1. ❉ Sexta - Estudo adicional
Ensinos de Jesus - Morte e ressurreição - Lição 1232014
O Desejado de Todas as Nações, p. 524-536: “Lázaro, Sai Para Fora”.
Entre os mais firmes discípulos de Cristo, achava-se Lázaro de Betânia. Desde o primeiro encontro que
tiveram, havia sido forte sua fé em Cristo; profundo era o amor que Lhe dedicava, e muito o amava o
Salvador. Foi em benefício de Lázaro que se realizou o maior dos milagres de Cristo. O Salvador beneficiava
a todos quantos Lhe buscavam o auxílio. Ama toda a família humana; mas liga-Se a alguns por laços
especialmente ternos. Seu coração estava unido por forte vínculo de afeição à família de Betânia, e por um
membro dela foi realizada a mais maravilhosa de Suas obras.
No lar de Lázaro encontrara Jesus muitas vezes repouso. O Salvador não tinha lar próprio; dependia da
hospitalidade de amigos e discípulos; e frequentemente, quando cansado, sequioso de companhia humana,
alegrara-Se de poder escapar para esse pacífico ambiente de família, longe das suspeitas e invejas dos
raivosos fariseus. Ali recebia sincero acolhimento, pura e santa amizade. Ali podia falar com simplicidade e
liberdade perfeitas, sabendo que Suas palavras seriam compreendidas e entesouradas.
Nosso Salvador apreciava um lar tranqüilo e ouvintes interessados. Anelava a ternura, a cortesia e o afeto
humanos. Os que recebiam a celestial instrução que sempre estava pronto a comunicar, eram grandemente
abençoados. Ao seguirem-nO as multidões através dos campos, desvendava-lhes as belezas do mundo
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natural. Procurava abrir-lhes os olhos do entendimento, a fim de verem como a mão divina sustém os
mundos. A fim de despertar apreço pela bondade e benevolência divinas, chamava a atenção dos ouvintes
para o orvalho a cair de manso, a branda chuva e o resplendente Sol, dados igualmente aos bons e aos
maus. Desejava que os homens compreendessem mais perfeitamente o cuidado que Deus dispensa aos
instrumentos humanos por Ele criados. A multidão, porém, era tardia em ouvir, e no lar de Betânia Cristo
encontrava repouso do fatigante conflito da vida pública. Descerrava ali, perante um auditório apto a
apreciar, o volume da Providência. Nessas palestras íntimas, desdobrava a Seus ouvintes o que não tentava
dizer à multidão mista. A Seus amigos, não necessitava falar por parábolas.
Ao dar Cristo Suas admiráveis lições, Maria sentava-se-Lhe aos pés, ouvinte atenta e reverente. Certa vez,
Marta, perplexa com o cuidado de preparar a refeição, foi ter com Cristo, dizendo: "Senhor, não Te importas
que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe, pois, que me ajude." Luc. 10:40. Isto foi por ocasião da
primeira visita de Cristo a Betânia. O Salvador e os discípulos haviam feito a pé a fatigante viagem de Jericó
até lá. Marta anelava proporcionar-lhes conforto e, em sua ansiedade, esqueceu a gentileza devida ao
Hóspede. Jesus lhe respondeu branda e pacientemente: "Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com
muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada." Luc.
10:41 e 42. Maria estava enriquecendo o espírito com as preciosas palavras caídas dos lábios do Salvador,
palavras mais valiosas para ela do que as mais magníficas jóias da Terra.
A "uma só" coisa que Marta necessitava, era espírito calmo, devoto, mais profundo anseio de conhecimento
da vida futura, imortal, e as graças necessárias ao progresso espiritual. Precisava de menos ansiedade em
torno das coisas que passam, e mais pelas que permanecem para sempre. Jesus quer ensinar Seus filhos a
se apoderarem de toda oportunidade de adquirir o conhecimento que os tornará sábios para a salvação. A
causa de Cristo requer obreiros cuidadosos e enérgicos. Existe vasto campo para as Martas, com seu zelo
no culto ativo. Sentem-se elas primeiro, porém, com Maria aos pés de Jesus. Sejam a diligência, prontidão e
energia santificadas pela graça de Cristo; então a vida será uma invencível força para o bem.
A dor penetrou no pacífico lar em que Jesus descansara. Lázaro foi acometido de repentina moléstia, e as
irmãs mandaram em busca do Salvador, dizendo: "Senhor, eis que está enfermo
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aquele que Tu amas." João 11:3. Viram a violência do mal que atacara o irmão, mas sabiam que Jesus Se
demonstrara capaz de curar toda espécie de doenças. Acreditavam que delas Se compadeceria em sua
aflição; não puseram, pois, maior empenho em que viesse imediatamente, mas enviaram apenas a confiante
mensagem: "Eis que está enfermo aquele que Tu amas." Julgavam que atenderia imediatamente a esse
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2. apelo e Se acharia com elas assim que Lhe fosse possível. Ansiosas, aguardavam uma palavra de Jesus.
Enquanto restou em seu irmão uma centelha de vida, oraram, e esperaram pelo Mestre. Mas o mensageiro
voltou sem Ele. Trouxe, todavia, o recado: "Esta enfermidade não é para morte" (João 11:4), e elas se
apegaram à esperança de que Lázaro viveria. Buscavam com ternura dirigir palavras de esperança e
animação ao quase inconsciente enfermo. Quando Lázaro morreu, ficaram cruelmente decepcionadas;
sentiam-se, porém, sustidas pela graça de Cristo, e isso as guardou de lançar qualquer censura ao Salvador.
Quando Cristo ouviu a notícia, os discípulos julgaram que a recebera friamente. Não manifestou o pesar que
esperavam. Olhando para eles, disse: "Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para
que o Filho de Deus seja glorificado por ela." Por dois dias Se demorou no lugar em que Se achava. Essa
demora era um mistério para os discípulos. Que conforto Sua presença seria para a aflita família! pensavam.
Era bem conhecida dos discípulos Sua grande afeição pela família de Betânia, e surpreenderam-se de que
Ele não atendesse à triste mensagem: "Eis que está enfermo aquele que Tu amas."
Durante os dois dias, Cristo parecia haver alijado da mente a notícia; pois não falava em Lázaro. Os
discípulos lembraram-se de João Batista, o precursor de Jesus. Haviam-se admirado de que, com o poder
de que dispunha para operar milagres maravilhosos, Cristo houvesse permitido que João definhasse no
cárcere e morresse de morte violenta. Possuindo tal poder, por que não salvara a vida de João? Essa
pergunta fora muitas vezes feita pelos fariseus, que a apresentavam como irrefutável argumento contra a
afirmação de Cristo, de ser o Filho de Deus. O Salvador advertira os discípulos de provações, perdas e
perseguições. Abandoná-los-ia na provação? Alguns cogitaram se se haviam enganado a respeito de Sua
missão. Todos ficaram profundamente perturbados.
Depois de esperar dois dias, disse Jesus aos discípulos: "Vamos outra vez para a Judéia." João 11:7. Os
discípulos reflexionavam por que, se Jesus ia para a Judéia, esperara dois dias? Mas a ansiedade
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por Cristo e por eles próprios tomou então o primeiro plano no espírito deles. Não podiam ver senão perigos
no passo que Ele ia dar. "Rabi", disseram, "ainda agora os judeus procuravam apedrejar-Te, e tornas para
lá? Jesus respondeu: Não há doze horas no dia?" Acho-Me sob a direção de Meu Pai; enquanto fizer Sua
vontade, Minha vida está segura. As doze horas do Meu dia ainda não findaram. Entrei em suas últimas
horas; mas enquanto restar algumas delas, acho-Me a salvo.
"Se alguém andar de dia", continuou, "não tropeça, porque vê a luz deste mundo." Aquele que faz a vontade
de Deus, que anda no caminho por Ele indicado, não pode tropeçar nem cair. A luz do Espírito de Deus, a
guiá-lo, dá-lhe clara percepção de seu dever, conduzindo-o direito até ao fim de sua obra. "Mas, se andar de
noite, tropeça, porque nele não há luz." Aquele que anda em caminho de sua própria escolha, ao qual Deus
não o chamou, tropeçará. Para esse o dia se torna em noite, e onde quer que esteja, não se acha seguro.
"Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo do sono." "Lázaro, o
nosso amigo, dorme." João 11:9-11. Que tocantes essas palavras! quão repassadas de simpatia! Ao
pensamento do perigo que seu Mestre ia correr indo a Jerusalém, os discípulos quase esqueceram a
enlutada família de Betânia. Tal, porém, não se dera com Cristo. Os discípulos sentiram-se repreendidos.
Tinham ficado decepcionados por Cristo não atender mais prontamente à mensagem. Foram tentados a
pensar que não possuía por Lázaro e suas irmãs a terna afeição que Lhe atribuíam, do contrário Se teria
apressado a ir com o mensageiro. Mas as palavras: "Lázaro, o nosso amigo, dorme", despertaram-lhes os
devidos sentimentos. Convenceram-se de que Jesus não esquecera os amigos em aflição.
"Disseram pois os Seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles,
porém, cuidavam que falava do repouso do sono." João 11:12 e 13. Cristo apresenta a morte, para Seus
filhos crentes, como um sono. Sua vida está escondida com Cristo em Deus, e até que soe a derradeira
trombeta, os que morrem dormirão nEle.
Então Jesus lhes disse claramente: "Lázaro está morto; e folgo, por amor de vós de que Eu lá não estivesse,
para que acrediteis; mas vamos ter com ele." João 11:14 e 15. Tomé não podia ver senão morte reservada a
seu Mestre, caso fosse para a Judéia; mas encheu-se de ânimo, e disse aos outros discípulos: "Vamos nós
também, para morrermos com Ele." João 11:16. Ele conhecia o ódio dos judeus para com
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Cristo. Era desígnio deles tramar-Lhe a morte, mas não alcançaram esse objetivo, porque Lhe restava ainda
algum do tempo que Lhe estava determinado. Durante esse tempo, Jesus tinha a guarda dos anjos
celestiais, e mesmo nas regiões da Judéia, onde os rabis estavam tramando a maneira de se apoderar dEle
e entregá-Lo à morte, mal algum Lhe poderia sobrevir.
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3. Os discípulos maravilharam-se às palavras de Cristo, quando disse: "Lázaro está morto; e folgo... que Eu lá
não estivesse." João 11:14 e 15. Esquivar-Se-ia o Salvador, por Sua própria vontade, do lar de Seus amigos
em sofrimento? Aparentemente. Maria, Marta e o moribundo Lázaro foram deixados sós. Mas não estavam
sós. Cristo testemunhou toda a cena e, depois da morte de Lázaro, Sua graça susteve as desoladas irmãs.
Jesus testemunhou a dor de seus despedaçados corações, ao lutar o irmão contra o poderoso inimigo - a
morte. Sentiu todo o transe da agonia, quando disse aos discípulos: "Lázaro o nosso amigo, dorme." Mas
Cristo não tinha somente os amados de Betânia em quem pensar; o preparo de Seus discípulos exigia-Lhe a
consideração. Deviam ser Seus representantes perante o mundo, para que a bênção do Pai a todos
pudesse abranger. Por amor deles permitiu que Lázaro morresse. Houvesse-o Ele restabelecido à saúde, e
não se teria realizado o milagre que é a mais positiva prova de Seu caráter divino.
Se Cristo Se achara no quarto do doente, este não teria morrido; pois Satanás nenhum poder sobre ele
exerceria. A morte não alvejaria a Lázaro com seu dardo, em presença do Doador da vida. Portanto, Cristo
Se conservou distante. Consentiu que o maligno exercesse seu poder, a fim de o fazer recuar como um
inimigo vencido. Permitiu que Lázaro passasse pelo poder da morte; e as consternadas irmãs viram seu
amado ser deposto no sepulcro. Cristo sabia que ao contemplarem o rosto inanimado do irmão, severa seria
a prova de sua fé no Redentor. Mas sabia que, em virtude da luta por que estavam então passando essa fé
resplandeceria com brilho incomparavelmente maior. Sofreu cada transe da dor que padeceram. Não os
amava menos, pelo fato de demorar-Se; mas sabia que por elas, por Lázaro, por Ele próprio e os discípulos,
deveria ser obtida uma vitória.
"Por amor de vós", "para que acrediteis." A todos quantos estão buscando sentir a mão guiadora de Deus, o
momento do maior desânimo é justamente aquele em que mais perto está o divino auxílio. Olharão para trás
com reconhecimento, à parte mais sombria do caminho que percorreram. "Assim sabe o Senhor livrar da
tentação os piedosos." II Ped. 2:9. De toda tentação e de toda prova, tirá-los-á Ele com mais firme fé e mais
rica experiência.
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Retardando Sua ida para junto de Lázaro, tinha Cristo um desígnio de misericórdia para com os que O não
receberam. Demorou-Se para que, erguendo Lázaro dos mortos, pudesse dar a Seu incrédulo, obstinado
povo, outra prova de que era na verdade "a ressurreição e a vida". Custava-Lhe renunciar a toda esperança
quanto ao povo, as pobres, extraviadas ovelhas da casa de Israel. Partia-se-Lhe o coração por causa da sua
impenitência. Determinou, em Sua misericórdia, dar mais uma prova de que era o Restaurador, Aquele que,
unicamente, podia trazer à luz a vida e a imortalidade. Havia de ser um testemunho que os sacerdotes não
pudessem torcer. Foi essa a causa de Sua demora em ir a Betânia. Esse milagre, a coroa dos milagres do
Salvador - a ressurreição de Lázaro - devia pôr o selo de Deus em Sua obra e em Sua reivindicação à
divindade.
Na jornada para Betânia, Jesus, segundo o Seu costume, socorreu os enfermos e necessitados. Ao chegar à
cidade, mandou às irmãs um mensageiro com as novas de Sua chegada. Cristo não entrou imediatamente
em casa, mas ficou num lugar retirado, próximo ao caminho. A grande demonstração que os judeus
costumavam fazer por ocasião da morte de parentes e amigos, não se coadunava com o espírito de Cristo.
Ouviu os sons das lamentações dos pranteadores assalariados, e não desejava encontrar-Se com as irmãs
nessa cena de confusão. Entre os pranteadores amigos, achavam-se parentes da família, alguns dos quais
ocupavam posições de responsabilidade em Jerusalém. Encontravam-se entre eles os mais rancorosos
inimigos de Cristo. Este lhes conhecia os desígnios, e daí não Se deu imediatamente a conhecer.
A mensagem foi transmitida a Marta tão discretamente, que outros no quarto não a ouviram. Absorta em seu
pesar, Maria não escutou as palavras. Erguendo-se de pronto, Marta saiu ao encontro do Senhor, mas,
pensando que ela fora ao sepulcro de Lázaro, Maria deixou-se ficar em silêncio com a sua mágoa, sem fazer
nenhum rumor.
Marta apressou-se em ir ter com Jesus, o coração agitado por desencontradas emoções. Em Seu
expressivo rosto, leu ela a mesma ternura e amor que nEle sempre vira. Sua confiança nEle permaneceu
intata, mas lembrou-se de seu bem-amado irmão, a quem também Jesus amara. Num misto de desgosto
nascente, por Cristo não ter vindo antes, e de esperança de que ainda agora faria qualquer coisa para as
confortar, exclamou: "Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido!" João 11:21. Repetidas
vezes, por entre o tumulto dos pranteadores, haviam as irmãs feito essa exclamação.
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Com humana e divina piedade, contemplou Jesus seu dolorido e fatigado rosto. Marta não mostrava desejos
de narrar o acontecido; tudo se exprimiu nas patéticas palavras: "Senhor, se Tu estivesses aqui, meu irmão
não teria morrido!" Fitando o amorável semblante, acrescentou: "Mas também agora sei que tudo quanto
pedires a Deus, Deus To concederá." João 11:21 e 22.
Jesus lhe animou a fé, dizendo: "Teu irmão há de ressuscitar." João 11:23. Sua resposta não visava a
inspirar a expectativa de uma mudança imediata. Conduziu os pensamentos de Marta para além da
restauração presente de seu irmão, fixando-os na ressurreição dos justos. Assim fez para que visse, na
ressurreição de Lázaro, o penhor da de todos os justos mortos e a certeza de que se realizaria pelo poder do
Salvador.
Marta respondeu: "Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia." João 11:24.
Ainda procurando dar a verdadeira direção à sua fé, Jesus declarou: "Eu sou a ressurreição e a vida." Em
Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. "Quem tem o Filho tem a vida." I João 5:12. A
divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente. "Quem crê em Mim", disse Jesus, "ainda que
esteja morto viverá; e todo aquele que vive, e crê em Mim, nunca morrerá. Crês tu isto?" João 11:25 e 26.
Cristo olha aqui ao tempo de Sua segunda vinda. Então os justos mortos ressuscitarão incorruptíveis, e os
vivos serão trasladados para o Céu, sem ver a morte. O milagre que Cristo estava prestes a realizar, em
ressuscitar a Lázaro dos mortos, representaria a ressurreição de todos os justos mortos. Por Suas palavras
e obras, declarou-Se o Autor da ressurreição. Aquele que estava, Ele próprio, prestes a morrer na cruz,
retinha as chaves da morte, vencedor do sepulcro, e afirmou Seu direito e poder de dar vida eterna.
Às palavras do Salvador: "Crês tu?" Marta respondeu: "Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de
Deus, que havia de vir ao mundo." João 11:27. Ela não compreendia em toda a sua significação as palavras
proferidas por Cristo, mas confessou sua fé na divindade dEle, e sua confiança em que Ele era capaz de
efetuar qualquer coisa que Lhe aprouvesse.
"E, dito isto, partiu e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e chama-te." João
11:28. Ela comunicou sua mensagem o mais reservadamente possível; pois os sacerdotes e principais
estavam preparados para prender Jesus quando se oferecesse oportunidade. O clamor dos pranteadores
impediu que suas palavras fossem ouvidas.
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Ao receber a comunicação, Maria ergueu-se apressadamente, e com expressão ansiosa, deixou a sala.
Julgando que ela fora à sepultura para chorar, os pranteadores seguiram-na. Ao chegar ao local em que
Jesus a esperava, ajoelhou-se-Lhe aos pés, e disse com lábios trêmulos: "Senhor, se Tu estivesses aqui,
meu irmão não teria morrido." João 11:21. Eram-lhe penosos os gritos dos pranteadores; pois ela desejava
trocar algumas tranqüilas palavras só com Jesus. Mas conhecia a inveja e o ciúme que alguns dos
presentes contra Ele nutriam no coração, e absteve-se de exprimir-Lhe plenamente a sua mágoa.
"Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-Se muito em
espírito, e perturbou-Se." João 11:33. Lia o coração de todos os que ali estavam reunidos. Viu que da parte
de muitos, não passava de simulação o que apresentavam como demonstração de pesar. Sabia que alguns
no grupo, manifestando agora hipócrita tristeza, estariam sem muita demora, planejando a morte, não
somente do poderoso Operador de Milagres, mas daquele que estava para ser ressuscitado. Cristo lhes
poderia haver arrancado o manto de fingido pesar. Conteve, porém, Sua justa indignação. As palavras que
poderia, com toda verdade, haver proferido, calou-as por amor do querido ser a Seus pés ajoelhado em dor,
e que realmente nEle acreditava.
"Onde o pusestes?" perguntou. "Disseram-Lhe: Senhor, vem e vê." João 11:34. Juntos, dirigiram-se para o
sepulcro. Foi uma cena dolorosa. Lázaro fora muito amado, e as irmãs por ele choravam, despedaçado o
coração, ao passo que os que haviam sido amigos seus, misturavam as lágrimas com as das desoladas
irmãs. Em face dessa aflição humana e de que os amigos consternados pranteavam o morto, enquanto o
Salvador do mundo ali Se achava - "Jesus chorou". João 11:35. Se bem que fosse o Filho de Deus,
revestira-Se, no entanto, da natureza humana e comoveu-Se com a humana dor. Seu terno, compassivo
coração está sempre pronto a compadecer-se perante o sofrimento. Chora com os que choram, e alegra-Se
com os que se alegram.
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5. Não foi, porém, simplesmente pela simpatia humana para com Maria e Marta, que Jesus chorou. Havia em
Suas lágrimas uma dor tão acima da simples mágoa humana, como o Céu se acha acima da Terra. Cristo
não chorou por Lázaro; pois estava para o chamar do sepulcro. Chorou porque muitos dos que ora
pranteavam a Lázaro haviam de em breve tramar a morte dAquele que era a ressurreição e a vida. Quão
incapazes se achavam, no entanto, os incrédulos judeus de interpretar devidamente Suas
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lágrimas! Alguns, que não conseguiam enxergar senão as circunstâncias exteriores da cena que perante Ele
estava, como causa de Sua tristeza, disseram baixinho: "Vede como o amava!" Outros, procurando lançar a
semente da incredulidade no coração dos presentes, disseram, irônicos: "Não podia Ele, que abriu os olhos
ao cego, fazer também com que este não morresse?" João 11:36 e 37. Se estava no poder de Cristo salvar
a Lázaro, por que, então, o deixou morrer?
Com profética visão, percebeu Cristo a inimizade dos fariseus e dos saduceus. Sabia que Lhe estavam
premeditando a morte. Não ignorava que alguns dos que tão cheios de aparente simpatia se mostravam, em
breve fechariam contra si mesmos a porta da esperança e os portais da cidade de Deus. Em Sua
humilhação e crucifixão estava para verificar-se uma cena que daria em resultado a destruição de
Jerusalém, e então ninguém lamentaria os mortos. O juízo que estava para cair sobre Jerusalém foi perante
Ele claramente delineado. Contemplou Jerusalém cercada pelas legiões romanas. Viu que muitos dos que
agora choravam por Lázaro morreriam no cerco da cidade, e não haveria esperança em sua morte.
Não foi somente pela cena que se desenrolava a Seus olhos, que Cristo chorou. Pesava sobre Ele a dor dos
séculos. Viu os terríveis efeitos da transgressão da lei divina. Viu que, na história do mundo, a começar com
a morte de Abel, fora incessante o conflito entre o bem e o mal. Lançando o olhar através dos séculos por
vir, viu o sofrimento e a dor, as lágrimas e a morte que caberiam em sorte aos homens. Seu coração pungiu-se
pelas penas da família humana de todos os tempos e em todas as terras. Pesavam-Lhe fortemente sobre
a alma as misérias da pecadora raça, e rompeu-se-Lhe a fonte das lágrimas no anelo de lhes aliviar todas as
aflições.
"Jesus pois, movendo-Se outra vez muito em Si mesmo, veio ao sepulcro." Lázaro fora depositado numa
cova na rocha, sendo colocado na porta um bloco de pedra. "Tirai a pedra" (João 11:38 e 39), disse Cristo.
Julgando que desejasse apenas ver o morto, Maria objetou, dizendo que o corpo fora enterrado havia quatro
dias, tendo já começado o processo de decomposição. Esta afirmativa, feita antes de Lázaro ressuscitar,
não deixou margem a que os inimigos de Cristo dissessem que houvera fraude. Anteriormente, haviam os
fariseus espalhado falsas afirmações em torno das mais maravilhosas manifestações do poder de Deus. Ao
ressuscitar Cristo a filha de Jairo, dissera: "A menina não está morta, mas dorme." Mar. 5:39. Como
houvesse estado doente apenas pouco tempo, e fora
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ressuscitada imediatamente depois da morte, os fariseus afirmaram que a criança não estava morta; que o
próprio Cristo dissera que ela dormia. Procuraram fazer crer que Jesus não podia curar moléstias, que Seus
milagres não passavam de mistificação. Nesse caso, porém, ninguém podia negar que Lázaro estivesse
morto.
Quando o Senhor está para realizar uma obra, Satanás instiga alguém a fazer objeções. "Tirai a pedra",
disse Cristo. Tanto quanto possível, preparai o caminho para Minha obra. Manifestou-se, porém, a natureza
positiva e pretensiosa de Marta. Não desejava que o corpo em decomposição fosse apresentado aos
olhares dos outros. O coração humano é tardio em compreender as palavras de Cristo, e a fé de Marta não
apreendera o verdadeiro sentido de Sua promessa.
Cristo reprovou a Marta, mas Suas palavras foram proferidas com a máxima brandura. "Não te hei dito que,
se creres verás a glória de Deus?" João 11:40. Por que duvidas de Meu poder? Por que arrazoas em
contradição às Minhas ordens? Tens a Minha palavra. Se creres, verás a glória de Deus. Impossibilidades
naturais não podem impedir a obra do Onipotente. Ceticismo e incredulidade não são humildade. A crença
implícita na palavra de Cristo, eis a verdadeira humildade, a verdadeira entrega de si mesmo.
"Tirai [vós] a pedra." João 11:39. Cristo podia ter ordenado à pedra que se deslocasse por si mesma, e ela
Lhe teria obedecido à voz. Poderia ter mandado aos anjos que se Lhe achavam ao lado, que fizessem isso.
Ao Seu mando, mãos invisíveis teriam removido a pedra. Mas ela devia ser retirada por mãos humanas.
Assim queria Cristo mostrar que a humanidade tem de cooperar com a divindade. O que o poder humano
pode fazer, o divino não é solicitado a realizar. Deus não dispensa o auxílio humano. Fortalece-o,
cooperando com ele, ao servir-se das faculdades e aptidões que lhe foram dadas.
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6. A ordem é obedecida. Retiram a pedra. Faz-se tudo pública e propositadamente. Dá-se a todos a
oportunidade de ver que nenhuma fraude é praticada. Ali jaz o corpo de Lázaro no sepulcro da rocha, no frio
e na mudez da morte. Silenciam os lamentos dos pranteadores. Surpreso, em expectação, reúne-se o grupo
em torno do sepulcro, esperando o que se vai seguir.
Cristo, sereno, Se acha de pé ante a tumba. Paira sobre todos os presentes uma santa solenidade. Cristo
Se aproxima do sepulcro. Erguendo os olhos ao Céu, diz: "Pai, graças Te dou por Me haveres ouvido." João
11:41. Não muito tempo antes disso, os inimigos de Jesus O haviam acusado de blasfêmia, pegando em
pedras para Lhe atirar por afirmar Ele ser o Filho de Deus. Acusavam-nO
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de operar milagres pelo poder de Satanás. Mas aqui Cristo chama a Deus Seu Pai, e com perfeita confiança,
declara ser o Filho de Deus.
Em tudo quanto fazia, Cristo cooperava com o Pai. Tinha sempre o cuidado de tornar claro que não agia
independentemente; era pela fé e a oração que Ele realizava Seus milagres. Cristo desejava que todos
soubessem Suas relações para com o Pai. "Pai", disse, "graças Te dou, por Me haveres ouvido. Eu bem sei
que sempre Me ouves, mas Eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que Tu
Me enviaste." João 11:41 e 42. Ali aos discípulos e ao povo devia ser proporcionada a mais convincente
prova com respeito à relação existente entre Cristo e Deus. Devia-lhes ser mostrado que a afirmação de
Cristo não era um engano.
"E tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora." João 11:43. Sua voz, clara e penetrante,
soa aos ouvidos do morto. Ao falar, a divindade irrompe através da humanidade. Em Seu rosto, iluminado
pela glória de Deus, vê o povo a certeza de Seu poder. Todos os olhos se acham fixos na entrada do
sepulcro. Todos os ouvidos, atentos ao mais leve som. Com intenso e doloroso interesse, aguardam todos a
prova da divindade de Cristo, o testemunho que há de comprovar Sua declaração de ser o Filho de Deus, ou
para sempre extinguir a esperança.
Há um ruído na silenciosa tumba, e o que estivera morto aparece à entrada da mesma. Seus movimentos
são impedidos pela mortalha em que está envolto, e Cristo diz à estupefata assistência: "Desatai-o, e deixai-o
ir." Mais uma vez lhes é mostrado que o obreiro humano deve cooperar com Deus. A humanidade deve
trabalhar pela humanidade. Lázaro é desligado e aparece ao grupo, não como uma pessoa emagrecida pela
doença, membros débeis e vacilantes, mas como um homem na primavera da vida, no vigor de nobre
varonilidade. Brilham-lhe os olhos de inteligência e de amor para com o Salvador. Lança-se em adoração
aos pés de Jesus.
Os espectadores ficam, a princípio, mudos de espanto. Segue-se depois uma inexprimível cena de regozijo
e louvor. As irmãs recebem como um dom de Deus o irmão que lhes é devolvido, e, com lágrimas de júbilo,
exprimem entrecortadamente sua gratidão ao Salvador. Mas, enquanto o irmão, as irmãs e os amigos se
regozijam nessa reunião, Jesus Se retira da cena. Ao procurarem o Doador da vida, já não O encontram.
O Desejado de Todas as Nações, p. 779-787: “O Senhor Ressuscitou”.
Lentamente passara a noite do primeiro dia da semana. Havia soado a hora mais escura, exatamente antes
do raiar da aurora. Cristo continuava prisioneiro em Seu estreito sepulcro. A grande pedra estava em seu
lugar; intato, o selo romano; a guarda, de sentinela. Vigias invisíveis ali estavam também. Hostes de anjos
maus se achavam reunidas em torno daquele lugar. Houvesse sido possível, e o príncipe das trevas, com
seu exército de apóstatas, teria mantido para sempre fechado o túmulo que guardava o Filho de Deus. Uma
hoste celeste, porém, circundava o sepulcro. Anjos magníficos em poder o guardavam, esperando o
momento de saudar o Príncipe da Vida.
"E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do Céu, chegou." Mat. 28:2.
Vestido com a armadura de Deus, deixou este anjo as cortes celestiais. Os brilhantes raios da glória divina o
precediam, iluminando-lhe o caminho. "E o seu aspecto era como um relâmpago, e o seu vestido branco
como a neve. E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados, e como mortos." Mat. 28:3 e 4.
Onde está, sacerdotes e príncipes, o poder de vossa guarda? - Bravos soldados que nunca se atemorizaram
diante do poder humano, são agora como cativos aprisionados sem espada nem lança. O rosto que
contemplam não é o de um guerreiro mortal;
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é a face do mais poderoso das hostes do Senhor. Este mensageiro é o que ocupa a posição da qual caiu
Satanás. Fora aquele que nas colinas de Belém proclamara o nascimento de Cristo. A terra treme à sua
aproximação, fogem as hostes das trevas, e enquanto ele rola a pedra, dir-se-ia que o Céu baixara à Terra.
Os soldados o vêem removendo a pedra como se fora um seixo, e ouvem-no exclamar: Filho de Deus,
ressurge! Teu Pai Te chama. Vêem Jesus sair do sepulcro, e ouvem-nO proclamar sobre o túmulo aberto:
"Eu sou a ressurreição e a vida." Ao ressurgir Ele em majestade e glória, a hoste angélica se prostra perante
o Redentor, em adoração, saudando-O com hinos de louvor.
Um terremoto assinalara a hora em que Jesus depusera a vida; outro terremoto indicou o momento em que
a retomou em triunfo. Aquele que vencera a morte, e a sepultura, saiu do túmulo com o passo do vencedor,
por entre o cambalear da terra, o fuzilar dos relâmpagos e o ribombar dos trovões. Quando vier novamente à
Terra, comoverá "não só a Terra, senão também o céu". Heb. 12:26. "De todo vacilará a Terra como o
bêbado, e será movida e removida como a choça." Isa. 24:20. "E os céus se enrolarão como um livro" (Isa.
34:4); "os elementos, ardendo, se desfarão, e a Terra, e as obras que nela há se queimarão". II Ped. 3:10.
"Mas o Senhor será o refúgio do Seu povo, e a fortaleza dos filhos de Israel." Joel 3:16.
Ao morrer Jesus, tinham os soldados visto a Terra envolta em trevas ao meio-dia; ao ressurgir, porém, viram
o resplendor dos anjos iluminar a noite, e ouviram os habitantes do Céu cantarem com grande alegria e
triunfo: "Tu venceste Satanás e os poderes das trevas; Tu tragaste a morte na vitória"
Cristo saiu do sepulcro glorificado, e a guarda romana O contemplou. Seus olhos fixaram-se no rosto
dAquele a quem, havia tão pouco, tinham escarnecido e ridicularizado. Neste Ser glorificado, viram o
Prisioneiro que tinham contemplado no tribunal, Aquele para quem haviam tecido uma coroa de espinhos.
Era Aquele que, sem resistência, estivera em presença de Pilatos e de Herodes, o corpo lacerado pelos
cruéis açoites. Era Aquele que fora pregado na cruz, para quem os sacerdotes e os príncipes, cheios de
satisfação própria, haviam sacudido a cabeça, dizendo: "Salvou os outros, e a Si mesmo não pode salvar-
Se." Mat. 27:42. Era Aquele que fora deposto no sepulcro novo de José. O decreto do Céu libertara o Cativo.
Montanhas amontoadas sobre
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montanhas em cima de Seu túmulo, não O poderiam haver impedido de sair.
À vista dos anjos e do Salvador glorificado, os guardas romanos desmaiaram e ficaram como mortos.
Quando a comitiva celeste foi oculta a seus olhos, eles se ergueram e, tão rápido como lhes permitiram os
trêmulos membros, encaminharam-se para a porta do horto. Cambaleando como bêbados, precipitaram-se
para a cidade, dando as maravilhosas novas àqueles com quem se encontravam. Iam em busca de Pilatos,
mas sua narração foi levada às autoridades judaicas, e os principais dos sacerdotes e os príncipes
mandaram-nos buscar primeiro à sua presença. Estranho era o aspecto daqueles soldados. Tremendo de
temor, faces desmaiadas, testificaram da ressurreição de Cristo. Disseram tudo, exatamente como tinham
visto; não haviam tido tempo de pensar ou falar qualquer coisa que não fosse a verdade. Com doloroso
acento, disseram: Foi o Filho de Deus que foi crucificado; ouvimos um anjo proclamá-Lo a Majestade do
Céu, o Rei da glória.
O rosto dos sacerdotes estava como o de um morto. Caifás tentou falar. Moveram-se-lhe os lábios, mas não
conseguiram emitir nenhum som. Os soldados estavam para deixar a sala do conselho, quando os deteve
uma voz.
Caifás conseguira falar, por fim: "Esperai, esperai", disse. "Não digais a ninguém o que vistes." Uma
mentirosa história foi então posta na boca dos soldados. "Dizei: Vieram de noite os Seus discípulos e,
dormindo nós, O furtaram." Mat. 28:13. Aí se enganaram os sacerdotes.
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Como poderiam os soldados dizer que os discípulos tinham furtado o corpo enquanto eles dormiam? Se
dormiam, como podiam saber? E, houvessem os discípulos provadamente roubado o corpo de Cristo, não
teriam os sacerdotes sido os primeiros a condená-los? Ou, caso houvessem as sentinelas dormido junto ao
sepulcro, não teriam os sacerdotes se apressado a acusá-los a Pilatos?
Os soldados horrorizaram-se ao pensamento de trazerem sobre si mesmos a acusação de dormirem em seu
posto. Era este um delito castigado com a morte. Deveriam dar um falso testemunho enganando o povo, e
pondo em perigo a própria vida? Não tinham feito com toda vigilância sua fatigante guarda? Como
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8. suportariam a prova, mesmo por amor do dinheiro, se juravam falso contra si próprios?
A fim de impor silêncio ao testemunho que temiam, os sacerdotes prometeram salvaguardar os soldados,
dizendo que Pilatos quereria tampouco como eles próprios que aquela notícia circulasse. Os soldados
romanos venderam sua integridade aos judeus por dinheiro. Chegaram à presença dos sacerdotes
carregados com a mais assustadora mensagem de verdade; saíram com uma carga de dinheiro, e tendo na
língua uma falsa história para eles forjada pelos sacerdotes.
Entretanto, a notícia da ressurreição de Cristo fora levada a Pilatos. Se bem que este houvesse sido
responsável por entregar a Jesus à morte, estava relativamente descuidoso. Embora tivesse condenado o
Salvador contra a vontade, e com sentimento de compaixão, não experimentara ainda verdadeiro pesar.
Aterrado, fechara-se agora em casa, decidido a não ver ninguém. Os sacerdotes, porém, abrindo caminho
até sua presença, contaram a história que haviam inventado, e pediram-lhe que passasse por alto a
negligência do dever por parte das sentinelas. Antes de assim fazer, ele próprio interrogou particularmente
os guardas. Estes, temendo pela própria segurança, não ousaram ocultar nada, e Pilatos tirou deles a
narração de tudo quanto ocorrera. Não levou adiante a questão, mas desde aquele dia não houve mais paz
para ele.
Quando Jesus foi posto no sepulcro, Satanás triunfou. Ousou esperar que o Salvador não retomaria
novamente a vida. Reclamava o corpo do Senhor, e pôs sua guarda em torno do túmulo, procurando manter
Cristo prisioneiro. Ficou furioso quando seus anjos fugiram diante do celeste mensageiro. Ao ver Cristo sair
em triunfo compreendeu que seu reino chegaria a termo, e que ele devia morrer afinal.
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Matando Cristo, os sacerdotes se tinham tornado instrumentos de Satanás. Achavam-se agora inteiramente
em seu poder. Estavam emaranhados numa teia da qual não viam escape, senão continuando sua guerra
contra Cristo. Ao ouvirem a notícia de Sua ressurreição, temeram a ira do povo. Recearam que a própria
vida corresse perigo. A única esperança para eles, era provar ser Cristo um impostor, negando haver
ressuscitado. Subornaram os soldados e conseguiram o silêncio de Pilatos. Espalharam por perto e por
longe sua mentirosa história. Testemunhas havia, porém, a quem não podiam reduzir ao silêncio. Muitos
tinham ouvido falar do testemunho dos soldados quanto à ressurreição de Cristo. E alguns dos mortos
ressuscitados com Jesus apareceram a muitos, declarando que Ele ressurgira. Foi levada aos sacerdotes a
notícia de pessoas que tinham visto esses ressuscitados, ouvindo o testemunho deles. Os sacerdotes e os
principais estavam em contínuo terror, não acontecesse que, ao andar pelas ruas, ou no interior das próprias
casas, se viessem a encontrar face a face com Jesus. Sentiam que não havia segurança para eles.
Ferrolhos e traves não passavam de frágil proteção contra o Filho de Deus. De dia e de noite achava-se
diante deles aquela horrível cena do tribunal, quando clamaram: "O Seu sangue caia sobre nós e sobre
nossos filhos." Mat. 27:25. Nunca mais se lhes havia de apagar da memória aquela cena. Jamais desceria
sobre eles um sono tranquilo.
Quando foi ouvida no túmulo de Cristo a voz do poderoso anjo, dizendo: "Teu Pai Te chama", o Salvador saiu
do sepulcro pela vida que havia em Si mesmo. Provou-se então a verdade de Suas palavras: "Dou a Minha
vida para tornar a tomá-la. ... Tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la." João 10:17 e 18. Então
se cumpriu a profecia que fizera aos sacerdotes e príncipes: "Derribai este templo, e em três dias o
levantarei." João 2:19.
Sobre o fendido sepulcro de José, Cristo proclamara triunfante: "Eu sou a ressurreição e a vida." Essas
palavras só podiam ser proferidas pela Divindade. Todos os seres criados vivem pela vontade e poder de
Deus. São dependentes depositários da vida de Deus. Do mais alto serafim ao mais humilde dos seres
vivos, todos são providos da Fonte da vida. Unicamente Aquele que é um com Deus, podia dizer: "Tenho
poder para a dar [a vida], e poder para tornar a tomá-la." João 10:18. Em Sua divindade possuía Cristo o
poder de quebrar as algemas da morte.
Cristo ressurgiu dos mortos como as primícias dos que dormem. Era representado pelo molho movido, e
Sua ressurreição
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teve lugar no próprio dia em que o mesmo devia ser apresentado perante o Senhor. Por mais de mil anos
esta simbólica cerimônia fora realizada. Das searas colhiam-se as primeiras espigas de grãos maduros, e
quando o povo subia a Jerusalém, por ocasião da páscoa, o molho das primícias era movido como uma
oferta de ações de graças perante o Senhor. Enquanto essa oferenda não fosse apresentada, a foice não
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9. podia ser metida aos cereais, nem estes ser reunidos em molhos. O molho dedicado a Deus representava a
colheita. Assim Cristo, as primícias, representava a grande colheita espiritual para o reino de Deus. Sua
ressurreição é o tipo e o penhor da ressurreição de todos os justos mortos. "Porque, se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele." I Tess.
4:14.
Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua
morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. Eram os que haviam colaborado
com Deus, e que à custa da própria vida tinham dado testemunho da verdade. Agora deviam ser
testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos.
Durante Seu ministério, Jesus ressuscitara mortos. Fizera reviver o filho da viúva de Naim, a filha do
principal, e Lázaro. Estes não foram revestidos de imortalidade. Ressurgidos, estavam ainda sujeitos à
morte. Aqueles, porém, que ressurgiram por ocasião da ressurreição de Cristo, saíram para a vida eterna.
Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro. Estes, disse Cristo, não mais
são cativos de Satanás. Eu os redimi. Trouxe-os da sepultura como as primícias de Meu poder, para estarem
comigo onde Eu estiver, para nunca mais verem a morte nem experimentarem a dor.
Esses entraram na cidade e apareceram a muitos, declarando: Cristo ressurgiu dos mortos, e nós
ressurgimos com Ele. Assim foi imortalizada a sagrada verdade da ressurreição. Os ressurgidos santos
deram testemunho da veracidade das palavras: "Os Teus falecidos viverão; juntamente com o Meu cadáver
eles se levantarão." Sua ressurreição era um símile do cumprimento da profecia: "Acordai, e gritai jubilando,
vós que habitais no pó; porque o teu orvalho é um orvalho de ervas; e a Terra dará de si os defuntos." Isa.
26:19, Versão Trinitariana.
Para o crente, Cristo é a ressurreição e a vida. Em nosso Salvador é restaurada a vida que se perdera
mediante o pecado; pois
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Ele possui vida em Si mesmo, para vivificar a quem quer. Acha-Se investido do direito de conceder a
imortalidade. A vida que Ele depusera como homem, Ele reassumiu e concedeu aos homens. "Eu vim para
que tenham vida e a tenham com abundância." João 10:10. "Aquele que beber da água que Eu lhe der
nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna."
João 4:14. "Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no
último dia." João 6:54.
Para o crente a morte não é senão de pouca importância. Cristo fala dela como se fora de pouco valor. "Se
alguém guardar a Minha palavra, nunca verá a morte", "nunca provará a morte". João 8:51 e 52. Para o
cristão a morte não é mais que um sono, um momento de silêncio e escuridão. A vida está escondida com
Cristo em Deus, e "quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis
com Ele em glória". Col. 3:4.
A voz que bradou da cruz: "Está consumado" (João 19:30), foi ouvida entre os mortos. Penetrou as paredes
dos sepulcros, ordenando aos que dormiam que despertassem. Assim será quando a voz de Cristo for
ouvida do céu. Ela penetrará as sepulturas e abrirá os túmulos, e os mortos em Cristo ressurgirão. Na
ressurreição do Salvador, algumas tumbas foram abertas, mas em Sua segunda vinda todos os queridos
mortos Lhe ouvirão a voz, saindo para uma vida gloriosa, imortal. O mesmo poder que ressuscitou a Cristo
dentre os mortos, erguerá Sua igreja, glorificando-a com Ele, acima de todos os principados, de todas as
potestades, acima de todo nome que se nomeia, não somente neste mundo mas também no mundo por vir.
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