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Minha Educação (EDUARDO CHAVES, nascido em 1943)
Minha educação sempre misturou aspectos não-formais, em geral inovadores, com aspectos formais,
em geral bastante tradicionais – aquilo que eu, em 1963, em meu convencional discurso de
formatura no Curso Clássico, chamei, pouco criativamente, de “a escola da vida” e “a vida da
escola”…
Tive sorte: só comecei a vida da escola quando já estava bem a caminho de completar nove anos,
em Santo André, SP, no ano de 1952… Assim, iniciei o (então) Primário bastante tarde! Não
freqüentei “Prezinhos” e Jardins da Infância, muito menos Cursinhos Maternais e “Hotelzinhos
Pedagógicos”. Creio que eles não existiam então nem nos grandes centros – muito menos onde eu
morava. Assim, pude brincar e aprender, fora da escola, bem mais do que a maior parte das crianças
de hoje (sentenciadas à escola, às vezes, a partir dos dois anos).
Morávamos (1946-1951) no que meu pai então chamava de “o sertão do Paraná” (Marialva,
Maringá), onde as escolas eram tão ruins que meus pais decidiram que eu só iria para a escola
quando a família conseguisse se mudar para um lugar “mais civilizado”, com melhores escolas.
Tanto melhor: além de brincar, aprendi bastante. A escola da vida começou bem cedo – na verdade,
com a vida… Logo descobri que brincadeira é coisa muito séria, porque, além de dar prazer, é fonte
inesgotável de aprendizagem (especialmente quando é difícil) – sendo esta, talvez, a principal razão
por que a brincadeira dá prazer!
Cedo, e em casa, aprendi a ler e a escrever com razoável fluência. Sou, em parte, fruto de home
schooling.
Aprendi a ler basicamente sozinho, com alguma ajuda de minha mãe (que mal havia terminado, na
década de 30, o então chamado Curso de Comércio, mais ou menos equivalente ao Ginásio, na
Academia São Luiz, em Campinas, hoje Colégio Pio XII, ligado à PUC-Campinas). Aprendi a ler na
Bíblia e em histórias policiais (especialmente as de Sir Arthur Conan Doyle e as de Earle Stanley
Gardner). A Bíblia, por influência de meu pai, pastor presbiteriano por quase 50 anos; as histórias
policiais, por influência de minha mãe, que as devorava. O gosto pela leitura de histórias policiais se
mostrou mais duradouro do que o gosto pela leitura da Bíblia (que, entretanto, vista como literatura,
tem passagens memoráveis). Só recentemente voltei a ler a Bíblia com outros olhos.
No início de 1952, quando tinha oito anos e meio, mudamo-nos para Santo André, SP. Minha
educação formal foi iniciada nos bancos de uma escola pública, o Grupo Escolar “Prof. José Augusto
de Azevedo Antunes”, na Rua Senador Flaquer. A educação ali proporcionada era bastante
tradicional – mas tive a sorte de encontrar professoras que, percebendo que eu já lia e escrevia
fluentemente, me estimularam a explorar campos mais férteis e verdejantes do que as cartilhas e os
livros-texto de então. Li bastante e amplamente nessa época: não só o Tesouro da Juventude e a
literatura infantil e para adultos de Monteiro Lobato (então, em ambos os casos, presentes, de
rigueur, na biblioteca de toda casa que prezava a educação), mas também romances policiais.
Continuei a devorar Conan Doyle, especialmente suas histórias de Sherlock Holmes, e Erle Stanley
Gardner, especialmente suas histórias de Perry Mason; mas descobri também Georges Simenon,
com suas histórias do Inspetor Maigret, e Maurice Leblanc, com suas histórias do incorrigível Arsène
Lupin, o famoso “ladrão de casaca”, e Agatha Christie, com suas histórias de Hercule Poirot e Miss
Marple. Minha maior descoberta, nessa época, entretanto, foram os romances históricos de autores
franceses, como os de Alexandre Dumas, especialmente aqueles envolvendo os Três Mosqueteiros,
e os de Michel Zévaco, especialmente aqueles envolvendo os charmosos espadachins, pai e
filho, Les Pardaillans. Por fim, descobri romances em geral, sem discriminar negativamente nem
mesmo os livros da então chamada “Biblioteca das Moças”… Li, ainda na pré-adolescência, Rebeca,
Jane Eyre, O Morro dos Ventos Uivantes, bem como quase tudo de A. J. Cronin, e muitos outros –
que eram livros que minha mãe adorava e que, portanto, estavam disponíveis em casa. Felizmente
meus pais nunca me disseram que havia livros que eram “de adultos”, vedados a crianças.
Fiz o Ginásio no Colégio Estadual e Escola Normal “Dr. Américo Brasiliense” (depois Instituto de
Educação “Dr. Américo Brasiliense”), também em Santo André. O Colégio ficava (ainda fica, embora
em outro prédio e com ainda outro nome) bem no largo do Quarto Centenário (o quarto centenário de
Santo André foi celebrado dia 8 de Abril de 1953). A escola também era tradicional, mas o ensino era
de qualidade: os professores eram muito bons, dentro da visão pedagógica tradicional. Não se
esperava mais do que isso naquela época. A escola pública de então atendia à camada mais
intelectualizada da sociedade – servia à elite, portanto. Um pastor protestante naquela época,
embora bastante pobre pelos padrões de hoje, tinha um status social razoável. Eu, o primogênito da
família, de certo modo destinado a seguir nos passos do pai, tinha a obrigação de entrar na melhor
escola da cidade… Entrei – sem Curso de Admissão (apenas com algumas aulas de revisão
ministradas, um mês antes dos exames, por Carla Strambio, então novinha, e que, cinqüenta anos
depois eu iria reencontrar como minha colega na categoria de “Tradutora Juramentada e Intérprete
Comercial” – ela de Italiano, eu de Inglês). Os Exames de Admissão para ingressar no Ginásio do
Américo Brasiliense eram, talvez, mais seletivos do que os Vestibulares de muitas universidades
públicas hoje em dia. Quando entrei no Ginásio, em Fevereiro de 1956, havia onze candidatos para
cada vaga. O Exame de Admissão barrou mais de 90% dos pretendentes: entraram apenas 30 de
330 candidatos ao curso diurno… o que significava que, com o acréscimo de alguns repetentes,
havia apenas uma turma de primeira série do Ginásio no turno diurno em 1956 no Américo
Brasiliense.
Além das matérias convencionalmente consideradas acadêmicas, a escola tinha um excelente
orfeão, uma competente área de artes (com foco especialmente em desenho), uma interessante área
de trabalhos manuais (onde aprendi a fazer sacolas, chaveiros, e assentos de palhinha para
cadeira), e um bom departamento de educação física (área que, admito sem vergonha, nunca foi o
meu forte).
Voltando mais uma vez para a literatura, essa foi a época em que descobri José de Alencar (Cinco
Minutos, A Viuvinha, Lucíola, Diva, Iracema, Senhora…), Visconde de Taunay (Inocência), Joaquim
Manuel de Macedo (A Moreninha), e, principalmente, Machado de Assis (Helena, Memórias
Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Memorial de Aires…). Adolescente que era naqueles
tempos em que o romantismo não havia ainda saído de moda, não deixei de me fascinar pela poesia,
lendo comportadamente Olavo Bilac, mas me apaixonando pelos poetas mais românticos, como
Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Raimundo Corrêa… Ainda
sei de cor vários poemas que decorei naquela época.
Com esses interesses, era inevitável que eu, na então chamada Escola Secundária, optasse pelo
Curso Clássico e não pelo Curso Científico. A bem da verdade, eu até que tentei cursar o Científico
no Américo Brasiliense: mas não suportei um semestre de Física e Química…
Fui fazer o Curso Clássico, como aluno interno, no Instituto “José Manuel da Conceição” (JMC), em
Jandira, SP, escola privada, pertencente à Igreja Presbiteriana e com ligações com o Instituto
Presbiteriano Mackenzie (mantenedor da Universidade Mackenzie). Meu pai já havia estudado no
JMC na década de trinta. O Instituto era considerado a melhor via de acesso para o Seminário. Na
verdade, era até mesmo chamado de “Seminário Menor”, em analogia com as instituições
congêneres da Igreja Católica. Lá não precisei estudar Física e Química, e estudei apenas um pouco
de Biologia e Matemática… Em compensação, estudei bastante Língua e Literatura Portuguesa,
Francês (incluindo Literatura Francesa), Inglês (incluindo Literatura Inglesa e Americana), Latim,
Grego Clássico, Filosofia (especialmente Lógica), Psicologia, História… – todas elas matérias em
que eu tinha interesse e sempre me dei muito bem.
Mas havia bem mais no JMC do que a vida acadêmica. Ouso mesmo dizer que os aspectos não-
formais (extraclasse) da educação proporcionada no JMC me educaram mais do que as aulas a que
assisti. Eu tinha de cuidar da limpeza e da arrumação do meu quarto, lavar a minha roupa, ganhar
um dinheirinho trabalhando na escola… Além disso, participei de grêmios culturais (inclusive de
debates e de literatura), clubes de língua estrangeira (Inglês e Francês), corais e conjuntos musicais,
viagens e excursões, atividades esportivas variadas… Cantei duas vezes, com o coral da escola,
dirigido pelo Maestro João Wilson Faustini (hoje dileto amigo), no Teatro Municipal de São Paulo, em
programas especiais de Páscoa e Natal. No JMC a gente podia fazer as provas sozinho no quarto. A
escola confiava na gente e a gente correspondia: ninguém, que eu saiba, ousava verificar nada nos
livros ou nos cadernos que estavam ali à mão. Para completar o ambiente educacional, os
professores moravam no mesmo pitoresco campus que nós – e, portanto, tínhamos acesso a eles o
tempo todo. Freqüentemente tomávamos café ou mesmo refeições em suas casas. E eles nos
emprestavam livros, revistas, discos… Ganhei meu primeiro Webster’s (completo!) do Prof. Fernando
Buonaduce, professor de Latim. Ali descobri a literatura francesa, sob a orientação firme de minha
mestra favorita, Profa. Maria Elza Fiuza Teles, e a literatura de língua inglesa, neste caso sob a
orientação da Profa. Jean Pemberton. Li vários livros no original, fora das exigências dos cursos,
apenas por prazer. Ficam em minha memória a leitura de Alexis Zorba, de Nikos Kazantzakis, na
tradução para o Francês do original em Grego Βίος και Πολιτεία του Αλέξη Ζορμπά, e The House of
Seven Gables, no original em Inglês de Nathaniel Hawthorne. Mas, acima de tudo, os professores
conversavam bastante conosco, sobre suas matérias, sobre nossos planos para o futuro, sobre a
vida em geral. E, importante, nos levavam a sério, como se fôssemos “gente grande”, seus pares e
iguais… Descobri ali que adolescentes e jovens tendem a comportar-se como gente grande quando
são tratados como adultos.
No JMC minha educação deu um grande salto – mas nem tanto pelo conteúdo das aulas, que, em
parte, com a exceção de algumas competências lingüísticas e lógicas e de alguns gostos pessoais,
está devida e felizmente esquecido. O importante, ali, era o ambiente de aprendizagem que a escola
proporcionava nos momentos extraclasse. No JMC criei dívidas intelectuais que só sou capaz de
registrar, nunca de pagar, até porque os credores são, em alguns casos, bem difusos.
Passo rápido pela educação de nível pós-secundário – porque, ao terminar o curso secundário, os
meus interesses básicos estavam basicamente definidos… Depois do Clássico cursei Teologia, em
Campinas, no Seminário da Igreja Presbiteriana do Brasil (também freqüentado pelo Rubem Alves
alguns anos antes), e em São Leopoldo, na Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil (onde as aulas, em 1966, eram ainda em Alemão). Não concluí o curso
de Teologia no Brasil. O autoritarismo político se refletia dentro da Igreja Presbiteriana (embora não
na Igreja Luterana – mas para estudar lá não tinha apoio eclesiástico e, por conseguinte, financeiro).
Só fui completar o curso de Teologia nos Estados Unidos, no Seminário Teológico de Pittsburgh
(Pittsburgh Theological Seminary), da Igreja Presbiteriana, onde também fiz o Mestrado em História
do Pensamento Cristão (com ênfase na parte final da Idade Média, na Renascença e na Reforma).
Meu desempenho no Mestrado me facilitou o acesso ao Doutorado na Universidade de Pittsburgh
(University of Pittsburgh), na área da Filosofia do século XVIII – o Iluminismo. Meus amigos, Revs.
Gordon E. Jackson, então em Pittsburgh, e Aharon Sapsezian, então em São Paulo, tornaram
possíveis meus estudos nos Estados Unidos.
Viver no exterior durante sete anos e estudar numa universidade estrangeira de renome e tradição
(fundada no século XVIII) envolveu vários aprendizados importantes. Nesse período meu foco
principal de interesse passou a se concentrar em questões filosóficas, especialmente as epistêmicas
e políticas, que, para mim, se dividiam em questões mais teóricas (o que podemos conhecer e
como?) e em questões de cunho mais prático (como devemos viver, no plano individual, e nos
organizar como sociedade, no plano coletivo, e por quê?).
Concluído o Doutorado, em 1972, dei aulas de Filosofia, durante dois anos, na Universidade
Estadual da Califórnia (California State University), em Hayward, e nas Faculdades Integradas
Claremont (Claremont Colleges), em Claremont, ambas as cidades na Califórnia. No último caso,
fiquei lotado no Pomona College. As disciplinas que ministrei nessas duas instituições incluíram
Metafísica, Teoria do Conhecimento, Ética, Filosofia Política, Lógica… O básico de um curso
Introdução à Filosofia, só ficando de fora a Estética. Aprendi bem mais filosofia dando aulas do que
assistindo a elas…
Em 1974 vim para a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como professor de Filosofia –
mas acabei na Faculdade de Educação, responsável pela disciplina Filosofia da Educação, que eu
nunca havia cursado, muito menos lecionado. Na realidade, nunca havia estudado Educação
formalmente, antes de vir para a UNICAMP, e nunca fiz um curso sequer na área depois – o que,
hoje percebo, foi uma enorme vantagem. Os cursos superiores na área da Educação são em geral
muito ruins – aqui e lá fora. Fiz trinta e dois anos e meio de UNICAMP em 2006 e me aposentei, com
grande alívio, ao final do ano.
A vida acadêmica me ensinou bastante – mas também me cansou muito rápido… As comunidades
universitárias do Brasil, com algumas honrosas exceções, e com a exceção de algumas áreas dentro
das demais, são guetos esquerdizantes e socializantes voltados para a doutrinação político-
ideológica, não raro de natureza claramente partidária. Do ponto de vista pedagógico, elas deixam
muito a desejar – apesar de pretensiosas. Os anos na UNICAMP me serviram de inspiração –
totalmente negativa, é evidente – para as ideias de um livro que comecei a escrever em 2001 e ainda
não terminei… (embora erroneamente achasse que tinha terminado em Setembro de 2002). Aos
leitores atentos deste blog se torna desnecessário sublinhar os meus pontos de discordância com a
visão de educação que é, eu diria, quase hegemônica na Faculdade de Educação da UNICAMP e,
até certo ponto, nas demais instituições congêneres do país. Essa visão só não foi totalmente
hegemônica, no caso da Faculdade de Educação da UNICAMP, durante a maior parte do tempo em
que lá estive, em virtude da existência de honrosas exceções ao catecismo vigente, especialmente
dentro da área de Filosofia do Departamento de Filosofia e História da Educação, área em que estive
lotado todos esses anos. Hoje essas exceções estão todas aposentadas, de modo que a hegemonia
da esquerda foi finalmente alcançada.
No início da década de oitenta, quando era Diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP,
aconteceram alguns eventos que ensejaram um acréscimo especial aos meus interesses. Em 1981
oito diretores de faculdades ou institutos da UNICAMP, eu entre eles, todos nós candidatos a Reitor
no (que eu saiba) primeiro processo democrático de escolha de Reitor tentado em uma universidade
brasileira, fomos surpreendidos com nossa exoneração do cargo por uma Portaria do Reitor
publicada em uma edição de sábado do Diário Oficial no mês de Outubro. Eventualmente consegui
retornar ao meu cargo (no início de Dezembro) por força de uma decisão judicial, mas o episódio me
fez dolorosamente consciente do fato de que a única coisa que eu realmente sabia fazer era dar aula
em universidade… Se essa porta se fechasse… Os tempos ainda eram de ditadura. A partir daquele
momento resolvi que, ao lado de minha vida acadêmica, teria sempre alguma atividade externa. Essa
decisão deu uma direção totalmente diferente à minha vida.
Em decorrência dessa resolução, decidi em 1982 comprar um computador e aprender a fazer alguma
coisa útil com ele. No artigo anterior que publiquei neste blog esclareço a gênese de meu interesse
em computadores. Comprei um Commodore 64 – aparentemente um dos primeiros lançados no
mercado americano… Em seguida, ainda naquele ano, criei, com alguns colegas da Universidade
(Maurício Prates, Saul d’Ávila, Paul Shepard, José Eustáquio da Silveira e Silva), uma empresa de
treinamento e consultoria e decidi que iria me tornar pequeno empresário na área de treinamento e
consultoria. A empresa existe até hoje, sob a batuta do Saul d’Ávila e seus filhos. Vendi-lhe minha
parte há muito tempo. Ainda sou pequeno empresário até hoje – na verdade, hoje em dia, mais micro
do que pequeno empresário. Aprendi muito nesse ofício. Às vezes de forma muito difícil, dolorida e
até mesmo financeiramente onerosa. Minha desilusão com pessoas que considerava amigos, em
alguns casos melhores amigos, foi quase total — e marcou indelevelmente a minha vida posterior.
Mesmo dentro da Universidade, quando voltei para o meu cargo de Diretor da Faculdade da
Educação da UNICAMP em 1981, resolvi acrescentar alguns novos interesses aos já antigos. Criei,
em 1983, junto à Reitoria, o Núcleo de Informática na Educação (NIED), primeiro (que eu saiba)
órgão interdisciplinar de pesquisa aplicada nessa área dentro de uma universidade brasileira. O
NIED elaborou e submeteu ao Programa EDUCOM, coordenado pela Secretaria Especial de
Informática, FINEP e MEC, o projeto da UNICAMP, que oportunamente foi um dos cinco
selecionados para financiamento e implantação a partir de 1984. Coordenei o NIED e o Projeto
EDUCOM da UNICAMP até 1986. Mas isso tudo está narrado em mais detalhe no artigo anterior
neste blog.
Contingências políticas dentro e fora da UNICAMP me levaram a ser colocado à disposição do
governo do Estado de São Paulo, de 1986 a 1990, para dirigir, primeiro, o Centro de Informações
Educacionais da Secretaria da Educação e, depois, o Centro de Informações de Saúde da Secretaria
da Saúde. Nessa última função acabei me tornando consultor junto à Organização Pan-Americana
da Saúde (Pan-American Health Organization), em Washington, e à Organização Mundial da Saúde
(World Health Organization), em Genebra. Aprendi muito sobre informática, saúde e consultoria
nesse trabalho.
De volta à UNICAMP, estabeleci uma parceria da minha empresa (MindWare) com a Microsoft, em
1998, para a criação do site EduTec.Net e da comunidade virtual de aprendizagem colaborativa
EduTec. A parceria durou cerca de quinze anos, até 2013. Em decorrência dessa parceria acabei
sendo indicado pela Microsoft para participar de um programa que ela estava propondo ao Instituto
Ayrton Senna, em 1999: o “Sua Escola a 2000 por Hora”.
Ao longo de todo esse tempo minha identidade profissional foi se construindo: minha identidade mais
especulativa, como homo academicus, especificamente como filósofo, vem, há bem mais de 25
anos, convivendo com minha identidade mais prática, como homo actionis, empresário e consultor. É
a junção da vita contemplativa e da vita activa de que falavam os filósofos medievais… Sem essa
junção nunca teria chegado aos meus interesses e aos meus pontos de vista atuais!

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  • 1. Minha Educação (EDUARDO CHAVES, nascido em 1943) Minha educação sempre misturou aspectos não-formais, em geral inovadores, com aspectos formais, em geral bastante tradicionais – aquilo que eu, em 1963, em meu convencional discurso de formatura no Curso Clássico, chamei, pouco criativamente, de “a escola da vida” e “a vida da escola”… Tive sorte: só comecei a vida da escola quando já estava bem a caminho de completar nove anos, em Santo André, SP, no ano de 1952… Assim, iniciei o (então) Primário bastante tarde! Não freqüentei “Prezinhos” e Jardins da Infância, muito menos Cursinhos Maternais e “Hotelzinhos Pedagógicos”. Creio que eles não existiam então nem nos grandes centros – muito menos onde eu morava. Assim, pude brincar e aprender, fora da escola, bem mais do que a maior parte das crianças de hoje (sentenciadas à escola, às vezes, a partir dos dois anos). Morávamos (1946-1951) no que meu pai então chamava de “o sertão do Paraná” (Marialva, Maringá), onde as escolas eram tão ruins que meus pais decidiram que eu só iria para a escola quando a família conseguisse se mudar para um lugar “mais civilizado”, com melhores escolas. Tanto melhor: além de brincar, aprendi bastante. A escola da vida começou bem cedo – na verdade, com a vida… Logo descobri que brincadeira é coisa muito séria, porque, além de dar prazer, é fonte inesgotável de aprendizagem (especialmente quando é difícil) – sendo esta, talvez, a principal razão por que a brincadeira dá prazer! Cedo, e em casa, aprendi a ler e a escrever com razoável fluência. Sou, em parte, fruto de home schooling. Aprendi a ler basicamente sozinho, com alguma ajuda de minha mãe (que mal havia terminado, na década de 30, o então chamado Curso de Comércio, mais ou menos equivalente ao Ginásio, na Academia São Luiz, em Campinas, hoje Colégio Pio XII, ligado à PUC-Campinas). Aprendi a ler na Bíblia e em histórias policiais (especialmente as de Sir Arthur Conan Doyle e as de Earle Stanley Gardner). A Bíblia, por influência de meu pai, pastor presbiteriano por quase 50 anos; as histórias policiais, por influência de minha mãe, que as devorava. O gosto pela leitura de histórias policiais se mostrou mais duradouro do que o gosto pela leitura da Bíblia (que, entretanto, vista como literatura, tem passagens memoráveis). Só recentemente voltei a ler a Bíblia com outros olhos. No início de 1952, quando tinha oito anos e meio, mudamo-nos para Santo André, SP. Minha educação formal foi iniciada nos bancos de uma escola pública, o Grupo Escolar “Prof. José Augusto de Azevedo Antunes”, na Rua Senador Flaquer. A educação ali proporcionada era bastante tradicional – mas tive a sorte de encontrar professoras que, percebendo que eu já lia e escrevia fluentemente, me estimularam a explorar campos mais férteis e verdejantes do que as cartilhas e os livros-texto de então. Li bastante e amplamente nessa época: não só o Tesouro da Juventude e a literatura infantil e para adultos de Monteiro Lobato (então, em ambos os casos, presentes, de rigueur, na biblioteca de toda casa que prezava a educação), mas também romances policiais. Continuei a devorar Conan Doyle, especialmente suas histórias de Sherlock Holmes, e Erle Stanley Gardner, especialmente suas histórias de Perry Mason; mas descobri também Georges Simenon, com suas histórias do Inspetor Maigret, e Maurice Leblanc, com suas histórias do incorrigível Arsène Lupin, o famoso “ladrão de casaca”, e Agatha Christie, com suas histórias de Hercule Poirot e Miss Marple. Minha maior descoberta, nessa época, entretanto, foram os romances históricos de autores franceses, como os de Alexandre Dumas, especialmente aqueles envolvendo os Três Mosqueteiros, e os de Michel Zévaco, especialmente aqueles envolvendo os charmosos espadachins, pai e filho, Les Pardaillans. Por fim, descobri romances em geral, sem discriminar negativamente nem mesmo os livros da então chamada “Biblioteca das Moças”… Li, ainda na pré-adolescência, Rebeca, Jane Eyre, O Morro dos Ventos Uivantes, bem como quase tudo de A. J. Cronin, e muitos outros – que eram livros que minha mãe adorava e que, portanto, estavam disponíveis em casa. Felizmente meus pais nunca me disseram que havia livros que eram “de adultos”, vedados a crianças. Fiz o Ginásio no Colégio Estadual e Escola Normal “Dr. Américo Brasiliense” (depois Instituto de Educação “Dr. Américo Brasiliense”), também em Santo André. O Colégio ficava (ainda fica, embora em outro prédio e com ainda outro nome) bem no largo do Quarto Centenário (o quarto centenário de Santo André foi celebrado dia 8 de Abril de 1953). A escola também era tradicional, mas o ensino era de qualidade: os professores eram muito bons, dentro da visão pedagógica tradicional. Não se esperava mais do que isso naquela época. A escola pública de então atendia à camada mais intelectualizada da sociedade – servia à elite, portanto. Um pastor protestante naquela época, embora bastante pobre pelos padrões de hoje, tinha um status social razoável. Eu, o primogênito da
  • 2. família, de certo modo destinado a seguir nos passos do pai, tinha a obrigação de entrar na melhor escola da cidade… Entrei – sem Curso de Admissão (apenas com algumas aulas de revisão ministradas, um mês antes dos exames, por Carla Strambio, então novinha, e que, cinqüenta anos depois eu iria reencontrar como minha colega na categoria de “Tradutora Juramentada e Intérprete Comercial” – ela de Italiano, eu de Inglês). Os Exames de Admissão para ingressar no Ginásio do Américo Brasiliense eram, talvez, mais seletivos do que os Vestibulares de muitas universidades públicas hoje em dia. Quando entrei no Ginásio, em Fevereiro de 1956, havia onze candidatos para cada vaga. O Exame de Admissão barrou mais de 90% dos pretendentes: entraram apenas 30 de 330 candidatos ao curso diurno… o que significava que, com o acréscimo de alguns repetentes, havia apenas uma turma de primeira série do Ginásio no turno diurno em 1956 no Américo Brasiliense. Além das matérias convencionalmente consideradas acadêmicas, a escola tinha um excelente orfeão, uma competente área de artes (com foco especialmente em desenho), uma interessante área de trabalhos manuais (onde aprendi a fazer sacolas, chaveiros, e assentos de palhinha para cadeira), e um bom departamento de educação física (área que, admito sem vergonha, nunca foi o meu forte). Voltando mais uma vez para a literatura, essa foi a época em que descobri José de Alencar (Cinco Minutos, A Viuvinha, Lucíola, Diva, Iracema, Senhora…), Visconde de Taunay (Inocência), Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha), e, principalmente, Machado de Assis (Helena, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Memorial de Aires…). Adolescente que era naqueles tempos em que o romantismo não havia ainda saído de moda, não deixei de me fascinar pela poesia, lendo comportadamente Olavo Bilac, mas me apaixonando pelos poetas mais românticos, como Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Raimundo Corrêa… Ainda sei de cor vários poemas que decorei naquela época. Com esses interesses, era inevitável que eu, na então chamada Escola Secundária, optasse pelo Curso Clássico e não pelo Curso Científico. A bem da verdade, eu até que tentei cursar o Científico no Américo Brasiliense: mas não suportei um semestre de Física e Química… Fui fazer o Curso Clássico, como aluno interno, no Instituto “José Manuel da Conceição” (JMC), em Jandira, SP, escola privada, pertencente à Igreja Presbiteriana e com ligações com o Instituto Presbiteriano Mackenzie (mantenedor da Universidade Mackenzie). Meu pai já havia estudado no JMC na década de trinta. O Instituto era considerado a melhor via de acesso para o Seminário. Na verdade, era até mesmo chamado de “Seminário Menor”, em analogia com as instituições congêneres da Igreja Católica. Lá não precisei estudar Física e Química, e estudei apenas um pouco de Biologia e Matemática… Em compensação, estudei bastante Língua e Literatura Portuguesa, Francês (incluindo Literatura Francesa), Inglês (incluindo Literatura Inglesa e Americana), Latim, Grego Clássico, Filosofia (especialmente Lógica), Psicologia, História… – todas elas matérias em que eu tinha interesse e sempre me dei muito bem. Mas havia bem mais no JMC do que a vida acadêmica. Ouso mesmo dizer que os aspectos não- formais (extraclasse) da educação proporcionada no JMC me educaram mais do que as aulas a que assisti. Eu tinha de cuidar da limpeza e da arrumação do meu quarto, lavar a minha roupa, ganhar um dinheirinho trabalhando na escola… Além disso, participei de grêmios culturais (inclusive de debates e de literatura), clubes de língua estrangeira (Inglês e Francês), corais e conjuntos musicais, viagens e excursões, atividades esportivas variadas… Cantei duas vezes, com o coral da escola, dirigido pelo Maestro João Wilson Faustini (hoje dileto amigo), no Teatro Municipal de São Paulo, em programas especiais de Páscoa e Natal. No JMC a gente podia fazer as provas sozinho no quarto. A escola confiava na gente e a gente correspondia: ninguém, que eu saiba, ousava verificar nada nos livros ou nos cadernos que estavam ali à mão. Para completar o ambiente educacional, os professores moravam no mesmo pitoresco campus que nós – e, portanto, tínhamos acesso a eles o tempo todo. Freqüentemente tomávamos café ou mesmo refeições em suas casas. E eles nos emprestavam livros, revistas, discos… Ganhei meu primeiro Webster’s (completo!) do Prof. Fernando Buonaduce, professor de Latim. Ali descobri a literatura francesa, sob a orientação firme de minha mestra favorita, Profa. Maria Elza Fiuza Teles, e a literatura de língua inglesa, neste caso sob a orientação da Profa. Jean Pemberton. Li vários livros no original, fora das exigências dos cursos, apenas por prazer. Ficam em minha memória a leitura de Alexis Zorba, de Nikos Kazantzakis, na tradução para o Francês do original em Grego Βίος και Πολιτεία του Αλέξη Ζορμπά, e The House of Seven Gables, no original em Inglês de Nathaniel Hawthorne. Mas, acima de tudo, os professores conversavam bastante conosco, sobre suas matérias, sobre nossos planos para o futuro, sobre a
  • 3. vida em geral. E, importante, nos levavam a sério, como se fôssemos “gente grande”, seus pares e iguais… Descobri ali que adolescentes e jovens tendem a comportar-se como gente grande quando são tratados como adultos. No JMC minha educação deu um grande salto – mas nem tanto pelo conteúdo das aulas, que, em parte, com a exceção de algumas competências lingüísticas e lógicas e de alguns gostos pessoais, está devida e felizmente esquecido. O importante, ali, era o ambiente de aprendizagem que a escola proporcionava nos momentos extraclasse. No JMC criei dívidas intelectuais que só sou capaz de registrar, nunca de pagar, até porque os credores são, em alguns casos, bem difusos. Passo rápido pela educação de nível pós-secundário – porque, ao terminar o curso secundário, os meus interesses básicos estavam basicamente definidos… Depois do Clássico cursei Teologia, em Campinas, no Seminário da Igreja Presbiteriana do Brasil (também freqüentado pelo Rubem Alves alguns anos antes), e em São Leopoldo, na Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (onde as aulas, em 1966, eram ainda em Alemão). Não concluí o curso de Teologia no Brasil. O autoritarismo político se refletia dentro da Igreja Presbiteriana (embora não na Igreja Luterana – mas para estudar lá não tinha apoio eclesiástico e, por conseguinte, financeiro). Só fui completar o curso de Teologia nos Estados Unidos, no Seminário Teológico de Pittsburgh (Pittsburgh Theological Seminary), da Igreja Presbiteriana, onde também fiz o Mestrado em História do Pensamento Cristão (com ênfase na parte final da Idade Média, na Renascença e na Reforma). Meu desempenho no Mestrado me facilitou o acesso ao Doutorado na Universidade de Pittsburgh (University of Pittsburgh), na área da Filosofia do século XVIII – o Iluminismo. Meus amigos, Revs. Gordon E. Jackson, então em Pittsburgh, e Aharon Sapsezian, então em São Paulo, tornaram possíveis meus estudos nos Estados Unidos. Viver no exterior durante sete anos e estudar numa universidade estrangeira de renome e tradição (fundada no século XVIII) envolveu vários aprendizados importantes. Nesse período meu foco principal de interesse passou a se concentrar em questões filosóficas, especialmente as epistêmicas e políticas, que, para mim, se dividiam em questões mais teóricas (o que podemos conhecer e como?) e em questões de cunho mais prático (como devemos viver, no plano individual, e nos organizar como sociedade, no plano coletivo, e por quê?). Concluído o Doutorado, em 1972, dei aulas de Filosofia, durante dois anos, na Universidade Estadual da Califórnia (California State University), em Hayward, e nas Faculdades Integradas Claremont (Claremont Colleges), em Claremont, ambas as cidades na Califórnia. No último caso, fiquei lotado no Pomona College. As disciplinas que ministrei nessas duas instituições incluíram Metafísica, Teoria do Conhecimento, Ética, Filosofia Política, Lógica… O básico de um curso Introdução à Filosofia, só ficando de fora a Estética. Aprendi bem mais filosofia dando aulas do que assistindo a elas… Em 1974 vim para a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), como professor de Filosofia – mas acabei na Faculdade de Educação, responsável pela disciplina Filosofia da Educação, que eu nunca havia cursado, muito menos lecionado. Na realidade, nunca havia estudado Educação formalmente, antes de vir para a UNICAMP, e nunca fiz um curso sequer na área depois – o que, hoje percebo, foi uma enorme vantagem. Os cursos superiores na área da Educação são em geral muito ruins – aqui e lá fora. Fiz trinta e dois anos e meio de UNICAMP em 2006 e me aposentei, com grande alívio, ao final do ano. A vida acadêmica me ensinou bastante – mas também me cansou muito rápido… As comunidades universitárias do Brasil, com algumas honrosas exceções, e com a exceção de algumas áreas dentro das demais, são guetos esquerdizantes e socializantes voltados para a doutrinação político- ideológica, não raro de natureza claramente partidária. Do ponto de vista pedagógico, elas deixam muito a desejar – apesar de pretensiosas. Os anos na UNICAMP me serviram de inspiração – totalmente negativa, é evidente – para as ideias de um livro que comecei a escrever em 2001 e ainda não terminei… (embora erroneamente achasse que tinha terminado em Setembro de 2002). Aos leitores atentos deste blog se torna desnecessário sublinhar os meus pontos de discordância com a visão de educação que é, eu diria, quase hegemônica na Faculdade de Educação da UNICAMP e, até certo ponto, nas demais instituições congêneres do país. Essa visão só não foi totalmente hegemônica, no caso da Faculdade de Educação da UNICAMP, durante a maior parte do tempo em que lá estive, em virtude da existência de honrosas exceções ao catecismo vigente, especialmente dentro da área de Filosofia do Departamento de Filosofia e História da Educação, área em que estive
  • 4. lotado todos esses anos. Hoje essas exceções estão todas aposentadas, de modo que a hegemonia da esquerda foi finalmente alcançada. No início da década de oitenta, quando era Diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP, aconteceram alguns eventos que ensejaram um acréscimo especial aos meus interesses. Em 1981 oito diretores de faculdades ou institutos da UNICAMP, eu entre eles, todos nós candidatos a Reitor no (que eu saiba) primeiro processo democrático de escolha de Reitor tentado em uma universidade brasileira, fomos surpreendidos com nossa exoneração do cargo por uma Portaria do Reitor publicada em uma edição de sábado do Diário Oficial no mês de Outubro. Eventualmente consegui retornar ao meu cargo (no início de Dezembro) por força de uma decisão judicial, mas o episódio me fez dolorosamente consciente do fato de que a única coisa que eu realmente sabia fazer era dar aula em universidade… Se essa porta se fechasse… Os tempos ainda eram de ditadura. A partir daquele momento resolvi que, ao lado de minha vida acadêmica, teria sempre alguma atividade externa. Essa decisão deu uma direção totalmente diferente à minha vida. Em decorrência dessa resolução, decidi em 1982 comprar um computador e aprender a fazer alguma coisa útil com ele. No artigo anterior que publiquei neste blog esclareço a gênese de meu interesse em computadores. Comprei um Commodore 64 – aparentemente um dos primeiros lançados no mercado americano… Em seguida, ainda naquele ano, criei, com alguns colegas da Universidade (Maurício Prates, Saul d’Ávila, Paul Shepard, José Eustáquio da Silveira e Silva), uma empresa de treinamento e consultoria e decidi que iria me tornar pequeno empresário na área de treinamento e consultoria. A empresa existe até hoje, sob a batuta do Saul d’Ávila e seus filhos. Vendi-lhe minha parte há muito tempo. Ainda sou pequeno empresário até hoje – na verdade, hoje em dia, mais micro do que pequeno empresário. Aprendi muito nesse ofício. Às vezes de forma muito difícil, dolorida e até mesmo financeiramente onerosa. Minha desilusão com pessoas que considerava amigos, em alguns casos melhores amigos, foi quase total — e marcou indelevelmente a minha vida posterior. Mesmo dentro da Universidade, quando voltei para o meu cargo de Diretor da Faculdade da Educação da UNICAMP em 1981, resolvi acrescentar alguns novos interesses aos já antigos. Criei, em 1983, junto à Reitoria, o Núcleo de Informática na Educação (NIED), primeiro (que eu saiba) órgão interdisciplinar de pesquisa aplicada nessa área dentro de uma universidade brasileira. O NIED elaborou e submeteu ao Programa EDUCOM, coordenado pela Secretaria Especial de Informática, FINEP e MEC, o projeto da UNICAMP, que oportunamente foi um dos cinco selecionados para financiamento e implantação a partir de 1984. Coordenei o NIED e o Projeto EDUCOM da UNICAMP até 1986. Mas isso tudo está narrado em mais detalhe no artigo anterior neste blog. Contingências políticas dentro e fora da UNICAMP me levaram a ser colocado à disposição do governo do Estado de São Paulo, de 1986 a 1990, para dirigir, primeiro, o Centro de Informações Educacionais da Secretaria da Educação e, depois, o Centro de Informações de Saúde da Secretaria da Saúde. Nessa última função acabei me tornando consultor junto à Organização Pan-Americana da Saúde (Pan-American Health Organization), em Washington, e à Organização Mundial da Saúde (World Health Organization), em Genebra. Aprendi muito sobre informática, saúde e consultoria nesse trabalho. De volta à UNICAMP, estabeleci uma parceria da minha empresa (MindWare) com a Microsoft, em 1998, para a criação do site EduTec.Net e da comunidade virtual de aprendizagem colaborativa EduTec. A parceria durou cerca de quinze anos, até 2013. Em decorrência dessa parceria acabei sendo indicado pela Microsoft para participar de um programa que ela estava propondo ao Instituto Ayrton Senna, em 1999: o “Sua Escola a 2000 por Hora”. Ao longo de todo esse tempo minha identidade profissional foi se construindo: minha identidade mais especulativa, como homo academicus, especificamente como filósofo, vem, há bem mais de 25 anos, convivendo com minha identidade mais prática, como homo actionis, empresário e consultor. É a junção da vita contemplativa e da vita activa de que falavam os filósofos medievais… Sem essa junção nunca teria chegado aos meus interesses e aos meus pontos de vista atuais!