1) O documento descreve a música do período clássico entre 1750-1820, focando em compositores como Haydn, Mozart e Beethoven.
2) Neste período, formas musicais como a sonata e a sinfonia se desenvolveram, enfatizando princípios como ordem, equilíbrio e razão.
3) A música clássica valorizava a beleza, graça e refinamento, com exploração da dinâmica e novos instrumentos como o piano e clarinete.
1. ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA BEATHRIS
CAIXEIRO DEL CISTIA
MÚSICA DO CLASSICISMO
NOME: Wesley Germano Otávio Nº 41 SÉRIE: 3º B
2. A MÚSICA NO CLASSICISMO (1750 – 1820)
“Veneza” de Canaletto
O termo ‘Clássico’, em música, é empregado em dois sentidos
diferentes. As pessoas, às vezes, usam a expressão ‘música clássica’
considerando toda a música dividida em duas grandes partes: ‘clássica’ e
‘popular’. Para o musicólogo, entretanto, ‘música clássica’ tem sentido especial
e preciso: é a música composta entre aproximadamente 1750 e 1810, que inclui
a música de Haydn e Mozart, bem como as composições iniciais de Beethoven.
O classicismo é profundamente influenciado pelos ideais humanistas,
que colocam o homem como centro do universo. Reproduz o mundo real, mas
molda‐o de acordo com o que se considera ideal. As obras refletem princípios
como harmonia, ordem, lógica, equilíbrio, simetria, objetividade e refinamento. A
razão é mais importante que a emoção.
A transição da música barroca para a clássica é feita sobretudo por Carl
Philipp Emanuel Bach (1714‐1788) e por Johann Christian Bach (1735‐1782),
filhos do compositor Johann Sebastian Bach (1685‐1750). Os compositores
passam a elaborar formas mais desenvolvidas, como a sinfonia e os concertos
para instrumentos e orquestra. A sonata é a principal forma musical do período
e um passo definitivo em direção à música tonal.
A música clássica mostra‐se refinada e elegante e tende a ser mais leve,
menos complicada que a barroca. Os compositores procuram realçar a beleza e
3. a graça das melodias. A orquestra está em desenvolvimento. Os compositores
deixaram de usar o cravo e acrescentaram mais instrumentos de sopro (clarineta,
por exemplo).
No classicismo a dinâmica passou a ser explorada em todas as suas
possibilidades. Nos períodos anteriores não se usava, ou melhor, não se indicava
objetivamente alguma mudança de nuances deste parâmetro. Na última fase do
Barroco, havia somente indicações de contrastes entre trechos musicais em
"piano" e “forte".
Já os clássicos tiveram a ideia de se utilizar do "crescendo" e do
"decrescendo", graduando a dinâmica e inventando seus respectivos sinais. Esta
técnica foi muito desenvolvida pelos compositores de Mannheim
(Alemanha) e divulgada posteriormente por Haydn e Mozart.
Novos instrumentos apareceram: entre eles o
piano (inventado em 1698 por Bartolomeo Cristofori –
1655/1731, para que tivessem à mão um instrumento de
teclado que pudesse dar sons suaves e fortes) e o
clarinete (inventado no início do século 18 por Jacob
Denner ‐1681/1735). Melhoraram os mecanismos e as
extensões do oboé e do fagote. O violoncelo ganhou uma
ponta para apoiá‐lo no chão (antes era preso entre as
pernas pelo executante) e descobriram a maravilha do seu timbre.
FORMAS INSTRUMENTAIS DO PERÍODO
CLÁSSICO
Durante o Classicismo, a música instrumental
passou a ter maior importância que a vocal.
Carl Philipp Emanuel
Bach
Wolfgang Amadeus
Mozart
4. A Sonata
Nesta época criou‐se a sonata. Sonata é o termo que designa, desde o
século XVIII, uma composição instrumental para um ou mais instrumentos de
forma ternária (exposição, desenvolvimento, reexposição), construída sobre dois
temas e obedecendo a um plano que afirma o princípio da tonalidade.
A primeira seção, EXPOSIÇÃO, divide-se em um primeiro grupo, na
tônica, e após um material de transição, um segundo grupo, em outra tonalidade
(habitualmente a dominante), normalmente com uma codeta para conclui r
perfeitamente a seção.
A segunda parte da estrutura compreende as duas seções
remanescentes, o DESENVOLVIMENTO e a RECAPITULAÇÃO. O primeiro
desenvolve o material da exposição numa variedade de modos, progredindo por
várias tonalidades (ideia de instabilidade tonal, tensão rítmica e melódica). A
recapitulação reexpõe os temas da exposição, habitualmente na mesma ordem,
e o segundo grupo é ouvido agora na tônica.
A Sinfonia
A sinfonia é, na realidade, uma sonata para orquestra. Seus números de
movimentos passam a ser quatro: rápido ‐ lento ‐ minueto ‐ muito rápido. Haydn
e Mozart foram os maiores compositores de sinfonias do Classicismo.
Termo usado a partir do Renascimento para designar vários tipos de
peça (geralmente instrumentais). Em torno de 1700, utilizava-se o termo sonata
ou sinfonia para peças instrumentais; Durante o século XVIII passou cada vez
mais a designar a sinfonia de concerto, para distingui-la da Ouverture italiana.
Música de Câmara
Relevo no final do século XVIII
Quartetos de corda
5. Firmados na época de Haydn, porém localizável em
compositores antecessores como L. Bocherinni (1743-1805)
e F. X. Ricther (1709-1789)
O Concerto
O concerto consiste em uma composição para um instrumento solista
contra a massa orquestral. Tem três movimentos: rápido ‐ lento ‐ rápido.
O Quarteto de Cordas
Joseph Haydn inventou o quarteto de cordas (dois
violinos, viola e violoncelo), uma combinação soberba de
música de câmara.
Joseph Haydn
Nota especial ‐ W. A. MOZART
Wolfgang Amadeus Mozart nasceu em Salzburgo a 27 de janeiro de
1756. Foi um dos mais espantosos exemplos de precocidade na história da arte:
desde os três anos de idade revelou excepcional aptidão para música, estudando
cravo com seu pai, Johann Georg Leopold Mozart (1719‐1787), compositor e
violinista. Aos dezesseis anos já tinha composto quase 200 obras em todos os
gêneros!
Mozart representa o ponto culminante da música no século XVIII. Figura
importante no desenvolvimento final da ópera napolitana, foi também um dos
maiores mestres da nova concepção da sonata na época. Criou obras‐primas da
música instrumental, nos últimos anos do século XVIII. Estabeleceu normas
musicais que transformaram aquele período na era clássica por excelência, no
campo da música. Foi admirado por todos os mais destacados compositores
subsequentes, que souberam reconhecer o valor do legado que Mozart lhes
deixou.
6. Compositor essencialmente vocal, Mozart se realizou de modo mais
completo na ópera. As primeiras óperas datam ainda da adolescência do mestre.
Ao todo realizou 23 óperas, destacando‐se seis, todas elas do último período de
sua vida. A ópera mais conhecida de Mozart é A flauta mágica (1791). Das
incoerências do libreto, Mozart tirou uma obra de grande riqueza, numa síntese
de estilos: ópera séria, comédia musical popular, tragédia filosófica e drama
sentimental. A música que acompanha essa trama complicada é também a
síntese do seu universo musical.
Mozart escreveu ao todo 41 sinfonias e
11 sinfonias concertantes. Seção importante na
obra de Mozart é a dos concertos. A forma do
concerto ainda estava indefinida em meados do
século XVIII, não havendo distinção nítida entre
a forma concertante e a música para orquestras
de câmara. Foi C.P.E.Bach o primeiro a
Prodígio Mozart ao cravo
desenvolver o contraste entre o instrumento solo e a orquestra. Os concertos
para piano de Mozart contribuíram decisivamente para a formação do gênero,
desenvolvendo‐o em escala mais ampla.
As obras de Mozart são identificadas pelo prefixo K, seguida de um
número que designa a ordem cronológica de suas composições. O K vem do
nome de Ludwig von Köchel, que organizou um catálogo das obras de Mozart,
publicado em 1862, sob o título de Registro cronológico‐temático de todas as
obras musicais de W.A.Mozart.
Nota especial – JOSEPH HAYDN
Franz Joseph Haydn nasceu em Rohrau, Baixa Áustria, a 31 de março
de 1732 e morreu a 31 de maio de 1809. Haydn é o iniciador de uma nova fase
na história da música. Não foi homem de grande cultura, mas de rara inteligência
musical. Sua experiência em conjuntos ambulantes, nas ruas, onde era
impossível o acompanhamento de baixo contínuo, levou‐o a compreender a
7. autossuficiência do conjunto instrumental de cordas. Com a sua obra se
desenvolve uma nova polifonia instrumental, sem o apoio harmônico do baixo
contínuo.
Haydn é o primeiro nome da tríade "clássica", seguido por Mozart e
Beethoven. Mas não deve ser tomado por um iniciador primitivo de um estilo
depois aperfeiçoado. Sua obra, ou pelo menos a parte válida de sua obra imensa,
já é perfeita dentro de suas proposições. E o que se propôs foi justamente o
aperfeiçoamento de uma nova linguagem musical. Sua origem musical foi o
folclore musical da Baixa Áustria, e nesse sentido sua música é
inconfundivelmente austríaca, mas seu ponto de chegada, o enriquecimento da
música instrumental, foi um idioma universal falado por todos os músicos
modernos, e não só pelos clássicos vienenses.
As seções mais importantes da música instrumental de Haydn são as
sinfonias e quartetos. As primeiras sinfonias, que não sobreviveram no
repertório, datam da década de 1760. Utiliza‐se nelas de elementos da música
barroca, conjugando, em pequenas orquestras, instrumentos de sopro e cordas.
Quanto à estrutura, Haydn não tardou em adotar a divisão em quatro
movimentos: allegro, andante, minueto e segundo allegro.
Nota especial ‐ LUDWIG VAN BEETHOVEN
Beethoven (Bonn, 16 de dezembro de 1770 — Viena, 26 de março de
1827) foi um compositor erudito alemão do período de transição entre o
Classicismo (século XVIII) e o período Romântico (século XIX). É considerado
como um dos pilares da musica ocidental pelo incontestável desenvolvimento
tanto da linguagem quanto do conteúdo musical demonstrado em obras como
seus últimos quartetos de cordas, a nona sinfonia, suas últimas sonatas etc.
Ludwig, que era canhoto, nunca teve estudos muito aprofundados mas
sempre revelou um talento excepcional para a música. Compôs as suas
primeiras peças aos onze anos. Os seus progressos foram de tal forma notáveis
que em 1784 já era segundo organista da capela do Eleitor. Pouco tempo depois
8. foi violoncelista na orquestra da corte. Em 1787 foi enviado para Viena para
estudar com Joseph Haydn. Em 1792, muda‐se para Viena, e, afora algumas
poucas viagens, permaneceria lá para o resto da vida. Durante os anos 1790,
firma uma sólida reputação como pianista e compõe suas primeiras obras‐primas:
Três Sonatas para piano Op.2 (1795), Concerto para Piano No.1 em Dó
maior Op.15 (1795), Sonata No.8 em Dó menor Op.13 [Sonata Patética] (1798),
Seis Quartetos de cordas Op.18 (1800).
Por volta de seus 24 anos (1794), Beethoven
sentiu os primeiros indícios de surdez. Embora tenha feito
muitas tentativas para tratá‐la durante os anos seguintes, a
doença continuou a progredir e, aos 46 anos (1816), estava
praticamente surdo. Porém, ao contrário do que muitos
pensam, Beethoven jamais perdeu toda a audição, muito
embora não tivesse mais, em seus últimos anos, condições
de acompanhar uma apresentação musical ou de perceber
Beethoven na época
em que ficou surdo
nuances timbrísticas.
A culminância desses anos foi a Sinfonia nº 9 em Ré menor Op.125
(1824), para muitos a sua obra‐prima. Pela primeira vez é inserido um coral num
movimento de uma sinfonia. O texto é uma adaptação do poema de Schiller “Ode
à Alegria”, feita pelo próprio Beethoven. Os anos finais de Beethoven foram
dedicados quase que exclusivamente à composição de quartetos de cordas. Foi
nesse meio que ele produziu algumas de suas mais profundas e visionárias
obras.
Conceito de Música Ideal no Classicismo
1. Linguagem deve ser universal;
Não limitada pelas barreiras nacionais;
2. Deve ser nobre e agradável;
Expressiva, dentro dos limites do decoro;
3. Natural
9. Despojada de complexidade técnicas inúteis e capaz de
cativar imediatamente qualquer ouvinte de sensibilidade
mediana;
Novas concepções de melodia e harmonia
1. Melodia
Abandono da ideia de afeto ou emoção fundamental
Criação de contrastes entre as várias partes do andamento
ou mesmo dentro do próprio tema
Estruturação periódica
Melodias articulando-se em frases distintas, regra geral de
dois ou quatro compassos, em contrapartida ao
desenvolvimento melódico em forma contínua do Barroco;
Caracterização da melodia
Podia consistir simplesmente de figuração acórdica,
eventualmente ornamentadas por nota de passagem,
grupetos, appoggiaturas, etc.
Coloridos obtidos por meio do modo Maior – menor;
2. Harmonia
Baseada no tratado teórico do francês J. P. Rameau (1683-1764)
Tratado de Harmonia (1722)
10. “Estabelecimento” da tríade maior
Resultante da divisão da corda em 2, 3 e 4 ou 5 partes iguais;
Seguindo os padrões de naturalidade vigentes do período;
Construção de acordes, em intervalos de 3ª, dentro de uma 8ª,
alargando a tríade até a 7ª;
Acordes de Tônica (1º Grau), Subdominante (4º Grau) e
Dominante (5º Grau)
Pilares da TONALIDADE;
Formulando a noção de Harmonia Funcional;
Tonalidade
Uma forma de sistematização da Harmonia
Harmonia Funcional X Harmonia Triádica (G. Zarlino, 1558 Le
Institutioni Harmoniche)
Harmonia Funcional – Função de sustentação da melodia;
Hierarquização dos acordes, e toda a música se baseia
nesta hierarquização
Harmonia Triádica – Ideia de verticalidade das vozes;
Intrínseca relação com o contraponto e com os modos
eclesiásticos;
Harmonia Funcional de Rameau (1722)
Nova forma de pensar a estruturação musical, ideal para a
burguesia;
Que não conhecia música (complexidades técnicas e
auditivas);
Precisava e ambicionava por uma música mais simples
11. Harmonia Sequencial e Progressiva de Zarlino (1558)
Sequencial – das células rítmico melódicas;
Dão a sensação de melodia (por meio da progressão do
movimento);
Ideia de Pulsão (mais rico harmonicamente e mais pobre
melodicamente);
Não há eixo centralizador – sensação de contração e
distensão;
Presente em todo o Barroco (Séc. XVII)
Tríade – Relação matemática, três notas;
Acorde – Tríade com função hierarquizada/hierarquizante;
Função de sustentação da melodia;
Porque a burguesia só conseguia cantar e distinguir uma
melodia;
Ritmo harmônico
Mais lento que o antigo
Harmonia mais “pesada”.
Estruturação
Atividade fervilhante das melodias se desenvolve sobre uma
harmonia relativamente lenta e convencional;
Harmonia e linha do baixo reduzidos a acompanhamento
12. Síntese desta prática – Música para teclas - Baixo de Alberti
(Domenico Alberti 1710-1740).
Quebra do acorde em sucessão de arpejos das notas
contidas na tríade
Utilizado por todos os compositores clássicos (1ª Escola
de Viena – Mozart, Haydn e Beethoven)
Música Vocal
Ópera, canção e música sacra
Na ópera, ocorreu o mesmo que a sonata e sinfonia;
Novos gêneros que foram surgindo a partir de modelos
antigos, sendo suplantados nas primeiras décadas do século
XVIII;
França – Tragédia lírica (tragédie lyrique) (Lully) resistiu às
mudanças
Alemanha – Estilo global da ópera veneziana (levada por
Schütz e sucessores) sobreviveu;
Itália – novos ares de mudança; fruto das mesmas forças
que remodelaram todos os gêneros da música do período
– ILUMINISMO
Nova ópera pretendia ser: Clara, simples, racional, fiel à natureza,
universalmente cativante e capaz de agradar ao público sem lhe causar fadiga
mental desnecessária;
Ópera séria italiana (metade do século XVIII):
Fórmula literária – Poeta italiano Pietro Metastasio (1689-1782);
13. Musicalizada pela maioria dos compositores do séc. XVIII;
Abordam um conflito das paixões humanas, baseado em
relato de autor da antiguidade grega ou latina;
Elenco habitual: dois pares de namorados e fig. Secundárias;
Desenrolar da ação
Introdução variada de cenas: pastoris, guerreiras,
cerimônias solenes;
Resolução do drama: ato de heroísmo ou renúncia de uma
personagem;
Óperas divididas em 3 atos: estruturados em árias e
recitativos;
Função da orquestra: acompanhamento do canto;
Interesse musical da ópera séria italiana – árias;
Reforma da Ópera séria italiana
Ópera deveria ser mais flexível na estrutura
Abandono da rigidez na sucessão recitativo-ária;
Mais expressiva no conteúdo – temáticas mais próximas do
cotidiano – abandono da temática greco-romana;
Melodias mais cantáveis – Importante que o homem comum
pudesse memorizar facilmente a melodia
Mais variedade na utilização dos recursos musicais
(orquestra e coros)
Resultados
Ária da capo modificada; maior flexibilidade entre recitativos e árias
(maior rapidez e realismo); maior importância à orquestra; reutilização de corais;
maior controle do compositor (cantores)
14. Principal personalidade do mov. Reformador - Cristoph W. Gluck
(1714-1787)
Síntese entre a ópera francesa e italiana – estilo operístico
internacional;
Guerre des bouffons (1752) – Presença da ópera cômica;
Discussão intelectual, uma oposição crítica e estética em
relação à ópera francesa;
Estopim: Presença de uma companhia de ópera italiana,
que interpretou simultaneamente a obra de Gluck
Iphigénie em Aulide, e uma ópera buffa de G. B. Pergolesi
(1710-1736) LA SERVA PADRONA (1733);
Opiniões pró ópera italiana (rainha) – pró ópera
francesa (rei);
Caminho aberto para repensar a ópera: ÓPERA
Ópera Cômica
Estilo mais ligeiro que a ópera séria;
Episódios e personagens do cotidiano;
Adotou características específicas em diferentes países, em
revolta ao predomínio da ópera séria;
Itália – Ópera buffa; França – Opéra Comique;
Inglaterra – Ballad opera; Alemanha – Singspiel e o Lied;
Libreto era escrito em língua nacional; Música acentuava as
características musicais de cada país;
Encenada com recursos mais modestos;
15. A música do classicismo no Brasil
Fator crucial para a transformação da vida musical e dos parâmetros
estéticos brasileiros seria a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro em
1808. Até então o Rio não se distinguia em nada de outros centros culturais do
país, sendo mesmo inferior a Minas e aos centros nordestinos, mas a presença
da corte alterou radicalmente a situação, concentrando todas as atenções e
servindo como grande estímulo a um outro florescimento artístico, já de molde
claramente classicista. Dom João VI havia trazido consigo a vasta biblioteca
musical dos Bragança - uma das melhores da Europa na época - e rapidamente
mandou vir músicos de Lisboa e castrati da Itália, reorganizando a Capela Real
agora com cerca de 50 cantores e uma centena de instrumentistas, e mandou
construir um suntuoso teatro, chamado de Real Teatro de São João. A música
profana contou com a presença de Marcos Portugal, nomeado Compositor da
Corte e Mestre de Música dos Infantes, e de Sigismund von Neukomm, que
contribuíram com apreciável quantidade de obras próprias e também para
divulgar na capital o trabalho de importantes autores europeus, como Mozart e
Haydn.
Neste ambiente atuou o primeiro grande
compositor brasileiro, o padre José Maurício Nunes
Garcia. Homem de grande cultura para sua origem - era
mulato e pobre - foi um dos fundadores da Irmandade de
Santa Cecília no Rio, professor de muitos alunos,
Pregador Régio e Mestre da Capela Real da Sé durante
a estada de Dom João VI no Brasil. Deixou extensa obra
de alta qualidade, onde se destacam a Missa Pastoril, a
Missa de Santa Cecília, o Officium de 1816, e as
intensamente expressivas Matinas de Finados, para coro
a capella, além de alguma música instrumental e obras
Padre José Maurício
Nunes Garcia.
teóricas. São interessantes neste período também as figuras de Gabriel
Fernandes da Trindade, compositor de modinhas e das únicas peças
camerísticas remanescentes do início do século XIX, um conjunto de refinados
Duos Concertantes para violinos, Damião Barbosa, que segundo Vasco Mariz foi
na Bahia o que o padre Maurício representou no Rio, e João de Deus de Castro
16. Lobo, que atuou nas já decadentes Mariana e Ouro Preto, mas deixando obra de
grande qualidade.
Este período de brilho não duraria muito. Em 1821 o rei foi obrigado a
retornar a Lisboa, levando consigo a corte, e a vida cultural no Rio esvaziou-se
de súbito. Apesar do entusiasmo de Dom Pedro I pela música, sendo ele mesmo
autor de algumas peças e da música do Hino da Independência, a difícil situação
financeira gerada pela independência não permitia muitos luxos. O incêndio do
Teatro de São João em 1824 foi outro golpe, apesar de ter sido restaurado e
reinaugurado sob o nome de Teatro de São Pedro de Alcântara e continuar com
suas récitas operísticas. Com a abdicação de Dom Pedro em 1831 e a
consequente instabilidade política e social durante a menoridade de seu
sucessor, o cenário se estreitou ainda mais e foi dissolvida a Capela Imperial,
permanecendo um punhado de músicos.