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EU
EM
PESSOA
MEU ENCONTRO COM A POESIA DE
FERNANDO PESSOA 100 ANOS
DEPOIS
( Renascimento Latino-Americano
e Europeu )
Ivan Poli ( Osunfemi Elebuibon)
ÍNDICE
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO.
Falar em Fernando Pessoa, de pessoa para pessoa
atravessando os séculos de sua atemporalidade
magnífica, e encontrar em si mesmo os ecos de sua
poesia.... Talvez este seja o objetivo principal desta
obra .. O encontro de minha própria personalidade
de autor do século XXI dentro do contexto dos
Renascimentos Culturais do Sul e seus
desdobramentos dentro destes Renascimentos com
os heterônimos de Pessoa.
Bem para entender melhor trago novamente um
texto de outra obra que Explica bem o momento que
estamos.
Este livro é um elogio ao atual Renascimento
Cultural Latino Americano e Europeu do Século XXI
que ocorre 100 anos depois do advento da poesia de
Pessoa e da Revolução Russa de 1917.
Sabemos que os poetas e artistas tiveram grande
relevância nas transformações do início do século XX
como em 1917 na Rússia e Mayakovsky, por
exemplo, era tido como o próprio poeta da
Revolução.
Bem segundo diz Marx , ― A Violência é filha da
Revolução ― e assim foi na Revolução Russa, Cubana
e tantas outras pelo século XX e mesmo antes,
contudo Gandhi provou que isso não era uma regra,
assim como Martin Luther King e Mandela com suas
Revoluções mais baseadas em Thoreau e no Ensaio
sobre a Desobediência Civil, no caso de Gandhi com
Não Violência de forma marcante pelo seu Ahimsa e
Satiagraha seus pulmões Revolucionários.
Contudo como afirmo , ― Se não podemos ter a
Violência como filha da Revolução como uma regra,
não podemos negar que a Poesia é a Mãe de Todas
as Revoluções, Poesia esta que é capaz de
conquistar o coração de uma mulher , somente esta
pode ser a Mãe de uma Revolução qualquer‖
O que digo é que na origem de toda revolução vem
a questão ideológica e cultural que lhe dá a base, No
caso do Renascimento Hindu tivemos Ramakrishna e
Vivekananda na Filosofia, Rabindranath Tagore na
Literatura, e o Braço político foi Gandhi ... No caso
da África do Sul tivemos Miriam Makeba, no caso de
Cuba tivemos Silvio Rodriguez como cantor da
Revolução, Na China se fala em Revolução Cultural
propriamente dita e mesmo nos movimentos
retrógrados como o Fascismo e o Nazismo começam
como uma construção cultural antes de tudo....O
Movimento Modernista vem como um movimento
transformador e no caso da Revolução Russa temos
Mayakovsky como seu poeta da Revolução principal
de 1917.
Bem falando em Sociologia e Antropologia e citando
estes movimentos todos podemos nos remeter a
obra de Georges Balandier que muito a grosso modo
demonstra que tanto as sociedades tradicionais
quanto modernas transitam entre ordem e desordem
e que nos momentos de desordem esta humanidade
costuma responder de três formas
- Resposta totalitária .
- Resposta Religiosa
- Resposta pelo Movimento.
No início do Século XX vivíamos sob o jugo de uma
desordem assim como passamos a viver no início do
século XXI com a crise do capitalismo neoliberal em
2008 .
No início século XX a resposta totalitária a esta
desordem foram o fascismo e o nazismo.
Houve a resposta religiosa com a adesão da igreja
católica em alinhamento com estas respostas
totalitárias
E assim como houve também a resposta pelo
movimento no Modernismo ( de autores como
Mayakovsky , Pessoa, Brecht e tantos outros artistas
alemães da República de Weimar , Bréton , que veio
ter resultados depois que se esgotou a resposta
totalitária-religiosa e rege ainda nosso
comportamento nos dias atuais)
No século XXI depois de 2008 e a desordem que se
engendra com a crise do neoliberalismo e a Ordem
Mundial Unipolar temos tanto no Brasil quanto no
mundo as três respostas e que são :
- Resposta Totalitária – Extrema Direita e
Neofascismo e Conservadorismo em ascensão em
todo mundo.
- Resposta Religiosa – Onda Neopentecostal na
África e América Latina e Extremismo Religioso em
diversas vertentes em todo mundo.
Sendo que as duas estão como no século XX ,
alinhadas , como temos o exemplo de nossa
bancada evangélica no Brasil e em diversos países
na América Latina promovendo retrocessos em
detrimento da Laicidade de nossos Estados
Nacionais.
- Resposta pelo Movimento – A construção simbólica
dos Renascimentos Culturais do Sul ( Africano,
Oriente Médio, Russo, Hindu , Chinês, Latino-
Americano do qual sou um autor de todos eles ) que
trabalha no plano simbólico igualmente no
alinhamento econômico do Sul e portanto na
Consolidação da Ordem Mundial Multipolar que
começa a se configurar com tal fato
Contudo precisamos construir estes Renascimentos
de forma a furar o bloqueio da cultura Mainstream
ainda mantidas pelos interesses da ordem
econômica e política anterior que entrou em
desordem e mostra seus sinais de esgotamento para
que possamos, a partir da construção simbólica de
Nossos Renascimentos culturais e alinhamento
econômico do sul , transformar relações de
hegemonia cultural e assim consolidar esta Resposta
pelo Movimento a partir do esgotamento das
respostas totalitária e religiosa que ainda vivemos
neste Momento.
Talvez a música que mais sintetize estes
Renascimentos e que elejo como representante de
tais é a Música Um Indio de Caetano Veloso
Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante(
Renascimento Russo )
De uma estrela que virá numa velocidade
estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais
avançadas das tecnologias
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali( Renascimento do
Oriente Médio )
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri( Renascimento Latino-
Americano )
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee( Renascimento
Chinês e Extremo Oriente )
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi( Renascimentos
Africano e Hindu do Século XXI )
Virá
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor
Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som
magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto-sim resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará
Não sei dizer assim de um modo explícito
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio.
Portanto neste livro escrevo crônicas e poemas
meus inspirado no gênero de Fernando Pessoa e dou
sequencia a alguns de seus poemas tal qual a um
desafio de repentistas nordestinos, valorizando a
nossa oralidade no encontro do Renascimento
Africano e Latino Americano que também sou autor
no encontro com o Renascimento Europeu ...
Fazendo repentes centenários que nos digam algo a
nossa atualidade no Sul sobretudo.
Bem falando na Resposta pelo Movimento que os
Renascimentos do Sul ( como o Latino Americano )
representam, não posso deixar de citar aqui o
Poema de Pessoa de 1917 ( ano da Revolução Russa
) e a Musica de Macalé ( do século XX )
brilhantemente interpretadas por Maria Bethania em
um de seus shows para falar deste momento de
desordem que passamos igualmente cem anos
depois, para que nos inspiremos igualmente a
reconstruirmos esta Resposta pelo Movimento pelos
Renascimentos do Sul. Bem , deixo bem claro que
sou da Juba Socialista, contudo neste momento
como em 1917 todo cenário político e econômico
necessita de reformas e precisamos furar o bloqueio
das produções culturais alienantes Mainstream e
fazer nossas ― Obras do Front ― assim como a
heroína Dione Carlos fez seus ― Dramaturgias do
Front ― e disse que devemos nos vingar e fazer
sempre algo maior que nós mesmos ( Que é o que
tento também em minha obra ), pois somente assim
mudaremos relações de hegemonia cultural para que
uma Nova Ordem Política e Econômica Mundial se
Estabeleça de forma que seja mais inclusiva,
distribuidora de renda e menos opressiva que a
atual que se iniciou com o Consenso de Washington
, pai do Neoliberalismo em 1991.
Com vocês há cem anos o Atualíssimo Álvaro de
Campos ( Fernando Pessoa 1917 ) e Jards Macalè (
anos 60 século XX) para que se inspirem de forma a
sentir imagens e sensações assim como a Literatura
Oral Africana dos Orikis Yorubanos que trato em
minha primeira Obra sobre Renascimento Africano (
Antropologia dos Orixás )
ULTIMATUM ( FERNANDO PESSOA- SÉC XX- 1917)
Mandato de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o
popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de
trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma idéia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo
Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstractamente o infinito.‖
Álvaro de Campos, em 1917
MOVIMENTO DOS BARCOS
Jards Macalé
Tô cansado
E você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo
Do nosso corpo
Não quero ficar dando adeus
Às coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais do que as cinzas de um
cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar no porto chorando,
não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento. ―
Dessa forma sejamos todos agentes culturais como
os poetas das Revoluções neste momento de
transformação e em todos momentos de todas
Revoluções do Mundo no Passado , presente e futuro
também dedico esta Obra.
( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon )
O modernismo de Maiakovski, Mario de Andrade,
Oswald de Andrade ( de outras obras ) e Pessoa
representou uma resposta pelo movimento á
desordem que se estabeleceu no início do século XX,
em contraponto às respostas totalitárias que
representaram os regimes fascista e nazista e
religiosa que foi o apoio da Igreja Católica a estes
movimentos.
No Século XXI com a crise da Ordem Neoliberal e do
modo de produção da sociedade pós moderna e a
Nova Ordem Mundial Multipolar que se começa a
desenhar em um movimento que pede
descolonização e alinhamento econômico do Sul
sobretudo assim como Renascimento de uma nova
Ordem na Europa ( que também exige um
Renascimento Cultural que dialogue com os do Sul
para que não fique para trás no trem da História da
Nova Ordem Mundial Multipolar ).
Vivemos hoje as respostas totalitária e religiosa às
desordens causadas pela falência eminente do
sistema do capitalismo neoliberal e seu sistema
econômico assim como sua Ordem Mundial Unipolar.
No Brasil e no mundo as ondas neofascistas e de
fundamentalismo religioso que tem efeitos em nossa
representação política trazem retrocessos em um
momento em que se busca uma nova realidade.
Portanto necessitamos neste momento de desordem
do início do letárgico século XXI que não acordou
ainda dar esta resposta pelo Movimento que foi o
Modernismo de autores como Pessoa no século XX
que preparou o campo cultural para o advento de
uma nova ordem econômica e social que adveio
após o esgotamento das respostas pelo totalitarismo
que representaram os modelos fascista e nazista.
Toda transformação social conforme falamos começa
no campo cultural e lembrando bem de um
personagem que também é do Renascimento
Africano ( Africa na qual bebeu na fonte , o
modernismo de Pessoa ) Exu (Legba) , o
transgressor das sociedades fon e yorubá representa
igualmente a partir de suas transgressões aos
padrões sociais estabelecidos ( como promoveu no
plano estético o modernismo de Pessoa ) este
agente transformador da resposta pelo movimento
que afronta os padrões vigentes e mexe nas
estruturas.
Segundo falo no Paidéia Negra, minha terceira obra
sobre Renascimento Africano, Exu inspirou as
mulheres ( transgressoras por Natureza ) a
transgredir a ordem masculina que determinava que
os excedentes de produções de outros clãs e
linhagens só poderiam ser obtidos através e conflitos
armados ( guerras como até hoje a ordem patriarcal
faz em nome destes excedentes de produção
sobretudo de commodities energéticas ) e as fez
irem as picadas com os excedentes de produção
para trocar com outras mulheres de outros clãs e
linhagens motivadas pelo fato de não verem seus
filhos voltando destas guerras por trocas de
excedentes de produção. A partir daí cria-se a
moeda na região ( os búzios) , estabelecem- se
praças e inicia – se o Mercado ( bem lembrando que
pela ordem matriarcal, motivado pelo instinto
maternal de levar excedentes de produção aos locais
mais distantes para evitar que a civilização se
dizimasse e não pelo lucro como uma finalidade em
si mesma como temos idéia do mercado financeiro
hoje , o que legitimaria em nosso país toda uma
ordem micro-econômica que baseada na regra
matriarcal guiaria nossas diretrizes macro-
econômicas ) .
Com o mercado vem a urbanização e o código das
mães e mulheres do Mercado em levar pelas cidades
junto com seus filhos os excedentes de produção
das regiões para que ali se estabelecesse o
desenvolvimento e a urbanização e se evitassem
assim guerras devido a excedentes de produção
conforme fala a ordem patriarcal.... Portanto assim a
partir das transgressões dos códigos que se iniciam
em uma ordem cultural foi dada a resposta pelo
Movimento na Africa Ocidental que em contraponto
a ordem totalitária do patriarcado, levaram a
civilização a um outro patamar , salvando-a da
destruição, sem nenhum ato violento.... Lembro que
tudo isso começa pelo código cultural das mães da
terra e sua construção que levou a todo resto
baseado nas transgressões de Exu.
Transgredir e Responder ao conservadorismo
fascista pelo Movimento , esta como a de Pessoa é
minha regra nesta obra na qual farei repentes tal
qual repentistas nordestinos e complementos a
poesia de Pessoa em locais onde os Renascimentos
do Sul e Europeu se encontrem renovando
esperanças através do encontro de séculos entre os
versos atemporais de Pessoa e os meus de
contemporâneo do século XXI e da Nova Ordem
Mundial Multipolar e dos Renascimentos do Sul e
Europeu , assim como fiz na obra sobre Maiakovski
referente ao Renascimento Russo em encontro com
o Latino-Americano.
Boa Viagem imagética e sensorial
Ivan Poli ( Osunfemi Elebuibon ) – Autor dos
Renascimentos do Sul.
1 – POEMA DO MENINO JESUS
( FERNANDO PESSOA SÉC XX)
Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho
como uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à
Terra.
Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra
vez menino, a correr e a rolar-se pela erva
A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra fingir-
se de Segunda pessoa da Trindade.
Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito
Santo andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres
e roubou três.
Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse
que Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou
eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele
criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o
pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às
outras.
Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro
raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma
criança bonita, de riso natural.
Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas
poças d’água, colhe as flores, gosta delas, esquece.
Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos
pomares, e foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente
acha graça, Ele corre atrás das raparigas que levam
as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia.
A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar
para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há
nas flores e me mostra como as pedras são
engraçadas quando a gente as tem na mão e olha
devagar para elas.
Damo-nos tão bem um com o outro na companhia
de tudo que nunca pensamos um no outro. Vivemos
juntos os dois com um acordo íntimo, como a mão
direita e a esquerda.
Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no
degrau da porta de casa. Graves, como convém a
um DEUS e a um poeta.
Como se cada pedra fosse todo o Universo e fosse
por isso um perigo muito grande deixá-la cair no
chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos
homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri
dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir
falar das guerras e dos comércios.
Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro
da minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o
lentamente, como seguindo um ritual todo humano
e todo materno até Ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele
acorda de noite, brinca com meus sonhos. Vira uns
de pena pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate
palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos.
Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o
mais pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para
dentro a Tua casa. Deita-me na tua cama. Despe o
meu ser, cansado e humano.
Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a
adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar.
2 – JOVEM MENINO JESUS – Ivan Poli (
Osunfemi Elebuibon – séc XXI )
Na primeira juventude ao sairmos escondido das
beatas que louvavam sua divina imagem, para as
festas ciganas o menino se apaixona pela vida.
Apaixonado pelos sonhos dos homens que lhe
levariam um dia à própria Paixão, respondia ao som
dos ventos que lhes contavam estes sonhos.
Respondia em silêncio, através dos olhos das almas
que lhe louvavam na busca destes sonhos. Amava a
dança e os movimentos das saias daquelas mulheres
ciganas que dançavam faziam lhe lembrar o curso
do Universo.
Percebia este Universo em cada homem o que lhe
fazia se encantar cada vez mais com a vida e as
possibilidades de felicidade mundanas dos homens.
Os barulhos das alegrias dos corações humanos lhe
povoavam a mente como breves pensamentos que
ao que abrirem se em um sorriso fronte o despertar
do dia esta era sua voz em seu diálogo diário com o
Sol dos Pagãos.
Algumas vezes ficava triste com as paixões humanas
e o ódio que aqueles sedentos de poder sentem dos
mais fracos. Tão triste que vertiam lhe lágrimas dos
olhos que se uniam ao curso do Atlântico, que não
era o mesmo Atlântico que banhava o porto de suas
ilusões, mas sim o dos descobridores que o
desbravaram muitas vezes embriagados por estas
mesmas paixões.
Sentia de perto pulsar do coração das mulheres
como um canto de hostes divinas e achava incrível o
dom da maternidade e cantava louvores aquelas
filhas de Santa Sara Kali que cuidavam de seus
rebentos pela maravilha de serem mães da Terra,
que mesmo como Deus, este era um privilégio que
lhe tinha sido negado.
Púbere, seduziu as míticas sereias que iludiam os
homens a partir de suas próprias ilusões, pois
amava os sonhos de todos os seres e foi o marido de
todas elas para a eternidade com seus votos de
eterna luxúria da alma que era a poesia presente no
amor dos seres da qual se alimentava.
Em tais festas, ébrio de amor pela Humanidade,
peregrinou dentro dos medos e receios dos homens
pelos caminhos do Mundo, e se tornou filho dos
Orientes mais exóticos em busca de respostas que já
tinha.
Enfrentou no caminho nos desertos das almas dos
homens, o maior de todos os demônios, que era o
seu próprio Ego de filho de Deus com quem lutou
em batalha épica.
Desbravou caminhos desconhecidos e carregou o
fardo dos sofrimentos de todos os homens e livrou
lhes todos da culpa divina que sentiam pelo o que na
verdade não tinham feito e eram na verdade
inocentes.
Enamorou-se de toda Humanidade, e todos os
homens foram seus irmãos e as mulheres suas mais
veneradas esposas. Seu desejo conversava e falava
a língua das utopias dos Homens e se realizava a
cada oprimido que se liberava da opressão.
Um dia pega naquele primeiro raio de sol no Oriente
o caminho de volta a sua aldeia que fica em todos os
lugares do mundo às margens de todos os oceanos e
ao pé de todas as montanhas na beira de todos os
vales dos rios que sustentam todas as civilizações.
Era dia de festa como aquela das ciganas de sua
juventude, e todos comemoram retorno daquele que
saiu na busca da maior verdade, ainda quase
menino.
Neste momento toda humanidade que estava
presente nesta festa se embriaga com o vinho em
uma verdadeira comunhão de todos os povos, ao
que diz o jovem: - Este vinho (que os homens se
embriagam na comunhão entre os povos) será meu
sangue.
Daí em diante, inspirados pelas suas diversas
Utopias, os homens compartilharam nesta festa
eterna daquele pão que nunca mais faltou em suas
mesas, ao que o jovem diz: - Este pão (filho da
utopia dos homens que não mais lhes faltará à
mesa) é meu corpo.
Ao fim da Festa o jovem mergulha no reflexo da lua
nas águas da eternidade dos sonhos humanos
entoando o hino de Aruanda dos pretos Velhos para
seguir sua Paixão e seu Destino em nome da
Humanidade.
Desde então não fora mais visto sozinho, pois vive agora
para sempre nos sonhos de todos os homens.( Osunfemi
Elebuibon – Ivan Poli – 2016 )
3- PRECE ( FERNANDO PESSOA – SÉC XX)
SENHOR, que és o céu e a terra, que és a vida e a
morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu. Tu
és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso
amor és tu também. Onde nada está tu habitas e
onde tudo está – (o teu templo) – eis o teu corpo.
Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-
me vista para te ver sempre no céu e na terra,
ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos
para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu.
Que não haja lama nas estradas dos meus
pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos
meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os
outros como irmãos e servir-te como a um pai. […]
Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo
seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa
aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa
adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para
que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro
como o dia para que eu te possa ver sempre em
mim e rezar-te e adorar-te.
Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu
me sinta teu. Senhor, livra-me de mim.
4- Elogio a Laicidade através dos
Tempos ( Oração da Igreja Secular do
Reino da Humanidade ) – Ivan Poli (
Osunfemi Elebuibon – Séc XXI )
Senhor,
Hoje não te pedirei pelos santos,
Nem tampouco pelos castos e fiéis,
Nem te agradecerei por todos os milagres que não
tenho dúvida que fizestes em minha vida
Nem por toda felicidade que me possibilitou ter no
caminho que me conduziu.
Não te pedirei fé, nem inspiração nos que creram
em ti.
Te pedirei que abençoe sim, aqueles que duvidaram
de ti ,
Quando homens matavam em teu nome,
Quando homens promoviam o caos social em teu
nome,
Quando homens exploravam uns aos outros por sua
boa fé, em teu nome,
Quando homens deixaram de se ver como filhos de
uma mesma Humanidade em teu nome.
Peço que abençoe àqueles que duvidaram de tudo
isso
Que através do Progresso Intelectual revolucionaram
e combateram dogmas que destruíam esta
Humanidade.
Que através de sua crença na Utopia se igualaram
todas as crenças na ética dos laicos que foi a guia de
sua fé.
Abençoa aquele que duvidou quando em teu nome
oprimiam corações e mentes e as enchiam de culpa.
Abençoa aquele que provou a mentira dos
vendilhões dos templos através dos tempos.
Abençoa aquele que o fez não por querer atingir um
céu e um paraíso, mas porque via somente
Humanidade em todos os seres.
A mesma Humanidade de que se é filho dentro do
que falava a lei Natural e Primitiva.
Abençoa aquele que não me distingue se sou do
povo da Cruz, da Lua Crescente, da Estrela de Davi
ou qualquer outro credo.
Abençoa aquele que duvidou de paraísos exclusivos
Abençoai a todos Hereges, Magos, Bruxas e
Transgressores que transformaram nossa visão.
Abençoa aquele que denunciou as cartas de
indulgência
Por ter já em seu coração toda indulgência e
considerar-se irmão de toda Humanidade.
Abençoa os que transgrediram os dogmas e a lei que
contrariavam sua própria Humanidade e assim
transformaram a sociedade que viveu.
Abençoa os que em nome desta Utopia, duvidaram
dos opressores, dos charlatões, que mostraram que
o eu humano é maior que qualquer dogma.
Abençoa Senhor a todos estes descrentes que mais
que oram para a Humanidade através de sua ética
que não permite que o dogma oprima consciências
ou as transforme na morada da culpa.
E em nome destes Nobres Seres Humanos,
Faz de mim e de todos nós muito mais que divinos
na dimensão das crenças e descrenças que nos
dividem,
Fazei de mim e de todos nós a partir de nossos
sonhos que nos unem numa mesma condição em
nossas crenças e descrenças simplesmente e
igualmente Humanos.
5 – PASSAGEM DAS HORAS ( FERNANDO PESSOA
SÉC XX)
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou
vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu
quero.
A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde,
O coral das Maldivas em passagem cálida,
Macau à uma hora da noite... Acordo de repente
Yat-iô--ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô ... Ghi-...
E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade
A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol
Dar-es-Salaam (a saída é difícil)...
Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar...
Tempestades em torno ao Guardaful...
E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da
madrugada...
E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao
fundo...
Viajei por mais terras do que aquelas em que
toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os
olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as
sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou
que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu
infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isto e
apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos
bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da
estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações
desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta
convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as
chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa
Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na
inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos
ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e
feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os
momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a
ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar
no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de
todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e
esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais
parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual
é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça
sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as
lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena
de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe
toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde
caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão
das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer
maneira?
Como um bálsamo que não consola senão pela idéia
de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco,
monótona, cai.
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a
viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão,
fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a
decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...
Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e
solícito.
Só humanitariamente é que se pode viver.
Só amando os homens, as ações, a banalidade dos
trabalhos,
Só assim - ai de mim! -, só assim se pode viver.
Só assim, o noite, e eu nunca poderei ser assim!
Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e
eu sofri.
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos
os gestos,
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e
não conseguisse.
Amei e odiei como toda gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre a exceção, o choque, a
válvula, o espasmo.
Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti.
Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito,
Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo.
Mãe suave e antiga das emoções sem gesto,
Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem
nexo,
Noiva esperando sempre os nossos propósitos
incompletos,
A direção constantemente abandonada do nosso
destino,
A nossa incerteza pagã sem alegria,
A nossa fraqueza cristã sem fé,
O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem
êxtases,
A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência
de fracos,
A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida...
Não sei sentir, não sei ser humano, conviver
De dentro da alma triste com os homens meus
irmãos na terra.
Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser
quotidiano, nítido,
Ter um lugar na vida, ter um destino entre os
homens,
Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta,
Unia razão para descansar, uma necessidade de me
distrair,
Uma cousa vinda diretamente da natureza para
mim.
Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila...
Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz,
Tu que não existes, que és só a ausência da luz,
Tu que não és uma coisa, rim lugar, uma essência,
uma vida,
Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua
escuridão,
Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa,
Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos,
E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte...
'Tu, cuja vinda é tão suave que parece um
afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto, frio de mares de
sonho,
Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia
excessiva...
Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente,
Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre
margens,
Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem...
Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao
mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os
momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e
longínquo.
Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma
ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender
Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo.
São-me simpáticos os homens superiores porque
são superiores,
E são-me simpáticos os homens inferiores porque
são superiores também,
Porque ser inferior é diferente de ser superior,
E por isso é uma superioridade a certos momentos
de visão.
Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades
de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas
qualidades,
E com outros ainda simpatizo por simpatizar com
eles,
E há momentos absolutamente orgânicos em que
esses são todos os homens.
Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia,
Basta que ela exista para que tenha razão de ser.
Estreito ao meu peito arfante, num abraço
comovido,
(No mesmo abraço comovido)
O homem que dá a camisa ao pobre que
desconhece,
O soldado que morre pela pátria sem saber o que é
pátria,
E o matricida, o fratricida, o incestuoso, o violador
de crianças,
O ladrão de estradas, o salteador dos mares,
O gatuno de carteiras, a sombra que espera nas
vielas —
Todos são a minha amante predileta pelo menos um
momento na vida.
Beijo na boca todas as prostitutas,
Beijo sobre os olhos todos os souteneurs,
A minha passividade jaz aos pés de todos os
assassinos
E a minha capa à espanhola esconde a retirada a
todos os ladrões.
Tudo é a razão de ser da minha vida.
Cometi todos os crimes,
Vivi dentro de todos os crimes
(Eu próprio fui, não um nem o outro no vicio,
Mas o próprio vício-pessoa praticado entre eles,
E dessas são as horas mais arco-de-triunfo da minha
vida).
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-rne,
E há em cada canto da minha alma um altar a um
deus diferente.
Os braços de todos os atletas apertaram-me
subitamente feminino,
E eu só de pensar nisso desmaiei entre músculos
supostos.
Foram dados na minha boca os beijos de todos os
encontros,
Acenaram no meu coração os lenços de todas as
despedidas,
Todos os chamamentos obscenos de gesto e olhares
Batem-me em cheio em todo o corpo com sede nos
centros sexuais.
Fui todos os ascetas, todos os postos-de-parte,
todos os como que esquecidos,
E todos os pederastas - absolutamente todos (não
faltou nenhum).
Rendez-vous a vermelho e negro no fundo-inferno
da minha alma!
(Freddie, eu chamava-te Baby, porque tu eras louro,
branco e eu amava-te,
Quantas imperatrizes por reinar e princesas
destronadas tu foste para mim!)
Mary, com quem eu lia Burns em dias tristes como
sentir-se viver,
Mary, mal tu sabes quantos casais honestos,
quantas famílias felizes,
Viveram em ti os meus olhos e o meu braço cingido
e a minha consciência incerta,
A sua vida pacata, as suas casas suburbanas com
jardim,
Os seus half-holidays inesperados...
Mary, eu sou infeliz...
Freddie, eu sou infeliz...
Oh, vós todos, todos vós, casuais, demorados,
Quantas vezes tereis pensado em pensar em mim,
sem que o fósseis,
Ah, quão pouco eu fui no que sois, quão pouco, quão
pouco —
Sim, e o que tenho eu sido, o meu subjetivo
universo,
Ó meu sol, meu luar, minhas estrelas, meu
momento,
Ó parte externa de mim perdida em labirintos de
Deus!
Passa tudo, todas as coisas num desfile por mim
dentro,
E todas as cidades do mundo, rumorejam-se dentro
de mim ...
Meu coração tribunal, meu coração mercado,
Meu coração sala da Bolsa, meu coração balcão de
Banco,
Meu coração rendez-vous de toda a humanidade,
Meu coração banco de jardim público, hospedaria,
Estalagem, calabouço número qualquer cousa
(Aqui estuvo el Manolo en vísperas de ir al patíbulo)
Meu coração clube, sala, platéia, capacho, guichet,
portaló,
Ponte, cancela, excursão, marcha, viagem, leilão,
feira, arraial,
Meu coração postigo,
Meu coração encomenda,
Meu coração carta, bagagem, satisfação, entrega,
Meu coração a margem, o lirrite, a súmula, o índice,
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, bazar o meu coração.
Todos os amantes beijaram-se na minh'alma,
Todos os vadios dormiram um momento em cima de
mim,
Todos os desprezados encostaram-se um momento
ao meu ombro,
Atravessaram a rua, ao meu braço, todos os velhos
e os doentes,
E houve um segredo que me disseram todos os
assassinos.
(Aquela cujo sorriso sugere a paz que eu não tenho,
Em cujo baixar-de-olhos há uma paisagem da
Holanda,
Com as cabeças femininas coiffées de lin
E todo o esforço quotidiano de um povo pacífico e
limpo...
Aquela que é o anel deixado em cima da cômoda,
E a fita entalada com o fechar da gaveta,
Fita cor-de-rosa, não gosto da cor mas da fita
entalada,
Assim como não gosto da vida, mas gosto de senti-
la...
Dormir como um cão corrido no caminho, ao sol,
Definitivamente para todo o resto do Universo,
E que os carros me passem por cima.)
Fui para a cama com todos os sentimentos,
Fui souteneur de todas ás emoções,
Pagaram-me bebidas todos os acasos das
sensações,
Troquei olhares com todos os motivos de agir,
Estive mão em mão com todos os impulsos para
partir,
Febre imensa das horas!
Angústia da forja das emoções!
Raiva, espuma, a imensidão que não cabe no meu
lenço,
A cadela a uivar de noite,
O tanque da quinta a passear à roda da minha
insônia,
O bosque como foi à tarde, quando lá passeamos, a
rosa,
A madeixa indiferente, o musgo, os pinheiros,
Toda a raiva de não conter isto tudo, de não deter
isto tudo,
Ó fome abstrata das coisas, cio impotente dos
momentos,
Orgia intelectual de sentir a vida!
Obter tudo por suficiência divina —
As vésperas, os consentimentos, os avisos,
As cousas belas da vida —
O talento, a virtude, a impunidade,
A tendência para acompanhar os outros a casa,
A situação de passageiro,
A conveniência em embarcar já para ter lugar,
E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, urna
frase,
E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se
inventa.
Poder rir, rir, rir despejadamente,
Rir como um copo entornado,
Absolutamente doido só por sentir,
Absolutamente roto por me roçar contra as coisas,
Ferido na boca por morder coisas,
Com as unhas em sangue por me agarrar a coisas,
E depois dêem-me a cela que quiserem que eu me
lembrarei da vida.
Sentir tudo de todas as maneiras,
Ter todas as opiniões,
Ser sincero contradizendo-se a cada minuto,
Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de
espírito,
E amar as coisas como Deus.
Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um
operário,
Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na
praia
Que a dor real das crianças em quem batem
(Ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em
quem batem —
E por que é que as minhas sensações se revezam
tão depressa?)
Eu, enfim, que sou um diálogo continuo,
Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre,
Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão
lhes toque
E faz pena saber que há vida que viver amanhã.
Eu, enfim, literalmente eu,
E eu metaforicamente também,
Eu, o poeta sensacionista, enviado do Acaso
As leis irrepreensíveis da Vida,
Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada,
O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas
que, enfim,
Prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo
E acha mais seu olhar para o absinto a beber que
bebê-lo...
Eu, este degenerado superior sem arquivos na
alma,
Sem personalidade com valor declarado,
Eu, o investigador solene das coisas fúteis,
Que era capaz de ir viver na Sibéria só por embirrar
com isso,
E que acho que não faz mal não ligar importâricia à
pátria
Porquie não tenho raiz, como uma árvore, e
portanto não tenho raiz
Eu, que tantas vezes me sinto tão real como uma
metáfora,
Como uma frase escrita por um doente no livroda
rapariga que encontrou no terraço,
Ou uma partida de xadrez no convés dum
transatlântico,
Eu, a ama que empurra os perambulators em todos
os jardins públicos,
Eu, o policia que a olha, parado para trás na álea,
Eu, a criança no carro, que acena à sua
inconsciência lúcida com um coral com guizos.
Eu, a paisagem por detrás disto tudo, a paz citadina
Coada através das árvores do jardim público,
Eu, o que os espera a todos em casa,
Eu, o que eles encontram na rua,
Eu, o que eles não sabem de si próprios,
Eu, aquela coisa em que estás pensando e te marca
esse sorriso,
Eu, o contraditório, o fictício, o aranzel, a espuma,
O cartaz posto agora, as ancas da francesa, o olhar
do padre,
O largo onde se encontram as suas ruas e os
chauffeurs dormem contra os carros,
A cicatriz do sargento mal encarado,
O sebo na gola do explicador doente que volta para
casa,
A chávena que era por onde o pequenito que morreu
bebia sempre,
E tem uma falha na asa (e tudo isto cabe num
coração de mãe e enche-o)...
Eu, o ditado de francês da pequenita que mexe nas
ligas,
Eu, os pés que se tocam por baixo do bridge sob o
lustre,
Eu, a carta escondida, o calor do lenço, a sacada
com a janela entreaberta,
O portão de serviço onde a criada fala com os
desejos do primo,
O sacana do José que prometeu vir e não veio
E a gente tinha uma partida para lhe fazer...
Eu, tudo isto, e além disto o resto do mundo...
Tanta coisa, as portas que se abrem, e a razão por
que elas se abrem,
E as coisas que já fizeram as mãos que abrem as
portas...
Eu, a infelicidade-nata de todas as expressões,
A impossibilidade de exprimir todos os sentimentos,
Sem que haja uma lápida no cemitério para o irmão
de ttido isto,
E o que parece não querer dizer nada sempre quer
dizer qualquer cousa...
Sim, eu, o engenheiro naval que sou supersticioso
como uma camponesa madrinha,
E uso monóculo para não parecer igual à idéia real
que faço de mim,
Que levo às vezes três horas a vestir-me e nem por
isso acho isso natural,
Mas acho-o metafísico e se me batem à porta zango-
me,
Não tanto por me interromperem a gravata como
por ficar sabendo que há a vida...
Sim, enfim, eu o destinatário das cartas lacradas,
O baú das iniciais gastas,
A entonação das vozes que nunca ouviremos mais -
Deus guarda isso tudo no Mistério, e às vezes
sentimo-lo
E a vida pesa de repente e faz muito frio mais perto
que o corpo.
A Brígida prima da minha tia,
O general em que elas falavam - general quando
elas eram pequenas,
E a vida era guerra civil a todas as esquinas...
Vive le mélodrame oú Margot a pleuré!
Caem as folhas secas no chão irregularmente,
Mas o fato é que sempre é outono no outono,
E o inverno vem depois fatalmente,
há só um caminho para a vida, que é a vida...
Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu
os românticos,
Esse opúsculo político do tempo das revoluções
constitucionais,
E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a
razão
Nem haja para chorar tudo mais razão que senti-lo.
Viro todos os dias todas as esquinas de todas as
ruas,
E sempre que estou pensando numa coisa, estou
pensando noutra.
Não me subordino senão por atavisnio,
E há sempre razões para emigrar para quem não
está de cama.
Das serrasses de todos os cafés de todas as cidades
Acessíveis à imaginação
Reparo para a vida que passa, sigo-a sem me
mexer,
Pertenço-lhe sem tirar um gesto da algibeira,
Nem tomar nota do que vi para depois fingir que o
vi.
No automóvel amarelo a mulher definitiva de
alguém passa,
Vou ao lado dela sem ela saber.
No trottoir imediato eles encontram-se por um acaso
combinado,
Mas antes de o encontro deles lá estar já eu estava
com eles lá.
Não há maneira de se esquivarem a encontrar-me,
Não há modo de eu não estar em toda a parte.
O meu privilégio é tudo
(Brevetée, Sans Garantie de Dieu, a minh'Alma).
Assisto a tudo e definitivamente.
Não há jóia para mulher que não seja comprada por
mim e para mim,
Não há intenção de estar esperando que não seja
minha de qualquer maneira,
Não há resultado de conversa que não seja meu por
acaso,
Não há toque de sino em Lisboa há trinta anos, noite
de S. Carlos há cinqüenta
Que não seja para mim por uma galantaria deposta.
Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.
Cavalgada explosiva, explodida, como uma bomba
que rebenta,
Cavalgada rebentando para todos os lados ao
mesmo tempo,
Cavalgada por cima do espaço, salto por cima do
tempo,
Galga, cavalo eléctron-íon, sistema solar resumido
Por dentro da ação dos êmbolos, por fora do giro
dos volantes.
Dentro dos êmbolos, tornado velocidade abstrata e
louca,
Ajo a ferro e velocidade, vaivém, loucura, raiva
contida,
Atado ao rasto de todos os volantes giro
assombrosas horas,
E todo o universo range, estraleja e estropia-se em
mim.
Ho-ho-ho-ho-ho!...
Cada vez mais depressa, cada vez mais com o
espírito adiante do corpo
Adiante da própria idéia veloz do corpo projetado,
Com o espírito atrás adiante do corpo, sombra,
chispa,
He-la-ho-ho ... Helahoho ...
Toda a energia é a mesma e toda a natureza é o
mesmo...
A seiva da seiva das árvores é a mesma energia que
mexe
As rodas da locomotiva, as rodas do elétrico, os
volantes dos Diesel,
E um carro puxado a mulas ou a gasolina é puxado
pela mesma coisa.
Raiva panteísta de sentir em mim
formidandamente,
Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos
os meus poros em fumo,
Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma
só divina linha
De si para si, parada a ciciar violências de
velocidade louca...
Ho ----
Ave, salve, viva a unidade veloz de tudo!
Ave, salve, viva a igualdade de tudo em seta!
Ave, salve, viva a grande máquina universo!
Ave, que sois o mesmo, árvores, máquinas, leis!
Ave, que sois o mesmo, vermes, êmbolos, idéias
abstratas,
A mesma seiva vos enche, a mesma seiva vos
torna,
A mesma coisa sois, e o resto é por fora e falso,
O resto, o estático resto que fica nos olhos que
param,
Mas não nos meus nervos motor de explosão a óleos
pesados ou leves,
Não nos meus nervos todas as máquinas, todos os
sistemas de engrenagem,
Nos meus nervos locomotiva, carro elétrico,
automóvel, debulhadora a vapor
Nos meus nervos máquina marítima, Diesel, semi-
Diesel,
Campbell, Nos meus nervos instalação absoluta a
vapor, a gás, a óleo e a eletricidade,
Máquina universal movida por correias de todos os
momentos!
Todas as madrugadas são a madrugada e a vida.
Todas as auroras raiam no mesmo lugar:
Infinito...
Todas as alegrias de ave vêm da mesma garganta,
Todos os estremecimentos de folhas são da mesma
árvore,
E todos os que se levantam cedo para ir trabalhar
Vão da mesma casa para a mesma fábrica por o
mesmo caminho...
Rola, bola grande, formigueiro de consciências,
terra,
Rola, auroreada, entardecida, a prumo sob sóis,
noturna,
Rola no espaço abstrato, na noite mal iluminada
realmente
Rola ...
Sinto na minha cabeça a velocidade de giro da
terra,
E todos os países e todas as pessoas giram dentro
de mim,
Centrífuga ânsia, raiva de ir por os ares até aos
astros
Bate pancadas de encontro ao interior do meu
crânio,
Põe-me alfinetes vendados por toda a consciência do
meu corpo,
Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para
Abstrato,
Para inencontrável, Ali sem restrições nenhumas,
A Meta invisível — todos os pontos onde eu não
estou — e ao mesmo tempo ...
Ah, não estar parado nem a andar,
Não estar deitado nem de pé,
Nem acordado nem a dormir,
Nem aqui nem noutro ponto qualquer,
Resol,,,er a equação desta inquietação prolixa,
Saber onde estar para poder estar em toda a parte,
Saber onde deitar-me para estar passeando por
todas as ruas ...
Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho
Cavalgada alada de mim por cima de todas as
coisas,
Cavalgada estalada de mim por baixo de todas as
coisas,
Cavalgada alada e estalada de mim por causa de
todas as coisas ...
Hup-la por cima das árvores, hup-la por baixo dos
tanques,
Hup-la contra as paredes, hup-la raspando nos
troncos,
Hup-la no ar, hup-la no vento, hup-la, hup-la nas
praias,
Numa velocidade crescente, insistente, violenta,
Hup-la hup-la hup-la hup-la ...
Cavalgada panteísta de mim por dentro de todas as
coisas,
Cavalgada energética por dentro de todas as
energias,
Cavalgada de mim por dentro do carvão que se
queima, da lâmpada que arde,
Clarim claro da manhã ao fundo
Do semicírculo frio do horizonte,
Tênue clarim longínquo como bandeiras incertas
Desfraldadas para além de onde as cores são
visíveis ...
Clarim trêmulo, poeira parada, onde a noite cessa,
Poeira de ouro parada no fundo da visibilidade ...
Carro que chia limpidamente, vapor que apita,
Guindaste que começa a girar no meu ouvido,
Tosse seca, nova do que sai de casa,
Leve arrepio matutino na alegria de viver,
Gargalhada súbita velada pela bruma exterior não
sei como,
Costureira fadada para pior que a manhã que sente,
Operário tísico desfeito para feliz nesta hora
Inevitavelmente vital,
Em que o relevo das coisas é suave, certo e
simpático,
Em que os muros são frescos ao contacto da mão, e
as casas
Abrem aqu; e ali os olhos cortinados a branco...
Toda a madrugada é uma colina que oscila,
...................................................................... e
caminha tudo
Para a hora cheia de luz em que as lojas baixam as
pálpebras
E rumor tráfego carroça comboio eu sinto sol
estruge
Vertigem do meio-dia emoldurada a vertigens —
Sol dos vértices e nos... da minha visão estriada,
Do rodopio parado da minha retentiva seca,
Do abrumado clarão fixo da minha consciência de
viver.
Rumor tráfego carroça comboio carros eu sinto sol
rua,
Aros caixotes trolley loja rua i,itrines saia olhos
Rapidamente calhas carroças caixotes rua atravessar
rua
Passeio lojistas "perdão" rua
Rua a passear por mim a passear pela rua por mim
Tudo espelhos as lojas de cá dentro das lojas de lá
A velocidade dos carros ao contrário nos espelhos
oblíquos das montras,
O chão no ar o sol por baixo dos pés rua regas flores
no cesto rua
O meu passado rua estremece camion rua não me
recordo rua
Eu de cabeça pra baixo no centro da minha
consciência de mim
Rua sem poder encontrar uma sensação só de cada
vez rua
Rua pra trás e pra diante debaixo dos meus pés
Rua em X em Y em Z por dentro dos meus braços
Rua pelo meu monóculo em círculos de
cinematógrafo pequeno,
Caleidoscópio em curvas iriadas nítidas rua.
Bebedeira da rua e de sentir ver ouvir tudo ao
mesmo tempo.
Bater das fontes de estar vindo para cá ao mesmo
tempo que vou para lá.
Comboio parte-te de encontro ao resguardo da linha
de desvio!
Vapor navega direito ao cais e racha-te contra ele!
Automóvel guiado pela loucura de todo o universo
precipita-te
Por todos os precipícios abaixo
E choca-te, trz!, esfrangalha-te no fundo do meu
coração!
À moi, todos os objetos projéteis!
À moi, todos os objetos direções!
À moi, todos os objetos invisíveis de velozes!
Batam-me, trespassem-me, ultrapassem-me!
Sou eu que me bato, que me trespasso, que me
ultrapasso!
A raiva de todos os ímpetos fecha em círculo-mim!
Hela-hoho comboio, automóvel, aeroplano minhas
ânsias,
Velocidade entra por todas as idéias dentro,
Choca de encontro a todos os sonhos e parte-os,
Chamusca todos os ideais humanitários e úteis,
Atropela todos os sentimentos normais, decentes,
concordantes,
Colhe no giro do teu volante vertiginoso e pesado
Os corpos de todas as filosofias, os tropos de todos
os poemas,
Esfrangalha-os e fica só tu, volante abstrato nos
ares,
Senhor supremo da hora européia, metálico a cio.
Vamos, que a cavalgada não tenha fim nem em
Deus!
...............................................................
...............................................................
Dói-me a imaginação não sei como, mas é ela que
dói,
Declina dentro de mim o sol no alto do céu.
Começa a tender a entardecer no azul e nos meus
nervos.
Vamos ó cavalgada, quem mais me consegues
tornar?
Eu que, veloz, voraz, comilão da energia abstrata,
Queria comer, beber, esfolar e arranhar o mundo,
Eu, que só me contentaria com calcar o universo aos
pés,
Calcar, calcar, calcar até não sentir.
Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que
quis,
Que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou.
Cavalgada desmantelada por cima de todos os
cimos,
Cavalgada desarticulada por baixo de todos os
poços,
Cavalgada vôo, cavalgada seta, cavalgada
pensamento-relâmpago,
Cavalgada eu, cavalgada eu, cavalgada o universo —
eu.
Helahoho-o-o-o-o-o-o-o ...
Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação ...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
6- Inverso dos Portos ( Ivan Poli –
Osunfemi Elebuibon – Séc XXI )
Desconheço a realidade da chegada das naus que
aportaram em minhas desilusões.
Conheço sim, o inverso de todos os portos que
estive
E trago comigo as lembranças de todos que não
toquei a alma com a ausência de meus versos
Conheço sim o Reverso e Recôncavo e o Reconvexo
de todas Bahias de minha infância.
Viver a realidade na Cidade Maravilhosa enquanto
outros vem comprar aí seus sonhos.
Oh Bela Macaé , gostaria de ter os olhos da cor de
seu petróleo.
Mas o mar me rouba todas as cores do espírito no
canto de Caymmi e no lamento de Cartola.
Gostaria de viver como os peixes da Guanabara,
mas minha alma pesa demais para tanto.
Tive todos os reversos de Cachoeiro ancestral
E senti seu vento que vinha da terra ao mar
Em Barra vi discos voadores e me curei na areia da
morte de suas águas vivas.
Senti o som dos tambores do Bataclan de Gabriela
em Ilhéus e nunca mais me foi permitido produzir tal
som novamente.
Na Bahia do Recôncavo , conheci o Reverso de seu
Reconvexo do ― Vento do Saara da Caatinga que
sopra sobre todas Algiers do Mundo‖
Oh grande miséria humana que me faz esquecer dos
átimos de felicidade dos momentos d´alma...
Quero lembrar dos Reversos de Um porto
E ― de um parto ― que a masculinidade me negou.
Ainda sinto o calor de Feira de Santana em meu
chapéu panamá e a areia de Petrolina do Porto do
Velho Chico ainda suja meu terno de linho.
Guardei toda água de minha vida no açude Orós , e
a seca Levou , o rio se transpôs e as esperanças se
foram , em mais um reverso.
Por fim cheguei a Fortaleza de minha infância e ai
esqueci que existia, apenas vivendo por viver as
tristezas de meus pais.
Mangues Secos de Recife e Alagoas me trazem a
memória as horas que não passam jamais.
Ainda não aprendi a ser Humano , mesmo cem anos
depois.....
7 - Todas as Cartas de Amor são
Ridículas ( Fernando Pessoa , séc XX)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Álvaro de Campos, in "Poemas"
8- Cartas aos amores impossíveis
dos Orientes...( Ivan Poli –
Osunfemi Elebuibon – Séc XXI).
Ainda sinto as presenças de meus amores
impossíveis
Das cartas que mandei para os Orientes.
Imagens de areia que ao luar prateado
Espelham meus antigos sonhos.
Talvez as lágrimas de minhas desilusões
Tenham selado todas estas cartas.
Ridículas, como diz o Poeta,
E ainda mais ridículas por que além de
Haver amor
Este em si era impossível.
Jamais te tocarei Vaishali,
Mas será para sempre a Esposa de minh´alma
E fez de mim um filho de Pandu
Com seu juramento a Sita.
Talvez tenha selado suas cartas
A todos seus amantes
Com as águas do Ganges
Para que não descubram sua origem.
Bahare,
Estará sempre em minh´alma
De Alexandre o Grande o Conquistador,
Que pereceu sob o Sol da Pérsia...
Aliás sentir me ridículo nunca me deixou tão feliz
Em saber que as lágrimas com as quais selei
Minhas cartas a ti
Hoje irrigam o Jardim de Shihaz
Da Poesia de Attar e Hafez
Seus vales da Eternidade
Até a essência da Existência
Perdida no Monte Káf.
Tão impossível quanto os meus amores mesmo mais
puros aos Orientes...
Daquelas que nunca foram minhas pretendentes
Mas invadem meus desejos ao reverso de um
juramento.
Alice,
Etterna Ed Única mia.
Será minha Rosa como a do Romance,
E teu nome é a única coisa possível que pronuncio
Em meu contato com o mundo destes seres
superiores
Que são as mulheres.
Ridículo sim como todas as cartas de amor do poeta,
E ainda mais por escrever com meu próprio suor,
sangue e lágrimas
Cartas de amores impossíveis...
De sentimentos ainda mais profundos e esdrúxulos.
Inscritos na Eternidade de minha anônima
existência.
Adeus amores....
Nas esquinas do Tempo dos Orientes
Teremos nossas cartas ...
Mas não a nós mesmos...
Adeus ....
9 – Tabacaria ( Fernando Pessoa ,
séc XX)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do
mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que
ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada
constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa,
desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e
dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos
brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela
estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este
lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma
partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de
ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e
esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real
por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real
por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse
nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-
de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não
pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios
como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas
futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com
tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo
ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos
sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos
de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo,
ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais
humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant
escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a
porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o
cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não
venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar
da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão
chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a
confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade
com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de
folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo
sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das
coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso
consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse
viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e
nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e
longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar
que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos
invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez
absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que
passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao
degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não
ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a
mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem
amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso
sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a
quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto
remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não
desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não
tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou
sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu
fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de
defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia
nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à
porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os
versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a
tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se
deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer
coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo
por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono
de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma
coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar
tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de
mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o
contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os
pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma
consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei
fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na
algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e
viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o
universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o
dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
10 – Drogaria ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon
séc XXI )
―Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do
mundo.‖
Não é pra menos , pois tomo Rivotril,
Doutor Aderbal , libere meu Gardenal que estou
Passando mal...
Ode á loucura psiquiátrica
Diálogos Bipolares com a esquizofrenia.
Só isso nos restou do pós moderno
Pessoa nem imaginaria 100 anos depois
no que se transformou sua Tabacaria.
Psiquiatras do mundo!
Liberem o Haldol aos esquizofrênicos
A Risperidona aos Bipolares,
As Sertralinas para a ansiedade das Meninas
A Fluoxetina as depressivas Meninas....
Doutor Aderbal , preciso do meu Gardenal...
Mal do século XXI
Neuróticos Anônimos
Alcoolizados do sonho.
Deixem nos ser ― Brilhantes Poetas Felizes
Anônimos‖ já que o século é de ― Subcelebridades
acéfalas Ilustres‖
― Você veio para o departamento de ―álcool e
drogas‖ meu jovem ?
- Não doutor , me receite Viagra pois o
departamento Sexo Bossa Nova e Rock´n Roll já me
basta...
- Estou apenas conversando com minha própria
esquizofrenia .... Diálogos com a síndrome de
ansiedade....
Não agüento mais esperar que este século acorde .
Já que o ano dois mil parece ter tomado
mais de mil gotas de Rivotril
E desde então o Tempo dormiu
Doutor Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal
Preciso continuar com todos os sonhos do mundo
Apesar do que diz a TV e suas mentiras e novelas
Politicamente corretas e ilusórias
Na pós Modernidade.
Doutor Aderbal , cadê meu Gardenal ??? você
prometeu
Aqui está a receita...
Não aceito nada menos que um Diazepam
Em troca dos inúteis livros de auto ajuda
e toda sua vã filosofia que está entre o céu
e a terra desde o ultimo amigo oculto
que os ganhei!!!
Sertalina nele doutor , muita ansiedade !!!
Doutor Aderbal , meu Gardenal!!!
Dane-se sua disritmia ...
Quero apenas brigar com o mundo da
esquizofrenia!!!
È apenas o mal do século...
Vivam os Psiquiatras da Poesia!
― Ò Farmaco-dependentes sub alimentados do
sonho.
A Poesia do século é uma pomada de uso tópico‖
Mas também pode ser um supositório!!!
Mas não é mais para comer,
Cem anos intragáveis
na qual a Poesia
È pra se sentir na pele
ou por dentro de nós....
Façam dieta ,pois o remédio tem efeitos colaterais
Mal do Século em comprimidos azuis.
Apenas vendendo sonhos do mundo em drágeas
para
A Pós modernidade!!!
Desmacunaimidade !!!
Assumamo-nos Negros
e Sararemos não mais sendo Sararás
em Surubas Intelectuais...
e Saraus de Versos Ideais ....
Uso Oral !!! sexo verbal!!!
Doutor Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal!!!
( Ivan Poli - Osunfemi Elebuibon - livro " Eu em
Pessoa") ―Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do
mundo.‖
Não é pra menos , pois tomo Rivotril,
Doutor Aderbal , libere meu Gardenal que estou
Passando mal...
Ode á loucura psiquiátrica
Diálogos Bipolares com a esquizofrenia.
Só isso nos restou do pós moderno
Pessoa nem imaginaria em sua Tabacaria.
Psiquiatras do mundo!
Liberem o Haldol aos esquizofrênicos
A Risperidona aos Bipolares,
A Sertalina aos ansiosos
A Fluoxetina aos depressivos
Doutor Aderbal , preciso do meu Gardenal...
Mal do século XXI
Neuróticos Anônimos
Alcoolizados do sonho.
Deixem nos ser ― Brilhantes Poetas Felizes
Anônimos‖ já que o século é de ― Subcelebridades
acéfalas Ilustres‖
― Você veio para o departamento de ―álcool e
drogas‖ meu jovem ?
- Não doutor , me receite Viagra pois quero o
departamento Sexo e Rock´n Roll...
- Estou apenas conversando com minha própria
esquizofrenia .... Diálogos com a síndrome de
ansiedade....
Não agüento mais esperar que este século acorde .
Doutor Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal
Preciso continuar com todos os sonhos do mundo
Apesar do que diz a TV e suas mentiras e novelas
Politicamente corretas e ilusórias
Na pós Modernidade.
Aderbal , cadê meu Gardenal ??? você prometeu
Aqui está a receita...
O que não aceito nada menos que um Diazepam
Sertalina nele doutor , muita ansiedade !!!
Doutor Aderbal , meu Gardenal!!!
Dane-se sua disritmia ...
È apenas o mal do século...
Vivam os Psiquiatras da Poesia!
― Ò Farmaco-dependentes sub alimentados do
sonho.
A Poesia é uma pomada de uso tópico‖
Mas também pode ser um supositório!!!
Mas não é mais para comer,
Façam dieta ,pois o remédio tem efeitos colaterais
Mal do Século em comprimidos azuis.
Apenas vendendo sonhos do mundo para
A Pós modernidade!!! Uso Oral !!! sexo verbal!!!
Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal!!!
11- Navegar é preciso ( Fernando Pessoa – séc XX)
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la
penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a
(minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu
sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e
contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa
Raça.
12- Viver é preciso ( Ivan Poli – Osunfemi
Elebuibon séc XXI )
Apenas naveguei até hoje
Por mares além da Costa de Calabar
E já cruzei inúmeras vezes o cabo das Tormentas
Mas ainda não vivi a vida que me foi destinada
Apenas tive olhos de sonho
Em realidades que não são minhas.
E lutas que me apoderei.
Hoje quero viver o desafio
De acordar os dias e os séculos
E assim servir a Humanidade
Na grandeza da Pátria em formação.
Viver cada sonho de menino
Que brincava nas ruas de minha paróquia.
Navegar é preciso
Pois alimento-me de sonhos e amores impossíveis
Por juramento a minha ancestral
Contudo quero viver a Glória
De ver a Humanidade despertar
Ao som de sua própria poesia mística e laica
―Esta é a forma que em mim retomou o misticismo
de minha Raça tropical ―
13- O Tejo é mais belo que o rio que
corre pela minha aldeia ( Fernando
Pessoa – Séc XX )
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha
aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela
minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha
aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
14- Amaralina é a Ùnica Praia de minha Vida. (
Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon – Séc XXI ) .
Caribe, Calibre Amor...
Nada disso existe em Amaralina
Nem tampouco ai esteve a Garota de Ipanema
Ou aportaram naus lusas.
De valentes desbravadores,
E sua ânsia Por riquezas...
Não nada disso esteve em Amaralina...
Nem coqueiros aí existem.
Ou águas translúcidas....
Em Amaralina no máximo existiram
Piratas Perdidos.
Meninos sem pais
Mas não os Capitães de Areia.
Mas em minha vida Amaralina é a praia única
De minha infância
Onde catava conchas e algas
Que não me faziam ilustres....
Contudo nunca perguntei....
- Qual o mistério que há para além da arrebentação
dos Recifes que não existem em minha eterna
Amaralina ?
15 - Para ser grande, sê inteiro: nada – Fernando
Pessoa – Séc XX.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
16 – Ser tudo – ( Osunfemi Elebuibon – Ivan Poli –
Sec XXI)
Não sei o que é ser Tudo
Apenas o sou ,
Este Universo Mutante em Movimento.
Em eterna incompletude,
E isto já me faz inteiro
Pois tenho o brilho dos olhos que me vêem
Em minha própria alma.
17- Há metafísica bastante em não pensar em
nada.(Fernando Pessoa - Séc XX )
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
«Constituição íntima das coisas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
18- Há idiotia bastante em não pensar em nada (
Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon )
Hoje o programa feminino da tarde
Me fez não pensar em nada
E nada além do Horóscopo
Como metafísica
Ora, será que ele me conhece ?
Vi uma eliminação em outro programa e não pensei em nada
Enquanto sou ludibriado
Enganado
Assaltado
Pelo poder vigente,
Assisti já muita novela em minha vida ,
E fiquei muito tempo sem pensar em nada
Além da vida e destino dos personagens
E isto só me imbecilizou,
Pois só segui a piratas da Arte...
E não a seus reis....
O Sol esteve sempre ai ,
Enquanto isso
O Mar esteve sempre ai ,
Enquanto isso
A Lua esteve sempre ai
Enquanto isso....
E minhas ânsias e sonhos também estiveram sempre ai
E nunca pensei neles
Esperando a metafísica
Do não pensar em nada...
Podia não ter pensado em nada a partir deles.
Podia não ter pensado em nada pensando em mim
Perdi o inicio do século ,
Em letargia como ele
E não pensei em nada
Como queriam os poetas
Canastrões da pós modernidade
Enquanto isso levaram todo meu ouro
E meus cortes de seda
Para cobrir corpos de sub-celebridades
De mentes nuas e vazias.
Hoje ainda não penso em nada de vez em quando,
Mas sempre me arrependo...
Ao saber que apenas fui e sou mais um idiota..
Para os senhores da metafísica pós moderna.
Tempos perigosos...
Nos quais seqüestraram a fantasia
E a imaginação...
19 - «Olá, guardador de rebanhos, (Fernando Pessoa ,
séc XX )
«Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?»
«Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?»
«Muita coisa mais do que isso,
Fala-me de muitas outras coisas.
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram.»
«Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.»
20 - «Olá, Guardador de Sonhos ( Ivan Poli – Osunfemi
Elebuibon Séc XXI )
Ò Tu mesma
Minha consciência que guarda meus sonhos
E meus segredos
A beira da estrada dos tempos
De minhas ilusões e desilusões
Ao que o tempo te diz?
O tempo que passou
O tempo que passará?
Que surpresas e mentiras me esconderá ainda?
Quem és tu ?
Se és , és de verdade ?
― Nunca ouviste passar o tempo.
O tempo só fala do Tempo .
O que lhe ouviste é o mistério,
E o mistério está em mim‖

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Eu em Pessoa- Meu encontro com a Poesia de Fernando Pessoa

  • 1. EU EM PESSOA MEU ENCONTRO COM A POESIA DE FERNANDO PESSOA 100 ANOS DEPOIS ( Renascimento Latino-Americano e Europeu ) Ivan Poli ( Osunfemi Elebuibon)
  • 4.
  • 5. INTRODUÇÃO. Falar em Fernando Pessoa, de pessoa para pessoa atravessando os séculos de sua atemporalidade magnífica, e encontrar em si mesmo os ecos de sua poesia.... Talvez este seja o objetivo principal desta obra .. O encontro de minha própria personalidade de autor do século XXI dentro do contexto dos Renascimentos Culturais do Sul e seus desdobramentos dentro destes Renascimentos com os heterônimos de Pessoa. Bem para entender melhor trago novamente um texto de outra obra que Explica bem o momento que estamos. Este livro é um elogio ao atual Renascimento Cultural Latino Americano e Europeu do Século XXI que ocorre 100 anos depois do advento da poesia de Pessoa e da Revolução Russa de 1917. Sabemos que os poetas e artistas tiveram grande relevância nas transformações do início do século XX como em 1917 na Rússia e Mayakovsky, por exemplo, era tido como o próprio poeta da Revolução. Bem segundo diz Marx , ― A Violência é filha da Revolução ― e assim foi na Revolução Russa, Cubana e tantas outras pelo século XX e mesmo antes,
  • 6. contudo Gandhi provou que isso não era uma regra, assim como Martin Luther King e Mandela com suas Revoluções mais baseadas em Thoreau e no Ensaio sobre a Desobediência Civil, no caso de Gandhi com Não Violência de forma marcante pelo seu Ahimsa e Satiagraha seus pulmões Revolucionários. Contudo como afirmo , ― Se não podemos ter a Violência como filha da Revolução como uma regra, não podemos negar que a Poesia é a Mãe de Todas as Revoluções, Poesia esta que é capaz de conquistar o coração de uma mulher , somente esta pode ser a Mãe de uma Revolução qualquer‖ O que digo é que na origem de toda revolução vem a questão ideológica e cultural que lhe dá a base, No caso do Renascimento Hindu tivemos Ramakrishna e Vivekananda na Filosofia, Rabindranath Tagore na Literatura, e o Braço político foi Gandhi ... No caso da África do Sul tivemos Miriam Makeba, no caso de Cuba tivemos Silvio Rodriguez como cantor da Revolução, Na China se fala em Revolução Cultural propriamente dita e mesmo nos movimentos retrógrados como o Fascismo e o Nazismo começam como uma construção cultural antes de tudo....O Movimento Modernista vem como um movimento transformador e no caso da Revolução Russa temos Mayakovsky como seu poeta da Revolução principal de 1917.
  • 7. Bem falando em Sociologia e Antropologia e citando estes movimentos todos podemos nos remeter a obra de Georges Balandier que muito a grosso modo demonstra que tanto as sociedades tradicionais quanto modernas transitam entre ordem e desordem e que nos momentos de desordem esta humanidade costuma responder de três formas - Resposta totalitária . - Resposta Religiosa - Resposta pelo Movimento. No início do Século XX vivíamos sob o jugo de uma desordem assim como passamos a viver no início do século XXI com a crise do capitalismo neoliberal em 2008 . No início século XX a resposta totalitária a esta desordem foram o fascismo e o nazismo. Houve a resposta religiosa com a adesão da igreja católica em alinhamento com estas respostas totalitárias E assim como houve também a resposta pelo movimento no Modernismo ( de autores como Mayakovsky , Pessoa, Brecht e tantos outros artistas alemães da República de Weimar , Bréton , que veio ter resultados depois que se esgotou a resposta totalitária-religiosa e rege ainda nosso comportamento nos dias atuais) No século XXI depois de 2008 e a desordem que se engendra com a crise do neoliberalismo e a Ordem Mundial Unipolar temos tanto no Brasil quanto no mundo as três respostas e que são :
  • 8. - Resposta Totalitária – Extrema Direita e Neofascismo e Conservadorismo em ascensão em todo mundo. - Resposta Religiosa – Onda Neopentecostal na África e América Latina e Extremismo Religioso em diversas vertentes em todo mundo. Sendo que as duas estão como no século XX , alinhadas , como temos o exemplo de nossa bancada evangélica no Brasil e em diversos países na América Latina promovendo retrocessos em detrimento da Laicidade de nossos Estados Nacionais. - Resposta pelo Movimento – A construção simbólica dos Renascimentos Culturais do Sul ( Africano, Oriente Médio, Russo, Hindu , Chinês, Latino- Americano do qual sou um autor de todos eles ) que trabalha no plano simbólico igualmente no alinhamento econômico do Sul e portanto na Consolidação da Ordem Mundial Multipolar que começa a se configurar com tal fato Contudo precisamos construir estes Renascimentos de forma a furar o bloqueio da cultura Mainstream ainda mantidas pelos interesses da ordem econômica e política anterior que entrou em desordem e mostra seus sinais de esgotamento para que possamos, a partir da construção simbólica de Nossos Renascimentos culturais e alinhamento econômico do sul , transformar relações de hegemonia cultural e assim consolidar esta Resposta pelo Movimento a partir do esgotamento das
  • 9. respostas totalitária e religiosa que ainda vivemos neste Momento. Talvez a música que mais sintetize estes Renascimentos e que elejo como representante de tais é a Música Um Indio de Caetano Veloso Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante( Renascimento Russo ) De uma estrela que virá numa velocidade estonteante E pousará no coração do hemisfério sul Na América, num claro instante Depois de exterminada a última nação indígena E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias Virá Impávido que nem Muhammad Ali( Renascimento do Oriente Médio ) Virá que eu vi Apaixonadamente como Peri( Renascimento Latino- Americano ) Virá que eu vi Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee( Renascimento Chinês e Extremo Oriente ) Virá que eu vi O axé do afoxé Filhos de Gandhi( Renascimentos Africano e Hindu do Século XXI ) Virá Um índio preservado em pleno corpo físico Em todo sólido, todo gás e todo líquido
  • 10. Em átomos, palavras, alma, cor Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico Do objeto-sim resplandecente descerá o índio E as coisas que eu sei que ele dirá, fará Não sei dizer assim de um modo explícito Virá Impávido que nem Muhammad Ali Virá que eu vi Apaixonadamente como Peri Virá que eu vi Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee Virá que eu vi O axé do afoxé Filhos de Gandhi Virá E aquilo que nesse momento se revelará aos povos Surpreenderá a todos não por ser exótico Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto Quando terá sido o óbvio. Portanto neste livro escrevo crônicas e poemas meus inspirado no gênero de Fernando Pessoa e dou sequencia a alguns de seus poemas tal qual a um desafio de repentistas nordestinos, valorizando a nossa oralidade no encontro do Renascimento Africano e Latino Americano que também sou autor no encontro com o Renascimento Europeu ... Fazendo repentes centenários que nos digam algo a nossa atualidade no Sul sobretudo.
  • 11. Bem falando na Resposta pelo Movimento que os Renascimentos do Sul ( como o Latino Americano ) representam, não posso deixar de citar aqui o Poema de Pessoa de 1917 ( ano da Revolução Russa ) e a Musica de Macalé ( do século XX ) brilhantemente interpretadas por Maria Bethania em um de seus shows para falar deste momento de desordem que passamos igualmente cem anos depois, para que nos inspiremos igualmente a reconstruirmos esta Resposta pelo Movimento pelos Renascimentos do Sul. Bem , deixo bem claro que sou da Juba Socialista, contudo neste momento como em 1917 todo cenário político e econômico necessita de reformas e precisamos furar o bloqueio das produções culturais alienantes Mainstream e fazer nossas ― Obras do Front ― assim como a heroína Dione Carlos fez seus ― Dramaturgias do Front ― e disse que devemos nos vingar e fazer sempre algo maior que nós mesmos ( Que é o que tento também em minha obra ), pois somente assim mudaremos relações de hegemonia cultural para que uma Nova Ordem Política e Econômica Mundial se Estabeleça de forma que seja mais inclusiva, distribuidora de renda e menos opressiva que a atual que se iniciou com o Consenso de Washington , pai do Neoliberalismo em 1991. Com vocês há cem anos o Atualíssimo Álvaro de Campos ( Fernando Pessoa 1917 ) e Jards Macalè ( anos 60 século XX) para que se inspirem de forma a sentir imagens e sensações assim como a Literatura
  • 12. Oral Africana dos Orikis Yorubanos que trato em minha primeira Obra sobre Renascimento Africano ( Antropologia dos Orixás ) ULTIMATUM ( FERNANDO PESSOA- SÉC XX- 1917) Mandato de despejo aos mandarins do mundo Fora tu, reles esnobe plebeu E fora tu, imperialista das sucatas Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro Ultimatum a todos eles E a todos que sejam como eles Todos! Monte de tijolos com pretensões a casa Inútil luxo, megalomania triunfante
  • 13. E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral Que nem te queria descobrir Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular Que confundis tudo Vós, anarquistas deveras sinceros Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores Para quererem deixar de trabalhar Sim, todos vós que representais o mundo Homens altos Passai por baixo do meu desprezo Passai aristocratas de tanga de ouro Passai Frouxos Passai radicais do pouco Quem acredita neles?
  • 14. Mandem tudo isso para casa Descascar batatas simbólicas Fechem-me tudo isso a chave E deitem a chave fora Sufoco de ter só isso a minha volta Deixem-me respirar Abram todas as janelas Abram mais janelas Do que todas as janelas que há no mundo Nenhuma idéia grande Nenhuma corrente política Que soe a uma idéia grão E o mundo quer a inteligência nova A sensibilidade nova
  • 15. O mundo tem sede de que se crie Porque aí está apodrecer a vida Quando muito é estrume para o futuro O que aí está não pode durar Porque não é nada Eu da raça dos navegadores Afirmo que não pode durar Eu da raça dos descobridores Desprezo o que seja menos Que descobrir um novo mundo Proclamo isso bem alto Braços erguidos Fitando o Atlântico E saudando abstractamente o infinito.‖
  • 16. Álvaro de Campos, em 1917 MOVIMENTO DOS BARCOS Jards Macalé Tô cansado E você também Vou sair sem abrir a porta E não voltar nunca mais Desculpe a paz que eu lhe roubei E o futuro esperado que eu não dei É impossível levar um barco sem temporais E suportar a vida como um momento além do cais Que passa ao largo Do nosso corpo
  • 17. Não quero ficar dando adeus Às coisas passando, eu quero É passar com elas, eu quero E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro E a marca de um abraço no seu corpo Não, não sou eu quem vai ficar no porto chorando, não Lamentando o eterno movimento Movimento dos barcos, movimento. ― Dessa forma sejamos todos agentes culturais como os poetas das Revoluções neste momento de transformação e em todos momentos de todas Revoluções do Mundo no Passado , presente e futuro também dedico esta Obra. ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon ) O modernismo de Maiakovski, Mario de Andrade, Oswald de Andrade ( de outras obras ) e Pessoa representou uma resposta pelo movimento á desordem que se estabeleceu no início do século XX,
  • 18. em contraponto às respostas totalitárias que representaram os regimes fascista e nazista e religiosa que foi o apoio da Igreja Católica a estes movimentos. No Século XXI com a crise da Ordem Neoliberal e do modo de produção da sociedade pós moderna e a Nova Ordem Mundial Multipolar que se começa a desenhar em um movimento que pede descolonização e alinhamento econômico do Sul sobretudo assim como Renascimento de uma nova Ordem na Europa ( que também exige um Renascimento Cultural que dialogue com os do Sul para que não fique para trás no trem da História da Nova Ordem Mundial Multipolar ). Vivemos hoje as respostas totalitária e religiosa às desordens causadas pela falência eminente do sistema do capitalismo neoliberal e seu sistema econômico assim como sua Ordem Mundial Unipolar. No Brasil e no mundo as ondas neofascistas e de fundamentalismo religioso que tem efeitos em nossa representação política trazem retrocessos em um momento em que se busca uma nova realidade. Portanto necessitamos neste momento de desordem do início do letárgico século XXI que não acordou ainda dar esta resposta pelo Movimento que foi o
  • 19. Modernismo de autores como Pessoa no século XX que preparou o campo cultural para o advento de uma nova ordem econômica e social que adveio após o esgotamento das respostas pelo totalitarismo que representaram os modelos fascista e nazista. Toda transformação social conforme falamos começa no campo cultural e lembrando bem de um personagem que também é do Renascimento Africano ( Africa na qual bebeu na fonte , o modernismo de Pessoa ) Exu (Legba) , o transgressor das sociedades fon e yorubá representa igualmente a partir de suas transgressões aos padrões sociais estabelecidos ( como promoveu no plano estético o modernismo de Pessoa ) este agente transformador da resposta pelo movimento que afronta os padrões vigentes e mexe nas estruturas. Segundo falo no Paidéia Negra, minha terceira obra sobre Renascimento Africano, Exu inspirou as mulheres ( transgressoras por Natureza ) a transgredir a ordem masculina que determinava que os excedentes de produções de outros clãs e linhagens só poderiam ser obtidos através e conflitos armados ( guerras como até hoje a ordem patriarcal faz em nome destes excedentes de produção
  • 20. sobretudo de commodities energéticas ) e as fez irem as picadas com os excedentes de produção para trocar com outras mulheres de outros clãs e linhagens motivadas pelo fato de não verem seus filhos voltando destas guerras por trocas de excedentes de produção. A partir daí cria-se a moeda na região ( os búzios) , estabelecem- se praças e inicia – se o Mercado ( bem lembrando que pela ordem matriarcal, motivado pelo instinto maternal de levar excedentes de produção aos locais mais distantes para evitar que a civilização se dizimasse e não pelo lucro como uma finalidade em si mesma como temos idéia do mercado financeiro hoje , o que legitimaria em nosso país toda uma ordem micro-econômica que baseada na regra matriarcal guiaria nossas diretrizes macro- econômicas ) . Com o mercado vem a urbanização e o código das mães e mulheres do Mercado em levar pelas cidades junto com seus filhos os excedentes de produção das regiões para que ali se estabelecesse o desenvolvimento e a urbanização e se evitassem assim guerras devido a excedentes de produção conforme fala a ordem patriarcal.... Portanto assim a partir das transgressões dos códigos que se iniciam em uma ordem cultural foi dada a resposta pelo
  • 21. Movimento na Africa Ocidental que em contraponto a ordem totalitária do patriarcado, levaram a civilização a um outro patamar , salvando-a da destruição, sem nenhum ato violento.... Lembro que tudo isso começa pelo código cultural das mães da terra e sua construção que levou a todo resto baseado nas transgressões de Exu. Transgredir e Responder ao conservadorismo fascista pelo Movimento , esta como a de Pessoa é minha regra nesta obra na qual farei repentes tal qual repentistas nordestinos e complementos a poesia de Pessoa em locais onde os Renascimentos do Sul e Europeu se encontrem renovando esperanças através do encontro de séculos entre os versos atemporais de Pessoa e os meus de contemporâneo do século XXI e da Nova Ordem Mundial Multipolar e dos Renascimentos do Sul e Europeu , assim como fiz na obra sobre Maiakovski referente ao Renascimento Russo em encontro com o Latino-Americano. Boa Viagem imagética e sensorial
  • 22. Ivan Poli ( Osunfemi Elebuibon ) – Autor dos Renascimentos do Sul.
  • 23. 1 – POEMA DO MENINO JESUS ( FERNANDO PESSOA SÉC XX) Num meio-dia de fim de primavera eu tive um sonho como uma fotografia: eu vi Jesus Cristo descer à Terra. Ele veio pela encosta de um monte, mas era outra vez menino, a correr e a rolar-se pela erva A arrancar flores para deitar fora, e a rir de modo a ouvir-se de longe. Ele tinha fugido do céu. Era nosso demais pra fingir- se de Segunda pessoa da Trindade. Um dia que DEUS estava dormindo e o Espírito Santo andava a voar, Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três. Com o primeiro Ele fez com que ninguém soubesse que Ele tinha fugido; com o segundo Ele se criou eternamente humano e menino; e com o terceiro Ele criou um Cristo eternamente na cruz e deixou-o pregado na cruz que há no céu e serve de modelo às outras. Depois Ele fugiu para o Sol e desceu pelo primeiro raio que apanhou.
  • 24. Hoje Ele vive na minha aldeia, comigo. É uma criança bonita, de riso natural. Limpa o nariz com o braço direito, chapinha nas poças d’água, colhe as flores, gosta delas, esquece. Atira pedras aos burros, colhe as frutas nos pomares, e foge a chorar e a gritar dos cães. Só porque sabe que elas não gostam, e toda gente acha graça, Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça e levanta-lhes a saia. A mim, Ele me ensinou tudo. Ele me ensinou a olhar para as coisas. Ele me aponta todas as cores que há nas flores e me mostra como as pedras são engraçadas quando a gente as tem na mão e olha devagar para elas. Damo-nos tão bem um com o outro na companhia de tudo que nunca pensamos um no outro. Vivemos juntos os dois com um acordo íntimo, como a mão direita e a esquerda. Ao anoitecer nós brincamos as cinco pedrinhas no degrau da porta de casa. Graves, como convém a um DEUS e a um poeta. Como se cada pedra fosse todo o Universo e fosse por isso um perigo muito grande deixá-la cair no chão.
  • 25. Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens. E Ele sorri, porque tudo é incrível. Ele ri dos reis e dos que não são reis. E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios. Depois Ele adormece e eu o levo no colo para dentro da minha casa, deito-o na minha cama, despindo-o lentamente, como seguindo um ritual todo humano e todo materno até Ele estar nu. Ele dorme dentro da minha alma. Às vezes Ele acorda de noite, brinca com meus sonhos. Vira uns de pena pro ar, põe uns por cima dos outros, e bate palmas, sozinho, sorrindo para os meus sonhos. Quando eu morrer, Filhinho, seja eu a criança, o mais pequeno, pega-me Tu ao colo, leva-me para dentro a Tua casa. Deita-me na tua cama. Despe o meu ser, cansado e humano. Conta-me histórias caso eu acorde para eu tornar a adormecer, e dá-me sonhos Teus para eu brincar.
  • 26. 2 – JOVEM MENINO JESUS – Ivan Poli ( Osunfemi Elebuibon – séc XXI ) Na primeira juventude ao sairmos escondido das beatas que louvavam sua divina imagem, para as festas ciganas o menino se apaixona pela vida. Apaixonado pelos sonhos dos homens que lhe levariam um dia à própria Paixão, respondia ao som dos ventos que lhes contavam estes sonhos. Respondia em silêncio, através dos olhos das almas que lhe louvavam na busca destes sonhos. Amava a dança e os movimentos das saias daquelas mulheres ciganas que dançavam faziam lhe lembrar o curso do Universo. Percebia este Universo em cada homem o que lhe fazia se encantar cada vez mais com a vida e as possibilidades de felicidade mundanas dos homens. Os barulhos das alegrias dos corações humanos lhe povoavam a mente como breves pensamentos que ao que abrirem se em um sorriso fronte o despertar do dia esta era sua voz em seu diálogo diário com o Sol dos Pagãos. Algumas vezes ficava triste com as paixões humanas e o ódio que aqueles sedentos de poder sentem dos mais fracos. Tão triste que vertiam lhe lágrimas dos olhos que se uniam ao curso do Atlântico, que não
  • 27. era o mesmo Atlântico que banhava o porto de suas ilusões, mas sim o dos descobridores que o desbravaram muitas vezes embriagados por estas mesmas paixões. Sentia de perto pulsar do coração das mulheres como um canto de hostes divinas e achava incrível o dom da maternidade e cantava louvores aquelas filhas de Santa Sara Kali que cuidavam de seus rebentos pela maravilha de serem mães da Terra, que mesmo como Deus, este era um privilégio que lhe tinha sido negado. Púbere, seduziu as míticas sereias que iludiam os homens a partir de suas próprias ilusões, pois amava os sonhos de todos os seres e foi o marido de todas elas para a eternidade com seus votos de eterna luxúria da alma que era a poesia presente no amor dos seres da qual se alimentava. Em tais festas, ébrio de amor pela Humanidade, peregrinou dentro dos medos e receios dos homens pelos caminhos do Mundo, e se tornou filho dos Orientes mais exóticos em busca de respostas que já tinha. Enfrentou no caminho nos desertos das almas dos homens, o maior de todos os demônios, que era o seu próprio Ego de filho de Deus com quem lutou em batalha épica.
  • 28. Desbravou caminhos desconhecidos e carregou o fardo dos sofrimentos de todos os homens e livrou lhes todos da culpa divina que sentiam pelo o que na verdade não tinham feito e eram na verdade inocentes. Enamorou-se de toda Humanidade, e todos os homens foram seus irmãos e as mulheres suas mais veneradas esposas. Seu desejo conversava e falava a língua das utopias dos Homens e se realizava a cada oprimido que se liberava da opressão. Um dia pega naquele primeiro raio de sol no Oriente o caminho de volta a sua aldeia que fica em todos os lugares do mundo às margens de todos os oceanos e ao pé de todas as montanhas na beira de todos os vales dos rios que sustentam todas as civilizações. Era dia de festa como aquela das ciganas de sua juventude, e todos comemoram retorno daquele que saiu na busca da maior verdade, ainda quase menino. Neste momento toda humanidade que estava presente nesta festa se embriaga com o vinho em uma verdadeira comunhão de todos os povos, ao que diz o jovem: - Este vinho (que os homens se embriagam na comunhão entre os povos) será meu sangue.
  • 29. Daí em diante, inspirados pelas suas diversas Utopias, os homens compartilharam nesta festa eterna daquele pão que nunca mais faltou em suas mesas, ao que o jovem diz: - Este pão (filho da utopia dos homens que não mais lhes faltará à mesa) é meu corpo. Ao fim da Festa o jovem mergulha no reflexo da lua nas águas da eternidade dos sonhos humanos entoando o hino de Aruanda dos pretos Velhos para seguir sua Paixão e seu Destino em nome da Humanidade. Desde então não fora mais visto sozinho, pois vive agora para sempre nos sonhos de todos os homens.( Osunfemi Elebuibon – Ivan Poli – 2016 ) 3- PRECE ( FERNANDO PESSOA – SÉC XX) SENHOR, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte! O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu. Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também. Onde nada está tu habitas e onde tudo está – (o teu templo) – eis o teu corpo. Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá- me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome. Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos
  • 30. meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai. […] Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar. Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te. Senhor, protege-me e ampara-me. Dá-me que eu me sinta teu. Senhor, livra-me de mim. 4- Elogio a Laicidade através dos Tempos ( Oração da Igreja Secular do Reino da Humanidade ) – Ivan Poli ( Osunfemi Elebuibon – Séc XXI ) Senhor, Hoje não te pedirei pelos santos, Nem tampouco pelos castos e fiéis, Nem te agradecerei por todos os milagres que não tenho dúvida que fizestes em minha vida Nem por toda felicidade que me possibilitou ter no caminho que me conduziu.
  • 31. Não te pedirei fé, nem inspiração nos que creram em ti. Te pedirei que abençoe sim, aqueles que duvidaram de ti , Quando homens matavam em teu nome, Quando homens promoviam o caos social em teu nome, Quando homens exploravam uns aos outros por sua boa fé, em teu nome, Quando homens deixaram de se ver como filhos de uma mesma Humanidade em teu nome. Peço que abençoe àqueles que duvidaram de tudo isso Que através do Progresso Intelectual revolucionaram e combateram dogmas que destruíam esta Humanidade. Que através de sua crença na Utopia se igualaram todas as crenças na ética dos laicos que foi a guia de sua fé. Abençoa aquele que duvidou quando em teu nome oprimiam corações e mentes e as enchiam de culpa.
  • 32. Abençoa aquele que provou a mentira dos vendilhões dos templos através dos tempos. Abençoa aquele que o fez não por querer atingir um céu e um paraíso, mas porque via somente Humanidade em todos os seres. A mesma Humanidade de que se é filho dentro do que falava a lei Natural e Primitiva. Abençoa aquele que não me distingue se sou do povo da Cruz, da Lua Crescente, da Estrela de Davi ou qualquer outro credo. Abençoa aquele que duvidou de paraísos exclusivos Abençoai a todos Hereges, Magos, Bruxas e Transgressores que transformaram nossa visão. Abençoa aquele que denunciou as cartas de indulgência Por ter já em seu coração toda indulgência e considerar-se irmão de toda Humanidade. Abençoa os que transgrediram os dogmas e a lei que contrariavam sua própria Humanidade e assim transformaram a sociedade que viveu. Abençoa os que em nome desta Utopia, duvidaram dos opressores, dos charlatões, que mostraram que o eu humano é maior que qualquer dogma.
  • 33. Abençoa Senhor a todos estes descrentes que mais que oram para a Humanidade através de sua ética que não permite que o dogma oprima consciências ou as transforme na morada da culpa. E em nome destes Nobres Seres Humanos, Faz de mim e de todos nós muito mais que divinos na dimensão das crenças e descrenças que nos dividem, Fazei de mim e de todos nós a partir de nossos sonhos que nos unem numa mesma condição em nossas crenças e descrenças simplesmente e igualmente Humanos. 5 – PASSAGEM DAS HORAS ( FERNANDO PESSOA SÉC XX) Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
  • 34. A entrada de Singapura, manhã subindo, cor verde, O coral das Maldivas em passagem cálida, Macau à uma hora da noite... Acordo de repente Yat-iô--ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô-ô ... Ghi-... E aquilo soa-me do fundo de uma outra realidade A estatura norte-africana quase de Zanzibar ao sol Dar-es-Salaam (a saída é difícil)... Majunga, Nossi-Bé, verduras de Madagascar... Tempestades em torno ao Guardaful... E o Cabo da Boa Esperança nítido ao sol da madrugada... E a Cidade do Cabo com a Montanha da Mesa ao fundo... Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei... Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos... Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti, Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
  • 35. E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz. A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me, Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge, Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso, Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas, Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada, Deste desassossego no fundo de todos os cálices, Desta angústia no fundo de todos os prazeres, Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas, Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias. Não sei se a vida é pouco ou demais para mim. Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na
  • 36. inteligência, Consangüinidade com o mistério das coisas, choque Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos, Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz. Seja o que for, era melhor não ter nascido, Porque, de tão interessante que é a todos os momentos, A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas, E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos, Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs, E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso, Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
  • 37. Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços, É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas... Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro, Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca... Que há de ser de mim? Que há de ser de mim? Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão, Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra. Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos. Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir... Tão decadente, tão decadente, tão decadente... Só estou bem quando ouço música, e nem então. Jardins do século dezoito antes de 89, Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?
  • 38. Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo, A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai. Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se. Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver. Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente. Estou no caminho de todos e esbarram comigo. Minha quinta na província, Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti. Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir, E fica sempre, fica sempre, fica sempre, Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica... Torna-me humano, ó noite, torna-me fraterno e solícito. Só humanitariamente é que se pode viver. Só amando os homens, as ações, a banalidade dos trabalhos,
  • 39. Só assim - ai de mim! -, só assim se pode viver. Só assim, o noite, e eu nunca poderei ser assim! Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo, Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual - e eu sofri. Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos, E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. Amei e odiei como toda gente, Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo, E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo. Vem, ó noite, e apaga-me, vem e afoga-me em ti. Ó carinhosa do Além, senhora do luto infinito, Mágoa externa na Terra, choro silencioso do Mundo. Mãe suave e antiga das emoções sem gesto, Irmã mais velha, virgem e triste, das idéias sem nexo, Noiva esperando sempre os nossos propósitos incompletos,
  • 40. A direção constantemente abandonada do nosso destino, A nossa incerteza pagã sem alegria, A nossa fraqueza cristã sem fé, O nosso budismo inerte, sem amor pelas coisas nem êxtases, A nossa febre, a nossa palidez, a nossa impaciência de fracos, A nossa vida, o mãe, a nossa perdida vida... Não sei sentir, não sei ser humano, conviver De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra. Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido, Ter um lugar na vida, ter um destino entre os homens, Ter uma obra, uma força, uma vontade, uma horta, Unia razão para descansar, uma necessidade de me distrair, Uma cousa vinda diretamente da natureza para mim.
  • 41. Por isso sê para mim materna, ó noite tranqüila... Tu, que tiras o mundo ao mundo, tu que és a paz, Tu que não existes, que és só a ausência da luz, Tu que não és uma coisa, rim lugar, uma essência, uma vida, Penélope da teia, amanhã desfeita, da tua escuridão, Circe irreal dos febris, dos angustiados sem causa, Vem para mim, ó noite, estende para mim as mãos, E sê frescor e alívio, o noite, sobre a minha fronte... 'Tu, cuja vinda é tão suave que parece um afastamento, Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja, Tem ondas de carinho morto, frio de mares de sonho, Brisas de paisagens supostas para a nossa angústia excessiva... Tu, palidamente, tu, flébil, tu, liquidamente, Aroma de morte entre flores, hálito de febre sobre margens, Tu, rainha, tu, castelã, tu, dona pálida, vem... Sentir tudo de todas as maneiras,
  • 42. Viver tudo de todos os lados, Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo, Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo. Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo, Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo, Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia, Seja uma flor ou uma idéia abstrata, Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus. E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo. São-me simpáticos os homens superiores porque são superiores, E são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também, Porque ser inferior é diferente de ser superior, E por isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
  • 43. Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter, E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades, E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles, E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens. Sim, como sou rei absoluto na minha simpatia, Basta que ela exista para que tenha razão de ser. Estreito ao meu peito arfante, num abraço comovido, (No mesmo abraço comovido) O homem que dá a camisa ao pobre que desconhece, O soldado que morre pela pátria sem saber o que é pátria, E o matricida, o fratricida, o incestuoso, o violador de crianças, O ladrão de estradas, o salteador dos mares, O gatuno de carteiras, a sombra que espera nas vielas — Todos são a minha amante predileta pelo menos um
  • 44. momento na vida. Beijo na boca todas as prostitutas, Beijo sobre os olhos todos os souteneurs, A minha passividade jaz aos pés de todos os assassinos E a minha capa à espanhola esconde a retirada a todos os ladrões. Tudo é a razão de ser da minha vida. Cometi todos os crimes, Vivi dentro de todos os crimes (Eu próprio fui, não um nem o outro no vicio, Mas o próprio vício-pessoa praticado entre eles, E dessas são as horas mais arco-de-triunfo da minha vida). Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo, Transbordei, não fiz senão extravasar-me, Despi-me, entreguei-rne, E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
  • 45. Os braços de todos os atletas apertaram-me subitamente feminino, E eu só de pensar nisso desmaiei entre músculos supostos. Foram dados na minha boca os beijos de todos os encontros, Acenaram no meu coração os lenços de todas as despedidas, Todos os chamamentos obscenos de gesto e olhares Batem-me em cheio em todo o corpo com sede nos centros sexuais. Fui todos os ascetas, todos os postos-de-parte, todos os como que esquecidos, E todos os pederastas - absolutamente todos (não faltou nenhum). Rendez-vous a vermelho e negro no fundo-inferno da minha alma! (Freddie, eu chamava-te Baby, porque tu eras louro, branco e eu amava-te, Quantas imperatrizes por reinar e princesas
  • 46. destronadas tu foste para mim!) Mary, com quem eu lia Burns em dias tristes como sentir-se viver, Mary, mal tu sabes quantos casais honestos, quantas famílias felizes, Viveram em ti os meus olhos e o meu braço cingido e a minha consciência incerta, A sua vida pacata, as suas casas suburbanas com jardim, Os seus half-holidays inesperados... Mary, eu sou infeliz... Freddie, eu sou infeliz... Oh, vós todos, todos vós, casuais, demorados, Quantas vezes tereis pensado em pensar em mim, sem que o fósseis, Ah, quão pouco eu fui no que sois, quão pouco, quão pouco — Sim, e o que tenho eu sido, o meu subjetivo universo, Ó meu sol, meu luar, minhas estrelas, meu momento, Ó parte externa de mim perdida em labirintos de Deus!
  • 47. Passa tudo, todas as coisas num desfile por mim dentro, E todas as cidades do mundo, rumorejam-se dentro de mim ... Meu coração tribunal, meu coração mercado, Meu coração sala da Bolsa, meu coração balcão de Banco, Meu coração rendez-vous de toda a humanidade, Meu coração banco de jardim público, hospedaria, Estalagem, calabouço número qualquer cousa (Aqui estuvo el Manolo en vísperas de ir al patíbulo) Meu coração clube, sala, platéia, capacho, guichet, portaló, Ponte, cancela, excursão, marcha, viagem, leilão, feira, arraial, Meu coração postigo, Meu coração encomenda, Meu coração carta, bagagem, satisfação, entrega, Meu coração a margem, o lirrite, a súmula, o índice, Eh-lá, eh-lá, eh-lá, bazar o meu coração. Todos os amantes beijaram-se na minh'alma,
  • 48. Todos os vadios dormiram um momento em cima de mim, Todos os desprezados encostaram-se um momento ao meu ombro, Atravessaram a rua, ao meu braço, todos os velhos e os doentes, E houve um segredo que me disseram todos os assassinos. (Aquela cujo sorriso sugere a paz que eu não tenho, Em cujo baixar-de-olhos há uma paisagem da Holanda, Com as cabeças femininas coiffées de lin E todo o esforço quotidiano de um povo pacífico e limpo... Aquela que é o anel deixado em cima da cômoda, E a fita entalada com o fechar da gaveta, Fita cor-de-rosa, não gosto da cor mas da fita entalada, Assim como não gosto da vida, mas gosto de senti- la... Dormir como um cão corrido no caminho, ao sol,
  • 49. Definitivamente para todo o resto do Universo, E que os carros me passem por cima.) Fui para a cama com todos os sentimentos, Fui souteneur de todas ás emoções, Pagaram-me bebidas todos os acasos das sensações, Troquei olhares com todos os motivos de agir, Estive mão em mão com todos os impulsos para partir, Febre imensa das horas! Angústia da forja das emoções! Raiva, espuma, a imensidão que não cabe no meu lenço, A cadela a uivar de noite, O tanque da quinta a passear à roda da minha insônia, O bosque como foi à tarde, quando lá passeamos, a rosa, A madeixa indiferente, o musgo, os pinheiros, Toda a raiva de não conter isto tudo, de não deter isto tudo, Ó fome abstrata das coisas, cio impotente dos
  • 50. momentos, Orgia intelectual de sentir a vida! Obter tudo por suficiência divina — As vésperas, os consentimentos, os avisos, As cousas belas da vida — O talento, a virtude, a impunidade, A tendência para acompanhar os outros a casa, A situação de passageiro, A conveniência em embarcar já para ter lugar, E falta sempre uma coisa, um copo, uma brisa, urna frase, E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa. Poder rir, rir, rir despejadamente, Rir como um copo entornado, Absolutamente doido só por sentir, Absolutamente roto por me roçar contra as coisas, Ferido na boca por morder coisas, Com as unhas em sangue por me agarrar a coisas, E depois dêem-me a cela que quiserem que eu me lembrarei da vida.
  • 51. Sentir tudo de todas as maneiras, Ter todas as opiniões, Ser sincero contradizendo-se a cada minuto, Desagradar a si próprio pela plena liberalidade de espírito, E amar as coisas como Deus. Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário, Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia Que a dor real das crianças em quem batem (Ah, como isto deve ser falso, pobres crianças em quem batem — E por que é que as minhas sensações se revezam tão depressa?) Eu, enfim, que sou um diálogo continuo, Um falar-alto incompreensível, alta-noite na torre, Quando os sinos oscilam vagamente sem que mão lhes toque E faz pena saber que há vida que viver amanhã. Eu, enfim, literalmente eu,
  • 52. E eu metaforicamente também, Eu, o poeta sensacionista, enviado do Acaso As leis irrepreensíveis da Vida, Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada, O indivíduo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim, Prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo E acha mais seu olhar para o absinto a beber que bebê-lo... Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma, Sem personalidade com valor declarado, Eu, o investigador solene das coisas fúteis, Que era capaz de ir viver na Sibéria só por embirrar com isso, E que acho que não faz mal não ligar importâricia à pátria Porquie não tenho raiz, como uma árvore, e portanto não tenho raiz Eu, que tantas vezes me sinto tão real como uma metáfora, Como uma frase escrita por um doente no livroda
  • 53. rapariga que encontrou no terraço, Ou uma partida de xadrez no convés dum transatlântico, Eu, a ama que empurra os perambulators em todos os jardins públicos, Eu, o policia que a olha, parado para trás na álea, Eu, a criança no carro, que acena à sua inconsciência lúcida com um coral com guizos. Eu, a paisagem por detrás disto tudo, a paz citadina Coada através das árvores do jardim público, Eu, o que os espera a todos em casa, Eu, o que eles encontram na rua, Eu, o que eles não sabem de si próprios, Eu, aquela coisa em que estás pensando e te marca esse sorriso, Eu, o contraditório, o fictício, o aranzel, a espuma, O cartaz posto agora, as ancas da francesa, o olhar do padre, O largo onde se encontram as suas ruas e os chauffeurs dormem contra os carros, A cicatriz do sargento mal encarado, O sebo na gola do explicador doente que volta para casa,
  • 54. A chávena que era por onde o pequenito que morreu bebia sempre, E tem uma falha na asa (e tudo isto cabe num coração de mãe e enche-o)... Eu, o ditado de francês da pequenita que mexe nas ligas, Eu, os pés que se tocam por baixo do bridge sob o lustre, Eu, a carta escondida, o calor do lenço, a sacada com a janela entreaberta, O portão de serviço onde a criada fala com os desejos do primo, O sacana do José que prometeu vir e não veio E a gente tinha uma partida para lhe fazer... Eu, tudo isto, e além disto o resto do mundo... Tanta coisa, as portas que se abrem, e a razão por que elas se abrem, E as coisas que já fizeram as mãos que abrem as portas... Eu, a infelicidade-nata de todas as expressões, A impossibilidade de exprimir todos os sentimentos, Sem que haja uma lápida no cemitério para o irmão de ttido isto,
  • 55. E o que parece não querer dizer nada sempre quer dizer qualquer cousa... Sim, eu, o engenheiro naval que sou supersticioso como uma camponesa madrinha, E uso monóculo para não parecer igual à idéia real que faço de mim, Que levo às vezes três horas a vestir-me e nem por isso acho isso natural, Mas acho-o metafísico e se me batem à porta zango- me, Não tanto por me interromperem a gravata como por ficar sabendo que há a vida... Sim, enfim, eu o destinatário das cartas lacradas, O baú das iniciais gastas, A entonação das vozes que nunca ouviremos mais - Deus guarda isso tudo no Mistério, e às vezes sentimo-lo E a vida pesa de repente e faz muito frio mais perto que o corpo. A Brígida prima da minha tia, O general em que elas falavam - general quando elas eram pequenas, E a vida era guerra civil a todas as esquinas...
  • 56. Vive le mélodrame oú Margot a pleuré! Caem as folhas secas no chão irregularmente, Mas o fato é que sempre é outono no outono, E o inverno vem depois fatalmente, há só um caminho para a vida, que é a vida... Esse velho insignificante, mas que ainda conheceu os românticos, Esse opúsculo político do tempo das revoluções constitucionais, E a dor que tudo isso deixa, sem que se saiba a razão Nem haja para chorar tudo mais razão que senti-lo. Viro todos os dias todas as esquinas de todas as ruas, E sempre que estou pensando numa coisa, estou pensando noutra. Não me subordino senão por atavisnio, E há sempre razões para emigrar para quem não está de cama. Das serrasses de todos os cafés de todas as cidades
  • 57. Acessíveis à imaginação Reparo para a vida que passa, sigo-a sem me mexer, Pertenço-lhe sem tirar um gesto da algibeira, Nem tomar nota do que vi para depois fingir que o vi. No automóvel amarelo a mulher definitiva de alguém passa, Vou ao lado dela sem ela saber. No trottoir imediato eles encontram-se por um acaso combinado, Mas antes de o encontro deles lá estar já eu estava com eles lá. Não há maneira de se esquivarem a encontrar-me, Não há modo de eu não estar em toda a parte. O meu privilégio é tudo (Brevetée, Sans Garantie de Dieu, a minh'Alma). Assisto a tudo e definitivamente. Não há jóia para mulher que não seja comprada por mim e para mim, Não há intenção de estar esperando que não seja
  • 58. minha de qualquer maneira, Não há resultado de conversa que não seja meu por acaso, Não há toque de sino em Lisboa há trinta anos, noite de S. Carlos há cinqüenta Que não seja para mim por uma galantaria deposta. Fui educado pela Imaginação, Viajei pela mão dela sempre, Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso, E todos os dias têm essa janela por diante, E todas as horas parecem minhas dessa maneira. Cavalgada explosiva, explodida, como uma bomba que rebenta, Cavalgada rebentando para todos os lados ao mesmo tempo, Cavalgada por cima do espaço, salto por cima do tempo, Galga, cavalo eléctron-íon, sistema solar resumido Por dentro da ação dos êmbolos, por fora do giro dos volantes. Dentro dos êmbolos, tornado velocidade abstrata e
  • 59. louca, Ajo a ferro e velocidade, vaivém, loucura, raiva contida, Atado ao rasto de todos os volantes giro assombrosas horas, E todo o universo range, estraleja e estropia-se em mim. Ho-ho-ho-ho-ho!... Cada vez mais depressa, cada vez mais com o espírito adiante do corpo Adiante da própria idéia veloz do corpo projetado, Com o espírito atrás adiante do corpo, sombra, chispa, He-la-ho-ho ... Helahoho ... Toda a energia é a mesma e toda a natureza é o mesmo... A seiva da seiva das árvores é a mesma energia que mexe As rodas da locomotiva, as rodas do elétrico, os volantes dos Diesel, E um carro puxado a mulas ou a gasolina é puxado
  • 60. pela mesma coisa. Raiva panteísta de sentir em mim formidandamente, Com todos os meus sentidos em ebulição, com todos os meus poros em fumo, Que tudo é uma só velocidade, uma só energia, uma só divina linha De si para si, parada a ciciar violências de velocidade louca... Ho ---- Ave, salve, viva a unidade veloz de tudo! Ave, salve, viva a igualdade de tudo em seta! Ave, salve, viva a grande máquina universo! Ave, que sois o mesmo, árvores, máquinas, leis! Ave, que sois o mesmo, vermes, êmbolos, idéias abstratas, A mesma seiva vos enche, a mesma seiva vos torna, A mesma coisa sois, e o resto é por fora e falso, O resto, o estático resto que fica nos olhos que param,
  • 61. Mas não nos meus nervos motor de explosão a óleos pesados ou leves, Não nos meus nervos todas as máquinas, todos os sistemas de engrenagem, Nos meus nervos locomotiva, carro elétrico, automóvel, debulhadora a vapor Nos meus nervos máquina marítima, Diesel, semi- Diesel, Campbell, Nos meus nervos instalação absoluta a vapor, a gás, a óleo e a eletricidade, Máquina universal movida por correias de todos os momentos! Todas as madrugadas são a madrugada e a vida. Todas as auroras raiam no mesmo lugar: Infinito... Todas as alegrias de ave vêm da mesma garganta, Todos os estremecimentos de folhas são da mesma árvore, E todos os que se levantam cedo para ir trabalhar Vão da mesma casa para a mesma fábrica por o mesmo caminho...
  • 62. Rola, bola grande, formigueiro de consciências, terra, Rola, auroreada, entardecida, a prumo sob sóis, noturna, Rola no espaço abstrato, na noite mal iluminada realmente Rola ... Sinto na minha cabeça a velocidade de giro da terra, E todos os países e todas as pessoas giram dentro de mim, Centrífuga ânsia, raiva de ir por os ares até aos astros Bate pancadas de encontro ao interior do meu crânio, Põe-me alfinetes vendados por toda a consciência do meu corpo, Faz-me levantar-me mil vezes e dirigir-me para Abstrato, Para inencontrável, Ali sem restrições nenhumas, A Meta invisível — todos os pontos onde eu não estou — e ao mesmo tempo ...
  • 63. Ah, não estar parado nem a andar, Não estar deitado nem de pé, Nem acordado nem a dormir, Nem aqui nem noutro ponto qualquer, Resol,,,er a equação desta inquietação prolixa, Saber onde estar para poder estar em toda a parte, Saber onde deitar-me para estar passeando por todas as ruas ... Ho-ho-ho-ho-ho-ho-ho Cavalgada alada de mim por cima de todas as coisas, Cavalgada estalada de mim por baixo de todas as coisas, Cavalgada alada e estalada de mim por causa de todas as coisas ... Hup-la por cima das árvores, hup-la por baixo dos tanques, Hup-la contra as paredes, hup-la raspando nos troncos,
  • 64. Hup-la no ar, hup-la no vento, hup-la, hup-la nas praias, Numa velocidade crescente, insistente, violenta, Hup-la hup-la hup-la hup-la ... Cavalgada panteísta de mim por dentro de todas as coisas, Cavalgada energética por dentro de todas as energias, Cavalgada de mim por dentro do carvão que se queima, da lâmpada que arde, Clarim claro da manhã ao fundo Do semicírculo frio do horizonte, Tênue clarim longínquo como bandeiras incertas Desfraldadas para além de onde as cores são visíveis ... Clarim trêmulo, poeira parada, onde a noite cessa, Poeira de ouro parada no fundo da visibilidade ... Carro que chia limpidamente, vapor que apita, Guindaste que começa a girar no meu ouvido, Tosse seca, nova do que sai de casa,
  • 65. Leve arrepio matutino na alegria de viver, Gargalhada súbita velada pela bruma exterior não sei como, Costureira fadada para pior que a manhã que sente, Operário tísico desfeito para feliz nesta hora Inevitavelmente vital, Em que o relevo das coisas é suave, certo e simpático, Em que os muros são frescos ao contacto da mão, e as casas Abrem aqu; e ali os olhos cortinados a branco... Toda a madrugada é uma colina que oscila, ...................................................................... e caminha tudo Para a hora cheia de luz em que as lojas baixam as pálpebras E rumor tráfego carroça comboio eu sinto sol estruge Vertigem do meio-dia emoldurada a vertigens — Sol dos vértices e nos... da minha visão estriada, Do rodopio parado da minha retentiva seca,
  • 66. Do abrumado clarão fixo da minha consciência de viver. Rumor tráfego carroça comboio carros eu sinto sol rua, Aros caixotes trolley loja rua i,itrines saia olhos Rapidamente calhas carroças caixotes rua atravessar rua Passeio lojistas "perdão" rua Rua a passear por mim a passear pela rua por mim Tudo espelhos as lojas de cá dentro das lojas de lá A velocidade dos carros ao contrário nos espelhos oblíquos das montras, O chão no ar o sol por baixo dos pés rua regas flores no cesto rua O meu passado rua estremece camion rua não me recordo rua Eu de cabeça pra baixo no centro da minha consciência de mim Rua sem poder encontrar uma sensação só de cada vez rua Rua pra trás e pra diante debaixo dos meus pés
  • 67. Rua em X em Y em Z por dentro dos meus braços Rua pelo meu monóculo em círculos de cinematógrafo pequeno, Caleidoscópio em curvas iriadas nítidas rua. Bebedeira da rua e de sentir ver ouvir tudo ao mesmo tempo. Bater das fontes de estar vindo para cá ao mesmo tempo que vou para lá. Comboio parte-te de encontro ao resguardo da linha de desvio! Vapor navega direito ao cais e racha-te contra ele! Automóvel guiado pela loucura de todo o universo precipita-te Por todos os precipícios abaixo E choca-te, trz!, esfrangalha-te no fundo do meu coração! À moi, todos os objetos projéteis! À moi, todos os objetos direções! À moi, todos os objetos invisíveis de velozes! Batam-me, trespassem-me, ultrapassem-me! Sou eu que me bato, que me trespasso, que me ultrapasso!
  • 68. A raiva de todos os ímpetos fecha em círculo-mim! Hela-hoho comboio, automóvel, aeroplano minhas ânsias, Velocidade entra por todas as idéias dentro, Choca de encontro a todos os sonhos e parte-os, Chamusca todos os ideais humanitários e úteis, Atropela todos os sentimentos normais, decentes, concordantes, Colhe no giro do teu volante vertiginoso e pesado Os corpos de todas as filosofias, os tropos de todos os poemas, Esfrangalha-os e fica só tu, volante abstrato nos ares, Senhor supremo da hora européia, metálico a cio. Vamos, que a cavalgada não tenha fim nem em Deus! ............................................................... ............................................................... Dói-me a imaginação não sei como, mas é ela que dói, Declina dentro de mim o sol no alto do céu. Começa a tender a entardecer no azul e nos meus
  • 69. nervos. Vamos ó cavalgada, quem mais me consegues tornar? Eu que, veloz, voraz, comilão da energia abstrata, Queria comer, beber, esfolar e arranhar o mundo, Eu, que só me contentaria com calcar o universo aos pés, Calcar, calcar, calcar até não sentir. Eu, sinto que ficou fora do que imaginei tudo o que quis, Que embora eu quisesse tudo, tudo me faltou. Cavalgada desmantelada por cima de todos os cimos, Cavalgada desarticulada por baixo de todos os poços, Cavalgada vôo, cavalgada seta, cavalgada pensamento-relâmpago, Cavalgada eu, cavalgada eu, cavalgada o universo — eu. Helahoho-o-o-o-o-o-o-o ... Meu ser elástico, mola, agulha, trepidação ...
  • 70. Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa 6- Inverso dos Portos ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon – Séc XXI ) Desconheço a realidade da chegada das naus que aportaram em minhas desilusões. Conheço sim, o inverso de todos os portos que estive E trago comigo as lembranças de todos que não toquei a alma com a ausência de meus versos Conheço sim o Reverso e Recôncavo e o Reconvexo de todas Bahias de minha infância. Viver a realidade na Cidade Maravilhosa enquanto outros vem comprar aí seus sonhos. Oh Bela Macaé , gostaria de ter os olhos da cor de seu petróleo. Mas o mar me rouba todas as cores do espírito no canto de Caymmi e no lamento de Cartola.
  • 71. Gostaria de viver como os peixes da Guanabara, mas minha alma pesa demais para tanto. Tive todos os reversos de Cachoeiro ancestral E senti seu vento que vinha da terra ao mar Em Barra vi discos voadores e me curei na areia da morte de suas águas vivas. Senti o som dos tambores do Bataclan de Gabriela em Ilhéus e nunca mais me foi permitido produzir tal som novamente. Na Bahia do Recôncavo , conheci o Reverso de seu Reconvexo do ― Vento do Saara da Caatinga que sopra sobre todas Algiers do Mundo‖ Oh grande miséria humana que me faz esquecer dos átimos de felicidade dos momentos d´alma... Quero lembrar dos Reversos de Um porto E ― de um parto ― que a masculinidade me negou. Ainda sinto o calor de Feira de Santana em meu chapéu panamá e a areia de Petrolina do Porto do Velho Chico ainda suja meu terno de linho.
  • 72. Guardei toda água de minha vida no açude Orós , e a seca Levou , o rio se transpôs e as esperanças se foram , em mais um reverso. Por fim cheguei a Fortaleza de minha infância e ai esqueci que existia, apenas vivendo por viver as tristezas de meus pais. Mangues Secos de Recife e Alagoas me trazem a memória as horas que não passam jamais. Ainda não aprendi a ser Humano , mesmo cem anos depois..... 7 - Todas as Cartas de Amor são Ridículas ( Fernando Pessoa , séc XX) Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas.
  • 73. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos,
  • 74. São naturalmente Ridículas.) Álvaro de Campos, in "Poemas" 8- Cartas aos amores impossíveis dos Orientes...( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon – Séc XXI). Ainda sinto as presenças de meus amores impossíveis Das cartas que mandei para os Orientes. Imagens de areia que ao luar prateado Espelham meus antigos sonhos. Talvez as lágrimas de minhas desilusões Tenham selado todas estas cartas. Ridículas, como diz o Poeta, E ainda mais ridículas por que além de Haver amor Este em si era impossível.
  • 75. Jamais te tocarei Vaishali, Mas será para sempre a Esposa de minh´alma E fez de mim um filho de Pandu Com seu juramento a Sita. Talvez tenha selado suas cartas A todos seus amantes Com as águas do Ganges Para que não descubram sua origem. Bahare, Estará sempre em minh´alma De Alexandre o Grande o Conquistador, Que pereceu sob o Sol da Pérsia... Aliás sentir me ridículo nunca me deixou tão feliz Em saber que as lágrimas com as quais selei Minhas cartas a ti Hoje irrigam o Jardim de Shihaz
  • 76. Da Poesia de Attar e Hafez Seus vales da Eternidade Até a essência da Existência Perdida no Monte Káf. Tão impossível quanto os meus amores mesmo mais puros aos Orientes... Daquelas que nunca foram minhas pretendentes Mas invadem meus desejos ao reverso de um juramento. Alice, Etterna Ed Única mia. Será minha Rosa como a do Romance, E teu nome é a única coisa possível que pronuncio Em meu contato com o mundo destes seres superiores Que são as mulheres. Ridículo sim como todas as cartas de amor do poeta,
  • 77. E ainda mais por escrever com meu próprio suor, sangue e lágrimas Cartas de amores impossíveis... De sentimentos ainda mais profundos e esdrúxulos. Inscritos na Eternidade de minha anônima existência. Adeus amores.... Nas esquinas do Tempo dos Orientes Teremos nossas cartas ... Mas não a nós mesmos... Adeus .... 9 – Tabacaria ( Fernando Pessoa , séc XX) Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
  • 78. Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada. Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
  • 79. De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida. Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa, Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei- de pensar?
  • 80. Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Génio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos
  • 81. de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
  • 82. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. (Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.) Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos,
  • 83. Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa. (Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê - , Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado.
  • 84. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.) Vivi, estudei, amei, e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a
  • 85. quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente. Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime. Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-te como coisa que eu
  • 86. fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada. Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
  • 87. Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra. Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?), E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário. Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente,
  • 88. A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando. (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela. O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. (O dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
  • 89. Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa 10 – Drogaria ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon séc XXI ) ―Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.‖ Não é pra menos , pois tomo Rivotril, Doutor Aderbal , libere meu Gardenal que estou Passando mal... Ode á loucura psiquiátrica Diálogos Bipolares com a esquizofrenia. Só isso nos restou do pós moderno Pessoa nem imaginaria 100 anos depois no que se transformou sua Tabacaria. Psiquiatras do mundo! Liberem o Haldol aos esquizofrênicos A Risperidona aos Bipolares, As Sertralinas para a ansiedade das Meninas A Fluoxetina as depressivas Meninas.... Doutor Aderbal , preciso do meu Gardenal... Mal do século XXI
  • 90. Neuróticos Anônimos Alcoolizados do sonho. Deixem nos ser ― Brilhantes Poetas Felizes Anônimos‖ já que o século é de ― Subcelebridades acéfalas Ilustres‖ ― Você veio para o departamento de ―álcool e drogas‖ meu jovem ? - Não doutor , me receite Viagra pois o departamento Sexo Bossa Nova e Rock´n Roll já me basta... - Estou apenas conversando com minha própria esquizofrenia .... Diálogos com a síndrome de ansiedade.... Não agüento mais esperar que este século acorde . Já que o ano dois mil parece ter tomado mais de mil gotas de Rivotril E desde então o Tempo dormiu Doutor Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal Preciso continuar com todos os sonhos do mundo Apesar do que diz a TV e suas mentiras e novelas Politicamente corretas e ilusórias Na pós Modernidade. Doutor Aderbal , cadê meu Gardenal ??? você prometeu Aqui está a receita... Não aceito nada menos que um Diazepam
  • 91. Em troca dos inúteis livros de auto ajuda e toda sua vã filosofia que está entre o céu e a terra desde o ultimo amigo oculto que os ganhei!!! Sertalina nele doutor , muita ansiedade !!! Doutor Aderbal , meu Gardenal!!! Dane-se sua disritmia ... Quero apenas brigar com o mundo da esquizofrenia!!! È apenas o mal do século... Vivam os Psiquiatras da Poesia! ― Ò Farmaco-dependentes sub alimentados do sonho. A Poesia do século é uma pomada de uso tópico‖ Mas também pode ser um supositório!!! Mas não é mais para comer, Cem anos intragáveis na qual a Poesia È pra se sentir na pele ou por dentro de nós.... Façam dieta ,pois o remédio tem efeitos colaterais Mal do Século em comprimidos azuis. Apenas vendendo sonhos do mundo em drágeas para A Pós modernidade!!! Desmacunaimidade !!!
  • 92. Assumamo-nos Negros e Sararemos não mais sendo Sararás em Surubas Intelectuais... e Saraus de Versos Ideais .... Uso Oral !!! sexo verbal!!! Doutor Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal!!! ( Ivan Poli - Osunfemi Elebuibon - livro " Eu em Pessoa") ―Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.‖ Não é pra menos , pois tomo Rivotril, Doutor Aderbal , libere meu Gardenal que estou Passando mal... Ode á loucura psiquiátrica Diálogos Bipolares com a esquizofrenia. Só isso nos restou do pós moderno Pessoa nem imaginaria em sua Tabacaria. Psiquiatras do mundo! Liberem o Haldol aos esquizofrênicos
  • 93. A Risperidona aos Bipolares, A Sertalina aos ansiosos A Fluoxetina aos depressivos Doutor Aderbal , preciso do meu Gardenal... Mal do século XXI Neuróticos Anônimos Alcoolizados do sonho. Deixem nos ser ― Brilhantes Poetas Felizes Anônimos‖ já que o século é de ― Subcelebridades acéfalas Ilustres‖ ― Você veio para o departamento de ―álcool e drogas‖ meu jovem ? - Não doutor , me receite Viagra pois quero o departamento Sexo e Rock´n Roll... - Estou apenas conversando com minha própria esquizofrenia .... Diálogos com a síndrome de ansiedade.... Não agüento mais esperar que este século acorde . Doutor Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal Preciso continuar com todos os sonhos do mundo
  • 94. Apesar do que diz a TV e suas mentiras e novelas Politicamente corretas e ilusórias Na pós Modernidade. Aderbal , cadê meu Gardenal ??? você prometeu Aqui está a receita... O que não aceito nada menos que um Diazepam Sertalina nele doutor , muita ansiedade !!! Doutor Aderbal , meu Gardenal!!! Dane-se sua disritmia ... È apenas o mal do século... Vivam os Psiquiatras da Poesia! ― Ò Farmaco-dependentes sub alimentados do sonho. A Poesia é uma pomada de uso tópico‖ Mas também pode ser um supositório!!! Mas não é mais para comer, Façam dieta ,pois o remédio tem efeitos colaterais Mal do Século em comprimidos azuis.
  • 95. Apenas vendendo sonhos do mundo para A Pós modernidade!!! Uso Oral !!! sexo verbal!!! Aderbal , ainda preciso do meu Gardenal!!! 11- Navegar é preciso ( Fernando Pessoa – séc XX) Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
  • 96. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. 12- Viver é preciso ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon séc XXI ) Apenas naveguei até hoje Por mares além da Costa de Calabar E já cruzei inúmeras vezes o cabo das Tormentas Mas ainda não vivi a vida que me foi destinada Apenas tive olhos de sonho Em realidades que não são minhas. E lutas que me apoderei. Hoje quero viver o desafio De acordar os dias e os séculos E assim servir a Humanidade Na grandeza da Pátria em formação. Viver cada sonho de menino Que brincava nas ruas de minha paróquia.
  • 97. Navegar é preciso Pois alimento-me de sonhos e amores impossíveis Por juramento a minha ancestral Contudo quero viver a Glória De ver a Humanidade despertar Ao som de sua própria poesia mística e laica ―Esta é a forma que em mim retomou o misticismo de minha Raça tropical ― 13- O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia ( Fernando Pessoa – Séc XX ) O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda, Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, A memória das naus.
  • 98. O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso. Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia. Pelo Tejo vai-se para o Mundo. Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram. Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia. O rio da minha aldeia não faz pensar em nada. Quem está ao pé dele está só ao pé dele. 14- Amaralina é a Ùnica Praia de minha Vida. ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon – Séc XXI ) . Caribe, Calibre Amor... Nada disso existe em Amaralina Nem tampouco ai esteve a Garota de Ipanema Ou aportaram naus lusas. De valentes desbravadores, E sua ânsia Por riquezas...
  • 99. Não nada disso esteve em Amaralina... Nem coqueiros aí existem. Ou águas translúcidas.... Em Amaralina no máximo existiram Piratas Perdidos. Meninos sem pais Mas não os Capitães de Areia. Mas em minha vida Amaralina é a praia única De minha infância Onde catava conchas e algas Que não me faziam ilustres.... Contudo nunca perguntei.... - Qual o mistério que há para além da arrebentação dos Recifes que não existem em minha eterna Amaralina ?
  • 100. 15 - Para ser grande, sê inteiro: nada – Fernando Pessoa – Séc XX. Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive. 16 – Ser tudo – ( Osunfemi Elebuibon – Ivan Poli – Sec XXI) Não sei o que é ser Tudo Apenas o sou , Este Universo Mutante em Movimento. Em eterna incompletude, E isto já me faz inteiro Pois tenho o brilho dos olhos que me vêem Em minha própria alma.
  • 101. 17- Há metafísica bastante em não pensar em nada.(Fernando Pessoa - Séc XX ) Há metafísica bastante em não pensar em nada. O que penso eu do Mundo? Sei lá o que penso do Mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso. Que ideia tenho eu das coisas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma E sobre a criação do Mundo? Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos E não pensar. É correr as cortinas Da minha janela (mas ela não tem cortinas). O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério! O único mistério é haver quem pense no mistério. Quem está ao sol e fecha os olhos, Começa a não saber o que é o Sol E a pensar muitas coisas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o Sol, E já não pode pensar em nada, Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos De todos os filósofos e de todos os poetas. A luz do Sol não sabe o que faz E por isso não erra e é comum e boa. Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores A de serem verdes e copadas e de terem ramos
  • 102. E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, A nós, que não sabemos dar por elas. Mas que melhor metafísica que a delas, Que é a de não saber para que vivem Nem saber que o não sabem? «Constituição íntima das coisas»... «Sentido íntimo do Universo»... Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada. É incrível que se possa pensar em coisas dessas. É como pensar em razões e fins Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão. Pensar no sentido íntimo das coisas É acrescentado, como pensar na saúde Ou levar um copo à água das fontes. O único sentido íntimo das coisas É elas não terem sentido íntimo nenhum. Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo E entraria pela minha porta dentro Dizendo-me, Aqui estou! (Isto é talvez ridículo aos ouvidos De quem, por não saber o que é olhar para as coisas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina.) Mas se Deus é as flores e as árvores E os montes e sol e o luar, Então acredito nele,
  • 103. Então acredito nele a toda a hora, E a minha vida é toda uma oração e uma missa, E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. Mas se Deus é as árvores e as flores E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus? Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; Porque, se ele se fez, para eu o ver, Sol e luar e flores e árvores e montes, Se ele me aparece como sendo árvores e montes E luar e sol e flores, É que ele quer que eu o conheça Como árvores e montes e flores e luar e sol. E por isso eu obedeço-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?), Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, Como quem abre os olhos e vê, E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, E amo-o sem pensar nele, E penso-o vendo e ouvindo, E ando com ele a toda a hora. 18- Há idiotia bastante em não pensar em nada ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon ) Hoje o programa feminino da tarde Me fez não pensar em nada E nada além do Horóscopo Como metafísica Ora, será que ele me conhece ?
  • 104. Vi uma eliminação em outro programa e não pensei em nada Enquanto sou ludibriado Enganado Assaltado Pelo poder vigente, Assisti já muita novela em minha vida , E fiquei muito tempo sem pensar em nada Além da vida e destino dos personagens E isto só me imbecilizou, Pois só segui a piratas da Arte... E não a seus reis.... O Sol esteve sempre ai , Enquanto isso O Mar esteve sempre ai , Enquanto isso A Lua esteve sempre ai Enquanto isso.... E minhas ânsias e sonhos também estiveram sempre ai E nunca pensei neles Esperando a metafísica Do não pensar em nada...
  • 105. Podia não ter pensado em nada a partir deles. Podia não ter pensado em nada pensando em mim Perdi o inicio do século , Em letargia como ele E não pensei em nada Como queriam os poetas Canastrões da pós modernidade Enquanto isso levaram todo meu ouro E meus cortes de seda Para cobrir corpos de sub-celebridades De mentes nuas e vazias. Hoje ainda não penso em nada de vez em quando, Mas sempre me arrependo... Ao saber que apenas fui e sou mais um idiota.. Para os senhores da metafísica pós moderna. Tempos perigosos... Nos quais seqüestraram a fantasia E a imaginação...
  • 106. 19 - «Olá, guardador de rebanhos, (Fernando Pessoa , séc XX ) «Olá, guardador de rebanhos, Aí à beira da estrada, Que te diz o vento que passa?» «Que é vento, e que passa, E que já passou antes, E que passará depois. E a ti o que te diz?» «Muita coisa mais do que isso, Fala-me de muitas outras coisas. De memórias e de saudades E de coisas que nunca foram.» «Nunca ouviste passar o vento. O vento só fala do vento. O que lhe ouviste foi mentira, E a mentira está em ti.»
  • 107. 20 - «Olá, Guardador de Sonhos ( Ivan Poli – Osunfemi Elebuibon Séc XXI ) Ò Tu mesma Minha consciência que guarda meus sonhos E meus segredos A beira da estrada dos tempos De minhas ilusões e desilusões Ao que o tempo te diz? O tempo que passou O tempo que passará? Que surpresas e mentiras me esconderá ainda? Quem és tu ? Se és , és de verdade ? ― Nunca ouviste passar o tempo. O tempo só fala do Tempo . O que lhe ouviste é o mistério, E o mistério está em mim‖