SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
NO UNIVERSO
PESSOANO
Numa perspetiva pessoana, com um cheiro a Caeiro :)
A chuva que há tanto ameaçava cair, finalmente se fez sentir na pele nua das minhas mãos e
cara. As pingas são ténues e delicadas, o seu contacto com a minha pele provoca-me pequenos
arrepios, mas eu não desgosto, antes pelo contrário, a sua leveza faz-me sentir distante da realidade
em que me encontro e, por um momento, já não estou inserido naquela rua movimentada com
todas aquelas pessoas a procurar refúgio antes da tempestade, estou isolado, no meio de todas
aquelas gotas que caem ao meu redor formando uma pequena barreira entre mim e os demais.
Observar o cair da chuva faz-me pensar na admiração que tenho pela mesma, a fluidez e
simplicidade com que aquelas gotas percorrem o seu caminho até atingirem o chão é deveras
invejável. Por momentos, sinto-me algo inferior a esta água proveniente dos céus, enquanto a
mesma se encontra sempre fluída e espontânea eu hei de sempre me encontrar perdido em meio de
pensamentos, cuja demasia me impede de agir perdendo todo o meu tempo no meio de lamentos,
caindo, portanto, num poço sem fundo, Ah bela chuva, o quanto eu não dava para ter a tua
simplicidade e pureza e poder viver a minha vida naturalmente sem toda esta lucidez que teima em
não me abandonar.
A chuva tornou-se mais violenta, a minha roupa já se encontra completamente colada a mim e o
frio já começou a fazer-se sentir. Tento retomar a minha peregrinação mas o meu corpo parece não
me dar ouvidos Permito então que toda aquela água que cai sobre mim, percorrendo inteiramente o
meu corpo até atingir o chão, leve consigo as minhas preocupações e pensamentos numa tentativa
fracassada de me deixar apenas com as sensações que a mesma provoca no meu ser.
Subitamente já não sinto nada a cair sobre mim e constato que a chuva finalmente parou, de
forma tão espontânea como começou. Perdi a noção do tempo outra vez, a rua já se começa a
encher novamente e o som dos passos apressados e os sussurros das conversas vulgares começam a
atingir os meu ouvidos. Recomponho-me e, numa tentativa falhada, ajeito a minha roupa que
mostrava a minha silhueta de uma forma quase perfeita. Dou então continuidade ao meu passeio,
apesar de já não ter um destino.
O dia deu em chuvoso
Se eu fosse Ricardo Reis, não veria a chuva como o tórrido sofrimento que me abala, não a
pensaria como a minha alma despida e nua onde a água embate e fere, nem a sentiria como o
galopar de armas postas no céu e em mim. Se eu fosse Reis, não sofreria como sofro, nem
acabaria por desistir dos meus próprios desejos e sentimentos por saber que não faz sentido
insistir numa coisa que sei que não vai dar resultado. Se fosse como ele, veria em cada
oportunidade de sentir uma bomba prestes a explodir, correndo na direção oposta. Se pensasse
como ele, não acreditaria em banalizações e ilusões do senso comum, como se fosse tudo
perfeito, nem encontraria em cada canto um gatilho prestes a disparar.
Sinceramente, admiro-o esplendidamente por ser quem de facto nunca consegui ser: um
ser desprovido de emoções ou aparentemente desprovido das mesmas. A capacidade de
renunciar a tudo o que é intenso e vivo encanta-me com o mesmo poder com que o fogo me
aquece, a simplicidade com que encara a vida e a transfigura dão-me alento e a banalização de
tudo e a questionação de nada fazem-me acreditar que a vida poderá ser mesmo assim: simples e
fácil. Mas não o é… fico assustadoramente inquieta com as metamorfoses incessantes e disfóricas
desta, não sabendo onde me posicionar nem o que sentir. Acredito que tudo tem uma razão de
ser ou, até mesmo, que existe o destino como fator determinante da nossa vida. Porém não sei o
que fazer nem o que mais pensar, uma vez que apenas na última hora já me invadi de todos os
pensamentos cruéis e completamente acobardadores verosímeis. Só quero que chegue o verão e
a chuva passe, levando consigo as balas, os gatilhos, os ferimentos e, sobretudo, o sofrimento.
Apenas me quero convencer de que tudo é fugaz, efémero e transitório, tal como Reis, contudo
inserido na necessidade de evasão que possuo.
Porque, se fosse Reis, perceberia que a chuva é o segundo sol e é momentânea, afastar-
me-ia do que me pode vir a causar dor ou perturbação e viveria serena e tranquilamente!
12º ano

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

Prece de Divaldo P Franco
Prece de Divaldo P FrancoPrece de Divaldo P Franco
Prece de Divaldo P Franco
 
Breve Poesias.
Breve Poesias. Breve Poesias.
Breve Poesias.
 
#Textos de Clarice Lispector# (by Fatinha)
#Textos de Clarice Lispector# (by Fatinha)#Textos de Clarice Lispector# (by Fatinha)
#Textos de Clarice Lispector# (by Fatinha)
 
Pacto com a felicidade
Pacto com a felicidadePacto com a felicidade
Pacto com a felicidade
 
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMASAMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
 
Evangelho animais 49
Evangelho animais 49Evangelho animais 49
Evangelho animais 49
 
Iatamyra Rocha
Iatamyra RochaIatamyra Rocha
Iatamyra Rocha
 
Pactocoma felicidade (1)
Pactocoma felicidade (1)Pactocoma felicidade (1)
Pactocoma felicidade (1)
 
Pactocomafelicidade
PactocomafelicidadePactocomafelicidade
Pactocomafelicidade
 
"Dançando com Eros"- Avany Maia - SOBRAMES BAHIA
"Dançando com Eros"- Avany Maia - SOBRAMES BAHIA"Dançando com Eros"- Avany Maia - SOBRAMES BAHIA
"Dançando com Eros"- Avany Maia - SOBRAMES BAHIA
 
O dom de voar - Lya Luft
O dom de voar - Lya LuftO dom de voar - Lya Luft
O dom de voar - Lya Luft
 
Cartas sem Moral Nenhuma
Cartas sem Moral NenhumaCartas sem Moral Nenhuma
Cartas sem Moral Nenhuma
 
Pacto com a felicidade
Pacto com a felicidadePacto com a felicidade
Pacto com a felicidade
 
Afinidades
AfinidadesAfinidades
Afinidades
 
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOSA MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
 
Espírito E Matéria
Espírito E MatériaEspírito E Matéria
Espírito E Matéria
 
O fim e o início
O fim e o inícioO fim e o início
O fim e o início
 
Por que os amores se perdem
Por que os amores se perdemPor que os amores se perdem
Por que os amores se perdem
 
O dever
O deverO dever
O dever
 
O dever
O deverO dever
O dever
 

Semelhante a Reflexão sobre a chuva

Semelhante a Reflexão sobre a chuva (20)

Despedida de uma alma
Despedida de uma almaDespedida de uma alma
Despedida de uma alma
 
Romance
RomanceRomance
Romance
 
am
amam
am
 
Paixao de 90 minutos
Paixao de 90 minutosPaixao de 90 minutos
Paixao de 90 minutos
 
Os 12 Acordes da Liberdade
Os 12 Acordes da LiberdadeOs 12 Acordes da Liberdade
Os 12 Acordes da Liberdade
 
Outras estorias
Outras estoriasOutras estorias
Outras estorias
 
Solidão não é a falta de gente para conversar
Solidão não é a falta de gente para conversarSolidão não é a falta de gente para conversar
Solidão não é a falta de gente para conversar
 
Menina mulher
Menina mulherMenina mulher
Menina mulher
 
imagem
imagemimagem
imagem
 
Equinócio da Primavera
Equinócio da PrimaveraEquinócio da Primavera
Equinócio da Primavera
 
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
023 a contra capa a 044  aka om lind mundo023 a contra capa a 044  aka om lind mundo
023 a contra capa a 044 aka om lind mundo
 
Elas - Ruben Aguiar
Elas - Ruben AguiarElas - Ruben Aguiar
Elas - Ruben Aguiar
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
 
Contos de um coração quebrado
Contos de um coração quebradoContos de um coração quebrado
Contos de um coração quebrado
 
Cinzas
CinzasCinzas
Cinzas
 
Livro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimLivro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmim
 
Dominante prólogo (versão 2.0)
Dominante prólogo (versão 2.0)Dominante prólogo (versão 2.0)
Dominante prólogo (versão 2.0)
 
Depressão 1º cap
Depressão   1º capDepressão   1º cap
Depressão 1º cap
 
Pinturas poesias
Pinturas poesiasPinturas poesias
Pinturas poesias
 
Poemas de amor
Poemas de amorPoemas de amor
Poemas de amor
 

Último

Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?AnabelaGuerreiro7
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 

Último (20)

Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
Urso Castanho, Urso Castanho, o que vês aqui?
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 

Reflexão sobre a chuva

  • 1. NO UNIVERSO PESSOANO Numa perspetiva pessoana, com um cheiro a Caeiro :) A chuva que há tanto ameaçava cair, finalmente se fez sentir na pele nua das minhas mãos e cara. As pingas são ténues e delicadas, o seu contacto com a minha pele provoca-me pequenos arrepios, mas eu não desgosto, antes pelo contrário, a sua leveza faz-me sentir distante da realidade em que me encontro e, por um momento, já não estou inserido naquela rua movimentada com todas aquelas pessoas a procurar refúgio antes da tempestade, estou isolado, no meio de todas aquelas gotas que caem ao meu redor formando uma pequena barreira entre mim e os demais. Observar o cair da chuva faz-me pensar na admiração que tenho pela mesma, a fluidez e simplicidade com que aquelas gotas percorrem o seu caminho até atingirem o chão é deveras invejável. Por momentos, sinto-me algo inferior a esta água proveniente dos céus, enquanto a mesma se encontra sempre fluída e espontânea eu hei de sempre me encontrar perdido em meio de pensamentos, cuja demasia me impede de agir perdendo todo o meu tempo no meio de lamentos, caindo, portanto, num poço sem fundo, Ah bela chuva, o quanto eu não dava para ter a tua simplicidade e pureza e poder viver a minha vida naturalmente sem toda esta lucidez que teima em não me abandonar. A chuva tornou-se mais violenta, a minha roupa já se encontra completamente colada a mim e o frio já começou a fazer-se sentir. Tento retomar a minha peregrinação mas o meu corpo parece não me dar ouvidos Permito então que toda aquela água que cai sobre mim, percorrendo inteiramente o meu corpo até atingir o chão, leve consigo as minhas preocupações e pensamentos numa tentativa fracassada de me deixar apenas com as sensações que a mesma provoca no meu ser. Subitamente já não sinto nada a cair sobre mim e constato que a chuva finalmente parou, de forma tão espontânea como começou. Perdi a noção do tempo outra vez, a rua já se começa a
  • 2. encher novamente e o som dos passos apressados e os sussurros das conversas vulgares começam a atingir os meu ouvidos. Recomponho-me e, numa tentativa falhada, ajeito a minha roupa que mostrava a minha silhueta de uma forma quase perfeita. Dou então continuidade ao meu passeio, apesar de já não ter um destino. O dia deu em chuvoso Se eu fosse Ricardo Reis, não veria a chuva como o tórrido sofrimento que me abala, não a pensaria como a minha alma despida e nua onde a água embate e fere, nem a sentiria como o galopar de armas postas no céu e em mim. Se eu fosse Reis, não sofreria como sofro, nem acabaria por desistir dos meus próprios desejos e sentimentos por saber que não faz sentido insistir numa coisa que sei que não vai dar resultado. Se fosse como ele, veria em cada oportunidade de sentir uma bomba prestes a explodir, correndo na direção oposta. Se pensasse como ele, não acreditaria em banalizações e ilusões do senso comum, como se fosse tudo perfeito, nem encontraria em cada canto um gatilho prestes a disparar. Sinceramente, admiro-o esplendidamente por ser quem de facto nunca consegui ser: um ser desprovido de emoções ou aparentemente desprovido das mesmas. A capacidade de renunciar a tudo o que é intenso e vivo encanta-me com o mesmo poder com que o fogo me aquece, a simplicidade com que encara a vida e a transfigura dão-me alento e a banalização de tudo e a questionação de nada fazem-me acreditar que a vida poderá ser mesmo assim: simples e fácil. Mas não o é… fico assustadoramente inquieta com as metamorfoses incessantes e disfóricas desta, não sabendo onde me posicionar nem o que sentir. Acredito que tudo tem uma razão de ser ou, até mesmo, que existe o destino como fator determinante da nossa vida. Porém não sei o que fazer nem o que mais pensar, uma vez que apenas na última hora já me invadi de todos os pensamentos cruéis e completamente acobardadores verosímeis. Só quero que chegue o verão e a chuva passe, levando consigo as balas, os gatilhos, os ferimentos e, sobretudo, o sofrimento. Apenas me quero convencer de que tudo é fugaz, efémero e transitório, tal como Reis, contudo inserido na necessidade de evasão que possuo. Porque, se fosse Reis, perceberia que a chuva é o segundo sol e é momentânea, afastar- me-ia do que me pode vir a causar dor ou perturbação e viveria serena e tranquilamente! 12º ano