1) A Avenida Dom Pedro II em Belo Horizonte funciona como uma feira automotiva, reunindo diversos tipos de estabelecimentos relacionados a veículos, desde ferros-velhos até concessionárias.
2) A variedade de produtos e a dinâmica da avenida, com pessoas socializando nas calçadas, conferem um clima descontraído de feira ao local.
3) Um eletricista costuma frequentar a avenida diariamente e foi convidado para um churrasco organizado por vendedores de uma loja de peças e ferra
1. E STA D O D E M I N A S G Q U A R T A - F E I R A , 1 7 D E M A I O D E 2 0 0 6
8 VEÍCULOS
PEDRO II
c
Via da Região Noroeste é o pólo automotivo com maior diversidade de produtos m
de Minas. Descontração e histórias incríveis conferem ao local clima de feira y
k
Democracia na avenida DANIEL CAMARGOS que impera na avenida.
FOTOS: MARLOS NEY VIDAL
No quarteirão seguinte, um mo-
Na geografia do mercado auto- toboy amarra o capacete na moto e
motivo de Belo Horizonte, a Aveni- não permite que uma moça, com o
da Dom Pedro II – que na boca dos cabelo tinto de louro, passe ilesa. “Ô
freqüentadores perdeu a aristocra- trem bom!”, comenta bem alto,
cia e é chamada apenas de Pedro II – anunciando a passagem para ven-
funciona como uma feira. Há de dedores e transeuntes. Celmo San-
ferros-velhos, passando por lojas de tiago, de 50 anos, é testemunha da
peças, artigos originais, produtos dinâmica da avenida há 20. Proprie-
para motocicletas, pneus e lojas de tário de uma loja (um beco), que re-
carros usados até concessionárias cupera radiadores, passa o dia sen-
de veículos novos. A variedade de tado em um banco de madeira na
produtos reunidos num mesmo lo- frente do estabelecimento. “Se ficar
cal não é a única característica que lá dentro, dá sono”, explica.
transforma a avenida em uma fei- De camarote, já viu muita bati-
ra. da policial nos ferros-velhos e anda-
Morador do bairro Bonfim, na res superiores dos sobrados de
região Noroeste, o eletricista Anério prostituição. “O pessoal alugava os
Anério prova com muito prazer o aperitivo antes do churrasco Nunes Avelar faz da Pedro II o quin- quartos para qualquer um e apare-
tal de casa. O tráfego pesado, os so- cia de tudo: de prostituta a trambi-
brados de prostituição e a profusão queiro”, lembra Celmo. Porém, ele
de lojas automotivas não impedem diz que os casarões foram cedendo
que ele caminhe pela avenida às lugar às lojas e, hoje, restam apenas
12h de uma quinta-feira rumo a homossexuais e travestis, “mas, a
um churrasco. Com uma garrafa de maioria das casas está nas ruas que
cachaça de Piracema debaixo do cortam a avenida”, nos bairros Bon-
braço, ele encontra com o vendedor fim e Lagoinha.
Édson Antônio – que vigia a chur- Quem percorre a avenida no
rasqueira e espera o carvão carbu- sentido Centro-bairro percebe que
rar – na calçada em frente ao núme- as lojas que recuperam radiadores
ro 556 da avenida. seguem o mesmo padrão arquite-
“Pelo menos uma vez por mês tônico. Uma porta com menos de
juntamos a turma e fazemos uma 1,5m de largura e um corredor, com
‘vaquinha’. Assamos a carne e o pes- uma mesa ao fundo e as ferramen-
soal prepara o arroz lá no fundo da tas necessárias ao serviço espalha-
loja”, explica o vendedor. Funcioná- das pelo recinto. “Não precisa de
rios das lojas vizinhas, que pode- muito espaço. Geralmente, o mecâ-
riam ser chamadas de concorren- nico traz o radiador fora do carro e
tes, também participam. “Será uma leva na hora mesmo”, explica Cel-
honra que vocês fiquem para o mo. A aparência, entretanto, assus-
churrasco”, comenta Anério com a ta alguns clientes que preferem um
equipe de Veículos, enquanto ergue salão bem iluminado e lustrado pa-
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
o copo de cachaça e brinda o clima ra estacionar o veículo. Há 20 anos na avenida, Celmo Santiago lembra das prostitutas e dos trambiqueiros
c
m
y
k
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO