Atividade elaborada para os 1 ,2 e 3 anos do ensino médio. Indicado para o primeiro dia de aula a fim de detectar a habilidade de conhecimento dos atores.
Colégio Estadual Roselandia. Barra Mansa.RJ
1. CASAMENTO É OPÇÃO, NÃO PRISÃO PERPÉTUA. RECASAR NÃO É COMEÇAR DE NOVO,
MAS CONTINUAR NA MESMA ESTRADA -POR RUTH DE AQUINO
O que todo mundo já sabia, por si só ou pelos amigos e parentes, acaba de ser comprovado pelo
IBGE. Os divórcios e os recasamentos bateram recorde no Brasil no ano passado. Não é só porque
estamos mais inquietos e egoístas, menos tolerantes com o outro, mais ansiosos para buscar a
felicidade, mais abertos a desejos e fantasias, menos dispostos a engolir os sapos de uma relação
que não deu certo ou deu certo durante um tempo.
Que seja infinito enquanto dure, dizia o poeta. E, para 243.224 casais brasileiros no ano passado, o
divórcio abriu caminho para uma solteirice temporária ou uma nova união. O até que a morte os
separe deixou de ser uma bênção. Amedronta. Alguns noivos pedem que se pule essa parte no
sermão. Casamento é opção, não prisão perpétua. Recasar não significa começar de novo, mas
continuar na mesma estrada.
A mudança na lei arejou os costumes. Até 2009, o divórcio só era possível após um ano de
separação judicial ou dois anos de separação consumada, quando homem e mulher não estão mais
juntos, mas são considerados ainda casados pela Justiça. Se não há filhos menores ou disputa,
agora é possível descasar em minutos, é instantâneo como uma injeção, às vezes dói, às vezes
alivia a dor.
Se o amor foi um dia verdadeiro, o divórcio entristece por um tempo, produz manchas roxas na
alma. O consenso é uma forma civilizada de continuar amigos, quando um quer mais se separar
que o outro. Não sei se estão todos mais felizes. Alguns sim, outros não. Há viciados em
recasamentos. Filhos sofrem, sim, com essas mudanças de parceiros. Sofrem mais se os pais
brigam e continuam infelizes e resignados até se ver a sós de novo e se divorciar aos 60 anos.
Percebo na nova geração uma vontade romântica de provar aos pais modernos que o casamento
pode durar tanto quanto o dos avós, para sempre. Mas há também uma turma apressada que se
junta sem se conhecer e acaba separando em um mês ou seis meses. São uniões relâmpagos que
ensinam no tranco. O casamento, por amor ou fantasia, sempre serviu de atalho para a maturidade.
Hoje, muitos jovens não têm mais ideia das concessões que uma união exige. Não aprendem
porque não veem mais isso em casa. O núcleo familiar se diluiu, o convívio deixou de ser regular ou
forçado. As relações são mais libertárias, mais pressionadas pelo trabalho de pai e mãe fora de
casa. Não acho hoje mais fácil ou mais difícil manter um amor ou educar os filhos direito. Sempre
foi complicado. Mas o sacrifício em nome das aparências, tão típico das famílias classe média de
Nelson Rodrigues, parece não fazer mais sentido.
Casamento é opção, não prisão perpétua. Recasar não é começar de novo, mas continuar na
mesma estrada
Nunca vi qualquer sentido em casamentos oficiais, documentos assinados, compromissos públicos
firmados ou juras no altar. Não creio na regulamentação dos sentimentos. Nunca sonhei em casar
de branco ou de charrete. Não me considero menos romântica por causa disso. Adoro rever Notting
Hill, com Julia Roberts e Hugh Grant, e me emociono com declarações de amor.
Não casei no papel, nunca dei festa, mas tive dois filhos, de dois homens que eram meus amores e
com quem eu dividia casa, cumplicidade, projetos e esperanças. Acho rica e emocionante a
experiência de morar junto quando se gera um filho. Prefiro relações estáveis a ser freelancer. É
um privilégio estar apaixonada. Namoro há 20 anos o mesmo homem, cada um em sua casa.
Nunca pensamos em morar juntos. Achamos impossível conciliar o encantamento à convivência
obrigatória. Temos medo das cobranças, desrespeitos e ressentimentos que envenenam tantos
casais. Os namorados não estão imunes ao desgaste do tempo, mas se protegem melhor. É raro
encontrar casais felizes há muito tempo juntos mesmo entre os que recasam. Claro que eles
existem. É preciso ter sorte, criatividade, paciência, muito amor e tesão.
O psicanalista britânico Adam Phillips, autor de Monogamia, disse ao jornal Folha de S.Paulo que
"amamos e odiamos um casamento feliz", porque ele nos confronta com nossos desejos e nossas
frustrações. Para Phillips, uma das raízes clássicas de conflito é o que os casais pensam da
infidelidade eventual. "Todo mundo tem ciúme sexual, ninguém suporta dividir seu parceiro de sexo,
isso é impossível", diz ele. "Mas o perigo é a monogamia acabar com o desejo e virar uma prisão."
Eu, pessoalmente, não acredito na fidelidade eterna. A não ser que casemos aos 65 anos.
2. A SOLIDÃO DE SEUS PAIS – POR RUTH DE AQUINO
Testamento vital define os limites para tratar uma doença sem cura, uma demência irreversível. A
ideia é não ficar refém de tubos, internações sem fim, dores agudas
Engole… Engole! É só água. Tua boca tá cheia d’água. Engole. Então cospe. Aqui, cospe. Cospe!
Ouvi de dentro de meu apartamento. Logo acima do play. Só poderia ser uma cuidadora de idoso ou
uma babá de criança. Fui à varanda. Vi uma senhora numa cadeira de rodas, bem vestida e
elegante, com um chapéu para proteger do sol. E a cuidadora uniformizada. Não havia agressão
física. A cuidadora apenas dava ordens impacientes.
Pensei no que pode ter sido a vida daquela mulher. Cresceu, estudou, amou, trabalhou, teve filhos,
viajou, discutiu, chorou, riu. Como todos nós, uns mais, outros menos. E agora estava ali, à mercê
de alguém sem preparo e sem sensibilidade para perceber que ela não fazia de propósito.
Simplesmente desaprendera ou não conseguia mais deglutir. Por falta de coordenação central e
motora.
Pensei se eu gostaria de estar viva nas condições dessa senhora no playground. Não gostaria. Por
autoestima, por amor próprio e para não dar trabalho aos outros. Não parece vida.
Uma saída para abreviar uma existência sem prazer, compreensão e autonomia é o testamento vital.
Esse documento já é previsto em vários países, ainda não foi legislado no Brasil. Precisa ser
assinado com testemunhas, enquanto estivermos ativos e conscientes. O testamento vital define os
limites para tratar uma doença sem cura, uma demência irreversível. A ideia é não ficar refém de
tubos, internações sem fim, dores agudas. Ou até da fria solidão. “Haverá outro modo de salvar-se?
Senão o de criar as próprias realidades?”, escreveu Clarice Lispector.
Hoje, grande parte de minha geração tem pais muito idosos. Mais ou menos lúcidos. Mais ou menos
dependentes. Com frequência, nas famílias, apenas um filho se responsabiliza de verdade pelo pai
ou pela mãe, os outros são figurantes. Essa função nos obriga a tomar atitudes para as quais nunca
nos preparamos. Não há curso nem manual. Somos testados em nossa generosidade e compaixão.
A primeira-ministra britânica Theresa May criou em janeiro o Ministério da Solidão para enfrentar “a
epidemia oculta da sociedade moderna”: idosos que não têm ninguém ou, pior, que são ignorados
por seus filhos. Não recebem visitas, não ganham presentes nem beijinhos. Irritam os filhos por dar
trabalho, por ficar doentes, por não escutar direito, por esquecer, por desaprender de conversar ou
até de deglutir. Os velhos percebem quando os filhos não desejam mais sua companhia. Uns se
envergonham de pedir atenção. Outros protestam, carentes. E muitos desejam, nesse momento,
morrer. Não conseguem engolir a solidão.
A psicóloga Ana Fraiman é dura com o egoísmo de filhos e netos convictos de que bastam algumas
poucas visitas, rápidas e ocasionais, para ajudar no bem-estar dos mais velhos. Muitas vezes, “os
abandonos e as distâncias não ocupam mais que algumas quadras ou quilômetros que podem ser
vencidos em poucas horas.” Ana percebe que nasceu uma geração de pais órfãos de filhos vivos.
“Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos
nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que lhes antecipam herança.
Mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão,
talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo, mas da crença de que seus
pais se bastam”.
Uma providência para quem deseja morrer com dignidade é viver com dignidade. Uma das formas
de viver com dignidade é amar quem se dedicou a nós. Demonstrar em pequenos gestos. Você já
comprou um ovo de Páscoa para seu pai ou sua mãe neste domingo?
Ruth de Aquino é jornalista
Fonte: O Globo
3. DA VELHICE, SÓ ESCAPA QUEM JÁ MORREU - RUTH DE AQUINO
"Como a mulher e o homem confrontam os 60 anos? O filme da diretora Julie Gavras, exibido na
mostra internacional de São Paulo, trata de envelhecimento. De como esconder ou assumir a idade.
Aos 60 você se sente maduro, curioso e sábio ou velho, amargo e ultrapassado? O título do filme no
Brasil é assombrosamente ruim e apelativo: Late bloomers – O amor não tem fim. “Late bloomer” é
uma expressão inglesa que denomina quem amadureceu tardiamente. Em francês, a tradução do
título é clara e objetiva: Trois fois vingt ans (Três vezes 20 anos). Uma conta básica de multiplicação
mostra que você já viveu bastante. Um dia teve 20 anos. Também comemorou ou receou os 40. E
agora, aos 60, passa para o time dos velhos. Ou não?
Isabella Rossellini (Mary) e William Hurt (Adam) fazem o casal protagonista. Devido a um súbito
lapso de memória, a mulher, professora universitária, percebe que envelheceu e toma medidas
concretas em casa. Aumenta o tamanho dos números no aparelho de telefone, coloca barras na
banheira para o casal não escorregar. O homem, arquiteto famoso, se recusa a se imaginar velho,
passa a conviver só com jovens e a se vestir como eles. Ela faz hidroginástica, mas se sente fora
d’água, organiza reuniões com idosas e mergulha em trabalhos voluntários. Ele vai para o bar, bebe
energéticos e vira a noite. Cada um se apega a sua visão de como envelhecer melhor, sem
concessões. Ambos acabam tendo casos extraconjugais. Há nos dois um desespero parecido. Mary
exagera na consciência da proximidade da morte. E Adam exagera na negação. Depois de décadas
de amor sólido, com os três filhos fora de casa e já com netos, o casal se vê prestes a engrossar as
estatísticas dos divorciados após os 60 anos, ao descobrir que se tornaram estranhos e por isso
ficam melhor sozinhos e livres. O filme é uma comédia romântica para a idade avançada, um gênero
quase.inexistente.
Julie Gavras não encontrou nenhuma atriz francesa que assumisse com humor os dilemas de
uma sexagenária. “Precisava de alguém com a idade certa, mas que não tivesse feito cirurgia
plástica”, diz Julie. “Isabella foi perfeita porque entende que, quanto mais velha fica, mais liberdade
tem.” Na França, diz a cineasta, “a idade é uma questão delicada para a mulher”. No Brasil, que
cultua a juventude feminina como moeda de troca, é mais ainda.
Isabella, um dos rostos mais lindos do cinema, disse ter adorado fazer um filme sobre
envelhecimento: “São tão poucos e tão dramáticos. E minha experiência tem sido pouco dramática,
aliás bem cômica às vezes. Mulheres envelhecendo são vistas como uma tragédia e foi preciso uma
cineasta. mulher para ver diferente”.
Homens e mulheres reagem de maneira desigual à passagem dos anos? É arriscado
generalizar. Depende de cada um. Compreendo que mulheres de 60 sintam mais necessidade de
parecer jovens e desejáveis – mas alguns homens idosos se submetem a riscos para continuar viris.
A obsessão da juventude eterna criou um grupo de deformadas que se sujeitam a uma cirurgia
plástica por ano e perdem suas expressões. Mas também fez surgir outro tipo de sexagenárias,
genuinamente mais belas, mais em forma, mais ativas e saudáveis enfim.
“As mulheres nessa idade querem aproveitar o mundo, viajar, passear, dançar, ver filmes e
peças, fazer cursos. Os homens querem ficar em casa, curtir a família, os netos”, afirma a
antropóloga Mirian Goldenberg, que acaba de publicar um livro sobre a travessia dos 60. “Elas se
cuidam mais, eles bebem mais. Elas vão a médicos, fazem ginástica, eles engordam, gostam do
chopinho com amigos ou sozinhos. Elas envelhecem melhor, apesar do mito de que o homem
envelhece melhor. Muitas me dizem: ‘Pela primeira vez na vida posso ser eu mesma’.”
Da velhice ninguém escapa, a não ser que a morte o resgate antes. Cada um lida com ela de forma
pessoal e intransferível. O escritor Philip Roth, aos 78 anos, diz que “a velhice não é uma batalha; é
um massacre”. Mas produz compulsivamente. Woody Allen, de 75 anos, dirige um filme por ano,
mas acha que não há romantismo na velhice: “ Você não ganha sabedoria, você se deteriora”. Para
Clint Eastwood, de 81 anos, que ficou bem mais inteligente e charmoso com a idade, envelhecer foi
uma libertação: “Quando era jovem, era mais estressado. Me sinto muito mais livre hoje. Os 60 e 70
podem ser os melhores anos, desde que você mude ou evolua”. Prefiro acreditar em Eastwood. Por
mais que a sociedade estabeleça como idoso quem tem acima de 60, a tendência é empurrar o
calendário para a frente. Hoje, para os sessentões, velho é quem tem mais de 80. Os octogenários
produtivos acham que velho é quem passou dos 90. No fim, velho mesmo é quem já morreu e não
sabe."
Impri
4. O PRECONCEITO NO ARMÁRIO, ARTIGO DE RUTH DE AQUINO
Artigo
O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e ouvidas. Até que sai de forma irracional
Ele está ali no meio das roupas que vestimos a cada dia. Invisível, sem cheiro. É como se fosse uma
caspa que só os outros enxergam. O preconceito fica guardado nas gavetas das coisas ditas e
ouvidas, em casa, na escola, no trabalho. Escondemos, por vergonha. Ou, o que é pior, nos
recusamos a reconhecer que ele existe. Até o momento em que o preconceito sai do armário de
forma irracional.
Foi o que aconteceu na USP com um PM, o sargento André Ferreira. O sargento parecia uma
pessoa normal, dialogando com universitários que ocupavam um espaço da universidade. Pedia que
se retirassem dali. De repente, viu ao fundo um rapaz negro, com cabelo rasta, de tranças longas. O
sargento se transformou num ogro. “E você aí, é estudante? Cadê a carteirinha?”, perguntou. O
rapaz respondeu: “Sou. Dou a minha palavra”. Mas não mostrou documento.
O sargento se descontrolou: apontou a arma, puxou-o pelos cabelos e pela roupa, empurrou,
agrediu e o enxotou. No fim, Nicolas Menezes Barreto tirou a carteira de estudante da USP do bolso.
O vídeo (assista no blog Bombou na Web) é de uma brutalidade que atinge qualquer um que tenha
noção de direitos humanos. A Polícia Militar afastou o sargento por despreparo e descontrole
emocional.
Mas por que o rapaz negro não mostrou logo o documento que o policial branco exigiu? Insolente,
não conhece o seu lugar. É o que muita gente boa diz por aí. Entendo a reação do estudante à
atitude ofensiva do PM. Foi uma cena de preconceito racial explícito. O sargento não teria agido
assim com um branco. Nicolas sabia disso. Deve ter sido a enésima vez em que enfrentou suspeita
pela cor da pele.
Sou contra cotas sexuais ou raciais. O mérito determina uma promoção. Mas o último Censo do
IBGE me surpreendeu. A educação deveria ter reduzido mais a desigualdade entre os sexos. A
mulher tem hoje no Brasil dois anos de escolaridade a mais que o homem, mas ganha em média
30% menos que ele. E, quanto mais instruída é a mulher, maior a diferença entre seu salário e o do
homem com a mesma escolaridade. Dos brasileiros que ganham acima de 20 salários mínimos, os
homens são mais de 80%. Só um punhado de mulheres chega à direção e a cargos executivos.
Existe ou não uma discriminação sutil no mundo que manda?
Os gays sofrem mais. O ator Marcelo Serrado não deseja que sua filha de 7 anos veja um beijo gay
na novela das 21 horas. Ele faz o caricato Crô, um dos personagens mais populares de Fina
estampa. Serrado acha que homossexuais só devem se beijar na televisão depois das 23 horas.
Assassinatos, traições, prostituição, porradas do marido na mulher, isso tudo passa no horário
nobre. “Detesto a homofobia, mas as barreiras devem ser quebradas aos poucos”, disse Serrado.
“Tenho vários amigos gays, um foi jantar na minha casa na sexta-feira passada.”
Homossexuais influentes lastimaram a declaração de Serrado. “Ele tem o direito de educar sua filha
como quiser”, diz Alexandre Vidal Porto, diplomata brasileiro, em Tóquio, com 46 anos e
relacionamento estável há nove. “O que acho péssimo é o ator, mesmo não querendo que a filha
presencie um beijo gay, declarar que não é homofóbico. Parece aquela senhora que diz não ser
racista, mas preferiria que a filha não se casasse com um negro. Ou seja, Marcelo Serrado é um
homofóbico no armário. Precisa sair dele.” Vidal Porto é casado em Nova York e seu marido,
americano, tem passaporte diplomático e seguro de saúde concedidos pelo Itamaraty: “Como
sabemos nos defender – ele é advogado por Yale, e eu por Harvard –, é difícil nos discriminar”.
O beijo é uma manifestação de afeto. Se os telejornais mostram casais gays reais se beijando em
casamentos coletivos, por que na ficção a cena seria imprópria a crianças e adolescentes?
Em 1978, o deputado Harvey Milk foi morto por defender os homossexuais. Dez anos antes, em
1968, o Nobel da Paz Martin Luther King foi morto por defender os negros. Há quase um século, em
1913, a inglesa Emily Wilding Davison morreu ao defender o voto das mulheres. O mundo mudou,
felizmente. Mas não o bastante.
Ruth de Aquino é colunista de ÉPOCA
.
5. A OPINIÃO PÚBLICA E OS ELEFANTES - ARTIGO DE RUTH DE AQUINO
Foi histórico. Pela primeira vez o monarca pediu desculpas publicamente. “Sinto muito, errei e não
voltarei a fazer”, disse o rei Juan Carlos, da Espanha. Ele fraturou o quadril ao caçar elefantes em
safári em Botsuana, na África. A aventura foi paga por um empresário saudita.
Os espanhóis, endividados e desempregados, não perdoaram a extravagância. Gastam com a
monarquia o equivalente a R$ 20 milhões por ano. A opinião pública chiou.
No Brasil, será histórico o dia em que ouvirmos desculpas de um senador, um deputado, um
empresário, um governador, um presidente, um juiz. A opinião pública brasileira chia cada vez mais
forte, como uma manada de elefantes africanos. Encosta na parede instituições que cantavam e
andavam para denúncias. O Brasil está cansado das farsas do Cachoeirão, do Mensalão, do
Senadão.
A opinião pública quer uma CPI gigante que desmascare os privilégios na classe política. A força
cidadã pode ser percebida nas declarações recentes de poderosos. Eles têm reclamado menos da
mídia e mais da opinião pública. O clamor popular e apartidário por ética assusta. Gorou a tentativa
de cercear a mídia. Tapar a boca do povo nas redes sociais é bem mais complicado que tentar
controlar a imprensa. E Dilma defende como um mantra a liberdade de expressão.
Tem gente que anda na contramão. O juiz Cezar Peluso deu uma aula magna de como não se deve
sair da história. Desembarcou da presidência do STF disparando contra todos. Criticou a
corregedora Eliana Calmon por insistir em investigar desvios de juízes: “Que legado ela
deixou?”. Disse que Dilma “descumpre e ignora” a Constituição por não dar aumento para o
Judiciário. Chamou Joaquim Barbosa de “inseguro”, difícil e vulnerável aos afagos da mídia. E
alertou: “É preocupante. Há uma tendência dentro da corte em se alinhar com a opinião pública”.
O clamor popular e apartidário por ética assusta os poderosos. Gorou a tentativa de cercear a mídia
A mesma opinião pública pressiona por um julgamento sério do mensalão. E acredita na promessa
do novo presidente do Supremo, Ayres Britto, de julgar logo a denúncia de que o governo Lula
tentou comprar o Parlamento em 2005.
Consciente da onda de moralidade, o Congresso parece disposto a abrir mão dos 14º e 15º salários
para deputados e senadores. Mas o objetivo do sacrifício é menos nobre: derrubar a reforma que
enxugaria em até R$ 185 milhões a estrutura da Casa.
Como todo mundo sabe – mas é bom lembrar –, deputados e senadores ganham R$ 26.700 brutos
por mês e verbas extras de até R$ 170 mil mensais. Cada um. Cada senador dispõe de 77
funcionários, a maioria nomeada sem concurso. O nepotismo é driblado por um expediente solidário.
Um contrata os parentes do outro e fica tudo em “famiglia”. A folha de pagamentos do Senado é de
R$ 2,4 bilhões por ano.
Como justificar? O que o país ganha em troca?
A opinião pública investe contra as regalias dos congressistas com a persistência de caçadores
implacáveis. Nem a CPI de Cachoeira, Demóstenes e companhia acalma esse povo. Quase todos
os dias, são espalhados manifestos virtuais com oito sugestões para mudar a Constituição e fazer
de um congressista um homem público, e não um potencial lobista. Uma das sugestões mais bem-
vindas é que o Congresso deixe de votar seu próprio aumento salarial.
Os magistrados não ficam atrás. Em São Paulo, eles decidiram receber R$ 29 por dia em auxílio-
alimentação. O pagamento será retroativo a 2006. São quase 2.500 juízes. Cada um ganhará R$ 22
mil. A soma total é de R$ 55 milhões. Nós vamos pagar o sopão dos magistrados. Quem vai nos
convencer de que os juízes precisam de grana extra para comer?
A opinião pública brasileira se preocupa mais com o Sírio que com a Síria. É natural. No Q.G. do
Sírio-Libanês, em São Paulo, Lula e Sarney reúnem políticos aliados no afã de impedir que a
cachoeira se transforme num tsunami e inunde o Planalto. Dilma quer muito acreditar em Hillary, que
elogiou o combate à corrupção no Brasil. Mas a sétima economia do mundo continua em 73º lugar
no ranking da ONG Transparência Internacional.
Ninguém sabe em qual delta todas essas CPIs vão desembocar. A temporada de caça aos elefantes
começou, mas, até agora, só uma onça suçuarana foi flagrada no estacionamento do Superior
Tribunal de Justiça, em Brasília.
6. REFLEXÕES PARA ENRIQUECER O CONHECIMENTO
1) Qual o tema principal do texto?
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2) Outros temas foram abordados no texto. Cite 2.
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3) Considerando o tema principal do texto cite 3 causas para esse problema.
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4) Esse tema afeta as pessoas diretamente numa sociedade?Como?
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5) Enumere 3 soluções para o problema destacado no tema do texto.
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6) No texto proposto quem são os “vilões”(pessoas ruins) e quem são os “mocinhos”(pessoas
boas) do tema debatido no texto.
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7) Use sua criatividade e desenhe algo que representa o tema do seu texto.