1. Língua Gestual Portuguesa
Língua Gestual Portuguesa (LGP) é a língua gestual através da qual grande parte
da comunidade surda, em Portugal, comunica entre si. É processada através de gestos
sistematizados e a sua captação é visual. É usada não apenas pela comunidade surda, de cerca
de 100 000 indivíduos, mas também por toda a comunidade envolvente, como familiares de
surdos, educadores, professores, técnicos, entre outros.
Esta língua é produzida por movimentos das mãos, do corpo e por expressões
faciais e a sua receção é visual. Tem um vocabulário e gramática próprios.
Há quem pense que a língua gestual, em todo o mundo, é igual, o que não é
verdade. Existem países com diversas línguas gestuais e em todo o mundo existem dezenas
de línguas gestuais diferentes.
Para acrescentar, como qualquer língua oral, a LGP possui variantes dentro do seu
próprio órgão (idioma), alterando, relativamente, de região para região e dependendo do grau
de instrução e das profissões dos surdos em cada uma das regiões. Existem, por isso, dialetos
regionais.
História
Inicialmente, em Portugal, a comunicação através da língua gestual era proibida.
Os surdos falavam entre si, através da língua gestual, clandestinamente. O governo não
reconhecia a LGP como língua materna das crianças surdas, tendo-as deixado à mercê da boa
vontade (ou não) dos professores do ensino regular.
Entre grupos restritos de surdos, sem qualquer forma de poder ser fixada,
uniformizada ou padronizada, a LGP foi-se desenvolvendo. (Não havia intérpretes nas
escolas, todos os surdos eram obrigados a comunicar-se oralmente, no entanto, a língua
gestual tinha já uma estrutura forte).
Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República
Portuguesa, «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar
a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação
e da igualdade de oportunidades». Assim sendo, desde 1997, a Língua Gestual Portuguesa
passou a ser uma das línguas oficiais de Portugal, junto com a Língua Portuguesa e o
Mirandês.
2. Aspetos linguísticos
Ao realizar a LGP, o gestuante terá uma 'mão dominante', cujo desempenho poderá
diferir da 'mão não dominante'. Ao realizar o gesto, este deverá atender aos 5 parâmetros da
LGP:
Configuração das mãos;
Local de articulação;
Movimento das mãos;
Orientação das mãos;
Componente não manual (expressão e movimento corporal).
Ao ser alterado um destes parâmetros, usualmente, o gesto muda de sentido ou
perde o sentido.
Na LGP, a marcação do género ocorre unicamente no caso dos seres animados e
geralmente o mesmo só é marcado quando ocorre no feminino, recorrendo-se ao gesto
MULHER, como prefixo.
A fim de se marcar o número, na LGP existem vários métodos: por repetição, por
redobro (realização do gesto por ambas as mãos) ou por incorporação (recurso a um numeral
ou determinativo).
Relativamente à ordem dos elementos na frase em LGP, esta usa uma estrutura
específica, não acompanhando a mesma ordem das frases da língua portuguesa.
Não existe consenso quanto à ordem predominante: alguns linguistas afirmam que
pode ser 'sujeito-objeto-verbo' (S-O-V), outros que é 'objeto-sujeito-verbo' (O-S-V). Nas
frases interrogativas, recorre-se à expressão facial, combinada com o recurso a pronomes
interrogativos, que ocorrem no final da frase. As frases negativas podem ser elaboradas de
diversas maneiras, por exemplo, recorre-se à expressão corporal, especialmente o movimento
da cabeça, ou executa-se o gesto NÃO ou ainda utilizando uma forma específica de verbo na
forma negativa, como por exemplo NÃO QUERER.
Na LGP não existe discurso indireto. As mudanças do discurso indireto para o
direto fazem-se através da expressão corporal, mais especificamente, à deslocação do
gestuante no espaço, transferindo para cada uma das posições, papéis diferentes.