de mobília para decorar seus cenários mentais. Levá-los em um mergulho ao chão do oceano onde há um barco que afundou e conserva tesouros - não se sabe de onde vinha, não se sabe desde quando, mas se sabe que traz uma história que podemos inventar. Uma boa viagem verbal requer bagagem volu- mosa, mas ao mesmo tempo singela. Como uma bagagem recheada de livros e recordações que, uma vez abertos, são braços aconche-
  • 65. 65 gantes de escritores e ilustradores nos carregando no colo, ou em- balando nossa rede. Podemos viajar carregando um jogo de caça ao tesouro na mala e muita disposição para esconder pistas. Podemos perguntar às crianças: que histórias tem ouvido? Que outras gos- tariam de contar? Mas não esqueça! Quando a resposta delas vier, mantenha os olhos e ouvidos abertos, mesmo que a resposta seja uma lacuna vazia. Pois ela pode se transformar em narrativa. Talvez do tempo presente, talvez para trás, talvez para frente. Matéria prima “Pesquei um livro, colhi uma história, plantei uma idéia...”
  • 66. Capítulo 2 - Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida Qualidades do contador de história; Reflexões autobiográ- ficas de quem ama literatura
  • 67. “Sou barulhento como um leão, sou quieto como uma ostra, sou corajoso como um tigre, sou medroso como um camarão...” (RÁPIDO COMO UM GAFANHOTO, de Audrey Wood )
  • 68. 68 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Uma aventura na chácara: uma infância com uma pontinha de medo. Márcia T. Azevedo Rocha Essa é a história de uma menina que aos oito anos de idade foi morar com sua família em um sítio longe da cidade. O olhar dessa menina brilhou ao entrar em contato com a natureza. Ela se sentia encantada por poder ficar próxima aos animais; brincar, pular e cor- rer em um campo enorme; andar de bicicleta e de balanço; colher as frutas e verduras com seu pai, diretamente da plantação. Essas eram algumas das diversões e distrações dessa menina. Um dia ela estava brincando com suas bonecas e seu pai apareceu, dizendo: - Vamos passear na chácara? Ela ficou muito contente, pois seu pai sabia o quanto ela gostava de ir até aquela chácara. Esse lugar encantador possuía um grande lago; cada um dos animais tinha sua própria casa: os cavalos mora- vam num lindo celeiro, os porcos em um chiqueiro e as galinhas em um galinheiro. Era um lugar mágico em meio à beleza da natureza. E ela respondeu dando um pulo de alegria: - Já estou pronta! Chegando lá, a menina encontrou com os donos daquela chá- cara - eram os velhinhos mais queridos que ela já havia visto. En- quanto aquele humilde senhor cuidava dos animais, sua senhora fazia manteiga e queijo com o leite retirado da vaca. - Uhmmmm...que delícia! - exclamou a menina ao provar um dos deliciosos queijos fresquinhos. Enquanto ela esperava na cozinha, seu pai foi buscar um barco de madeira bem pequeno para levar sua filha pra passear no lago. Ela não esperava por isso, pois sempre foi uma menina muito me- drosa. Tinha tantos medos e o maior deles era justamente o de andar de barco. - E se ele virar? - perguntou ela ao seu pai. Ele disse para ela não sentir medo, pois não iria virar. E não é que virou?!
  • 69. 69 Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida Foi assim que aconteceu: estavam os dois no barco quando seu pai, para impressioná-la, começou a balançar o barco pensando que a menina iria gostar daquela brincadeira. Só que o barco virou e ela não viu mais nada, somente água. Nesse momento, aquele pequeno lago tornou-se uma imensidão para ela. Quando abriu os olhos, uma esperança nasceu ao ver uma das mãos de seu pai resgatando-a do fundo do lago. A menina saiu da água muito assustada, chorando e respirando fundo. Ao voltar para casa, depois do grande susto, percebeu que, a partir daquele instante, não teria mais coragem para enfrentar uma aventura como essa. *** Vinte anos se passaram e essa menina cresceu. Hoje ela faz parte de um projeto de literatura infantil e passou por uma situação semelhante quando precisou vencer o desafio de atravessar, desta vez não mais um lago, mas um imenso mar. O que fez ela viajar e superar o seu medo foi o enorme desejo de levar um pouquinho de literatura para crianças que moram em uma ilha. Foi com muita superação que se rompeu mais uma barreira em sua vida, dentre muitas, mas, com certeza, a MAIS prazerosa. Apesar de ter vivido um grande medo em alto mar, ao desembarcar na ilha aquela menina percebeu o entusiasmo dos alunos ao se depararem com algo que eles não estavam acostumados a vivenciar todo dia. Era uma escola pequena, mas com certeza agora com algum diferencial. A partir de um trabalho sério, ela acabou entrando em MAIS uma aventura, com o intuito de brotar uma sementinha no coração de cada criança e despertar nelas uma fome de leitura e um desejo por histórias. Hoje ela continua contando com a esperança de que no futuro possa haver uma colheita embasada no amor pela leitura e pela lite- ratura. Ela acredita que as histórias infantis podem levar às crianças um prévio contato com situações imaginárias que serão vividas fu- turamente em um dado momento de suas vidas, como as próprias histórias de medo ou os contos de fadas.
  • 70. 70 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha O caso com a literatura! Ela lá, eu cá, ela andando pra cá eu indo pra lá Bum... encontro Quando criança eu sabia apenas que gostava de inventar... ah, como minhas bonecas sabiam disso... nem sempre era bom para elas, por vezes eram devoradas por incríveis monstros da clandesti- nidade mas em compensação eram imensamente amadas por heróis de algum reino escondido nas profundezas do meu quarto. Quando adolescente, eu sabia apenas que nem todas aquelas historinhas me convenciam, mas bastava um belo versinho para me derreter toda, como uma floquinha de neve que se derrete ao se apaixonar pelo grande e quente sol. e assim eu fui crescendo entre fatos reais, realidades tristes e alegres fatos imaginários cheios de razão, imaginação e teimosia! e só depois de muito tempo eu fui entender que esta tal literatura que tanto falavam na escola tão escondida lááá na biblioteca estava dentro de mim o tempo todo!!!!
  • 71. 71 Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida e mais uma vez o tempo de uma experiência nem tão distante me mostrou que o conhecimento sensível mora mesmo dentro do meu peito! hoje eu conto histórias para não deixar o tempo em branco e sim colorir de sonhos, sons e gestos o gosto pelo contato com o próximo o gosto por conhecer o poder fantástico de um mundo que sempre surpreende: a vida! Juliana Leitoles
  • 72. 72 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Quando penso nos tempos de infância lembro de boneca, de armazém, de ursinho de pelúcia, de pega-pega, de desenho na tele- visão, e de fazer João de Barro depois da chuva. Mas não me lembro dos meus pais contando estórias durante o dia, ou antes da hora de dormir; tão pouco me dando um livro com a estória do João Pé de Feijão envolto num embrulho de presente de Natal ou aniversário. Eles me davam brinquedos e roupas nas datas comemorativas por- que julgavam ser o mais importante para o meu bem estar - e eu era pequena demais para saber quais necessidades de fato eu tinha. Como quem procura fotos antigas de família, aquelas que ficam escondidas nos lugares mais difíceis do guarda-roupa, fui buscar nas recordações de 1ª série algum momento em que a escola tenha me dado a oportunidade de levar um livro de literatura infantil para casa; para minha tristeza, lembro-me das estórias contadas apenas em sala de aula pela professora. Ah, se ela soubesse o quanto eu desejava ter o prazer de pegar um livro e folhear as páginas com minhas próprias mãos, ler e reler a mesma estória, com o mesmo entusiasmo que ela parecia sentir quando lia. Mas eu era pequena e tímida para expressar meu desejo de experimentar, sozinha, as aven- turas no mundo da leitura. Na 2ª e 3ª série as únicas estórias que tive o prazer de eu mes- ma ler, sem a leitura das professoras, estavam na cartilha ou em pe- quenos papéis que deveriam ser colados no caderno para a execu- ção de alguma tarefa. Mal eu sabia que os dias de pouco encanto e fantasia estavam prestes a mudar. Certo dia na escola, na 4ª série, a professora disse que todos da turma poderiam ir à biblioteca para pegar livros emprestados. Lembro que entrei amedrontada na bi- blioteca pela primeira vez e avistei a prateleira de livros de literatu- ra infantil, rapidamente escolhi um e levei para a casa. A biblioteca naquela época me causava arrepios, pois o silêncio reinava e até os passos não deveriam fazer barulho. Eu não fazia idéia que depois de ler o primeiro livro minha vida não seria mais a mesma. Pois as estórias me levaram a vários cantos do mundo - é um universo sem fim! Depois do primeiro livro, a biblioteca se tornou o meu baú de tesouro. A ansiedade de ler as estórias só aumentava, tanto que eu
  • 73. 73 Dentro do cozinheiro: anatomia funcional do que não aparece, mas aparece na arte de fazer comida não aguentava esperar chegar em casa, já ia lendo no recreio. Esse período marcou minhas lembranças, pois até hoje recordo de alguns títulos da Coleção Vaga-lume: Sozinha no mundo, A Ilha Perdida; As aventuras do cachorrinho Samba, dentre outros. Depois que entrei no fantástico mundo encantado da litera- tura, nunca mais consegui sair. Luciane Fabiane dos Santos
  • 74. Capítulo 3 - História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato Depoimentos de integrantes do projeto da Universidade e da Comunidade
  • 75. “Eu quero agora: A mesa farta O canto alegre O riso de festa O odor de rosa.” (poesia De volta, em A ÁRVORE QUE DAVA SORVETE, de Sérgio Capparelli) “Lembrança é quando, mesmo sem autorização, o seu pensamento reapresenta um capítulo.” (MANIA DE EXPLICAÇÃO, de Adriana Falcão)
  • 76. 76 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Pedimos a todos que participam ou já participaram do(s) projeto(s) Gente e Livros (2007-2009) e MAIS Gente e Livros (2010) um breve relato de um encontro ou um depoimento de como foi o projeto para cada um. Seguem os depoimentos dos que puderam nos atender. Os relatos da equipe se encontram com os relatos dos professores, comentando sobre os livros das caixinhas viajantes, a gente, si mesmos, seus alunos e comunidade. Gente e Livros *** Depois das conversas iniciais, éramos designados para nossas missões quase impossíveis, sempre desafiadoras e exaustivas. Dessa vez já sabíamos o que iríamos enfrentar: depois de duas horas e meia até chegarmos à secretaria de educação, faríamos outra via- gem de cerca de duas horas por uma estrada de chão para chegar- mos ao nosso destino. Passamos por paisagens ainda mais belas. A estrada era cortada por riachos e quando a kombi passava por dentro era como se pudéssemos sentir o frescor da água em nosso espírito, aquele frio na barriga do barco em alto mar (acredito que seja assim, nunca estive em alto mar). Na escola havia certa expectativa. As crianças nos conheciam e chegávamos, apesar do cansaço, com muita disposição - com cer- teza influenciada pela nossa líder atômica. Nos apresentávamos e interagíamos com as crianças ao mesmo tempo. O dia transcorria cheio de histórias, músicas e brincadeiras. A volta era animada pelas conversas sobre as impressões do dia ou embalada pelas curvas (quando não pelo Dramin) que nos faziam adormecer. Jamais vou esquecer este dia maravilhoso. Abraços. Vinícius Rodrigues dos Santos, em sua primeira viagem às es- colas rurais de Adrianópolis. Equipe 2007/2008.
  • 77. 77 História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato *** Só tenho elogios aos nossos encontros. Em todos os encontros aprendemos uma maneira diferente para trabalharmos com os nos- sos alunos. Professora de Adrianópolis *** Não tenho críticas, só elogios, ao trabalho tanto da parte da manhã quanto à tarde. Foi um verdadeiro aprendizado, nos deu uma orientação de como trabalhar com as crianças. Professores de Tunas do Paraná *** Tem uma cena que será difícil de esquecer. Foi um sábado de contação de estórias e brincadeiras divertidas com crianças – em meio a árvores gigantes e montanhas cobertas de mata nativa - na Comunidade Quilombola João Surá, em Adrianópolis, divisa dos es- tados Paraná e São Paulo. Essa região é um espetáculo da natureza! Quando eu e Liliane estávamos retornando pra casa, dentro do carro com colegas de outro projeto, avistamos diversos animais passeando pela estrada. Quando, de repente, avistamos uma cobra espessa e comprida logo à nossa frente. Ela atravessava a rua lenta- mente, exibindo sua elegância. Tudo que pudemos fazer foi desace- lerar o carro, admirá-la e esperá-la passar. Diferente dos filmes, ela só estava passeando, tomando seu banho de final de tarde, sem inten- ção de nos perseguir, e nós, que nem éramos caçadores de bichos peçonhentos, estávamos voltando para a casa. O que nos restou foi guardá-la em nossas recordações para nossas futuras histórias. Luciane Fabiane dos Santos, Equipe 2007/2008/2009. *** “O trabalho com livros de literatura incentiva os alunos a ler e escrever cada vez melhor.” / “Essas histórias são muito interessantes. Agradeço pela oportunidade.” Professores de Tunas do Paraná
  • 78. 78 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha *** “A linguagem de imagens do livro Traquinagens e Estripulias desperta o interesse e a imaginação, possibilitando uma interação entre o leitor e a história, e permitindo que a criança crie suas pró- prias histórias.” “O livro Fico à espera retrata a vida humana em todas as suas fases de uma maneira simples, direta, criativa e, acima de tudo, emo- cionante. Com ilustrações e frases curtas, que permitem à criança a criação e a interpretação de acordo com a sua experiência de vida. Instiga a criança a descobrir a sua história genealógica, sua vivência e cultura. Ela poderá notar que é igual a outras crianças (no curso da vida) e ao mesmo tempo diferente (formação familiar e cultural, experiências)” Professoras de Bocaiúva do Sul *** Como esquecer a minha primeira viagem... foi para Tunas do Paraná, no teatro da cidade. As crianças todas reunidas para ouvir as histórias e músicas que o projeto havia preparado. Não foi um trabalho muito fácil, prender a atenção das crianças num espaço tão grande exigia muito empenho. Mas as histórias foram maravilhosas, criava-se um suspense, cantava-se uma música e até brincávamos (de montanha-russa, foi muito divertido). A ludicidade do momento envolvia as crianças nas atividades. E os circuitos realizados em algumas escolas... era muita lou- cura! Dividíamo-nos e montávamos diversas atividades: a sala de música, de histórias, de criação, de brincadeiras de pátio. Assim, as turmas - com uma média de 30 crianças cada pessoa do projeto - iam circulando pelas atividades, permanecendo em cada uma 30 minutos. Uma verdadeira maratona. Nós nos cansávamos, mas, tam- bém, nos divertíamos. Liliane Machado Martins, Equipe 2008/2009.
  • 79. 79 História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato *** “O tempo foi pouco; mas o conteúdo, ótimo. Amei.” / “O curso contribuiu bastante para o meu crescimento profissional, trazendo novas idéias e estimulando o prazer pela leitura.” Professoras de Adrianópolis *** “Foi de extrema importância o curso de hoje, pois vimos que para ser criativo e dar uma aula gostosa e diferente não depende somente de recursos financeiros, podemos usar materiais do dia-a- -dia.” “O quê achei do curso? Muito proveitoso, aprendi muitas ati- vidades para fazer com meus alunos. Os professores foram muito agradáveis, espero que voltem mais vezes (...) os alunos: dava para ver o brilho nos olhos deles de tanta felicidade por estar aprendendo coisas novas.” Professores de Tunas do Paraná *** Participar do Projeto Gente e Livros foi uma experiência ines- quecível e também – sem exageros! – a realização de um sonho, pois sempre ansiei por um trabalho que envolvesse capacitação docente e literatura infantil. E foi ainda melhor do que eu poderia esperar, pois tive a opor- tunidade de sair de Curitiba – cidade onde moro e que em condições “normais” seria a única em que eu trabalharia –, conhecer a realidade educacional de três municípios pelos quais nunca tinha passado e ajudar a modificá-la. Fabiana da Cunha Medeiros, Equipe 2008/2009. *** Quarta-feira, 14h. Aguço os ouvidos para ouvir mais uma his- tória... contos, cantos, versos, textos e contextos... palavras se agluti- nam ao vento enquanto viajo na narrativa da companheira ao lado...
  • 80. 80 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha momento sublime de fantasia em meio ao caos do dia-a-dia. Amanhã tem viagem. Planejamento elaborado e reelaborado, materiais separados, carro confirmado (?), horário marcado. Lá, pes- soas nos aguardam (quase sempre)... Dia de festa... biscoitos na Van, conferência de responsabilida- des, curvas, sonos e risos e é chegada a hora. Na platéia, perguntas pipocam antes e depois da fala. Vozes e corpos se transvestem de figuras e palavras, dando vida ao Local de Informações Variadas Reu- tilizáveis e Ordenadas (L.I.V.R.O.), como diria o Millôr. No retorno, o cansaço superado pela alegria da missão cum- prida... comentários sobre os depoimentos que motivam a preparar melhor o próximo encontro... mais curvas, mais sonos, mais risos... E na próxima quarta, renovada... aguço os ouvidos para ouvir mais uma história... Silvana Galvani Claudino, Equipe 2009. *** Gostaria que o projeto continuasse para melhorar o desenvol- vimento das crianças do nosso município. Essas histórias são muito interessantes. Agradeço pela oportunidade. Professora de Tunas do Paraná *** Como sempre, o curso foi ótimo. Espero que possamos contar com esse maravilhoso trabalho no próximo ano. Os livros sugeridos e as propostas de trabalho proporcionam aulas e momentos muito prazerosos para alunos e professoras. Enfim, parabéns e que Deus abençoe todos. Professora de Adrianópolis
  • 81. 81 História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato MAIS Gente e Livros *** Primeiro a idéia. Depois a oportunidade. Aos poucos foi che- gando um, mais um e MAIS um e, de repente, já éramos muitíssimos! Muita gente para poucos livros. E a mesma coisa martelando na cabeça da Gente: ô de casa, vambora! Vamos fazer acontecer! Vamos pegar a estrada, o barco, beirando a encosta, o vale, o rio, o mar, o mangue; vamos espalhar literatura por esse mundo afo- ra! e pra dentro da sala de aula também! Saudades das viagens que fiz e das que não fiz, dos encontros e dos desencontros, dos olhos nos olhos, das crianças e dos adultos tornando-se meus mais novos velhos conhecidos, da torcida por dar tudo certo, da acolhida dos educadores e parceiros das secretarias de educação - cada vez mais unidos nessa missão que ainda não acabou! Pois há muito MAIS histórias e livros a serem semeados. Nos lei- tores que nascem e naqueles que estão por nascer, e terão na escola a nascente para conhecer como é a outra margem do rio - depois daquela queda d’água por onde uma vez passou o pai do seu pai do seu pai do seu pai... com a mãe da sua mãe da sua mãe da sua mãe... e outros com os quais eles se encontraram. Costumamos dizer que esse é um projeto despretensioso: só temos o OBJETIVO de revolucionar o mundo por meio da literatura na educação! Certamente há o estopim para a revolução. A revolução da mente, do meu pensamento, de meus conceitos. De ser e estar o mais inteira possível por onde passo. Marcando em mim e nos ou- tros o precioso momento que nenhum livro pode eternizar, mas que pode provocar mudança nos momentos seguintes. Agradeço a todos que já estiveram no projeto (toda a Gente e todos os Livros), que incluíram a universidade em sua comunidade e fizeram do encontro entre educação básica e educação universitária um sonho possível, não somente um projeto encarcerado nas pági-
  • 82. 82 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha nas de um livro qualquer, cheio de “verdades” e fechado na estante de intelectuais com a cabeça nas nuvens e seus pés também. Para alguém que cursou pedagogia com o ideal de escrever para crianças, Gente e Livros e MAIS Gente e Livros são um baita presente! Foi aí que aprendi que “literatura infantil é aquela também apreciada por adultos”, como me ensinou Ana Maria Machado em minhas leituras e como comprovei, comprovo e comprovarei com- provando em minhas andanças. Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves, Equipe 2007/2008/2009/2010. *** “A iniciativa do projeto é importante, pois contar histórias já não estava sendo muito freqüente nas escolas.” / “É muito boa, pois a leitura é pouco praticada em nossa comunidade.” / “É muito boa e ajuda muito no trabalho pedagógico de nossa escola.” Professores de Guaraqueçaba *** O que me atrai na Educação é ver como ela pode mudar a vida das pessoas. Ver alguém interessado em aprender e ensinar é algo que me encanta profundamente. Fazer parte do Projeto Gente e Livros me permitiu contemplar esta cena muitas vezes. Ver professores (nas cidades em que passa- mos) interessados em criar repertórios, buscar mais e novas manei- ras para o trabalho com as crianças, ouvir relatos de como colocaram em prática os ensinamentos que aprenderam. Ver a expressão de alegria e entusiasmo em seus rostos quando nos recebiam, só refor- çaram as minhas crenças de que a Educação no Brasil e no mundo dá certo! Rosicler Alves dos Santos, equipe 2008/2009/2010. *** Gostei muito do trabalho realizado com as crianças, principal-
  • 83. 83 História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato mente a idéia do medômetro, que as crianças adoraram. O projeto está de parabéns. Professora de Piraquara *** Lembranças de um tempo bom... Lembro-me do ano em que entrei no Projeto Gente e Livros (2008), quando começaram as primeiras viagens com as caixinhas cheias de livros, sonhos e fantasia. Tudo aquilo foi tão fascinante: trabalhar com contação de histórias e deixar as crianças se envolve- rem no mundo da imaginação. Que maravilha ver o sorriso daqueles alunos encantados com a literatura! E mais, sabendo que eles esta- vam aprendendo muito com isso, pois em contato com os livros eles acabam se identificando com alguns personagens e se sentem cada vez mais atraídos pelas histórias, contribuindo desde cedo para o processo de leitura e escrita. Foi no projeto que pude me identificar mais com as diversas histórias e perceber que era possível a aplicação delas em sala de aula. Confesso que no início eu me identificava mais com os contos de fadas, mas aos poucos a minha experiência no projeto foi de- monstrando o quanto o universo literário é amplo e maravilhoso. Percebi que, além de suscitar o imaginário, as histórias facilitam o desenvolvimento infantil, levando as crianças a possíveis descober- tas e a situações semelhantes as que serão vivenciadas futuramen- te por elas. Minha experiência no projeto foi significativa, pois as histórias infantis trouxeram de volta o encantamento de uma fase maravilhosa que é a infância, bem como muitas lembranças, o que tornou possível reviver pequenas situações em grandes histórias. E, mais importante que isso, é saber que, de certa forma, fazendo par- te do projeto eu pude contribuir para a formação de novos leitores dentro da sociedade. Márcia Tarouco de Azevedo Rocha, Equipe 2008/2009/2010.
  • 84. 84 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha *** Achei o trabalho muito legal e gostei das idéias para trabalhar com os livros. As crianças também gostaram e já perguntaram se vocês vão voltar. Apesar de ter participado de outros momentos com vocês, na prática é muito mais interessante. Professora de Piraquara *** Ler. Viajar. Ler: conhecer as letras do alfabeto e saber juntá-las em palavras; Viajar: ir de um lugar a outro, deslocar-se; Nenhuma dessas definições traduz o que aprendi sobre ler e viajar durante minha participação no projeto. Nesses dois anos de atividade pude perceber que a leitura não se restringe ao livro. Quando falamos de contação, aprender a ler os sinais é tão impor- tante quanto ler uma história. É preciso saber interpretar o olhar da criança; as mãos que não se controlam frente ao livro; o rosto que expressa os momentos de angustia ou de felicidade; o corpo que ora relaxa, ora tensiona. Esta sintonia entre contador e ouvinte é fundamental para que a leitura se torne um prazer e não apenas um discurso. É justamente esta via de mão dupla que vai levar o leitor a viajar na história. E é aí que entra o segundo aprendizado. Como eu disse, não cabe aqui somente a definição do dicionário. Por mais que nosso trabalho dependa de um deslocamento - ora de carro, a pé ou barco - a viagem de que eu falo é outra. É uma viagem no tempo e no es- paço, sem sair do lugar. Uma boa história sempre carrega o ouvinte pra dentro dela e é preciso se deixar levar. Pois esse viajar não tem limite de quilometragem, você não precisa ter milhas acumuladas e seu lugar sempre estará reservado. Bruna Fialla Alves, Equipe 2009/2010. *** “A reação dos meus alunos foi muito boa. São esses momentos
  • 85. 85 História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato que fazem com que os alunos desenvolvam suas habilidades e pas- sem a ter gosto pela leitura.” / “No início da história ficaram encanta- dos, e entraram para o mundo da fantasia e do faz-de-conta.” Professores de Guaraqueçaba *** Literal, literar. Olhar, ouvir, Sentir, falar, O que mais eu poderia esperar De um projeto que visa contar? Contar o que se lê e se sente De histórias de brincar, de contrariar, De amar, de arrepiar. Como querer fugir do que veio para unir? Idéias, pensamentos, ações... As situações também são de arrepiar, Ora é a trepidação... Ora é a embarcação... Ai ai, que dá até um medão. Às vezes aparece tudo diferente E o que era estratégia Vira mudança Situação irreverente, difícil de lidar. Inusitado... Um tudo literal, Às vezes É preciso rebolar Para que do fundo do coração A gente possa
  • 86. 86 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Enfim Literar! Juliana Beltrão Leitoles, Equipe 2010. *** Gostei muito do trabalho e as crianças, mais ainda; vou usar a música da caveira para apresentação da turma no início de ano. O medômetro foi muito interessante porque podemos conhecer me- lhor os alunos, claro que muitos deles colocaram alguns medos es- tranhos, mas alguns confirmaram algumas situações que vivem. Vou colar o medômetro no caderno deles, pedir que escrevam ou tentem escrever seus medos. Espero que tenham gostado da nossa escola e estamos com as portas abertas para quando quiserem voltar. Professora de Piraquara *** PROJETO, TRABALHO, GENTE, LIVROS, CRIAR, IMPRESSÕES, INTENÇÕES, LINGUAGEM, ESCRITA, IMAGINAÇÃO FANTÁSTICA, CONVERSAS, IDÉIAS... LIVROS, GENTE, PESSOAS, ESTRADA, TERRA... PIRAQUARA, PROFESSORES IDÉIAS CONTAÇÃO SOMBRAS FANTO- CHES, TERRA TRE-PI-DAN-TE, GUARAQUEÇABA MAR ILHA RASA CRIANÇAS CRESCIDAS A “VERDADEIRA HISTÓRIA DOS TRÊS POR- QUINHOS” ESCONDER RECOMEÇAR... CAIXAS CAIXAS CAIXAS PA- PEL COLA, TERRA ESTRADA PIRAQUARA CRIANÇAS GAFANHOTOS RETRATISTAS ESPELHO ANA ANA ANA ... MAR BARCO PROFESSORES DESENHAR PLANEJAMENTO CLÓVIS É O MEU PROBLEMA LIVROS NOSSO GRUPO. MAR ONDAS CAIXAS ONDAS ILHA ONDAS BELEZA SUPERAGÜI CAIXAS PEÇAS MAR MAR MANGUE SEBUÍ MAR MAR MAR MANGUE MANGUE TERRA TERRA VARADOURO OLHARES IN- VASÃO SUSTO SORRISO LIVROS. CURITIBA MEGALOMANÍACO ES- CREVEREDESENHARUMLIVRO GRAVARUMFILME JOGARUMJOGO LIVRO LIVRO OFICINA ESTRADA TERRA SÃO JOSÉ OUVIR DESENHAR RECEITAS POÉTICAS... LIVRO, DESENHO, TINTA, ORELHASFELPUDAS,
  • 87. 87 História encontra histórias ou Comendo no mesmo prato RITMOACELERADO, LIVRO, JUNTARTUDONUMACAIXAVIAJANTEELI- TERÁRIA, ACONTECER, ACONTECEU... Ana Luiza Suhr Reghelin, Equipe 2010. *** Acha que encontros como esse contribuem para seu crescimen- to como educador? “Acho que encontros como esse contribuem para meu cresci- mento como educadora porque com essas atividades tenho certe- za que meus alunos irão bem além.” “Acredito que esses encontros trazem novas idéias.” “Todo aprendizado é uma troca, e em cada trabalho feito por vocês eu aprendo.” Professores de Guaraqueçaba *** Optei por colocar em versos o meu depoimento. Quando fui escrever, as letras se transformaram em sensações, palavras em can- ção; ao pé do ouvido escutei meu coração. Lá vem história outra vez Os olhos que acompanham Rápido como gafanhoto O sorriso que agradece Felpo Filva O aplauso que enaltece Bruxa, bruxa, venha à minha festa A cada história De vida, de fantasia Rabisco Cada cantinho Aluno ou professor O problema do Clóvis O meu, o seu, agora nosso
  • 88. 88 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha A troca que acontece Vacas não voam Literatura e imaginação Aprendizado e emoção Lembranças Uni duni tê Saudade que fica No coração habitou. Karla Fernanda Ribeiro Neves, Equipe 2010. *** O que mais chamou minha atenção foi a história do passarinho sem gaiola. Talvez em meu interior, apesar da idade, ainda exista um ser que voa através da imaginação. Professora de Guaraqueçaba
  • 89. Capítulo 4 -Contar e (des) cansar é só começar: descas- cando em plena sala de aula Recursos externos e outras maneiras de contar histórias
  • 90. “A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia que a sábia sabia que o sábio não sabia que o sabiá não sabia que a sábia não sabia que o sabiá sabia assobiar.” (ARMAZÉM DO FOLCLORE, de Ricardo Azevedo)
  • 91. 91 Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula Bruna Fialla Alves
  • 92. 92 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha F... Olá, gostaria de me apresentar. Talvez nós já nos conheçamos, você pode já ter me visto por aí, mesmo assim gostaria que soubesse um pouco (ou até muito) mais sobre mim. Vou começar falando das qualidades: eu adoro falar! Se me derem voz, não perco tempo e de- sando a falar. Sou super comunicativa, basta que você dê a oportuni- dade para que eu me expresse. Sou muito versátil e por isso mesmo faço o maior sucesso. Posso me vestir de vários personagens: já fui fada, já fui bruxa, já fui príncipe e princesa, já fui dragão, já fui cava- leiro, já fui rei e rainha, já fui idoso, já fui criança, já fui leão e já fui co- bra e, se você se dispuser, posso ser qualquer animal. É a mais pura verdade.. difícil de acreditar? Calma, lembre-se de que você está me conhecendo, ainda vou revelar detalhes mais íntimos. Como a maioria dos indivíduos, acredito que o ser é muito mais importante que o ter, isto quer dizer que vale mais o que a gente tem por dentro do que o quê a gente tem por fora, e é por isso que não sou muito exigente quanto a minha forma física. Talvez eu não tenha sido muito claro, então vou explicar melhor. Como sou por fora de- pende mais de quem vai trabalhar comigo do que de mim mesmo. Alguns preferem que eu seja de garrafa pet, saquinho de papel, de colher de pau, de EVA, TNT, feltro, meia, retalhos de tecido, papel machê e até de galhos de árvore. Isso depende da sua criatividade e imaginação! Se você ainda não descobriu quem eu sou, vou revelar: alguns me chamam de marionete, outros de boneco, mas eu gosto mesmo é que me chamem de fantoche. Sou assim, vivo para e pela contação de histórias – e é por isso que sou versátil. Elas me mantém vivo! E não é só isso, não. Neces- sito de todos aqueles que de alguma forma são apaixonados pela leitura e literatura, e que me utilizam como recurso para a contação de histórias. Quando eles se propõem a investir parte do seu tempo e talento para me confeccionar, me dando voz e movimentos, pas- sam a ser a razão da minha existência e do meu sucesso. Em troca eu também lhes ofereço muito mais, posso proporcionar horas de
  • 93. 93 recreação educativa, tanto para o professor como para as crianças; pois, ao servir-se de mim para a contação de histórias, o professor estimula seus alunos a desenvolverem certas atitudes como: empa- tia, estima, cooperação, comunicação, coletividade, inclusão, ludici- dade. Eu também auxilio no desenvolvimento da percepção visual, auditiva e tátil; ajudo na organização de idéias e pensamentos; e desperto a integração, a interação, a socialização e ampliação do vocabulário do aluno. É por tudo isso, e por proporcionar as pessoas um turbilhão de emoções e sentimentos quando estou em cena, que sou muito feliz! Rosicler Alves dos Santos Referências: BLOIS, Marlene M. e BARROS, Maria A.F. Teatro de fantoches na escola dinâmica. Rio de Janeiro: Ao livro Técnico S.A., 1967. LADEIRA, Idalina e CALDAS, Sarah. Fantoche e Cia. São Paulo: Scipione, 1989. Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula
  • 94. 94 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Quem sabe onde encontrar o que o vento roubou de nossa imaginação? Andressa Machado Teixeira Pistas enigmáticas, chaves velhas, cadeados enferrujados, baús acomodados no fundo do oceano e navios seculares... é muito fácil adivinhar do que eu estou falando! É uma coisa misteriosa, vem do tempo que os piratas não usavam fio dental, pois passavam me- ses num convés! Bacalhau? Não, não é comida! Estou falando de algo mais duradouro que porcelana chinesa, mais empolgante que os bailes de máscaras, mais misterioso que a cortina do teatro (fe- chada)! Ainda não adivinhou? Ô- ou! Vamos tentar a próxima pista... Todas essas tralhas podem ser reunidas numa brincadeira só! Ela é mais eletrizante que um choque, e já se viu das reações mais inesperadas entre os participantes, como pulos involuntários e von- tade de rolar no chão de alegria! Em alguns casos extremos os parti- cipantes chegam a sentir o coração retumbante e os olhos saltados. Também pode ser perigosamente envolvente e provocar uma imen- sa vontade de abraçar quem você nunca abraçou, sem ao menos pedir permissão. Quanto ao acompanhamento das pistas, alguns sentem uma compaixão tão verdadeira por quem fica para trás que insistem em jogar até o final de mãos dadas, mesmo que esse gesto comprometa a primeira olhadela do objeto quando é encontrado. E nessa hora ouve-se um coletivo e sonoro: oooooohhh!!! Expressão de espanto e surpresa que nunca foi combinada, nem ensaiada! Ain- da não descobriu? Aí vai outra dica. Dá pra ser feito de muitos jeitos: usando pis- tas e mapas em pequenas escalas, cochichos de coisas que todo mundo sabe, personagens reais ou do além, caixas fechadas espa- lhadas, objetos esquisitos sem ponta, sapatos de diversas cores e tamanhos, dicas, bolas, músicas, teatro, histórias... ixe! É muita pos- sibilidade para uma brincadeira só! Por isso que eu jogo tanto caça ao tesouro e nunca me canso! AH meu Deus acabo de revelar o que você tanto se esforçava para descobrir. Sem meias palavras.. é muito simples, divertido e pode acontecer até dentro da sala de aula. Quer um exemplo?
  • 95. 95 Dona Carochinha (domínio público – Portugal – recolhido por Raquel Marques Guimarães) Diz-se que uma vez uma carochinha achou cinco réis varrendo a casinha. Julgando-se rica toda se enfeitou e pra ter marido pra janela foi. Quem quer casar com a Carochinha que já não é pobre e é bem bonitinha? O porco que passa apaixonado está -- O que comes, porco? -- Do que Deus me dá! -- Passa fora, porco que a ti não quero pois melhor marido do que tu espero! O cão que passa gamado está -- O que comes, cão? -- Do que Deus me dá! -- Passa fora, cão que a ti não quero pois melhor marido do que tu espero! O gato que passa enfeitiçado está -- O que comes, gato? -- Do que Deus me dá! -- Passa fora, gato que a ti não quero pois melhor marido do que tu espero! Quem quer casar com a Carochinha que já não é pobre e é bem bonitinha? E o rato que passa enamorado está -- O que comes tu, rato? -- Do melhor que há! -- Vem cá, meu ratinho que eu mais ninguém quero pois melhor marido do que tu não espero! Dona Carochinha e o João Ratão ambos à missinha no domingo vão. Contar e (des) cansar é só começar: descascando em plena sala de aula
  • 96. 96 nosso caderno de receitas: gente e livros na cozinha Mas já na igreja mulher e marido se dão pela falta do leque esquecido. -- Que dirá de nós este zé-povinho? vai buscar meu leque ó, meu queridinho. João Ratão em casa foi ao caldeirão provar o jantar como um bom glutão. E tanto o glutão do jantar provou que dentro do tacho cozido ficou. Uma vez em casa Dona Carochinha soube o que ao marido sucedido tinha. Viu-se que a triste tinha um coração pois morreu chorando pelo João Ratão. Fonte: CD “Dois a Dois”, DUO RODAPIÃO. Copie as estrofes do poema que estão em negrito em papeizi- nhos separados, e dobre-os bem pequenos. Coloque-os dentro de balões de uma cor só, encha-os e dê um nó bem apertado. Depois, cole nos balões figuras relacionadas às palavras sublinhadas que são citadas no poema. Eles servirão como pistas. Distribua-os aos alunos e leia apenas as partes do poema que não estão em negrito. Comece a ler o poema e quando chegar na palavra sublinhada “cinco réis” a pessoa que está com o balão que tem a figura correspondente a pa- lavra deve estourá-lo e continuar o poema. Logo depois você conti- nua a ler o poema até chegar novamente à outra palavra sublinhada. Tenha o poema em mãos para guiar a seqüência e boa brinca- deira! Você já descobriu qual é o tesouro? O próprio poema! Nunca leu poemas em forma de caça ao tesouro? Comece agora mesmo! Especialmente este pode ser lido e cantado, pois está disponível no CD da Caixinha Viajante fornecida pelo projeto Mais Gente e Livros. Nós bolamos este caça, mas os próximos podem revelar os seus te- souros prediletos. Onde será que eles estão escondidos?