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E STA D O D E M I N A S              ●    S Á B A D O ,      2 3     D E    J A N E I R O      D E     2 0 1 0



  12                                                                                                         VEÍCULOS

            MATÉRIA DE CAPA

Opala 21 de Toninho da Matta tinha uma excelente relação peso/potência e foi totalmente
modificado para se tornar o símbolo da era dourada do automobilismo da capital mineira


  Anatomia
                                                                                                                                                                                                                                   FOTOS: ARQUIVO EM




    da feraDANIEL CAMARGOS                 CARROCERIA
                                           “Depois liguei para o Wilsinho e para
   Instigados a comentar suas lem-         o Emerson (os irmãos Fittipaldi), na
branças das corridas no Mineirão,          verdade mais para o Wilsinho. Voltei
nas décadas de 1960 e 1970, no Blog        para São Paulo e fiquei 10 dias lá. Me-
do Boris (www.vrum.com.br/blogdo-          xemos no carro todo. Tiramos as por-
boris), os internautas deixaram di-        tas de chapa, os vidros e os forros e co-
versos comentários (leia alguns ao         locamos outras de plástico. Ficou só a
lado), que quase sempre se referem         casca. O capô e a tampa traseira pas-
ao Opala 21, o carro guiado por Toni-      saram a ser de fibra de vidro.”
nho da Matta. O piloto estima que
na melhor fase, o peso do carro era        SUSPENSÃO
900kg e a potência de quase 400cv.          “Arrumei pneus Firestone Indie de
“Ali na Catalão (Avenida Carlos Luz)       12” na traseira e 10” na frente. Man-                     Além dos 500 quilômetros de BH, Toninho também venceu outras disputas no circuito do Mineirão e até fora da cidade com o Opala
que era terra de ninguém chegava a         dei fazer as rodas. Tinha uma cami-
7.000rpm em quarta marcha, perto           nhonete da Chevrolet com tração
dos 200km/h”, lembra Toninho, que          positiva, não era a mesma coisa des-
detalha a preparação do carro.             sas autoblocantes. Nós colocamos o
                                           eixo dessa caminhonete na traseira.                            Estive lá e era realmente a
MOTOR                                      As rodas ficavam um palmo e meio                               maior loucura. A galera do
“Era um Opala seis cilindros de três       para fora da carroceria, por causa                                                                                                                                      Eu participa das
marchas. Liguei para o Chico Landi e       disso colocamos quatro amortece-                                 volante fazia a curva do
levei o carro para São Paulo. Passei       dores na traseira.”                                            cotovelo e não podia errar,                                                                               corridas. Tinha
uma semana lá com ele fazendo o
                                                                                                         senão era poste ou meio-fio.                                                                                de 10 para 11
motor. Virou um carro de rua com           FIM                                                                                                                                                                    anos e me recordo
motorzão. Eu vi que era uma droga de       “Esse carro não existe mais. Fizeram                            Lembro-me também dos
guiar, mas o Chico era da velha guar-      uma rifa com ele e foi mudando de                            loucos Jarjour (Martius Jarjou                                                                              do Opala 21 do
da e achava que só o motor ganhava         dono até acabar. Já fui procurado pa-                                                                                                                                 Toninho, do Karman
corrida. Depois (já em Belo Horizonte)     ra fazer uma réplica, pode ser uma                             Carneiro) capotando uma
coloquei mais três carburadores du-        boa ideia. Foi um carro que fez histó-                        Alfeta e o Da Matta sempre à                                                                            Ghia e do Gordini. A
plos e trocamos o câmbio para um de        ria. Todos os boys da cidade anda-                          frente. O Kid Cabeleira em um                                                                             coisa era tão simples
quatro marchas.”                           vam de Opala.”                                                                                                                                                          que não se tinha
                                                                                                       monoposto com retrovisor de
                                              FERNANDO ARMINIO/MUSEU VIRTUAL DA FMA/DIVULGAÇÃO                um metro de altura.                                                                                 qualquer proteção
                                                                                                                                                                                                                    para o público.
                                                                                                                   ■ RONALDO

                                                                                                         Assisti a todas as corridas                                                                                    ■ RENATO LÚCIO
                                                                                                         com meu marido, então                                                                      FERNANDO ARMINIO/MUSEU VIRTUAL DA FMA/DIVULGAÇÃO

                                                                                                        noivo à época, e realmente
                                                                                                        eram o máximo! Pena que
                                                                                                       alguns dos poçotos da época
                                                                                                        não estejam mais conosco,
                                                                                                        mas quem daquela época
                                                                                                        não se lembra do Opala 21
                                                                                                               da Motorauto.
                                                                                                                      ■ LILI
Carros de rua modificados dividiam o grid e as curvas com exóticos protótipos




                                                                                                                                                           Emerson
                                                                                                                                                        Fittipaldi e
                                                                                                                                                     Boris Feldman
                                                                                                                                                          no Corcel
                                                                                                                                                        número 74




                                                                                                                                                                                           FERNANDO ARMINIO/MUSEU VIRTUAL DA FMA/DIVULGAÇÃO

                                                                                                                                                      OUTROS CARROS

                                                                                                                                                      Foram cerca de cinco provas no circuito do Mineirão. Antes, em 1949,
                                                                                                                                                      houve corridas de carreteras em volta da Lagoa da Pampulha e, em 1967,
                                                                                                                                                      uma corrida no Bairro Cidade Nova, recém-loteado. No circuito do
                                                                                                                                                      Mineirão, além de Toninho com o Opala, outros carros e pilotos
                                                                                                                                                      dividiam a atenção da torcida. Kid Cabeleira dirigiu dois protótipos e um
                                                                                                                                                      Simca GTX Esplanada número 82 (acima). Os protótipos eram feitos em
                                                                                                                                                      BH, como lembra Kid: “Fazíamos a gaiola de arame macio, passávamos
                                                                                                                                                      os moldes de madeira e depois soldávamos em um chassi encurtado de
                                                                                                                                                      Volkswagen”. Outros que se destacaram foram o Puma GT de Marcelo
                                                                                                                                                      Campos, o Corcel de Boris Feldman, o Fusca de Clóvis Banana, o Opala de
                                                                                                                                                      Ronaldo Augusto Ferreira e a Alfa de Martius Jarjour Carneiro.

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Opala 21 de Toninho da Matta

  • 1. E STA D O D E M I N A S ● S Á B A D O , 2 3 D E J A N E I R O D E 2 0 1 0 12 VEÍCULOS MATÉRIA DE CAPA Opala 21 de Toninho da Matta tinha uma excelente relação peso/potência e foi totalmente modificado para se tornar o símbolo da era dourada do automobilismo da capital mineira Anatomia FOTOS: ARQUIVO EM da feraDANIEL CAMARGOS CARROCERIA “Depois liguei para o Wilsinho e para Instigados a comentar suas lem- o Emerson (os irmãos Fittipaldi), na branças das corridas no Mineirão, verdade mais para o Wilsinho. Voltei nas décadas de 1960 e 1970, no Blog para São Paulo e fiquei 10 dias lá. Me- do Boris (www.vrum.com.br/blogdo- xemos no carro todo. Tiramos as por- boris), os internautas deixaram di- tas de chapa, os vidros e os forros e co- versos comentários (leia alguns ao locamos outras de plástico. Ficou só a lado), que quase sempre se referem casca. O capô e a tampa traseira pas- ao Opala 21, o carro guiado por Toni- saram a ser de fibra de vidro.” nho da Matta. O piloto estima que na melhor fase, o peso do carro era SUSPENSÃO 900kg e a potência de quase 400cv. “Arrumei pneus Firestone Indie de “Ali na Catalão (Avenida Carlos Luz) 12” na traseira e 10” na frente. Man- Além dos 500 quilômetros de BH, Toninho também venceu outras disputas no circuito do Mineirão e até fora da cidade com o Opala que era terra de ninguém chegava a dei fazer as rodas. Tinha uma cami- 7.000rpm em quarta marcha, perto nhonete da Chevrolet com tração dos 200km/h”, lembra Toninho, que positiva, não era a mesma coisa des- detalha a preparação do carro. sas autoblocantes. Nós colocamos o eixo dessa caminhonete na traseira. Estive lá e era realmente a MOTOR As rodas ficavam um palmo e meio maior loucura. A galera do “Era um Opala seis cilindros de três para fora da carroceria, por causa Eu participa das marchas. Liguei para o Chico Landi e disso colocamos quatro amortece- volante fazia a curva do levei o carro para São Paulo. Passei dores na traseira.” cotovelo e não podia errar, corridas. Tinha uma semana lá com ele fazendo o senão era poste ou meio-fio. de 10 para 11 motor. Virou um carro de rua com FIM anos e me recordo motorzão. Eu vi que era uma droga de “Esse carro não existe mais. Fizeram Lembro-me também dos guiar, mas o Chico era da velha guar- uma rifa com ele e foi mudando de loucos Jarjour (Martius Jarjou do Opala 21 do da e achava que só o motor ganhava dono até acabar. Já fui procurado pa- Toninho, do Karman corrida. Depois (já em Belo Horizonte) ra fazer uma réplica, pode ser uma Carneiro) capotando uma coloquei mais três carburadores du- boa ideia. Foi um carro que fez histó- Alfeta e o Da Matta sempre à Ghia e do Gordini. A plos e trocamos o câmbio para um de ria. Todos os boys da cidade anda- frente. O Kid Cabeleira em um coisa era tão simples quatro marchas.” vam de Opala.” que não se tinha monoposto com retrovisor de FERNANDO ARMINIO/MUSEU VIRTUAL DA FMA/DIVULGAÇÃO um metro de altura. qualquer proteção para o público. ■ RONALDO Assisti a todas as corridas ■ RENATO LÚCIO com meu marido, então FERNANDO ARMINIO/MUSEU VIRTUAL DA FMA/DIVULGAÇÃO noivo à época, e realmente eram o máximo! Pena que alguns dos poçotos da época não estejam mais conosco, mas quem daquela época não se lembra do Opala 21 da Motorauto. ■ LILI Carros de rua modificados dividiam o grid e as curvas com exóticos protótipos Emerson Fittipaldi e Boris Feldman no Corcel número 74 FERNANDO ARMINIO/MUSEU VIRTUAL DA FMA/DIVULGAÇÃO OUTROS CARROS Foram cerca de cinco provas no circuito do Mineirão. Antes, em 1949, houve corridas de carreteras em volta da Lagoa da Pampulha e, em 1967, uma corrida no Bairro Cidade Nova, recém-loteado. No circuito do Mineirão, além de Toninho com o Opala, outros carros e pilotos dividiam a atenção da torcida. Kid Cabeleira dirigiu dois protótipos e um Simca GTX Esplanada número 82 (acima). Os protótipos eram feitos em BH, como lembra Kid: “Fazíamos a gaiola de arame macio, passávamos os moldes de madeira e depois soldávamos em um chassi encurtado de Volkswagen”. Outros que se destacaram foram o Puma GT de Marcelo Campos, o Corcel de Boris Feldman, o Fusca de Clóvis Banana, o Opala de Ronaldo Augusto Ferreira e a Alfa de Martius Jarjour Carneiro.