"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
Na sinuca de bico a precarização do trabalho do assistente social na rede de saúde mental do município de franca
1. VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate
“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”
"NA SINUCA DE BICO": A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DO
ASSISTENTE SOCIAL NA REDE DE SAÚDE MENTAL DO MUNICÍPIO DE
FRANCA
Larissa Tavares de Carvalho1
; Rachel Gouveia Passos2
RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar as condições de
trabalho do assistente social inserido no campo da saúde mental do
município de Franca – SP, levando-se em consideração os princípios
da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Buscou-se analisar as condições
colocadas para a atuação do assistente social e as estratégias propostas
pelo mesmo, a fim de garantir ações pautadas no projeto Ético-
Político do Serviço Social.
Palavras-chave: Reforma Psiquiátrica; Saúde Mental; Serviço Social;
Prática Profissional
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo propõe uma análise sobre as condições de trabalho do
assistente social inserido no campo da saúde mental, levando-se em consideração o
processo da Reforma Psiquiátrica Brasileira que trouxe a implantação de serviços
alternativos ao cuidado à pessoa em sofrimento psíquico. Busca-se a consolidação de
uma rede de assistência focada nos princípios das práticas psicossociais, criando novos
espaços que possibilitam a integração do sujeito. Com isso procura-se realizar uma
análise crítica da realidade social objetivando discutir a situação dos profissionais de
Serviço Social atuantes na atenção da saúde mental no município de Franca-SP,
localizado ao nordeste do Estado de São Paulo.
Franca é uma cidade considerada de grande porte. Sua estrutura em relação à
saúde mental é composta de equipamentos destinados a proporcionar atenção primária,
secundária e terciária que compõem as tessituras de uma rede de assistência, embora
seja considerada deficitária às necessidades do município.
Ainda que o Movimento da Reforma Psiquiátrica represente um grande avanço
na transformação de paradigma da psiquiatria, têm-se encontrado em Franca, desafios
na implementação dos equipamentos sociais assistenciais e das políticas públicas que
redirecionam o modelo de cuidado atualmente proposto.
1
Discente do 3° ano de Serviço Social da Universidade Estadual Paulista, UNESP, Franca. Contato: E-
mail: larissatcarvalho@hotmail.com
2
Assistente Social da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo. Especialista em Saúde Mental e
Atenção Psicossocial pela Escola Nacional de Saúde Pública ENSP/ FIOCRUZ; Mestranda do Programa
de Política Social da Universidade Federal Fluminense UFF. Co-orientadora deste estudo. Contato: E-
mail: rachel.gouveia@gmail.com
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“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”
Dessa forma, busca-se analisar as condições de trabalho do assistente social
frente aos limites postos pela conjuntura, fornecendo elementos para a discussão sobre a
prática profissional do Serviço Social no Centro de atenção psicossocial de álcool e
drogas (CAPSad).
2 DESENVOLVIMENTO
A loucura sempre foi vista como oposta à normalidade e por isso os seres
acometidos pela “loucura” eram considerados desviantes dos padrões sociais e assim,
deveriam ser excluídos, isolados, silenciados e sentenciados aos muros dos hospícios,
onde eram submetidos à violências diversas em prol do tratamento. Nesses lugares
considerados como depósitos dos dejetos da sociedade, perpetuava-se diariamente a
constante violação dos direitos humanos e atentados contra a vida, fato que incitou os
questionamentos de Franco Basaglia e impulsionou o movimento conhecido como
Reforma Psiquiátrica.
Esse movimento visa transformações no cuidado ao sujeito em sofrimento
psíquico através de novos modelos assistenciais, desconstruindo o modelo
hospitalocêntrico e o paradigma clássico da psiquiatria. Assim, a partir da década de
1990, houve a expansão significativa dos dispositivos substitutivos propostos pela
Reforma Psiquiátrica, refletindo no Brasil na Lei 10.216 de 06 de abril de 2001 que
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas em sofrimento mental, redirecionando
o modelo assistencial em saúde mental, oferecendo apoio à Política Nacional de Saúde
Mental, que para sua efetivação, visa entre outras medidas, a substituição gradual do
modelo de atenção hospitalocêntrico. Nessa direção, são propostas transformações,
tanto do modelo de assistência, quanto das relações entre a sociedade e a loucura,
favorecendo o exercício da cidadania e a inserção social dos usuários através da
reabilitação psicossocial.
Com isso, ressalta-se que a atenção em saúde mental deve ser realizada dentro
de uma rede de cuidados substitutiva ao manicômio, tendo suas ações fundamentadas
nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Reforma Psiquiátrica Brasileira
(RPB). Nesse sentido, destacam-se os obstáculos que a luta antimanicomial tem-se
defrontado para efetivação da viabilização do cuidado integral ao usuário, visto que a
desinstitucionalização não se restringe à mera alta hospitalar, envolvendo questões
técnico-administrativas e assistenciais, exigindo para si recursos humanos e
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“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”
investimento financeiro para a criação de novos dispositivos e a construção de ações
intersetoriais.
O Município de Franca e a Rede de Saúde Mental
A pesquisa foi realizada no município de Franca, localizado ao nordeste do
Estado de São Paulo, cidade com aproximadamente 350.000 habitantes, classificada
segundo a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), 2004, como município de
grande porte (101.000 até 900.000 habitantes):
São municípios que por congregarem o grande número de habitantes e, pelas
suas características em atraírem grande parte da população que migra das
regiões onde as oportunidades são consideradas mais escassas, apresentam
grande demanda por serviços das várias áreas de políticas públicas (BRASIL,
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. PNAS/04, on
line).
Possui Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), igual a 0,820 numa escala de
0 a 1. O IDH é uma ferramenta utilizada para medir a qualidade de vida, levando-se em
conta a renda per capita, a saúde e a educação. Franca opera em ritmo de crescimento,
visto que seu IDH no ano de 1991 era de 0,783. A cidade possui como uma das esferas
mais significativas da economia a indústria couro-calçadista e, na zona rural, tem sua
economia movimentada também pela produção de café.
O cuidado em saúde mental do município de Franca é prestado por meio de uma
rede composta por um Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPSad),
um Ambulatório de Saúde Mental, um Núcleo de Atendimento à infância e a
adolescência (NAIA), um Hospital-Dia e um Hospital Psiquiátrico.
O Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPSad) é regulamentado
pela Portaria GM n°. 336 de 19 de fevereiro de 2002, destina-se a prestar assistência
psicossocial aos usuários com dependência ou uso abusivo de álcool e outras drogas na
perspectiva de promover a reabilitação dos usuários.
Os CAPS constituem-se como serviços ambulatoriais de atenção diária, que
funcionam segundo a lógica do território, e que deve funcionar independente
de qualquer estrutura hospitalar, cujo objetivo é oferecer atendimento à
população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico
e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos
direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Existem
diversas modalidades de CAPS, subdivididos por porte e clientela, recebendo
as denominações de CAPS I (atendimento em municípios com população
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entre 20.000 e 70.000 habitantes), CAPS II (população entre 70.000 e
200.00), CAPS III (acima de 200.000), CAPSi (referência para uma
população de cerca de 200.000) e CAPSad (referência para população
superior a 70.000) (BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria 336/02, on line).
O Ambulatório de Saúde Mental presta atendimento para pessoas acima de
dezoito anos, atendendo outros tipos de patologias; há o Núcleo de Atendimento à
Infância e a Adolescência (NAIA) que recebe usuários de 0 a 18 anos, e realiza
acompanhamento e atividades com as famílias, possuindo uma equipe multidisciplinar
formada por um psiquiatra, duas psicólogas, uma pedagoga e uma assistente social; na
rede há também o Hospital-Dia que trabalha com a abordagem interdisciplinar e presta
atendimento a psicóticos, trabalho desenvolvido por uma equipe composta de médico
psiquiatra e clínico, enfermeiro, assistente social, psicólogo, farmacêutico, nutricionista
e terapeuta ocupacional. Franca possui ainda um Hospital Psiquiátrico que funciona
para internação. Essa rede é entendida e constituída por dispositivos assistenciais
implantados com a finalidade de realizar desde a atenção psicossocial aos cuidados mais
ativos nas fases agudas da doença.
O locus pesquisado foi o Centro de Atenção Psicossocial álcool e drogas
(CAPSad) de Franca – SP. Esse serviço atende especificamente os usuários com
dependência química (álcool e outras drogas), funcionando diariamente, prestando
assistência a Franca e aos municípios que compõem o Departamento Regional de Saúde
(DRS), sendo integrantes as cidades de Aramina, Buritizal, Cristais Paulista, Guará,
Igarapava, Ipuã, Itirapuã, Ituverava, Jeriquara, Miguelópolis, Morro Agudo, Nuporanga,
Orlândia, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Rifaina, Sales
Oliveira, São Joaquim da Barra e São José da Bela Vista, caracterizando uma demanda
alta.
A equipe do CAPSad é composta por uma assistente social, duas psicólogas,
uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, uma terapeuta ocupacional, uma médica
clínica-geral, um médico psiquiatra, e uma equipe de apoio, formada por um oficineiro e
um ajudante geral. Oferece também um quadro de atividades: atendimentos individuais
e grupais, oficinas terapêuticas, gerenciamento de casos, ações conjuntas com os
familiares, orientações, visitas domiciliares, dentre outras que buscam oferecer cuidado
e acolhimento. Tais atividades têm o objetivo de promover maior autonomia e produção
de cidadania, buscando assim, inserir o sujeito na sociedade.
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Diante desse quadro, nota-se que o objetivo das atividades desempenhadas no
CAPSad pode estar comprometido, pois o serviço atende a demanda de 22 localidades e
opera com uma equipe mínima. Assim, mesmo com reuniões, com trabalho
desenvolvido de forma interdisciplinar há um prejuízo, pois com uma demanda alta e a
equipe reduzida, isso se reflete na qualidade do atendimento, que deixa muito a desejar,
pois não há a discussão acerca do projeto terapêutico de cada usuário, levando-se em
consideração as particularidades e as necessidades de cada caso. Isso repercute
diretamente no cuidado proporcionado ao usuário, visto que não é oferecida a
quantidade suficiente de serviços e recursos humanos para a dimensão da demanda da
DRS de Franca, sendo assim insuficiente.
A Pesquisa de Campo
O município de Franca, como foi apresentado acima, possui como serviços
extra-hospitalares o Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPSad), o
Ambulatório de Saúde Mental e o Hospital-Dia, que, porém, ainda funcionam
vinculados ao Hospital Psiquiátrico, sendo este voltado para internação. O que se
observa diante da rede de atenção à saúde mental de Franca, é que os serviços que
deveriam ser substitutivos, funcionam como complementares ao Hospital Psiquiátrico, e
que este funciona como gerenciador da rede, contrariando os princípios da Reforma
Psiquiátrica Brasileira que tem como característica marcante a substituição gradual do
modelo hospitalocêntrico e a criação de novos espaços e formas de lidar com o
sofrimento psíquico.
Pode-se considerar a rede de atenção a saúde mental de Franca insuficiente, pois
não oferece estrutura para atendimento com qualidade aos usuários, visto que não
possui CAPS para atendimento de psicóticos, somente o ambulatório para atendimento
a este tipo de patologia. O CAPSad presta assistência a usuários com dependência ou
uso abusivo de álcool e outras drogas mas, para isso, como já nos referimos, conta com
uma equipe mínima de profissionais, diante de uma enorme demanda, caracterizando a
sobrecarga e a precarização do serviço, trazendo conseqüências para a equipe que
atende e para os usuários que são atendidos.
A escolha do CAPSad para a realização da pesquisa deu-se pelo fato do
dispositivo ser referência para pessoas com transtornos decorrentes do uso de álcool e
outras drogas, e de ser um dos dispositivos essenciais para a efetivação da Reforma
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Psiquiátrica Brasileira. Levou-se em conta o serviço atender toda a região e possuir uma
equipe reduzida. Foi instigante estudar uma cidade considerada de grande porte com
apenas um Centro de Atenção Psicossocial e com uma demanda alta diante de poucos
profissionais, que estão sobrecarregados. Diante de tais evidências surgem inquietações:
como o profissional de Serviço Social desenvolve a sua prática profissional nesse
espaço? Como estarão as condições de trabalho do assistente social inserido no campo
da saúde mental diante da atual conjuntura em que há o desmonte das instituições
psiquiátricas e a ausência das políticas públicas?
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi utilizado como instrumental a entrevista
semi-estruturada, de caráter exploratório com roteiro previamente definido. A entrevista
foi realizada com a assistente social do serviço selecionado, gravada com prévio
consentimento da mesma e tendo como apoio, os equipamentos de multimídia e áudio.
Posteriormente, a entrevista foi transcrita para análise.
Nota-se, que no CAPSad acontecem reuniões de equipe três vezes por semana.
Em uma das reuniões, a primeira da semana, ocorre a discussão de textos e das
intervenções e ações do cotidiano, sendo livre a participação dos profissionais. A
segunda reunião de equipe ocorre para a discussão de questões administrativas, da
gestão, da proposta de trabalho e para avaliação do trabalho desempenhado. Por último,
a terceira reunião vai pautar os projetos terapêuticos, tendo cada caso discutido,
avaliado e, se necessário, reorganizado e modificado para melhor atender às
necessidades do usuário. Os profissionais do CAPS buscam alternativas para driblar as
dificuldades e trabalhar em consonância com os princípios da Reforma Psiquiátrica.
O trabalho é desempenhado de forma interdisciplinar, em que os diferentes
profissionais interagem. Entretanto, a inter-relação com a medicina ainda é um
problema que está longe de ser superado, o que coloca em risco o atendimento prestado
ao usuário do serviço. Há inúmeras dificuldades em relação ao médico psiquiatra. Este
profissional não está presente no serviço todos os dias, o que implica em um
distanciamento com o restante da equipe. O mesmo limita-se às suas atividades, não
prevendo e nem possibilitando uma atenção integral e interdisciplinar ao usuário.
Percebe-se a negligência produzida dentro do serviço, contrariando não somente ao SUS
e também desrespeitando a Lei 10.216 que garante o melhor atendimento de saúde ao
usuário.
Para Vasconcelos (2002):
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A proposta de interdisciplinaridade convive na prática com uma “sombra”
espessa de um conjunto de estratégias de saber/poder, de competição intra e
intercorporativa e de processos institucionais e socioculturais muito fortes,
que impõem barreiras profundas à troca de saberes e a práticas
interprofissionais colaborativas e flexíveis (grifo da autora,
VASCONCELOS, 2002, p. 53).
A equipe do CAPSad segundo a Portaria GM/n° 336/02 ao ser composta pelos
profissionais de diversas formações, objetiva a troca de saberes, experiências que
possibilitam a integração e o diálogo tornando possível complementar e ampliar o
cuidado ao usuário. No entanto, no CAPSad de Franca, o trabalho é desempenhado de
forma interdisciplinar, porém isso não se estende ao médico, que não participa da
construção coletiva da interdisciplinaridade.
A questão do médico acaba, isso que eu falei da interdisciplinaridade, isso
parece que os médicos não conseguem entrar nisso. [...] Não existe essa
interação, se eu quiser saber a opinião daquele médico, eu tenho que pegar o
prontuário. [...] ele fica limitado a tarefa que ele tem que cumprir (assistente
social do CAPSad de Franca).
Dizer que o médico não se integra à equipe, não significa dizer que há a
submissão ao poder médico, mas sim, que este profissional não interage com a equipe,
se limita apenas à suas atividades. Neste viés, destaca-se que a interdisciplinaridade não
inferioriza profissão alguma, não torna as relações verticalizadas, pois cada profissão
possui suas peculiaridades e especificidades, seus projetos profissionais. A
interdisciplinaridade constitui-se numa troca de saberes em que há o respeito mútuo; no
entanto, deveria ser valorizada por todos os profissionais da equipe, visando um
aperfeiçoamento no atendimento.
Nesse viés, destaca-se o assistente social que busca integrar-se a equipe,
desenvolvendo um trabalho interdisciplinar, ressaltado no Código de Ética Profissional
em seu 10° artigo: “incentivar, sempre que possível, a prática interdisciplinar, uma vez
que esta favorece o enfrentamento da questão social e viabiliza um melhor atendimento,
numa perspectiva totalizante e não fragmentadora do nosso sujeito atendido.
O Serviço Social e sua atuação
Diante de muitos desafios, a profissional do Serviço Social busca criar
estratégias para poder executar suas ações. A assistente social direciona sua atuação
para a orientação do usuário acerca dos seus direitos; estimula a participação nos
espaços comunitários, de forma a ampliar o universo relacional do sujeito e o
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atendimento familiar. No entanto, esse trabalho com as famílias, não se restringe
somente à orientação; leva-se em conta a questão das relações sociais e da qualidade de
vida do usuário e da sua família nesse convívio.
O Serviço Social visa à construção de novos espaços que atendam as reais
necessidades dos usuários, buscando construir mediações nas relações sociais e superar
as particularidades dos conflitos familiares e na comunidade. Visa fortalecer a
transformação societária pela divulgação da saúde como direito de todos, participando
dos conselhos locais e municipais de saúde, das conferências que ocorrem na cidade,
cobrando estratégias e atitudes dos gestores na execução da política de saúde. Estimula
os usuários e os familiares a participarem das discussões, dos conselhos municipais,
buscando despertar para o efetivo exercício da democracia, havendo maior possibilidade
dos usuários terem seus interesses contemplados e legitimados seus direitos de cidadão.
A redução da equipe provoca como conseqüência um prejuízo na qualidade do
atendimento, pois ao atender todas as demandas da região ficam sobrecarregados.
Acrescido a isso temos o fator dos recursos físicos deficitários, pois o CAPSad conta
apenas com um computador na recepção central, sem acesso à internet. Têm-se a
ausência de investimento ao serviço público, perpetuando assim, a degradação e a
precarização do lugar e dos atendimentos prestados. Esse quadro traz dificuldades ao
profissional, pois não é oferecido condições para que possa se informatizar, e com isso
necessita se provir de outros meios fora do seu ambiente de trabalho, como é
evidenciado pela assistente social:
Pra você ter uma idéia, aqui nós não temos, o CAPS não tem um e-mail, o
CAPS não tem internet. Nós não estamos em rede de internet que todo
mundo ‘tá’, então como que a gente tem acesso a essas informações?! Tudo
que ‘tá’ acontecendo, então, vai de cada profissional, do Serviço Social
procurar saber (assistente social).
A ausência de recursos reflete diretamente no profissional, que não possui apoio
financeiro para aprimorar-se, capacitar-se e participar de eventos na área,
impossibilitando a formação do mesmo. Neste cenário, entra em cena a questão da baixa
remuneração que não custeia os gastos com os eventos, que mesmo sendo gratuitos, há
custos com deslocamento, dentre outros. Atrelada a essa questão, há os limites
institucionais que restringem a saída do assistente social do local de trabalho, devido à
composição reduzida da equipe como se observa nesta fala da entrevistada:
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Nós profissionais que atuamos nessa área, que estrutura que a gente tem pra
participar de alguma coisa?
[...] Você fica sabendo e traz, vai ter tal coisa, vai estar acontecendo encontro
de CAPS, vai estar acontecendo lá sobre tabagismo, mas você não tem como
participar de nada, não tem como você se ausentar do serviço pra isso. E
ainda que você consiga se ausentar do serviço você não ganha o suficiente
pra buscar isso, por exemplo, pra pagar sua estada num hotel, pra pagar sua
viagem, pra pagar, você ta entendendo, então tem tudo isso (assistente
social).
Essa dificuldade traz rebatimentos na prática profissional, produzindo um
engessamento do profissional que acaba não só se fechando no ambiente institucional,
mas sujeitado a reproduzir práticas manicomiais que deveriam ser superadas. Para
Heller (2008), “o conhecimento dos homens é dificultado não apenas pelo fato de que a
‘exterioridade’ em demasia encubra a ‘interioridade’, mas também porque a própria
interioridade se empobrece”.
Conforme Iamamoto (2001, p.20), “[...] é importante sair da redoma de vidro
que aprisiona os assistentes sociais numa visão de dentro e para dentro do Serviço
Social, como precondição para que possa captar as novas mediações e requalificar o
fazer profissional, identificando suas particularidades e descobrir alternativas de ação”.
Salienta a assistente social:
Eu acho que a estrutura contribui para que você se aliene muitas vezes, eu
vejo que a contribuição do Serviço Social, ela tem que ir além dos muros da
instituição, mas também a gente se vê muito presa nesses muros da
instituição. Entendeu?! Sem poder muito.
Toda essa situação acarreta uma sobrecarga ao profissional, que irá refletir em
sua saúde. Isso ocorre devido a sua inserção em uma área complexa que possui
limitações e desgastes no cotidiano: lidando com conflitos, com as expressões da
questão social, com a questão de direitos, entre outras.
O Serviço Social constitui-se como profissão que se insere na divisão sócio-
técnica do trabalho. Segundo Iamamoto (2008), O Serviço Social trabalha com a
questão social nas suas variadas expressões, e desde sua emergência na década de 1930,
também reflete em si as questões e as transformações do mundo do trabalho. Sofre os
rebatimentos causados pelas opressões existentes neste sistema, levando-se em
consideração que a categoria tem sua ação norteada por um Projeto Ético-Político e um
Código de Ética combativos, contra-hegemônicos, e se vê frente a desafios
cotidianamente.
Segundo Vasconcelos (2003), na perspectiva do Projeto Ético–político do
Serviço Social, um dos grandes desafios enfrentados pelos assistentes sociais é trabalhar
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demandas, pleitos, exigências imediatas - dor, sofrimento, falta de tudo, falta de
condições de trabalho, condições de vida - sem perder a perspectiva de médio e longo
prazo. Isto implica em responder aos problemas cotidianos imediatos e ao mesmo tempo
criar ações que vêm de encontro às necessidades e interesses da classe trabalhadora.
Todo esse quadro contribui para um quadro de tensões para o assistente social, pois
o mercado exige perfis adequados e cobra cada vez mais do profissional, não
oferecendo estrutura para esse desenvolvimento. Com isso, ocorre a precarização do
trabalho, refletida em um número mínimo de profissionais nos serviços:
Muitas vezes você vê que o mundo do trabalho, ele é gerador da doença. [...]
Não dá pra gente dizer que não a adoece, assim, a gente sente isso no físico, a
gente sente isso no nosso emocional, porque quando eu falo dessa coisa da
opressão não é só em relação aos usuários não, são também quanto aos
profissionais da saúde mental, porque nós também somos oprimidos por essa
máquina, por esse sistema que funciona dessa forma e que precisa ser
mudado (assistente social).
As transformações do mundo do trabalho não atingem somente aos usuários
atendidos, mas também traz prejuízos à saúde do assistente social, que é um trabalhador
e que também sofre os rebatimentos dessas transformações, o que pode ser notado em
sua saúde, conforme explicitado:
Então os impactos disso é evidente na nossa saúde, né, e coisas que muitas
vezes você não tem como parar para cuidar. Você não tem como em todos os
sentidos, no sentido de tempo, no sentido de recurso, né, pra mim, porque
cuidar da saúde mental não é você ter acesso a um médico e ir lá e tomar um
remédio, é você ter condição de ter lazer, é você ter condição de cuidar da
saúde mesmo né, não é de tratar a doença, mas de cuidar da saúde e
prevenção em saúde (assistente social).
É nesse contexto que se insere o assistente social na atenção à saúde mental do
município de Franca, num emaranhado de serviços que compõem uma rede desconexa
com serviços insuficientes, refletindo em si o escasso investimento no setor público, as
limitações que traz rebatimento na saúde dos profissionais, com destaque para o
assistente social que lida cotidianamente e diretamente com as mazelas da questão
social.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Centro de Atenção Psicossocial de álcool e drogas (CAPSad), regulamentado
pela portaria GM n° 336/02, trabalha com o conceito ampliado de cuidado. Busca o
11. VII Seminário de Saúde do Trabalhador e V Seminário O Trabalho em Debate
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envolvimento da comunidade e da família por meio do diálogo sobre direitos humanos,
promoção da saúde, a criação de vínculos e a luta contra o preconceito.
Percebeu-se que o dispositivo apresenta múltiplas deficiências em sua estrutura,
fazendo parte de uma rede desconexa de atenção à saúde mental na cidade de Franca.
Entretanto, a assistente social coloca-o como um campo vasto de possibilidades para a
consolidação de uma nova proposta de cuidado: ampliando as fronteiras, articulando
uma rede com os demais serviços e promovendo uma atenção integral e intersetorial.
O atual contexto imposto pelo modelo neoliberal, pela ordem societária injusta,
pelo aumento da desigualdade social e o desinteresse por parte dos gestores pela saúde
mental, vai implicar em limitações da prática profissional do Serviço Social.
Trazendo essa realidade para a área da saúde mental, faz-se importante ressaltar
a Reforma Psiquiátrica, que trouxe um novo paradigma de atenção psicossocial,
procurando garantir a cidadania e os direitos das pessoas em sofrimento psíquico.
No entanto, a rede substitutiva da lógica hospitalocêntrica não tem sido
estruturada para consolidar os ideais da Reforma Psiquiátrica Brasileira, não há políticas
públicas que dêem suporte a essa “reforma.” o que também limita a capacidade técnica
do CAPSad desempenhar o papel de regulador da porta de entrada da rede assistencial.
Nesse sentido, torna-se cada vez mais difícil a materialização do projeto ético-político
do Serviço Social.
Os desafios são inúmeros, porém o assistente social mantém uma relação
horizontalizada com os usuários, o que permite o estímulo desses usuários em prol de
seus direitos políticos, civis, enfim, de seus direitos como cidadãos.
Diante desse quadro, encontram-se estratégias e mediações no cotidiano do
profissional de Serviço Social que busca romper com os limites postos pela conjuntura
ampliando seu espaço de intervenção. Esse trabalho exige grande habilidade e
competência por parte do profissional que em sua graduação na maioria das vezes não
recebe conteúdo algum da saúde mental e quando vai atuar nessa área complexa tem
dificuldades em criar estratégias para sua atuação.
É preciso que haja a discussão da atuação profissional do assistente social na
saúde mental, das potencialidades e das alternativas desse profissional que muitas vezes
se encontra enclausurado pelas condições que o sistema oferece para que desenvolva
seu trabalho, sem nenhum apoio, sem estrutura alguma, fato que proporciona o
adoecimento do próprio profissional, que também é um trabalhador inserido na relação
de exploração do trabalho.
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“Saúde Mental Relacionada ao Trabalho”
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