Este documento discute as relações entre tecnologia, arte e imaginário. Aborda como diferentes períodos históricos, como o Renascimento e o Romantismo, enxergaram estas relações. Também apresenta exemplos atuais de como artistas usam tecnologias como Google Earth e Second Life para criar obras que desafiam noções tradicionais de arte e exploram novas formas de percepção e criatividade na era digital. Finalmente, defende que a cultura telemática amplia a capacidade humana de pensamento criativo através da interação
2. Arlindo Machado
TECNOLOGIA, ARTE E IMAGINÁRIO
• Renascimento: Arte e Ciência não estão
separadas. Leonardo Da Vinci designava como
fantasia essata: Algo que é ao mesmo tempo um
processo de imaginação e um modelo de
conhecimento.
•Romantismo: Baseado em conceitos
apaixonados sobre a genialidade individual e o
papel do imaginário na arte. Neste período a Arte
diz respeito á vida interior e á subjetividade,
enquanto a técnica é mecânica e objetiva. A
máquina desumaniza, por tanto a Arte se separa
dela, proclamando a autonomia do espírito.
• Contemporâneo: Novo contrato entre a Arte e
Tecnologia. A intervenção autônoma e
espontânea do artista romântico revela-se
fundamental. A produtividade tecnológica convive
com a gratuidade anárquica da arte: uma adesão
tensa, em que cada parte não se deixa mais
dissolver na outra, nem se tornam ambas
homogêneas ou idênticas.
3. Arlindo Machado
TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
• Na produção tecnológica: A estratégia da competitividade industrial baseia-se
numa reinvenção incessante e infinita da tecnologia e num alargamento de suas
potencialidades. Essa estratégia tenta produzir a informatização integral da
sociedade, de tornar o grande publico receptor das inovações técnicas. Trata-se,
sobretudo, de fundar um imaginário social baseado na presença da mídia na
paisagem urbana. Mas a industria não pode ela própria preencher de “conteúdos”
essas tecnologias, pô-las a funcionar plenamente e enriquecer com elas o universo
da cultura.
• Na produção artística: Quem poderia se incumbir dessa tarefa senão os artistas,
operadores por excelência das linguagens, exploradores de fronteiras, reinventores
de formas e, sobretudo, aqueles capazes de desencadear possibilidades novas
insuspeitadas, até mesmo além dos limites e das finalidades do próprio meio?.
4. Arlindo Machado
TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
•Gilbert Simondon (1969) veio a defender a ideia de que não devemos
encarar as máquinas como um simples artefato mecânico, pertencente ao
domínio das coisas brutas: ela é antes de tudo, a materialização de um
processo mental, um pensamento que tomou corpo e ganhou existência
autônoma.
• Não se trata mais de cumprir as finalidades inscritas no aparelho ou obter
dele objetos significantes para os quais está programado. A questão principal
é se o artista é capaz de situar as questões da liberdade e da criatividade no
contexto de uma sociedade cada vez mais informatizada e imersa nas redes
de telecomunicação.
5. Arlindo Machado
TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
Essa atividade artística é
fundamentalmente
contraditória: de um lado,
trata-se de revolucionar o
próprio conceito de Arte,
absorvendo construtiva e
positivamente os novos
processos formativos abertos
pelas máquinas; de outro, de
tornar também sensíveis e
explícitas as finalidades
embutidas nos projetos
tecnológicos, sejam elas de
natureza bélica, policial ou The Moon Arts Group tem com objetivo estabelecer ligações entre a Terra e a
ideológica. Lua a través de uma visão artística, procurando evidenciar a presença da
cultura humana no espaço.
O Diretor Lowry Burgess, é pioneiro na arte espacial com mais de 30 anos de
experiência colaborativa com a NASA. Ele tem criado trabalhos artísticos
visionários num contexto cósmico.
Em 2013 , Burguess enviará um artefato artístico como parte da missão
robótica da Carnegie Mellon, que será a primeira expedição comercial na Lua.
http://www.michaelpisano.com/www.deepspeedmedia.com/DS_projects.html
6. TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
Molly Dilworth
Seu trabalho consiste em fazer
murais no topo de prédios
espalhados pela cidade de New
York , que só podem ser vistos a
través das lentes satelitais de
Google Earth.
Ela se apoia na tecnologia para
pôr a pintura numa escala de
circulação planetária.
7. TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
Molly Dilworth.
has three rooftop murals scattered throughout
New York City
Os murais da Molly Dilworth são feitos com pinturas de cores fortes.
8. TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
Esta peça foi um dos 24 trabalhos de arte em grande escala organizados pela
350.org, com o objetivo de chamar a atenção sobre o câmbio climático antes de
dezembro de 2012, seguindo as conclusões da reunião da United Nation realizada
em Cancun, México.
10. TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
Google Earth atualiza os mapas duas vezes por mês, porém cada atualização cobre só
uma mínima parte do globo terrestre. No primeiro projeto a artista entrou em contato
com a Google para procurar a imagem de satélite do lugar em que se encontrava o
mural. Após ter feito a pintura no verão de 2009, Dillworth teve que esperar um ano
para que as imagens aparecessem no programa. Ela descobriu seu trabalho da 561
Grand St. em novembro de 2010.
11. TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
...O mural não tinha a aparência que a artistas esperava.
12. TECNOLOGÍA, ARTE E IMAGINARIO
Dilworth tem uma inclinação a trabalhar com
materiais tradicionais dentro do campo
pictórico , de modo que seu trabalho segue
uma serie de regras que se derivam de
condições preexistentes.
Os projetos artísticos que desenvolve saíram
do espaço da oficina para uma escala maior
pensada em função das possibilidades de
Google Earth.
Ela procura marcar uma presença psíquica no
espaço digital. “Meu trabalho é consciente
das novas condições da percepção humana. As
pinturas para satélite habitam na membrana
que existe entre o digital e o psíquico”.
13. Roy Ascott
CULTURA TELEMÁTICA
“Os fenômenos das tecnologias
de computação e
telecomunicações estão
exercendo enorme influência
sobre a sociedade e sobre o
comportamento individual;
parecem questionar cada vez
mais a verdadeira natureza do
que é ser humano, ser
criativo, pensar e perceber
e, sem dúvida, nossa relação
com o outro e com o planeta
como um todo”
Jenny Odell usa a tecnologia do Google Maps para fazer sua arte. Os padrões de terra e a ampla
gama de cores capturada pelo satélite permitem uma construção de blocos de imagens que
refletem sobre a visão dos espaços naturais e urbanos.
14. Roy Ascott
CULTURA TELEMÁTICA
“Telemática” é um termo usado para
designar redes de comunicações
mediadas por computador que
envolvem conexões por telefone, cabo e
satélite entre indivíduos e instituições
dispersos geograficamente e que são
interfaceados com sistemas de
processamento de dados, dispositivos
de sensoriamento remoto e espaçosos
bancos de armazenamento de dados
[Nora & Minc, 1989]
15. Roy Ascott
CULTURA TELEMÁTICA
A eficácia ubíqua do meio telemático não está em dúvida, mas a
questão em termos humanos, do ponto de vista da cultura e da
criatividade, é: Qual é o conteúdo?
Para tentar dar resposta a essa questão é preciso pensar os
câmbios nas condições de produzir arte na complexidade
tecnológica:
Emergência de uma síntese nas artes em ambientes
interativos. [imagem–som–texto].
O significado é produto da interação entre o observador e
o sistema, cujo conteúdo está no fluxo de mudança e
transformação infinitos.
Mudanças de paradigmas em nossa visão do mundo, uma
redescrição da realidade e uma recontextualização de nós
mesmos.
Capacidade de ver a difusão ubíqua das redes de
comunicações por computador espalhadas pela face da
Terra [envelope psíquico para o planeta].
16. Roy Ascott
CULTURA TELEMÁTICA
Como, então, poderia haver um conteúdo -conjunto
de significados- contido na arte telemática, quando
todo aspecto de rede no espaço de dados encontra-se
em estado de indeterminação e de vir a ser?:
Pode não ser exagero dizer que o ‘conteúdo’ da arte
telemática dependerá em grande escala da natureza da
interface; isto é, o tipo de configurações e montagens de
imagens, sons e textos, o tipo de reestruturação e
articulação do ambiente que a interatividade emblemática
poderá produzir será determinado pela liberdade e pela
fluidez disponíveis na interface.
A própria tecnologia de telecomunicações por
computador estende o olhar, transcende o corpo,
amplia a mente para configurações imprevisíveis de
pensamento e criatividade.
17. Roy Ascott
CULTURA TELEMÁTICA
“Ao permitir a convergência entre
ideias místicas e a tecnologia, os
artistas e cientistas tem produzido
uma nova maneira de estar no
mundo"
18. Roy Ascott
A PLISSURE DU TEXTE (1983)
San Francisco, T.Klinkowstein & G. McKenna na MammelleToronto, estudantes de Ontario Collage of Art
na Music Gallery.
Obra apresentada em París no Musée de l'Art moderne da Ville de. Foi o primeiro
projeto telemático de grade influência, um trabalho em línea de "autoria
distribuída" em que participaram artistas do mundo inteiro para construir una
narrativa no linear baseada num conto de fadas.
http://alien.mur.at/rax/ARTEX/PLISSURE/plissure.html
19. Roy Ascott
“GESAMTDATENWERK” ASPECTS OF GAIA: DIGITAL
PATHWAYS ACROSS THE WHOLE EARTH (1989)
A instalação telemática está dividida em duas partes: O primeiro nível inclui uma serie de
barracas (tendas) com computadores que permitiam a manipulação e interação gráfica
entre os assistentes e os participantes ao redor do mundo. Cada tenda tinha um sistema
de captura de imagens de cima chamado de "Bird's-Eye”, registrando diferentes níveis de
interação. http://www.youtube.com/watch?v=Jav5vVGEu9c&feature=player_embedded
20. Roy Ascott
“GESAMTDATENWERK” ASPECTS OF GAIA: DIGITAL
PATHWAYS ACROSS THE WHOLE EARTH (1989)
O segundo nível é um túnel que representa as entranhas da terra. Os participantes,
deitados sobre suas costas num pequeno vagão de trem, se movimentavam pelo túnel
que incluia telas de LEDs com textos sobre pensamentos, comentários e ideias a cerca da
Terra que enviam participantes ao redor do mundo. Essas mensagens mudam
permanentemente .
21. Roy Ascott
A obra explora as diversas facetas da Terra -Gaia-
vista de uma multiplicidade de perspectivas
espirituais, científicas, culturais e mitológicas. Os
participantes,conectados telematicamente no
mundo inteiro,colaboraram na criação e
transformação dos textos,imagens e formas de vida
artificial relacionadas com essa ideia. Ascott
concebeu o Gaia, como um comportamento
interativo em constante estado de
transformação,onde a distinção entre artista,
espectador , tecnologia e obra de arte se confundem
e se unem no desenvolvimento de uma criação única
em harmonia mutua como consciência global.
22. Roy Ascott
LPTD2 (2010)
LPDT2, obra apresentada em Seul, é a encarnação no Second Life da obra “A
Plissure du Texte" de 1983, referida ao conceito "autoria distribuída", que no caso
de LPDT2 se converte no tema principal de pesquisa.
http://lpdt2.wordpress.com/about/
23. Roy Ascott
LPDT2
Enquanto em 1983 o texto foi gerado por uma serie de grupos de narradores
humanos dispersos pelo mundo, no LPDT2 os narradores são individuais . A estética
da obra mostra atributos novos e inesperados: uma arquitetura emergente textual /
geográfica, assim como um numero de avatares autônomos que habitam dentro
dessa paisagem estranha, atuando como nós de comunicação entre os narradores.
24. Roy Ascott
LPT2
Um gerador de textos emite mensagens poéticos, que podem se converter em
sons dos quais a audiência extrai significados. A esse gerador de textos se soma
outra camada que faz referência às fontes do texto e outra que chega através de
SMS que os espectadores (narradores) enviam para LPDT2. Assim se forma uma
conglomeração massiva em constante evolução literária.
25. Roy Ascott
CULTURA TELEMÁTICA
A Cultura Telemática significa que não pensamos, vemos ou sentimos
isoladamente. A criatividade é compartilhada e a autoria distribuída.
A Cultura Telemática amplia a capacidade do individuo para o pensamento e
a ação criativa, para uma experiência mais vívida e intensa, para uma
percepção mais informada, possibilitando-lhe participar da produção da
visão global por meio da interelação em rede com outras mentes, outras
sensibilidades, outros sistemas de percepção e de pensamento planeta afora
–o pensamento circula no meio dos dados por uma multiplicidade de
diferentes camadas culturais, geográficas, sociais e pessoais-.
A questão do conteúdo na arte planetária dessa cultura telemática
emergente é, portanto, a questão dos valores, que se expressa mais como
hipóteses transitórias do que como algo finalizado, testado dentro do
imaterial, do virtual, das hiper-realidades do espaço de dados.
26. Roy Ascott
MUNDO-MENTE
A Net reforça o pensamento
associativo, hipermediado, pensamento
hiperlincado - o pensamento do artista. É a
inteligência das redes neurais. Isto é o que
eu chamo de Hipercórtex. A cultura sempre
é, primeiramente, uma questão de
consciência. As questões de consciência e a
construção da realidade estão no centro de
qualquer discussão de status, papel e
potencial da arte na cibercultura emergente.
27. Roy Ascott
MUNDO-MENTE
A arte mediada por computador oferece
uma porta de dados através da qual
podemos passar para interagir ativamente
na construção da realidade; muitas
realidades, com muitos significados e
várias trajetórias de experiência.
Estamos entrando no mundo-mente
[world-mind] e nossos corpos estão
desenvolvendo a faculdade da cibercepção
[ciberception] – isto é, a amplificação
tecnológica e o enriquecimento de nossos
poderes de cognição e percepção.
28. Roy Ascott
MUNDO-MENTE
Universo Telemático Pós-biologico:
Da mesma maneira que a revolução na
eletrônica – que levou das
telecomunicações ao computador – está
acontecendo agora no cérebro humano e
expandindo nossa concepção de mente, da
mesma forma, na arte, estamos andando
em direção a uma cultura da bioeletrônica,
da ciberespiritualidade, da arquitetura
inteligente e da complexidade de sistemas
auto-organizáveis e autoconscientes.
29. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASCOTT, Roy. Existe amor no abraço telemático? (1989) In: DOMINGUES, Diana (Org.) Arte,
Ciência e Tecnologia: Passado, presente e desafios. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 305-
318.
ASCOTT, Roy. Cultivando o hipercórtex . In: DOMINGUES, Diana (Org.). A arte no século
XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Editora UNESP, 1997, p. 336-344.
MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginário (1993). In: DOMINGUES, Diana (Org.) Arte,
Ciência e Tecnologia: Passado, presente e desafios. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 179-
199.
The Moon Arts Group
http://moonarts.org/projects.html
Molly Dilworth
http://mollydilworth.com/
Jenny Odell
http://jennyodell.com/
A Plissure du texte
http://alien.mur.at/rax/ARTEX/PLISSURE/plissure.html
Aspects of Gaia
http://www.youtube.com/watch?v=Jav5vVGEu9c&feature=player_embedded
LPDT2
http://lpdt2.wordpress.com/about/