O documento discute as diferenças entre arte figurativa e não-figurativa. A arte figurativa representa o mundo real através da perspectiva, enquanto a arte não-figurativa ou abstrata comunica através de cores e materiais sem representar objetos reconhecíveis. Existem também estilos intermediários como o impressionismo. A arte abstrata permite múltiplas interpretações e convida o observador a participar mais ativamente.
Slides de aulas sobre "Fundamentos Compositivos" - parte 8 da Apostila de Arte - Artes Visuais de autoria do Prof. Garcia Junior e que pode ser vista no site: www.imagetica.net/blog - Blogarte. Nestas aulas vocês aprenderá sobre Psicologia da Gestalt, percepção visual, equilíbrio/tensão, nivelamento/aguçamento, ângulo de visão e relação figura/fundo com muitos exemplos e demonstrações em imagens.
Autor: Prof. Garcia Junior
Ao longo de alguns anos de experiência como arte-educador e como autor e instrutor de mini-cursos, oficinas, palestras e formação continuada sobre Arte tanto para estudantes quanto para professores, fui elaborando um material textual próprio que fosse didático e se utilizasse de bastante imagens para auxiliar na compreensão dos conceitos. Não tenho a pretensão de me considerar um especialista no assunto, por que a cada vez que revejo o material sinto a necessidade de modificá-lo tanto textualmente quanto visualmente.
Até o momento tive como respostas ao material as opiniões dos meus alunos, colegas arte-educadores e demais profissionais de educação e centenas de usuários do Blogarte que comentam nesse post além das minhas próprias experiências testando-o. Meu objetivo em compartilhar este estudo é obter críticas fundamentadas para que possa melhorá-lo cada vez mais.
Atualmente esta apostila está sendo utilizada em sala de aula com alunos do Ensino Médio da Rede Pública de Educação do Estado do Maranhão no Centro de Ensino Liceu Maranhense no turno matutino turmas de 1ª e 3ª série. Junto com a apostila são usados slides baseados no conteúdo do texto além de alguns vídeos e documentários relacionados. Mais do que a Apostila ou os recursos tecnológicos está a criatividade do professor em tornar as aulas interessantes e dinâmicas para que a Arte não se torne uma disciplina monótona e estimule os estudantes à descoberta da sua sensibilidade estética e das possibilidades imaginativas do mundo da Arte.
A versão que está disponível a partir de hoje, 22 de janeiro de 2014 foi revisada e atualizada para este novo ano letivo e possivelmente ainda terá modificações até o final do semestre.
23. A arte se comunica, basicamente sob duas maneiras
paradigmáticas e distinta: figuração e não-figuração. A
primeira carrega a imagem do mundo, em que o produto é
o reconhecimento. A segunda dispensa a imagem do
mundo e, quando totalmente não-figurativa, é chamada
também arte abstrata.
Elas tem valores diferentes, são submetidas a leituras
diferentes e alteram vínculos emocionais antagônicos.
A Arte Figurativa comunica a recuperação da realidade
exterior (também chamada realidade fenomênica, matérica
ou física), que está no espaço, em tridimensionalidade,
para o plano (bidimensionalidade) com a técnica da
perspectiva ou escorço. Os artistas da Renascença
(clássicos do século XVI) tiveram domínio pleno e absoluto
dessa técnica que proporciona à tela uma ilusão de
realidade, também chamada de tromp l’oeil.
24. A Figuração absoluta de uma arte é chamada de mimética (mímesis
do grego, imitação). É a representação do “de fora” (vida, realidade)
“para dentro” (a obra, tela, suporte).
O receptor da arte figurativa “entende” o que vê na tela porque a
obra inspira sempre uma leitura clara e objetiva do mundo
“conhecido”.
Essa forma de comunicar contempla as evidências, enquanto a arte
não-figurativa ou abstrata comunica a matéria simbiotizada nela
mesma, sobre o suporte, sem evidências do mundo reconhecível.
A Arte Não-figurativa ou Abstrata não expressa o mundo, expressa a
cor, o metal, o material utilizado, estabelecendo uma comunicação
especial.
Entre a Arte Figurativa Absoluta (perto da fotografia) e a Arte Não-
figurativa Absoluta (Abstrata), existem as chamadas Artes
Degeneradas.
25. As Artes Degeneradas comunicam a leitura do mundo por objetos
reconhecíveis, mas de forma desconcertada, alterada
formalmente, ou seja, no Impressionismo é “vaporizada”, no
Expressionismo é tortuosa, exagerada e dolosa; no Cubismo é
geometrizada
As Artes Degeneradas intermediam a Figuração e a Não-
figuração absolutas.
A Arte Não-figurativa apresenta uma grande dependência da
matéria, mas também emblematiza a forma mais absoluta de
democratização na arte, pois, fomenta o artista a necessidade de
permanecer no estado de constante experimentação e, ao mesmo
tempo, produção de conhecimento.
.As Artes Figurativas e Não-figurativas estão extremamente
ligadas aos meios de comunicação, aos meios de publicidade,
aos processos dinâmicos de informação.
26. Plurais, intensas, ricas em simbolismos e conceitualismos, ambas as
formas de arte fazem-se Ler, principalmente as abstratas, muito mais
pelo que há por trás delas do que pela expressão visível em si
mesma.
O artista da Arte Figurativa materializa a representação e o da Arte
Abstrata materializa a presentação. Há espaços, dimensões,
movimentos, temporalidades, volumes, fusões óptico-sensoriais entre
o real e o ilusório no cerne dessas artes.
A Arte Não-figurativa é uma forma de comunicação visual peculiar:
comunica através dos sentidos, de um mental diferente, de uma
maneira de ver a própria arte tendo os reconhecimentos da realidade
como inexistentes e inessenciais. É um meio de expressão e
comunicação que se pode considerar exótico. Através dela,
penetramos no sentido das coisas, numa comunicação plural. Pois,
os recursos icônicos da Arte Não-figurativa absoluta ou Abstrata
tendem a ser subversivos, com a extirpação da realidade fenomênica
e reconhecível. Por sua própria natureza, procura caminhos de
inconformidade e ruptura.
27. As Artes Figurativas e Não-figurativas existiram desde os homens da
Idade da Pedra. Nas paredes de Altamira e Lascaux, na França,
tem-se Figuração e Abstração, ainda que de forma precária, prosaica
e arcaica. Foram os século XIX e XX que legitimaram a Arte
Abstrata.
A Pintura Abstrata é o sintoma de um momento histórico
surpreendente para o homem moderno, pois foi num momento de
mudança histórica, pós-revolução industrial e suas conseqüências
que surgiu a Arte Abstrata.
O que comunica e educa na Arte Abstrata é uma ordem lógica.
Precisamos ter um repertório para compreendermos e
interpretarmos essa ordem lógica.
Na Arte Abstrata nada é fortuito, nada é aleatório, nada é arbitrário,
embora pareça. As linhas, as formas, as cores e outros elementos
visuais tem lugar determinado na composição. A alteração desses
elementos implica também numa alteração de valor.
28. Dizer que os valores são sempre iguais em toda e qualquer Arte
Abstrata é um grande engodo.
Muitas vezes a comunicação na Arte Abstrata degenera-se por
incompetência do próprio receptor que a vê com preconceito e
pressupostos adquiridos, emitindo manifestações como: “isto é
qualquer coisa”, “não entendo”, “até meu filho de três anos faz”, “é
um borrão só”, “não é arte” e outros despautérios afins.
Isso prova uma carência no instrumental do receptor para a correta
leitura da Arte Abstrata.
A Arte Abstrata goza de uma comunicação específica porque sua
nova codificação não é factível com os parâmetros cognitivos,
lingüisticos e racionais do senso comum.
Cria-se com a Abstração, uma nova ideologia, uma outra razão
estética, uma filosofia nas artes que tem nos acompanhado até
hoje e acaba se transformando na mais difundida das artes visuais.
29. A Pintura Abstrata advém de um padrão mental inerente ao homem
de todos os tempos, ao qual se atribui o nome de Abstração. Como
capacidade inata, a Abstração é uma atividade mental de seleção e
síntese. Homens de muitas tribos primitivas antiquíssimas, em
muitos de seus desenhos não faziam referência à realidade exterior,
mas, sim, à própria composição em si.
A Arte Abstrata, sendo uma forma de comunicar e um princípio
diferente de educar, não procura reproduzir as formas e as cores
naturais, pois, ambiciona-se por criar formas puras e soltas,
construídas com os elementos mesmos da pintura. Os arranjos
livres ou controlados em estados de tensão, ou seja, a composição
é que constrói a coluna vertebral da pintura abstrata.
Na Arte Não-figurativa não há recuperação da realidade exterior
porque na Abstração não é mais essa realidade que tem
importância e sim a matéria que o artista usa, cria e recria nela
mesma. O Artista abstrato não copia nada da realidade exterior,
somente trabalha com o material: cores que se fundem (pintura) ou
ferros que se misturam (escultura).
30. Na abstração a arte perde a ilusão da vida, mesmo porque não há
vida a recuperar; não há mímesis, porque não há imitação; não há
representação e sim presentação: o material está presente nele
mesmo.
Em termos comunicacionais e educacionais, a Arte Abstrata convida
o observador/ fruidor a participar mais ativa e convenientemente com
o criador na feitura da obra.
O autor da Arte Abstrata permite múltiplas interpretações para a sua
criação, tendo no apreciador um co-participante, um reelaborador, um
reexecutor e um “realimentador” de ilusões”. Ilusões que estão no
receptor não na obra.
A Arte Abstrata, contestando os valores clássicos do acabado,
definido, perfeito e inequívoco, propõe uma obra indefinida e
plurívoca, aberta, que se vem configurando como um feixe de
possibilidades móveis e intercambiáveis mais adaptadas às
condições nas quais o homem moderno desenvolve suas ações.
31. A Arte Abstrata encharca os olhos de seu receptor com uma
multplicidades de imagens sujeitas a decodificações.
O receptor da Arte Abstrata não está decodificando imagens
“conhecidas”, mas pontos, linhas, contornos, direções, tons, cores,
texturas, escalas, dimensões, movimentos e ritmos.
Entender a Arte Abstrata é entender o tralho que o artista desenvolve
com esses elementos, em tensões diversificadas e múltiplas, através
da composição ou arranjo na superfície plana da tela ou outro
suporte.
A Arte Não-figurativa ou Abstrata transmite conteúdos peculiares que
não são os da Arte Figurativa, mas que visam ensinar novas formas
de visão das coisas, das cores, da própria arte e da vida.
Saber Ler a Arte Abstrata é saber Ler mais longe. A Arte Abstrata
informa, forma e educa o olhar.
32. A Arte Abstrata reeduca o sujeito para uma decodificação
inovadora. A Arte Abstrata comunica, no sentido de levar o a seu
receptor a educar-se para construir julgamentos ou juízos de valor
sobre ela.
.Na Figuração ainda há um conceito hegemônico a ser seguido,
indicado pela própria figura. Na Arte Não-figurativa ou Abstrata, o
conceito é diverso, diretrizado pela pulsão e fusão das cores, e
ainda, pela coexistência de diferentes códigos, propondo uma
comunicação peculiar, paradigmática e diferente da clássica
concepção Renascentista de mímesis e representação.