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Leonardo Susumu Takahashi
Jaqueline Dalbello Biller
Karina Manami Takahashi
BIOCLIMATOLOGIA
ZOOTÉCNICA
1ª Edição
Jaboticabal
2009
© 2009 - Todos os direitos reservados
Leonardo Susumu Takahashi
Jaqueline Dalbello Biller
Karina Manami Takahashi
Diagramação e capa: Renato Trizolio
Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização
expressa dos editores.
Takahashi, Leonardo Susumu
T136b Bioclimatologia zootécnica / Leonardo Susumu Takahashi,
Jaqueline Dalbello Biller, Karina Manami Takahashi. -- Jaboticabal :
2009.
91 p. ; il. ; 21 cm
Inclui bibliografia
ISBN:
1. Bioclimatologia. 2. Termorregulação. 3.Adaptação e evolução.
I. Biller, Jaqueline Dalbello. II. Takahashi, Karina Manami. III. Título.
CDU 591.54
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da
Informação - Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - Unesp, Câmpus de
Jaboticabal.
APRESENTAÇÃO
Leonardo Susumu Takahashi: Engenheiro Agrônomo (ESALQ-
USP, 2001), Mestre em Zootecnia (FCAVJ-UNESP, 2003), Doutor em
Zootecnia (FCAVJ-UNESP, 2007), Pós-Doutorando (FCAVJ-UNESP,
2008-2009), atualmente docente da Faculdade de Zootecnia – Campus
Experimental de Dracena – UNESP.
Jaqueline Dalbello Biller: Médica Veterinária (FCAVJ-UNESP,
2005), Mestre em Zootecnia (FCAVJ-UNESP, 2008), Doutoranda em
Zootecnia (FCAVJ-UNESP).
Karina Manami Takahashi: Engenheira Agrônoma (FCAVJ-
UNESP, 1998), Mestre em Agronomia (FCAVJ-UNESP, 2001), Doutora
em Entomologia Agrícola (ESALQ-USP, 2005), Pós-Doutorada em
Entomologia (ESALQ-USP, 2007).
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelas nossas vidas e luz e proteção em todos os
momentos.
Agradecemos especialmente ao emérito Docente e Pesquisador
Prof. Dr. Roberto Gomes da Silva, pelos ensinamentos e vasto material
científico, sendo que alguns dados estão aqui apresentados para
enriquecer este trabalho, sem os quais não teria nenhum respaldo.
Aos demais ilustres pesquisadores que divulgaram seus trabalhos
na área, que também serviram para enriquecer este trabalho.
À direção, aos colegas e acadêmicos do Curso de Zootecnia do
Campus Experimental de Dracena – UNESP, pelo apoio e estímulo
nesta luta em prol da Zootecnia Brasileira.
Aos nossos pais, pela realização pessoal de cada um de nós,
pelo apoio em todas as horas e também pela participação em nossos
momentos de alegria.
Os autores
SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOCLIMATOLOGIA .................. 1
II. O MEIO AMBIENTE E ESTUDOS CORRELATOS ........................ 3
1. Generalidades ................................................................................ 3
2. Principais ciências que estudam o ambiente ................................. 5
3. Elementos e fatores que atuam no meio ambiente ........................ 8
III. CONFORTO TÉRMICO .............................................................. 13
1. Generalidades .............................................................................. 13
2. Calor corpóreo ............................................................................. 14
3. Radiação solar e suas implicações .............................................. 14
4. Sombreamento e radiação ........................................................... 18
5. Radiação refletida e emitida pelo Sol........................................... 19
6. Determinação do estresse causado pela radiação ...................... 20
7. Índices ambientais ....................................................................... 21
IV. TERMORREGULAÇÃO .............................................................. 24
1. Generalidades .............................................................................. 24
2. Mecanismos de transferência de energia térmica........................ 25
3. Regulação da temperatura corporal............................................. 29
V. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO
ESPECÍFICA DOS ANIMAIS....................................................... 33
1. Generalidades .............................................................................. 33
2. Efeito do estresse térmico e termorregulação em aves ............... 35
3. Efeito do estresse térmico e termorregulação de bovinos ........... 40
4. Efeitos do estresse térmico e termorregulação em suínos .......... 44
5. Efeito do estresse térmico e termorregulação em outros
animais......................................................................................... 46
VI. ADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS ............................. 48
1. Generalidades .............................................................................. 48
2. Noções gerais da adaptação e evolução dos animais ................. 49
3. Aspectos morfológicos e fisiológicos preponderantes na
adaptação dos animais ................................................................ 50
4. Adaptação e evolução por espécies ............................................ 61
VII. ATUAÇÃO DO HOMEM NO BEM-ESTAR DOS ANIMAIS ........ 67
1. Generalidades .............................................................................. 67
2. Estratégias de alimentação e conforto térmico ............................ 68
3. Atuação do homem no bem-estar das aves ................................. 69
4. Atuação do homem no bem estar dos bovinos ............................ 74
5. Atuação do homem no bem estar de suínos................................ 78
VIII. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................ 84
APÊNDICE ....................................................................................... 91
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Fontes de radiação térmica sobre o animal. Pode ser
observada a radiação solar de ondas curtas (a); radiação de
ondas curtas refletidas pelas nuvens (b); radiação de ondas
longas emitidas pelo Sol e refletidas nas nuvens (c); radiação
celeste de ondas curtas (d); radiação de ondas longas emitidas
por corpos e objetos vizinhos (e); radiação de ondas longas
emitidas pelo solo (f) e radiação de ondas curtas refletidas na
superfície do solo (g) (SILVA, 2000) .......................................... 17
Figura 2. Carga de energia recebida pelo animal ao sol (70 cal/
HS/cm²) e à sombra ................................................................... 18
Figura3.Esquemadocontroledatemperaturacorporal(MULLER,
1982) .......................................................................................... 23
Figura 4. Representação esquemática da troca de calor de um
ovino (CUNNINGHAM, 2004). ................................................... 25
Figura 5. Esquema de transferência de calor (CUNNINGHAM,
2004). ......................................................................................... 27
Figura 6. Representação esquemática simplificada do processo
de termorregulação (SILVA, 2000 .............................................. 28
Figura 7. Esquema da superfície cutânea....................................... 44
Figura 8. Camadas da epiderme (SILVA, 2000).............................. 46
Figura 9. Esquema da melanogênese (SILVA, 2000). .................... 46
Figura10.Representaçãoesquemáticadeummelanócitoinserido
entre células da camada basal da epiderme (SILVA, 2000) ...... 46
Figura 11. Formação dos grânulos de melanina nos melanócitos
(SILVA, 2000). ............................................................................ 46
Figura 12. Folículo secundário de ovino (A) e folículo piloso
primário (B) (SILVA, 2000). ........................................................ 47
Figura 13. Folículo piloso (MULLER, 1982). ................................... 48
Figura 14. Localização da glândula sudorípara do tipo écrina
(MULLER, 1982). ....................................................................... 49
Figura 15. Localização da glândula sudorípara do tipo apócrina
(MULLER, 1982). ....................................................................... 50
PREFÁCIO
Ainda na primeira década do século XXI, deparamo-nos com
artigos assustadores, que no primeiro momento nos chocam e parecem
até exagero, mas fatos comprovados não deixam dúvidas.
Citamos aqui apenas alguns deles: “O mundo está
derretendo”, afirmando que, pelas análises de milhares de pesquisas
avaliando o aquecimento global, concluiu-se que a sobrevivência do
planeta está em alerta vermelho e que somos culpados por isso; ou
“catástrofe todos os anos”, esclarecendo que o Instituto Federal de
Ciência e Tecnologia da Suíça prevê o futuro dominado pelos extremos
climáticos (CHARÃO, 2006) ou, ainda, “Satélites comprovam o
aquecimento global”, diz a NASA, informando que a temperatura
média global aumentou 0,43°C por década, entre os anos 1981 a
1998. Em termos mais conciliadores, Cicerone (2007) publicou um
artigo intitulado “Em nome dos nossos filhos” em que o autor não
prega o abandono radical dos hábitos modernos o qual induz o
aquecimento global, mas conclui que: “quanto mais ações em prol
do ambiente tomar hoje, mais opções terão os nossos filhos e
netos”.
Com muita alegria e renovada esperança, deparamos com o
artigo de Marques (2008), na Revista PESQUISA DA FAPESP – 151
(setembro de 2008), com destaque na capa: “Mudanças climáticas –
Especialistas de várias áreas se organizam para entender e
enfrentar os novos tempos”, quando foram convocados cientistas de
várias áreas a participarem do lançamento oficial, no dia 21 de agosto
do “Programa FAPESP de pesquisa sobre mudanças climáticas
globais”, no qual serão investidos R$ 100 milhões em dez anos, sendo
um dos temas:As mudanças climáticas sobre a agricultura e a pecuária.
Sem dúvida, é uma grande notícia que nos dá esperança de um futuro
melhor, ao constatar que lideranças de renomada e importante instituição
estão preocupando se e abrindo a possibilidade de os pesquisadores
disporem de recursos para estudar e, quem sabe, encontrar meios de
minimizar o efeito catastrófico do aquecimento global.
Neste panorama assustador e ao mesmo tempo animador,
elaboramos este trabalho de forma simples e didática, com o intuito de
oferecer subsídios para aqueles que se interessam pela bioclimatologia
zootécnica, com esperança de contribuir não somente para o
melhoramento quantitativo e qualitativo da produção animal, visando
apenas à lucratividade da criação, mas sobretudo e principalmente
visando ao bem-estar dos animais sob nossa responsabilidade.
I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOCLIMATOLOGIA
Para melhor compreensão da bioclimatologia, é necessária, antes
de tudo, a análise detalhada dos fenômenos naturais e dos conceitos
destes fenômenos, pois a bioclimatologia nada mais é do que o estudo
dos fenômenos naturais do ambiente, influenciando a vida animal e
vegetal.
Conforme Baccari Jr. (1986), os primeiros passos sobre a
bioclimatologia foram dados por Hipócrates, filósofo grego, que há 2.000
anos elaborou o tratado “Ar, água e lugares”, mas estudos nessa área
têm evoluído nestes dois mil anos.
Algumas definições da bioclimatologia surgiram, tal como a de
Baccari Jr (1986), definindo esta ciência como “ramo da climatologia
e da ecologia, que trata dos efeitos do ambiente físico sobre os
organismos vivos” e também a de Tito (1998), conceituando a
bioclimatologia animal como “ciência que busca entender as relações
entre elementos climáticos e a fisiologia animal, tendo como
perspectiva a superação de barreiras (limitações) impostas pelo meio
ambiente sobre a expressão do potencial genético dos animais”.
Segundo Silva (2000), a bioclimatologia é “o campo especializado da
climatologia que se ocupa das relações entre biosfera e atmosfera, e
é também compartilhada com a ecologia”.
Então, bioclimatologia animal é a ciência que busca entender as
relações existentes entre os elementos climáticos e a fisiologia animal,
tendo como meta o bom desempenho animal de acordo com o potencial
genético.
Segundo Pereira (2005), mudanças climáticas têm causado
transtornos biológicos, e todas as regiões vão ser afetadas pelos efeitos
negativos do aquecimento global, pelas ações devastadoras provocadas
pelo homem ao meio ambiente, penalizando principalmente os países
pobres e subdesenvolvidos que têm aumentado a frequência e a
intensidade, do que é conhecido como “acontecimentos extremos”.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 1
Chuvas intensas, inundações, deslizamentos e avalanches
ocorridos no final de novembro de 2008, em Santa Catarina, não seriam
consequência das alterações do clima provocados pelo homem? E o
calor intenso (o efeito estufa) e a falta de chuva no sertão brasileiro,
será que algum dia, poderão ser pelo menos atenuados? Tudo isso nos
faz lembrar as sábias palavras de Cicerone (2007): “quanto mais ações
hoje contra o aquecimento global, melhor para as futuras gerações” ou
ainda: “quanto mais ações em prol do ambiente forem tomadas hoje,
mais opções terão nossos filhos e netos”.
Mas não basta apenas despertar para o problema, são
necessárias bases científicas para a solução ou, pelo menos para
atenuar os problemas destacados no artigo de Fabrício Marques, na
revista Pesquisa – FAPESP nº 151, de setembro de 2008, “Caapiranga,
no Amazonas, em outubro de 2005: o lago virou sertão”; “Seca em
Manaus e tornado em Florianópolis: eventos extremos”; “Cheia no rio
Tocantins invade Marabá: impacto provável no regime de chuvas”;
“Poluição em São Paulo: risco de doenças respiratórias podem
aumentar”. Esses são alguns fenômenos desastrosos apresentados pelo
autor, mas com certeza ocorreram muitos outros.
No momento, creio não ser oportuno apenas identificar os
culpados e aplicar sanções que, na maioria das vezes, são ineficazes,
é necessária a conscientização dos problemas e, como enfatiza
Fernando Henrique Cardoso: “o esforço dos cientistas também deve
ser direcionado a informar e envolver a sociedade, a fim de que o
conhecimento gerado se transforme em ações concretas”, concluindo
que: “Sem a pressão da sociedade não há cobranças e as coisas
acontecem com mais dificuldades”.
Enquanto as soluções para os problemas não aparecem, nós,
os pesquisadores na área zootécnica, devemos conhecer melhor as
adversidades impostas aos nossos animais, encontrar meios de
interferência, de forma que os animais sob nossa responsabilidade,
consigam ter melhor produtividade e, sobretudo, contribuir para o bem-
estar desses animais.
2 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
II. O MEIO AMBIENTE E ESTUDOS CORRELATOS
1. GENERALIDADES
O ambiente físico é constituído por quatro domínios que trocam
energia entre si, sem nenhuma dominância entre eles. São eles:
litosfera, hidrosfera, biosfera e atmosfera.
Litosfera é a parte externa consolidada da terra, a crosta terrestre
ou solo com suas características particulares, com grandes variações
na composição de local para local, pela sua origem e estado de
transformação ao longo do tempo, desde o regolito, que é solo na sua
formação sem atuação de nenhum organismo, até o solo com
possibilidade de vida biológica.
Hidrosfera como o próprio nome já diz, é o domínio das águas
oceânicas e continentais da superfície terrestre.
Biosfera é a superfície da litosfera onde se encontram os seres
vivos, a porção da terra onde atua o ecossistema, isto é, o solo, a água
e o ar biologicamente habitados. Em resumo, todos os seres vivos
utilizam, na sua constituição, a água da hidrosfera, o nitrogênio e outras
fases da atmosfera e os minerais da litosfera.
Atmosfera corresponde a camada que envolve a terra,
constituída na sua maior parte por um reduzido número de elementos.
Na atmosfera estão os gases “permanentes” ou “não variáveis” cuja
concentração na atmosfera é aproximadamente constante (até 90 km
de altura), e os “variáveis” representados pelos demais. Os constituintes
de ar atmosférico estão apresentados na Tabela 1.
A atmosfera terrestre possui uma estrutura vertical extremamente
variável quanto a inúmeros aspectos: composição, temperatura,
umidade, pressão, movimento, etc.
Troposfera é a camada mais baixa da atmosfera que está em
contato direto com a superfície da Terra. Tem a espessura de cerca de
18 km nas proximidades do equador, diminuindo para 8 km perto dos
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 3
polos. É bastante instável e é nela que ocorrem os fenômenos
meteorológicos mais importantes.
Estratosfera estende-se desde os limites superiores da
troposfera até cerca de 45 km de altitude, sendo relativamente estável.
Apresenta correntes horizontais de ventos fortes, que tendem a dispersar
as partículas sólidas e gasosas que invadem esta área. Nesta camada
existem poucas nuvens.
Mesosfera é a camada que se estende entre 45 e 75 km de
altitude.
Ionosfera é a camada entre 75 e 400 km de altitude e representa
o limite entre a atmosfera e o espaço exterior. Embora nessa grande
altitude a concentração de oxigênio seja muito baixa, é nessa camada
que se forma o ozônio (O3,) pela ação da radiação ultravioleta.
Para fins meteorológicos, porém, é importante saber o que ocorre
na troposfera, que é a primeira camada da atmosfera onde ocorre a
maioria dos fenômenos meteorológicos.
Tabela 1. Constituintes do ar atmosférico.
4 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
2. PRINCIPAIS CIÊNCIAS QUE ESTUDAM O AMBIENTE
O ambiente é estudado por várias ciências, cada uma atuando
em áreas diferentes, para que, em seu conjunto, possamos entender a
natureza e com isso, tentar esclarecer as causas, quando houver, e
minimizar os efeitos negativos dos fenômenos naturais. E desta maneira
preservar a natureza e, ao mesmo tempo, promover o bem- estar dos
animais e vegetais.
2.1. Ecologia
A ecologia é a ciência que trata das inter-relações entre os seres
vivos e o ambiente físico. Dependendo do ser vivo em estudo, a ecologia
divide-se em Ecologia Animal, que estuda a relação entre os animais
e o meio, Ecologia Vegetal, que estuda a relação entre os vegetais e o
meio e Ecologia de Micro-organismos, que estuda a relação entre os
microorganismos e o meio.
2.2. Meteorologia
Ramo da física que se ocupa dos fenômenos atmosféricos
(meteoros). O seu campo de atuação abrange o estudo das condições
atmosféricasemdadoinstante(o“tempo”),dosmovimentosatmosféricos
e das forças que os originam (dinâmica da atmosfera), do estudo das
condições médias e das flutuações temporais da atmosfera em um local
(clima), definindo-se as especialidades básicas.
2.3. Climatologia
Climatologia estuda o clima e suas características num
determinado lugar ou região. O clima é determinado pelos estudos de
vários fatores que são denominados de fatores climáticos, que são de
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 5
ordem astronômica, meteorológica e geográfica, por um período médio
de 10 a 30 anos.
Os elementos climáticos, como temperatura, umidade,
precipitação, ventos, radiação, pressões barométricas e ionização, são
efeitos ou condições de momentos que derivam dos fatores climáticos
mais constantes ou de características locais. Alguns desses fatores,
como latitude, altitude, distribuição da terra, da água e contornos dos
continentes, são físicos, já as correntes marítimas e vegetação são
dependentes intermediários entre fatores físicos e os elementos
climáticos.
Entre os fatores de ordem meteorológica, podemos citar as
massas de ar que podem estagnar num determinado local, influenciando,
sobretudo, a temperatura, pelo tempo em que estiverem paradas neste
local. Além disto, essas massas podem locomover-se para outras
regiões,modificandoascaracterísticasdasregiõesparaondesemovem.
De acordo com a latitude da região onde se formam essas massas são
denominadas de equatorial, tropical, ártica ou polar ou, ainda,
classificando-se de acordo com a área, oceânica ou terrestre, sendo
chamadas de marítima ou continental.
Outro fato meteorológico é a camada da atmosfera, pois a massa
gasosa da Terra é formada de várias camadas que são atravessadas
pela radiação solar. Essa intensidade sobre a superfície terrestre
modifica-se bastante. O total de energia radiante emitida pelo Sol sobre
a Terra tem o seguinte destino: parte é difundida nas camadas
atmosféricas e perdida nas nuvens, outra parte é refletida pela atmosfera
e perde-se, e, portanto, a energia radiante que chega à superfície
terrestre é em torno de 1/3 da energia emitida pelo Sol (SILVA, 2000), e
quando existem fatores que favorecem maior incidência de radiação
solar na Terra, ocorre maior contribuição para o aquecimento global.
Um fator de ordem meteorológica muito importante é o limite de
disponibilidade solar para a produção de alimento humano que está
diretamente relacionado à produção e utilização de carbono, elemento
6 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
fundamental na formação de vida. Um homem de 70 kg de peso possui
12 kg de carbono na constituição (MULLER, 1982), e para poder então
a humanidade manter o consumo de carbono, o homem teria de
alimentar-se do seu semelhante. Porém, existe na natureza a
fotossíntese, fenômeno biológico em que os vegetais são capazes de
transformar a energia radiante em energia química, utilizando o CO2
disponível na atmosfera, incorporando-o no vegetal que alimenta o
homem e os animais que também são consumidos pelo homem, o que
podemos chamar de conversão de energia solar em alimento humano.
Muller (1982) apresenta dados bastante interessantes sobre a superfície
do solo necessária para produzir energia alimentícia para o homem em
um ano, que são: alga – somente 1 m² seria o suficiente, batata – seriam
necessários 600 m², leite – 1.500 m², carne de suíno – 4.000 m², e ovos
– 20.000 m².
Nos fatores geográficos, o elemento de maior influência é a
latitude, pois o Hemisfério Norte apresenta 39,3% de solo e 60,7% de
água, o Hemisfério Sul, a terra apresenta apenas 10,1% e a água 89,7%.
Portanto, o Hemisfério Norte apresenta menor quantidade de água,
fator este que produz influencia o clima de cada região. Caso a Terra
fosse fisicamente uniforme, o verão seria mais quente e o inverno mais
frio no Hemisfério Sul pela inclinação do eixo da Terra em relação ao
Sol. Porém, tal fato não ocorre pela quantidade de água ser maior no
Hemisfério Sul, e a energia do Sol é absorvida pela água dos oceanos,
ocorrendo o seguinte: a água fria de baixo para cima libera frio, resfriando
mais a Terra no verão e no inverno ela libera calor, amenizando o frio no
Hemisfério Sul.
2.4. Bioclimatologia
Entre as mais variadas definições sobre bioclimatologia, a forma
mais simples e ao mesmo tempo mais ampla, é a que define como o
estudo da inter-relação entre clima, solo, planta e animais,
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 7
complementado como um ramo da ecologia que estuda as reações e
adaptações dos organismos vivos no ambiente em que vivem. Na área
zootécnica, em países de clima quente como o nosso, um dos objetivos,
senão o principal, é estudar o efeito do estresse térmico pelo excesso
de calor sobre o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais.
Através desse estudo, definem-se o tipo e disposição das instalações e
os métodos de manejo, com o objetivo de minimizar o efeito ou
proporcionar o conforto térmico.
3. ELEMENTOS E FATORES QUE ATUAM NO MEIO AMBIENTE
Elementos não variáveis que caracterizam o estado da atmosfera
e os fatores são agentes casuais que condicionam os elementos
climáticos, determinando o clima da região. Pois clima, segundo
Köeppen, é o somatório das condições atmosféricas que fazem um
lugar da superfície ser ou não ser habitável pelos homens, animais e
plantas, ou ainda, clima é a interação de fatores meteorológicos que
conferem a uma região suas características e sua individualidade
(THORNTHWAITE, 1948). Os principais agentes que atuam no ambiente
são:
Radiação solar: a vida na Terra depende da radiação solar.
Segundo Silva (2000), toda energia para os processos físicos e
biológicos da superfície terrestre provém do Sol, e muitos aspectos da
bioclimatologia envolvem fenômenos de transferência destas energias
em sua forma radiante. Apesar da importância fundamental e vital para
a biosfera, apenas em torno de 30 % da radiação solar são absorvidos
pela Terra.
Temperatura do ar: a temperatura é medida de acordo com a
quantidade de calor do ar. O calor recebido do Sol a Terra conserva e
irradia para a atmosfera, daí a diferença de temperatura entre o dia de
temperatura mais alta e a noite de temperatura mais fria. Porém, pelo
8 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
fato da superfície terrestre absorver e irradiar o calor, o início da noite é
geralmente mais quente que a madrugada, antes de nascer o Sol.
A temperatura do ar sofre influência de vários fatores, como:
horário do dia, sendo geralmente observada temperatura mais alta por
volta das 15 h e mais fria durante a madrugada, estação do ano, sendo
a estação mais fria o inverno e a mais quente o verão, pela distância da
Terra e do Sol em sua translocação durante o ano, ocorrendo em
altitudes menores temperaturas maiores, isto porque a camada de ar
está mais distante da superfície da Terra, que irradia calor, além do ar
rarefeito absorver menos calor, latitude, isto é, à medida que nos
distanciamos da linha do equador, a temperatura torna-se mais baixa,
porque sobre o equador os raios solares incidem perpendicularmente,
e à medida que nos afastamos em direção ao pólo, aumenta a inclinação
dos raios solares, nebulosidade, pois as nuvens diminuem a dispersão
de massas aquecidas para camadas mais altas, por isso as noites
estreladas e sem nuvens são sempre mais frias, distribuição das terras
e águas, pois a água demora mais para aquecer e também para esfriar
que a terra, além de outros fatores, tais como a vegetação, corrente
marítima, ventos, chuvas e construção de alvenaria, asfalto, etc.
A temperatura é medida por termômetros, que podem diferir de
acordo com o elemento sensível (mercúrio, álcool e hidrocarboneto),
sendo o mais utilizado o mercúrio, pela sua precisão. Quanto à escala,
pode ser em graus centígrados ou em graus Fahrenheit, sendo o mais
usual o centígrado, cuja escala vai de 0°C (gelo fundente) a 100 °C
(água em ebulição), 0 °C corresponde a 32 °F, e 100 °C corresponde a
212 °F. De acordo com a temperatura durante o ano, segundo Köeppen,
as zonas térmicas são divididas da seguinte forma:
Zona tropical: pequena variação de temperatura, com calor
durante o ano, não menor de 20 °C.
Zona subtropical: temperatura acima de 20 °C, de 1 a 8 meses,
diferença de temperaturas máximas e mínimas de 7 a 18 °C, de acordo
com a altitude e a latitude.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 9
Zona temperada: temperatura inferior a 20 °C, no mínimo 8 meses
ao ano, com estações bem definidas.
Zona fria: apenas 4 meses com temperatura acima de 10 °C,
sem verão.
Zona polar: temperatura abaixo de 10 °C o ano todo.
Pressão atmosférica: a pressão atmosférica equivale ao peso de
uma coluna de mercúrio com 760 mm de altura e 1 cm² de base ao
nível do mar, e é medida geralmente por barômetros de mercúrio, por
ser mais exato.Apressão varia de acordo com a hora do dia e a estação
do ano, em função da temperatura e possui grande variação de acordo
com a altitude. Com o aumento da altitude, diminui a densidade das
camadas de ar, até a altitude de 300 m e a cada 10 a 11 m diminui 1 mm
na pressão atmosférica.Ao nível do mar, ou seja, altitude zero, a pressão
atmosférica é de 760 mm, diminuindo à medida que a altitude sobe; por
exemplo, a 20.000 m de altitude, a pressão é de 41 mm.
A pressão atmosférica é importante no deslocamento do ar no
sentido horizontal. Pois o vento, na existência de um gradiente de
pressão atmosférica, desloca-se da região de maior para a de menor
pressão.
Vento: com a movimentação das massas de ar de uma região de
maior pressão para outra de menor pressão, formam-se os ventos, cuja
intensidade varia de acordo com este gradiente de pressão, mas a sua
velocidade é influenciada pelas características da superfície terrestre,
ou seja, pela existência ou não de vegetação, de montanhas ou de
outros acidentes geográficos como vale, água, etc. Outro fator muito
importante que deve ser considerado é a velocidade e a direção dos
ventos em função da diferença de como se aquecem e se esfriam a
terra e a água. Por exemplo, as brisas aparecem nas regiões banhadas
pelo mar durante o dia (10 h até o entardecer), a brisa marítima sopra
do mar para a terra, pois a terra se aquece mais depressa do que a
água do mar. Durante a noite, a brisa tem o sentido contrário, isto é,
sopra do continente para o mar, sendo denominada de brisa terrestre,
pois a terra esfria mais depressa que o mar.
10 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Umidade atmosférica: existem duas formas de se expressar a
umidade atmosférica: a) umidade absoluta, que é o peso do vapor de
água contido em 1 m³ de ar, conforme a temperatura pode variar esta
quantidade, e b) umidade relativa do ar, que é a relação existente entre
a quantidade de vapor de água contida no ar e a quantidade máxima
que pode suportar, a uma dada temperatura, sem que ocorra a
precipitação.
Nebulosidade atmosférica: quando o ar atmosférico está saturado
de vapor de água ele sofre uma diminuição de temperatura, ocorrendo
a condensação, formando gotas de água em suspensão no ar e
provocando o nevoeiro ou as nuvens. A formação dessa suspensão de
gotículas de água na atmosfera pode ser causada pela mistura de duas
massas de ar de temperaturas diferentes, passagem de massas de ar
quente por uma superfície fria, e vento frio sobre uma superfície líquida
mais quente.
Denomina-se de nevoeiro a nebulosidade que se forma na
camada inferior da atmosfera na superfície terrestre, e de nuvens,
quando se forma na camada mais elevada, com nomenclatura diferente
conforme a altura. De 8.000 a 11.000 m, recebe a denominação de
cirros, de 2.000 a 6.000 m, cúmulos, de 500 a 1000 m, estratos, e quando
são bem baixas e secas, nimbos.
Precipitação atmosférica: as precipitações que ocorrem na
superfície terrestre podem ser orvalho, geralmente formado em noites
claras e sem vento, quando a superfície terrestre fica mais fria que o ar.
Neste caso, o vapor de água precipita-se em gotículas, cobrem objetos
e vegetação e quando a temperatura da superfície fica menor que 0°
C, o orvalho congela e produz a geada.
As precipitações que ocorrem na troposfera são resultantes do
encontro de camadas de ar frio com uma nuvem saturada de vapor,
formando gotículas que se congelam em pequenos cristais hexagonais
e se precipitam, formando neve. Ou granizo, quando a precipitação
resultante do vapor de água contida na nuvem cai em pequenas gotas
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 11
congeladas que em contato com a camada fria da atmosfera chegam
ao solo em forma de pedras de gelo, por isso são conhecidas
vulgarmente como “chuva de pedra”.
As chuvas, importantes entre as precipitações, ocorrem quando
nuvens saturadas de vapor de água, em contato com uma camada de
ar frio, precipitam-se em gotas de água.Aquantidade de água da chuva
é medida pelo pluviômetro e é dada em mm, podendo ser medida em
uma única chuva ou acumulada em um mês ou ano. É importante
conhecer o total de chuvas caídas em um ano, porém é mais importante
ainda a distribuição durante o ano.Através destes dados, temos o regime
pluviométrico, sempre medido em mm.
12 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
III. CONFORTO TÉRMICO
1. GENERALIDADES
Conforto térmico para animais homeotérmicos é quando o
animal se encontra em um ambiente de equilíbrio térmico, ou seja,
situação em que o animal não necessita mobilizar os recursos de
termorregulação para se ajustar às condições ambientais. Portanto,
o animal não sofre estresse pelo frio ou pelo calor. Nestas condições,
desde que alimentado adequadamente, o animal apresenta o máximo
do desempenho produtivo de acordo com o potencial genético.
Os limites de temperatura ideal para o conforto animal estão
condicionados a vários fatores, tais como: espécie, raça, peso, idade,
estado fisiológico, condição nutricional e fatores ambientais variados.
Segundo Silva (2000), alguns autores determinam o conforto térmico
de várias espécies de animais, baseando-se na umidade e na
temperatura. É bem verdade que estes dois fatores são determinantes,
porém é importante que se considere, também, a radiação solar, para
não corrermos o risco de não considerar a diferença entre animais
mantidos no interior de um abrigo à sombra e sob o sol direto. Outro
fator que pode atuar na termoneutralidade é o vento. Em um ambiente
com a mesma temperatura, mesma umidade do ar e mesma
intensidade da radiação solar, a presença do vento influencia
diretamente no bem-estar do animal.
A importância do conforto animal reside no fato de que, na
termoneutralidade, o gasto de energia para a mantença do animal
ocorre a nível mínimo e desta forma, a energia metabolizada pode
ser direcionada quase que na totalidade para os processos produtivos,
não ocorrendo o consumo de energia de que todo e qualquer
mecanismo de termorregulação necessita.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 13
2. CALOR CORPÓREO
Para as funções básicas, ou seja, para as reações químicas do
organismo, os animais dependem da temperatura corpórea.Aelevação
da temperatura acelera as reações provocando uma diminuição das
atividades. Para que não ocorram essas flutuações nas funções
fisiológicas pela variação da temperatura, os animais homeotérmicos
desenvolveram um meio pelo qual a temperatura corporal é mantida
relativamente constante, diferentemente dos animais pecilotermos, cuja
temperatura corporal varia com a temperatura ambiente.
As temperaturas das partes do corpo podem diferir devido às
diferentes taxas metabólicas, ao fluxo sanguíneo ou a distância da
superfície. O fígado e o encéfalo podem ter uma temperatura mais alta
do que o sangue. A temperatura central do corpo é mais alta do que a
temperatura dos membros e das orelhas ou qualquer outra parte externa
do corpo. Isto acontece porque a produção de calor interno é
consequência do metabolismo que, no processo de reações químicas
do alimento, gera calor, e quanto mais distante da fonte de calor, menor
a quantidade de calor.
Considerando que o sangue circulante é um distribuidor de calor
corpóreo, o calor pode ser levado e exposto a um gradiente de
temperatura na superfície da pele e dissipado para o meio ambiente. A
facilidade ou não da dissipação de calor para o ambiente depende
basicamente dos fatores ambientais e, particularmente, da temperatura
do ambiente, que é diretamente proporcional à intensidade da radiação
solar.
3. RADIAÇÃO SOLAR E SUAS IMPLICAÇÕES
A radiação solar é uma energia eletromagnética de ondas curtas,
que atinge a Terra e é a fonte principal de calor no ambiente, portanto é
14 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
imprescindível para a vida na Terra. Da energia solar, grande parte é
perdida na atmosfera, da seguinte forma:
• Por reflexão: 30% são refletidas pelas camadas de nuvens de volta
para o espaço, e 6% são refletida pela superfície terrestre.
• Por absorção: 15% são absorvidas na atmosfera pelo vapor de água,
CO2
e partículas (aerossóis) e 3% são absorvidas na ionosfera, na
formação de ozônio.
• Pordispersão:15%sãodispersadaspelaspartículassólidasegasosas.
Portanto, da radiação solar, apenas 31% atingem a superfície
terrestre.
As parcelas da radiação que atingem a superfície da Terra são
constituídas basicamente por ondas curtas (0,3 a 4,0 µm). A energia
solar que atinge a superfície terrestre ao nível do mar raramente excede
1.088 a 1.120 W/m², mesmo nos dias mais claros; em média, acha-se
ao redor de 900 a 980 W/m².
A banda UVC (0,20 – 0,28 µm) apresenta um efeito biológico
particularmente intenso e perigoso, mas é quase toda absorvida pela
camada de ozônio e não ultrapassa a estratosfera. A banda UVB (0,28
– 0,32 µm) é importante para a síntese de vitamina D, mas apresenta
riscos de dano celular quando há exposição excessiva a ela. Os raios
da banda UVA (0,32 – 0,40 µm) são menos penetrantes e estão
associados à síntese de melanina.
Entretanto a radiação solar tem vários efeitos biológicos
importantes, entre eles: síntese orgânica (fotossíntese, síntese de
vitamina D); transformação da matéria (melanogênese, eritemas, efeitos
bactericidas), e efeitos diversos (fotoperiodismo, fototropismo, fototaxia,
movimentos fotonásticos, germinação de sementes, fotomorfose,
estímulos nervosos e glandulares).
3.1. Efeito da latitude na radiação solar
Latitude é a distância angular entre um ponto qualquer da
superfície terrestre e o equador. É contada de 0° a 90°, do equador em
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 15
direção aos polos norte e sul. Dois fatores relacionam a latitude e a
radiação solar: a diferença nas inclinações dos raios solares devido à
redondeza da Terra e as diferenças na espessura das camadas da
atmosfera. Sobre o equador, os raios solares incidem
perpendicularmente e à medida que se afasta em direção aos polos,
aumenta a espessura das camadas da atmosfera que os raios solares
tèm de atravessar.
3.2. Radiação e conforto térmico
O balanço térmico ou a radiação trocada entre o animal e o
meio ambiente depende dos tipos de exposição do animal à radiação.
A radiação chega ao animal de duas formas: radiação solar direta –
através da pelagem ou pelo, 50 a 70% do total em um ambiente aberto
e radiação solar difusa – retransmissão do calor radiante.
As trocas térmicas por radiação entre os animais e seu ambiente
(climas tropicais) determinam as diferenças entre um ambiente
tolerável ou insuportável. Todo e qualquer objeto ou superfície, cuja
temperatura esteja acima de zero absoluto (0 °C ou – 273,15 °F)
representa fonte de radiação térmica. Além disto, alguns outros
conceitos são importantes, como:
• Energia radiante: absorvida e convertida em energia calorífica.
• Irradiação solar (Q): quantidade de radiação por unidade de área
e de tempo, recebida por uma superfície da Terra, sendo expressa
em joule/m² s ou watt/m² (1 J/s = 1 W). Outra forma de expressá-la
é em caloria/cm³ min = 697,7 W/m².
• Temperatura Radiante Média (TRM): temperatura média do
conjunto de todas as superfícies reais e virtuais ao redor de um
animal, em um dado local. Supõe-se que o animal esteja no centro
de um envoltório esférico infinitamente grande, cuja superfície
interna seja um corpo negro.
• Carga Térmica Radiante (CTR): quantidade de energia que o animal
troca com as superfícies ao seu redor. Quantidade total de energia
16 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
térmica trocada por um indivíduo através de radiação com o meio
ambiente.
Figura 1. Fontes de radiação térmica sobre o animal. Pode ser observada a
radiação solar de ondas curtas (a); radiação de ondas curtas
refletidas pelas nuvens (b); radiação de ondas longas emitidas
pelo Sol e refletidas nas nuvens (c); radiação celeste de ondas
curtas (d); radiação de ondas longas emitidas por corpos e objetos
vizinhos (e); radiação de ondas longas emitidas pelo solo (f) e
radiação de ondas curtas refletidas na superfície do solo (g) (SILVA,
2000).
A velocidade do vento é um fator fundamental para a
determinação das trocas térmicas por convecção e evaporação, influindo
diretamente no conforto térmico.Aradiação solar que atinge a superfície
terrestre é mais ou menos absorvida pelo terreno, dependendo da
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 17
natureza do mesmo. Em consequência, a superfície transfere energia
térmica para as moléculas de ar imediatamente em contato com elas
(convecção). Quando a diferença de densidade do ar adjacente à
superfície for tão grande em relação à densidade da atmosfera
circundante que força ascensional permita vencer a gravidade, então
uma bolha de ar aquecido desloca-se para cima e abre embaixo uma
zona de baixa pressão, sendo imediatamente preenchida pelo ar menos
quente e mais denso das vizinhanças.
Outro fator que influencia as trocas térmicas entre o animal e o
ambiente é a umidade relativa do ar. Quando o ambiente está quente e
seco, a evaporação processa-se de uma maneira mais rápida e pode
ocorrer irritação cutânea e desidratação geral. Por outro lado, em
ambiente quente e úmido, a evaporação é muito lenta e causa redução
na termólise, aumentando o estresse pelo calor.
4. SOMBREAMENTO E RADIAÇÃO
No interior de abrigos a radiação solar direta e,
consequentemente, a carga térmica radiante pode ser reduzida. A
eficiência do sombreamento depende da radiação proveniente do Sol,
do céu aberto, do solo e das demais superfícies que rodeiam os animais,
além da própria estrutura da sombra.
OsprincipaisfatoresqueinfluenciamnaCTRnointeriordeabrigos
são:
• Orientação – eixo longitudinal leste-oeste resulta em menor CTR
interna do que na orientação norte-sul, pois nessa orientação a
radiação solar incide diretamente numa grande área da parede
lateral;
• Altura do teto (pé-direito)–quantomaiorestaalturamaioraproporção
de céu aberto (superfície mais fria que o resto do ambiente);
• Existência de paredes – bloqueia a radiação térmica de origem
externa, porém há menor ventilação e maior incremento de calor
18 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
devido a fontes internas de radiação e emissão de energia absorvida
pelas paredes.
Além disto, os materiais usados na construção de abrigos devem
apresentar como características:
• possuir elevada refletividade na superfície exterior exposta à radiação
incidente;
• possuir baixa condutividade térmica para evitar a transmissão de
energia térmica para o interior do abrigo;
• possuir estrutura da superfície favorável a dissipação do calor por
convecção.
Figura 2. Carga de energia recebida pelo animal ao sol (70 cal/HS/cm²) e à
sombra (40 cal/HS/cm²).
5. RADIAÇÃO REFLETIDA E EMITIDA PELO SOL
Da radiação solar que atinge a superfície do solo, parte é refletida
e parte é absorvida. A porção de energia procedente do Sol absorvida
pelo solo, o aquece, resultando na emissão de radiação de ondas longas
de comprimento proporcional à temperatura do solo (Lei de Wien).
Dependendo do material que cobre o solo, a absorção pode variar
(Tabela 2 e 3).
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 19
Tabela 2. Absorção e emissão de calor por diferentes tipos de piso.
Fonte: Silva, 2000.
Tabela 3. Influência da cobertura vegetal na carga térmica radiante.
Fonte: Silva, 2000.
6. DETERMINAÇÃO DO ESTRESSE CAUSADO PELA RADIAÇÃO
Para estimar valores aproximados de estresse causado pela
radiação, utiliza-se o globo de Vernon ou globo negro. Essa
determinação torna-se de grande importância em climas tropicais.Trata-
se de um globo oco de metal (geralmente cobre) de diâmetros variáveis,
superfície externa pintada de preto fosco e provido de termômetro para
a medição de sua temperatura interna.
O globo é colocado no espaço que o animal ocuparia, permitindo
uma estimativa dos efeitos combinados da energia térmica radiante
procedente do meio ambiente, em todas as direções possíveis, da
temperatura do ar e da velocidade do vento, dando assim uma medida
20 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
do conforto térmico proporcionado pelo ambiente nessas determinadas
condições, supondo-se não haver trocas térmicas por evaporação entre
o ambiente e o animal.
Utiliza-seoglobodeVernoncomomodelofísico,permitindoestimar
oestresseemanimaisdesprezandoatermóliseevaporativa.Parasimular
o processo de sudação, e consequentemente a termólise através da
evaporação cutânea, o globo pode possuir uma superfície úmida.
Quando o equipamento é colocado em um determinado local, o
globo troca energia térmica com o ambiente através de mecanismos de
radiação e convecção, até que seja atingido um estado de equilíbrio
em que o calor ganho e o dissipado se igualam.
A partir da temperatura de globo é possível se determinar a
Temperatura Radiante Média e a Carga Térmica Radiante (Esmay,
1982), pelas fórmulas:
TRM = 100 {[2,51(Vv)0,5
(Tg – Ts) + (Tg/100)4
]0,25
} (W m-2
) e CTR
(W m-2
)=s(TRM)4
,onde:Tg =temperaturadeglobo(K),Ts=temperatura
de bulbo seco ou ambiente (K), Vv = velocidade do vento (m s-1
) e
constante de Stefan-Boltzmann (K-4
.W.m-2
) s = 5,67.10-8
.
7. ÍNDICES AMBIENTAIS
Como vimos diversos fatores podem influenciar no conforto
térmico dos animais e a associação desses fatores constitui diferentes
ambientes. Dessa forma, para possibilitar a comparação entre ambientes
distintos, no que diz respeito a fatores climáticos que influenciam o
conforto térmico, foram propostos alguns índices ambientais, como os
apresentados a seguir.
7.1. Índice de Temperatura e Umidade (THI ou ITU) – Thom (1958)
Proposto inicialmente para caracterizar ambientes quanto ao
conforto térmico de humanos, não leva em consideração a radiação
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 21
térmica, não mostrando diferenças para ambientes no interior de abrigos,
à sombra ou sob o sol direto.
ITU = Ts + 0,36 Tpo + 41,5
Onde:
Ts = temperatura ambiente (°C);
Tpo = temperatura de ponto de orvalho(1)
(°C);
De modo geral, dependendo do valor de ITU observado, o
ambiente pode ser classificado como:
ITU = 70 – condição normal;
70 < ITU < 78 – crítico;
79 < ITU < 83 – perigo;
ITU > 83 – emergência.
7.2. Índice de Globo Negro e Umidade (BGHI ou IGNU) – Buffington
et al. (1981)
Na tentativa de contornar a limitação do ITU, por não levar em
consideração a radiação, foi proposto o índice de globo negro e umidade:
IGNU = Tg + 0,36 Tpo + 41,5
Onde:
Tg = temperatura do globo negro (°C),
Tpo = temperatura de ponto de orvalho (°C).
Este índice é bastante usado na bioclimatologia zootécnica, pois
leva em consideração, através da temperatura de globo negro colocado
na posição em que o animal ocuparia no ambiente, os efeitos
combinados da radiação solar e do vento. Entretanto, este índice
despreza a termólise evaporativa que os animais apresentam como
mecanismo termorregulatório.
22 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
7.3. Índice de Globo Úmido (WBGT) – Yaglou e Minardi (1957)
Índice desenvolvido para caracterizar ambientes, especialmente
importante para indivíduos com termólise evaporativa significativa
através da evaporação cutânea. A principal crítica a esse índice é que
despreza o movimento do ar.
WBGT = 0,7 Tu + 0,3 Tg
Onde:
Tu = temperatura de bulbo úmido (°C),
Tg = temperatura de globo negro (°C).
Embora estes três índices apresentados estejam entre os mais
populares, apresentam suas deficiências e limitações. Portanto,
constantemente outros índices vêm sendo propostos e validados. A
grande dificuldade continua sendo a aplicação destes índices em
diferentes condições.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 23
IV. TERMORREGULAÇÃO
1. GENERALIDADES
Entende-se por termorregulação o processo de controle da
temperatura corporal de um animal em um ambiente qualquer, quando
há um gradiente de temperatura, ou seja, quando o animal não se
encontra em termoneutralidade.
Os seres vivos são sistemas geradores de energia térmica,
produzida no processo metabólico de manutenção das funções vitais
do organismo. A energia química, denominada de taxa metabólica,
proveniente da transformação dos alimentos, dá origem à energia
mecânica, isto é, atividade muscular.Além disto, ocorre troca de energia
com o ambiente, denominada de energia térmica, que ocorre de
diferentes modos: radiação, convecção e condução.
Em um dado momento, o organismo está ganhando e perdendo
energia, ou seja, o animal deve estar em equilíbrio térmico com o
ambiente, a não ser quando o animal permanece numa condição de
trabalho invariável em um ambiente absolutamente inalterado.
Normalmente, o animal está em uma troca constante de energia e a
temperatura corporal depende do equilíbrio entre os mecanismos de
produção, ganho e perda de calor. Essa necessidade de troca de calor
para proporcionar o conforto térmico ao animal apresenta grandes
diferenças entre os tipos de animais.
Nos animais pecilotérmicos, considerados animais de sangue frio
ou animais ectotérmicos, a temperatura corporal varia com o meio
ambiente externo em que vivem. Esses animais exigem menor energia,
conseguindo sobreviver a longos períodos de escassez de alimento,
pois despendem menor quantidade de energia na produção de calor,
vivendo com baixa taxa metabólica. Por isso, podem utilizar grande
parte de seu aporte de energia no crescimento e na reprodução, porém
como não dispõem de mecanismos eficazes, no inverno, a maioria dos
24 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
répteis e anfíbios hibernam, pois é uma maneira de sobreviver com o
mínimo de taxa metabólica, mas com o retorno das temperaturas mais
quentes, voltam às atividades normais de sobrevivência e procriação.
Nos animais homeotérmicos ou animais de sangue quente, a
temperatura corporal não acompanha a do meio ambiente. Por este
fato, todos esses animais apresentam mecanismos para produzir calor
quando a temperatura ambiente está abaixo da corporal e também
dissipar o calor, quando em excesso, pela energia metabólica e pela
irradiação que recebe do meio ambiente. Quando estes mecanismos
não conseguem manter a temperatura corporal no conforto térmico,
podem sofrer transtornos fisiológicos, tais como:
• Choque pelo calor: ocorre quando a produção ou ganho de calor
excede as perdas, resultando em aumento de temperatura corporal
(hipertermia). Quando ultrapassa 41,5 a 42,5 °C a função celular
fica seriamente prejudicada, e o animal perde a consciência. A
temperatura letal é aquela na qual ocorre a morte do animal, em
torno de 45 °C;
• Choque pelo frio: ocorre quando as perdas de calor ultrapassam a
sua produção e ganho, de tal forma que a temperatura corporal cai
aníveisperigosos(hipertermia).Acapacidadehipotalâmicaderegular
a temperatura corporal fica prejudicada. A uma temperatura abaixo
de 29 °C ocorre a parada cardíaca;
• Febre: é uma elevação da temperatura corporal, resultante de
aumento no “set point” provocado por pirógenos exógenos e/ou
endógenos. O organismo inicia respostas para conservar e produzir
calor até que a temperatura corporal alcance de novo o “set point”.
2. MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA TÉRMICA
Os animais homeotérmicos precisam manter a temperatura
fisiológica para produzir com o máximo de eficiência. Para isto dispõem
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 25
de um centro termorregulador localizado no sistema nervoso central.
Este centro receptor se localiza no hipotálamo, que funciona como um
termostato fisiológico e, quando a temperatura do animal está fora da
termoneutralidade, comanda a mudança de produção ou perda de calor.
O hipotálamo controla a produção e a dissipação de calor por
vários mecanismos que serão discutidos na sequência. Na Figura 3, é
apresentado o esquema do mecanismo para o controle de temperatura
corporal, segundo Muller (1982).
Figura 3. Esquema do controle da temperatura corporal (MULLER, 1982)
As células especializadas funcionam com termorreceptores
periféricos que captam sensações e levam ao sistema nervoso central.
Quando as células receptoras periféricas sentem o calor, esta
sensação é transmitida na parte anterior do hipotálamo, e este
comanda a perda de calor por vasodilatação, sudorese, aumento no
número de movimentos respiratórios e mudanças comportamentais.
Quando as células receptoras recebem a sensação de frio, é
encaminhado para a porção posterior do hipotálamo, desencadeando
a conservação e produção de calor, através da vasoconstrição,
piloereção, tremores, oxidação do tecido adiposo e alterações
comportamentais.
26 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Os animais, para estarem em homeotermia, necessitam de uma
constante troca de calor, e os principais mecanismos são: radiação,
convecção e, somente para a dissipação de calor, a evaporação. Por
definição, a radiação é a transferência de energia térmica de um corpo
para o outro, através de ondas eletromagnéticas. Qualquer superfície,
cuja temperatura esteja acima do zero absoluto (-273,15 °C ou 0 °K),
emite radiação térmica. O fluxo de calor neste processo, depende da
temperatura e da natureza da superfície da pele, por exemplo, animais
de cor clara refletem mais radiação que animais de cores escuras.
A energia incidente na superfície entra sob a forma de ondas
de radiação térmica que pode ser refletida, absorvida e transmitida.
As propriedades da superfície quanto à transferência de radiação
podem ser: reflexividade, absorvidade, transmissidade e emissividade.
A condução é a transferência de energia térmica entre corpos,
entre partes de um mesmo corpo, por meio de energia cinética da
movimentação das moléculas ou pela movimentação de elétrons livres.
Esse fluxo passa das moléculas de alta energia para as de baixa,
portanto necessitando de contato direto. É um processo importante
na termorregulação do animal, pois este processo permite a passagem
de calor desde o núcleo central do organismo até a superfície corporal
externa, através do contato entre partículas dos tecidos, e também é
responsável pela passagem do calor da superfície da pele para o
meio. A velocidade depende do gradiente térmico entre a pele e o
meio.
A convecção é a transferência de energia através um fluido líquido
ou gasoso. A corrente de fluido absorve energia térmica em um dado
local e, então, desloca-se para o outro lado, onde se mistura e transfere
energia. Ocorre a transferência de energia devido à movimentação de
ar, cujas moléculas são de corpos mais quentes para os mais frios,
portanto os fatores nesse processo são a movimentação do ar e a
extensão da superfície corporal.Aconvecçãopodesernaturaloupassiva
quando ocorre o deslocamento do fluido por diferença na densidade.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 27
Mas pode ser forçada ou ativa, quando o deslocamento do fluido ocorre
por forças ativas, como bombas, ventiladores, mecanismos geradores
de ventos ou turbulências.
Enqunato a evaporação é a transferência de calor pela passagem
das moléculas de água ao ar, sob a forma de vapor. Esse mecanismo
de dissipação de calor pode ocorrer na pele e nas vias respiratórias. É
um processo muito importante, pois em temperaturas elevadas, a maior
parte da dissipação de calor ocorre por evaporação.
O animal perde calor quando a água contida no suor, na saliva e
nas secreções respiratórias é transformada em vapor de água. A perda
do calor por evaporação é contínua, mesmo em condições termoneutras,
devido à ocorrência de difusão de água através da pele (sudorese) e
vapor de água nas vias respiratórias.
A sudorese ou sudação ocorre a partir de glândulas sudoríparas
(écrinas e apócrinas) localizadas na derme.Amaior parte dos mamíferos
placentários possui glândulas sudoríparas , mas, nos cães e suínos,
estas glândulas são pouco desenvolvidas.
Nos mamíferos ungulados, as glândulas apócrinas são
associadas ao folículo piloso (produzem secreção contendo proteínas).
Nos primatas, as glândulas são écrinas, uma solução aquosa
semelhante ao plasma. Os animais domésticos que mais suam, pela
ordem decrescente de importância desse mecanismo para a
termorregulação, são os equinos, asininos, bovinos, bubalinos, caprinos,
ovinos e suínos.Além disto, existem sensíveis diferenças entre as raças
desses animais.
O ofego ou hiperpneia é a forma de aumentar a evaporação pelas
vias respiratórias, principal meio de perda de calor por evaporação em
aves, suínos, cães e ovinos submetidos a altas temperaturas. A perda
de água provoca no animal um aumento no consumo para fazer a
reposição.
Uma representação gráfica da troca de calor de um animal com
o meio ambiente é apresentada por Cunningham (2004), onde se pode
28 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
observar como o animal recebe irradiação do meio ambiente e como
pode dissipar o excesso de calor (Figura 4).
Figura 4. Representação esquemática da troca de calor de um ovino
(CUNNINGHAM, 2004).
3. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL
Para a transferência de calor, os tecidos são maus condutores, e
por este fato, o calor é transmitido mais efetivamente pelo sangue. Em
altas temperaturas do ambiente, o fluxo sanguíneo aumenta, as
arteríolas dos leitos vasculares dilatam-se e aumenta o fluxo sanguíneo
capilar. Aumenta a temperatura nos membros e a perda de calor pela
pele. No frio, o fluxo sanguíneo cutâneo diminui pela vasoconstrição
nos leitos vasculares cutâneos e diminui a temperatura nos membros e
a perda de calor pela pele.
A regulação da temperatura corporal é comandada pelo
hipotálamo, que possui dois tipos de neurônios: um respondendo ao
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 29
frio e outro ao calor. Quando a atividades dos neurônios responsáveis
pelo calor e frio se igualam, a produção será igual à perda de calor, e
a temperatura corporal será mantida estável. Esse ponto de atividade
é denominado de “set point”. As informações provenientes dos
neurônios termossensíveis centrais e periféricos são integradas no
hipotálamo para regular os mecanismos de perda e conservação de
calor. Existem três tipos de neurônios termossensíveis (sensores de
temperatura):
• Neurônios termossensíveis que monitoram a temperatura cerebral
ou central, situados na área pré-óptica do hipotálamo, os quais dão
início aos processos de vasodilatação periférica e sudorese;
• Neurônios termossensíveis situados na pele, que são receptores
cutâneos para o frio e para o calor;
• Neurônios termossensíveis que estão situados em vários locais das
víceras.
A zona de termoneutralidade ou de conforto térmico, ou seja, é a
faixa de temperatura ambiente dentro da qual o custo fisiológico é mínimo
e o desempenho produtivo esperado é máximo. Nesta condição, a
temperatura corporal pode ser regulada apenas por mecanismos
vasomotores (convecção e irradiação). A sequência dos mecanismos
de defesa contra o calor são:
• Vasodilatação periférica: aumento da perda de calor sensível;
• Início da sudorese: perda por evaporação cutânea;
• Aumento da frequência respiratória: perda por evaporação
respiratória;
• Mudanças de comportamento: os animais, em geral, procuram a
sombra,poçasdeágua,ocorreainibiçãodoapetiteemenorconsumo
de alimento;
• Alterações na atividade endócrina: o estresse térmico reduz a
atividade da tireóide e o metabolismo energético;
• Maior consumo de água: para repor as perdas pela evaporação;
• Elevação da temperatura corporal;
30 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Poroutrolado,nasrespostasaoestressecausadopelofrio,ocorre:
• Vasoconstrição periférica: redução do gradiente de temperatura entre
a pele e o ambiente, com diminuição nas perdas por convecção e
irradiação;
• Piloereção: aumento na camada termo-isolante proporcionada pela
pelagem e ar aprisionado entre os pelos;
• Produção metabólica de calor: termogênese mediante tremores e
não tremores (tecido adiposo marrom);
• Aumento de secreção de tiroxina e do metabolismo basal.
Ocorre a redistribuição por todo o corpo, principalmente pelo fluxo
de sangue que transfere o calor para as partes mais frias, que são as
extremidades, resfriando as partes mais quentes, que são o cérebro e
as vísceras. Nas Figuras 5a e 5b está representado o esquema de
transferência do calor (CUNNINGHAM, 2004).
Figura 5. Esquema de transferência de calor (CUNNINGHAM, 2004).
Nos ambientes quentes, a temperatura corpórea central estende-
se para baixo até os membros e aproxima-se da superfície cutânea do
animal. Por outro lado, nas condições frias, a vasoconstrição nos vasos
sanguíneos periféricos resulta em um gradiente de temperatura entre
as partes centrais do corpo e as extremidades. A temperatura central
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 31
mantém-se apenas no abdômen, tórax e cérebro do animal, podendo
esfriar consideravelmente nos tecidos mais periféricos.
Para cada animal, existe o seu limite de temperatura inferior ou
superior de conforto térmico (termoneutralidade). Existem temperaturas
crticas inferior ou superior em que, pelos mecanismos de
termorregulação, os animais conseguem manter a temperatura corporal.
Além destas faixas, atingem-se as temperaturas críticas mínimas e
máximas, que são os limites de sobrevivência, e ultrapassando esses
limites os animais sucumbem.
Na Figura 6 é apresentado o esquema simplificado do processo
de termorregulação (SILVA, 2000), onde se observam a temperatura
crítica inferior (TCI) e a temperatura crítica superior (TCS).Além desses
limites, o animal desencadeia o processo de termorregulação. Até as
temperaturaslimiteshi(inferior)ehs(superior),oanimalconseguemanter
a temperatura interna com os mecanismos que ele dispõe, e quando a
temperatura ambiente é inferior a hi e superior a hs, o animal consegue
sobreviver com estresse extremo em hipotermia (inferior) e hipertermia
(superior), pois não consegue mais manter a temperatura corporal
constante. Quando ultrapassa os limites hi e hs o animal sucumbe.
Figura 6. Representação esquemática simplificada do processo de
termorregulação (SILVA, 2000).
32 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
V. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO
ESPECÍFICA DOS ANIMAIS
1. GENERALIDADES
Neste capítulo, será dada especial atenção ao estresse térmico
pelo excesso de calor, ou seja, estresse causado por temperaturas
acima da termoneutralidade. Embora os animais possam sofrer
estresse pelas temperaturas abaixo do conforto térmico,
particularmente em se tratando de recém-nascidos ou com alguns
dias de vida, que tem dificuldade na conservação de calor, e mesmo
os adultos, que podem sofrer pela baixa temperatura alguns poucos
dias do ano, pelo fato dos animais do nosso país serem encontrados
em ambiente de elevada temperatura a maior parte do ano, este é um
problema mais comum à produção animal.
É bom lembrar que, além da temperatura, existem outros
agentes estressores que são tão importantes quanto o estresse
calórico, como: doenças, parasitas, qualidade e quantidade de
alimento, manejo e uma infinidade de agentes que podem prejudicar
o bem-estar dos animais e, consequentemente, a produtividade do
animal. Pois, segundo Truman (1988), “o estresse atua em detrimento
do bem-estar do organismo”. Outra definição apresentada por Baccari
Jr. (1987) é que o “estresse é a soma de respostas do organismo à
agressão de ordem física, psicológica, infecciosa e outros capazes
de pertubar-lhe a homeostase”.
Os tipos de estresse podem ser: mecânicos (traumatismo),
físicos (calor, frio, umidade, eletricidade, som), químicos (drogas),
biológicos (agentes infecciosos, estado de nutrição, dos esforços
corporais) e fatores psíquicos (solidão, medo) conforme (BACCARI
JR, 1987). Em se tratando de estresse térmico, para cada espécie
animal existe uma faixa de temperatura de conforto térmico. Além
das diferenças entre espécies, varia também de acordo com a raça,
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 33
idade, peso corporal e outros fatores que interferem na
termoneutralidade.
Quando a temperatura do meio é abaixo da temperatura crítica
inferior ou acima da temperatura crítica superior, ou seja, fora da faixa
de conforto térmico, desencadeiam no animal processos de
termorregulação, na tentativa de manter a temperatura corporal em
homeotermia. Porém, quando a temperatura inferior for abaixo do limite
inferior ou acima do limite superior, o animal não consegue manter a
temperatura corporal e entra em hipotermia (abaixo) ou hipertermia
(superior), e o animal sobrevive com estresse extremo e grande
desgaste, portanto com grande prejuízo no desempenho. O limite de
sobrevivência do animal é atingido no limite inferior da hipotermia ou
no limite superior da hipertermia.
Na verdade os animais diferem quanto às altas temperaturas
que podem suportar. A tolerância à temperatura extrema pode variar
com o tempo de exposição, e um certo grau de adaptação à exposição
por um longo tempo na temperatura próxima do limite térmico possa
ocorrer. Frequentemente, se amplia este limite, porque o animal com
excesso de calor acomoda-se e pode tolerar a temperatura que
anteriormente era letal.
Devemos lembrar que a temperatura letal para certos animais
não pode ser determinada com precisão porque o tempo de exposição
é também importante, pois uma temperatura abaixo ou acima do limite
de sobrevivência, por alguns minutos, pode ser suportada pelo animal,
mas se for mantido por várias horas, o animal pode vir a perecer.
Outros elementos também atuam nessa tolerância, como a presença
de vento, a umidade relativa do ar, a altitude e ainda outros fatores,
como estado de saúde do animal, etc.
34 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
2. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO EM
AVES
2.1. Efeito do estresse térmico em aves
A moderna avicultura, para atingir melhores resultados, precisa
considerar não só os aspectos genéticos, nutricionais e sanitários, mas
também os aspectos ambientais, pois, se estes forem desfavoráveis,
prejudicam a potencialidade genética na eficiência nutricional e até nos
aspectos sanitários das aves, com prejuízos incalculáveis (BAÊTA e
SOUZA, 1997).
A temperatura ideal para produção de ovos encontra-se entre 21
e 26 ºC. Entre 26 e 29 o
C ocorre redução do tamanho e da qualidade da
casca. E dos 35 a 38 ºC, a produção é severamente afetada, podendo
ocorrer até a prostração das aves. Segundo Truman (1988), a
termoneutralidade dos recém-nascidos está entre 35 e 37 ºC, pelo fato
do sistema termorregulador não estar ainda bem desenvolvido, portanto
há necessidade de temperatura externa para sobreviver. Caso a
temperatura esteja abaixo do necessário, os pintinhos podem amontoar-
se para se aquecerem uns aos outros, e alguns que ficarem por baixo,
acabam morrendo por asfixia.
Os efeitos mais evidentes do estresse térmico pelo excesso de
calor é a redução do consumo alimentar, na tentativa de reduzir a
produção de calor interno provocado pelo metabolismo do alimento.
Para as aves (frango e poedeiras), a temperatura crítica superior é em
torno de 25 ºC. Acima desta temperatura, as aves comem menos e
ingerem maior quantidade de água, na tentativa de diminuir a
temperatura corporal.Afrequência respiratória aumenta para que possa
ocorrer perda de calor por evaporação.
O efeito do estresse térmico pelo calor em frangos torna-se mais
prejudicial após a terceira semana de vida, ocasião em que as aves
estão em crescimento expressivo, ocorrendo, também, diminuição no
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 35
desempenho, piora na conversão alimentar e aumento na mortalidade.
Com a temperatura ambiente elevada, ocorre redução no ganho de
peso das aves, na ordem de 0,33 g a cada 1 ºC de aumento de
temperatura acima do conforto térmico.
Conforme Macari (1995), o consumo de água aumenta com o
aumento da temperatura ambiente da seguinte forma: 140 L/1.000
frangos, à temperatura ambiente de 20 ºC; 220 L/1.000 frangos, à
temperatura de 32 o
C. Para poedeiras com 90% de produção, à 20 o
C
consomem 200 L/1.000aves, e à 32 ºC consomem 400 L/1.000aves e
para frangos de corte com 6 semanas de idade, 280 L/1.000 aves e
600 L/1.000 frangos à 20 e 32 o
C, respectivamente.
Sabe-se que os movimentos respiratórios (ofego) ajudam na
eliminação do calor interno por evaporação, porém a hiperventilação
pulmonar provoca perdas significativas de CO2
, causando desequilíbrio
acido-básico sanguíneo das aves que, dependendo do tempo de
exposição ao estresse, podem vir a óbito. Segundo Wang et al. (1989),
a eliminação de calor via respiratória através do ofego, quando muito
intenso, aumenta a perda de dióxido de carbono pelos pulmões,
reduzindo a quantidade de CO2
, bicarbonato do plasma sanguíneo,
ocasionando a concentração de íons de hidrogênio no plasma e
aumentando o pH do sangue (alcalose respiratória), e isso inicia-se
quando a temperatura ambiente atinge 35 ºC, podendo provocar a morte.
Outro fato negativo causado pelo ofego das aves é que a
passagem normal de ar pelas narinas retém poeira e até bactérias
presentes no ar, e como no ofego o ar entra principalmente pelo bico,
ocorre a introdução de patógenos que podem provocar infecções
respiratórias. Nas aves expostas à temperatura inadequada, ou seja, à
alta temperatura, a pressão sanguínea diminui, aumentando os
batimentos cardíacos.
Durante uma situação aguda de estresse térmico, o sistema
cardiovascular distribui o sangue principalmente para a termorregulação,
reduzindo em até 44% a distribuição de sangue para funções básicas,
36 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
como, por exemplo, a digestão (MOURA, 2001).As aves não sobrevivem
por longo período expostas a ambientes com temperatura 5 ºC acima
da temperatura ideal; entretanto, são capazes de suportar, relativamente
bem, a ambientes com 25 ºC inferior a sua temperatura interna, por
isso são poucos os casos em que sofrem pela temperatura abaixo da
crítica nos períodos frios do ano, período em que as aves, por meio da
termorregulação, podem estabilizar-se embora diminuam as atividades
produtivas, mas sem grandes prejuízos.
Porém, em período quente, quando ocorrem temporais e as aves
em sistema coletivo se molham, sentem frio pela pena molhada e
começam a se juntar nos cantos dos galpões, na tentativa de se
aquecerem umas às outras, chegando a se amontoarem umas por cima
das outras e, nesse momento, as que ficam por baixo morrem por falta
de ar. Talvez este seja um dos casos raros de perdas de aves por
temperatura abaixo da temperatura crítica em nosso País.
Trabalhos de Zimmerman e Snetsinger (1976), comparando a
postura de aves manejadas em ambiente com a temperatura de 16 ºC
e 32 °C, constataram que o estresse calórico reduziu a produção de
ovos em 6%, no tamanho em 14%, e na eficiência de conversão
alimentar, a perda foi de 16%. Uma maneira simples e prática para
determinar o índice de estresse para aves é proposta por Lara e Baião
(2005), que é a seguinte: se a soma numérica da temperatura ambiente
com a umidade relativa do ar (desprezando as unidades) for superior a
105, as aves apresentam dificuldade para perder calor, por exemplo,
se a temperatura ambiente for de 27 °C e a umidade relativa do ar for
de 78%, somam 105; então, a partir daí, as aves passam a sofrer
estresse calórico; no entanto, em temperatura ambiente de 29 °C, se a
umidade relativa do ar for 70%, então a soma de 29 mais 70 será 99,
portanto as aves, nesse ambiente, não estão em estresse calórico,
embora a temperatura esteja 2 °C acima da anterior.
Lana (2000) avaliou duas instalações na produção de frangos,
uma arejada e com ventiladores, mantendo a temperatura próxima ao
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 37
conforto térmico e outra com temperatura de 32 °C, e observou consumo
de 4,6 kg de ração e ganho de peso de 2,2 kg ao abate nos animais em
conforto térmico e consumo de 3,9 kg de ração e ganho de peso de 1,9
kg nos animais em estresse calórico (32 °C).
Estudando o efeito da temperatura ambiente sobre o desempenho
e as características de carcaça de frangos de corte, Oliveira Neto (2000)
comparou o desempenho de frangos dos 22 a 42 dias criados às
temperaturas de 23,3 °C e 32,3 °C, e observou consumo de água de
4,9 L e 7,8 L, peso final de 1,9 kg e 1,7 kg, conversão alimentar 1,48 e
2,26, consumo de ração 2,03 kg e 2,01 kg, para ambiente termoneutro
e animais submetidos ao estresse térmico, respectivamente.
May e Lott (2001), testando as temperaturas de 12, 14, 16, 18,
22, 24, 26, 28 e 30 °C, em pintinhos machos e fêmeas de 21 a 49 dias,
observaram que o peso final de abate foi influenciado pela temperatura
da seguinte forma: a 12 °C foi de 3,3 kg, que foi melhorando até a
temperatura de 18 °C, que foi de 3,4 kg. A partir dessa temperatura, à
medida que se submetiam os animais à temperaturas mais altas, o
peso final decresceu linearmente, e aos 30 °C, o peso final foi de 2,7
kg.
2.2. Termorregulação em aves
O sistema de termorregulação em aves é baseado em quatro
diferentes unidades funcionais: o receptor, que percebe os estímulos; o
controlador, que são os mecanismos de termorregulação; o efetor, que
induz as respostas para a manutenção da temperatura corporal, e o
passivo, quando o animal está em homeotermia (MACARI e FURLAN,
2001).
Em estresse por excesso de calor, para aumentar a dissipação
de calor, as aves procuram maximizar a área superficial do corpo
mantendo as asas apartadas do corpo e ocorre aumento do fluxo de
sangue para tecidos periféricos não cobertos por penas (pés, crista e
38 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
barbelas), aumentando a troca de calor sensível para o meio ambiente.
Quando a temperatura ambiente ultrapassa a temperatura crítica
superior, um dos primeiros mecanismos acionados é o aumento da
ingestão de água e redução no consumo de ração.
O acréscimo do consumo de água está diretamente relacionado
ao aumento de demanda de água destinada ao processo da perda de
calor por meio evaporativo e respiratório (MOURA, 2001). É importante
ressaltar que a água fornecida às aves sejam bem frescas, pois já na
ingestão pode ocorrer a troca de calor interno.
A diminuição de consumo de ração é uma tentativa de diminuir
a produção de calor pelas reações químicas geradoras de calor que o
metabolismo de alimentação provoca. Estudos realizados por Linsley
e Berger (1964) demonstram que, sob condições de estresse térmico,
as aves podem aumentar sua taxa de respiração de 25 movimentos
respiratórios por minuto para 250.
A perda evaporativa de calor para manter o conforto térmico
não é simplesmente proporcional à temperatura ambiente. Na verdade,
outro elemento tão importante quanto a temperatura é a umidade
relativa do ar. Os dados obtidos por Romijn e Lokhorst (1966)
confirmam esta afirmação, pois em ambiente quente e seco (24 °C e
40% UR) a perda evaporativa foi de 50%, em ambiente quente e úmido
(24 °C e 84% UR) a perda foi de apenas 22%; em ambiente muito
quente e seco (34 °C e 40% de UR) a perda foi de 80%, e em ambiente
muito quente e úmido (34 °C e 90% de UR) a perda foi de apenas
31%.
Como se pode observar, as aves dispõem de poucos processos
de termorregulação, particularmente em ambiente acima do limite
crítico, daí a importância do homem interferir para possibilitar o conforto
térmico em clima quente como o nosso, seja pela instalação, seja por
equipamentos e manejos que proporcionem o bem-estar do animal.
Assunto que será discutido posteriormente.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 39
3. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO DE
BOVINOS
3.1. Efeito do estresse térmico em bovinos
Os principais sintomas do estresse calórico em bovinos são o
aumento da frequência respiratória que, em ambiente de conforto
térmico, é de 40 movimentos por minutos, podendo atingir níveis
extremos de 100 movimentos respiratórios por minuto; mesmo com
esse número, não representa mais de 25% da perda total de calor
corporal. Assim como em aves, a respiração excessiva elimina CO2
que, quando exagerado, pode ocorrer a alcalose respiratória. O
consumo de alimentos pode ser reduzido de 20 a 30%, dependendo
da intensidade e da duração do estresse, reduzindo
consequentemente a produção leiteira.
O estresse provoca a sudorese que, em excesso, pode causar
perda de minerais e do equilíbrio ácido-base, prejudicando a absorção
de nutrientes da ração que já é diminuída pelo estresse. O animal procura
sombra adequada, e caso não a encontre à disposição, procura a sombra
de outros animais e cercas, e procura pastejar de manhã e à noite,
diminuindo o consumo.
O estresse calórico, quando muito severo, pode levar a morte de
muitos animais. O excesso de calor não só diminui a quantidade de
leite, mas também a sua composição (qualidade). As vacas expostas à
temperatura de 36 ºC reduzem 14% o teor de gordura do leite e 13% o
teor de proteína. O estresse térmico pode reduzir a gordura diária do
leite, diminuir a taxa de concepção, além da redução do peso do bezerro
ao nascer, aumentando a incidência de mastite e até a retenção da
placenta no parto. Com a elevação da temperatura uterina, cria um
ambiente hostil ao embrião e pode causar o aborto.
O aumento da transpiração dá-se com temperatura de 32 ºC e
hiperpneia com 33º C. Em novilhas, o ambiente quente retarda a
40 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
puberdade em determinadas raças oriundas de países frios ou
temperados e, quando aparece o cio, é bem deprimida. As altas
temperaturas provocam a diminuição da duração do estro e o aumento
de ovulação silenciosa (sem manifestação). Nas vacas, o estresse pelo
calor causa anormalidades nos óvulos, e após a concepção a taxa de
crescimento do embrião descresse proporcionalmente à duração de
estresse térmico. Observando o corpo lúteo em vacas abatidas,
observou-se que, nos primeiros cinco meses de gestação, ocorria a
hipoplasia, e, nos últimos três meses, a hiperplasia.
Até mesmo em inseminação artificial, a temperatura elevada
provoca problemas de reprodução, pois nas novilhas em ambiente de
conforto, a taxa de concepção varia em torno de 50%. E na temperatura
de 32 ºC, praticamente não ocorre fertilização. O peso do bezerro da
raça holandesa ao nascer, no verão, é em média 6 kg inferior a bezerros
nascido nos meses mais frios.
Nos machos, o estresse térmico prejudica mais a reprodução
do que propriamente o ganho de peso, pois atua diretamente no
sistema neuroendócrino e, consequentemente, na função reprodutiva,
causando decréscimo de fertilidade nas épocas mais quentes do ano.
Isto ocorre pelo fato das altas temperaturas provocarem a diminuição
da quantidade e qualidade do sêmen, reduzindo o volume do esperma
e, ainda, provocando maior formação de espermatozóides anormais.
Estes problemas todos são devidos, em grande parte, ao aquecimento
do testículo.
Quando o estresse térmico é muito prolongado, pode ocorrer
até a degeneração testicular, com hipertrofia e tumores adrenais.
Thatcher e Coller (1981), trabalhando com touros, relatam que o
aquecimento do local do testículo ou os ambientes quentes provocam
uma diminuição da mobilidade espermática. Além disto, touros
submetidos a altas temperaturas demoram para se recuperar
completamente (cerca de 8 semanas), após voltarem à temperatura
adequada.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 41
Mesmo em touros da raça zebuína que suportam relativamente
bem o calor, o sêmen coletado de animais expostos ao ambiente de 30
a 36 °C, durante mais de 30 dias, teve baixa qualidade.
Um fator de ordem psicológica provocado pelo estresse calórico
em touros é a inibição do instinto sexual e até a suspensão total da
libido em machos. O grande problema dos efeitos do estresse
provocado pelo calor intenso na questão reprodutiva de fêmeas e
machos de bovinos prende-se ao fato de que é bastante difícil detectar
esses efeitos maléficos pela grande maioria (para não dizer a
totalidade) dos criadores, pois não possuem equipamentos nem a
tecnologia necessária.
3.2. Termorregulação em bovinos
Muitas raças de bovinos oriundas de países mais quentes
encontram-se, em parte, já adaptadas a ambientes mais quentes e,
inegavelmente, suportam bem temperaturas ambientais mais quentes
que as raças de origem européia.
Em ambiente com calor excessivo, os bovinos procuram a sombra
de árvores, abrigos e até de outros animais, pois, sem dúvida, é um
meio bastante eficaz de termorregulação.
É bom ressaltar que a existência de sombras adequadas em
pastagem proporciona aumento na produção de leite da ordem de 25%
em relação a outras vacas expostas o tempo todo à radiação. Isto
acontece porque a sombra pode reduzir em até 30% a carga de calor
radiante sobre o animal.
Dentre os processos fisiológicos de termorregulação em bovinos,
nos ambientes quentes, está o aumento da frequência respiratória, mas
quando o animal utiliza o ofego para dissipar calor, processo que permite
adissipaçãodeaté25%decalor,comumtempoprolongadodeestresse,
pode ocorrer a diminuição excessiva de CO2
e provocar a alcalose
respiratória.
42 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Outro processo, talvez até mais importante é a perda de calor
por sudação. Esse processo faz com que a vaca holandesa perca 133
g/cm2
de pele por hora e 174 g/m2
em vaca Jersey. Em ambiente com
umidade relativa não superior a 70%, a termorregulação por sudação
tem um custo bem menor para o animal. Outro elemento que facilita
muito a troca de calor para o ambiente por sudação é a presença de
vento, sendo ideal vento de 7 a 9 km/hora.
Além do ofego e da sudação, o animal reduz a ingestão de
alimento, no intuito de diminuir a produção de calor pelo metabolismo,
mas como consequência direta, todo o desempenho do animal é
prejudicado e isso deve ser evitado ou atenuado a todo custo.
Enquanto diminui a ingestão de alimento, aumenta o consumo
de água, recurso para reposição das perdas de água por sudação e
respiração, além do resfriamento corporal. Em estresse térmico elevado,
o consumo de água pode aumentar de 50 para 100 litros por dia, e
cada grama de água evaporada representa 582 calorias eliminadas
(JOHNSON, 1987).
Como modificações comportamentais para a termorregulação,
o animal em altas temperaturas diminui o tempo gasto com o pastejo,
aumentando o tempo de ócio. Além disto, modifica os horários de
pastejo, alimentando-se mais na parte da manhã e à noite.
Como foi visto, um dos efeitos mais graves pelo excesso de
calor que compromete o desempenho reprodutivo, ocorre no macho,
que é a deficiência na produção quanti-qualitativa dos
espermatozóides. O primeiro meio de termorregulação que a natureza
dotou esses animais, é o fato de os testículos serem alongados na
bolsa escrotal, fora da cavidade abdominal (exo-orquidas) e serem
ricamente vascularizados por artérias e veias espermáticas. Atribui-
se que esse mecanismo de termorregulação é responsável por cerca
de 60% de estabilidade da temperatura escrotal, e o fato de a pele
escrotal ser bem fina e com poucos pelos, facilita a dissipação de
calor.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 43
Outro meio existente é a túnica de dardos formada por músculos
na face interna do testículo, controlado pelo hipotálamo. Em
temperaturas quentes, a musculatura mantém a bolsa escrotal
distendida, o que favorece a perda de calor. Quando a temperatura
ambiente for baixa, os músculos contraem-se provocando o
deslocamento do saco escrotal para mais próximo do abdômen e
melhorando o aquecimento do testículo. E ainda, para controlar o efeito
de calor externo, a bolsa escrotal possui grande número de glândulas
sudoríparas que, pela perda de calor por sudação, contribuem para
esfriar os testículos, que devem estar de 2 a 6 0
C inferior à temperatura
corporal.
4. EFEITOS DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO EM
SUÍNOS
4.1. Estresse térmico em suínos
Devido ao seu elevado metabolismo, sua capa subcutânea de
tecido adiposo e seu sistema termorregulador ineficiente, por não
apresentar a sudação, quando a temperatura retal atinge 44,4 o
C, eles
morrem por hipertermia, apresentando uma concentração nove vezes
maior de ácido lático no sangue, e o pH cai para 7,37, indicando uma
desorganização no processo de oxidação (MULLER, 1989).
O estresse calórico diminui a eficiência reprodutiva dos suínos
como decorrência da redução voluntária de consumo alimentar, inibição
ou atraso no comportamento estral, decréscimo na taxa de concepção
e aumento da mortalidade embrionária.
A eficiência da utilização da energia metabolizável pelos leitões
reduz-se linearmente com o aumento da temperatura ambiental. Essa
deficiência decresce 0,8% para cada ºC de aumento da temperatura
ambiente, acima da temperatura crítica do animal. Os suínos são muito
sensíveis ao frio quando jovens e ao calor quando adultos.
44 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Há dificuldade de se determinar as temperaturas ideais de suínos
pelo fato da grande variação entre categorias de animais. Segundo
Perdomo (1994), de forma geral, as faixas são de 32 a 24 ºC para
leitões do nascimento ao desmame, de 18 a 23 ºC, para leitões em
crescimento e de 12 a 18 ºC para adultos. Fora desses padrões, o
animal sofre estresse calórico.
Os animais mais pesados são mais sensíveis ao estresse térmico
do que animais mais leves. Quiniou et al. (1996) constataram que, no
intervalo de temperatura ambiental de 19 a 29 ºC, o consumo foi reduzido
de 50 g para cada grau Celsius em leitões pesando 50 kg PV e 90 g
para cada grau Celsius em animais com 75 kg de peso.
Em uma pesquisa, dois grupos de suínos foram submetidos a
altas temperaturas de 32 e 35 ºC, verificando-se que os suínos a 32 ºC
aumentaram o estresse à temperatura retal até 41 ºC no final de 6
horas, porém não houve mortalidade, mas os suínos submetidos a 35
ºC, por 3 horas, apresentaram mortalidade.
Em reprodutores submetidos à temperaturas elevadas, a
produção de sêmen pode ser prejudicada tanto na quantidade como na
qualidade, até 50 dias após o estresse térmico, embora o processo
total de espermatogênese seja de 40 dias. As porcas expostas em
ambientes com temperatura elevada, nos primeiros 15 dias de gestação,
reduzem a sobrevivência dos embriões, assim como no final de gestação
produzem menor quantidade de leitões vivos.
Altas temperaturas provocam o retardamento do início da
produção de sêmen e também diminui a libido. Provocando-se o
aquecimento do testículo ou a exposição de suínos a ambientes quentes,
ocasiona a diminuição da mobilidade espermática e o aumento anormal
do espermatozóide. (THATCHER e COLLER, 1981).
Dentretodasascategoriasdesuínos,oexcessodecalorprejudica
mais o desempenho dos porcos lactantes, pelo fato de diminuírem a
ingestão de alimento, que como conseqüência produzem menor
quantidade de leite.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 45
4.2. Termorregulação em suínos
Os leitões após o nascimento são sensíveis ao frio porque o
processo de termorregulação ainda não está desenvolvido e por terem
pouco isolamento térmico, como gordura subcutânea e escassez de
pelo, daí a necessidade de aquecimento artificial aos leitões. Muito
cuidado quanto aos limites de conforto térmico, pois a variação da faixa
de temperatura ideal varia muito de acordo com a idade do animal.
Em leitões recém-nascidos, a faixa ideal é de 30 a 32 °C, e à
medidaqueelescrescem,essafaixaidealvaidiminuindogradativamente
até que, nos adultos é entre 12 e 18 °C. Na prática, para os leitões até
o desmame a atenção deve ser voltada ao frio e, nos adultos, ao excesso
de calor.
Quando a temperatura ambiental ultrapassa o limite do conforto
térmico, os suínos tentam controlar o excesso de calor alterando o
padrão comportamental, ou seja, protegendo-se das fontes de calor,
buscando áreas sombreadas e ventiladas, superfície mais fria e úmida,
afastando-se uns dos outros e movimentando-se menos.
O suíno pode perder calor por transpiração, porém as glândulas
sudoríparas da pele são poucas e menos eficientes em relação a outras
espécies, daí a recomendação de reservatório de água dentro da baia
ou na forma de aspersão direta sobre os animais. Como acontece com
todos os animais, aumenta a ingestão de água e diminui a ingestão de
alimento.
5. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO EM
OUTROS ANIMAIS
5.1. Efeito do estresse térmico em outros animais
O calor ocasiona desprendimento do acrossoma dos carneiros,
diminuição da atividade metabólica do sêmen e aumento do pH. Estas
46 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
irregularidades estão relacionadas ao controle local de termorregulação
dos testículos, pois o ideal é 5 °C abaixo da temperatura corporal
(ENCARNAÇÃO, 1989). Foi constatado que em ovelhas acasaladas à
temperatura de 32 °C, a porcentagem de fecundação foi de 26% e a 10
°C, a fecundação foi de 64,2%, concluindo-se que, a medida do possível,
deve-se evitar o acasalamento no verão, pois nesta época ocorre a
baixa qualidade do material de reprodução.
Ambiente quente, em carneiro de raças provenientes de regiões
temperadas, retarda o início da produção espermática, além de diminuir
a libido em temperaturas elevadas, o que não acontece em raças
oriundas do Mediterrâneo. Dutt e Hamm (1957) submeteram carneiros
de dupla finalidade da raça Southdown a 32 °C e a 10 °C e concluiu
que o volume de sêmen foi de 0,77 mL a 32 °C; 0,98 mL a 10 °C; e a
mobilidade dos espermatozóides foi de 41,8 a 32 °C, e 73,3 a 10 °C; a
concentração de espermatozóides em 10.000 mL foi de 243,3 à
temperatura de 32 °C; 343,5 à temperatura de 10 °C, e o número de
espermatozóides anormais foi de 36,9 (32 °C) e 6,4 (10 °C).
Em ovelhas, altas temperaturas provocam grande perda de
embriões nos estágios iniciais, embora a fecundação em si pareça não
ser afetada. A exposição de ovelhas em gestação ao estresse calórico
provoca elevada incidência de cordeiros mais leves e menos
desenvolvidos que o normal, além do aumento da mortalidade de
animais novos.
Inseminando artificialmente coelhos com esperma cultivado a
40 °C, por três horas, observou-se que diminui a sobrevida do embrião.
A imersão do escroto de cobaias durante 10 minutos, em água a
47 °C, provocou degeneração dos tubos seminíferos e foram
necessários 45 dias para voltar ao normal e para não se verificar nenhum
efeito quando a temperatura foi de 45 °C.
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 47
VI. ADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS
1. GENERALIDADES
Neste ano de 2009, em que se comemora os duzentos anos da
existência de Darwin, fala-se muito em evolução dos animais e que
estes, para se adaptarem ao meio ambiente em constante mudança,
foram sofrendo modificações morfológicas e fisiológicas para se
adaptarem às mudanças climáticas que ocorreram no decorrer de
milhões de anos, e somente os que conseguiram adaptar-se é que
evoluíram.
Por outro lado, os cristãos crêem que Deus é o Criador e que Ele
não só fez o mundo como todos os seres vivos, vegetal e animal. Os
céticos afirmam que “naquele tempo” não existiam os animais que
existem hoje. Com certeza não, mas será que Deus, com a divina
sabedoria, não dotou os animais com a capacidade para se adaptarem
e de evoluírem de acordo com as mudanças ambientais que certamente
iriam acontecer? Se isso aconteceu, está plenamente justificado o
aparecimento de espécies diferentes daquelas criadas por Ele. Não
vamos aqui polemizar a origem dos animais e sim estudar as adaptações
dos animais para garantirem o seu bem estar e, consequentemente, a
sobrevivência.
Considera-se um animal adaptado quando este apresenta o
mínimo de perdas no desempenho produtivo, boa eficiência
reprodutiva, resistência às doenças, longevidade e baixa taxa de
mortalidade, estando exposto a agentes extressores que
anteriormente lhe eram prejudiciais ou fatais. Segundo Baccari
(1986), a evolução é a consequência da contínua adaptação das
populações frente às mudanças ambientais e que foram modelando-
se paulatinamente ao longo de bilhões de anos. Neste particular, a
seleção natural é o principal responsável por esse processo de
modificações contínuas.
48 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Isto significa que os organismos que hoje existem, evoluíram
gradativamente de algum antepassado, e nessa seleção natural
contínua,somenteosindivíduosmaisaptossobrevivem,ouseja,aqueles
que conseguirem adaptar-se às condições do meio ambiente deixam
seus descendentes que continuam evoluindo, os que não conseguem
esta evolução contínua, sucumbem e tornam-se os ditos “animais
extintos”. Quanto maior o grau de adaptação, maior a tendência da
sobrevivência e reprodução do animal de forma que suas características
biológicas persistam.
2. NOÇÕES GERAIS DAADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS
2.1. Conceitos de adaptação
O conceito genético de adaptação refere-se às características
herdáveis que possibilitam a sobrevivência de uma espécie em
determinado ambiente, podendo resultar da seleção natural,queenvolve
modificações evolutivas espontâneas através de gerações, ou seja,
animais que conseguem adaptar-se geneticamente sobrevivem ou da
seleção artificial, na qual, através do melhoramento genético dos
animais, ocorre a incorporação de características desejáveis impostas
pelo homem
Já segundo o conceito biológico, adaptação é o resultado da
ação das características morfológicas, anatômicas, fisiológicas,
bioquímicas e comportamentais para proporcionar o bem-estar e a
possibilidade de sobrevivência de um animal em um ambiente qualquer.
2.2. Formas de adaptação
O animal apresenta diferentes respostas frete à pressão do
ambiente, que podem ser definidas como:
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 49
• Adaptabilidade: a capacidade que o animal tem de se adaptar, ou
seja, a habilidade de que o animal dispõe de se ajustar ao ambiente
em que vive, até nos extremos climáticos.
• Aclimatação: ajuste fisiológico ao longo do tempo que resulta na
tolerância aumentada ao complexo de estressores imposto pelo meio
a que o animal se submete.
• Aclimação: quando o animal se adapta a uma única variável climática
(por exemplo: temperatura).
3. ASPECTOS MORFOLÓGICOS E FISIOLÓGICOS
PREPONDERANTES NA ADAPTAÇÃO DOS ANIMAIS
Segundo Silva (2008), “a superfície externa do corpo representa
a principal linha de fronteira entre o organismo e o ambiente, sendo a
outra linha constituída pelos tecidos pulmonares e respiratórios”. Essa
condição de fronteira determina as características da superfície externa
do corpo, em função do ambiente e da natureza do organismo. Assim,
animais que vivem em desertos e locais extremamente secos devem
possuir proteção extra contra a perda de água e a intensa radiação
solar. Os que são próprios de regiões frias necessitam de um isolamento
adequado contra a perda de energia térmica. As espécies de regiões
muito quentes devem ser capazes de transferir o excesso de energia
metabólica para o ambiente e, ao mesmo tempo, evitar a entrada de
calor procedente do ambiente. Outros ainda, que vivem em regiões de
considerável variação climática, nas quais extremos de frio se alternam
com extremos de calor, necessitam possuir características externas
apropriadas à compensação destas bruscas alterações ambientais.
Baseado nas informações deste ilustre docente de bioclimatologia
animal, podemos entender a importância do estudo da superfície
corporal do animal em sua adaptação ao ambiente com alterações
constantes, algumas em poucos anos e outras em milhares de anos.
50 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
Como o ambiente é complexo com muitas alterações, a superfície
externa do corpo do animal deve ser dotada de adaptabilidade para se
ajustar a variações do ambiente e assim poder sobreviver em ambiente
inóspito. Para melhor compreensão dos conceitos envolvidos, devemos
lembrar que a superfície cutânea é constituída por: capa externa,
epiderme, derme e hipoderme (Figura 7).
Figura 7. Esquema da superfície cutânea.
3.1. Capa externa
A capa externa constitui a cobertura dos animais e os principais
tipos são: pêlos, lã e epiderme nua (sem cobertura) nos mamíferos,
BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 51
penas e penugem nas aves, escamas e couro nos peixes, escamas
córneas em répteis, e superfície nua nos anfíbios. Entre os mamíferos,
o pelame ou o conjunto de pêlos é a principal proteção térmica.
Proporciona uma barreira do fluxo de calor sensível por meio do
isolamento proporcionado pela estrutura e, principalmente, pelas
camadas de ar aprisionadas entre os pêlos.
Outra forma de cobertura é a lã, que pode ser densa, como em
ovinos, e menos densa, como nos camelos.Alã pode servir de proteção
para animais de clima frio, assim como os que vivem em clima quente e
seco. Os ovinos primitivos apresentam sobre o velo de lã uma segunda
camada de pelos grossos e mais compridos, e que serviam de proteção
para não molhar a lã nas chuvas, pois, se isso acontecer, a lã encharcada
não serve para isolamento térmico.
A plumagem das aves apresenta uma gama de variações de
tipos de penas quanto ao tamanho e à forma. Os principais tipos são as
penas de contorno, que são predominantes e dão formato às aves,
com penas maiores nas asas, que auxiliam nos vôos. As penas são
constituídas na parte inferior por uma formação plumácea, com a parte
superior ou as extremidades mais rígidas.Abaixo dessas penas, existem
as penugens, que são filamentos localizados na base das penas de
contorno, e sua função é essencialmente de isolamento térmico, por
isso os pintinhos recém-nascidos, até aos doze dias de vida, são
totalmente cobertos de penugem, pois, nesse período, necessitam de
calor (32 ºC). Existem ainda, a semipluma, que é o intermediário entre
a pena e a penugem e a filopluma que é semelhante a pêlos. Algumas
aves possuem uma glândula uropígia que produz secreção oleosa,
localizada sobre a última vértebra caudal e elas passam periodicamente
essa secreção com o bico nas penas para impermeabilizar, e assim
evitar que as penas se molhem nas chuvas e de maior utilidade para s
aves aquáticas.
Os animais desprovidos de capas protetoras, com a superfície
corporal constituída de epiderme nua, têm outros meios de
termorregulação para manter a temperatura corporal.
52 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
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Livro bioclimatologia-zootc3a9cnica

  • 1. Leonardo Susumu Takahashi Jaqueline Dalbello Biller Karina Manami Takahashi BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 1ª Edição Jaboticabal 2009
  • 2. © 2009 - Todos os direitos reservados Leonardo Susumu Takahashi Jaqueline Dalbello Biller Karina Manami Takahashi Diagramação e capa: Renato Trizolio Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização expressa dos editores. Takahashi, Leonardo Susumu T136b Bioclimatologia zootécnica / Leonardo Susumu Takahashi, Jaqueline Dalbello Biller, Karina Manami Takahashi. -- Jaboticabal : 2009. 91 p. ; il. ; 21 cm Inclui bibliografia ISBN: 1. Bioclimatologia. 2. Termorregulação. 3.Adaptação e evolução. I. Biller, Jaqueline Dalbello. II. Takahashi, Karina Manami. III. Título. CDU 591.54 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação - Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - Unesp, Câmpus de Jaboticabal.
  • 3. APRESENTAÇÃO Leonardo Susumu Takahashi: Engenheiro Agrônomo (ESALQ- USP, 2001), Mestre em Zootecnia (FCAVJ-UNESP, 2003), Doutor em Zootecnia (FCAVJ-UNESP, 2007), Pós-Doutorando (FCAVJ-UNESP, 2008-2009), atualmente docente da Faculdade de Zootecnia – Campus Experimental de Dracena – UNESP. Jaqueline Dalbello Biller: Médica Veterinária (FCAVJ-UNESP, 2005), Mestre em Zootecnia (FCAVJ-UNESP, 2008), Doutoranda em Zootecnia (FCAVJ-UNESP). Karina Manami Takahashi: Engenheira Agrônoma (FCAVJ- UNESP, 1998), Mestre em Agronomia (FCAVJ-UNESP, 2001), Doutora em Entomologia Agrícola (ESALQ-USP, 2005), Pós-Doutorada em Entomologia (ESALQ-USP, 2007).
  • 4.
  • 5. AGRADECIMENTOS A Deus, pelas nossas vidas e luz e proteção em todos os momentos. Agradecemos especialmente ao emérito Docente e Pesquisador Prof. Dr. Roberto Gomes da Silva, pelos ensinamentos e vasto material científico, sendo que alguns dados estão aqui apresentados para enriquecer este trabalho, sem os quais não teria nenhum respaldo. Aos demais ilustres pesquisadores que divulgaram seus trabalhos na área, que também serviram para enriquecer este trabalho. À direção, aos colegas e acadêmicos do Curso de Zootecnia do Campus Experimental de Dracena – UNESP, pelo apoio e estímulo nesta luta em prol da Zootecnia Brasileira. Aos nossos pais, pela realização pessoal de cada um de nós, pelo apoio em todas as horas e também pela participação em nossos momentos de alegria. Os autores
  • 6. SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOCLIMATOLOGIA .................. 1 II. O MEIO AMBIENTE E ESTUDOS CORRELATOS ........................ 3 1. Generalidades ................................................................................ 3 2. Principais ciências que estudam o ambiente ................................. 5 3. Elementos e fatores que atuam no meio ambiente ........................ 8 III. CONFORTO TÉRMICO .............................................................. 13 1. Generalidades .............................................................................. 13 2. Calor corpóreo ............................................................................. 14 3. Radiação solar e suas implicações .............................................. 14 4. Sombreamento e radiação ........................................................... 18 5. Radiação refletida e emitida pelo Sol........................................... 19 6. Determinação do estresse causado pela radiação ...................... 20 7. Índices ambientais ....................................................................... 21 IV. TERMORREGULAÇÃO .............................................................. 24 1. Generalidades .............................................................................. 24 2. Mecanismos de transferência de energia térmica........................ 25 3. Regulação da temperatura corporal............................................. 29 V. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO ESPECÍFICA DOS ANIMAIS....................................................... 33 1. Generalidades .............................................................................. 33 2. Efeito do estresse térmico e termorregulação em aves ............... 35 3. Efeito do estresse térmico e termorregulação de bovinos ........... 40 4. Efeitos do estresse térmico e termorregulação em suínos .......... 44 5. Efeito do estresse térmico e termorregulação em outros animais......................................................................................... 46
  • 7. VI. ADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS ............................. 48 1. Generalidades .............................................................................. 48 2. Noções gerais da adaptação e evolução dos animais ................. 49 3. Aspectos morfológicos e fisiológicos preponderantes na adaptação dos animais ................................................................ 50 4. Adaptação e evolução por espécies ............................................ 61 VII. ATUAÇÃO DO HOMEM NO BEM-ESTAR DOS ANIMAIS ........ 67 1. Generalidades .............................................................................. 67 2. Estratégias de alimentação e conforto térmico ............................ 68 3. Atuação do homem no bem-estar das aves ................................. 69 4. Atuação do homem no bem estar dos bovinos ............................ 74 5. Atuação do homem no bem estar de suínos................................ 78 VIII. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................ 84 APÊNDICE ....................................................................................... 91
  • 8. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Fontes de radiação térmica sobre o animal. Pode ser observada a radiação solar de ondas curtas (a); radiação de ondas curtas refletidas pelas nuvens (b); radiação de ondas longas emitidas pelo Sol e refletidas nas nuvens (c); radiação celeste de ondas curtas (d); radiação de ondas longas emitidas por corpos e objetos vizinhos (e); radiação de ondas longas emitidas pelo solo (f) e radiação de ondas curtas refletidas na superfície do solo (g) (SILVA, 2000) .......................................... 17 Figura 2. Carga de energia recebida pelo animal ao sol (70 cal/ HS/cm²) e à sombra ................................................................... 18 Figura3.Esquemadocontroledatemperaturacorporal(MULLER, 1982) .......................................................................................... 23 Figura 4. Representação esquemática da troca de calor de um ovino (CUNNINGHAM, 2004). ................................................... 25 Figura 5. Esquema de transferência de calor (CUNNINGHAM, 2004). ......................................................................................... 27 Figura 6. Representação esquemática simplificada do processo de termorregulação (SILVA, 2000 .............................................. 28 Figura 7. Esquema da superfície cutânea....................................... 44 Figura 8. Camadas da epiderme (SILVA, 2000).............................. 46 Figura 9. Esquema da melanogênese (SILVA, 2000). .................... 46
  • 9. Figura10.Representaçãoesquemáticadeummelanócitoinserido entre células da camada basal da epiderme (SILVA, 2000) ...... 46 Figura 11. Formação dos grânulos de melanina nos melanócitos (SILVA, 2000). ............................................................................ 46 Figura 12. Folículo secundário de ovino (A) e folículo piloso primário (B) (SILVA, 2000). ........................................................ 47 Figura 13. Folículo piloso (MULLER, 1982). ................................... 48 Figura 14. Localização da glândula sudorípara do tipo écrina (MULLER, 1982). ....................................................................... 49 Figura 15. Localização da glândula sudorípara do tipo apócrina (MULLER, 1982). ....................................................................... 50
  • 10. PREFÁCIO Ainda na primeira década do século XXI, deparamo-nos com artigos assustadores, que no primeiro momento nos chocam e parecem até exagero, mas fatos comprovados não deixam dúvidas. Citamos aqui apenas alguns deles: “O mundo está derretendo”, afirmando que, pelas análises de milhares de pesquisas avaliando o aquecimento global, concluiu-se que a sobrevivência do planeta está em alerta vermelho e que somos culpados por isso; ou “catástrofe todos os anos”, esclarecendo que o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Suíça prevê o futuro dominado pelos extremos climáticos (CHARÃO, 2006) ou, ainda, “Satélites comprovam o aquecimento global”, diz a NASA, informando que a temperatura média global aumentou 0,43°C por década, entre os anos 1981 a 1998. Em termos mais conciliadores, Cicerone (2007) publicou um artigo intitulado “Em nome dos nossos filhos” em que o autor não prega o abandono radical dos hábitos modernos o qual induz o aquecimento global, mas conclui que: “quanto mais ações em prol do ambiente tomar hoje, mais opções terão os nossos filhos e netos”. Com muita alegria e renovada esperança, deparamos com o artigo de Marques (2008), na Revista PESQUISA DA FAPESP – 151 (setembro de 2008), com destaque na capa: “Mudanças climáticas – Especialistas de várias áreas se organizam para entender e enfrentar os novos tempos”, quando foram convocados cientistas de várias áreas a participarem do lançamento oficial, no dia 21 de agosto do “Programa FAPESP de pesquisa sobre mudanças climáticas globais”, no qual serão investidos R$ 100 milhões em dez anos, sendo um dos temas:As mudanças climáticas sobre a agricultura e a pecuária. Sem dúvida, é uma grande notícia que nos dá esperança de um futuro melhor, ao constatar que lideranças de renomada e importante instituição estão preocupando se e abrindo a possibilidade de os pesquisadores
  • 11. disporem de recursos para estudar e, quem sabe, encontrar meios de minimizar o efeito catastrófico do aquecimento global. Neste panorama assustador e ao mesmo tempo animador, elaboramos este trabalho de forma simples e didática, com o intuito de oferecer subsídios para aqueles que se interessam pela bioclimatologia zootécnica, com esperança de contribuir não somente para o melhoramento quantitativo e qualitativo da produção animal, visando apenas à lucratividade da criação, mas sobretudo e principalmente visando ao bem-estar dos animais sob nossa responsabilidade.
  • 12. I. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOCLIMATOLOGIA Para melhor compreensão da bioclimatologia, é necessária, antes de tudo, a análise detalhada dos fenômenos naturais e dos conceitos destes fenômenos, pois a bioclimatologia nada mais é do que o estudo dos fenômenos naturais do ambiente, influenciando a vida animal e vegetal. Conforme Baccari Jr. (1986), os primeiros passos sobre a bioclimatologia foram dados por Hipócrates, filósofo grego, que há 2.000 anos elaborou o tratado “Ar, água e lugares”, mas estudos nessa área têm evoluído nestes dois mil anos. Algumas definições da bioclimatologia surgiram, tal como a de Baccari Jr (1986), definindo esta ciência como “ramo da climatologia e da ecologia, que trata dos efeitos do ambiente físico sobre os organismos vivos” e também a de Tito (1998), conceituando a bioclimatologia animal como “ciência que busca entender as relações entre elementos climáticos e a fisiologia animal, tendo como perspectiva a superação de barreiras (limitações) impostas pelo meio ambiente sobre a expressão do potencial genético dos animais”. Segundo Silva (2000), a bioclimatologia é “o campo especializado da climatologia que se ocupa das relações entre biosfera e atmosfera, e é também compartilhada com a ecologia”. Então, bioclimatologia animal é a ciência que busca entender as relações existentes entre os elementos climáticos e a fisiologia animal, tendo como meta o bom desempenho animal de acordo com o potencial genético. Segundo Pereira (2005), mudanças climáticas têm causado transtornos biológicos, e todas as regiões vão ser afetadas pelos efeitos negativos do aquecimento global, pelas ações devastadoras provocadas pelo homem ao meio ambiente, penalizando principalmente os países pobres e subdesenvolvidos que têm aumentado a frequência e a intensidade, do que é conhecido como “acontecimentos extremos”. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 1
  • 13. Chuvas intensas, inundações, deslizamentos e avalanches ocorridos no final de novembro de 2008, em Santa Catarina, não seriam consequência das alterações do clima provocados pelo homem? E o calor intenso (o efeito estufa) e a falta de chuva no sertão brasileiro, será que algum dia, poderão ser pelo menos atenuados? Tudo isso nos faz lembrar as sábias palavras de Cicerone (2007): “quanto mais ações hoje contra o aquecimento global, melhor para as futuras gerações” ou ainda: “quanto mais ações em prol do ambiente forem tomadas hoje, mais opções terão nossos filhos e netos”. Mas não basta apenas despertar para o problema, são necessárias bases científicas para a solução ou, pelo menos para atenuar os problemas destacados no artigo de Fabrício Marques, na revista Pesquisa – FAPESP nº 151, de setembro de 2008, “Caapiranga, no Amazonas, em outubro de 2005: o lago virou sertão”; “Seca em Manaus e tornado em Florianópolis: eventos extremos”; “Cheia no rio Tocantins invade Marabá: impacto provável no regime de chuvas”; “Poluição em São Paulo: risco de doenças respiratórias podem aumentar”. Esses são alguns fenômenos desastrosos apresentados pelo autor, mas com certeza ocorreram muitos outros. No momento, creio não ser oportuno apenas identificar os culpados e aplicar sanções que, na maioria das vezes, são ineficazes, é necessária a conscientização dos problemas e, como enfatiza Fernando Henrique Cardoso: “o esforço dos cientistas também deve ser direcionado a informar e envolver a sociedade, a fim de que o conhecimento gerado se transforme em ações concretas”, concluindo que: “Sem a pressão da sociedade não há cobranças e as coisas acontecem com mais dificuldades”. Enquanto as soluções para os problemas não aparecem, nós, os pesquisadores na área zootécnica, devemos conhecer melhor as adversidades impostas aos nossos animais, encontrar meios de interferência, de forma que os animais sob nossa responsabilidade, consigam ter melhor produtividade e, sobretudo, contribuir para o bem- estar desses animais. 2 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 14. II. O MEIO AMBIENTE E ESTUDOS CORRELATOS 1. GENERALIDADES O ambiente físico é constituído por quatro domínios que trocam energia entre si, sem nenhuma dominância entre eles. São eles: litosfera, hidrosfera, biosfera e atmosfera. Litosfera é a parte externa consolidada da terra, a crosta terrestre ou solo com suas características particulares, com grandes variações na composição de local para local, pela sua origem e estado de transformação ao longo do tempo, desde o regolito, que é solo na sua formação sem atuação de nenhum organismo, até o solo com possibilidade de vida biológica. Hidrosfera como o próprio nome já diz, é o domínio das águas oceânicas e continentais da superfície terrestre. Biosfera é a superfície da litosfera onde se encontram os seres vivos, a porção da terra onde atua o ecossistema, isto é, o solo, a água e o ar biologicamente habitados. Em resumo, todos os seres vivos utilizam, na sua constituição, a água da hidrosfera, o nitrogênio e outras fases da atmosfera e os minerais da litosfera. Atmosfera corresponde a camada que envolve a terra, constituída na sua maior parte por um reduzido número de elementos. Na atmosfera estão os gases “permanentes” ou “não variáveis” cuja concentração na atmosfera é aproximadamente constante (até 90 km de altura), e os “variáveis” representados pelos demais. Os constituintes de ar atmosférico estão apresentados na Tabela 1. A atmosfera terrestre possui uma estrutura vertical extremamente variável quanto a inúmeros aspectos: composição, temperatura, umidade, pressão, movimento, etc. Troposfera é a camada mais baixa da atmosfera que está em contato direto com a superfície da Terra. Tem a espessura de cerca de 18 km nas proximidades do equador, diminuindo para 8 km perto dos BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 3
  • 15. polos. É bastante instável e é nela que ocorrem os fenômenos meteorológicos mais importantes. Estratosfera estende-se desde os limites superiores da troposfera até cerca de 45 km de altitude, sendo relativamente estável. Apresenta correntes horizontais de ventos fortes, que tendem a dispersar as partículas sólidas e gasosas que invadem esta área. Nesta camada existem poucas nuvens. Mesosfera é a camada que se estende entre 45 e 75 km de altitude. Ionosfera é a camada entre 75 e 400 km de altitude e representa o limite entre a atmosfera e o espaço exterior. Embora nessa grande altitude a concentração de oxigênio seja muito baixa, é nessa camada que se forma o ozônio (O3,) pela ação da radiação ultravioleta. Para fins meteorológicos, porém, é importante saber o que ocorre na troposfera, que é a primeira camada da atmosfera onde ocorre a maioria dos fenômenos meteorológicos. Tabela 1. Constituintes do ar atmosférico. 4 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 16. 2. PRINCIPAIS CIÊNCIAS QUE ESTUDAM O AMBIENTE O ambiente é estudado por várias ciências, cada uma atuando em áreas diferentes, para que, em seu conjunto, possamos entender a natureza e com isso, tentar esclarecer as causas, quando houver, e minimizar os efeitos negativos dos fenômenos naturais. E desta maneira preservar a natureza e, ao mesmo tempo, promover o bem- estar dos animais e vegetais. 2.1. Ecologia A ecologia é a ciência que trata das inter-relações entre os seres vivos e o ambiente físico. Dependendo do ser vivo em estudo, a ecologia divide-se em Ecologia Animal, que estuda a relação entre os animais e o meio, Ecologia Vegetal, que estuda a relação entre os vegetais e o meio e Ecologia de Micro-organismos, que estuda a relação entre os microorganismos e o meio. 2.2. Meteorologia Ramo da física que se ocupa dos fenômenos atmosféricos (meteoros). O seu campo de atuação abrange o estudo das condições atmosféricasemdadoinstante(o“tempo”),dosmovimentosatmosféricos e das forças que os originam (dinâmica da atmosfera), do estudo das condições médias e das flutuações temporais da atmosfera em um local (clima), definindo-se as especialidades básicas. 2.3. Climatologia Climatologia estuda o clima e suas características num determinado lugar ou região. O clima é determinado pelos estudos de vários fatores que são denominados de fatores climáticos, que são de BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 5
  • 17. ordem astronômica, meteorológica e geográfica, por um período médio de 10 a 30 anos. Os elementos climáticos, como temperatura, umidade, precipitação, ventos, radiação, pressões barométricas e ionização, são efeitos ou condições de momentos que derivam dos fatores climáticos mais constantes ou de características locais. Alguns desses fatores, como latitude, altitude, distribuição da terra, da água e contornos dos continentes, são físicos, já as correntes marítimas e vegetação são dependentes intermediários entre fatores físicos e os elementos climáticos. Entre os fatores de ordem meteorológica, podemos citar as massas de ar que podem estagnar num determinado local, influenciando, sobretudo, a temperatura, pelo tempo em que estiverem paradas neste local. Além disto, essas massas podem locomover-se para outras regiões,modificandoascaracterísticasdasregiõesparaondesemovem. De acordo com a latitude da região onde se formam essas massas são denominadas de equatorial, tropical, ártica ou polar ou, ainda, classificando-se de acordo com a área, oceânica ou terrestre, sendo chamadas de marítima ou continental. Outro fato meteorológico é a camada da atmosfera, pois a massa gasosa da Terra é formada de várias camadas que são atravessadas pela radiação solar. Essa intensidade sobre a superfície terrestre modifica-se bastante. O total de energia radiante emitida pelo Sol sobre a Terra tem o seguinte destino: parte é difundida nas camadas atmosféricas e perdida nas nuvens, outra parte é refletida pela atmosfera e perde-se, e, portanto, a energia radiante que chega à superfície terrestre é em torno de 1/3 da energia emitida pelo Sol (SILVA, 2000), e quando existem fatores que favorecem maior incidência de radiação solar na Terra, ocorre maior contribuição para o aquecimento global. Um fator de ordem meteorológica muito importante é o limite de disponibilidade solar para a produção de alimento humano que está diretamente relacionado à produção e utilização de carbono, elemento 6 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 18. fundamental na formação de vida. Um homem de 70 kg de peso possui 12 kg de carbono na constituição (MULLER, 1982), e para poder então a humanidade manter o consumo de carbono, o homem teria de alimentar-se do seu semelhante. Porém, existe na natureza a fotossíntese, fenômeno biológico em que os vegetais são capazes de transformar a energia radiante em energia química, utilizando o CO2 disponível na atmosfera, incorporando-o no vegetal que alimenta o homem e os animais que também são consumidos pelo homem, o que podemos chamar de conversão de energia solar em alimento humano. Muller (1982) apresenta dados bastante interessantes sobre a superfície do solo necessária para produzir energia alimentícia para o homem em um ano, que são: alga – somente 1 m² seria o suficiente, batata – seriam necessários 600 m², leite – 1.500 m², carne de suíno – 4.000 m², e ovos – 20.000 m². Nos fatores geográficos, o elemento de maior influência é a latitude, pois o Hemisfério Norte apresenta 39,3% de solo e 60,7% de água, o Hemisfério Sul, a terra apresenta apenas 10,1% e a água 89,7%. Portanto, o Hemisfério Norte apresenta menor quantidade de água, fator este que produz influencia o clima de cada região. Caso a Terra fosse fisicamente uniforme, o verão seria mais quente e o inverno mais frio no Hemisfério Sul pela inclinação do eixo da Terra em relação ao Sol. Porém, tal fato não ocorre pela quantidade de água ser maior no Hemisfério Sul, e a energia do Sol é absorvida pela água dos oceanos, ocorrendo o seguinte: a água fria de baixo para cima libera frio, resfriando mais a Terra no verão e no inverno ela libera calor, amenizando o frio no Hemisfério Sul. 2.4. Bioclimatologia Entre as mais variadas definições sobre bioclimatologia, a forma mais simples e ao mesmo tempo mais ampla, é a que define como o estudo da inter-relação entre clima, solo, planta e animais, BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 7
  • 19. complementado como um ramo da ecologia que estuda as reações e adaptações dos organismos vivos no ambiente em que vivem. Na área zootécnica, em países de clima quente como o nosso, um dos objetivos, senão o principal, é estudar o efeito do estresse térmico pelo excesso de calor sobre o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. Através desse estudo, definem-se o tipo e disposição das instalações e os métodos de manejo, com o objetivo de minimizar o efeito ou proporcionar o conforto térmico. 3. ELEMENTOS E FATORES QUE ATUAM NO MEIO AMBIENTE Elementos não variáveis que caracterizam o estado da atmosfera e os fatores são agentes casuais que condicionam os elementos climáticos, determinando o clima da região. Pois clima, segundo Köeppen, é o somatório das condições atmosféricas que fazem um lugar da superfície ser ou não ser habitável pelos homens, animais e plantas, ou ainda, clima é a interação de fatores meteorológicos que conferem a uma região suas características e sua individualidade (THORNTHWAITE, 1948). Os principais agentes que atuam no ambiente são: Radiação solar: a vida na Terra depende da radiação solar. Segundo Silva (2000), toda energia para os processos físicos e biológicos da superfície terrestre provém do Sol, e muitos aspectos da bioclimatologia envolvem fenômenos de transferência destas energias em sua forma radiante. Apesar da importância fundamental e vital para a biosfera, apenas em torno de 30 % da radiação solar são absorvidos pela Terra. Temperatura do ar: a temperatura é medida de acordo com a quantidade de calor do ar. O calor recebido do Sol a Terra conserva e irradia para a atmosfera, daí a diferença de temperatura entre o dia de temperatura mais alta e a noite de temperatura mais fria. Porém, pelo 8 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 20. fato da superfície terrestre absorver e irradiar o calor, o início da noite é geralmente mais quente que a madrugada, antes de nascer o Sol. A temperatura do ar sofre influência de vários fatores, como: horário do dia, sendo geralmente observada temperatura mais alta por volta das 15 h e mais fria durante a madrugada, estação do ano, sendo a estação mais fria o inverno e a mais quente o verão, pela distância da Terra e do Sol em sua translocação durante o ano, ocorrendo em altitudes menores temperaturas maiores, isto porque a camada de ar está mais distante da superfície da Terra, que irradia calor, além do ar rarefeito absorver menos calor, latitude, isto é, à medida que nos distanciamos da linha do equador, a temperatura torna-se mais baixa, porque sobre o equador os raios solares incidem perpendicularmente, e à medida que nos afastamos em direção ao pólo, aumenta a inclinação dos raios solares, nebulosidade, pois as nuvens diminuem a dispersão de massas aquecidas para camadas mais altas, por isso as noites estreladas e sem nuvens são sempre mais frias, distribuição das terras e águas, pois a água demora mais para aquecer e também para esfriar que a terra, além de outros fatores, tais como a vegetação, corrente marítima, ventos, chuvas e construção de alvenaria, asfalto, etc. A temperatura é medida por termômetros, que podem diferir de acordo com o elemento sensível (mercúrio, álcool e hidrocarboneto), sendo o mais utilizado o mercúrio, pela sua precisão. Quanto à escala, pode ser em graus centígrados ou em graus Fahrenheit, sendo o mais usual o centígrado, cuja escala vai de 0°C (gelo fundente) a 100 °C (água em ebulição), 0 °C corresponde a 32 °F, e 100 °C corresponde a 212 °F. De acordo com a temperatura durante o ano, segundo Köeppen, as zonas térmicas são divididas da seguinte forma: Zona tropical: pequena variação de temperatura, com calor durante o ano, não menor de 20 °C. Zona subtropical: temperatura acima de 20 °C, de 1 a 8 meses, diferença de temperaturas máximas e mínimas de 7 a 18 °C, de acordo com a altitude e a latitude. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 9
  • 21. Zona temperada: temperatura inferior a 20 °C, no mínimo 8 meses ao ano, com estações bem definidas. Zona fria: apenas 4 meses com temperatura acima de 10 °C, sem verão. Zona polar: temperatura abaixo de 10 °C o ano todo. Pressão atmosférica: a pressão atmosférica equivale ao peso de uma coluna de mercúrio com 760 mm de altura e 1 cm² de base ao nível do mar, e é medida geralmente por barômetros de mercúrio, por ser mais exato.Apressão varia de acordo com a hora do dia e a estação do ano, em função da temperatura e possui grande variação de acordo com a altitude. Com o aumento da altitude, diminui a densidade das camadas de ar, até a altitude de 300 m e a cada 10 a 11 m diminui 1 mm na pressão atmosférica.Ao nível do mar, ou seja, altitude zero, a pressão atmosférica é de 760 mm, diminuindo à medida que a altitude sobe; por exemplo, a 20.000 m de altitude, a pressão é de 41 mm. A pressão atmosférica é importante no deslocamento do ar no sentido horizontal. Pois o vento, na existência de um gradiente de pressão atmosférica, desloca-se da região de maior para a de menor pressão. Vento: com a movimentação das massas de ar de uma região de maior pressão para outra de menor pressão, formam-se os ventos, cuja intensidade varia de acordo com este gradiente de pressão, mas a sua velocidade é influenciada pelas características da superfície terrestre, ou seja, pela existência ou não de vegetação, de montanhas ou de outros acidentes geográficos como vale, água, etc. Outro fator muito importante que deve ser considerado é a velocidade e a direção dos ventos em função da diferença de como se aquecem e se esfriam a terra e a água. Por exemplo, as brisas aparecem nas regiões banhadas pelo mar durante o dia (10 h até o entardecer), a brisa marítima sopra do mar para a terra, pois a terra se aquece mais depressa do que a água do mar. Durante a noite, a brisa tem o sentido contrário, isto é, sopra do continente para o mar, sendo denominada de brisa terrestre, pois a terra esfria mais depressa que o mar. 10 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 22. Umidade atmosférica: existem duas formas de se expressar a umidade atmosférica: a) umidade absoluta, que é o peso do vapor de água contido em 1 m³ de ar, conforme a temperatura pode variar esta quantidade, e b) umidade relativa do ar, que é a relação existente entre a quantidade de vapor de água contida no ar e a quantidade máxima que pode suportar, a uma dada temperatura, sem que ocorra a precipitação. Nebulosidade atmosférica: quando o ar atmosférico está saturado de vapor de água ele sofre uma diminuição de temperatura, ocorrendo a condensação, formando gotas de água em suspensão no ar e provocando o nevoeiro ou as nuvens. A formação dessa suspensão de gotículas de água na atmosfera pode ser causada pela mistura de duas massas de ar de temperaturas diferentes, passagem de massas de ar quente por uma superfície fria, e vento frio sobre uma superfície líquida mais quente. Denomina-se de nevoeiro a nebulosidade que se forma na camada inferior da atmosfera na superfície terrestre, e de nuvens, quando se forma na camada mais elevada, com nomenclatura diferente conforme a altura. De 8.000 a 11.000 m, recebe a denominação de cirros, de 2.000 a 6.000 m, cúmulos, de 500 a 1000 m, estratos, e quando são bem baixas e secas, nimbos. Precipitação atmosférica: as precipitações que ocorrem na superfície terrestre podem ser orvalho, geralmente formado em noites claras e sem vento, quando a superfície terrestre fica mais fria que o ar. Neste caso, o vapor de água precipita-se em gotículas, cobrem objetos e vegetação e quando a temperatura da superfície fica menor que 0° C, o orvalho congela e produz a geada. As precipitações que ocorrem na troposfera são resultantes do encontro de camadas de ar frio com uma nuvem saturada de vapor, formando gotículas que se congelam em pequenos cristais hexagonais e se precipitam, formando neve. Ou granizo, quando a precipitação resultante do vapor de água contida na nuvem cai em pequenas gotas BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 11
  • 23. congeladas que em contato com a camada fria da atmosfera chegam ao solo em forma de pedras de gelo, por isso são conhecidas vulgarmente como “chuva de pedra”. As chuvas, importantes entre as precipitações, ocorrem quando nuvens saturadas de vapor de água, em contato com uma camada de ar frio, precipitam-se em gotas de água.Aquantidade de água da chuva é medida pelo pluviômetro e é dada em mm, podendo ser medida em uma única chuva ou acumulada em um mês ou ano. É importante conhecer o total de chuvas caídas em um ano, porém é mais importante ainda a distribuição durante o ano.Através destes dados, temos o regime pluviométrico, sempre medido em mm. 12 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 24. III. CONFORTO TÉRMICO 1. GENERALIDADES Conforto térmico para animais homeotérmicos é quando o animal se encontra em um ambiente de equilíbrio térmico, ou seja, situação em que o animal não necessita mobilizar os recursos de termorregulação para se ajustar às condições ambientais. Portanto, o animal não sofre estresse pelo frio ou pelo calor. Nestas condições, desde que alimentado adequadamente, o animal apresenta o máximo do desempenho produtivo de acordo com o potencial genético. Os limites de temperatura ideal para o conforto animal estão condicionados a vários fatores, tais como: espécie, raça, peso, idade, estado fisiológico, condição nutricional e fatores ambientais variados. Segundo Silva (2000), alguns autores determinam o conforto térmico de várias espécies de animais, baseando-se na umidade e na temperatura. É bem verdade que estes dois fatores são determinantes, porém é importante que se considere, também, a radiação solar, para não corrermos o risco de não considerar a diferença entre animais mantidos no interior de um abrigo à sombra e sob o sol direto. Outro fator que pode atuar na termoneutralidade é o vento. Em um ambiente com a mesma temperatura, mesma umidade do ar e mesma intensidade da radiação solar, a presença do vento influencia diretamente no bem-estar do animal. A importância do conforto animal reside no fato de que, na termoneutralidade, o gasto de energia para a mantença do animal ocorre a nível mínimo e desta forma, a energia metabolizada pode ser direcionada quase que na totalidade para os processos produtivos, não ocorrendo o consumo de energia de que todo e qualquer mecanismo de termorregulação necessita. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 13
  • 25. 2. CALOR CORPÓREO Para as funções básicas, ou seja, para as reações químicas do organismo, os animais dependem da temperatura corpórea.Aelevação da temperatura acelera as reações provocando uma diminuição das atividades. Para que não ocorram essas flutuações nas funções fisiológicas pela variação da temperatura, os animais homeotérmicos desenvolveram um meio pelo qual a temperatura corporal é mantida relativamente constante, diferentemente dos animais pecilotermos, cuja temperatura corporal varia com a temperatura ambiente. As temperaturas das partes do corpo podem diferir devido às diferentes taxas metabólicas, ao fluxo sanguíneo ou a distância da superfície. O fígado e o encéfalo podem ter uma temperatura mais alta do que o sangue. A temperatura central do corpo é mais alta do que a temperatura dos membros e das orelhas ou qualquer outra parte externa do corpo. Isto acontece porque a produção de calor interno é consequência do metabolismo que, no processo de reações químicas do alimento, gera calor, e quanto mais distante da fonte de calor, menor a quantidade de calor. Considerando que o sangue circulante é um distribuidor de calor corpóreo, o calor pode ser levado e exposto a um gradiente de temperatura na superfície da pele e dissipado para o meio ambiente. A facilidade ou não da dissipação de calor para o ambiente depende basicamente dos fatores ambientais e, particularmente, da temperatura do ambiente, que é diretamente proporcional à intensidade da radiação solar. 3. RADIAÇÃO SOLAR E SUAS IMPLICAÇÕES A radiação solar é uma energia eletromagnética de ondas curtas, que atinge a Terra e é a fonte principal de calor no ambiente, portanto é 14 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 26. imprescindível para a vida na Terra. Da energia solar, grande parte é perdida na atmosfera, da seguinte forma: • Por reflexão: 30% são refletidas pelas camadas de nuvens de volta para o espaço, e 6% são refletida pela superfície terrestre. • Por absorção: 15% são absorvidas na atmosfera pelo vapor de água, CO2 e partículas (aerossóis) e 3% são absorvidas na ionosfera, na formação de ozônio. • Pordispersão:15%sãodispersadaspelaspartículassólidasegasosas. Portanto, da radiação solar, apenas 31% atingem a superfície terrestre. As parcelas da radiação que atingem a superfície da Terra são constituídas basicamente por ondas curtas (0,3 a 4,0 µm). A energia solar que atinge a superfície terrestre ao nível do mar raramente excede 1.088 a 1.120 W/m², mesmo nos dias mais claros; em média, acha-se ao redor de 900 a 980 W/m². A banda UVC (0,20 – 0,28 µm) apresenta um efeito biológico particularmente intenso e perigoso, mas é quase toda absorvida pela camada de ozônio e não ultrapassa a estratosfera. A banda UVB (0,28 – 0,32 µm) é importante para a síntese de vitamina D, mas apresenta riscos de dano celular quando há exposição excessiva a ela. Os raios da banda UVA (0,32 – 0,40 µm) são menos penetrantes e estão associados à síntese de melanina. Entretanto a radiação solar tem vários efeitos biológicos importantes, entre eles: síntese orgânica (fotossíntese, síntese de vitamina D); transformação da matéria (melanogênese, eritemas, efeitos bactericidas), e efeitos diversos (fotoperiodismo, fototropismo, fototaxia, movimentos fotonásticos, germinação de sementes, fotomorfose, estímulos nervosos e glandulares). 3.1. Efeito da latitude na radiação solar Latitude é a distância angular entre um ponto qualquer da superfície terrestre e o equador. É contada de 0° a 90°, do equador em BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 15
  • 27. direção aos polos norte e sul. Dois fatores relacionam a latitude e a radiação solar: a diferença nas inclinações dos raios solares devido à redondeza da Terra e as diferenças na espessura das camadas da atmosfera. Sobre o equador, os raios solares incidem perpendicularmente e à medida que se afasta em direção aos polos, aumenta a espessura das camadas da atmosfera que os raios solares tèm de atravessar. 3.2. Radiação e conforto térmico O balanço térmico ou a radiação trocada entre o animal e o meio ambiente depende dos tipos de exposição do animal à radiação. A radiação chega ao animal de duas formas: radiação solar direta – através da pelagem ou pelo, 50 a 70% do total em um ambiente aberto e radiação solar difusa – retransmissão do calor radiante. As trocas térmicas por radiação entre os animais e seu ambiente (climas tropicais) determinam as diferenças entre um ambiente tolerável ou insuportável. Todo e qualquer objeto ou superfície, cuja temperatura esteja acima de zero absoluto (0 °C ou – 273,15 °F) representa fonte de radiação térmica. Além disto, alguns outros conceitos são importantes, como: • Energia radiante: absorvida e convertida em energia calorífica. • Irradiação solar (Q): quantidade de radiação por unidade de área e de tempo, recebida por uma superfície da Terra, sendo expressa em joule/m² s ou watt/m² (1 J/s = 1 W). Outra forma de expressá-la é em caloria/cm³ min = 697,7 W/m². • Temperatura Radiante Média (TRM): temperatura média do conjunto de todas as superfícies reais e virtuais ao redor de um animal, em um dado local. Supõe-se que o animal esteja no centro de um envoltório esférico infinitamente grande, cuja superfície interna seja um corpo negro. • Carga Térmica Radiante (CTR): quantidade de energia que o animal troca com as superfícies ao seu redor. Quantidade total de energia 16 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 28. térmica trocada por um indivíduo através de radiação com o meio ambiente. Figura 1. Fontes de radiação térmica sobre o animal. Pode ser observada a radiação solar de ondas curtas (a); radiação de ondas curtas refletidas pelas nuvens (b); radiação de ondas longas emitidas pelo Sol e refletidas nas nuvens (c); radiação celeste de ondas curtas (d); radiação de ondas longas emitidas por corpos e objetos vizinhos (e); radiação de ondas longas emitidas pelo solo (f) e radiação de ondas curtas refletidas na superfície do solo (g) (SILVA, 2000). A velocidade do vento é um fator fundamental para a determinação das trocas térmicas por convecção e evaporação, influindo diretamente no conforto térmico.Aradiação solar que atinge a superfície terrestre é mais ou menos absorvida pelo terreno, dependendo da BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 17
  • 29. natureza do mesmo. Em consequência, a superfície transfere energia térmica para as moléculas de ar imediatamente em contato com elas (convecção). Quando a diferença de densidade do ar adjacente à superfície for tão grande em relação à densidade da atmosfera circundante que força ascensional permita vencer a gravidade, então uma bolha de ar aquecido desloca-se para cima e abre embaixo uma zona de baixa pressão, sendo imediatamente preenchida pelo ar menos quente e mais denso das vizinhanças. Outro fator que influencia as trocas térmicas entre o animal e o ambiente é a umidade relativa do ar. Quando o ambiente está quente e seco, a evaporação processa-se de uma maneira mais rápida e pode ocorrer irritação cutânea e desidratação geral. Por outro lado, em ambiente quente e úmido, a evaporação é muito lenta e causa redução na termólise, aumentando o estresse pelo calor. 4. SOMBREAMENTO E RADIAÇÃO No interior de abrigos a radiação solar direta e, consequentemente, a carga térmica radiante pode ser reduzida. A eficiência do sombreamento depende da radiação proveniente do Sol, do céu aberto, do solo e das demais superfícies que rodeiam os animais, além da própria estrutura da sombra. OsprincipaisfatoresqueinfluenciamnaCTRnointeriordeabrigos são: • Orientação – eixo longitudinal leste-oeste resulta em menor CTR interna do que na orientação norte-sul, pois nessa orientação a radiação solar incide diretamente numa grande área da parede lateral; • Altura do teto (pé-direito)–quantomaiorestaalturamaioraproporção de céu aberto (superfície mais fria que o resto do ambiente); • Existência de paredes – bloqueia a radiação térmica de origem externa, porém há menor ventilação e maior incremento de calor 18 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 30. devido a fontes internas de radiação e emissão de energia absorvida pelas paredes. Além disto, os materiais usados na construção de abrigos devem apresentar como características: • possuir elevada refletividade na superfície exterior exposta à radiação incidente; • possuir baixa condutividade térmica para evitar a transmissão de energia térmica para o interior do abrigo; • possuir estrutura da superfície favorável a dissipação do calor por convecção. Figura 2. Carga de energia recebida pelo animal ao sol (70 cal/HS/cm²) e à sombra (40 cal/HS/cm²). 5. RADIAÇÃO REFLETIDA E EMITIDA PELO SOL Da radiação solar que atinge a superfície do solo, parte é refletida e parte é absorvida. A porção de energia procedente do Sol absorvida pelo solo, o aquece, resultando na emissão de radiação de ondas longas de comprimento proporcional à temperatura do solo (Lei de Wien). Dependendo do material que cobre o solo, a absorção pode variar (Tabela 2 e 3). BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 19
  • 31. Tabela 2. Absorção e emissão de calor por diferentes tipos de piso. Fonte: Silva, 2000. Tabela 3. Influência da cobertura vegetal na carga térmica radiante. Fonte: Silva, 2000. 6. DETERMINAÇÃO DO ESTRESSE CAUSADO PELA RADIAÇÃO Para estimar valores aproximados de estresse causado pela radiação, utiliza-se o globo de Vernon ou globo negro. Essa determinação torna-se de grande importância em climas tropicais.Trata- se de um globo oco de metal (geralmente cobre) de diâmetros variáveis, superfície externa pintada de preto fosco e provido de termômetro para a medição de sua temperatura interna. O globo é colocado no espaço que o animal ocuparia, permitindo uma estimativa dos efeitos combinados da energia térmica radiante procedente do meio ambiente, em todas as direções possíveis, da temperatura do ar e da velocidade do vento, dando assim uma medida 20 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 32. do conforto térmico proporcionado pelo ambiente nessas determinadas condições, supondo-se não haver trocas térmicas por evaporação entre o ambiente e o animal. Utiliza-seoglobodeVernoncomomodelofísico,permitindoestimar oestresseemanimaisdesprezandoatermóliseevaporativa.Parasimular o processo de sudação, e consequentemente a termólise através da evaporação cutânea, o globo pode possuir uma superfície úmida. Quando o equipamento é colocado em um determinado local, o globo troca energia térmica com o ambiente através de mecanismos de radiação e convecção, até que seja atingido um estado de equilíbrio em que o calor ganho e o dissipado se igualam. A partir da temperatura de globo é possível se determinar a Temperatura Radiante Média e a Carga Térmica Radiante (Esmay, 1982), pelas fórmulas: TRM = 100 {[2,51(Vv)0,5 (Tg – Ts) + (Tg/100)4 ]0,25 } (W m-2 ) e CTR (W m-2 )=s(TRM)4 ,onde:Tg =temperaturadeglobo(K),Ts=temperatura de bulbo seco ou ambiente (K), Vv = velocidade do vento (m s-1 ) e constante de Stefan-Boltzmann (K-4 .W.m-2 ) s = 5,67.10-8 . 7. ÍNDICES AMBIENTAIS Como vimos diversos fatores podem influenciar no conforto térmico dos animais e a associação desses fatores constitui diferentes ambientes. Dessa forma, para possibilitar a comparação entre ambientes distintos, no que diz respeito a fatores climáticos que influenciam o conforto térmico, foram propostos alguns índices ambientais, como os apresentados a seguir. 7.1. Índice de Temperatura e Umidade (THI ou ITU) – Thom (1958) Proposto inicialmente para caracterizar ambientes quanto ao conforto térmico de humanos, não leva em consideração a radiação BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 21
  • 33. térmica, não mostrando diferenças para ambientes no interior de abrigos, à sombra ou sob o sol direto. ITU = Ts + 0,36 Tpo + 41,5 Onde: Ts = temperatura ambiente (°C); Tpo = temperatura de ponto de orvalho(1) (°C); De modo geral, dependendo do valor de ITU observado, o ambiente pode ser classificado como: ITU = 70 – condição normal; 70 < ITU < 78 – crítico; 79 < ITU < 83 – perigo; ITU > 83 – emergência. 7.2. Índice de Globo Negro e Umidade (BGHI ou IGNU) – Buffington et al. (1981) Na tentativa de contornar a limitação do ITU, por não levar em consideração a radiação, foi proposto o índice de globo negro e umidade: IGNU = Tg + 0,36 Tpo + 41,5 Onde: Tg = temperatura do globo negro (°C), Tpo = temperatura de ponto de orvalho (°C). Este índice é bastante usado na bioclimatologia zootécnica, pois leva em consideração, através da temperatura de globo negro colocado na posição em que o animal ocuparia no ambiente, os efeitos combinados da radiação solar e do vento. Entretanto, este índice despreza a termólise evaporativa que os animais apresentam como mecanismo termorregulatório. 22 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 34. 7.3. Índice de Globo Úmido (WBGT) – Yaglou e Minardi (1957) Índice desenvolvido para caracterizar ambientes, especialmente importante para indivíduos com termólise evaporativa significativa através da evaporação cutânea. A principal crítica a esse índice é que despreza o movimento do ar. WBGT = 0,7 Tu + 0,3 Tg Onde: Tu = temperatura de bulbo úmido (°C), Tg = temperatura de globo negro (°C). Embora estes três índices apresentados estejam entre os mais populares, apresentam suas deficiências e limitações. Portanto, constantemente outros índices vêm sendo propostos e validados. A grande dificuldade continua sendo a aplicação destes índices em diferentes condições. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 23
  • 35. IV. TERMORREGULAÇÃO 1. GENERALIDADES Entende-se por termorregulação o processo de controle da temperatura corporal de um animal em um ambiente qualquer, quando há um gradiente de temperatura, ou seja, quando o animal não se encontra em termoneutralidade. Os seres vivos são sistemas geradores de energia térmica, produzida no processo metabólico de manutenção das funções vitais do organismo. A energia química, denominada de taxa metabólica, proveniente da transformação dos alimentos, dá origem à energia mecânica, isto é, atividade muscular.Além disto, ocorre troca de energia com o ambiente, denominada de energia térmica, que ocorre de diferentes modos: radiação, convecção e condução. Em um dado momento, o organismo está ganhando e perdendo energia, ou seja, o animal deve estar em equilíbrio térmico com o ambiente, a não ser quando o animal permanece numa condição de trabalho invariável em um ambiente absolutamente inalterado. Normalmente, o animal está em uma troca constante de energia e a temperatura corporal depende do equilíbrio entre os mecanismos de produção, ganho e perda de calor. Essa necessidade de troca de calor para proporcionar o conforto térmico ao animal apresenta grandes diferenças entre os tipos de animais. Nos animais pecilotérmicos, considerados animais de sangue frio ou animais ectotérmicos, a temperatura corporal varia com o meio ambiente externo em que vivem. Esses animais exigem menor energia, conseguindo sobreviver a longos períodos de escassez de alimento, pois despendem menor quantidade de energia na produção de calor, vivendo com baixa taxa metabólica. Por isso, podem utilizar grande parte de seu aporte de energia no crescimento e na reprodução, porém como não dispõem de mecanismos eficazes, no inverno, a maioria dos 24 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 36. répteis e anfíbios hibernam, pois é uma maneira de sobreviver com o mínimo de taxa metabólica, mas com o retorno das temperaturas mais quentes, voltam às atividades normais de sobrevivência e procriação. Nos animais homeotérmicos ou animais de sangue quente, a temperatura corporal não acompanha a do meio ambiente. Por este fato, todos esses animais apresentam mecanismos para produzir calor quando a temperatura ambiente está abaixo da corporal e também dissipar o calor, quando em excesso, pela energia metabólica e pela irradiação que recebe do meio ambiente. Quando estes mecanismos não conseguem manter a temperatura corporal no conforto térmico, podem sofrer transtornos fisiológicos, tais como: • Choque pelo calor: ocorre quando a produção ou ganho de calor excede as perdas, resultando em aumento de temperatura corporal (hipertermia). Quando ultrapassa 41,5 a 42,5 °C a função celular fica seriamente prejudicada, e o animal perde a consciência. A temperatura letal é aquela na qual ocorre a morte do animal, em torno de 45 °C; • Choque pelo frio: ocorre quando as perdas de calor ultrapassam a sua produção e ganho, de tal forma que a temperatura corporal cai aníveisperigosos(hipertermia).Acapacidadehipotalâmicaderegular a temperatura corporal fica prejudicada. A uma temperatura abaixo de 29 °C ocorre a parada cardíaca; • Febre: é uma elevação da temperatura corporal, resultante de aumento no “set point” provocado por pirógenos exógenos e/ou endógenos. O organismo inicia respostas para conservar e produzir calor até que a temperatura corporal alcance de novo o “set point”. 2. MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA TÉRMICA Os animais homeotérmicos precisam manter a temperatura fisiológica para produzir com o máximo de eficiência. Para isto dispõem BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 25
  • 37. de um centro termorregulador localizado no sistema nervoso central. Este centro receptor se localiza no hipotálamo, que funciona como um termostato fisiológico e, quando a temperatura do animal está fora da termoneutralidade, comanda a mudança de produção ou perda de calor. O hipotálamo controla a produção e a dissipação de calor por vários mecanismos que serão discutidos na sequência. Na Figura 3, é apresentado o esquema do mecanismo para o controle de temperatura corporal, segundo Muller (1982). Figura 3. Esquema do controle da temperatura corporal (MULLER, 1982) As células especializadas funcionam com termorreceptores periféricos que captam sensações e levam ao sistema nervoso central. Quando as células receptoras periféricas sentem o calor, esta sensação é transmitida na parte anterior do hipotálamo, e este comanda a perda de calor por vasodilatação, sudorese, aumento no número de movimentos respiratórios e mudanças comportamentais. Quando as células receptoras recebem a sensação de frio, é encaminhado para a porção posterior do hipotálamo, desencadeando a conservação e produção de calor, através da vasoconstrição, piloereção, tremores, oxidação do tecido adiposo e alterações comportamentais. 26 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 38. Os animais, para estarem em homeotermia, necessitam de uma constante troca de calor, e os principais mecanismos são: radiação, convecção e, somente para a dissipação de calor, a evaporação. Por definição, a radiação é a transferência de energia térmica de um corpo para o outro, através de ondas eletromagnéticas. Qualquer superfície, cuja temperatura esteja acima do zero absoluto (-273,15 °C ou 0 °K), emite radiação térmica. O fluxo de calor neste processo, depende da temperatura e da natureza da superfície da pele, por exemplo, animais de cor clara refletem mais radiação que animais de cores escuras. A energia incidente na superfície entra sob a forma de ondas de radiação térmica que pode ser refletida, absorvida e transmitida. As propriedades da superfície quanto à transferência de radiação podem ser: reflexividade, absorvidade, transmissidade e emissividade. A condução é a transferência de energia térmica entre corpos, entre partes de um mesmo corpo, por meio de energia cinética da movimentação das moléculas ou pela movimentação de elétrons livres. Esse fluxo passa das moléculas de alta energia para as de baixa, portanto necessitando de contato direto. É um processo importante na termorregulação do animal, pois este processo permite a passagem de calor desde o núcleo central do organismo até a superfície corporal externa, através do contato entre partículas dos tecidos, e também é responsável pela passagem do calor da superfície da pele para o meio. A velocidade depende do gradiente térmico entre a pele e o meio. A convecção é a transferência de energia através um fluido líquido ou gasoso. A corrente de fluido absorve energia térmica em um dado local e, então, desloca-se para o outro lado, onde se mistura e transfere energia. Ocorre a transferência de energia devido à movimentação de ar, cujas moléculas são de corpos mais quentes para os mais frios, portanto os fatores nesse processo são a movimentação do ar e a extensão da superfície corporal.Aconvecçãopodesernaturaloupassiva quando ocorre o deslocamento do fluido por diferença na densidade. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 27
  • 39. Mas pode ser forçada ou ativa, quando o deslocamento do fluido ocorre por forças ativas, como bombas, ventiladores, mecanismos geradores de ventos ou turbulências. Enqunato a evaporação é a transferência de calor pela passagem das moléculas de água ao ar, sob a forma de vapor. Esse mecanismo de dissipação de calor pode ocorrer na pele e nas vias respiratórias. É um processo muito importante, pois em temperaturas elevadas, a maior parte da dissipação de calor ocorre por evaporação. O animal perde calor quando a água contida no suor, na saliva e nas secreções respiratórias é transformada em vapor de água. A perda do calor por evaporação é contínua, mesmo em condições termoneutras, devido à ocorrência de difusão de água através da pele (sudorese) e vapor de água nas vias respiratórias. A sudorese ou sudação ocorre a partir de glândulas sudoríparas (écrinas e apócrinas) localizadas na derme.Amaior parte dos mamíferos placentários possui glândulas sudoríparas , mas, nos cães e suínos, estas glândulas são pouco desenvolvidas. Nos mamíferos ungulados, as glândulas apócrinas são associadas ao folículo piloso (produzem secreção contendo proteínas). Nos primatas, as glândulas são écrinas, uma solução aquosa semelhante ao plasma. Os animais domésticos que mais suam, pela ordem decrescente de importância desse mecanismo para a termorregulação, são os equinos, asininos, bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos.Além disto, existem sensíveis diferenças entre as raças desses animais. O ofego ou hiperpneia é a forma de aumentar a evaporação pelas vias respiratórias, principal meio de perda de calor por evaporação em aves, suínos, cães e ovinos submetidos a altas temperaturas. A perda de água provoca no animal um aumento no consumo para fazer a reposição. Uma representação gráfica da troca de calor de um animal com o meio ambiente é apresentada por Cunningham (2004), onde se pode 28 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 40. observar como o animal recebe irradiação do meio ambiente e como pode dissipar o excesso de calor (Figura 4). Figura 4. Representação esquemática da troca de calor de um ovino (CUNNINGHAM, 2004). 3. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL Para a transferência de calor, os tecidos são maus condutores, e por este fato, o calor é transmitido mais efetivamente pelo sangue. Em altas temperaturas do ambiente, o fluxo sanguíneo aumenta, as arteríolas dos leitos vasculares dilatam-se e aumenta o fluxo sanguíneo capilar. Aumenta a temperatura nos membros e a perda de calor pela pele. No frio, o fluxo sanguíneo cutâneo diminui pela vasoconstrição nos leitos vasculares cutâneos e diminui a temperatura nos membros e a perda de calor pela pele. A regulação da temperatura corporal é comandada pelo hipotálamo, que possui dois tipos de neurônios: um respondendo ao BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 29
  • 41. frio e outro ao calor. Quando a atividades dos neurônios responsáveis pelo calor e frio se igualam, a produção será igual à perda de calor, e a temperatura corporal será mantida estável. Esse ponto de atividade é denominado de “set point”. As informações provenientes dos neurônios termossensíveis centrais e periféricos são integradas no hipotálamo para regular os mecanismos de perda e conservação de calor. Existem três tipos de neurônios termossensíveis (sensores de temperatura): • Neurônios termossensíveis que monitoram a temperatura cerebral ou central, situados na área pré-óptica do hipotálamo, os quais dão início aos processos de vasodilatação periférica e sudorese; • Neurônios termossensíveis situados na pele, que são receptores cutâneos para o frio e para o calor; • Neurônios termossensíveis que estão situados em vários locais das víceras. A zona de termoneutralidade ou de conforto térmico, ou seja, é a faixa de temperatura ambiente dentro da qual o custo fisiológico é mínimo e o desempenho produtivo esperado é máximo. Nesta condição, a temperatura corporal pode ser regulada apenas por mecanismos vasomotores (convecção e irradiação). A sequência dos mecanismos de defesa contra o calor são: • Vasodilatação periférica: aumento da perda de calor sensível; • Início da sudorese: perda por evaporação cutânea; • Aumento da frequência respiratória: perda por evaporação respiratória; • Mudanças de comportamento: os animais, em geral, procuram a sombra,poçasdeágua,ocorreainibiçãodoapetiteemenorconsumo de alimento; • Alterações na atividade endócrina: o estresse térmico reduz a atividade da tireóide e o metabolismo energético; • Maior consumo de água: para repor as perdas pela evaporação; • Elevação da temperatura corporal; 30 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 42. Poroutrolado,nasrespostasaoestressecausadopelofrio,ocorre: • Vasoconstrição periférica: redução do gradiente de temperatura entre a pele e o ambiente, com diminuição nas perdas por convecção e irradiação; • Piloereção: aumento na camada termo-isolante proporcionada pela pelagem e ar aprisionado entre os pelos; • Produção metabólica de calor: termogênese mediante tremores e não tremores (tecido adiposo marrom); • Aumento de secreção de tiroxina e do metabolismo basal. Ocorre a redistribuição por todo o corpo, principalmente pelo fluxo de sangue que transfere o calor para as partes mais frias, que são as extremidades, resfriando as partes mais quentes, que são o cérebro e as vísceras. Nas Figuras 5a e 5b está representado o esquema de transferência do calor (CUNNINGHAM, 2004). Figura 5. Esquema de transferência de calor (CUNNINGHAM, 2004). Nos ambientes quentes, a temperatura corpórea central estende- se para baixo até os membros e aproxima-se da superfície cutânea do animal. Por outro lado, nas condições frias, a vasoconstrição nos vasos sanguíneos periféricos resulta em um gradiente de temperatura entre as partes centrais do corpo e as extremidades. A temperatura central BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 31
  • 43. mantém-se apenas no abdômen, tórax e cérebro do animal, podendo esfriar consideravelmente nos tecidos mais periféricos. Para cada animal, existe o seu limite de temperatura inferior ou superior de conforto térmico (termoneutralidade). Existem temperaturas crticas inferior ou superior em que, pelos mecanismos de termorregulação, os animais conseguem manter a temperatura corporal. Além destas faixas, atingem-se as temperaturas críticas mínimas e máximas, que são os limites de sobrevivência, e ultrapassando esses limites os animais sucumbem. Na Figura 6 é apresentado o esquema simplificado do processo de termorregulação (SILVA, 2000), onde se observam a temperatura crítica inferior (TCI) e a temperatura crítica superior (TCS).Além desses limites, o animal desencadeia o processo de termorregulação. Até as temperaturaslimiteshi(inferior)ehs(superior),oanimalconseguemanter a temperatura interna com os mecanismos que ele dispõe, e quando a temperatura ambiente é inferior a hi e superior a hs, o animal consegue sobreviver com estresse extremo em hipotermia (inferior) e hipertermia (superior), pois não consegue mais manter a temperatura corporal constante. Quando ultrapassa os limites hi e hs o animal sucumbe. Figura 6. Representação esquemática simplificada do processo de termorregulação (SILVA, 2000). 32 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 44. V. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO ESPECÍFICA DOS ANIMAIS 1. GENERALIDADES Neste capítulo, será dada especial atenção ao estresse térmico pelo excesso de calor, ou seja, estresse causado por temperaturas acima da termoneutralidade. Embora os animais possam sofrer estresse pelas temperaturas abaixo do conforto térmico, particularmente em se tratando de recém-nascidos ou com alguns dias de vida, que tem dificuldade na conservação de calor, e mesmo os adultos, que podem sofrer pela baixa temperatura alguns poucos dias do ano, pelo fato dos animais do nosso país serem encontrados em ambiente de elevada temperatura a maior parte do ano, este é um problema mais comum à produção animal. É bom lembrar que, além da temperatura, existem outros agentes estressores que são tão importantes quanto o estresse calórico, como: doenças, parasitas, qualidade e quantidade de alimento, manejo e uma infinidade de agentes que podem prejudicar o bem-estar dos animais e, consequentemente, a produtividade do animal. Pois, segundo Truman (1988), “o estresse atua em detrimento do bem-estar do organismo”. Outra definição apresentada por Baccari Jr. (1987) é que o “estresse é a soma de respostas do organismo à agressão de ordem física, psicológica, infecciosa e outros capazes de pertubar-lhe a homeostase”. Os tipos de estresse podem ser: mecânicos (traumatismo), físicos (calor, frio, umidade, eletricidade, som), químicos (drogas), biológicos (agentes infecciosos, estado de nutrição, dos esforços corporais) e fatores psíquicos (solidão, medo) conforme (BACCARI JR, 1987). Em se tratando de estresse térmico, para cada espécie animal existe uma faixa de temperatura de conforto térmico. Além das diferenças entre espécies, varia também de acordo com a raça, BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 33
  • 45. idade, peso corporal e outros fatores que interferem na termoneutralidade. Quando a temperatura do meio é abaixo da temperatura crítica inferior ou acima da temperatura crítica superior, ou seja, fora da faixa de conforto térmico, desencadeiam no animal processos de termorregulação, na tentativa de manter a temperatura corporal em homeotermia. Porém, quando a temperatura inferior for abaixo do limite inferior ou acima do limite superior, o animal não consegue manter a temperatura corporal e entra em hipotermia (abaixo) ou hipertermia (superior), e o animal sobrevive com estresse extremo e grande desgaste, portanto com grande prejuízo no desempenho. O limite de sobrevivência do animal é atingido no limite inferior da hipotermia ou no limite superior da hipertermia. Na verdade os animais diferem quanto às altas temperaturas que podem suportar. A tolerância à temperatura extrema pode variar com o tempo de exposição, e um certo grau de adaptação à exposição por um longo tempo na temperatura próxima do limite térmico possa ocorrer. Frequentemente, se amplia este limite, porque o animal com excesso de calor acomoda-se e pode tolerar a temperatura que anteriormente era letal. Devemos lembrar que a temperatura letal para certos animais não pode ser determinada com precisão porque o tempo de exposição é também importante, pois uma temperatura abaixo ou acima do limite de sobrevivência, por alguns minutos, pode ser suportada pelo animal, mas se for mantido por várias horas, o animal pode vir a perecer. Outros elementos também atuam nessa tolerância, como a presença de vento, a umidade relativa do ar, a altitude e ainda outros fatores, como estado de saúde do animal, etc. 34 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 46. 2. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO EM AVES 2.1. Efeito do estresse térmico em aves A moderna avicultura, para atingir melhores resultados, precisa considerar não só os aspectos genéticos, nutricionais e sanitários, mas também os aspectos ambientais, pois, se estes forem desfavoráveis, prejudicam a potencialidade genética na eficiência nutricional e até nos aspectos sanitários das aves, com prejuízos incalculáveis (BAÊTA e SOUZA, 1997). A temperatura ideal para produção de ovos encontra-se entre 21 e 26 ºC. Entre 26 e 29 o C ocorre redução do tamanho e da qualidade da casca. E dos 35 a 38 ºC, a produção é severamente afetada, podendo ocorrer até a prostração das aves. Segundo Truman (1988), a termoneutralidade dos recém-nascidos está entre 35 e 37 ºC, pelo fato do sistema termorregulador não estar ainda bem desenvolvido, portanto há necessidade de temperatura externa para sobreviver. Caso a temperatura esteja abaixo do necessário, os pintinhos podem amontoar- se para se aquecerem uns aos outros, e alguns que ficarem por baixo, acabam morrendo por asfixia. Os efeitos mais evidentes do estresse térmico pelo excesso de calor é a redução do consumo alimentar, na tentativa de reduzir a produção de calor interno provocado pelo metabolismo do alimento. Para as aves (frango e poedeiras), a temperatura crítica superior é em torno de 25 ºC. Acima desta temperatura, as aves comem menos e ingerem maior quantidade de água, na tentativa de diminuir a temperatura corporal.Afrequência respiratória aumenta para que possa ocorrer perda de calor por evaporação. O efeito do estresse térmico pelo calor em frangos torna-se mais prejudicial após a terceira semana de vida, ocasião em que as aves estão em crescimento expressivo, ocorrendo, também, diminuição no BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 35
  • 47. desempenho, piora na conversão alimentar e aumento na mortalidade. Com a temperatura ambiente elevada, ocorre redução no ganho de peso das aves, na ordem de 0,33 g a cada 1 ºC de aumento de temperatura acima do conforto térmico. Conforme Macari (1995), o consumo de água aumenta com o aumento da temperatura ambiente da seguinte forma: 140 L/1.000 frangos, à temperatura ambiente de 20 ºC; 220 L/1.000 frangos, à temperatura de 32 o C. Para poedeiras com 90% de produção, à 20 o C consomem 200 L/1.000aves, e à 32 ºC consomem 400 L/1.000aves e para frangos de corte com 6 semanas de idade, 280 L/1.000 aves e 600 L/1.000 frangos à 20 e 32 o C, respectivamente. Sabe-se que os movimentos respiratórios (ofego) ajudam na eliminação do calor interno por evaporação, porém a hiperventilação pulmonar provoca perdas significativas de CO2 , causando desequilíbrio acido-básico sanguíneo das aves que, dependendo do tempo de exposição ao estresse, podem vir a óbito. Segundo Wang et al. (1989), a eliminação de calor via respiratória através do ofego, quando muito intenso, aumenta a perda de dióxido de carbono pelos pulmões, reduzindo a quantidade de CO2 , bicarbonato do plasma sanguíneo, ocasionando a concentração de íons de hidrogênio no plasma e aumentando o pH do sangue (alcalose respiratória), e isso inicia-se quando a temperatura ambiente atinge 35 ºC, podendo provocar a morte. Outro fato negativo causado pelo ofego das aves é que a passagem normal de ar pelas narinas retém poeira e até bactérias presentes no ar, e como no ofego o ar entra principalmente pelo bico, ocorre a introdução de patógenos que podem provocar infecções respiratórias. Nas aves expostas à temperatura inadequada, ou seja, à alta temperatura, a pressão sanguínea diminui, aumentando os batimentos cardíacos. Durante uma situação aguda de estresse térmico, o sistema cardiovascular distribui o sangue principalmente para a termorregulação, reduzindo em até 44% a distribuição de sangue para funções básicas, 36 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 48. como, por exemplo, a digestão (MOURA, 2001).As aves não sobrevivem por longo período expostas a ambientes com temperatura 5 ºC acima da temperatura ideal; entretanto, são capazes de suportar, relativamente bem, a ambientes com 25 ºC inferior a sua temperatura interna, por isso são poucos os casos em que sofrem pela temperatura abaixo da crítica nos períodos frios do ano, período em que as aves, por meio da termorregulação, podem estabilizar-se embora diminuam as atividades produtivas, mas sem grandes prejuízos. Porém, em período quente, quando ocorrem temporais e as aves em sistema coletivo se molham, sentem frio pela pena molhada e começam a se juntar nos cantos dos galpões, na tentativa de se aquecerem umas às outras, chegando a se amontoarem umas por cima das outras e, nesse momento, as que ficam por baixo morrem por falta de ar. Talvez este seja um dos casos raros de perdas de aves por temperatura abaixo da temperatura crítica em nosso País. Trabalhos de Zimmerman e Snetsinger (1976), comparando a postura de aves manejadas em ambiente com a temperatura de 16 ºC e 32 °C, constataram que o estresse calórico reduziu a produção de ovos em 6%, no tamanho em 14%, e na eficiência de conversão alimentar, a perda foi de 16%. Uma maneira simples e prática para determinar o índice de estresse para aves é proposta por Lara e Baião (2005), que é a seguinte: se a soma numérica da temperatura ambiente com a umidade relativa do ar (desprezando as unidades) for superior a 105, as aves apresentam dificuldade para perder calor, por exemplo, se a temperatura ambiente for de 27 °C e a umidade relativa do ar for de 78%, somam 105; então, a partir daí, as aves passam a sofrer estresse calórico; no entanto, em temperatura ambiente de 29 °C, se a umidade relativa do ar for 70%, então a soma de 29 mais 70 será 99, portanto as aves, nesse ambiente, não estão em estresse calórico, embora a temperatura esteja 2 °C acima da anterior. Lana (2000) avaliou duas instalações na produção de frangos, uma arejada e com ventiladores, mantendo a temperatura próxima ao BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 37
  • 49. conforto térmico e outra com temperatura de 32 °C, e observou consumo de 4,6 kg de ração e ganho de peso de 2,2 kg ao abate nos animais em conforto térmico e consumo de 3,9 kg de ração e ganho de peso de 1,9 kg nos animais em estresse calórico (32 °C). Estudando o efeito da temperatura ambiente sobre o desempenho e as características de carcaça de frangos de corte, Oliveira Neto (2000) comparou o desempenho de frangos dos 22 a 42 dias criados às temperaturas de 23,3 °C e 32,3 °C, e observou consumo de água de 4,9 L e 7,8 L, peso final de 1,9 kg e 1,7 kg, conversão alimentar 1,48 e 2,26, consumo de ração 2,03 kg e 2,01 kg, para ambiente termoneutro e animais submetidos ao estresse térmico, respectivamente. May e Lott (2001), testando as temperaturas de 12, 14, 16, 18, 22, 24, 26, 28 e 30 °C, em pintinhos machos e fêmeas de 21 a 49 dias, observaram que o peso final de abate foi influenciado pela temperatura da seguinte forma: a 12 °C foi de 3,3 kg, que foi melhorando até a temperatura de 18 °C, que foi de 3,4 kg. A partir dessa temperatura, à medida que se submetiam os animais à temperaturas mais altas, o peso final decresceu linearmente, e aos 30 °C, o peso final foi de 2,7 kg. 2.2. Termorregulação em aves O sistema de termorregulação em aves é baseado em quatro diferentes unidades funcionais: o receptor, que percebe os estímulos; o controlador, que são os mecanismos de termorregulação; o efetor, que induz as respostas para a manutenção da temperatura corporal, e o passivo, quando o animal está em homeotermia (MACARI e FURLAN, 2001). Em estresse por excesso de calor, para aumentar a dissipação de calor, as aves procuram maximizar a área superficial do corpo mantendo as asas apartadas do corpo e ocorre aumento do fluxo de sangue para tecidos periféricos não cobertos por penas (pés, crista e 38 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 50. barbelas), aumentando a troca de calor sensível para o meio ambiente. Quando a temperatura ambiente ultrapassa a temperatura crítica superior, um dos primeiros mecanismos acionados é o aumento da ingestão de água e redução no consumo de ração. O acréscimo do consumo de água está diretamente relacionado ao aumento de demanda de água destinada ao processo da perda de calor por meio evaporativo e respiratório (MOURA, 2001). É importante ressaltar que a água fornecida às aves sejam bem frescas, pois já na ingestão pode ocorrer a troca de calor interno. A diminuição de consumo de ração é uma tentativa de diminuir a produção de calor pelas reações químicas geradoras de calor que o metabolismo de alimentação provoca. Estudos realizados por Linsley e Berger (1964) demonstram que, sob condições de estresse térmico, as aves podem aumentar sua taxa de respiração de 25 movimentos respiratórios por minuto para 250. A perda evaporativa de calor para manter o conforto térmico não é simplesmente proporcional à temperatura ambiente. Na verdade, outro elemento tão importante quanto a temperatura é a umidade relativa do ar. Os dados obtidos por Romijn e Lokhorst (1966) confirmam esta afirmação, pois em ambiente quente e seco (24 °C e 40% UR) a perda evaporativa foi de 50%, em ambiente quente e úmido (24 °C e 84% UR) a perda foi de apenas 22%; em ambiente muito quente e seco (34 °C e 40% de UR) a perda foi de 80%, e em ambiente muito quente e úmido (34 °C e 90% de UR) a perda foi de apenas 31%. Como se pode observar, as aves dispõem de poucos processos de termorregulação, particularmente em ambiente acima do limite crítico, daí a importância do homem interferir para possibilitar o conforto térmico em clima quente como o nosso, seja pela instalação, seja por equipamentos e manejos que proporcionem o bem-estar do animal. Assunto que será discutido posteriormente. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 39
  • 51. 3. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO DE BOVINOS 3.1. Efeito do estresse térmico em bovinos Os principais sintomas do estresse calórico em bovinos são o aumento da frequência respiratória que, em ambiente de conforto térmico, é de 40 movimentos por minutos, podendo atingir níveis extremos de 100 movimentos respiratórios por minuto; mesmo com esse número, não representa mais de 25% da perda total de calor corporal. Assim como em aves, a respiração excessiva elimina CO2 que, quando exagerado, pode ocorrer a alcalose respiratória. O consumo de alimentos pode ser reduzido de 20 a 30%, dependendo da intensidade e da duração do estresse, reduzindo consequentemente a produção leiteira. O estresse provoca a sudorese que, em excesso, pode causar perda de minerais e do equilíbrio ácido-base, prejudicando a absorção de nutrientes da ração que já é diminuída pelo estresse. O animal procura sombra adequada, e caso não a encontre à disposição, procura a sombra de outros animais e cercas, e procura pastejar de manhã e à noite, diminuindo o consumo. O estresse calórico, quando muito severo, pode levar a morte de muitos animais. O excesso de calor não só diminui a quantidade de leite, mas também a sua composição (qualidade). As vacas expostas à temperatura de 36 ºC reduzem 14% o teor de gordura do leite e 13% o teor de proteína. O estresse térmico pode reduzir a gordura diária do leite, diminuir a taxa de concepção, além da redução do peso do bezerro ao nascer, aumentando a incidência de mastite e até a retenção da placenta no parto. Com a elevação da temperatura uterina, cria um ambiente hostil ao embrião e pode causar o aborto. O aumento da transpiração dá-se com temperatura de 32 ºC e hiperpneia com 33º C. Em novilhas, o ambiente quente retarda a 40 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 52. puberdade em determinadas raças oriundas de países frios ou temperados e, quando aparece o cio, é bem deprimida. As altas temperaturas provocam a diminuição da duração do estro e o aumento de ovulação silenciosa (sem manifestação). Nas vacas, o estresse pelo calor causa anormalidades nos óvulos, e após a concepção a taxa de crescimento do embrião descresse proporcionalmente à duração de estresse térmico. Observando o corpo lúteo em vacas abatidas, observou-se que, nos primeiros cinco meses de gestação, ocorria a hipoplasia, e, nos últimos três meses, a hiperplasia. Até mesmo em inseminação artificial, a temperatura elevada provoca problemas de reprodução, pois nas novilhas em ambiente de conforto, a taxa de concepção varia em torno de 50%. E na temperatura de 32 ºC, praticamente não ocorre fertilização. O peso do bezerro da raça holandesa ao nascer, no verão, é em média 6 kg inferior a bezerros nascido nos meses mais frios. Nos machos, o estresse térmico prejudica mais a reprodução do que propriamente o ganho de peso, pois atua diretamente no sistema neuroendócrino e, consequentemente, na função reprodutiva, causando decréscimo de fertilidade nas épocas mais quentes do ano. Isto ocorre pelo fato das altas temperaturas provocarem a diminuição da quantidade e qualidade do sêmen, reduzindo o volume do esperma e, ainda, provocando maior formação de espermatozóides anormais. Estes problemas todos são devidos, em grande parte, ao aquecimento do testículo. Quando o estresse térmico é muito prolongado, pode ocorrer até a degeneração testicular, com hipertrofia e tumores adrenais. Thatcher e Coller (1981), trabalhando com touros, relatam que o aquecimento do local do testículo ou os ambientes quentes provocam uma diminuição da mobilidade espermática. Além disto, touros submetidos a altas temperaturas demoram para se recuperar completamente (cerca de 8 semanas), após voltarem à temperatura adequada. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 41
  • 53. Mesmo em touros da raça zebuína que suportam relativamente bem o calor, o sêmen coletado de animais expostos ao ambiente de 30 a 36 °C, durante mais de 30 dias, teve baixa qualidade. Um fator de ordem psicológica provocado pelo estresse calórico em touros é a inibição do instinto sexual e até a suspensão total da libido em machos. O grande problema dos efeitos do estresse provocado pelo calor intenso na questão reprodutiva de fêmeas e machos de bovinos prende-se ao fato de que é bastante difícil detectar esses efeitos maléficos pela grande maioria (para não dizer a totalidade) dos criadores, pois não possuem equipamentos nem a tecnologia necessária. 3.2. Termorregulação em bovinos Muitas raças de bovinos oriundas de países mais quentes encontram-se, em parte, já adaptadas a ambientes mais quentes e, inegavelmente, suportam bem temperaturas ambientais mais quentes que as raças de origem européia. Em ambiente com calor excessivo, os bovinos procuram a sombra de árvores, abrigos e até de outros animais, pois, sem dúvida, é um meio bastante eficaz de termorregulação. É bom ressaltar que a existência de sombras adequadas em pastagem proporciona aumento na produção de leite da ordem de 25% em relação a outras vacas expostas o tempo todo à radiação. Isto acontece porque a sombra pode reduzir em até 30% a carga de calor radiante sobre o animal. Dentre os processos fisiológicos de termorregulação em bovinos, nos ambientes quentes, está o aumento da frequência respiratória, mas quando o animal utiliza o ofego para dissipar calor, processo que permite adissipaçãodeaté25%decalor,comumtempoprolongadodeestresse, pode ocorrer a diminuição excessiva de CO2 e provocar a alcalose respiratória. 42 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 54. Outro processo, talvez até mais importante é a perda de calor por sudação. Esse processo faz com que a vaca holandesa perca 133 g/cm2 de pele por hora e 174 g/m2 em vaca Jersey. Em ambiente com umidade relativa não superior a 70%, a termorregulação por sudação tem um custo bem menor para o animal. Outro elemento que facilita muito a troca de calor para o ambiente por sudação é a presença de vento, sendo ideal vento de 7 a 9 km/hora. Além do ofego e da sudação, o animal reduz a ingestão de alimento, no intuito de diminuir a produção de calor pelo metabolismo, mas como consequência direta, todo o desempenho do animal é prejudicado e isso deve ser evitado ou atenuado a todo custo. Enquanto diminui a ingestão de alimento, aumenta o consumo de água, recurso para reposição das perdas de água por sudação e respiração, além do resfriamento corporal. Em estresse térmico elevado, o consumo de água pode aumentar de 50 para 100 litros por dia, e cada grama de água evaporada representa 582 calorias eliminadas (JOHNSON, 1987). Como modificações comportamentais para a termorregulação, o animal em altas temperaturas diminui o tempo gasto com o pastejo, aumentando o tempo de ócio. Além disto, modifica os horários de pastejo, alimentando-se mais na parte da manhã e à noite. Como foi visto, um dos efeitos mais graves pelo excesso de calor que compromete o desempenho reprodutivo, ocorre no macho, que é a deficiência na produção quanti-qualitativa dos espermatozóides. O primeiro meio de termorregulação que a natureza dotou esses animais, é o fato de os testículos serem alongados na bolsa escrotal, fora da cavidade abdominal (exo-orquidas) e serem ricamente vascularizados por artérias e veias espermáticas. Atribui- se que esse mecanismo de termorregulação é responsável por cerca de 60% de estabilidade da temperatura escrotal, e o fato de a pele escrotal ser bem fina e com poucos pelos, facilita a dissipação de calor. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 43
  • 55. Outro meio existente é a túnica de dardos formada por músculos na face interna do testículo, controlado pelo hipotálamo. Em temperaturas quentes, a musculatura mantém a bolsa escrotal distendida, o que favorece a perda de calor. Quando a temperatura ambiente for baixa, os músculos contraem-se provocando o deslocamento do saco escrotal para mais próximo do abdômen e melhorando o aquecimento do testículo. E ainda, para controlar o efeito de calor externo, a bolsa escrotal possui grande número de glândulas sudoríparas que, pela perda de calor por sudação, contribuem para esfriar os testículos, que devem estar de 2 a 6 0 C inferior à temperatura corporal. 4. EFEITOS DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO EM SUÍNOS 4.1. Estresse térmico em suínos Devido ao seu elevado metabolismo, sua capa subcutânea de tecido adiposo e seu sistema termorregulador ineficiente, por não apresentar a sudação, quando a temperatura retal atinge 44,4 o C, eles morrem por hipertermia, apresentando uma concentração nove vezes maior de ácido lático no sangue, e o pH cai para 7,37, indicando uma desorganização no processo de oxidação (MULLER, 1989). O estresse calórico diminui a eficiência reprodutiva dos suínos como decorrência da redução voluntária de consumo alimentar, inibição ou atraso no comportamento estral, decréscimo na taxa de concepção e aumento da mortalidade embrionária. A eficiência da utilização da energia metabolizável pelos leitões reduz-se linearmente com o aumento da temperatura ambiental. Essa deficiência decresce 0,8% para cada ºC de aumento da temperatura ambiente, acima da temperatura crítica do animal. Os suínos são muito sensíveis ao frio quando jovens e ao calor quando adultos. 44 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 56. Há dificuldade de se determinar as temperaturas ideais de suínos pelo fato da grande variação entre categorias de animais. Segundo Perdomo (1994), de forma geral, as faixas são de 32 a 24 ºC para leitões do nascimento ao desmame, de 18 a 23 ºC, para leitões em crescimento e de 12 a 18 ºC para adultos. Fora desses padrões, o animal sofre estresse calórico. Os animais mais pesados são mais sensíveis ao estresse térmico do que animais mais leves. Quiniou et al. (1996) constataram que, no intervalo de temperatura ambiental de 19 a 29 ºC, o consumo foi reduzido de 50 g para cada grau Celsius em leitões pesando 50 kg PV e 90 g para cada grau Celsius em animais com 75 kg de peso. Em uma pesquisa, dois grupos de suínos foram submetidos a altas temperaturas de 32 e 35 ºC, verificando-se que os suínos a 32 ºC aumentaram o estresse à temperatura retal até 41 ºC no final de 6 horas, porém não houve mortalidade, mas os suínos submetidos a 35 ºC, por 3 horas, apresentaram mortalidade. Em reprodutores submetidos à temperaturas elevadas, a produção de sêmen pode ser prejudicada tanto na quantidade como na qualidade, até 50 dias após o estresse térmico, embora o processo total de espermatogênese seja de 40 dias. As porcas expostas em ambientes com temperatura elevada, nos primeiros 15 dias de gestação, reduzem a sobrevivência dos embriões, assim como no final de gestação produzem menor quantidade de leitões vivos. Altas temperaturas provocam o retardamento do início da produção de sêmen e também diminui a libido. Provocando-se o aquecimento do testículo ou a exposição de suínos a ambientes quentes, ocasiona a diminuição da mobilidade espermática e o aumento anormal do espermatozóide. (THATCHER e COLLER, 1981). Dentretodasascategoriasdesuínos,oexcessodecalorprejudica mais o desempenho dos porcos lactantes, pelo fato de diminuírem a ingestão de alimento, que como conseqüência produzem menor quantidade de leite. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 45
  • 57. 4.2. Termorregulação em suínos Os leitões após o nascimento são sensíveis ao frio porque o processo de termorregulação ainda não está desenvolvido e por terem pouco isolamento térmico, como gordura subcutânea e escassez de pelo, daí a necessidade de aquecimento artificial aos leitões. Muito cuidado quanto aos limites de conforto térmico, pois a variação da faixa de temperatura ideal varia muito de acordo com a idade do animal. Em leitões recém-nascidos, a faixa ideal é de 30 a 32 °C, e à medidaqueelescrescem,essafaixaidealvaidiminuindogradativamente até que, nos adultos é entre 12 e 18 °C. Na prática, para os leitões até o desmame a atenção deve ser voltada ao frio e, nos adultos, ao excesso de calor. Quando a temperatura ambiental ultrapassa o limite do conforto térmico, os suínos tentam controlar o excesso de calor alterando o padrão comportamental, ou seja, protegendo-se das fontes de calor, buscando áreas sombreadas e ventiladas, superfície mais fria e úmida, afastando-se uns dos outros e movimentando-se menos. O suíno pode perder calor por transpiração, porém as glândulas sudoríparas da pele são poucas e menos eficientes em relação a outras espécies, daí a recomendação de reservatório de água dentro da baia ou na forma de aspersão direta sobre os animais. Como acontece com todos os animais, aumenta a ingestão de água e diminui a ingestão de alimento. 5. EFEITO DO ESTRESSE TÉRMICO E TERMORREGULAÇÃO EM OUTROS ANIMAIS 5.1. Efeito do estresse térmico em outros animais O calor ocasiona desprendimento do acrossoma dos carneiros, diminuição da atividade metabólica do sêmen e aumento do pH. Estas 46 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 58. irregularidades estão relacionadas ao controle local de termorregulação dos testículos, pois o ideal é 5 °C abaixo da temperatura corporal (ENCARNAÇÃO, 1989). Foi constatado que em ovelhas acasaladas à temperatura de 32 °C, a porcentagem de fecundação foi de 26% e a 10 °C, a fecundação foi de 64,2%, concluindo-se que, a medida do possível, deve-se evitar o acasalamento no verão, pois nesta época ocorre a baixa qualidade do material de reprodução. Ambiente quente, em carneiro de raças provenientes de regiões temperadas, retarda o início da produção espermática, além de diminuir a libido em temperaturas elevadas, o que não acontece em raças oriundas do Mediterrâneo. Dutt e Hamm (1957) submeteram carneiros de dupla finalidade da raça Southdown a 32 °C e a 10 °C e concluiu que o volume de sêmen foi de 0,77 mL a 32 °C; 0,98 mL a 10 °C; e a mobilidade dos espermatozóides foi de 41,8 a 32 °C, e 73,3 a 10 °C; a concentração de espermatozóides em 10.000 mL foi de 243,3 à temperatura de 32 °C; 343,5 à temperatura de 10 °C, e o número de espermatozóides anormais foi de 36,9 (32 °C) e 6,4 (10 °C). Em ovelhas, altas temperaturas provocam grande perda de embriões nos estágios iniciais, embora a fecundação em si pareça não ser afetada. A exposição de ovelhas em gestação ao estresse calórico provoca elevada incidência de cordeiros mais leves e menos desenvolvidos que o normal, além do aumento da mortalidade de animais novos. Inseminando artificialmente coelhos com esperma cultivado a 40 °C, por três horas, observou-se que diminui a sobrevida do embrião. A imersão do escroto de cobaias durante 10 minutos, em água a 47 °C, provocou degeneração dos tubos seminíferos e foram necessários 45 dias para voltar ao normal e para não se verificar nenhum efeito quando a temperatura foi de 45 °C. BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 47
  • 59. VI. ADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS 1. GENERALIDADES Neste ano de 2009, em que se comemora os duzentos anos da existência de Darwin, fala-se muito em evolução dos animais e que estes, para se adaptarem ao meio ambiente em constante mudança, foram sofrendo modificações morfológicas e fisiológicas para se adaptarem às mudanças climáticas que ocorreram no decorrer de milhões de anos, e somente os que conseguiram adaptar-se é que evoluíram. Por outro lado, os cristãos crêem que Deus é o Criador e que Ele não só fez o mundo como todos os seres vivos, vegetal e animal. Os céticos afirmam que “naquele tempo” não existiam os animais que existem hoje. Com certeza não, mas será que Deus, com a divina sabedoria, não dotou os animais com a capacidade para se adaptarem e de evoluírem de acordo com as mudanças ambientais que certamente iriam acontecer? Se isso aconteceu, está plenamente justificado o aparecimento de espécies diferentes daquelas criadas por Ele. Não vamos aqui polemizar a origem dos animais e sim estudar as adaptações dos animais para garantirem o seu bem estar e, consequentemente, a sobrevivência. Considera-se um animal adaptado quando este apresenta o mínimo de perdas no desempenho produtivo, boa eficiência reprodutiva, resistência às doenças, longevidade e baixa taxa de mortalidade, estando exposto a agentes extressores que anteriormente lhe eram prejudiciais ou fatais. Segundo Baccari (1986), a evolução é a consequência da contínua adaptação das populações frente às mudanças ambientais e que foram modelando- se paulatinamente ao longo de bilhões de anos. Neste particular, a seleção natural é o principal responsável por esse processo de modificações contínuas. 48 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 60. Isto significa que os organismos que hoje existem, evoluíram gradativamente de algum antepassado, e nessa seleção natural contínua,somenteosindivíduosmaisaptossobrevivem,ouseja,aqueles que conseguirem adaptar-se às condições do meio ambiente deixam seus descendentes que continuam evoluindo, os que não conseguem esta evolução contínua, sucumbem e tornam-se os ditos “animais extintos”. Quanto maior o grau de adaptação, maior a tendência da sobrevivência e reprodução do animal de forma que suas características biológicas persistam. 2. NOÇÕES GERAIS DAADAPTAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS ANIMAIS 2.1. Conceitos de adaptação O conceito genético de adaptação refere-se às características herdáveis que possibilitam a sobrevivência de uma espécie em determinado ambiente, podendo resultar da seleção natural,queenvolve modificações evolutivas espontâneas através de gerações, ou seja, animais que conseguem adaptar-se geneticamente sobrevivem ou da seleção artificial, na qual, através do melhoramento genético dos animais, ocorre a incorporação de características desejáveis impostas pelo homem Já segundo o conceito biológico, adaptação é o resultado da ação das características morfológicas, anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e comportamentais para proporcionar o bem-estar e a possibilidade de sobrevivência de um animal em um ambiente qualquer. 2.2. Formas de adaptação O animal apresenta diferentes respostas frete à pressão do ambiente, que podem ser definidas como: BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 49
  • 61. • Adaptabilidade: a capacidade que o animal tem de se adaptar, ou seja, a habilidade de que o animal dispõe de se ajustar ao ambiente em que vive, até nos extremos climáticos. • Aclimatação: ajuste fisiológico ao longo do tempo que resulta na tolerância aumentada ao complexo de estressores imposto pelo meio a que o animal se submete. • Aclimação: quando o animal se adapta a uma única variável climática (por exemplo: temperatura). 3. ASPECTOS MORFOLÓGICOS E FISIOLÓGICOS PREPONDERANTES NA ADAPTAÇÃO DOS ANIMAIS Segundo Silva (2008), “a superfície externa do corpo representa a principal linha de fronteira entre o organismo e o ambiente, sendo a outra linha constituída pelos tecidos pulmonares e respiratórios”. Essa condição de fronteira determina as características da superfície externa do corpo, em função do ambiente e da natureza do organismo. Assim, animais que vivem em desertos e locais extremamente secos devem possuir proteção extra contra a perda de água e a intensa radiação solar. Os que são próprios de regiões frias necessitam de um isolamento adequado contra a perda de energia térmica. As espécies de regiões muito quentes devem ser capazes de transferir o excesso de energia metabólica para o ambiente e, ao mesmo tempo, evitar a entrada de calor procedente do ambiente. Outros ainda, que vivem em regiões de considerável variação climática, nas quais extremos de frio se alternam com extremos de calor, necessitam possuir características externas apropriadas à compensação destas bruscas alterações ambientais. Baseado nas informações deste ilustre docente de bioclimatologia animal, podemos entender a importância do estudo da superfície corporal do animal em sua adaptação ao ambiente com alterações constantes, algumas em poucos anos e outras em milhares de anos. 50 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.
  • 62. Como o ambiente é complexo com muitas alterações, a superfície externa do corpo do animal deve ser dotada de adaptabilidade para se ajustar a variações do ambiente e assim poder sobreviver em ambiente inóspito. Para melhor compreensão dos conceitos envolvidos, devemos lembrar que a superfície cutânea é constituída por: capa externa, epiderme, derme e hipoderme (Figura 7). Figura 7. Esquema da superfície cutânea. 3.1. Capa externa A capa externa constitui a cobertura dos animais e os principais tipos são: pêlos, lã e epiderme nua (sem cobertura) nos mamíferos, BIOCLIMATOLOGIA ZOOTÉCNICA 51
  • 63. penas e penugem nas aves, escamas e couro nos peixes, escamas córneas em répteis, e superfície nua nos anfíbios. Entre os mamíferos, o pelame ou o conjunto de pêlos é a principal proteção térmica. Proporciona uma barreira do fluxo de calor sensível por meio do isolamento proporcionado pela estrutura e, principalmente, pelas camadas de ar aprisionadas entre os pêlos. Outra forma de cobertura é a lã, que pode ser densa, como em ovinos, e menos densa, como nos camelos.Alã pode servir de proteção para animais de clima frio, assim como os que vivem em clima quente e seco. Os ovinos primitivos apresentam sobre o velo de lã uma segunda camada de pelos grossos e mais compridos, e que serviam de proteção para não molhar a lã nas chuvas, pois, se isso acontecer, a lã encharcada não serve para isolamento térmico. A plumagem das aves apresenta uma gama de variações de tipos de penas quanto ao tamanho e à forma. Os principais tipos são as penas de contorno, que são predominantes e dão formato às aves, com penas maiores nas asas, que auxiliam nos vôos. As penas são constituídas na parte inferior por uma formação plumácea, com a parte superior ou as extremidades mais rígidas.Abaixo dessas penas, existem as penugens, que são filamentos localizados na base das penas de contorno, e sua função é essencialmente de isolamento térmico, por isso os pintinhos recém-nascidos, até aos doze dias de vida, são totalmente cobertos de penugem, pois, nesse período, necessitam de calor (32 ºC). Existem ainda, a semipluma, que é o intermediário entre a pena e a penugem e a filopluma que é semelhante a pêlos. Algumas aves possuem uma glândula uropígia que produz secreção oleosa, localizada sobre a última vértebra caudal e elas passam periodicamente essa secreção com o bico nas penas para impermeabilizar, e assim evitar que as penas se molhem nas chuvas e de maior utilidade para s aves aquáticas. Os animais desprovidos de capas protetoras, com a superfície corporal constituída de epiderme nua, têm outros meios de termorregulação para manter a temperatura corporal. 52 TAKAHASHI, L.S.; BILLER, J.D.; TAKAHASHI, K.M.