O documento discute os aspectos psicológicos da vida urbana moderna, abordando tópicos como a aceleração da sociedade, estressores ambientais como barulho e poluição, e como a densidade populacional pode levar à indiferença entre os cidadãos.
2. Privacidade, Territorialidade e Espaço pes-
soal
PSICOLOGIA AMBIENTAL
Diferenças de interação entre as pessoas
considerando o “status”
Apropriação
Pandemia e quarentena: mudanças nas re-
lações urbanas
Bem estar e sociedade
Referências
Espaço pessoal e territorialidade no meio
urbano
Ocupações urbanas por direito à cidade
Densidade física e social
ANÁLISE DA PSICOLOGIA
AMBIENTAL NO MEIO URBANO
13
25
25
17
27
14
23
16
19
21
CONCLUSÕES29
32
ÍNDICE
Multiplicação da diversidade e contatos so-
ciais em contrapatida com a concentração
em si e a indiferença para com o outro
O MEIO URBANO
Estressores ambientais
OPORTUNIDADES X PROBLEMAS URBANOS
Anomalias urbanas
Comportamentos adaptativos e teorias so-
bre o meio urbano
Sociedade acelerada
1
7
3
9
4
11
5
3. O MEIO
URBANO
A cidade ocidental, tal como a
conhecemos hoje, tem suas origens,
comodestacaHenriLefebvre,emseu
livro Direito à Cidade, na Revolução
Industrial do século XIX, momento
no qual houve uma alteração
significativa dos modos de viver,
trabalhar, se locomover e habitar.
As pequenas cidades camponesas
foram rapidamente substituídas por
grandes conglomerados de cidades
industriais periféricas ao núcleo
original ou então substituindo-o,
passando assim por uma transição
de uma sociedade capitalista
comercial e artesanal, para uma
sociedade capitalista concorrencial,
baseada na produção industrial em
larga escala. (Lefebvre, 1968)
Como destaca Lefebvre, a
industrialização e a urbanização
consistem em um processo dialético,
no qual o crescimento acelerado do
tecido urbano e de sua produção
econômica não necessariamente
representa um crescimento
01
qualitativo da urbanidade, das
possibilidades que a vida social
urbana dispõem, gerando uma
urbanização desurbanizante, no qual
a população citadina não possui
acesso pleno à fruição do meio
urbano.
Ao longo do século XX e início
do século XXI, essa disparidade
quantitativa entre o campo e as
cidades se acentuou ainda mais.
De acordo com estudo desenvolvido
pela ONU (Organização das Nações
Unidas), 55% da população mundial
vive em áreas urbanas, e até 2050,
espera-se que esse número passe
dos 70%. Esse número progride à
medida que a cidade é vista como um
mar de oportunidades profissionais,
educacionais e de lazer, atraindo
mais e mais pessoas para tais centros
urbanos.
Como destaca Frederica
Gomes em sua dissertação acerca da
Diversidadedegrupos,características
físico-espaciais e apropriação,
sabemos que o espaço urbano é
formado através de diversos fatores,
políticos, econômicos e sociais.
Dentre estes fatores, a migração,
muito comum no território Brasileiro,
influencia de forma significante o
45
30
55
70
2020 2050
PORCENTAGEM%
PPOOPPUULLAAÇÇÃÃOO MMUUNNDDIIAALL
RURAL URBANA
crescimento e o desenvolvimento das
cidade, para as quais muitas pessoas
migram em busca oportunidades de
emprego e de uma melhor qualidade
de vida.
Esse aspecto cosmopolita, que
brilha aos olhos quando se pensa
na vida citadina, e que influencia
muitos à migrarem, contrasta com
a hostilidade, criminalidade e
inúmeros problemas advindos desses
aglomerados urbanos.
A demais, esse crescimento
acelerado dos grandes centros
urbanos resulta em um processo
de formação das cidades na qual o
indivíduo é forçado a se adequar ao
meio em que está inserido, habitando
locais acessíveis aos seus limites
econômicos, muitas vezes distantes
de seus locais de trabalho. Essa
formação se dá de maneira informal
e gradual, derivada da luta e do
trabalho individual de cada um dos
citadinos, e é essa construção diária
que resulta nas divisões espaciais
com as quais nos deparamos no meio
urbano, seus distritos e seus bairros,
assim como em seus sistemas sociais,
econômicos e políticos. (Gomes,
2006)
Diversos estudos realizados
acerca do cotidiano nas cidades nas
últimas décadas destacam aspectos
provenientes dessa nova realidade,
a qual, ao passo que permite uma
liberdadenuncaantesexperimentada
e um mar de possibilidades, submete
o indivíduo à uma sociedade e à um
modo de vida demasiado acelerado
e preenchido de estressores
ambientais, os quais serão tratados
ao longo deste trabalho.
02
4. OPORTUNIDADES
X
PROBLEMAS
03
URBANOS Tendo em vista as condições da
sociedade urbana atual, percebe-se
uma alteração das relações sociais
ali vividas. Ao passo que em cidades
pequenas o número de pessoas
com quem interagimos é reduzido
e normalmente consiste de pessoas
conhecidas, nas cidades médias e
grandes cruzamos e interagimos com
uma quantidade muito grande de
indivíduos, poucos deles familiares
para nós. As consequências desse
anonimato podem ser tanto positivas
quanto negativas.
Por um lado, ser apenas mais
um em mar de anônimos permite aos
indivíduos a liberdade de assumirem
a personalidade que desejarem, sem
a preocupação com os julgamentos
alheios. Permite também o encontro
com seu semelhante e a formação
de grupos sociais baseados em
características comuns. Como
destaca Moser (1998), ao passo que
nas cidades pequenas as relações
são de longa duração - normalmente
com familiares e amigos de infância
- nos grandes centros urbanos,
onde o número de interações e a
possibilidade de escolha é maior,
a tendência é que as relações
sejam mais recentes e se dêem
mais por questões de afinidade e
semelhanças. Possibilita ainda que
os indivíduos possuam diferentes
teias relacionais, derivadas dos
diversos territórios que ocupa na
cidade.
Por outro lado, ser apenas
mais um em um mar de anônimos
condiciona o indivíduo à relações
mais rasas e superficiais com os
que o cercam. Esse fator dificulta
a integração de novos moradores,
uma vez que os citadinos se
mostram abertos apenas com
aqueles que conformam suas
redes sociais, tratando os demais
de forma fria e distante. Esse
“distanciamento intencional” acaba
muitas vezes por transformar os
grandes conglomerados urbanos em
ambientes hostis e pouco receptivos.
(MOSER, 1998)
Nota-se como consequência
também a redução da sensação de
responsabilidade coletiva, tanto com
o ambiente quanto com os outros
indivíduos ao seu redor, fato que será
abordado mais a frente, fazendo
com que o citadino tenha pouca
solicitude no auxílio ao próximo e
pouco envolvimento com questões
políticas locais. (MOSER, 1998)
MULTIPLICAÇÃO DA DIVERSIDADE E
CONTATOS SOCIAIS EM CONTRAPARTIDA
COM A CONCENTRAÇÃO EM SI E A
INDIFERENÇA PARA COM O OUTRO
04
5. SOCIEDADE ACELERADA
SOCIEDADE DOENTE ?
Outro aspecto característico
da vida contemporânea nos grandes
centros urbanos é a alteração da
percepção do tempo e a instauração
de uma sociedade com estilo de vida
acelerado. Vivemos absortos em um
mundo no qual o tempo, o passar das
horas e dos dias, é regido pela ânsia
da produtividade. Tempo equivale
à dinheiro, ao capital, à produção,
ao ter e ao acumular. O ócio, o
tempo “improdutivo”, equivale a
ausência de uma ação intencionada
e ao desperdício dos recursos acima
citados. Estamos todos correndo
uma corrida descompassada contra
nós mesmos, com fins que muitas
vezes nem sabemos quais são.
Agir, produzir, consumir, descartar,
recomeçar.
OPORTUNIDADES
X
PROBLEMAS
URBANOS
05
A rotina nas grandes cidades é
pautada pelos deslocamentos casa-
trabalho, trabalho-casa, em meios
de transporte coletivo lotados, ou
então em automóveis individuais
trancafiados no trânsito. As pausas
para as refeições são curtas pois
precisa-se voltar à produzir. As
noites, após longos dias de trabalho o
indivíduo se vê cansado, procurando
formas de lazer alienantes. Os
momentos de lazer e a convivência
com o próximo são esporádicos.
Essa aceleração da rotina e as
incalculáveis demandas nos colocam
em um estado de tensão constante,
todos os dias, todas as semanas,
todos os meses e todos os anos.
Sempre com a sensação de falta de
tempo, o tempo passa sem que o
indivíduo se dê conta, absorto que
está no processo de produzir por
produzir.
Não apenas no âmbito
profissional, mas em todos os
demais aspectos da vida cotidiana
o indivíduo se vê aprisionado ao
movimento constante, a necessidade
de eficiência em tudo que faz,
sujeito à uma sociedade hiperativa
que acelera o ritmo natural da vida
(BRITO, 2000).
Aimersãonasnovastecnologias
intensificatalpercepçãodaaceleração
do tempo. Redes sociais que nos
soterram com uma quantidade
de informações nunca antes vista.
Reportagens, notícia, cursos, tudo
disponível com o movimento de nosso
polegar. Inúmeros estilos de vida
que podemos ter, de atividades que
podemos fazer, lugares que podemos
visitar, performances que devemos
executar. E o tempo passa sem que
possamos acompanhar, submersos
em um ideal do que devemos ser,
fazer e ter.
Estafa, ansiedade, estresse,
síndrome de burnout se tornaram
patologias corriqueiras, sintomas
comuns de uma sociedade que
não pára para viver o agora.
Levantamentos realizados pela
Organização Mundial da Saúde
(OMS) em 2020 demonstram que
cerca de 33% da população mundial
sofrem de episódios de ansiedade,
e que o Brasil representa o país
com a maior taxa de ocorrência de
transtornos de ansiedade, chegando
a 9,3% da população do país. Quanto
à depressão, 5,8% da população
brasileira encontra-se afetada,
representando o quinto país com a
maior incidência da doença.
Agrega-se ao estilo de vida
acelerado das metrópoles brasileiras,
diversos outros fatores de risco para o
desenvolvimento dessas patologias,
tais como a situação econômica do
país, a alta taxa de desemprego, a
desigualdade social e os altos níveis
de pobreza. (BRITO, 2000).
Apesar do tempo cronológico
permanecer o mesmo, as altas
demandas e os incessantes estímulos
aos quais estamos sujeitos nas
grandes cidades alterou nossa
percepção do passar do mesmo.
Somam-se à essa rotina incessante
diversos aspectos físicos das grandes
cidades que configuram estressores
ambientais presentes na situação
atual do cotidiano da população, os
quais serão abordados a seguir.
06
6. ESTRESSORES AMBIENTAIS
Entre as causas de estresse
urbano, Moser (1998) aponta 4
fatores ambientais que colaboram
para a criação de uma cidade
desgastante, classificados pela sua
constância e intensidade, são eles: o
barulho, a temperatura, a poluição e
a densidade.
BARULHO
O incômodo causado pelo
barulho depende do seu volume,
previsibilidade e possibilidade de
controle, sendo 40 db considerado
tranquilo, até 70 db moderado e
a partir do 90 db já caracterizado
como um nível torturante ao ouvido
humano. Existem diversos estudos
que comprovam sua relação com
a saúde mental, qualidade de
vida, atenção e consequentemente
desempenho intelectual. Um
experimento conceituado de Bronzaft
e McCarthy (1975 apud Moser 1998)
utilizou a mesma escola e salas de
aula expostas a níveis diferentes de
ruídos para comprovar sua hipótese,
o resultado foi que crianças na sala
de aula voltada para o lado do trilho
do trem tinham desempenho escolar
e de leitura menor do que crianças
com a sala voltada para uma área
mais calma.
TEMPERATURA
Já a temperatura apresenta
certas variáveis. Estudos mostram
que, mesmo a exposição prolongada
trazendo riscos de doenças
cardiovasculares, ansiedade e
desidratação, esse perigo se
dissolve em pessoas que vivem
ou sempre viveram no clima em
questão, trazendo o aspecto de
adaptabilidade.
07
OPORTUNIDADES
X
PROBLEMAS
URBANOS
POLUIÇÃO
O fator mais danoso apontado
por Moser é a poluição, situação
que pode causar danos fisiológicos
e psicológicos.. Esse fator se
mostra mais presente em grandes
metrópoles, como Los Angeles, Paris,
Xangai, Cairo e outras. Segundo
estudo publicado pela revista The
Lancet (2017), o Brasil ocupa a
posição 148ª com maior proporção
de mortes relacionadas à poluição,
onde a maioria das mortes foi
causada por doenças não infecciosas
ligadas à poluição, como infarto,
derrame e câncer de pulmão.
DENSIDADE
Milgram (1972 apud Moser
1998) mostra que, nos ambientes
urbanos superpovoados, as pessoas
são indiferentes umas com as outras
porque cada uma tende a isolar-se a
fim de se proteger de estimulações
ambientais excessivas. Trata-se de
uma estratégia de “ajustamento à
sobrecarga ambiental”.
Em resumo, todos esses fatores
associados tornam a cidade, além de
estressante do ponto de vista do bem-
estar, um local muitas vezes perigoso,
considerando os altos índices de
poluição e problemas urbanos que
colocam nossa saúde mental e
integridade física constantemente
em cheque. Soma-se a isso a reação,
quase que primitiva, de tentarmos
nos isolar para equilibrar e dissolver
todos esses estímulos degradantes.
08
7. 09
OPORTUNIDADES
X
PROBLEMAS
URBANOS
Outros fatores urbanos
estressantes apontados por Moser
(1998) são as anomalias urbanas,
entre elas: a delinquência, o
vandalismo, a marginalidade, as
descortesias e a insegurança causada
pelo meio urbano.
Esses fenômenos se
relacionam diretamente com a
densidade, a desigualdade urbana,
e a alta competitividade citadina.
Moser acrescenta ainda outro fator
primordial para a insegurança que
vivemos nas cidades: a indiferença
mútua e a falta de sensibilidade,
causada justamente pela anestesia
que os estímulos urbanos nos causam
diariamente. A grande densidade e
os fatores citados anteriormente são
os responsáveis por essa indiferença
perante ao outro e situações de
injustiça.
Moser fala sobre algumas
descortesias relacionadas ao
ambiente físico, como a degradação
e pichações, que essas anomalias
ocorrem justamente pelo indivíduo
não se sentir pertencente e sentir
necessidade de se apropriar ou
exercer controle sobre aquele espaço
de alguma forma, mesmo que ela se
configure como degradante.
Outro tópico interessante sobre o
vandalismoéarelaçãodecausalidade
com o exemplo. Moser aponta que,
sinais de negligência estimulam a
falta de cuidado. Dá o exemplo das
pichações em muros, que, se não
tratadas no primeiro momento, já
fazem com que o muro passe uma
imagem de abandono e logo se torne
um espaço que atrai mais atitudes
de vandalismo.
Dentre todos os fatores, a
violência é a mais preocupante
e debatida no meio urbano e
governamental. O Brasil, de acordo
com relatório divulgado pelo ONU
em 2019, é o segundo país mais
violento da América do Sul, com
uma média de 30,5 assassinatos por
cada 100 mil habitantes.
Uma das principais expressões
de violência e desigualdade racial é a
concentraçãodeviolêncialetalcontra
a população negra. Jovens negros
aparecem como as principais vítimas
de homicídios do país, com taxas
crescentes, a medida que homicíos
relacionados a pessoas brancas
tem diminuído consideravelmente.
A insegurança urbana se dá nos
mais diversos níveis, em um cenário
diretamente influenciado pelos
privilégios econômicos, de raça e
gênero.
ANOMALIAS URBANAS
10
8. COMPORTAMENTOS ADAPTATIVOS:
TEORIAS SOBRE O URBANO
Diante de todos os aspectos
elencados acima acerca da realidade
dos conglomerados urbanos,
diversas teorias foram desenvolvidas
para tentar explicar a relação entre
o indivíduo e esse seu novo habitat,
tão diferente e tão mais cheio de
estímulos e estressores do que os
que o precederam.
Todas as teorias concordam
que as condições da vida
urbana provocam nas pessoas
um comportamento adaptativo
mais voltado para si mesmo e
consequentemente menos civilizado,
dando origem à um comportamento
psicológico típico urbano. Apesar de
concordarem quanto a necessidade
psicológica do indivíduo de adaptar-
se à esse novo habitat, os diferentes
modelos propostos discordam
acerca da influência do indivíduo
nesta relação. Quanto à esses
modelos urbanos, Moser (1998) e
Ramirez (2002) resumem alguns dos
principais modelos, os quais serão
abordados rapidamente aqui.
O Modelo da Ecologia Urbana,
desenvolvido por Fisher, é um dos
modelos mais difundidos e encara
a cidade como um sistema com
recursos econômicos e sociais
limitados, no qual as pessoas
devem se adaptar para sobreviver.
É uma visão anti urbana e vê o
ambiente como determinista, tendo
o indivíduo pouca influência sobre o
processo. Dentro desse ambiente as
normas morais são menos marcadas
e as pessoas mais anônimas, o que,
dependendo da personalidade da
pessoa em questão, pode levar
ao isolamento ou à numerosos
encontros. Esses encontros, de
pessoas que se deparam com outras
com interesses comuns, formam
subculturas urbanas, resultando
em uma cidade formada de vários
OPORTUNIDADES
X
PROBLEMAS
URBANOS
11
mundos distintos uma estrutura
social dentro de um espaço urbano
limitado, no qual cada grupo ocupa
um determinado espaço e carrega ele
de significados, costumes, tradições,
que se distinguem dos outros.
O Modelo da sobrecarga
ambiental, defendido por Milgram,
diferente do citado acima, enxerga
que o indivíduo se adapta ao meio,
e destaca a forma como o indivíduo,
ao estar sobrecarregado de
informações, seleciona quais são as
de maior prioridade, focando nessas
edeixandodeladoasoutras.Defende
que nas cidades os indivíduos
distinguem claramente que são os
amigos e quem são os estranhos,
os quais consequentemente não
necessitam atenção.
O Modelo de Referência
ao Mundo Estranho aponta
que, enquanto no campo se
cruza constantemente com
conhecidos, na cidade se vive
em um mundo de estranhos,
encontrando eventualmente e de
modo surpreendentemente algum
conhecido. Vivemos em nossa rotina
em meio à estranhos familiares. Essa
vivência no meio de estranhos nos
permite disseminar o anonimato,
tanto nosso quanto do outro, e
aprender a quando e como interagir
com as pessoas, buscando relações
de diferentes graus de intimidade.
As abordagens no sentido
de Behavior Setting, analisam as
atividades das pessoas e as suas
interações nos diversos contextos.
Vê que as pessoas agem de forma
distinta em locais subutilizados, em
um ótimo estado de utilização ou
superlotados, e consequentemente
também em relação às cidades.
Com base nisso, locais e cidades
superlotadas fazem com que as
pessoas se engajem menos na
manutenção dos locais, tendo um
menor nível de responsabilidade
pelo desempenho do todo.
O Modelo da abordagem
composicional se difere das análises
anteriores, as quais consideram que
a cidade molda os habitantes. Essa
abordagem parte do pressuposto
que são as pessoas que escolhem
habitar nos centros urbanos, de
modo que a cidade é um reflexo dos
seus habitantes e não o oposto.
Com base nisso, percebe-se
que as áreas da psicologia ambiental
que abordam o meio urbano diferem
quanto a compreensão do grau de
influência do ambiente no indivíduo
e vice-versa.
Considerando essa relação
um processo bidirecional, no qual o
citadino é um ser ativo em relação
ao meio em que está inserido,
constantemente o modificando, e no
qual esse meio urbano transforma
e molda diariamente as atitudes
e percepções de mundo de seus
usuários, percebemos que existem
alguns elementos presentes na
cidade que são capazes de alterar as
formas como nos relacionamos e nos
portamos em determinados lugares.
Vamos a seguir elencar alguns dos
conceitos básicos da psicologia
ambiental que nos auxiliam na
compreensão das formas como o
sujeito apreende e compreende
o ambiente e posteriormente age
sobre/sob ele.
12
9. PSICOLOGIA
AMBIENTAL
Tendo elucidado alguns dos
fatores característicos da vida urbana
atual, cabe agora trazer a definição de
alguns conceitos chave da psicologia
ambiental, possibilitando assim
uma posterior análise a respeito das
distintas formas de interação dos
diferentes grupos sócio-culturais no
âmbito da cidade e então uma reflexão
acerca das características ambientais
que influenciam na caracterização
de um espaço urbano apropriante e
gerador de bem-estar.
NOSSA RELAÇÃO COM O ESPAÇO É BILATERAL: DA
MESMA FORMA QUE PROJETAMOS NOSSAS VONTADES
NESSE ESPAÇO, ELE REFLETE SITUAÇÕES QUE MODIFI-
CAM NOSSO COTIDIANO.
13
PRIVACIDADE
TERRITORIALIDADE
ESPAÇO PESSOAL
Estamos constantemente nos
relacionando com o ambiente, seja
ele interno ou externo, público ou
privado, individual ou compartilhado.
Nossa relação com o espaço é
bilateral e da mesma forma que
projetamos nossas vontades nesse
espaço, ele reflete situações que
modificam nosso cotidiano.
O conceito de território aparece
em todas as culturas. Não importa
o tamanho da comunidade, sempre
existe uma área que a maioria
dos membros da mesma origem
cultural podem se apropriar e trocar
experiências. Os níveis desejados de
privacidade podem ser regulados e
variam com a cultura que pertence o
indivíduo, com o sexo, a idade, com a
classe social e o uso pretendido para
o local (Altman e Chemers, 1989)
Para Moser (1998), essas relações
complexas podem ser avaliadas em
três níveis diferentes de privacidade:
Espaço pessoal, territorialidade e
densidade física e social.
O espaço pessoal, é definido
por Hayduk (1978 apud Moser 1998)
como uma fronteira imaginária
pessoal, que o estranho não pode
violar, tendo como principal função,
evitar a exposição e estímulos
sociais e físicos indesejados, com o
objetivo de conservar a liberdade
de ação, privacidade e intimidade
do indivíduo. E ainda segundo ele,
essa invasão do espaço pessoal
causa fuga, ou evitação. Existem,
é claro, casos mais extremos da
invasão do espaço pessoal, que não
se atém apenas ao desconforto,
mas a invasão em si e a violência,
configurando uma anomalia. São
exemplos situações de abuso contra
a mulher, homofobia, racismo e
violência direcionada a minorias,
situações que infelizmente ocorrem
todos os dias.
Alan Westin (1967), define
quatro estados de privacidade
das pessoas: solidão, intimidade,
anonimato e reserva, sugerindo
que há uma variedade de razões
pelas quais o indivíduo precisa
controlar sua privacidade. Dois
desses aspectos são relevantes
quando avaliado o contexto urbano:
solidão, por ser difícil consegui-la no
14
10. espaço público e anonimato, pela
liberdade de observação constante
de observadores.
Já a territorialidade tem limites
visíveis e palpáveis, para Altman
(1976 apud Moser 1998), existem
3 tipos de território: o território
primário (normalmente definido
pela residência ou local de trabalho)
o secundário (que é dividido com
um número de pessoas conhecidas,
a sala de aula, ou universidade, por
exemplo) e terciário (espaço público
partilhado com desconhecidos, com
apropriação momentânea, como
exemplo a rua, praia e outros).
Cada território se apresenta com
características antropológicas
distintas. O espaço primário,
justamente por ser delimitado e
o convívio se dar com pessoas
conhecidas, tende a ser o que
ambiente que nos deixa em um
estado de menor alerta, reduzindo
a complexidade das estimulações
nervosas.
Já o território secundário,
ainda de acordo com Altman,
favorece o exercício do poder,
justamente por serem espaços
menos centrais e exclusivos. Neles,
os comportamentos de agressão e
dominação se tornam mais comuns,
visto que se caracteriza por um
espaço frequentado pelas mesmas
pessoas diariamente com distintas
personalidades, muitas vezes com
hierarquias muito bem definidas, e
hierarquias que se dão de acordo
com o histórico pessoal de cada um.
Por fim, entende-se que a
territorialidade tem a função de
organizar as casas, bairros, cidades,
15
estados, países, escolas, hospitais,
prisões e outros. Enquanto o espaço
pessoal tem um papel regulador,
que tende a proteger os indivíduos
de ameaças físicas e emocionais,
regulando a intimidade dentro dos
diferentes tipos de territórios.
Com o aumento progressivo
das populações urbanas, surgiram
inúmeros estudos relacionando a
densidade e seu efeito negativo a
curto e longo prazo.
Para efeitos de estudos, são
comumente utilizados dois conceitos:
densidade interior e densidade
exterior. A interior se refere a
quantidade de pessoas que vivem
na mesma casa ou apartamento
enquanto a exterior fala sobre o
número de unidades habitacionais
por superfície de solo. Stockols (1972
apud Moser 1998) fala também
sobre densidade objetiva, que seria a
medida de um número de indivíduos
por unidade espacial e a densidade
subjetiva, caracterizada como a
percepção e reação individual da
pessoa exposta a forte densidade,
portanto, muito mais relacionada
com sua individualidade.
A lotação de transportes
públicos, um fator costumeiro em
grandes cidades, foi estudado por
Singer, Lundberg e Frankenhauser
(1978 apud Moser 1998), que
apontaram aumento do nível de
estresse nesses passageiros através
dos níveis elevador de catecolamina
e epinefrina nas suas urinas. Além
disso, percebeu-se que o fator de
tomar a lotação primeiro e ter a
possibilidade de escolher onde vai
se sentar, aumenta a satisfação do
passageiro, provando novamente
que a possibilidade de controle é um
tranquilizador.
Outro fator interessante é o
efeito da densidade sobre a forma
de se relacionar, uma densidade
elevada provoca sobrecarga de
estímulos, reduzindo a quantidade e
qualidade das interações. Em estudo
desenvolvido por Baum et al (1982
apud Moser 1998), analisaram
a disposição dos dormitórios
universitários, comparando o
dormitório corredor e apartamento.
Neste estudo foram analisadas as
formas de interação dos indivíduos,
e o estudo revelou que estudantes
que viviam em dormitório corredor
consideram que estão muito expostos
a interação social, tem a impressão
de pouco espaço e invasão. Por
isso, quando estão em situação que
necessitam de maior interação ou
trabalho em grupo, tendem a se
manter mais afastados, justamente
como um mecanismo de equilíbrio
em relação à constante exposição
social.
A redução das condutas
de ajuda em espaço urbano se
explica também por esse motivo.
A responsabilidade individual é
abandonada em proveito de um
anonimato que protege da presença
dos outros.
DENSIDADE FÍSICA E SOCIAL
16
11. 17
APROPRIAÇÃO
O conceito apropriação
consiste em um dos mais importantes
para a análise da interação do
indivíduo com o meio urbano. Sylvia
Cavalcante e Terezinha Façanha
Elias, no livro “Temas básicos em
psicologia ambiental”, (2011, p.
63) definem a apropriação como
“um processo psicossocial central na
interação do sujeito com seu entorno
por meio do qual o ser humano se
projeta no espaço e o transforma em
um prolongamento de sua pessoa,
criando um lugar seu.”.
De acordo com Enric Pol (1996)
, conforme citado por Cavalcante
e Elias (2011, p. 65), o processo
de apropriação pode ser dividido
em duas categorias. A Primeira,
definida como ação/transformação
consiste em um processo direto de
demarcação territorial de modo que
se relaciona muito com o conceito
de territorialidade citado acima.
A segunda categoria seria a de
Identificação, na qual o processo
de apropriar-se se dá no âmbito
da identificação com o território,
com a construção de significado e
personalização do mesmo.
Dessa forma, o processo de
apropriação se dá por uma via de
mão dupla. O indivíduo se reconhece
no ambiente e portanto se apropria
dele, ao mesmo tempo em que ao
estampar sua marca no ambiente (se
apropriando dele) se reconhece ali.
Independente da forma como
decidimos analisar a apropriação,
sabe-se que é um processo que
ocorrem de forma mais fácil em um
local privado, no qual o indivíduo
possui o controle sobre o lugar e a
liberdade de definir as formas como
ele será utilizado.
Já no espaço público
a apropriação se dá mais
recorrentemente na forma de
identificação e de ocupação do
espaço, sem que ele seja legalmente
seu, de modo que normalmente
representa uma apropriação
passageira e que precisa ser
constantemente reforçada, uma vez
que está sujeita à apropriação dos
outros.
O processo de apropriação
está muito ligado à outro conceito
recorrente da psicologia ambiental,
o de Apego ao Lugar. Este, por sua
vez corresponde à construção de
laços com o ambiente através da
identificação com o mesmo. Pode
ocorrer por conta de características
funcionais, quando o ambiente
facilita a realização de tarefas,
de características simbólicas,
relacionadas à memória e ao
imaginário pessoal, ou então por
características ligadas ao tempo
de permanência naquele espaço,
criando um alto grau de familiaridade
com o lugar.
O apego ao lugar auxilia no
processo de apropriação do espaço,
pois, uma vez que aquele lugar
corresponde aos aspectos positivos
de identidade de lugar do indivíduo,
há um desejo de proximidade com
ele e um sofrimento pela separação,
levando o indivíduo à ocupar aquele
espaço. Isso se torna ainda mais
importante quando se tratando dos
ambientes públicos.
18
12. ANÁLISE DA
PSICOLOGIA
AMBIENTAL
NO MEIO
URBANO
19
Quando passamos a relacionar
os conceitos tratados nos estudos
de psicologia ambiental com os
diferentes níveis de aglomerações
humanas, percebemos que as
interações interpessoais variam tanto
de acordo com o maior ou menor
grau de intimidade, quanto com o
número de pessoas que formam tais
aglomerações.Naescaladascidades,
por exemplo, se tem uma maior
facilidade de perceber o conceito de
espaço pessoal, visto que no convívio
entre indivíduos desconhecidos a
tendência é de se respeitar o espaço
alheio, enquanto que na escala
dos grupos sociais, como centros
comunitários, conseguimos perceber
melhor o conceito de apropriação,
principalmente do espaço público
em seu entorno.
Alémdisso,oconceito dedireito
à cidade, desenvolvido por Henri
Lefebvre em 1968, é muito utilizado
atualmente quando tratamos das
problemáticas urbanas. Segundo
o autor esse seria um direito da
não exclusão da sociedade urbana
das qualidades e benefícios da
vida urbana. Um direito coletivo
para remodelar a urbanização.
Deveria haver, para isso, uma maior
participação daqueles que têm um
histórico de constante exclusão e
marginalização nas decisões de
formação das cidades.
Asdiferençasencontradasentre
as escalas analisadas e o conceito de
direito à cidade tudo tem a ver com o
contexto envolvido no surgimento e
desenvolvimento dos conglomerados
urbanos no século XIX e é um item de
extrema importância a ser analisado
para embasarmos um estudo nesse
tema. Como já citado anteriormente,
no mundo todo esse processo fez
com que parte da população fosse
deslocada das cidades camponesas
às cidades industriais de maneira
rápida, passando a criar espaços sem
uma necessária qualidade urbana.
Com o passar do tempo e aumento
significativo desse movimento de
mudança têm-se situações onde
os indivíduos ou mesmo grupos,
procuram ou são forçados a
encontrar um local para viver e
um lugar para trabalhar dentro de
seus limites econômicos e políticos
(FRICK, 1986), e não mais onde se
identificam, alocando-se mesmo
que longe de suas atividades diárias,
em bairros que posteriormente se
tornaram as conhecidas periferias.
Desde aquela época, os mais
privilegiados ocupavam os locais
mais próximos de seus trabalhos e
necessitavam de menor tempo de
deslocamento para executar suas
atividades,apesardenãoconhecerem
de fato seus vizinhos, pela falta de
uma comunidade propriamente
dita, se reconheciam socialmente
neles. Consequentemente as áreas
que essa parcela da população
ocupava eram cada vez mais
homogêneas, apresentavam cada
vez mais comércios e serviços e
não demandavam grandes esforços
por parte dos moradores para
se desenvolverem. Esses fatores
criaram uma certa especulação
imobiliária, tornando essas áreas
supervalorizadas e repelindo cada
vez mais a camada menos abastada
da sociedade.
20
13. Dessa forma, a população deslocada
das cidades camponesas, que
tinha uma conexão e sensação de
pertencimento àquele modo de vida
anterior, se encontra em um local
novo e desconhecido, sem os serviços
básicos e sem identidade coletiva
alguma. Nesses bairros periféricos
surgem, assim, pequenos grupos
que têm como característica comum
o contexto que os fez estarem ali.
Segundo a dissertação de mestrado
de Frederica Gomes, esse processo
de agrupamento, quando acontece
atravésdegrandesfluxosmigratórios,
possui características que refletem a
bagagem cultural e econômica dos
novos moradores, criando assim,
de maneira espontânea, uma
identidade local.
Essa identidade local, que faz
com que, ao longo dos anos, essa
população que ficou à margem do
centro industrializado crie um senso
de comunidade e passe a agir,
apropriando-se dos espaços públicos
para que os mesmos atendam às
suas necessidades básicas. Como
consequência, esses moradores
sentem-se pertencentes do que é
público e por esse motivo lutam em
conjunto por espaços mais dignos
e por melhorias constantes em seu
redor. Tal luta, no entanto, não faz
com que o Estado os perceba como
parte integrante e necessária das
cidades e, consequentemente, não
trabalhe para suprir as necessidades
desses moradores, e sim, foque
em um maior desenvolvimento das
áreas centrais já desenvolvidas.
Por fim, o crescimento das cidades,
o aumento das problemáticas à elas
relacionadas, e a falta de auxílio
estatal faz com que Lefebvre cite
em “O Direito à Cidade”, sobre
um projeto de mudança estrutural,
que será longo e difícil, já que
será preciso resolver inventando
(espaço e tempo novos), resolvendo
contradições e conflitos entre os mais
profundos produzidos pelo ‘modo de
produção’ que dominou (LEFEBVRE,
1986, p.05). Esse projeto teria
como finalidade nos dirigir a uma
sociedade urbana que demandaria
uma apropriação do espaço pelo
indivíduo e, consequentemente,
diminuiria as desigualdades geradas
pela ocupação urbana na época do
desenvolvimento industrial.
21
DIFERENÇAS DE
INTERAÇÃO
ENTRE AS
PESSOAS
CONSIDERANDO
O “STATUS”
As comunidades periféricas do
século XXI que apresentam escassez
nos serviços básicos e que lutam pela
inclusão na cidade são consequência
direta da marginalização ocorrida
na época da industrialização.
Hoje em dia, no entanto, além da
segregação espacial que é clara e
visível, temos também a segregação
22
social, que varia de acordo com cor,
gênero e condição financeira e gera
inúmeras problemáticas nas relações
interpessoais.
No contexto das cidades,
as lutas por dignidade e espaços
públicos para todos, criam uma
interação entre pessoas com um
mesmo propósito e são um grande
fator de pertencimento local.
Segundo Lefebvre (1968, p.14) “Os
violentos contrastes entre a riqueza
e a pobreza, os conflitos entre os
poderosos e os oprimidos, não
impedem nem o apego à Cidade
nem a contribuição ativa para a
beleza da obra. No contexto urbano,
as lutas de facções, de grupos, de
classe, reforçam o sentimento de
pertencer.”. Quem está lado a lado
numa luta, dessa forma, se identifica
com o outro independente dos
inúmeros contrastes socioculturais
passíveis de existir, o que geralmente
não ocorre em situações cotidianas
da sociedade.
No dia a dia não é pouco
frequentevermosrelatosdemulheres
que não se sentem respeitadas em
ambientes de trabalho formados
majoritariamente por homens,
relatos de pessoas pretas seguidas
por seguranças e/ou agredidas,
física ou verbalmente, por conta
da cor de sua pele, em ambientes
teoricamente voltados à todos, ou
então relatos de pessoas com renda
baixa que se sentem deslocadas em
locais como shoppings centers. Esses
preconceitos e opressões causados
por simples diferenças genéticas ou
de “status” social, geram desconforto
e sensação de não pertencimento ao
local.
Em síntese, esses espaços
que impedem apenas alguns tipos
de relações interpessoais podem
ser chamados de segregacionistas.
Mesmo que denominados públicos,
são muitas vezes voltados somente
para uma camada da sociedade, o
que faz com que os que não fazem
parte dela sintam-se desconfortáveis
quando os ocupam. Abaixo daremos
alguns exemplos de situações do
cotidiano nas quais essa segregação
e falta de pertencimento ao local
público se aplicam.
14. “NAS RELAÇÕES SOCIAIS, NO
BRASIL, EXISTE UMA PROFUNDA
DISTÂNCIA ENTRE DISCURSO E
PRÁTICA OU ENTRE O TEXTO DA
LEI E SUA APLICAÇÃO. EM CONSE-
QUÊNCIA, GRANDE PARTE DA SO-
CIEDADE PERMANECE SEM DIREI-
TOS PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO.
SÃO IGNORADOS, SEGREGADOS
E INVISÍVEIS APESAR DAS DIMEN-
SÕES DESSA EXCLUSÃO. COMO
ESSA ESPÉCIE DE APARTHEID NÃO
É CLARA E ASSUMIDA, VIVE-SE
UMA CONTRADIÇÃO, UM FAZ DE
CONTA. FAZ DE CONTA QUE ISSO
É UMA DEMOCRACIA, FAZ DE CON-
TA QUE A LEI SE APLICA A TODOS
DA MESMA FORMA, FAZ DE CONTA
QUE TODOS TÊM DIREITOS IGUAIS,
COMO É O CASO DO DIREITO À CI-
DADE.
O QUE A PRÁTICA DOS ROLEZI-
NHOS TEM DE NOTÁVEL, FANTÁS-
TICO, EXTRAORDINÁRIO MESMO,
É O DESNUDAMENTO DESSA CON-
TRADIÇÃO. QUANDO OS EXILA-
DOS URBANOS DECIDEM ANDAR
PELA CIDADE, ESSE APARTHEID
EXPLODE NA CARA DA SOCIEDA-
DE AINDA QUE NÃO SEJA ESSA A
INTENÇÃO DA MAIOR PARTE DA
MOÇADA. ESSA ATITUDE QUES-
TIONA, PROFUNDAMENTE, A SO-
CIEDADE QUE APRENDEU A SER
CÍNICA (ESPECIALMENTE O “PAR-
TIDO DA MÍDIA”) PARA ESCONDER
A INCRÍVEL DESIGUALDADE DE UM
PAÍS QUE NÃO É POBRE MAS TEM
UM POVO POBRE .”
OCUPAÇÕES
URBANAS
POR DIREITO
A CIDADE
23
Erminia Maricato sobre os rolezinhos
2014
Conforme já comentamos,
muitas vezes a população se apropria
dos espaços públicos com o objetivo
de expressar sua identidade no
local e, consequentemente, atenuar
esse sentimento de segregação.
Isto porque, a partir da análise
comportamental, a identidade
é caracterizada como uma
necessidade universal e uma parcela
dela compreende a identificação do
indivíduo com os lugares (KRUPAT,
1985, apud GOMES, 2006).
Alémdisso,oespaçopúblicoem
si, com todas as suas possibilidades
e ofertas, também configura uma
necessidade coletiva (Kaplan, Kaplan
e Ryan; 1998 apud GOMES, 2006).
Assim, apesar das pessoas possuírem
diferenças significativas, grupos
se formam naturalmente ou são
associados pela conjuntura do tecido
urbano, por possuírem necessidades
e afinidades em comum, sejam elas
econômicas, sociais ou culturais
(MOSER, 1998).
Um exemplo dessa reação de
apropriação em busca de satisfazer
suas demandas por pertencimento
são os casos dos chamados
“Rolezinhos”, fenômeno que iniciou
em São Paulo, no final de 2013. Os
eventos começaram com o intuito de
promover o encontro de adolescentes
daperiferiaqueseconheciamapenas
pelas redes sociais, agrupando
centenas e às vezes milhares de
jovens em shoppings da cidade.
Ainda que esses centro comerciais
não sejam locais de fato públicos,
mas sim empreendimentos privados
acessíveis ao público, cabe essa
exemplificação no nosso contexto,
uma vez que, devido a escassez de
espaços públicos de qualidade, os
shoppings, muitas vezes, são vistos
pela população como a única opção
segura de entretenimento. Fator de
enorme relevância, uma vez que
a segurança tem se mostrado a
condição principal nas escolhas de
locais para desempenhar atividades
de lazer e serviços (GOMES, 2006).
Os “Rolezinhos”, ao passo que
ganharam caráter de representação
da luta pelo direito à cidade,
começaram a ser reprimidos e
proibidos. Por mais que a natureza
desse fenômeno tenha sido, desde
o princípio, apenas de lazer, as
manifestações comportamentais
desses jovens, ou seja, seu
movimento de apropriação do
espaço, foram vistas como uma
turbulência no cotidiano do público
alvo dos shoppings: a classe média.
Escancarou-se, assim, a segregação
espacial descomunal que rege a vida
urbana no nosso país.
É importante pontuar, no
entanto, que esses adolescentes não
tinham o objetivo de protestar. O
caráter político foi um efeito colateral
da movimentação natural desses
adolescentes da periferia em busca
de seus direitos de viver a cidade.
Levantamos, portanto, novamente a
crítica: os espaços de pertencimento
universal se tornam segregacionistas
à medida que se voltam a apenas
uma camada da sociedade.
24
15. Os humanos são seres
sociais, dessa maneira, como
citamos, tendem a se agrupar com
seus semelhantes. A segregação
espacial, no entanto, custa caro a
essa característica humana, visto
que é o espaço público que provém
canais de movimento, articulação
de comunicação e lazer (CARR et al,
1992, apud GOMES, 2006). É nele
que as trocas pessoais mais valiosas
ocorrem.
Lang (1987), por sua vez,
enfatiza que é necessário um
equilíbrio entre o espaço físico e
o social para que as relações se
desenvolvam da maneira adequada.
Dessa forma, visto que o bem estar
psicológico dos indivíduos está
intimamente relacionado com as
25
Apesardacaracterísticahumana
de carecer da relação com outros
seres da mesma espécie, há, por outro
lado, a necessidade de privacidade
em diversos níveis e momentos da
vida urbana. Anteriormente, citamos
que o conceito de espaço pessoal é
facilmente percebido nas cidades,
assim como a territorialidade
terciária. Um exemplo deste é a
forma como nos comportamos em
ESPAÇO PESSOAL
E TERRITORALIDADE
NO MEIO URBANO
uma praia. Embora seja um espaço
de uso público, sem barreiras fixas,
demarcamos o nosso território
momentâneo com o uso de objetos,
como guarda-sol e toalhas. Durante
esse período de uso, esperamos
que aquele recorte do espaço seja
compreendido por terceiros como
território e que, portanto, não seja
invadido sem permissão. Essa noção
de respeito por limites abstratos
suas relações interpessoais, por
consequência, sofre forte influência
do ambiente e da forma como eles
estão inseridos no meio urbano.
Assim, a carência de espaços
públicos de qualidade e a negação
dos poucos existentes é também
uma forma de negar novos vínculos
sociais à parte marginalizada da
sociedade. Logo, é crucial que o meio
físico sustente as estruturas sociais
das mais diversificadas (RAPOPORT,
1977, apud GOMES, 2006) para que
promova relações sem distinções.
O movimento de apropriação dos
espaços, portanto, não é uma busca
apenas por identidade, mas também
por laços, pela manutenção da vida
em comunidade por bem estar.
BEM ESTAR E SOCIEDADE
26
é adquirida ao longo do nosso
crescimento, através das vivências
que temos em comunidade.
O espaço pessoal por sua vez, é
observado com mais frequência
em relação à territorialidade, por
tratar-se de um limite que envolve
a pessoa e a acompanha em
todos os momentos e lugares. No
transporte público, por exemplo, ele
é violado quando a pessoa que se
senta ao nosso lado não cumpre um
certo distanciamento. É importante
ressaltar, no entanto, que tal
distância, ou seja, o tamanho do
espaço pessoal de cada indivíduo é
diferente e se altera com base nas
suas experiências, crenças e cultura,
conforme explicam Elali e Pinheiro
(2011, p. 145). Além disso, há
momentos em que, por não haver
outra opção, a invasão é justificável.
Exemplificando, quando há espaço
em um banco de uma praça para
que a pessoa se sente mais distante
de nós e ela escolhe sentar ao
nosso lado, nos sentimos invadidos.
Caso o banco já esteja ocupado
na outra extremidade, avaliamos
tal comportamento como aceitável.
Apesar disso, dependendo dessa
proximidade e se há contato físico
ou não, ainda que aceitável, pode
significar um incômodo.
Assim, os indivíduos estão
sempre vivenciando a cidade entre
as concepções de apropriação e
espaço pessoal, relações sociais e
privacidade. O meio físico, portanto,
deve suportar essa variação, visto
que ambos os extremos constituem
necessidades humanas.
16. PANDEMIA E QUARENTENA:
MUDANÇAS NAS RELAÇÕES URBANAS
2020 e a pandemia do novo
coronavírus trouxeram consigo uma
mudança considerável nas relações
interpessoais e de apropriação dos
espaços. O fato da população se
isolar em suas casas e evitar grandes
deslocamentos causou uma redução
da ocupação dos grandes centros
urbanos e um aumento no uso
dos comércios e serviços de bairro,
consequentemente, os problemas de
mobilidade tão presentes nas cidades
atuais foram altamente reduzidos.
Em contrapartida, a busca por áreas
de lazer ao ar livre aumentou e o
uso de transportes particulares em
detrimento dos públicos também.
Com isso, a tendência para os
próximos anos é de termos bairros
cada vez mais autossustentáveis,
com mais áreas verdes e planejados
a partir do ponto de vista do pedestre,
e não mais do carro. Deize Sbarai
Sanches Ximenes e Ivan Carlos
Maglio, em seu artigo de setembro
de 2020 publicado no jornal da USP,
trouxeram pontuações de grandes
autores da área, Jane Jacobs e
Jan Gehl, sobre críticas e reflexões
feitas anos antes em relação ao
planejamento urbano. Jacobs, desde
1961 criticava a ideologia urbanística
do modernismo, a qual separava
esquematicamente o uso do solo,
enquanto que Gehl, em 2013, já
ressaltava a importância do resgate
da dimensão humana nas cidades.
É de extrema importância,
dessa forma, que as políticas
públicas trabalhem de acordo com
as mudanças comportamentais que
a pandemia trouxe, caso contrário
o futuro de nossas cidades será de
cada vez mais carros nas ruas e
estresses urbanos. Ágatha Depiné
em sua publicação no site VIA UFSC,
diz “Budapeste sofreu uma redução
de 90% no uso de ônibus e 50%
no tráfego rodoviário. Nas cidades
chinesas, após o fim das restrições
e quarentena, o medo de contágio
na população fez com que o uso de
transporte público fosse reduzido
pela metade e corridas de táxis
se tornassem menos frequentes,
duplicando o uso de carros
particulares nas ruas.”
Outra situação que ganhou
repercussão através da mídia foi
a narrativa de uma “pandemia
democrática”, sustentada pelo
argumento de que ninguém estaria
livre da COVID-19, independe do
sua condição social. Oliveira et al
(2020), no artigo “Desigualdades
raciais e a morte como horizonte -
considerações sobre a COVID-19
e o racismo estrutural”, discorre
sobre como a pandemia escancarou
a divisão socioeconômica no nosso
país. Visto que, os indivíduos que
mais precisam se expor ao vírus são
“Predominantemente trabalhadores
precarizados, que não possuem
27
o privilégio de ficar em casa, que
utilizam os transportes públicos
superlotados; têm acesso precário
ao saneamento básico [...]”.
No cenário pandêmico, todos
os fatores deturpantes da cidade,
como os estressores e anomalias,
somam-se ao perigo iminente do
vírus, que se mostra de forma mais
rígida e constante para populações
em situação de vulnerabilidade
social. No artigo são apresentados
dados do Ministério da Saúde em
seus boletins epidemiológicos, que
destacam a queda das internações e
óbitos em brancos e o aumento em
negros, fator que indica justamente
essa incoerência urbana onde
algumas vidas tem o privilégio
de permanecer seguras em casa
enquanto outras precisam se colocar
a mercê de vários problemas
urbanos, que se atenuam em época
de crise.
Espera-se por fim, que as
cidades pós pandemia passem
a privilegiar mais os cidadãos
periféricos, e através de uma
reparação social, promover a saúde,
bem estar, segurança, redução dos
estresses urbanos e melhoramento
dos espaços públicos, valorizando o
coletivo em prol do particular.
Outro fator indispensável é
elaborar espaços que melhorem a
qualidade de vida e que possibilitem
uma menor necessidade de contato,
visto que o fator densidade, além de
um estressor urbano passa por um
aspecto de saúde quando falamos
sobre o distanciamento social
exigido na pandemia. Pedro da Luz
Moreira, professor de Arquitetura da
Universidade Federal Fluminense,
já disse, “O urbanismo pode
estimular hábitos como exercícios
e caminhadas, ao oferecer boas
calçadas, em vez de privilegiar
espaços para carros. Mas também
deve se voltar à saúde psíquica,
dotando diferentes áreas da cidade
com equipamentos educacionais e
de lazer.”.
PROPORÇÃO DE ÓBITOS POR COVID-19, SE-
GUNDO RAÇA/COR, DIA DA DIVULGAÇÃO E
SEMANA EPIDEMIOLÓGICA (SE)
PROPORÇÃO DE HOSPITALIZAÇÕES POR CO-
VID-19, SEGUNDO RAÇA/COR, DIA DA DI-
VULGAÇÃO E SEMANA EPIDEMIOLÓGICA (SE)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
15 16 17 18 19 20
PORCENTAGEM
SEMANA EPIDEMIOLÓGICA
Negros Brancos
0
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PORCENTAGEM
SEMANA EPIDEMIOLÓGICA
Negros Brancos
28
17. CONCLUSÕES
29
Visamos aqui fazer uma
reflexão acerca de dois pontos
principais tratados no texto.
Primeiramente seria importante
destacar quais características de
uma ambiente público promovem
o bem-estar psicológico, e em
seguida, quais são as características
de um espaço público que incitam a
apropriação dos diferentes grupos
socioculturais.
A respeito da primeira questão,
percebe-se que a demasiada
exposição às demandas e aos
estressores ambientais presentes
nas grandes cidades influenciam
um estilo de vida acelerado e
estressante, no qual o sujeito se vê
alienado por meio de sua rotina do
dia a dia. Por conta disso, torna-se
demasiado importante a presença
em nossas cidades de ambientes
que promovam a restauração desse
desgaste cotidiano.
Diversos estudos realizados
no campo da psicologia ambiental
analisam quais são as características
presentes em um ambiente que
permitem e/ou promovem a
restauração do indivíduo. Dentre
eles, duas teorias se destacam,
ambas desenvolvidas na década
de 80, a Teoria Psico-evolucionista,
desenvolvida por Roger Ulrich, que
aborda os ambientes restauradores
a partir de uma visão do desgaste
por acúmulos de stress, e a Teoria
da Restauração da atenção,
desenvolvida por Rachel e Steven
Kaplan, a qual aborda a restauração
a partir do desgaste da atenção
dirigida. (ALVES, 2011)
Apesar de possuírem pontos de
30
partida distintos, ambas as teorias
concordam quanto às características
necessáriasparaatornarumambiente
restaurador, destacando em especial
os ambientes naturais. Analisando os
grandes centros urbanos tais como
são, ambientes construídos e muitas
vezes hostis ao fluxo natural da vida,
vê-se a importância da inserção de
espaços verdes naturais no interior
dessas cidades, tais como praças e
parques urbanos, permitindo assim
uma breve fuga da correria da vida
cotidiana.
Benefícios do contato com a
natureza, mesmo que breve, são
reportados em diversos estudos,
demonstrando a redução da
frequência cardíaca e a diminuição
dos níveis de ansiedade e stress
dos indivíduos após a exposição
à ambientes naturais. Evidencia-
se também, como concluído nos
estudos realizados pelo casal Kaplan,
que ambientes que promovem a
utilização da atenção por fascinação
(que não necessita de um esforço
consciente) facilitam a posterior
realização de tarefas dirigidas.
Ressalta-se que não apenas
ambientes puramente naturais, mas
a simples presença de elementos
naturais nos ambientes construídos,
como luz natural e inserção de
vegetação, também influenciam
no processo de restauração dos
indivíduos. Assim, percebe-se como
a arquitetura presente nas cidades
tende a possuir um impacto muito
grandenoestilodevidadoscitadinos,
e a pura substituição de ambientes
fechadoseacondicionados,taiscomo
shopping centers, por ambientes
abertos, como ruas comerciais,
podem colocar o indivíduo em
contato com elementos naturais e
restauradores, além de garantir um
caráter mais inclusivo à cidade.
A segunda questão diz
respeito às características dos
ambientes públicos que incentivam
este caráter inclusivo dos espaços e
consequentemente uma apropriação
mais igualitária pelos diferentes
grupos socioculturais.
A identificação, fator apontado
por Enric Pol (1996) é o item
primordial para um indivíduo se
sentir disposto e à vontade para se
apropriar de um espaço. Elementos
cotidianos que façam com que ele
enxergue sua história, semelhantes
e raízes os deixam mais confortável
para ter uma relação bilateral com
a cidade: se projetar no espaço na
medida que o espaço se projeta
nele.
Nesse aspecto, se sentir
pertencente a um ambiente, tira
o indivíduo de local de anonimato
urbano e o coloca em um espaço
de responsabilidade coletiva,
criando uma relação de genuína de
mutualismo entre citadino e cidade.
Com isso, é importante
avaliarmos, no papel de arquitetos
e urbanistas, a história local, figuras
de liderança, representatividade,
hábitos, lutas e interesses, para então
criar mecanismos que permitam que
os indivíduos daquela sociedade
se reconheçam e, principalmente,
se manifestem naquele espaço.
Necessitamos também reconhecer as
diferentes formas de experimentação
do espaço público em questão pelos
18. 31
distintos perfis de usuários e seus
respectivos estilos de vida, podendo
assim planejar um espaço que supra
as necessidades ambientais de todos
esses grupos sócio-culturais.
A apropriação caminha de
encontro ao conceito de Apego
ao Lugar, que está diretamente
ligado à memória afetiva e ao
imaginário pessoal. Esse fator tende
a ser individual no micro, porém,
na visão urbana, o Apego se dá em
vizinhanças, bairros, comunidades,
cidades e até mesmo países.
Elementos urbanos que promovam a
união desses grupos e respeitem sua
história certamente irão se englobar
de forma harmoniosa e saudável ao
espaço e aos indivíduos.
O conceito de apropriação e
apego a o lugar passa também
por um viés político, relacionado
ao direito à cidade. Aspecto que,
segundo Henri Lefebvre, é um
direito coletivo de remodelação
urbana, e para isso, seria primordial
criarmos cada vez mais mecanismos
de participação através de políticas
públicas - como projetos urbanos
participativos, por exemplo -, e
eleger governantes que coloquem a
representatividade e história urbana
em primeiro plano.
Por fim, entende-se que da
mesma forma que a territorialidade
mostra sua função ao organizar as
casas, bairros, cidades, estados,
países e interações humanas,
a apropriação tem função de
organizar histórias, memórias e
relacionamentos urbanos.
Desta forma, cabe ao arquiteto
e urbanista, traduzir os interesses
das comunidades, criando espaços
que promovam o bem estar,
valorizem a história, promovam
senso de identidade e privilegiem os
indivíduos que estão às margens - em
um cenário habitual ou pandêmico.
Com o foco em reduzir os estressores
e tratar, de forma social e humana
as anomalias urbanas, criando uma
cidade mais saudável, inclusiva e
afetiva,colocandooindivíduosempre
em seu papel de protagonista.
32
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