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Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
1
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE
TEXTOS
Como Ler um Texto
Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para
tirar o maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não
se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que não
existe para ela uma solução mágica, o que não quer dizer que não
exista solução alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma
leitura proveitosa pressupõe, além do conhecimento linguístico
propriamente dito, um repertório de informações exteriores ao
texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo.
A título e ilustração, observe a questão seguinte, extraída de
concurso, na qual já vimos anteriormente. Às vezes, quando um
texto é ambíguo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos
fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se
lê. Um bom exemplo é o texto que segue:
 
“As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas
de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro
de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo
aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de
18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a
motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.”
(Folha Sudoeste)
É o conhecimento linguístico que nos permite reconhecer a
ambiguidade do texto em questão (pela posição em que se situa,
a expressão sem a companhia ou autorização dos pais permite a
interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os
menores podem ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento
de mundo nos adverte de que essa interpretação é estranha e só
pode ter sido produzida por engano do redator. É muito provável
que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão
proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais
e de frequentarem motéis.
Como se vê, a compreensão do texto depende também do
conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que o
aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas
também de todas as outras disciplinas sem exceção.
Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido
é a resposta a  três questões básicas: 
- Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar
responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as
questões secundárias da principal, isto é, aquela em torno da qual
gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o texto
está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é
sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o
leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está
diante de seus olhos.
- Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão?
Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião
de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá
dificuldade em identificá-la. Não saber dar resposta a essa questão
é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.
- Quais são os argumentos utilizados pelo autor para
fundamentar a opinião dada? Deve-se entender por argumento
todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de
que ele está falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos
do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro
de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na
verdade, entender um texto significa acompanhar com atenção o
seu percurso argumentativo. 
O primeiro passo para interpretar um texto consiste em
decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas
ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os
conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta
operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos”
do leitor.
Ler é uma atividade muito mais complexa do que a simples
interpretação dos símbolos gráficos, de códigos,  requer que o
indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o
e incorporando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o
indivíduo mantenha um comportamento ativo diante da leitura.
Os diferentes níveis de leitura
Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para
a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento
ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenhamos
condições cognitivas para utilizar.
De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou etapas
até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas
etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela vida,
estando presente em praticamente toda a nossa leitura.
O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de
alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sofisticada e
requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a
gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom domínio
da língua.
O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem
duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a leitura
posterior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance
de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na
verdade, de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura
que comumente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do
salteio de partes, respondem basicamente às seguintes perguntas:
- Por que ler este livro?
- Será uma leitura útil?
- Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?
 
Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que
se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto
de vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você
se propuser a ler um livro sem interesse, com olhar crítico,
rejeitando-o antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento
será muito baixo.
Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar
horizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever
melhor; relacionar-se melhor com o outro.
Pré-Leitura
Nome do livro
Autor
Dados Bibliográficos
Prefácio e Índice 
Prólogo e Introdução
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
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O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edição
do livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o índice
(ou sumário), analisar um pouco da história que deu origem ao
livro, ver o número da edição e o ano de publicação. Se falarmos
em ler um Machado de Assis, um Júlio Verne, um Jorge Amado,
já estaremos sabendo muito sobre o livro. É muito importante
verificar estes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos
fatos e na atualidade das informações que ele contém.  Verifique
detalhes que possam contribuir para a coleta do maior número
de informações possível. Tudo isso vai ser útil quando formos
arquivar os dados lidos no nosso arquivo mental. A propósito,
você sabe o que seja um prólogo, um prefácio e uma introdução?
Muita gente pensa que os três são a mesma coisa, mas não:
Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do tema
e de sua experiência pessoal.
Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor,
referindo-se ao tema abordado no livro e muitas vezes também
tecendo comentários sobre o autor.
Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao livro
e não ao tema.
O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se,
nesse caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica.
O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de
vasculharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro.
Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero o
livro se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, um livro
de pesquisa e, neste caso, existe apenas teoria ou são inseridas
práticas e exemplos. No caso de ser um livro teórico, que requeira
memorização, procure criar imagens mentais sobre o assunto,
ou seja, veja, realmente, o que está lendo, dando vida e muita
criatividade ao assunto.  Note bem: a leitura efetiva vai acontecer
nesta fase, e a primeira coisa a fazer é ser capaz de resumir o
assunto do livro em duas frases. Já temos algum conteúdo para
isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhecimento.
Procure, agora, ler bem o livro, do início ao fim. Esta é a leitura
efetiva, aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite
todas as informações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura
para buscar significados de palavras em dicionários ou sublinhar
textos, isto será feito em outro momento.
O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle.Trata-se
de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com qualquer
dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos desconhecidos
de um texto são explicitados  neste próprio texto, à medida que
vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará
com que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até que
tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será na
etapa do controle que lançaremos mão do dicionário.
Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato
de interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão
do assunto como um todo. Será, também, nessa etapa que
sublinharemos os tópicos importantes, se necessário. Para
ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto próximo a
eles, visando principalmente a marcar o local do texto em que se
encontra, obrigando-o a fixar a cronologia e a sequência deste fato
importante, situando-o no livro.
Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no estudo, é
interessante que, ao final da leitura de cada capítulo, você faça um
breve resumo com suas próprias palavras de tudo o que foi lido.
Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repetição
aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do texto, mas
aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prática, ou seja,
que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só pode
compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada
como unir a teoria à prática. Na leitura, quando não passamos pela
etapa da repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos  àqueles
brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar isso, faça
resumos.
Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos
de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para
traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure associar o assunto
lido com alguma experiência já vivida ou tente exemplificá-lo com
algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando
para uma turma de alunos interessados. É importante lembrar
que esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 dias
posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a
leitura e ao retornarmos ao livro, consultamos os resumos. Não
pense que é um exercício monótono. Nós somos capazes de
realizar diariamente exercícios físicos com o propósito de melhorar
a aparência e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições
de ver com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de
senti-la quando melhoramos nossas aptidões como o raciocínio,
a prontidão de informações e, obviamente, nossos conhecimentos
intelectuais. Vale a pena se esforçar no início e criar um método de
leitura eficiente e rápido.
Ideias Núcleo
O primeiro passo para interpretar um texto consiste em
decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas
ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os
conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta
operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do
leitor. Exemplo:
“Incalculável é a contribuição do famoso neurologista
austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da
personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu
acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o
incosciente e subconsciente. Começou estudando casos clínicos
de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da
hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin
Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os
resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje
é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de
sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao
paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais.
Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud
se utilizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes,
considerando os sonhos como compensação dos desejos
insatisfeitos na fase de vigília.
Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo
cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose
é de origem sexual.”
(Salvatore D’Onofrio)
Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribuição
do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a
formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939)
conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique
humana: o incosciente e subconsciente.” O autor do texto afirma,
inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a ciência a compreender
os níveis mais profundos da personalidade humana, o incosciente
e subconsciente.
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
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Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos
clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a
ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer
e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com
os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até
hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’de ideias e
de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas
ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações
mentais.” A segunda ideia núcleo mostra que Freud deu início a
sua pesquisa estudando os comportamentos humanos anormais ou
doentios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método, criou
o das “livres associações de ideias e de sentimentos”.
Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de regresso
às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da
linguagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como
compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília.” Aqui,
está explicitado que a descoberta das raízes de um trauma se faz
por meio da compreensão dos sonhos, que seriam uma linguagem
metafórica dos desejos não realizados ao longo da vida do dia a
dia.
Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de Freud,
que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação
da tese de que toda neurose é de origem sexual.” Por fim, o texto
afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afirmando
a novidade de que todo o trauma psicológico é de origem sexual.
Interpretação de Charges
A charge ou cartum é um desenho de caráter humorístico,
geralmente veiculado pela imprensa. Ela também pode ser
considerada como texto e, nesse sentido, pode ser lida por qualquer
um de nós. Trata-se de um tipo de texto muito importante na mídia
atual, graças à sua capacidade de fazer, de modo sintético, críticas
político-sociais.
Um público muito amplo se interessa pela charge, tanto
pelo uso do humor e da sátira, quanto por exigir do leitor apenas
um pequeno conhecimento da situação focalizada, para se
reconhecerem as referências e insinuações feitas pelo autor.
Há cerca de dez anos, os concursos públicos e exames
escolares passaram a se utilizar de charges para avaliar a
capacidade de interpretação dos concursandos e alunos. Em um
concurso, por exemplo, o tema proposto para a prova de redação
era “O indivíduo frente à ética nacional”, que vinha, como de
costume, acompanhado de uma coletânea composta por dois textos
opinativos, publicados na mídia impressa, e a seguinte charge:
De autoria de Millôr Fernandes.
A charge discute a honestidade social a partir de uma cena
irônica: a lamentação de um indivíduo que, por só poder lidar com
gente honesta, encontra-se num deserto.
A charge, associada aos textos da coletânea e ao tema
anunciado na proposta, compunham um panorama mais amplo
do problema incluído na proposta, conduzindo o leitor a alguns
questionamentos que poderiam direcionar a elaboração de seu
texto:
- Existe alguma pessoa completamente honesta no mundo? O
que isso significa?
- O indivíduo que chama os outros de desonestos e antiéticos
apresenta realmente um comportamento ético que o diferencie dos
demais?
- O fato de acharmos que a maioria age de modo antiético nos
daria o direito de assim também o fazer, para não sermos os únicos
diferentes?
- A ética que deveria nortear as relações humanas é hoje
característica de poucos? Ela se tornou uma exceção?
Essa proposta de redação possibilitou construírem sua
argumentação a partir dos exemplos que melhor se adequassem à
sua linha de raciocínio.
Os temas de charges, porém, nem sempre são assim tão amplos.
Podem estar ligados a acontecimentos específicos de uma época
ou local, o que é muito frequente nas charges diárias. Quando são
publicadas em jornais regionais, por exemplo, as charges podem
fazer referência a fatos que não são conhecidos por moradores de
outras cidades ou Estados, o que lhes dificulta a compreensão.
Nos jornais de grande alcance, as charges normalmente
recuperam os assuntos que ganharam destaque nacional nos
dias anteriores. Abaixo veremos três exemplos de charges, todas
referentes ao mesmo tema. As três tratam do mesmo tema: a
queda do governador de São Paulo, José Serra, nas pesquisas que
avaliam a intenção de voto do eleitor brasileiro para a campanha
presidencial.
Para compreendê-las, o leitor precisa acionar uma série de
conhecimentos prévios que já possui no seu próprio repertório
cultural. Vamos examinar cada um dos casos:
Charge da Folha de S. Paulo
Criada por Glauco, não possui texto verbal. Assim, toda a
informação deve ser identificada no desenho. Nele, pode-se ver
um avião sendo consertado por um mecânico, um homem careca
dentro do aparelho, com expressão aborrecida, e um triângulo
usado no trânsito para indicar que o veículo está quebrado (esta já
é uma informação prévia do leitor).
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
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Após a identificação desses elementos básicos, entram outros
mais específicos que também precisam ser conhecidos pelo leitor:
o reconhecimento dos personagens e das situações específicas
a que se refere o desenho: o avião tem formato de tucano, uma
referência ao símbolo de um partido político, o PSDB; o piloto do
avião deve ser associado a José Serra, por ser careca e pertencer
ao partido tucano; o avião quebrado é uma referência à dificuldade
de Serra para “decolar” (metáfora política para designar avanço
nas intenções de voto) no início da campanha para Presidência da
República.
Assim o leitor também precisa saber que haverá eleição, que
Serra é pré-candidato, que pertence ao PSDB, cujo símbolo é
um tucano, que houve uma pesquisa de intenção de voto e que o
candidato tucano teve desempenho ruim nessa pesquisa.
O Povo (Fortaleza, CE)
Aqui também não há texto verbal. A imagem traz uma
caricatura de José Serra, com a expressão tensa, de quem passa por
apuros, caminhando como um equilibrista sobre a corda bamba. A
corda, porém, tem a forma de uma escada, que termina numa seta
vermelha, referência aos indicadores dos gráficos cartesianos.
Mais uma vez, para interpretar a charge, o leitor precisará
relacionar a imagem a seu conhecimento sobre fatos divulgados
pela mídia nacional naquela ocasião, ou seja, à queda que o
candidato à Presidência teve naquela pesquisa de intenção de voto.
Agora São Paulo
Dos três casos, este é o único em que imagem e texto mesclam-
se. No desenho de Cláudio vemos o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, reconhecido pelos traços da caricatura. Ele
abre a porta de um armário, no qual está escondido José Serra, e,
apontando para fora do móvel, grita para que Serra assuma.
Enquanto isso, segurando a pesquisa em que cai de 37 para
32% e sua concorrente sobe de 23 para 28%, Serra afirma estar
indeciso. Além das falas e dos dados da pesquisa, a charge ainda
tem título, “Eleição para Presidente”, e um texto complementar,
“Tucanos cobram que Serra se declare candidato”.
Assim, todo o contexto fica identificado, facilitando o
trabalho de interpretação do leitor, mas a este ainda cabe acionar
seu conhecimento de mundo para completar informações, como
a associação feita entre “assumir-se candidato à Presidência” e
a imagem de “sair do armário”, expressão usada principalmente
para fazer referência a pessoas que escondem publicamente sua
condição sexual.
O leitor deve perceber, porém, que não há na charge intenção
de questionar a opção sexual do candidato. Apenas fez-se uma
associação livre para gerar efeito de humor, criticando o medo de
Serra de mostrar-se candidato diante da crescente rejeição popular.
A leitura interpretativa de charges é uma habilidade cada
vez mais cobrada em provas de vestibulares e de concursos em
geral, tanto nas questões de língua portuguesa quanto nos temas
de redação. Isso acontece porque a charge é um modelo de texto
que extrapola a linguagem verbal (por vezes até nem usada), exige
um bom nível de conhecimento de mundo e competência para
inferir críticas e relacionar fatos sociais. Por isso, treine a leitura
de charges, procure ampliar seu nível de compreensão e evite ser
surpreendido.
Dicas
Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa
interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte:
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto;
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a
leitura, vá até o fim, ininterruptamente;
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
menos umas três vezes;
- Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas;
- Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor;
- Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor
compreensão;
- Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do
texto correspondente;
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
questão;
- Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), não,
correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras;
palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a
entender o que se perguntou e o que se pediu;
- Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a
mais exata ou a mais completa;
- Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fundamento
de lógica objetiva;
- Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais;
Didatismo e Conhecimento
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5
- Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela
resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto;
- Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denuncia
a resposta;
- Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo
autor, definindo o tema e a mensagem;
- O autor defende ideias e você deve percebê-las;
- Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são
importantíssimos na interpretação do texto. Exemplos:
Ele morreu de fome.
de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na
realização do fato (= morte de “ele”).
Ele morreu faminto.
faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que “ele” se
encontrava quando morreu.
- As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as
ideias estão coordenadas entre si;
- Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior
clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o
significado;
- Esclarecer o vocabulário;
- Entender o vocabulário;
- Viver a história;
- Ative sua leitura;
- Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que se
pede;
- Não se deve preocupar com a arrumação das letras nas
alternativas;
- As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o texto ou
como o leu;
- Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem;
- Sentir, perceber a mensagem do autor;
- Cuidado com a exatidão das questões em relação ao texto;
- Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele;
- Todos os termos da análise sintática, cada termo tem seu
valor, sua importância;
- Todas as orações subordinadas têm oração principal e as
ideias se completam.
Vícios de Leitura
Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a cabeça?
Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando
baixinho... Você não percebe, mas esses movimentos são alguns
dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são
conhecidos como vícios de linguagem.
Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está
movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao final
de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum
efeito positivo. Durante a leitura apenas movimentamos os olhos.
Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm
dificuldade de memorizar um assunto, que não compreendem
algumas expressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura.
Este movimento apenas incrementa a falta de memória, pois
secciona a linha de raciocínio e raramente explica o desconhecido,
o que normalmente é elucidado no decorrer da leitura. Procure
sempre manter uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro.
O assunto pode se tornar um bicho de sete cabeças!
Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas
palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o conjunto
e perceber o seu significado.
Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a palavra.
Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar a marca de
250 palavras por minuto.
Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acompanhar a
leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto que salta
“linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido
quando é livre do que quando o fazemos guiado por qualquer
objeto.
Leitura Eficiente
Ao ler realizamos as seguintes operações:
- Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão,
encaminhamos o material a ser lido para nosso cérebro.
- Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado sensorial
(palavras, números, etc.) e a organizá-lo segundo nossa bagagem
de conhecimentos anteriores. Para essa etapa, precisamos de
motivação, de forma a tornar o processo mais otimizado possível.
-Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nosso “arquivo
mental” e aplicando o conhecimento ao nosso cotidiano.
A leitura é um processo muito mais amplo do que podemos
imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos,
mas interpretar o mundo em que vivemos. Na verdade, passamos
todo o nosso tempo lendo!
O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe
configura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê a
partir de como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, então,
segundo esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimento com que é
recebido e interpreta suas emoções: se o que encontra é rejeição,
sua experiência básica será de terror; se encontra alegria, sua
experiência será de tranqüilidade, etc. Ler está tão relacionado
com o fato de existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar
este processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e
estes são os responsáveis pela transformação dos fatos em objetos
de nosso sentimento.
Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente da
civilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato comprovado
pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a um filme, cuja
história já foi lida em um livro. Quando lemos, associamos as
informações lidas à imensa bagagem de conhecimentos que temos
armazenados em nosso cérebro e então somos capazes de criar,
imaginar e sonhar.
É por meio da leitura que podemos entrar em contato com
pessoas distantes ou do passado, observando suas crenças,
convicções e descobertas que foram imortalizadas por meio
da escrita. Esta possibilita o avanço tecnológico e científico,
registrando os conhecimentos, levando-os a qualquer pessoa
em qualquer lugar do mundo, desde que saibam decodificar a
mensagem, interpretando os símbolos usados como registro da
informação. A leitura é o verdadeiro elo integrador do ser humano
e a sociedade em que ele vive!
O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de informações
oferecidas a todo instante. É preciso também tornarmo-nos
mais receptivos e atentos, para nos mantermos atualizados e
competitivos. Para isso, é imprescindível leitura que nos estimule
cada vez mais em vista dos resultados que ela oferece. Se você
pretende acompanhar a evolução do mundo, manter-se em dia,
atualizado e bem informado, precisa preocupar-se com a qualidade
da sua leitura.
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6
Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e uma
pessoa próxima não se interessar por este assunto. Por outro lado,
será que esta mesma pessoa se interessa por um livro que fale
sobre História ou esportes? No caso da leitura, não existe livro
interessante, mas leitores interessados.
A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura e
com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler como
um comportamento que requer alguns cuidados, para ser realmente
eficaz.
- Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja ler.
Manter-se descansado é muito importante também. Não adianta
um desgaste físico enorme, pois a retenção da informação será
inversamente proporcional. Uma alimentação adequada é muito
importante.
- Ambiente: o ambiente de leitura deve ser preparado para
ela. Nada de ambientes com muitos estímulos que forcem a
dispersão. Deve ser um local tranquilo, agradável, ventilado, com
uma cadeira confortável para o leitor e mesa para apoiar o livro a
uma altura que possibilite postura corporal adequada. Quanto a
iluminação, deve vir do lado posterior esquerdo, pois o movimento
de virar a página acontecerá antes de ter sido lida a última linha
da página direita e, de outra forma, haveria a formação de sombra
nesta página, o que atrapalharia a leitura.
- Objetos necessários: para evitar que, durante a leitura,
levantarmos para pegar algum objeto que julguemos importante,
devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário sempre à mão.
Quanto sublinhar os pontos importantes do texto, é preciso
aprender a técnica adequada. Não o fazer na primeira leitura,
evitando que os aspectos sublinhados parecem-se mais com um
mosaico de informações aleatórias.
Os concursos apresentam questões interpretativas que têm
por finalidade a identificação de um  leitor autônomo. Portanto,
o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por
meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado.
As frases produzem significados diferentes de acordo com
o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário
sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem
o texto. Além disso, é fundamental apreender as informações
apresentadas por trás do texto e as inferências a que ele remete.
Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de
uma postura ideológica do autor diante de uma temática qualquer.
Exercícios
Este é o caminho: leitura, exercício, correção, entendimento
dos erros. Quanto mais você entender porque errou, mais estará
aprendendo.
Esaf: Leia atentamente o texto para responder às questões de
1 a 4.
Parques em chamas
	
Saudados por ecologistas como arcas de Noé para o
futuro, por serem repositórios de espécies animais e vegetais
em extinção acelerada noutras áreas do país, alguns dos 25
parques nacionais do Brasil tiveram, na semana passada,
a sua paisagem mutilada pelo fogo. A rigorosa estiagem que
acompanha o inverno no CentroSul ressecou a vegetação
e abriu caminho para que as chamas tragassem 6 dos 33
quilômetros quadrados do Parque Nacional da Tijuca, pegado
à cidade do Rio de Janeiro, e convertessem em carvão 10% dos
300 quilômetros quadrados do Parque Nacional do Itatiaia, na
divisa de Minas Gerais com o Estado do Rio.
Contido pelos bombeiros já no fim de semana, na
Tijuca, e abafado por uma providencial chuva no ltatiaia, na
quartafeira o fogo pipocou em outro extremo do país. Naquele
dia, o incêndio começou no Parque da Serra da Capivara, no
sertão do Piauí, calcinado há seis anos pela seca, e avançou
pela caatinga, que esconde as pinturas rupestres inscritas
na rocha, há pelo menos 31.500 anos, pelo homem brasileiro
préhistórico.
(Isto é, 221811984)
1. O autor justifica o fato de os ecologistas referiremse
aos parques nacionais como “arcas de Noé para o futuro” da
seguinte maneira:
a)	Porque são áreas preservadas da caça e pesca
indiscriminadas.
b)	Porque ocupam espaços administrativamente
delimitados pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal.
c)	 Porque espécies animais e vegetais que estão
se extinguindo em outras regiões têm preservada sua
sobrevivência nesses parques.
d)	Porque nesses parques colecionamse casais de espécies
animais e vegetais em extinção noutras áreas.
e)	 Porque há agentes florestais incumbidos de zelar pelos
animais e vegetais dos parques.
Resposta “C”.
2.Arespeitodosincêndiosreferidospeloautor,depreendese
do texto que:
a)	Embora tivessem ameaçado espécies animais e vegetais
raras, apresentaram um lado positivo: aumentaram a
produção de carvão.
b)	Foram provocados pela rigorosa estiagem do inverno,
no CentroSul, e pela seca prolongada no sertão nordestino.
c)	 Não foram combatidos com presteza e eficiência pelos
bombeiros.
d)	Só foram debelados por providenciais chuvas que
eventualmente vieram a cair sobre os parques.
e)	 Destruíram parte da flora e fauna das reservas,
desfigurando sua paisagem.
Resposta “E”
a) Errado. O texto não fala que a produção de carvão é positiva.
b) Errado. Segundo o texto, a estiagem “abriu caminho para
que as chamas tragassem...”; de acordo com esta alternativa a
estiagem provocou o incêndio. Abrir caminho não é provocar.
c) Errado. Se os bombeiros apagaram o fogo, pelo menos
foram eficientes.
d) Errado.
e) Certo.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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3. Depreendese que o autor do texto, em relação ao fato
descrito, manifesta:
a)	Descaso
b)	Hesitação
c)	 Desesperança
d)	Pesar
e)	 Indiferença
Resposta “D”. “paisagem mutilada pelo fogo”
4. Aponte a única conclusão que é estrita e licitamente
deduzível do texto:
a)	As chamas serviram para mostrar a precária situação
dos parques brasileiros.
b)	Devem ser tomadas providências para dotar os parques
de meios para se protegerem dos incêndios.
c)	 Devemserdesencadeadascampanhasparaconscientizar
a população de como evitar incêndio nos parques.
d)	Parte da culpa dos incêndios cabe às autoridades
responsáveis pelas reservas e parques.
e)	 O incêndio no Parque da Serra da Capivara ameaçou
valioso patrimônio histórico e antropológico.
Resposta “B”.
No comando deveria estar escrito “dedutível” (que se deduz)
porque não existe a palavra “deduzível”.
a) Errado. Não se pode deduzir estrita e licitamente que se
“alguns dos 25 parques” (o texto só fala em três deles) estão em
situação difícil, todos estarão. Três não são vinte e cinco.
b) Certo. O que seria competência, por exemplo, dos
legisladores. Os responsáveis pelos parques não são culpados de
não terem condições.
c) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades
responsáveis pelos parques e reservas.
d) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades
responsáveis pelos parques e reservas.
e) Errado. Se as pinturas rupestres existem há pelo menos
31.500 anos, certamente já resitiram a inúmeros incêndios, o que
não justifica dizer que um incêndio constitua ameaça a elas.
MPU auxiliar Esaf: Para responder às questões de 5 a 9, leia
o texto a seguir.
Procurase uma explicação
Um mundo de mistérios se esconde por trás dos pequenos
anúncios. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas, quais as
suas verdadeiras intenções. Fico a imaginar se o desespero
de quem vende está na mesma proporção emocional de quem
quer comprar.
Objetos perdidos, quase sempre de estimação, documentos
importantes, cachorrinhos desaparecidos, tudo na base do
“gratificase bem”. Mas o que é gratificar bem, por exemplo, a
uma pessoa que acha uma carteira com pouco dinheiro?
Acho que há um pouco de ironia e de deboche da parte
de toda pessoa que põe um anúncio e muito boa vontade da
parte 	de quem acha que ali está a sua oportunidade. Há vários
anos que encontro promessas de Iugar de futuro” e acho
incompreensível que esse futuro não chegue nunca, e que as
vagas continuem sempre disponíveis. Ou as pessoas acabam
por descobrir que o seu futuro está fora dali ou são outras
firmas que estão se iniciando para oferecer novos futuros a
futuros candidatos. Há uma certa ilusão de lado a lado: quem
anuncia o futuro dos outros está pensando no seu presente e
quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba
é fazendo o futuro dos outros.
Até que ponto é sincero um anúncio que procura moças de
“boa aparência”, de 18 a 25 anos, com prática de datilografia e
um mínimo de 150 batidas certas por minuto? É tão necessário
que sejam todas as batidas certas?
E esses que vivem vendendo objetos, um de cada vez, “por
motivo de viagem”? Será que o dinheirinho de um aparelho de
televisão ou de uma máquina de costura ou de um gravador
último tipo lhes pagará a passagem? Talvez a viagem seja
consequência: depois de vender os objetos, o melhor será mesmo
abandonar a cidade.
E os técnicos? É impressionante como tem gente
especializada anunciando sua especialidade. Mecânicos e
eletricistas montam e desmontam qualquer aparelho em
menos de cinco minutos, e no fim sempre nos entregam três
ou quatro parafusos que não têm a menor utilidade. Penso na
economia monstruosa que as fábricas fariam se, ao montarem
seus aparelhos, houvessem contratado os técnicos do “atendese
a domicílio”.
(Eliachar, Leon. O Homem ao Cubo.
Rio deJaneiro: Francisco Alves S.A., 6ª ed., adoptado)
5. Ao falar de “pequenos anúncios”, o autor referese
a)	Essencialmente aos que tratam de empregos.
b)	Especificamente aos que oferecem serviços.
c)	 Exclusivamente aos que falam de objetos perdidos.
d)	Genericamente a vários tipos de anúncios.
e)	 Somente aos anúncios de compra e venda.
Resposta “D”. Objetos perdidos, lugar de futuro = emprego,
técnicos = serviços (venda).
6. A expressão que não aparece nos anúncios que o autor
menciona é:
a)	“lugar de fututo”
b)	“gratifica-se bem”
c)	 “procura-se uma explicação”
d)	“atende-se a domicílio”
e)	 “por motivo de viagem”
Resposta “C”.
7. Conforme o texto, os técnicos que anunciaram sua
especialidade:
a)	Trabalham com rapidez, mas não conseguem encaixar
todas as peças de um aparelho.
b)	Trabalham melhor que os das fábricas, resultando disto
maior economia para as montadoras.
c)	 Entendem mais da montagem dos aparelhos que os
técnicos das fábricas de eletrodomésticos.
d)	Duvidam da competência dos mecânicos e eletricistas
das grandes fábricas.
e)	 Pretendem conseguir uma contratação como mecânicos
ou eletricistas em firmas conceituadas.
Resposta “A”
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8. As “fórmulas” dos anúncios a que se refere o autor
dizem respeito:
a)	 À especificação
b)	À quantidade
c)	 Ao argumento
d)	Ao conteúdo
e)	 À correção
Resposta “C”.
Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas (=pelo que argumental
– “gratifica-se bem”, “lugar de futuro”, “por motivo de viagem”),
quais as suas verdadeiras intenções (= o que realmente querem
dizer).
9. Assinale a opção que expressa o significado da seguinte
frase do texto: “... quem procura o seu futuro no presente de
quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros”.
a)	Quem oferece melhoria de vida aos outros através de
anúncios pretende melhorar a própria vida.
b)	Aquele que pretende encontrar boas oportunidades nos
anúncios proporciona lucros ao anunciante.
c)	 O anunciante projeta seus atuais objetivos nas
pretensões dos leitores.
d)	Quem busca o seu futuro no futuro dos outros prejudica
irremediavelmente seu presente.
e)	 O anunciante procura melhorar a vida do leitor
independentemente de suas intenções.
Resposta “B”.
Observe que a frase “... quem procura seu futuro no presente
de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros” pode ser
reduzida a “quem procura” ... faz “o futuro dos outros”, em que o
sujeito “quem procura” é o leitor e os “outros” são os anunciantes.
A única alternativa que põe na ordem certa de importância do
texto “leitor – anunciante” é a letra b. Compare: letra a) anunciante
– anunciante; c) anunciante – leitor; d) leitor – leitor; e) anunciante
– leitor.
MPU – nível técnico – MF: Leia o trecho abaixo para
responder às questões de 10 a 14
A rigor, se cometêssemos para com a publicidade o
ingênuo extremismo de acreditar plenamente no seu discurso,
teríamos à nossa frente a mais desvairada das utopias. A sua
eficiência, elevada ao absurdo, consistiria em fazer com que
o consumidor, ao consumir um produto, incorporasse à sua
percepção sensorial um deleite Sublime, um estado nirvânico,
um gozo celetial.
A se ressalvar e a se ressaltar, porém, a defasagem entre a
promessa publicitária e o real preenchimento proporcionado
pelos bens de consumo, conclui-se tristemente que o saldo é
bastante negativo: a felicidade prometida é muito fugaz e o
retorno ao abismo da lacuna primordial – da consciência da
finitude – é ainda maior, uma vez que a busca do sublime
esteve exacerbada por estímulos fantasiosos. Cada vez que
o paraíso é prometido, represemase (ritualizase) o drama do
retorno. Cada vez que esse retorno é frustrado, dramatizase,
outra vez, o mito da queda.
A promessa de preenchimento dá lugar ao vazio.
Existência e angústia retornam à sua condição de paralelismo.
Compreendese então o quanto a retórica publicitária era
irreal, sublimadora. E uma leitura literalizante desse discurso
delirante colocase de imediato lidando com uma elaboração
profundamente onírica. Literalmente, a publicidade é uma
fábrica de sonhos.
(Extraído de A promessa do paraíso já, Luís Martins,
Humanidades,
Ano IV, 1987/88, nº15, p. 110/111)
10. O tema central do fragmento acima é:
a) A publicidade desequilibra a relação de forças existente
entre a demanda e a oferta de bens de consumo.
b) Dramatizar o mito da queda é o objetivo perseguido
pela retórica publicitária.
c) Há uma similaridade estrutural entre a elaboração
publicitária e a elaboração onírica.
d) Os comerciais veiculados pelos meios de comunicação
cumprem o papel de informar o consumidor em potencial
sobre as reais qualidades dos produtos.
e) Ao adquirir bens de consumo, o consumidor sublima
suas carências afetivas num estado de deleite sublime.
Resposta “C”.
Reler as quatro últimas linhas do texto (onírico = de sonho).
11. À leitura literal da retórica publicitária associamse
vários termos no texto, exceto:
a) Deleite sublime
b) Estado nirvânico
c) Gozo celestial
d) Consciência da finitude
e) Estímulos fantasiosos
Resposta “D”.
É a única alternativa de significado negativo. A publicidade,
no texto, só busca ressaltar o lado positivo.
12. Uma leitura errada do texto levaria a afirmar que:
a) Interpretar literalmente o discurso publicitário é uma
atitude ingênua.
b) A publicidade elabora um cenário onírico para os
objetos da sociedade industrial.
c) O discurso publicitário é formulado com mensagens que
se sustentam no princípio do prazer.
d) A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem
a consciência de sua finitude.
e) Está incorporado à publicidade o componente mítico de
retorno ao paraíso
Resposta “D”.
A “consciência de finitude” acontece só depois que a ilusão
despertada pela publicidade acaba. A felicidade prometida nas
propagandas dá ao homem a ilusão.
13. “Drama do retorno” e “mito da queda”, no texto,
referemse a:
a) Elaboração da primeira versão da publicidade e sua
recusa pelo cliente que a encomendou.
b) Retorno dos comerciais aos meios de comunicação
devido à queda do faturamento das empresas.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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c) Promessas fantasiosas contidas nos anúncios e decepção
do consumidor por não vêlas realizadas ao adquirir o produto.
d) Estado nirvânico do publicitário no momento de
criação da propaganda e posterior decepção ao vêlo rejeitado
pelo diretor de marketing.
e) Mitos de povos primitivos a respeito das concepções de
Paraíso e Inferno.
Resposta “C”.
Por exclusão, chega-se a esta resposta, porém, como o
comando se refere a “Drama do retorno” e “mito da queda”, a
alternativa melhor seria: “decepção do consumidor por não ver
realizadas as promessas da propaganda”.
14. Assinale a letra que contém o enunciado falso.
a) Colocadas em sequência, as expressões “a se ressalvar”
e “a se resaltar” são equivalentes quanto ao conteúdo.
b) O segmento - da consciência da finitude – explica a
expressão lacuna primordial.
c) O termo “(ritualiza-se)” especifica o sentido de
“representa-se”.
d) As expressões “deleite sublime”, “estado nirvânico”,
“gozo celestial”, colocadas em sequência, reiteram a mesma
ideia.
e) Em “sua eficiência”, o possessivo refere-se à eficiência
da publicidade.
Resposta “A”.
Ressalvar = corrigir, prevenir com ressalva, excetuar...
Ressaltar = destacar, sobressair, dar relevo...
(TJ-SP) Oficial de Justiça
Leia a charge para responder às questões de números 15
e 16.
15. Considerando-se o contexto apresentado na charge, é
correto afirmar que:
a) se mostra a tecnologia estendida a todos os grupos
da sociedade, que a utilizam bem, já que os usuários não
subestimam seu potencial.
b) se define o avanço tecnológico do país levando em
consideração, principalmente, a política pública para o acesso
a esse tipo de bem.
c) se estabelece uma relação paradoxal entre os avanços
obtidos na área tecnológica e as condições de vida a que está
sujeita expressiva parcela da população.
d) se pode entender como positiva a nova relação do
homem com as máquinas, já que elas tiram expressiva parcela
da população de condições aviltantes de vida.
e) se veem a criticidade e o bom senso de grande parte da
população menos favorecida para o uso adequado das novas
tecnologias no cotidiano.
Resposta “C”.
Sim, a charge ilustra o paradoxo (a contradição) que há na
implementação de programas de inclusão digital em um país com
elevado número de pessoas excluídas socialmente (privação,
falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente, ausência
de cidadania, se, por esta, se entender a participação plena na
sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza e se
exprime: ambiental, cultural, econômico, político e social).
16. Levando-se em consideração a situação em que as
personagens se encontram, é correto afirmar que a fala
proferida por uma delas se marca pelo(a)
a) entusiasmo.
b) displicência.
c) mau humor.
d) ironia.
e) redundância.
Resposta “D”.
A fala é irônica (instrumento de literatura que consiste em
dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma
distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que
realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte de gozar com
alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do leitor,
ouvinte ou interlocutor. Ela pode ser utilizada, entre outras formas,
com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para
tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente
valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia
convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para
refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição), pois
demonstra que o programa de inclusão digital não atinge seus reais
objetivos entre aqueles que ainda precisam de inclusão social: às
pessoas sem moradia, mais vale o computador como material
combustível que conectado à rede.
As questões de números 17 a 20 baseiam-se no texto.
ONU pede ampliação de programas sociais do Brasil SÃO
PAULO – Os programas adotados no governo federal ainda
não são suficientes para lidar com problemas de desigualdade,
reforma agrária, moradia, educação e trabalho escravo,
informou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU).
Comitê da entidade pelos direitos econômicos e sociais pede
uma revisão do Bolsa-Família, uma maior eficiência do
programa e sua “universalização”. Por fim, constata: a cultura
da violência e da impunidade reina no País.
A ONU sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família
para camadas da população que não recebem os benefícios,
incluindo os indígenas. E cobra a “revisão” dos mecanismos de
acompanhamento do programa para garantir acesso de todas
as famílias pobres, aumentando ainda a renda distribuída.
Há duas semanas, o comitê sabatinou membros do
governo em Genebra, na Suíça. O documento com as
sugestões é resultado da avaliação dos peritos do comitê que
inclui o exame de dados passados pelo governo e por cinco
relatórios alternativos apresentados por organizações não-
governamentais (ONGs).
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Os peritos reconhecem os avanços no combate à pobreza,
mas insistem que a injustiça social prevalece. Um dos pontos
considerados como críticos é a diferença de expectativa de
vida e de pobreza entre brancos e negros. A sugestão da ONU
é que o governo tome medidas “mais focadas”. Na visão do
órgão, a exclusão é decorrente da alta proporção de pessoas
sem qualquer forma de segurança social, muitos por estarem
no setor informal da economia.
(www.estadao.com.br/nacional/not_nac377078,0.htm.
26.05.2009. Adaptado)
17. O texto do Estadão
a) harmoniza-se com a charge, já que o relatório
apresentado pela ONU aponta a existência da injustiça social
no país.
b) não mantém uma relação temática com a charge, pois
enfoca a necessidade de revisão dos programas sociais.
c) trata do mesmo assunto apresentado na charge,
mostrando a superação dos problemas sociais mais graves e
urgentes.
d) ajusta-se à ideia expressa na charge de que os avanços
tecnológicos trouxeram inúmeros benefícios aos menos
favorecidos.
e) discute a questão dos direitos econômicos e sociais, o
que o distancia do assunto da charge, ou seja, a exclusão social.
Resposta “A”.
Na verdade, Injustiça Social nada mais é do que o fato de existir
na sociedade situações que favoreçam apenas uma porcentagem
(geralmente menor) da população enquanto outra parte fica sem
acesso aos meios, essenciais ou não, para o homem. Assim como
a notícia veiculada no Estadão, a charge trata da injustiça social
no país, ao anunciar que a exclusão social atinge 28 mil famílias.
18. De acordo com o texto, em relação aos programas
adotados no governo federal para lidar com os problemas
sociais, a ONU deixa evidente que eles
a) se mostram arrojados.
b) devem ser ampliados.
c) não precisarão de melhorias.
d) extinguiram as desigualdades.
e) combatem eficazmente a pobreza.
Resposta “B”.
O período que torna essa alternativa verdadeira é: “A ONU
sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família para camadas da
população que não recebem os benefícios, incluindo os indígenas.
E cobra a ‘revisão’ dos mecanismos de acompanhamento do
programa para garantir acesso de todas as famílias pobres,
aumentando ainda a renda distribuída.”
19. No 1.º parágrafo do texto, o termo universalização
aparece grafado entre aspas. Isso ocorre porque se pretende
enfatizar que o benefício deve
a) atingir a todas as pessoas que o solicitem,
independentemente de classe social.
b) ser proporcionado a um contingente de pessoas que está
fora da pobreza.
c) estar na mira de pessoas incautas, que dele se beneficiam
sem terem direito.
d) ser, paulatinamente, oferecido a um número menor de
pessoas dentro e fora do país.
e) estender-se a todas as famílias pobres e a camadas da
população excluídas de recebê-lo.
Resposta “E”.
O sentido real (denotativo) da palavra universalização é a
superação dos limites sociais, econômicos e mercantilistas que
existem hoje em todos os serviços que ainda são públicos e estatais.
A universalização é a superação das relações patrimonialistas que
determinaram e determinam os aparelhos do Estado que ainda
possuem propriedade estatal e a absoluta garantia de acesso e
atendimento aos serviços públicos. Portanto, não é para atender
todos os excluídos ou mesmo todos os explorados, mas sim para
atender a todos que queiram ou precisem dos serviços públicos.
E, para isso, os serviços devem ser construídos, planejados e
administrados, fato que exige uma absoluta revolução no modelo
de administração pública no Brasil. Mas as aspas estão dando outro
significado para a palavra “universalização”, está restringindo
o seu significado somente às famílias pobres e a camadas da
população excluídas.
20. Com a frase –Asugestão da ONU é que o governo tome
medidas “mais focadas”. – entende-se que as medidas devem
ser
a) diluídas.
b) controladas.
c) direcionadas.
d) competentes.
e) amplas.
Resposta “C”.
“Focar” significa “pôr em evidência”, “tomar por foco”. Por
isso, “medidas focadas” são medidas “direcionadas” (a um foco).
TIPOLOGIA TEXTUAL
Para escrever um texto, necessitamos de técnicas que implicam
no domínio de capacidades linguísticas. Temos dois momentos: o
de formular pensamentos (o que se quer dizer) e o de expressá-los
por escrito (o escrever propriamente dito). Fazer um texto, seja ele
de que tipo for, não significa apenas escrever de forma correta, mas
sim, organizar ideias sobre determinado assunto.
E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de
expressão escrita: Descrição – Narração – Dissertação
Descrição
- expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma
visão;
- é um tipo de texto figurativo;
- retrato de pessoas, ambientes, objetos;
- predomínio de atributos;
- uso de verbos de ligação;
- frequente emprego de metáforas, comparações e outras
figuras de linguagem;
- tem como resultado a imagem física ou psicológica.
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Narração
- expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta
antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente);
- é um tipo de texto sequencial;
- relato de fatos;
- presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
- apresentação de um conflito;
- uso de verbos de ação;
- geralmente, é mesclada de descrições;
- o diálogo direto é frequente.
Dissertação
- expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
- é um tipo de texto argumentativo.
- defesa de um argumento:
a) apresentação de uma tese que será defendida,
b) desenvolvimento ou argumentação,
c) fechamento;
- predomínio da linguagem objetiva;
- prevalece a denotação.
Descrição
É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação
ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares
ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja
apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em
imagens.
Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa
ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não
é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do
observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa
forma, o que será importante ser analisado para um, não será para
outro.
A vivência de quem descreve também influencia na hora
de transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto,
pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento.
Exemplos:
(I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas
a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas
surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instantes já
mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual
estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era
estranho, suave demais, grande demais.”
(extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice
Lispector)
(II) Chamavase Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado,
inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo
que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia
com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia
a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara
doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e
retiravase antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco.
(Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. São
Paulo, Ática, 1974, págs. 3132.)
Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da
escola que o escritor frequentava.
Devese notar:
- que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao
mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os
outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha
grande medo ao pai);
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser considerada
cronologicamente anterior a outra do ponto de vista do relato (no
nível dos acontecimentos, entrar na escola é cronologicamente
anterior a retirarse dela; no nível do relato, porém, a ordem dessas
duas ocorrências é indiferente: o que o escritor quer é explicitar
uma característica do menino, e não traçar a cronologia de suas
ações);
- ainda que se fale de ações (como entrava, retiravase), todas
elas estão no pretérito imperfeito, que indica concomitância em
relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano de
1840, em que o escritor frequentava a escola da rua da Costa) e,
portanto, não denota nenhuma transformação de estado;
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não
correríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica
poderíamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar e
ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com
ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se
antes...
Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enunciados
pode ser invertida, está-se pensando apenas na ordem cronológica,
pois, como veremos adiante, a ordem em que os elementos são
descritos produz determinados efeitos de sentido.
Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos fazer
certas modificações no texto, pois este contém anafóricos (palavras
que retomam o que foi dito antes, como ele, os, aquele, etc. ou
catafóricos (palavras que anunciam o que vai ser dito, como este,
etc.), que podem perder sua função e assim não ser compreendidos.
Se tomarmos uma descrição como As flores manifestavam
todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao invertermos a
ordem das frases, precisamos fazer algumas alterações, para que
o texto possa ser compreendido: O Sol fazia as flores brilhar.
Elas manifestavam todo o seu esplendor. Como, na versão
original, o pronome oblíquo as é um anafórico que retoma flores,
se alterarmos a ordem das frases ele perderá o sentido. Por isso,
precisamos mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá-
la com o anafórico elas na segunda.
Por todas essas características, dizse que o fragmento do
conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto em
que se expõem características de seres concretos (pessoas, objetos,
situações, etc.) consideradas fora da relação de anterioridade e de
posterioridade.
Características:
- Ao fazer a descrição enumeramos características,
comparações e inúmeros elementos sensoriais;
- As personagens podem ser caracterizadas física e
psicologicamente, ou pelas ações;
- A descrição pode ser considerada um dos elementos
constitutivos da dissertação e da argumentação;
- é impossível separar narração de descrição;
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim
a capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza.
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12
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo:
“(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo
desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea
e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que
parecem conformados expressamente para esposas da multidão
(...)” (Raul Pompéia – O Ateneu)
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não existe
relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados.
- Devemse evitar os verbos e, se isso não for possível, que se
usem então as formas nominais, o presente e o pretério imperfeito
do indicativo, dando-se sempre preferência aos verbos que
indiquem estado ou fenômeno.
- Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos
adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto.
A característica fundamental de um texto descritivo é essa
inexistência de progressão temporal. Podese apresentar, numa
descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam
sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação
anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas
linguísticas da descrição é o predomínio de verbos no presente
ou no pretérito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa
concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em
relação a um marco temporal pretérito instalado no texto.
Para transformar uma descrição numa narração, bastaria
introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um estado
anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, para
transformá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso grande
medo do pai. Mais tarde, Iibertouse desse medo...
Características Linguísticas:
O enunciado narrativo, por ter a representação de um
acontecimento,fazer-transformador,émarcadopelatemporalidade,
na relação situação inicial e situação final, enquanto que o
enunciado descritivo, não tendo transformação, é atemporal.
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático-
semânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão:
- Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores
de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente no
presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se,
existir, ficar).
- Enfâse na adjetivação para melhor caracterizar o que é
descrito; Exemplo:
“Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço
entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se
alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgado no alto;
tingia os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por
trás da nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais
brilho à calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto,
caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas
escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito
despegadas do crânio.”
(Eça de Queiroz - O Primo Basílio)
- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações,
sinestesias). Exemplo:
“Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito
gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de seu
corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante
que lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os
olhinhos de azougue.”
(José de Alencar - Senhora)
- Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo:
“Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e
essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você
entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que
devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali
tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no final
do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia
dar no quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da
bagunça...”
(Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ)
Recursos:
- Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas.
Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol.
- Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas,
concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu sereno,
uma pureza de cristal.
- As sensações de movimento e cor embelezam o poder da
natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente que
deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
- A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do texto.
Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal, muito
crente.
A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a
passagem são apresentadas como realmente são, concretamente.
Ex: “Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética,
ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos
negros e lisos”.
Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo: “
A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central que se
alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de guilhotina
para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado, dentro de uma
estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei. Telhado de quatro
águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais velha que Juiz de
Fora, provavelmente sede de alguma fazenda que tivesse ficado,
capricho da sorte, na linha de passagem da variante do Caminho
Novo que veio a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre
a qual ela se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente
do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú de Ossos)
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da
emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são
transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar ou
expressar seus sentimentos. Ex: “Nas ocasiões de aparato é que se
podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações gritavam-
lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu!
Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos,
calmos, eram de um rei...” (“O Ateneu”, Raul Pompéia)
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra
esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de-
frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando por lei,
de sobregoverno.” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos
descritivos:
Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressão
temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente, uma
vez que eles indicam propriedades ou características que ocorrem
simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do ponto de
vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para baixo ou
viceversa, do detalhe para o todo ou do todo para o detalhe cria
efeitos de sentido distintos.
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
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Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de
Bocage:
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
bem servido de pés, meão de altura,
triste de facha, o mesmo de figura,
nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir num só terreno,
mais propenso ao furor do que à ternura;
bebendo em níveas mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.
Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão,
1968, pág. 497.
O poeta descrevese das características físicas para as
características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o
mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer relevo.	
		
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar
uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto, lugar,
pessoa etc., apontando suas características exteriores, facilmente
identificáveis (descrição objetiva), ou suas características
psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva).
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos,
também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado
desta técnica, sugerese que o concursando, após escrever seu texto,
sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou depois
deste um adjetivo ou uma locução adjetiva.
Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à
procedência ou localização do objeto descrito.
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) formato (comparação
com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões
(largura, comprimento, altura, diâmetro etc.)
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) material, peso, cor/
brilho, textura.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como
um todo.
Descrição de objetos constituídos por várias partes:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à
procedência ou localização do objeto descrito.
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das
partes que compõem o objeto, associados à explicação de como as
partes se agrupam para formar o todo.
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo
(externamente) formato, dimensões, material, peso, textura, cor
e brilho.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em
sua totalidade.
Descrição de ambientes:
- Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global
do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e
aroma (se houver).
- Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a objetos
lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou
quaisquer outros objetos.
- Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no
ambiente.
Descrição de paisagens:
- Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer
outra referência de caráter geral.
- Desenvolvimento: observação do plano de fundo (explicação
do que se vê ao longe).
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais próximos
do observador explicação detalhada dos elementos que compõem
a paisagem, de acordo com determinada ordem.
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca
da impressão que a paisagem causa em quem a contempla.
Descrição de pessoas (I):
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
aspecto de caráter geral.
- Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor da
pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
- Desenvolvimento: características psicológicas
(personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações,
postura, objetivos).
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
geral.
Descrição de pessoas (II):
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
aspecto de caráter geral.
- Desenvolvimento: análise das características físicas,
associadas às características psicológicas (1ª parte).
- Desenvolvimento: análise das características físicas,
associadas às características psicológicas (2ª parte).
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
geral.
A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam.
Porque toda técnica descritiva implica contemplação e apreensão
de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever, precisa
possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor capta o
mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição
focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade.
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-
literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior
preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular.
Por ser objetiva, há predominância da denotação.
Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é
um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma
linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para
descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os
compõem, para descrever experiências, processos, etc.
Exemplo:
Folheto de propaganda de carro
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
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Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir
o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando
tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat
Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada
capacidade, proporcionando a climatização perfeita do ambiente.
Porta-malas- O compartimentode bagagenspossui capacidade
de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros, com o
encosto do banco traseiro rebaixado.
Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em
plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para
evitar a deformação em caso de colisão.
Textos descritivos literários: Na descrição literária
predomina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de
associações conotativas que podem ser exploradas a partir de
descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes;
situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também
podem ocorrer tanto em prosa como em verso.
Narração
A Narração é um tipo de texto que relata uma história real,
fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo
apresenta personagens que atuam em um tempo e em um espaço,
organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série
de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de
um estado para outro, segundo relações de sequencialidade e
causalidade, e não simultâneos como na descrição. Expressa as
relações entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas
entre esses indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm
essa vivência.
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o
narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem
ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a
ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a
maioria dos verbos que compõem esse tipo de texto são os verbos
de ação. O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou
seja, a história que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de
enredo.
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas
personagens, que são justamente as pessoas envolvidas no
episódio que está sendo contado. As personagens são identificadas
(nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos próprios.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem
querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)  as ações do
enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre
uma ação ou ações  é chamado de espaço, representado no texto
pelos advérbios de lugar.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer
“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através dos
tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o
tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao
leitor “como” o fato narrado aconteceu.
A história contada, por isso, passa por uma introdução
(parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo
desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita,
o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) e
termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). Aquele
que conta a história é o narrador,  que pode ser pessoal (narra em
1ª pessoa: Eu...) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele...).
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos
de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos
substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do
texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos
verbos, formando uma rede: a própria história contada.
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a
história.
Elementos Estruturais (I):
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos.
- Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam e
dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por meio
de características físicas ou psicológicas. Os personagens podem
ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador,
estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o
avarento etc.), heróis ou antiheróis, protagonistas ou antagonistas.
- Narrador: é quem conta a história.
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o
tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo
interior, subjetivo.
Elementos Estruturais (II):
Personagens Quem? Protagonista/Antagonista
Acontecimento O quê? Fato
Tempo Quando? Época em que ocorreu o fato
Espaço Onde? Lugar onde ocorreu o fato
Modo	 Como? De que forma ocorreu o fato
Causa	 Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato
Resultado - previsível ou imprevisível.
Final - Fechado ou Aberto.
Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de
tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, como
simples exemplos de uma narração. Há uma relação de implicação
mútua entre eles, para garantir coerência e verossimilhança à
história narrada.
Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão,
obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as
personagens ou o fato a ser narrado.
Exemplo:
Porquinho da índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinhodaíndía.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
O meu porquinhodaíndia foi a minha primeira namorada.
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de
Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110.
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
15
Observeque,notextoacima,háumconjuntodetransformações
de situação: ganhar um porquinhodaíndia é passar da situação de
não ter o animalzinho para a de têlo; leválo para a sala ou para
outros lugares é passar da situação de ele estar debaixo do fogão
para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria era estar
debaixo do fogão” implica a volta à situação anterior; “não fazia
caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender que o menino
passava de uma situação de não ser terno com o animalzinho para
uma situação de ser; no último verso temse a passagem da situação
de não ter namorada para a de ter.
Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto
de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o
componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança
de estado pela ação de alguma personagem, é uma transformação
de situação. Mesmo que essa personagem não apareça no texto,
ela está logicamente implícita. Assim, por exemplo, se o menino
ganhou um porquinhodaíndia, é porque alguém lhe deu o
animalzinho.
Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele em que
alguém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o porquinhoda
índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o porquinho perdia,
a cada vez que o menino o levava para outro lugar, o espaço
confortável de debaixo do fogão). Assim, temos dois tipos de
narrativas: de aquisição e de privação.
Existem três tipos de foco narrativo:
- Narrador-personagem: é aquele que conta a história na
qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao
mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.
- Narrador-observador: é aquele que conta a história como
alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a
história é contada em 3ª pessoa.
- Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo e as
personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos íntimos.
Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece misturada
com pensamentos dos personagens (discurso indireto livre).
Estrutura:
- Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados
alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da história,
como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá.
- Complicação: é a parte do texto em que se inicia
propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem,
conduzindo ao clímax.
- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu
momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos
personagens.
Tipos de Personagens:
Os personagens têm muita importância na construção de um
texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou
secundários, conforme o papel que desempenham no enredo,
podem ser apresentados direta ou indiretamente.
A apresentação direta acontece quando o personagem aparece
de forma clara no texto, retratando suas características físicas
e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando os
personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo a
sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de suas
ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.
- Em 1ª pessoa:
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a
história e é o protagonista. Exemplo:
“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o
coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia
a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar
de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra
vez e estacava.”
(Machado de Assis. Dom Casmurro)
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar,
eu estava lá e vi. Exemplo:
“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do
Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista
que fez cancha nos banhados do Ibirocaí.
Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a cruzar
os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na
escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; ainda que
chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por alma
de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou
cruzada!...
(...)
Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele.
Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito
tempo. (...)
Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na
matança dos leitões e no tiramento dos assados com couro.
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
- Em 3ª pessoa:
Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa.
Exemplo:
“Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fantasiaram
de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar
menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha
de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra,
sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de
ridículo.”
(Ilka Laurito. Sal do Lírico)
Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como
sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:
Festa
Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o
crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois
meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas
ambos com menos de dez anos.
Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas
resolutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há
seis mesas desertas.
O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O
homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois
pãezinhos.
__ Duzentos e vinte.
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
16
O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.
__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.
__ Como?
__ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais
gostoso.
O homem olha para os meninos.
__ O preço é o mesmo – informa o rapaz.
__ Está certo.
Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como
se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.
O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em
seguida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada
um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro
dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.
Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de
cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o
primeiro bocado do pão.
O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando
criteriosamente o menino mais velho e o menino mais novo
absorvidos com o sanduíche e a bebida.
Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos.
E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados
naquela mesa.
(Wander Piroli)
Tipos de Discurso:
Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para
o personagem, sem a sua interferência. Exemplo:
Caso de Desquite
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca).
Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado.Agora
com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não
me pise, fico uma jararaca.
__ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão.
__ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom?
Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no primeiro
mês.
__Você desempregado, quem é que fazia roça?
__ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui
jogado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem
ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui
na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom?
__ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende?
__ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre só.
Sempre tem um cristão que enterra o pobre.
__ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...
__ Eu arranjo.
__ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois
cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor. Vai me
deixar sem nada?
__ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a potranca,
deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e
roupa lavada.
__ Para onde foi a lavadeira?
__ Quem?
__ A mulata.
(...)
(Dalton Trevisan – A guerra Conjugal)
Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz,
sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo:
Frio
O menino tinha só dez anos.
Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde.
Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia,
afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada.
(Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que
percebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)
Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as
vitrines, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia
firme e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito
para nada.
__ Olho vivo – como dizia Paraná.
Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele
ia pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas
esquinas. O seu coraçãozinho se apertava.
Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher.
Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo
jardim, pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele
seguiu. Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente
faltava mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes
passavam.
(João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço)
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do
personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente
recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX.
Exemplo:
A Morte da Porta-Estandarte
Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços.
Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso
segurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu...
Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham
paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses
tambores? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por
que não está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha
da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o
fundo do País... Abraçá-la no alto de uma colina...
(Aníbal Machado)
Sequência Narrativa:
Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma
coordenase a outra, uma implica a outra, uma subordinase a outra.
A narrativa típica tem quatro mudanças de situação:
- uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um
dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
- uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma
competência para fazer algo);
- uma em que a personagem executa aquilo que queria ou
devia fazer (é a mudança principal da narrativa);
- uma em que se constata que uma transformação se deu e
em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens
(geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os
maus).
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
17
Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se
pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a
realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetuase
porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazêla. Tomemos,
por exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina
a escritura, realizase o ato de compra; para isso, é necessário poder
(ter dinheiro) e querer ou dever comprar (respectivamente, querer
deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido
despejado, por exemplo).
Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem.
Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu
ou outro instrumento para derrubála. Para ter um carro, é preciso
antes conseguir o dinheiro.
Narrativa e Narração
Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é
um componente narrativo que pode existir em textos que não são
narrações.Anarrativa é a transformação de situações. Por exemplo,
quando se diz “Depois da abolição, incentivouse a imigração de
europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto, apresenta
um componente narrativo, pois contém uma mudança de situação:
do não incentivo ao incentivo da imigração européia.
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto,
o que é narração?
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características:
- é um conjunto de transformações de situação (o texto de
Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche
essa condição);
- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos
concretos (o texto “Porquinho-daíndia” preenche também esse
requisito);
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal
que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e
posterioridade (no texto “Porquinhodaíndia” o fato de ganhar o
animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez
é anterior ao de o menino leválo para a sala, que por seu turno é
anterior ao de o porquinhoda-índia voltar ao fogão”).
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre
pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear da
temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance
machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o
narrador começa contando sua morte para em seguida relatar sua
vida, a sequência temporal foi modificada. No entanto, o leitor
reconstitui, ao longo da leitura, as relações de anterioridade e de
posterioridade.
Resumindo: na narração, as três características explicadas
acima (transformação de situações, figuratividade e relações de
anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) devem
estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas
dessas características não é uma narração.
Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto
narrativo:
- Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que
aconteceu, quando e onde.
- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos
personagens.
- Desenvolvimento: detalhes do fato.
- Conclusão: consequências do fato.
Caracterização Formal:
Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto
narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade,
porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função da
individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do enfoque
do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim é de grande
importância saber se o relato é feito em primeira pessoa ou terceira
pessoa. No primeiro caso, há a participação do narrador; segundo,
há uma inferência do último através da onipresença e onisciência.
Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos
acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o
aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O
narrador que usa essa técnica (característica comum no cinema
moderno) demonstra maior criatividade e originalidade, podendo
observar as ações ziguezagueando no tempo e no espaço.
Exemplo - Personagens
“Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr.
Amâncio não viu a mulher chegar.
Não quer que se carpa o quintal, moço?
Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face
escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do
passado, os olhos).”
(Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre:
Mercado Aberto, p. 5O)
Exemplo - Espaço
Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza
escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não
havia, em todo o caso, como negarlhe a insipidez.”
(Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto
Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
Exemplo - Tempo
“Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembrase: a
mulher lhe pediu que a chamasse cedo.”
(Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
Tipologia da Narrativa Ficcional:
- Romance
- Conto
- Crônica
- Fábula
- Lenda
- Parábola
- Anedota
- Poema Épico
Tipologia da Narrativa NãoFiccional:
- Memorialismo
- Notícias
- Relatos
- História da Civilização
Apresentação da Narrativa:
- visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em
quadrinhos) e desenhos.
- auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos.
- audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.
Didatismo e Conhecimento
LÍNGUA PORTUGUESA
18
Dissertação
A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação
de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema.
Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, clareza,
coerência, objetividade na exposição, um planejamento de trabalho
e uma habilidade de expressão.
É em função da capacidade crítica que se questionam pontos
da realidade social, histórica e psicológica do mundo e dos
semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu significado
diz respeito a um tipo de texto em que a exposição de uma ideia,
através de argumentos, é feita com a finalidade de desenvolver um
conteúdo científico, doutrinário ou artístico.
Exemplo:
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser
primeiroministro. O primeiro é saber, com prudência, como
servirse de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo,
como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como
clamar, com zelo furioso, contra a corrupção da corte. Mas um
príncipe discreto prefere nomear os que se valem do último
desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais
obsequiosos e subservientes à vontade e às paixões do amo. Tendo
à sua disposição todos os cargos, conservamse no poder esses
ministros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho,
e, afinal, por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza
lhe expliquei), garantemse contra futuras prestações de contas e
retiramse da vida pública carregados com os despojos da nação.
	 Jonathan Swift. Viagens de Gulliver.
São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234235.
Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem
chega a ser primeiroministro, aconselha o príncipe discreto
a escolhêlo entre os que clamam contra a corrupção na corte e
justifica esse conselho.
Observese que:
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade
com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem
particular e do que faz para chegar a ser primeiroministro, mas do
homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder);
- existe mudança de situação no texto (por exemplo, a
mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte
no momento em que se tornam primeirosministros);
- a progressão temporal dos enunciados não tem importância,
pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a
corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação para
primeiroministro).
Características:
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático;
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação;
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior
importância o que importa são suas relações lógicas: analogia,
pertinência, causalidade, coexistência, correspondência,
implicação, etc.
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos
de redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem
características próprias a cada tipo de texto.
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento /
Conclusão.
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a
ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento.
Tipos:
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos.
Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha
de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...”
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um
fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que a
década colecionou, agravou vários dos históricos problemas
sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana,
cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população
brasileira.”
- Proposição: o autor explicita seus objetivos.
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma
coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer se
sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! Faça
parte desse time de vencedores desde a escolha desse momento!
- Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É
importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a
solução no combate à insegurança.”
- Características: caracterização de espaços ou aspectos.
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em
1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televisores.
Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos receptores
instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 emissoras
(aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repetidoras (que
apenas retransmitem sinais recebidos). (...)”
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
- Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do
texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no
fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras
que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder,
escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de
sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.”
- Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que
compõem o texto.
- Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz
a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo
futebol não é uma prova de alienação?”
- Suspense: alguma informação que faça aumentar a
curiosidade do leitor.
- Comparação: social e geográfica.
- Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à
distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo
das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que
marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira doença do
século...”
- Narração: narrar um fato.
Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de forma
organizada e progressiva. É a parte maior e mais importante do
texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas:
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com
este tipo de abordagem.
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Como Ler um Texto de Forma Eficiente

  • 1. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 1 COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Como Ler um Texto Interessa a todos saber que procedimento se deve adotar para tirar o maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não se pode responder a essa pergunta sem antes destacar que não existe para ela uma solução mágica, o que não quer dizer que não exista solução alguma. Genericamente, pode-se afirmar que uma leitura proveitosa pressupõe, além do conhecimento linguístico propriamente dito, um repertório de informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo. A título e ilustração, observe a questão seguinte, extraída de concurso, na qual já vimos anteriormente. Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se lê. Um bom exemplo é o texto que segue:   “As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.” (Folha Sudoeste) É o conhecimento linguístico que nos permite reconhecer a ambiguidade do texto em questão (pela posição em que se situa, a expressão sem a companhia ou autorização dos pais permite a interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os menores podem ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento de mundo nos adverte de que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano do redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de frequentarem motéis. Como se vê, a compreensão do texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas sem exceção. Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a  três questões básicas:  - Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da principal, isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus olhos. - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá dificuldade em identificá-la. Não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva. - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das ideias. Na verdade, entender um texto significa acompanhar com atenção o seu percurso argumentativo.  O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Ler é uma atividade muito mais complexa do que a simples interpretação dos símbolos gráficos, de códigos,  requer que o indivíduo seja capaz de interpretar o material lido, comparando-o e incorporando-o à sua bagagem pessoal, ou seja, requer que o indivíduo mantenha um comportamento ativo diante da leitura. Os diferentes níveis de leitura Para que isso aconteça, é necessário que haja maturidade para a compreensão do material lido, senão tudo cairá no esquecimento ou ficará armazenado em nossa memória sem uso, até que tenhamos condições cognitivas para utilizar. De uma forma geral, passamos por diferentes níveis ou etapas até termos condições de aproveitar totalmente o assunto lido. Essas etapas ou níveis são cumulativas e vão sendo adquiridas pela vida, estando presente em praticamente toda a nossa leitura. O Primeiro Nível é elementar e diz respeito ao período de alfabetização. Ler é uma capacidade cerebral muito sofisticada e requer experiência: não basta apenas conhecermos os códigos, a gramática, a semântica, é preciso que tenhamos um bom domínio da língua. O Segundo Nível é a pré-leitura ou leitura inspecional. Tem duas funções específicas: primeiro, prevenir para que a leitura posterior não nos surpreenda e, sendo, para que tenhamos chance de escolher qual material leremos, efetivamente. Trata-se, na verdade, de nossa primeira impressão sobre o livro. É a leitura que comumente desenvolvemos “nas livrarias”. Nela, por meio do salteio de partes, respondem basicamente às seguintes perguntas: - Por que ler este livro? - Será uma leitura útil? - Dentro de que contexto ele poderá se enquadrar?   Essas perguntas devem ser revistas durante as etapas que se seguem, procurando usar de imparcialidade quanto ao ponto de vista do autor, e o assunto, evitando preconceitos. Se você se propuser a ler um livro sem interesse, com olhar crítico, rejeitando-o antes de conhecê-lo, provavelmente o aproveitamento será muito baixo. Ler é armazenar informações; desenvolver; ampliar horizontes; compreender o mundo; comunicar-se melhor; escrever melhor; relacionar-se melhor com o outro. Pré-Leitura Nome do livro Autor Dados Bibliográficos Prefácio e Índice  Prólogo e Introdução
  • 2. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 2 O primeiro passo é memorizar o nome do autor e a edição do livro, fazer um folheio sistemático: ler o prefácio e o índice (ou sumário), analisar um pouco da história que deu origem ao livro, ver o número da edição e o ano de publicação. Se falarmos em ler um Machado de Assis, um Júlio Verne, um Jorge Amado, já estaremos sabendo muito sobre o livro. É muito importante verificar estes dados para enquadrarmos o livro na cronologia dos fatos e na atualidade das informações que ele contém.  Verifique detalhes que possam contribuir para a coleta do maior número de informações possível. Tudo isso vai ser útil quando formos arquivar os dados lidos no nosso arquivo mental. A propósito, você sabe o que seja um prólogo, um prefácio e uma introdução? Muita gente pensa que os três são a mesma coisa, mas não: Prólogo: é um comentário feito pelo autor a respeito do tema e de sua experiência pessoal. Prefácio: é escrito por terceiros ou pelo próprio autor, referindo-se ao tema abordado no livro e muitas vezes também tecendo comentários sobre o autor. Introdução: escrita também pelo autor, referindo-se ao livro e não ao tema. O segundo passo é fazer uma leitura superficial. Pode-se, nesse caso, aplicar as técnicas da leitura dinâmica. O Terceiro Nível é conhecido como analítico. Depois de vasculharmos bem o livro na pré-leitura, analisamos o livro. Para isso, é imprescindível que saibamos em qual gênero o livro se enquadra: trata-se de um romance, um tratado, um livro de pesquisa e, neste caso, existe apenas teoria ou são inseridas práticas e exemplos. No caso de ser um livro teórico, que requeira memorização, procure criar imagens mentais sobre o assunto, ou seja, veja, realmente, o que está lendo, dando vida e muita criatividade ao assunto.  Note bem: a leitura efetiva vai acontecer nesta fase, e a primeira coisa a fazer é ser capaz de resumir o assunto do livro em duas frases. Já temos algum conteúdo para isso, pois o encadeamento das ideias já é de nosso conhecimento. Procure, agora, ler bem o livro, do início ao fim. Esta é a leitura efetiva, aproveite bem este momento. Fique atento! Aproveite todas as informações que a pré-leitura ofereceu. Não pare a leitura para buscar significados de palavras em dicionários ou sublinhar textos, isto será feito em outro momento. O Quarto Nível de leitura é o denominado de controle.Trata-se de uma leitura com a qual vamos efetivamente acabar com qualquer dúvida que ainda persista. Normalmente, os termos desconhecidos de um texto são explicitados  neste próprio texto, à medida que vamos adiantando a leitura. Um mecanismo psicológico fará com que fiquemos com aquela dúvida incomodando-nos até que tenhamos a resposta. Caso não haja explicação no texto, será na etapa do controle que lançaremos mão do dicionário. Veja bem: a esta altura já conhecemos bem o livro e o ato de interromper a leitura não vai fragmentar a compreensão do assunto como um todo. Será, também, nessa etapa que sublinharemos os tópicos importantes, se necessário. Para ressaltar trechos importantes opte por um sinal discreto próximo a eles, visando principalmente a marcar o local do texto em que se encontra, obrigando-o a fixar a cronologia e a sequência deste fato importante, situando-o no livro. Aproveite bem esta etapa de leitura. Para auxiliar no estudo, é interessante que, ao final da leitura de cada capítulo, você faça um breve resumo com suas próprias palavras de tudo o que foi lido. Um Quinto Nível pode ser opcional: a etapa da repetição aplicada. Quando lemos, assimilamos o conteúdo do texto, mas aprendizagem efetiva vai requerer que tenhamos prática, ou seja, que tenhamos experiência do que foi lido na vida. Você só pode compreender conceitos que tenha visto em seu cotidiano. Nada como unir a teoria à prática. Na leitura, quando não passamos pela etapa da repetição aplicada, ficamos muitas vezes sujeitos  àqueles brancos quando queremos evocar o assunto. Para evitar isso, faça resumos. Observe agora os trechos sublinhados do livro e os resumos de cada capítulo, trace um diagrama sobre o livro, esforce-se para traduzi-lo com suas próprias palavras. Procure associar o assunto lido com alguma experiência já vivida ou tente exemplificá-lo com algo concreto, como se fosse um professor e o estivesse ensinando para uma turma de alunos interessados. É importante lembrar que esquecemos mais nas próximas 8 horas do que nos 30 dias posteriores. Isto quer dizer que devemos fazer pausas durante a leitura e ao retornarmos ao livro, consultamos os resumos. Não pense que é um exercício monótono. Nós somos capazes de realizar diariamente exercícios físicos com o propósito de melhorar a aparência e a saúde. Pois bem, embora não tenhamos condições de ver com o que se apresenta nossa mente, somos capazes de senti-la quando melhoramos nossas aptidões como o raciocínio, a prontidão de informações e, obviamente, nossos conhecimentos intelectuais. Vale a pena se esforçar no início e criar um método de leitura eficiente e rápido. Ideias Núcleo O primeiro passo para interpretar um texto consiste em decompô-lo, após uma primeira leitura, em suas “ideias básicas ou ideias núcleo”, ou seja, um trabalho analítico buscando os conceitos definidores da opinião explicitada pelo autor. Esta operação fará com que o significado do texto “salte aos olhos” do leitor. Exemplo: “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o incosciente e subconsciente. Começou estudando casos clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’ de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais. Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília. Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” (Salvatore D’Onofrio) Primeiro Conceito do Texto: “Incalculável é a contribuição do famoso neurologista austríaco no tocante aos estudos sobre a formação da personalidade humana. Sigmund Freud (1859-1939) conseguiu acender luzes nas camadas mais profundas da psique humana: o incosciente e subconsciente.” O autor do texto afirma, inicialmente, que Sigmund Freud ajudou a ciência a compreender os níveis mais profundos da personalidade humana, o incosciente e subconsciente.
  • 3. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 3 Segundo Conceito do Texto: “Começou estudando casos clínicos de comportamentos anômalos ou patológicos, com a ajuda da hipnose e em colaboração com os colegas Joseph Breuer e Martin Charcot (Estudos sobre a histeria, 1895). Insatisfeito com os resultados obtidos pelo hipnotismo, inventou o método que até hoje é usado pela psicanálise: o das ‘livres associações’de ideias e de sentimentos, estimuladas pela terapeuta por palavras dirigidas ao paciente com o fim de descobrir a fonte das perturbações mentais.” A segunda ideia núcleo mostra que Freud deu início a sua pesquisa estudando os comportamentos humanos anormais ou doentios por meio da hipnose. Insatisfeito com esse método, criou o das “livres associações de ideias e de sentimentos”. Terceiro Conceito do Texto: “Para este caminho de regresso às origens de um trauma, Freud se utilizou especialmente da linguagem onírica dos pacientes, considerando os sonhos como compensação dos desejos insatisfeitos na fase de vigília.” Aqui, está explicitado que a descoberta das raízes de um trauma se faz por meio da compreensão dos sonhos, que seriam uma linguagem metafórica dos desejos não realizados ao longo da vida do dia a dia. Quarto Conceito do Texto: “Mas a grande novidade de Freud, que escandalizou o mundo cultural da época, foi a apresentação da tese de que toda neurose é de origem sexual.” Por fim, o texto afirma que Freud escandalizou a sociedade de seu tempo, afirmando a novidade de que todo o trauma psicológico é de origem sexual. Interpretação de Charges A charge ou cartum é um desenho de caráter humorístico, geralmente veiculado pela imprensa. Ela também pode ser considerada como texto e, nesse sentido, pode ser lida por qualquer um de nós. Trata-se de um tipo de texto muito importante na mídia atual, graças à sua capacidade de fazer, de modo sintético, críticas político-sociais. Um público muito amplo se interessa pela charge, tanto pelo uso do humor e da sátira, quanto por exigir do leitor apenas um pequeno conhecimento da situação focalizada, para se reconhecerem as referências e insinuações feitas pelo autor. Há cerca de dez anos, os concursos públicos e exames escolares passaram a se utilizar de charges para avaliar a capacidade de interpretação dos concursandos e alunos. Em um concurso, por exemplo, o tema proposto para a prova de redação era “O indivíduo frente à ética nacional”, que vinha, como de costume, acompanhado de uma coletânea composta por dois textos opinativos, publicados na mídia impressa, e a seguinte charge: De autoria de Millôr Fernandes. A charge discute a honestidade social a partir de uma cena irônica: a lamentação de um indivíduo que, por só poder lidar com gente honesta, encontra-se num deserto. A charge, associada aos textos da coletânea e ao tema anunciado na proposta, compunham um panorama mais amplo do problema incluído na proposta, conduzindo o leitor a alguns questionamentos que poderiam direcionar a elaboração de seu texto: - Existe alguma pessoa completamente honesta no mundo? O que isso significa? - O indivíduo que chama os outros de desonestos e antiéticos apresenta realmente um comportamento ético que o diferencie dos demais? - O fato de acharmos que a maioria age de modo antiético nos daria o direito de assim também o fazer, para não sermos os únicos diferentes? - A ética que deveria nortear as relações humanas é hoje característica de poucos? Ela se tornou uma exceção? Essa proposta de redação possibilitou construírem sua argumentação a partir dos exemplos que melhor se adequassem à sua linha de raciocínio. Os temas de charges, porém, nem sempre são assim tão amplos. Podem estar ligados a acontecimentos específicos de uma época ou local, o que é muito frequente nas charges diárias. Quando são publicadas em jornais regionais, por exemplo, as charges podem fazer referência a fatos que não são conhecidos por moradores de outras cidades ou Estados, o que lhes dificulta a compreensão. Nos jornais de grande alcance, as charges normalmente recuperam os assuntos que ganharam destaque nacional nos dias anteriores. Abaixo veremos três exemplos de charges, todas referentes ao mesmo tema. As três tratam do mesmo tema: a queda do governador de São Paulo, José Serra, nas pesquisas que avaliam a intenção de voto do eleitor brasileiro para a campanha presidencial. Para compreendê-las, o leitor precisa acionar uma série de conhecimentos prévios que já possui no seu próprio repertório cultural. Vamos examinar cada um dos casos: Charge da Folha de S. Paulo Criada por Glauco, não possui texto verbal. Assim, toda a informação deve ser identificada no desenho. Nele, pode-se ver um avião sendo consertado por um mecânico, um homem careca dentro do aparelho, com expressão aborrecida, e um triângulo usado no trânsito para indicar que o veículo está quebrado (esta já é uma informação prévia do leitor).
  • 4. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 4 Após a identificação desses elementos básicos, entram outros mais específicos que também precisam ser conhecidos pelo leitor: o reconhecimento dos personagens e das situações específicas a que se refere o desenho: o avião tem formato de tucano, uma referência ao símbolo de um partido político, o PSDB; o piloto do avião deve ser associado a José Serra, por ser careca e pertencer ao partido tucano; o avião quebrado é uma referência à dificuldade de Serra para “decolar” (metáfora política para designar avanço nas intenções de voto) no início da campanha para Presidência da República. Assim o leitor também precisa saber que haverá eleição, que Serra é pré-candidato, que pertence ao PSDB, cujo símbolo é um tucano, que houve uma pesquisa de intenção de voto e que o candidato tucano teve desempenho ruim nessa pesquisa. O Povo (Fortaleza, CE) Aqui também não há texto verbal. A imagem traz uma caricatura de José Serra, com a expressão tensa, de quem passa por apuros, caminhando como um equilibrista sobre a corda bamba. A corda, porém, tem a forma de uma escada, que termina numa seta vermelha, referência aos indicadores dos gráficos cartesianos. Mais uma vez, para interpretar a charge, o leitor precisará relacionar a imagem a seu conhecimento sobre fatos divulgados pela mídia nacional naquela ocasião, ou seja, à queda que o candidato à Presidência teve naquela pesquisa de intenção de voto. Agora São Paulo Dos três casos, este é o único em que imagem e texto mesclam- se. No desenho de Cláudio vemos o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, reconhecido pelos traços da caricatura. Ele abre a porta de um armário, no qual está escondido José Serra, e, apontando para fora do móvel, grita para que Serra assuma. Enquanto isso, segurando a pesquisa em que cai de 37 para 32% e sua concorrente sobe de 23 para 28%, Serra afirma estar indeciso. Além das falas e dos dados da pesquisa, a charge ainda tem título, “Eleição para Presidente”, e um texto complementar, “Tucanos cobram que Serra se declare candidato”. Assim, todo o contexto fica identificado, facilitando o trabalho de interpretação do leitor, mas a este ainda cabe acionar seu conhecimento de mundo para completar informações, como a associação feita entre “assumir-se candidato à Presidência” e a imagem de “sair do armário”, expressão usada principalmente para fazer referência a pessoas que escondem publicamente sua condição sexual. O leitor deve perceber, porém, que não há na charge intenção de questionar a opção sexual do candidato. Apenas fez-se uma associação livre para gerar efeito de humor, criticando o medo de Serra de mostrar-se candidato diante da crescente rejeição popular. A leitura interpretativa de charges é uma habilidade cada vez mais cobrada em provas de vestibulares e de concursos em geral, tanto nas questões de língua portuguesa quanto nos temas de redação. Isso acontece porque a charge é um modelo de texto que extrapola a linguagem verbal (por vezes até nem usada), exige um bom nível de conhecimento de mundo e competência para inferir críticas e relacionar fatos sociais. Por isso, treine a leitura de charges, procure ampliar seu nível de compreensão e evite ser surpreendido. Dicas Podemos, tranquilamente, ser bem-sucedidos numa interpretação de texto. Para isso, devemos observar o seguinte: - Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto; - Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a leitura, vá até o fim, ininterruptamente; - Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo menos umas três vezes; - Ler com perspicácia, sutileza, malícia nas entrelinhas; - Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar; - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; - Partir o texto em pedaços (parágrafos, partes) para melhor compreensão; - Centralizar cada questão ao pedaço (parágrafo, parte) do texto correspondente; - Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada questão; - Cuidado com os vocábulos: destoa (=diferente de...), não, correta, incorreta, certa, errada, falsa, verdadeira, exceto, e outras; palavras que aparecem nas perguntas e que, às vezes, dificultam a entender o que se perguntou e o que se pediu; - Quando duas alternativas lhe parecem corretas, procurar a mais exata ou a mais completa; - Quando o autor apenas sugerir ideia, procurar um fundamento de lógica objetiva; - Cuidado com as questões voltadas para dados superficiais;
  • 5. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 5 - Não se deve procurar a verdade exata dentro daquela resposta, mas a opção que melhor se enquadre no sentido do texto; - Às vezes a etimologia ou a semelhança das palavras denuncia a resposta; - Procure estabelecer quais foram as opiniões expostas pelo autor, definindo o tema e a mensagem; - O autor defende ideias e você deve percebê-las; - Os adjuntos adverbiais e os predicativos do sujeito são importantíssimos na interpretação do texto. Exemplos: Ele morreu de fome. de fome: adjunto adverbial de causa, determina a causa na realização do fato (= morte de “ele”). Ele morreu faminto. faminto: predicativo do sujeito, é o estado em que “ele” se encontrava quando morreu. - As orações coordenadas não têm oração principal, apenas as ideias estão coordenadas entre si; - Os adjetivos ligados a um substantivo vão dar a ele maior clareza de expressão, aumentando-lhe ou determinando-lhe o significado; - Esclarecer o vocabulário; - Entender o vocabulário; - Viver a história; - Ative sua leitura; - Ver, perceber, sentir, apalpar o que se pergunta e o que se pede; - Não se deve preocupar com a arrumação das letras nas alternativas; - As perguntas são fáceis, dependendo de quem lê o texto ou como o leu; - Cuidado com as opiniões pessoais, elas não existem; - Sentir, perceber a mensagem do autor; - Cuidado com a exatidão das questões em relação ao texto; - Descobrir o assunto e procurar pensar sobre ele; - Todos os termos da análise sintática, cada termo tem seu valor, sua importância; - Todas as orações subordinadas têm oração principal e as ideias se completam. Vícios de Leitura Por acaso você tem o hábito de ler movimentando a cabeça? Ou quem sabe, acompanhando com o dedo? Talvez vocalizando baixinho... Você não percebe, mas esses movimentos são alguns dos tantos que prejudicam a leitura. Esses movimentos são conhecidos como vícios de linguagem. Movimentar a cabeça: procure perceber se você não está movimentando a cabeça enquanto lê. Este movimento, ao final de pouco tempo, gera muito cansaço além de não causar nenhum efeito positivo. Durante a leitura apenas movimentamos os olhos. Regressar no texto, durante a leitura: pessoas que têm dificuldade de memorizar um assunto, que não compreendem algumas expressões ou palavras tendem a voltar na sua leitura. Este movimento apenas incrementa a falta de memória, pois secciona a linha de raciocínio e raramente explica o desconhecido, o que normalmente é elucidado no decorrer da leitura. Procure sempre manter uma sequência e não fique “indo e vindo” no livro. O assunto pode se tornar um bicho de sete cabeças! Ler palavra por palavra: para escrever usamos muitas palavras que apenas servem como adereços. Procure ler o conjunto e perceber o seu significado. Sub-vocalização: é o ato de repetir mentalmente a palavra. Isto só será corrigido quando conseguirmos ultrapassar a marca de 250 palavras por minuto. Usar apoios: algumas pessoas têm o hábito de acompanhar a leitura com réguas, apontando ou utilizando um objeto que salta “linha a linha”. O movimento dos olhos é muito mais rápido quando é livre do que quando o fazemos guiado por qualquer objeto. Leitura Eficiente Ao ler realizamos as seguintes operações: - Captamos o estímulo, ou seja, por meio da visão, encaminhamos o material a ser lido para nosso cérebro. - Passamos, então, a perceber e a interpretar o dado sensorial (palavras, números, etc.) e a organizá-lo segundo nossa bagagem de conhecimentos anteriores. Para essa etapa, precisamos de motivação, de forma a tornar o processo mais otimizado possível. -Assimilamos o conteúdo lido integrando-o ao nosso “arquivo mental” e aplicando o conhecimento ao nosso cotidiano. A leitura é um processo muito mais amplo do que podemos imaginar. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, mas interpretar o mundo em que vivemos. Na verdade, passamos todo o nosso tempo lendo! O psicanalista francês Lacan disse que o olhar da mãe configura a estrutura psíquica da criança, ou seja, esta se vê a partir de como vê seu reflexo nos olhos da mãe! O bebê, então, segundo esta citação, lê nos olhos da mãe o sentimento com que é recebido e interpreta suas emoções: se o que encontra é rejeição, sua experiência básica será de terror; se encontra alegria, sua experiência será de tranqüilidade, etc. Ler está tão relacionado com o fato de existirmos que nem nos preocupamos em aprimorar este processo. É lendo que vamos construindo nossos valores e estes são os responsáveis pela transformação dos fatos em objetos de nosso sentimento. Leitura é um dos grandes, senão o maior, ingrediente da civilização. Ela é uma atividade ampla e livre, fato comprovado pela frustração de algumas pessoas ao assistirem a um filme, cuja história já foi lida em um livro. Quando lemos, associamos as informações lidas à imensa bagagem de conhecimentos que temos armazenados em nosso cérebro e então somos capazes de criar, imaginar e sonhar. É por meio da leitura que podemos entrar em contato com pessoas distantes ou do passado, observando suas crenças, convicções e descobertas que foram imortalizadas por meio da escrita. Esta possibilita o avanço tecnológico e científico, registrando os conhecimentos, levando-os a qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, desde que saibam decodificar a mensagem, interpretando os símbolos usados como registro da informação. A leitura é o verdadeiro elo integrador do ser humano e a sociedade em que ele vive! O mundo de hoje é marcado pelo enorme fluxo de informações oferecidas a todo instante. É preciso também tornarmo-nos mais receptivos e atentos, para nos mantermos atualizados e competitivos. Para isso, é imprescindível leitura que nos estimule cada vez mais em vista dos resultados que ela oferece. Se você pretende acompanhar a evolução do mundo, manter-se em dia, atualizado e bem informado, precisa preocupar-se com a qualidade da sua leitura.
  • 6. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 6 Observe: você pode gostar de ler sobre esoterismo e uma pessoa próxima não se interessar por este assunto. Por outro lado, será que esta mesma pessoa se interessa por um livro que fale sobre História ou esportes? No caso da leitura, não existe livro interessante, mas leitores interessados. A pessoa que se preocupa com a qualidade de sua leitura e com o resultado que poderá obter, deve pensar no ato de ler como um comportamento que requer alguns cuidados, para ser realmente eficaz. - Atitude: pensamento positivo para aquilo que deseja ler. Manter-se descansado é muito importante também. Não adianta um desgaste físico enorme, pois a retenção da informação será inversamente proporcional. Uma alimentação adequada é muito importante. - Ambiente: o ambiente de leitura deve ser preparado para ela. Nada de ambientes com muitos estímulos que forcem a dispersão. Deve ser um local tranquilo, agradável, ventilado, com uma cadeira confortável para o leitor e mesa para apoiar o livro a uma altura que possibilite postura corporal adequada. Quanto a iluminação, deve vir do lado posterior esquerdo, pois o movimento de virar a página acontecerá antes de ter sido lida a última linha da página direita e, de outra forma, haveria a formação de sombra nesta página, o que atrapalharia a leitura. - Objetos necessários: para evitar que, durante a leitura, levantarmos para pegar algum objeto que julguemos importante, devemos colocar lápis, marca-texto e dicionário sempre à mão. Quanto sublinhar os pontos importantes do texto, é preciso aprender a técnica adequada. Não o fazer na primeira leitura, evitando que os aspectos sublinhados parecem-se mais com um mosaico de informações aleatórias. Os concursos apresentam questões interpretativas que têm por finalidade a identificação de um  leitor autônomo. Portanto, o candidato deve compreender os níveis estruturais da língua por meio da lógica, além de necessitar de um bom léxico internalizado. As frases produzem significados diferentes de acordo com o contexto em que estão inseridas. Torna-se, assim, necessário sempre fazer um confronto entre todas as partes que compõem o texto. Além disso, é fundamental apreender as informações apresentadas por trás do texto e as inferências a que ele remete. Este procedimento justifica-se por um texto ser sempre produto de uma postura ideológica do autor diante de uma temática qualquer. Exercícios Este é o caminho: leitura, exercício, correção, entendimento dos erros. Quanto mais você entender porque errou, mais estará aprendendo. Esaf: Leia atentamente o texto para responder às questões de 1 a 4. Parques em chamas Saudados por ecologistas como arcas de Noé para o futuro, por serem repositórios de espécies animais e vegetais em extinção acelerada noutras áreas do país, alguns dos 25 parques nacionais do Brasil tiveram, na semana passada, a sua paisagem mutilada pelo fogo. A rigorosa estiagem que acompanha o inverno no CentroSul ressecou a vegetação e abriu caminho para que as chamas tragassem 6 dos 33 quilômetros quadrados do Parque Nacional da Tijuca, pegado à cidade do Rio de Janeiro, e convertessem em carvão 10% dos 300 quilômetros quadrados do Parque Nacional do Itatiaia, na divisa de Minas Gerais com o Estado do Rio. Contido pelos bombeiros já no fim de semana, na Tijuca, e abafado por uma providencial chuva no ltatiaia, na quartafeira o fogo pipocou em outro extremo do país. Naquele dia, o incêndio começou no Parque da Serra da Capivara, no sertão do Piauí, calcinado há seis anos pela seca, e avançou pela caatinga, que esconde as pinturas rupestres inscritas na rocha, há pelo menos 31.500 anos, pelo homem brasileiro préhistórico. (Isto é, 221811984) 1. O autor justifica o fato de os ecologistas referiremse aos parques nacionais como “arcas de Noé para o futuro” da seguinte maneira: a) Porque são áreas preservadas da caça e pesca indiscriminadas. b) Porque ocupam espaços administrativamente delimitados pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. c) Porque espécies animais e vegetais que estão se extinguindo em outras regiões têm preservada sua sobrevivência nesses parques. d) Porque nesses parques colecionamse casais de espécies animais e vegetais em extinção noutras áreas. e) Porque há agentes florestais incumbidos de zelar pelos animais e vegetais dos parques. Resposta “C”. 2.Arespeitodosincêndiosreferidospeloautor,depreendese do texto que: a) Embora tivessem ameaçado espécies animais e vegetais raras, apresentaram um lado positivo: aumentaram a produção de carvão. b) Foram provocados pela rigorosa estiagem do inverno, no CentroSul, e pela seca prolongada no sertão nordestino. c) Não foram combatidos com presteza e eficiência pelos bombeiros. d) Só foram debelados por providenciais chuvas que eventualmente vieram a cair sobre os parques. e) Destruíram parte da flora e fauna das reservas, desfigurando sua paisagem. Resposta “E” a) Errado. O texto não fala que a produção de carvão é positiva. b) Errado. Segundo o texto, a estiagem “abriu caminho para que as chamas tragassem...”; de acordo com esta alternativa a estiagem provocou o incêndio. Abrir caminho não é provocar. c) Errado. Se os bombeiros apagaram o fogo, pelo menos foram eficientes. d) Errado. e) Certo.
  • 7. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 7 3. Depreendese que o autor do texto, em relação ao fato descrito, manifesta: a) Descaso b) Hesitação c) Desesperança d) Pesar e) Indiferença Resposta “D”. “paisagem mutilada pelo fogo” 4. Aponte a única conclusão que é estrita e licitamente deduzível do texto: a) As chamas serviram para mostrar a precária situação dos parques brasileiros. b) Devem ser tomadas providências para dotar os parques de meios para se protegerem dos incêndios. c) Devemserdesencadeadascampanhasparaconscientizar a população de como evitar incêndio nos parques. d) Parte da culpa dos incêndios cabe às autoridades responsáveis pelas reservas e parques. e) O incêndio no Parque da Serra da Capivara ameaçou valioso patrimônio histórico e antropológico. Resposta “B”. No comando deveria estar escrito “dedutível” (que se deduz) porque não existe a palavra “deduzível”. a) Errado. Não se pode deduzir estrita e licitamente que se “alguns dos 25 parques” (o texto só fala em três deles) estão em situação difícil, todos estarão. Três não são vinte e cinco. b) Certo. O que seria competência, por exemplo, dos legisladores. Os responsáveis pelos parques não são culpados de não terem condições. c) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades responsáveis pelos parques e reservas. d) Errado. O texto não culpa a população nem as autoridades responsáveis pelos parques e reservas. e) Errado. Se as pinturas rupestres existem há pelo menos 31.500 anos, certamente já resitiram a inúmeros incêndios, o que não justifica dizer que um incêndio constitua ameaça a elas. MPU auxiliar Esaf: Para responder às questões de 5 a 9, leia o texto a seguir. Procurase uma explicação Um mundo de mistérios se esconde por trás dos pequenos anúncios. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas, quais as suas verdadeiras intenções. Fico a imaginar se o desespero de quem vende está na mesma proporção emocional de quem quer comprar. Objetos perdidos, quase sempre de estimação, documentos importantes, cachorrinhos desaparecidos, tudo na base do “gratificase bem”. Mas o que é gratificar bem, por exemplo, a uma pessoa que acha uma carteira com pouco dinheiro? Acho que há um pouco de ironia e de deboche da parte de toda pessoa que põe um anúncio e muito boa vontade da parte de quem acha que ali está a sua oportunidade. Há vários anos que encontro promessas de Iugar de futuro” e acho incompreensível que esse futuro não chegue nunca, e que as vagas continuem sempre disponíveis. Ou as pessoas acabam por descobrir que o seu futuro está fora dali ou são outras firmas que estão se iniciando para oferecer novos futuros a futuros candidatos. Há uma certa ilusão de lado a lado: quem anuncia o futuro dos outros está pensando no seu presente e quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros. Até que ponto é sincero um anúncio que procura moças de “boa aparência”, de 18 a 25 anos, com prática de datilografia e um mínimo de 150 batidas certas por minuto? É tão necessário que sejam todas as batidas certas? E esses que vivem vendendo objetos, um de cada vez, “por motivo de viagem”? Será que o dinheirinho de um aparelho de televisão ou de uma máquina de costura ou de um gravador último tipo lhes pagará a passagem? Talvez a viagem seja consequência: depois de vender os objetos, o melhor será mesmo abandonar a cidade. E os técnicos? É impressionante como tem gente especializada anunciando sua especialidade. Mecânicos e eletricistas montam e desmontam qualquer aparelho em menos de cinco minutos, e no fim sempre nos entregam três ou quatro parafusos que não têm a menor utilidade. Penso na economia monstruosa que as fábricas fariam se, ao montarem seus aparelhos, houvessem contratado os técnicos do “atendese a domicílio”. (Eliachar, Leon. O Homem ao Cubo. Rio deJaneiro: Francisco Alves S.A., 6ª ed., adoptado) 5. Ao falar de “pequenos anúncios”, o autor referese a) Essencialmente aos que tratam de empregos. b) Especificamente aos que oferecem serviços. c) Exclusivamente aos que falam de objetos perdidos. d) Genericamente a vários tipos de anúncios. e) Somente aos anúncios de compra e venda. Resposta “D”. Objetos perdidos, lugar de futuro = emprego, técnicos = serviços (venda). 6. A expressão que não aparece nos anúncios que o autor menciona é: a) “lugar de fututo” b) “gratifica-se bem” c) “procura-se uma explicação” d) “atende-se a domicílio” e) “por motivo de viagem” Resposta “C”. 7. Conforme o texto, os técnicos que anunciaram sua especialidade: a) Trabalham com rapidez, mas não conseguem encaixar todas as peças de um aparelho. b) Trabalham melhor que os das fábricas, resultando disto maior economia para as montadoras. c) Entendem mais da montagem dos aparelhos que os técnicos das fábricas de eletrodomésticos. d) Duvidam da competência dos mecânicos e eletricistas das grandes fábricas. e) Pretendem conseguir uma contratação como mecânicos ou eletricistas em firmas conceituadas. Resposta “A”
  • 8. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 8 8. As “fórmulas” dos anúncios a que se refere o autor dizem respeito: a) À especificação b) À quantidade c) Ao argumento d) Ao conteúdo e) À correção Resposta “C”. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas (=pelo que argumental – “gratifica-se bem”, “lugar de futuro”, “por motivo de viagem”), quais as suas verdadeiras intenções (= o que realmente querem dizer). 9. Assinale a opção que expressa o significado da seguinte frase do texto: “... quem procura o seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros”. a) Quem oferece melhoria de vida aos outros através de anúncios pretende melhorar a própria vida. b) Aquele que pretende encontrar boas oportunidades nos anúncios proporciona lucros ao anunciante. c) O anunciante projeta seus atuais objetivos nas pretensões dos leitores. d) Quem busca o seu futuro no futuro dos outros prejudica irremediavelmente seu presente. e) O anunciante procura melhorar a vida do leitor independentemente de suas intenções. Resposta “B”. Observe que a frase “... quem procura seu futuro no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros” pode ser reduzida a “quem procura” ... faz “o futuro dos outros”, em que o sujeito “quem procura” é o leitor e os “outros” são os anunciantes. A única alternativa que põe na ordem certa de importância do texto “leitor – anunciante” é a letra b. Compare: letra a) anunciante – anunciante; c) anunciante – leitor; d) leitor – leitor; e) anunciante – leitor. MPU – nível técnico – MF: Leia o trecho abaixo para responder às questões de 10 a 14 A rigor, se cometêssemos para com a publicidade o ingênuo extremismo de acreditar plenamente no seu discurso, teríamos à nossa frente a mais desvairada das utopias. A sua eficiência, elevada ao absurdo, consistiria em fazer com que o consumidor, ao consumir um produto, incorporasse à sua percepção sensorial um deleite Sublime, um estado nirvânico, um gozo celetial. A se ressalvar e a se ressaltar, porém, a defasagem entre a promessa publicitária e o real preenchimento proporcionado pelos bens de consumo, conclui-se tristemente que o saldo é bastante negativo: a felicidade prometida é muito fugaz e o retorno ao abismo da lacuna primordial – da consciência da finitude – é ainda maior, uma vez que a busca do sublime esteve exacerbada por estímulos fantasiosos. Cada vez que o paraíso é prometido, represemase (ritualizase) o drama do retorno. Cada vez que esse retorno é frustrado, dramatizase, outra vez, o mito da queda. A promessa de preenchimento dá lugar ao vazio. Existência e angústia retornam à sua condição de paralelismo. Compreendese então o quanto a retórica publicitária era irreal, sublimadora. E uma leitura literalizante desse discurso delirante colocase de imediato lidando com uma elaboração profundamente onírica. Literalmente, a publicidade é uma fábrica de sonhos. (Extraído de A promessa do paraíso já, Luís Martins, Humanidades, Ano IV, 1987/88, nº15, p. 110/111) 10. O tema central do fragmento acima é: a) A publicidade desequilibra a relação de forças existente entre a demanda e a oferta de bens de consumo. b) Dramatizar o mito da queda é o objetivo perseguido pela retórica publicitária. c) Há uma similaridade estrutural entre a elaboração publicitária e a elaboração onírica. d) Os comerciais veiculados pelos meios de comunicação cumprem o papel de informar o consumidor em potencial sobre as reais qualidades dos produtos. e) Ao adquirir bens de consumo, o consumidor sublima suas carências afetivas num estado de deleite sublime. Resposta “C”. Reler as quatro últimas linhas do texto (onírico = de sonho). 11. À leitura literal da retórica publicitária associamse vários termos no texto, exceto: a) Deleite sublime b) Estado nirvânico c) Gozo celestial d) Consciência da finitude e) Estímulos fantasiosos Resposta “D”. É a única alternativa de significado negativo. A publicidade, no texto, só busca ressaltar o lado positivo. 12. Uma leitura errada do texto levaria a afirmar que: a) Interpretar literalmente o discurso publicitário é uma atitude ingênua. b) A publicidade elabora um cenário onírico para os objetos da sociedade industrial. c) O discurso publicitário é formulado com mensagens que se sustentam no princípio do prazer. d) A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem a consciência de sua finitude. e) Está incorporado à publicidade o componente mítico de retorno ao paraíso Resposta “D”. A “consciência de finitude” acontece só depois que a ilusão despertada pela publicidade acaba. A felicidade prometida nas propagandas dá ao homem a ilusão. 13. “Drama do retorno” e “mito da queda”, no texto, referemse a: a) Elaboração da primeira versão da publicidade e sua recusa pelo cliente que a encomendou. b) Retorno dos comerciais aos meios de comunicação devido à queda do faturamento das empresas.
  • 9. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 9 c) Promessas fantasiosas contidas nos anúncios e decepção do consumidor por não vêlas realizadas ao adquirir o produto. d) Estado nirvânico do publicitário no momento de criação da propaganda e posterior decepção ao vêlo rejeitado pelo diretor de marketing. e) Mitos de povos primitivos a respeito das concepções de Paraíso e Inferno. Resposta “C”. Por exclusão, chega-se a esta resposta, porém, como o comando se refere a “Drama do retorno” e “mito da queda”, a alternativa melhor seria: “decepção do consumidor por não ver realizadas as promessas da propaganda”. 14. Assinale a letra que contém o enunciado falso. a) Colocadas em sequência, as expressões “a se ressalvar” e “a se resaltar” são equivalentes quanto ao conteúdo. b) O segmento - da consciência da finitude – explica a expressão lacuna primordial. c) O termo “(ritualiza-se)” especifica o sentido de “representa-se”. d) As expressões “deleite sublime”, “estado nirvânico”, “gozo celestial”, colocadas em sequência, reiteram a mesma ideia. e) Em “sua eficiência”, o possessivo refere-se à eficiência da publicidade. Resposta “A”. Ressalvar = corrigir, prevenir com ressalva, excetuar... Ressaltar = destacar, sobressair, dar relevo... (TJ-SP) Oficial de Justiça Leia a charge para responder às questões de números 15 e 16. 15. Considerando-se o contexto apresentado na charge, é correto afirmar que: a) se mostra a tecnologia estendida a todos os grupos da sociedade, que a utilizam bem, já que os usuários não subestimam seu potencial. b) se define o avanço tecnológico do país levando em consideração, principalmente, a política pública para o acesso a esse tipo de bem. c) se estabelece uma relação paradoxal entre os avanços obtidos na área tecnológica e as condições de vida a que está sujeita expressiva parcela da população. d) se pode entender como positiva a nova relação do homem com as máquinas, já que elas tiram expressiva parcela da população de condições aviltantes de vida. e) se veem a criticidade e o bom senso de grande parte da população menos favorecida para o uso adequado das novas tecnologias no cotidiano. Resposta “C”. Sim, a charge ilustra o paradoxo (a contradição) que há na implementação de programas de inclusão digital em um país com elevado número de pessoas excluídas socialmente (privação, falta de recursos ou, de uma forma mais abrangente, ausência de cidadania, se, por esta, se entender a participação plena na sociedade, aos diferentes níveis em que esta se organiza e se exprime: ambiental, cultural, econômico, político e social). 16. Levando-se em consideração a situação em que as personagens se encontram, é correto afirmar que a fala proferida por uma delas se marca pelo(a) a) entusiasmo. b) displicência. c) mau humor. d) ironia. e) redundância. Resposta “D”. A fala é irônica (instrumento de literatura que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte de gozar com alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor. Ela pode ser utilizada, entre outras formas, com o objetivo de denunciar, de criticar ou de censurar algo. Para tal, o locutor descreve a realidade com termos aparentemente valorizantes, mas com a finalidade de desvalorizar. A ironia convida o leitor ou o ouvinte, a ser ativo durante a leitura, para refletir sobre o tema e escolher uma determinada posição), pois demonstra que o programa de inclusão digital não atinge seus reais objetivos entre aqueles que ainda precisam de inclusão social: às pessoas sem moradia, mais vale o computador como material combustível que conectado à rede. As questões de números 17 a 20 baseiam-se no texto. ONU pede ampliação de programas sociais do Brasil SÃO PAULO – Os programas adotados no governo federal ainda não são suficientes para lidar com problemas de desigualdade, reforma agrária, moradia, educação e trabalho escravo, informou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU). Comitê da entidade pelos direitos econômicos e sociais pede uma revisão do Bolsa-Família, uma maior eficiência do programa e sua “universalização”. Por fim, constata: a cultura da violência e da impunidade reina no País. A ONU sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família para camadas da população que não recebem os benefícios, incluindo os indígenas. E cobra a “revisão” dos mecanismos de acompanhamento do programa para garantir acesso de todas as famílias pobres, aumentando ainda a renda distribuída. Há duas semanas, o comitê sabatinou membros do governo em Genebra, na Suíça. O documento com as sugestões é resultado da avaliação dos peritos do comitê que inclui o exame de dados passados pelo governo e por cinco relatórios alternativos apresentados por organizações não- governamentais (ONGs).
  • 10. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 10 Os peritos reconhecem os avanços no combate à pobreza, mas insistem que a injustiça social prevalece. Um dos pontos considerados como críticos é a diferença de expectativa de vida e de pobreza entre brancos e negros. A sugestão da ONU é que o governo tome medidas “mais focadas”. Na visão do órgão, a exclusão é decorrente da alta proporção de pessoas sem qualquer forma de segurança social, muitos por estarem no setor informal da economia. (www.estadao.com.br/nacional/not_nac377078,0.htm. 26.05.2009. Adaptado) 17. O texto do Estadão a) harmoniza-se com a charge, já que o relatório apresentado pela ONU aponta a existência da injustiça social no país. b) não mantém uma relação temática com a charge, pois enfoca a necessidade de revisão dos programas sociais. c) trata do mesmo assunto apresentado na charge, mostrando a superação dos problemas sociais mais graves e urgentes. d) ajusta-se à ideia expressa na charge de que os avanços tecnológicos trouxeram inúmeros benefícios aos menos favorecidos. e) discute a questão dos direitos econômicos e sociais, o que o distancia do assunto da charge, ou seja, a exclusão social. Resposta “A”. Na verdade, Injustiça Social nada mais é do que o fato de existir na sociedade situações que favoreçam apenas uma porcentagem (geralmente menor) da população enquanto outra parte fica sem acesso aos meios, essenciais ou não, para o homem. Assim como a notícia veiculada no Estadão, a charge trata da injustiça social no país, ao anunciar que a exclusão social atinge 28 mil famílias. 18. De acordo com o texto, em relação aos programas adotados no governo federal para lidar com os problemas sociais, a ONU deixa evidente que eles a) se mostram arrojados. b) devem ser ampliados. c) não precisarão de melhorias. d) extinguiram as desigualdades. e) combatem eficazmente a pobreza. Resposta “B”. O período que torna essa alternativa verdadeira é: “A ONU sugere que o Brasil amplie o Bolsa-Família para camadas da população que não recebem os benefícios, incluindo os indígenas. E cobra a ‘revisão’ dos mecanismos de acompanhamento do programa para garantir acesso de todas as famílias pobres, aumentando ainda a renda distribuída.” 19. No 1.º parágrafo do texto, o termo universalização aparece grafado entre aspas. Isso ocorre porque se pretende enfatizar que o benefício deve a) atingir a todas as pessoas que o solicitem, independentemente de classe social. b) ser proporcionado a um contingente de pessoas que está fora da pobreza. c) estar na mira de pessoas incautas, que dele se beneficiam sem terem direito. d) ser, paulatinamente, oferecido a um número menor de pessoas dentro e fora do país. e) estender-se a todas as famílias pobres e a camadas da população excluídas de recebê-lo. Resposta “E”. O sentido real (denotativo) da palavra universalização é a superação dos limites sociais, econômicos e mercantilistas que existem hoje em todos os serviços que ainda são públicos e estatais. A universalização é a superação das relações patrimonialistas que determinaram e determinam os aparelhos do Estado que ainda possuem propriedade estatal e a absoluta garantia de acesso e atendimento aos serviços públicos. Portanto, não é para atender todos os excluídos ou mesmo todos os explorados, mas sim para atender a todos que queiram ou precisem dos serviços públicos. E, para isso, os serviços devem ser construídos, planejados e administrados, fato que exige uma absoluta revolução no modelo de administração pública no Brasil. Mas as aspas estão dando outro significado para a palavra “universalização”, está restringindo o seu significado somente às famílias pobres e a camadas da população excluídas. 20. Com a frase –Asugestão da ONU é que o governo tome medidas “mais focadas”. – entende-se que as medidas devem ser a) diluídas. b) controladas. c) direcionadas. d) competentes. e) amplas. Resposta “C”. “Focar” significa “pôr em evidência”, “tomar por foco”. Por isso, “medidas focadas” são medidas “direcionadas” (a um foco). TIPOLOGIA TEXTUAL Para escrever um texto, necessitamos de técnicas que implicam no domínio de capacidades linguísticas. Temos dois momentos: o de formular pensamentos (o que se quer dizer) e o de expressá-los por escrito (o escrever propriamente dito). Fazer um texto, seja ele de que tipo for, não significa apenas escrever de forma correta, mas sim, organizar ideias sobre determinado assunto. E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de expressão escrita: Descrição – Narração – Dissertação Descrição - expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma visão; - é um tipo de texto figurativo; - retrato de pessoas, ambientes, objetos; - predomínio de atributos; - uso de verbos de ligação; - frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras de linguagem; - tem como resultado a imagem física ou psicológica.
  • 11. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 11 Narração - expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente); - é um tipo de texto sequencial; - relato de fatos; - presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo; - apresentação de um conflito; - uso de verbos de ação; - geralmente, é mesclada de descrições; - o diálogo direto é frequente. Dissertação - expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa; - é um tipo de texto argumentativo. - defesa de um argumento: a) apresentação de uma tese que será defendida, b) desenvolvimento ou argumentação, c) fechamento; - predomínio da linguagem objetiva; - prevalece a denotação. Descrição É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em imagens. Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa forma, o que será importante ser analisado para um, não será para outro. A vivência de quem descreve também influencia na hora de transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto, pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento. Exemplos: (I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho. Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.” (extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector) (II) Chamavase Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retiravase antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco. (Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. São Paulo, Ática, 1974, págs. 3132.) Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da escola que o escritor frequentava. Devese notar: - que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha grande medo ao pai); - por isso, não existe uma ocorrência que possa ser considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola é cronologicamente anterior a retirarse dela; no nível do relato, porém, a ordem dessas duas ocorrências é indiferente: o que o escritor quer é explicitar uma característica do menino, e não traçar a cronologia de suas ações); - ainda que se fale de ações (como entrava, retiravase), todas elas estão no pretérito imperfeito, que indica concomitância em relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano de 1840, em que o escritor frequentava a escola da rua da Costa) e, portanto, não denota nenhuma transformação de estado; - se invertêssemos a sequência dos enunciados, não correríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica poderíamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes... Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enunciados pode ser invertida, está-se pensando apenas na ordem cronológica, pois, como veremos adiante, a ordem em que os elementos são descritos produz determinados efeitos de sentido. Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos fazer certas modificações no texto, pois este contém anafóricos (palavras que retomam o que foi dito antes, como ele, os, aquele, etc. ou catafóricos (palavras que anunciam o que vai ser dito, como este, etc.), que podem perder sua função e assim não ser compreendidos. Se tomarmos uma descrição como As flores manifestavam todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao invertermos a ordem das frases, precisamos fazer algumas alterações, para que o texto possa ser compreendido: O Sol fazia as flores brilhar. Elas manifestavam todo o seu esplendor. Como, na versão original, o pronome oblíquo as é um anafórico que retoma flores, se alterarmos a ordem das frases ele perderá o sentido. Por isso, precisamos mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá- la com o anafórico elas na segunda. Por todas essas características, dizse que o fragmento do conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto em que se expõem características de seres concretos (pessoas, objetos, situações, etc.) consideradas fora da relação de anterioridade e de posterioridade. Características: - Ao fazer a descrição enumeramos características, comparações e inúmeros elementos sensoriais; - As personagens podem ser caracterizadas física e psicologicamente, ou pelas ações; - A descrição pode ser considerada um dos elementos constitutivos da dissertação e da argumentação; - é impossível separar narração de descrição; - O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza.
  • 12. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 12 - Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo: “(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que parecem conformados expressamente para esposas da multidão (...)” (Raul Pompéia – O Ateneu) - Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados. - Devemse evitar os verbos e, se isso não for possível, que se usem então as formas nominais, o presente e o pretério imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos verbos que indiquem estado ou fenômeno. - Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto. A característica fundamental de um texto descritivo é essa inexistência de progressão temporal. Podese apresentar, numa descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas linguísticas da descrição é o predomínio de verbos no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um marco temporal pretérito instalado no texto. Para transformar uma descrição numa narração, bastaria introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um estado anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, para transformá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso grande medo do pai. Mais tarde, Iibertouse desse medo... Características Linguísticas: O enunciado narrativo, por ter a representação de um acontecimento,fazer-transformador,émarcadopelatemporalidade, na relação situação inicial e situação final, enquanto que o enunciado descritivo, não tendo transformação, é atemporal. Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático- semânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão: - Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar). - Enfâse na adjetivação para melhor caracterizar o que é descrito; Exemplo: “Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgado no alto; tingia os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito despegadas do crânio.” (Eça de Queiroz - O Primo Basílio) - Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações, sinestesias). Exemplo: “Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante que lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os olhinhos de azougue.” (José de Alencar - Senhora) - Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo: “Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no final do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça...” (Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ) Recursos: - Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas. Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol. - Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas, concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu sereno, uma pureza de cristal. - As sensações de movimento e cor embelezam o poder da natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente que deslumbrava e enlouquecia qualquer um. - A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal, muito crente. A descrição pode ser apresentada sob duas formas: Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passagem são apresentadas como realmente são, concretamente. Ex: “Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética, ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e lisos”. Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo: “ A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado, dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei. Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de passagem da variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú de Ossos) Descrição Subjetiva: quando há maior participação da emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar ou expressar seus sentimentos. Ex: “Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações gritavam- lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei...” (“O Ateneu”, Raul Pompéia) “(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de- frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando por lei, de sobregoverno.” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas) Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos descritivos: Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressão temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente, uma vez que eles indicam propriedades ou características que ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para baixo ou viceversa, do detalhe para o todo ou do todo para o detalhe cria efeitos de sentido distintos.
  • 13. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 13 Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de Bocage: Magro, de olhos azuis, carão moreno, bem servido de pés, meão de altura, triste de facha, o mesmo de figura, nariz alto no meio, e não pequeno. Incapaz de assistir num só terreno, mais propenso ao furor do que à ternura; bebendo em níveas mãos por taça escura de zelos infernais letal veneno. Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág. 497. O poeta descrevese das características físicas para as características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer relevo. O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva), ou suas características psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva). Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos, também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado desta técnica, sugerese que o concursando, após escrever seu texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva. Descrição de objetos constituídos de uma só parte: - Introdução: observações de caráter geral referentes à procedência ou localização do objeto descrito. - Desenvolvimento: detalhes (lª parte) formato (comparação com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro etc.) - Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) material, peso, cor/ brilho, textura. - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como um todo. Descrição de objetos constituídos por várias partes: - Introdução: observações de caráter geral referentes à procedência ou localização do objeto descrito. - Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das partes que compõem o objeto, associados à explicação de como as partes se agrupam para formar o todo. - Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo (externamente) formato, dimensões, material, peso, textura, cor e brilho. - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em sua totalidade. Descrição de ambientes: - Introdução: comentário de caráter geral. - Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e aroma (se houver). - Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a objetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou quaisquer outros objetos. - Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no ambiente. Descrição de paisagens: - Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer outra referência de caráter geral. - Desenvolvimento: observação do plano de fundo (explicação do que se vê ao longe). - Desenvolvimento: observação dos elementos mais próximos do observador explicação detalhada dos elementos que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem. - Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca da impressão que a paisagem causa em quem a contempla. Descrição de pessoas (I): - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de caráter geral. - Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas). - Desenvolvimento: características psicológicas (personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura, objetivos). - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter geral. Descrição de pessoas (II): - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de caráter geral. - Desenvolvimento: análise das características físicas, associadas às características psicológicas (1ª parte). - Desenvolvimento: análise das características físicas, associadas às características psicológicas (2ª parte). - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter geral. A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam. Porque toda técnica descritiva implica contemplação e apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever, precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade. Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não- literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. Por ser objetiva, há predominância da denotação. Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, para descrever experiências, processos, etc. Exemplo: Folheto de propaganda de carro
  • 14. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 14 Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do ambiente. Porta-malas- O compartimentode bagagenspossui capacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado. Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a deformação em caso de colisão. Textos descritivos literários: Na descrição literária predomina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de associações conotativas que podem ser exploradas a partir de descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes; situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer tanto em prosa como em verso. Narração A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo apresenta personagens que atuam em um tempo e em um espaço, organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um estado para outro, segundo relações de sequencialidade e causalidade, e não simultâneos como na descrição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm essa vivência. Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de enredo. As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas personagens, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que está sendo contado. As personagens são identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos próprios. Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)  as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações  é chamado de espaço, representado no texto pelos advérbios de lugar. Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer “quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu. A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) e termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história é o narrador,  que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele...). Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada. Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a história. Elementos Estruturais (I): - Enredo: desenrolar dos acontecimentos. - Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou antiheróis, protagonistas ou antagonistas. - Narrador: é quem conta a história. - Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico. - Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo interior, subjetivo. Elementos Estruturais (II): Personagens Quem? Protagonista/Antagonista Acontecimento O quê? Fato Tempo Quando? Época em que ocorreu o fato Espaço Onde? Lugar onde ocorreu o fato Modo Como? De que forma ocorreu o fato Causa Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato Resultado - previsível ou imprevisível. Final - Fechado ou Aberto. Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, como simples exemplos de uma narração. Há uma relação de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e verossimilhança à história narrada. Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as personagens ou o fato a ser narrado. Exemplo: Porquinho da índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinhodaíndía. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... O meu porquinhodaíndia foi a minha primeira namorada. Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110.
  • 15. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 15 Observeque,notextoacima,háumconjuntodetransformações de situação: ganhar um porquinhodaíndia é passar da situação de não ter o animalzinho para a de têlo; leválo para a sala ou para outros lugares é passar da situação de ele estar debaixo do fogão para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria era estar debaixo do fogão” implica a volta à situação anterior; “não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender que o menino passava de uma situação de não ser terno com o animalzinho para uma situação de ser; no último verso temse a passagem da situação de não ter namorada para a de ter. Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de estado pela ação de alguma personagem, é uma transformação de situação. Mesmo que essa personagem não apareça no texto, ela está logicamente implícita. Assim, por exemplo, se o menino ganhou um porquinhodaíndia, é porque alguém lhe deu o animalzinho. Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele em que alguém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o porquinhoda índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o porquinho perdia, a cada vez que o menino o levava para outro lugar, o espaço confortável de debaixo do fogão). Assim, temos dois tipos de narrativas: de aquisição e de privação. Existem três tipos de foco narrativo: - Narrador-personagem: é aquele que conta a história na qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa. - Narrador-observador: é aquele que conta a história como alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a história é contada em 3ª pessoa. - Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece misturada com pensamentos dos personagens (discurso indireto livre). Estrutura: - Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá. - Complicação: é a parte do texto em que se inicia propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, conduzindo ao clímax. - Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável. - Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens. Tipos de Personagens: Os personagens têm muita importância na construção de um texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou secundários, conforme o papel que desempenham no enredo, podem ser apresentados direta ou indiretamente. A apresentação direta acontece quando o personagem aparece de forma clara no texto, retratando suas características físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo. - Em 1ª pessoa: Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a história e é o protagonista. Exemplo: “Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e estacava.” (Machado de Assis. Dom Casmurro) Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar, eu estava lá e vi. Exemplo: “Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista que fez cancha nos banhados do Ibirocaí. Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; ainda que chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou cruzada!... (...) Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele. Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito tempo. (...) Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matança dos leitões e no tiramento dos assados com couro. (J. Simões Lopes Neto – Contrabandista) - Em 3ª pessoa: Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa. Exemplo: “Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fantasiaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de ridículo.” (Ilka Laurito. Sal do Lírico) Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo: Festa Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos com menos de dez anos. Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas resolutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas desertas. O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois pãezinhos. __ Duzentos e vinte.
  • 16. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 16 O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido. __Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz. __ Como? __ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gostoso. O homem olha para os meninos. __ O preço é o mesmo – informa o rapaz. __ Está certo. Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida. O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira. Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o primeiro bocado do pão. O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando criteriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvidos com o sanduíche e a bebida. Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados naquela mesa. (Wander Piroli) Tipos de Discurso: Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para o personagem, sem a sua interferência. Exemplo: Caso de Desquite __ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca). Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado.Agora com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha. __ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não me pise, fico uma jararaca. __ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão. __ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom? Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no primeiro mês. __Você desempregado, quem é que fazia roça? __ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui jogado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom? __ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende? __ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre só. Sempre tem um cristão que enterra o pobre. __ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher... __ Eu arranjo. __ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor. Vai me deixar sem nada? __ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a potranca, deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e roupa lavada. __ Para onde foi a lavadeira? __ Quem? __ A mulata. (...) (Dalton Trevisan – A guerra Conjugal) Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz, sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo: Frio O menino tinha só dez anos. Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde. Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia, afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que percebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?) Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitrines, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para nada. __ Olho vivo – como dizia Paraná. Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele ia pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas esquinas. O seu coraçãozinho se apertava. Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher. Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo jardim, pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele seguiu. Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente faltava mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes passavam. (João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço) Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo: A Morte da Porta-Estandarte Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso segurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambores? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que não está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do País... Abraçá-la no alto de uma colina... (Aníbal Machado) Sequência Narrativa: Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma coordenase a outra, uma implica a outra, uma subordinase a outra. A narrativa típica tem quatro mudanças de situação: - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo); - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma competência para fazer algo); - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou devia fazer (é a mudança principal da narrativa); - uma em que se constata que uma transformação se deu e em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens (geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os maus).
  • 17. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 17 Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetuase porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazêla. Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina a escritura, realizase o ato de compra; para isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer ou dever comprar (respectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo). Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu ou outro instrumento para derrubála. Para ter um carro, é preciso antes conseguir o dinheiro. Narrativa e Narração Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é um componente narrativo que pode existir em textos que não são narrações.Anarrativa é a transformação de situações. Por exemplo, quando se diz “Depois da abolição, incentivouse a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto, apresenta um componente narrativo, pois contém uma mudança de situação: do não incentivo ao incentivo da imigração européia. Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, o que é narração? A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características: - é um conjunto de transformações de situação (o texto de Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche essa condição); - é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos concretos (o texto “Porquinho-daíndia” preenche também esse requisito); - as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e posterioridade (no texto “Porquinhodaíndia” o fato de ganhar o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez é anterior ao de o menino leválo para a sala, que por seu turno é anterior ao de o porquinhoda-índia voltar ao fogão”). Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador começa contando sua morte para em seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações de anterioridade e de posterioridade. Resumindo: na narração, as três características explicadas acima (transformação de situações, figuratividade e relações de anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) devem estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas dessas características não é uma narração. Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto narrativo: - Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que aconteceu, quando e onde. - Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos personagens. - Desenvolvimento: detalhes do fato. - Conclusão: consequências do fato. Caracterização Formal: Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função da individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim é de grande importância saber se o relato é feito em primeira pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a participação do narrador; segundo, há uma inferência do último através da onipresença e onisciência. Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O narrador que usa essa técnica (característica comum no cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade, podendo observar as ações ziguezagueando no tempo e no espaço. Exemplo - Personagens “Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr. Amâncio não viu a mulher chegar. Não quer que se carpa o quintal, moço? Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do passado, os olhos).” (Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mercado Aberto, p. 5O) Exemplo - Espaço Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não havia, em todo o caso, como negarlhe a insipidez.” (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto Alegre: Movimento, 1981, p. 51) Exemplo - Tempo “Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembrase: a mulher lhe pediu que a chamasse cedo.” (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4) Tipologia da Narrativa Ficcional: - Romance - Conto - Crônica - Fábula - Lenda - Parábola - Anedota - Poema Épico Tipologia da Narrativa NãoFiccional: - Memorialismo - Notícias - Relatos - História da Civilização Apresentação da Narrativa: - visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em quadrinhos) e desenhos. - auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos. - audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.
  • 18. Didatismo e Conhecimento LÍNGUA PORTUGUESA 18 Dissertação A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema. Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, clareza, coerência, objetividade na exposição, um planejamento de trabalho e uma habilidade de expressão. É em função da capacidade crítica que se questionam pontos da realidade social, histórica e psicológica do mundo e dos semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu significado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalidade de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou artístico. Exemplo: Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser primeiroministro. O primeiro é saber, com prudência, como servirse de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a corrupção da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade e às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos os cargos, conservamse no poder esses ministros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), garantemse contra futuras prestações de contas e retiramse da vida pública carregados com os despojos da nação. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234235. Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem chega a ser primeiroministro, aconselha o príncipe discreto a escolhêlo entre os que clamam contra a corrupção na corte e justifica esse conselho. Observese que: - o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem particular e do que faz para chegar a ser primeiroministro, mas do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder); - existe mudança de situação no texto (por exemplo, a mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte no momento em que se tornam primeirosministros); - a progressão temporal dos enunciados não tem importância, pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação para primeiroministro). Características: - ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático; - como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; - ao contrário do texto narrativo, nele as relações de anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior importância o que importa são suas relações lógicas: analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, implicação, etc. - a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem características próprias a cada tipo de texto. São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento / Conclusão. Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento. Tipos: - Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” - Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população brasileira.” - Proposição: o autor explicita seus objetivos. - Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse momento! - Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a solução no combate à insegurança.” - Características: caracterização de espaços ou aspectos. - Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). (...)” - Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato. - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder, escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.” - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que compõem o texto. - Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo futebol não é uma prova de alienação?” - Suspense: alguma informação que faça aumentar a curiosidade do leitor. - Comparação: social e geográfica. - Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira doença do século...” - Narração: narrar um fato. Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais importante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas: - Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com este tipo de abordagem.