2. A Guerra do Açu
• Rio Grande (final do séc. XVI): conquista contra
os franceses e paz com os potiguaras.
• Rio Grande permanece quase inexplorado até a
invasão holandesa > apenas três engenhos.
• Expansão da criação de gado após a expulsão dos
holandeses.
• Recolonização do território devastado.
• Região do Açu: grandeza dos campos e frescura >
atrai a criação de gado (principalmente ao final
da década de 1670 e início de 1680).
• Povoado por diversas nações tapuias, com
predominância dos janduís.
• Alguns levantes isolados de grupos indígenas.
• “Levante geral dos tapuias” ou “Guerra do Açu”
3. • Abusos de João Fernandes Vieira, capitão-mor da
Paraíba > prendera os dois filhos do principal
Canindé, tido por “rei dos janduís”, e os
remetera com mais dois tapuias ao rei.
• 1687: revoltas e levantes
• 1661: Francisco Barreto alertava que muitos
índios das aldeias haviam fugido e que a maior
parte deles estava por trás da Paraíba e de
Pernambuco.
• 1661: com a crescente hostilidade dos janduís,
o capitão-mor da Paraíba, Matias de Albuquerque
Maranhão (1661-1663), avisou à regente d. Luísa
de Gusmão que “os índios bárbaros janduís
residentes no distrito e sertão da capitania
estavam rebelados e declarados inimigos”.
Haviam “causado tanto receio que os brancos
tratam de fazer suas casas-fortes em que se
4. • 1662: a regente ordenou que, em virtude da gravidade da
situação, “conviria fazer-lhe [aos janduís] guerra com
que se extingam de uma vez” antes que acreditem no seu
valor, “por terem muita quantidade de cavalos em que se
exercitam com a doutrina que lhes deixaram os
holandeses”.
• De acordo com a carta régia, Matias de Albuquerque
teria de fazer a guerra com pouca despesa conseguindo a
obediência de outras nações dos bárbaros contra os
janduís. Mas, nada se fez.
• Os conflitos com os tapuias se espalharam por todo o
sertão de fora.
• Ceará, Piauí (paiacus)
• 1671: os paiacus , “tapuias de corso”, tentavam
destruir as aldeias avassaladas, quase punham a perigo
a fortaleza e faziam muitos “insultos” pelas estradas,
“matando os correios que iam para Pernambuco”.
• No tempo do capitão-mor João Tavares (1666-1670), os
paiacus aprisionaram “os filhos da nação dos
jagoribaras, nossos amigos e compadres que vivem
5. • Junta: Jorge Correia da Silva (o capitão-mor
seguinte), o vigário da companhia e outros >
decidem destruir “aquela nação para sossego
daquela capitania”.
• 1672: com aval do governador de Pernambuco,
Fernando de Sousa Coutinho, o capitão-mor
mandou destruí-los, “matando mais de 200 e
prisionando a muitos, com [o] que ficaram
nossas aldeias sossegadas”.
• Tentativas de acordos pontuais
• 1681: os oficiais da câmara de Natal
solicitaram que o capitão-mor enviasse um
intérprete ao sertão para tentar estabelecer a
“paz e união” com os tapuias.
• Os conflitos persistiram na região do Açu.
• Dano aos moradores, “matando-lhes e comendo-
lhes o gado, frechando e matando alguns
6. • 1687: hostilidades desencadeadas por um pequeno
desentendimento entre os tapuias e os moradores
que resultou na morte do filho de um principal.
• 15 de fevereiro de 1687: os tapuias levantam-
se, matando 46 vaqueiros.
• Tropas revidam.
• 23 de fevereiro: os edis da vila de Natal pedem
ao governador de Pernambuco, João da Cunha
Souto Maior, “socorro pelo risco em que nos
achamos, diante da rebelião dos índios tapuios
que, no sertão de Açu, já têm morto perto de
cem pessoas, escarmentando os moradores,
destruindo os gados, de modo que já não são
eles senhores daquelas paragens”.
• Pediam igualmente ajuda ao capitão-mor da
Paraíba e informavam que o capitão Manuel de
Abreu Soares já tinha ido ao Açu para causar
7. • Março: consta que os tapuias já haviam matado
“mais de 60 pessoas entre brancos e negros e ia
continuando o mesmo estrago”.
• Governador-geral pede socorro ao governador de
Pernambuco.
• No final de 1687: novas hostilidades > tapajá
• Críticas ao capitão-mor e busca por outro
• A rebelião dos janduís ganha maior envergadura no
final de 1687.
• Ribeiras do Açu, Moçoró e Apodi
• “matando a toda coisa viva e depois queimando e
abrasando tudo, não deixando pau nem pedra sobre
pedra de que ainda hoje aparecem ruínas”.
• Milhares de cabeças de gado perdidas.
• Prenunciava-se uma provável aliança entre outras
nações
• Em março de 1688, os danos eram contabilizados:
8. Motivos para a conflagração
• Expulsão dos holandeses (1654) > tarariús aliados,
na condição de derrotados, retiram-se para o
sertão, fugindo de Pernambuco, por terra, através
de Itaparica, Paraíba e Rio Grande, para se
refugiar no Ceará (mais de 4 mil).
• Sentiram-se traídos com o abandono holandês e
temiam enormemente “cair nas mãos dos portugueses
para sofrer uma perpétua escravidão”.
• Expulsam os holandeses que restavam no Ceará >
seriam os únicos senhores do Ceará.
• Refúgio: serra do Ibiapaba.
• Tapuias representavam o perigo do espalhamento da
“heresia calvinista” entre os tabajaras que lá
habitavam.
9. • Pressão sufocante do avanço da economia
pastoril, que demandava mais terras e mão-de-
obra > arrocho sobre as populações da
fronteira.
• Primeiro surto de febre amarela
• 1686: Peste na Bahia e demais províncias do
Norte: problema de abastecimento de mão-de-obra
nativa > moradores são pressionados a fazer
razias e expedições de conquista nos sertões.
• Salvador, mais de 25 mil doentes e 900 mortos.
Em Pernambuco a peste teria matado mais de 3
mil pessoas somente no primeiro semestre de
1687.
10. A campanha de Antônio de
Albuquerque Câmara, Domingos
Jorge Velho e Manuel Abreu
Soares, 1687-1688
• Os tapuias fizeram-se senhores de todo o sertão,
assaltando os colonos na ribeira do Ceará-Mirim, a
cinco léguas da capital.
• Casas-fortes foram construídas, nas quais os
moradores se refugiaram: Tamandatuba, Cunhaú,
Goianinha, Mipibu, Guaraíras, Potengi, Utinga e
aldeia de São Miguel.
• Primeira expedição foi um enorme fracasso: 300
homens lutaram em janeiro de 1688 > 30 soldados
feridos.
• Fuga geral dos moradores
• Reação do capitão-mor do Rio Grande: edital
11. • Domingos Jorge Velho, paulista que preparava uma
expedição contra o quilombo dos Palmares, é
requisitado por Matias da Cunha. A expedição é
suspensa e Domingos Jorge Velho marcha com sua
tropa a partir de Pernambuco, com a promessa de
tornar cativos todos os “bárbaros” aprisionados em
guerra justa.
• Início de 1688: diversas expedições de pontos
diversos articuladas para entrar no sertão
simultaneamente.
• Tropas partem de Pernambuco, outras do Sul
(paulistas que marchavam para Palmares),
reforçadas por outro paulista que estava no sertão
do rio São Francisco.
• Mimetizar estratégia do inimigo > guerra irregular
• Tropas formadas por degradados, criminosos,
pardos, pretos e índios da aldeia da Preguiça (em
troca de perdão).
12. • Os grandes deveriam ser degolados. Para o
cativeiro deveriam ser tomados apenas os pequenos
e as mulheres, evitando assim o risco de fuga.
• Entre o fim de 1687 e início de 1688 as tropas
encontram-se e seguem trilha durante 25 dias de
viagem.
• Com dificuldades financeiras, o reforço esperado
de Pernambuco não vem.
• O governador-geral faz novo regimento permitindo o
uso dos dízimo, consignações e empréstimos no caso
de guerra.
• Em junho, os paulistas e mais gente de Pernambuco
e da Paraíba seguem em marcha para engrossar o
efetivo no sertão.
• Tropas de Pernambuco não conseguem bons
resultados, ao contrário das forças dos paulistas.
• Divisões entre as tropas de Pernambuco, incluindo
motins. As tropas da Paraíba voltaram, “pelo que
13. • Outubro: situação acrítica, os índios
aproveitavam a desorganização das tropas de
Pernambuco e realizavam novos assaltos.
• Novas patentes aos paulistas, como premiação
pelos seus sucessos.
• Domingos Jorge Velho e Antônio de Albuquerque
Câmara se achavam sem gente, armas, munições e
mantimentos.
• Envio de munição e de novas tropas a partir das
ribeiras do São Francisco.
• A estratégia dada pelo governador na Bahia
parecia não surtir muito efeito: dificuldade em
coordenar de maneira eficiente tropas tão
distantes no sertão.
14. • Novas propostas: José Lopes Ulhoa, capitão de
infantaria e provedor-mor da Fazenda Real, pleiteava o
posto de capitão-mor do Rio Grande. Envia para Lisboa
um papel apontando soluções: os janduís, não tendo
aldeias andam volantes. É difícil persegui-los, por
viajarem mais rápido, sem necessidade de mantimentos.
Mesmo sendo capturados alguns, os restantes induziriam
outras nações quietas a se levantarem. A guerra seria,
portanto, muito prolongada e custosa. A estratégia mais
eficiente seria preparar uma guerra como ameaça, usando
os vaqueiros mais chegados aos janduís para dar o
recado, conseguindo assim um acordo de paz, garantido
por meio do sequestro de cinco ou seis filhos dos
principais.
• A tomada de reféns nem sempre era eficaz, por vezes
exasperava ainda mais os indígenas.
• Estratégia não foi aceita, mas indica a tensão entre o
extermínio e a incorporação.
15. • (salto)
• Julho de 1689: o levantamento do gentio havia provocado
até então a morte de cerca de 200 homens e a perda de
30 mil cabeças de gado e de mais de 1000 cavalgaduras,
além da ruína dos mantimentos e lavouras.
• Os edis pediam que a Fazenda se comprometesse a pagar
os gados e fazendas confiscados para sustento das
tropas regulares.
• Opção pelos paulistas, aproveitando a presença de
Matias Cardoso > não dariam mais despesas para a
Fazenda, pois eram acostumados a penetrar sertões e a
se sustentarem com o que encontravam no caminho.
• A opinião dos moradores do Rio Grande era que não
convinha fazer a paz com os índios e que a normalização
das atividades no sertão só seria obtida com a sua
16. • A guerra, até então defensiva, deveria
transformar-se em guerra ofensiva.
• Como para este gênero de guerra nem a infantaria
paga nem a da ordenança se haviam mostrado
eficazes, o melhor seria entrega-la a cargos dos
paulistas > Matias Cardoso de Almeida.
• Março de 1690: Antônio de Albuquerque Câmara e
Manuel de Abreu Soares são reformados.
• São criadas 7 companhias, visando maior
mobilidade.
• Reforços de até 500 índios da região, além dos que
podia levar das capitanias do Norte.
• Os paulistas deveriam guarnecer o posto do Açu,
que havia sido abandonado por Manuel Abreu Soares,
porque a região era muito importante e passagem
17. • Um arraial foi estabelecido no Jaguaribe, de
onde pretendiam acabar de extinguir “as
relíquias dos janduís, paiacus e icós”.
• Mas aí os paulistas padeciam de muitas
dificuldades, pois os socorros prometidos não
vieram e uma epidemia de sarampo se abateu
sobre os soldados.
• As tropas acabam se retirando do Ceará para o
Rio Grande.
• Domingos Jorge Velho, apesar de privado do
soldo, continuou a peleja com os índios pelos
menos até o final de 1689.
• Obtivera uma importante vitória, capturando o
18. • Consta que Canindé tinha sujeita toda a nação
dos janduís, dividida em 22 aldeias, sitas no
sertão que cobre as capitanias de Pernambuco,
Itamaracá, Paraíba e Rio Grande, nas quais
havia “treze para quatorze mil almas, e cinco
mil homens de arco, destros nas armas de fogo”.
• Se volta atrás quanto à legalidade do
cativeiro. Posição que será depois revista pelo
Conselho Ultramarino, em 1695.
• Argumento dissimulado de Domingos Jorge Velho
em favor da escravidão indígena. (p. 156-157)
19. A rendição dos janduís, 1692
• Canindé posto em liberdade por Domingos Jorge
Velho em troca de lhe mostrar minas de prata e
de esmeraldas.
• Tratativas para um acordo de paz, a pedido de
Canindé, no início de 1692.
• Encontro na Bahia: dois chefes tapuias (José de
Abreu Vidal, tio de Canindé, e Miguel Pereira
Guajiru Pequeno, maioral de três aldeias também
sujeitas ao mesmo Canindé), acompanhados de
mais quinze índios e índias. Falam ao
governador-geral, pedindo paz perpétua em nome
do rei Canindé.