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Frevo e Tango: Duas Danças para Piano a Quatro Mãos de Ronaldo Miranda
Fernando Corvisier e Fátima Corvisier (Universidade de São Paulo)
Esta palestra-recital tem por objetivo apresentar uma análise interpretativa de
duas danças, Frevo e Tango, para piano a quatro mãos do compositor brasileiro Ronaldo
Miranda, nascido em 1948, no Rio de Janeiro. Através desta análise os intérpretes
pretendem dar uma visão ampla da estrutura composicional das peças, relacionando-a
com suas decisões interpretativas.
A formação instrumental “Duo Pianístico”, em sua versão piano a quatro mãos,
requer, como qualquer outra formação onde mais de um executante está envolvido na
realização musical, um perfeito entrosamento de seus participantes. Além do aspecto
técnico-instrumental, deve-se considerar o aspecto musical deste entrosamento. É
através da análise da partitura, e da discussão de aspectos técnico-interpretativos
relevantes, que este objetivo é alcançado. A busca de coerência entre as idéias musicais
e de afinidades entre as características pianísticas dos dois intérpretes, também são
fundamentais na elaboração da concepção interpretativa da obra.
Ronaldo Miranda considera que a evolução de sua linguagem composicional
está dividida em quatro períodos. O primeiro compreende as peças de juventude,
compostas antes de 1977, onde há reminiscências do nacionalismo através da
recorrência da modalidade. O segundo já revela um compositor mais maduro,
explorando o atonalismo livre. O terceiro, a partir de 1984, caracteriza-se pelo uso do
neo-tonalismo e o período atual, a partir do início dos anos de 1990, é marcado pelo
ecletismo e consolidação da sua linguagem.
A obra Frevo, datada de 2004, sua mais recente composição para piano a quatro
mãos, foi composta por encomenda do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de
Janeiro para o projeto “Do outro lado do Carnaval”. A proposta teve por objetivo
mostrar a música de concerto no contexto do carnaval. O Frevo de Miranda é uma obra
inspirada em uma dança popular do carnaval do Recife, capital do estado de
Pernambuco, no nordeste do Brasil. A origem do Frevo é a polca-marcha militar que se
transformou ao longo dos primeiros anos do século XX nesta dança instrumental, uma
marcha em tempo binário e andamento extremamente rápido. O vocábulo Frevo é
proveniente de “Frever” ou Ferver, em alusão ao comportamento efervescente da
multidão, dançando ao som das síncopes contagiantes desta dança carnavalesca, pelas
ruas estreitas de Recife. Através desta dança, o autor constrói um discurso musical onde
2
o Frevo serve como moldura para outras danças características do carnaval brasileiro,
tais como a marcha-rancho, popular nos desfiles das primeiras agremiações
carnavalescas do Rio de Janeiro. Nesta obra Miranda tece uma orquestração pianística
elaborada através da manipulação de timbres variados lembrando a presença dos
instrumentos de metais, uma forte característica da instrumentação do frevo, nos
registros agudos do piano, até os instrumentos de percussão, de origem africana, que
tentam emular a percussão típica utilizada nestas danças carnavalescas. A linguagem
harmônica revela a maturidade do compositor na utilização de um vocabulário onde
existe uma livre combinação de elementos tais como o politonalismo, modalismo e o
emprego de estruturas quartais. Outro aspecto interessante nesta obra é o emprego de
escalas por tons inteiros como forma de dissipar tensões harmônicas e criar
ambientações sonoras.
A obra Tango para piano a quatro mãos foi escrita em 1993 e foi imediatamente
incorporada ao repertório dos duos pianísticos. Ronaldo Miranda descreve a gênesis
desta peça: “... procurei dar à obra um certo brilho e uma certa rudeza bartokiana, que
contrastam com o molto cantabile central, com reminiscências de Piazzolla, um dos reis
do gênero. É a parte mais lírica e menos rude da peça. Entre a seção central e a
reexposição, há uma grande e vigorosa retransição. No final, uma Coda literalmente
explosiva.” De fato, apesar das alusões explícitas ao tango de Piazzolla, Miranda
constrói um discurso musical original utilizando um vocabulário musical eclético no
qual são utilizados material escalar octatônico, uma linguagem harmônica que por vezes
apóia-se no neo-tonalismo, e um tratamento nitidamente percussivo do instrumento. O
tango explora toda uma gama de recursos do instrumento, através de uma orquestração
pianística variada, enfatizando ora texturas densas, ora texturas mais rarefeitas, que
percorrem os registros mais agudos até os mais graves do instrumento.
Pode-se afirmar que as obras Frevo e Tango situam-se em uma posição de
destaque dentro do repertório contemporâneo brasileiro para piano a quatro mãos.
Através destas obras Miranda explora todas as possibilidades sonoras do instrumento.
Ambas as partes, primo e secondo, são elaboradas em uma orquestração
interdependente não havendo propriamente uma parte solo e outra que represente um
mero acompanhamento. Ao mesmo tempo estas obras exigem dos intérpretes uma
maturidade artística e um pleno domínio instrumental.
3
Referências bibliográficas
ANDRADE, Mário de. “Frevo”. Dicionário Musical Brasileiro. Oneyda Alvarenga
Flávia Toni, coordenação. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da
Universidade de São Paulo, Editora USP, 1989.
DAWES, Frank. “Piano Duet”. The New Grove Dictionary of Music and Musicians.
Stanley Sadie, editor. Londres: Macmillan Press, 1980, vol.15, p.680-82.
DUARTE, Vitor Monteiro. Ronaldo Miranda´s solo and four-hand piano works: The
evolution of language towards musical eclecticism. Tese de Doutorado (DMA).
University of Arizona, 2002.
GANDELMAN, Salomea. 36 Compositores Brasileiros. Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 1997.
HINSON, Maurice. Music for More than One Piano: An Annotated Guide.
Bloomington: Indiana University Press, 2001.
LARUE, Jan. Guidelines for Style Analysis. New York: W.W. Norton & Co., 1970.
LUBIN, Ernest. The Piano Duet: A Guide for Pianists. New York: Da Capo Press,
1976.
MIRANDA, Ronaldo. O aproveitamento das formas tradicionais na linguagem musical
contemporânea na composição de um concerto para piano e orquestra.
Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987.
MOLDENHAUER, Hans. Duo-Pianism. Chicago: Chicago Music College Press, 1950.
RINK, John. The Practice of Performance: Studies in Musical Interpretation.
Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
4
SCHMALFEDT, Janet. “On the Relation of Analysis to Performance: Beethoven
Bagatelles Op.126.” Journal of Music Theory, 1985, v.29, n.1, p.1-131

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  • 1. 1 Frevo e Tango: Duas Danças para Piano a Quatro Mãos de Ronaldo Miranda Fernando Corvisier e Fátima Corvisier (Universidade de São Paulo) Esta palestra-recital tem por objetivo apresentar uma análise interpretativa de duas danças, Frevo e Tango, para piano a quatro mãos do compositor brasileiro Ronaldo Miranda, nascido em 1948, no Rio de Janeiro. Através desta análise os intérpretes pretendem dar uma visão ampla da estrutura composicional das peças, relacionando-a com suas decisões interpretativas. A formação instrumental “Duo Pianístico”, em sua versão piano a quatro mãos, requer, como qualquer outra formação onde mais de um executante está envolvido na realização musical, um perfeito entrosamento de seus participantes. Além do aspecto técnico-instrumental, deve-se considerar o aspecto musical deste entrosamento. É através da análise da partitura, e da discussão de aspectos técnico-interpretativos relevantes, que este objetivo é alcançado. A busca de coerência entre as idéias musicais e de afinidades entre as características pianísticas dos dois intérpretes, também são fundamentais na elaboração da concepção interpretativa da obra. Ronaldo Miranda considera que a evolução de sua linguagem composicional está dividida em quatro períodos. O primeiro compreende as peças de juventude, compostas antes de 1977, onde há reminiscências do nacionalismo através da recorrência da modalidade. O segundo já revela um compositor mais maduro, explorando o atonalismo livre. O terceiro, a partir de 1984, caracteriza-se pelo uso do neo-tonalismo e o período atual, a partir do início dos anos de 1990, é marcado pelo ecletismo e consolidação da sua linguagem. A obra Frevo, datada de 2004, sua mais recente composição para piano a quatro mãos, foi composta por encomenda do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro para o projeto “Do outro lado do Carnaval”. A proposta teve por objetivo mostrar a música de concerto no contexto do carnaval. O Frevo de Miranda é uma obra inspirada em uma dança popular do carnaval do Recife, capital do estado de Pernambuco, no nordeste do Brasil. A origem do Frevo é a polca-marcha militar que se transformou ao longo dos primeiros anos do século XX nesta dança instrumental, uma marcha em tempo binário e andamento extremamente rápido. O vocábulo Frevo é proveniente de “Frever” ou Ferver, em alusão ao comportamento efervescente da multidão, dançando ao som das síncopes contagiantes desta dança carnavalesca, pelas ruas estreitas de Recife. Através desta dança, o autor constrói um discurso musical onde
  • 2. 2 o Frevo serve como moldura para outras danças características do carnaval brasileiro, tais como a marcha-rancho, popular nos desfiles das primeiras agremiações carnavalescas do Rio de Janeiro. Nesta obra Miranda tece uma orquestração pianística elaborada através da manipulação de timbres variados lembrando a presença dos instrumentos de metais, uma forte característica da instrumentação do frevo, nos registros agudos do piano, até os instrumentos de percussão, de origem africana, que tentam emular a percussão típica utilizada nestas danças carnavalescas. A linguagem harmônica revela a maturidade do compositor na utilização de um vocabulário onde existe uma livre combinação de elementos tais como o politonalismo, modalismo e o emprego de estruturas quartais. Outro aspecto interessante nesta obra é o emprego de escalas por tons inteiros como forma de dissipar tensões harmônicas e criar ambientações sonoras. A obra Tango para piano a quatro mãos foi escrita em 1993 e foi imediatamente incorporada ao repertório dos duos pianísticos. Ronaldo Miranda descreve a gênesis desta peça: “... procurei dar à obra um certo brilho e uma certa rudeza bartokiana, que contrastam com o molto cantabile central, com reminiscências de Piazzolla, um dos reis do gênero. É a parte mais lírica e menos rude da peça. Entre a seção central e a reexposição, há uma grande e vigorosa retransição. No final, uma Coda literalmente explosiva.” De fato, apesar das alusões explícitas ao tango de Piazzolla, Miranda constrói um discurso musical original utilizando um vocabulário musical eclético no qual são utilizados material escalar octatônico, uma linguagem harmônica que por vezes apóia-se no neo-tonalismo, e um tratamento nitidamente percussivo do instrumento. O tango explora toda uma gama de recursos do instrumento, através de uma orquestração pianística variada, enfatizando ora texturas densas, ora texturas mais rarefeitas, que percorrem os registros mais agudos até os mais graves do instrumento. Pode-se afirmar que as obras Frevo e Tango situam-se em uma posição de destaque dentro do repertório contemporâneo brasileiro para piano a quatro mãos. Através destas obras Miranda explora todas as possibilidades sonoras do instrumento. Ambas as partes, primo e secondo, são elaboradas em uma orquestração interdependente não havendo propriamente uma parte solo e outra que represente um mero acompanhamento. Ao mesmo tempo estas obras exigem dos intérpretes uma maturidade artística e um pleno domínio instrumental.
  • 3. 3 Referências bibliográficas ANDRADE, Mário de. “Frevo”. Dicionário Musical Brasileiro. Oneyda Alvarenga Flávia Toni, coordenação. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, Editora USP, 1989. DAWES, Frank. “Piano Duet”. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. Stanley Sadie, editor. Londres: Macmillan Press, 1980, vol.15, p.680-82. DUARTE, Vitor Monteiro. Ronaldo Miranda´s solo and four-hand piano works: The evolution of language towards musical eclecticism. Tese de Doutorado (DMA). University of Arizona, 2002. GANDELMAN, Salomea. 36 Compositores Brasileiros. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997. HINSON, Maurice. Music for More than One Piano: An Annotated Guide. Bloomington: Indiana University Press, 2001. LARUE, Jan. Guidelines for Style Analysis. New York: W.W. Norton & Co., 1970. LUBIN, Ernest. The Piano Duet: A Guide for Pianists. New York: Da Capo Press, 1976. MIRANDA, Ronaldo. O aproveitamento das formas tradicionais na linguagem musical contemporânea na composição de um concerto para piano e orquestra. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987. MOLDENHAUER, Hans. Duo-Pianism. Chicago: Chicago Music College Press, 1950. RINK, John. The Practice of Performance: Studies in Musical Interpretation. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
  • 4. 4 SCHMALFEDT, Janet. “On the Relation of Analysis to Performance: Beethoven Bagatelles Op.126.” Journal of Music Theory, 1985, v.29, n.1, p.1-131