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                       ACRE: ENTRE O FUZIL E A BORRACHA

                           Ana Karolina Ferreira Corrêa
       Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA)
                             anageo.correa@gmail.com

                             Denison da Silva Ferreira
       Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA)
                         denisonferreira2008@hotmail.com

                               Edson Maués Corrêa
       Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA)
                             edsonmcorrea@gmail.com

                            Fernando Alves de Araújo
       Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA)
                             mcsfernando@gmail.com

                            Larissa Paola Damasceno
       Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA)
                               llpld86@hotmail.com

RESUMO

O processo de formação territorial do Estado do Acre é resultado de uma série de acordos e
conflitos internacionais envolvendo países da América do Sul e os interesses imperialistas das
grandes potências econômicas do final do século XIX e início do século XX, que viram na
extração gomífera uma rentável atividade no mercado internacional. Nesse sentido, este artigo
busca fazer uma breve análise sobre tal processo, considerando os agentes envolvidos, bem
como as atividades econômicas praticadas no território mostrando de que forma estas afetaram
sua configuração socioespacial, e evidencia, num contexto atual, o papel dos movimentos de
resistência local às políticas adotadas pelo governo federal para o Estado acreano, dando origem
às chamadas reservas extrativistas.


Palavras – chave: Acre; Extração Gomífera; Formação Territorial; Reservas Extrativistas.


RÉSUMÉ

Le processus de formation du territoire d’État du Acre est résultat d’une série d’accords et conflits
internationales entre pays de l’Amérique du Sud e les intérêts des grandes puissances de la fin du
XIXº siècle et début du XXº, qu’on a vu l’extraction de la gomme comme une riche activité dans le
marché international. Notre travail veut faire une petite analyse sur ce processus, en considérant
ses eléments et encore les activités économiques pratiqués dans le territoire, en montrant la forme
comme ses eléments et activités ont affecté sa configuration sociale et spatiale. On souligne aussi,
dans l’actualité, la fonction des mouvements sociaux à propos des actions du gouvernement
fédéral, avec, par exemple, la formation des réserves extractivistes.


     Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010.
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Mots-clés: Acre; Extraction de la Gomme; Formation Territoriale; Réserves Extractivistes.


INTRODUÇÃO

     Este artigo analisa, de forma breve, o processo de formação territorial do estado do
Acre (Figura 01), expondo como e por quais motivos este ocorre, levando em
consideração os interesses internacionais, nacionais e locais envolvidos e tendo como
marco as diversas figuras político-territoriais assumidas por este Estado ao longo de sua
história (parte do território boliviano, território federal e unidade da federação brasileira).
     É justamente a partir da constituição do Acre enquanto Estado brasileiro que emerge
a problemática socioambiental decorrente de um novo modelo econômico pensado para a
região, que impõe a pecuária como principal alternativa para o desenvolvimento do
território acreano. Nesse sentido, o trabalho abordará os conflitos gerados pela introdução
dessa nova atividade e como a mesma influenciou na geração de uma nova configuração
territorial, a partir da implantação das reservas extrativistas no Estado.
     Portanto, inicialmente, será abordada a formação territorial do Acre, a partir de sua
conquista pelos brasileiros até sua elevação à categoria de Estado. Posteriormente, serão
enfatizados, dentro de um contexto atual, os conflitos que deram origem a uma nova
abordagem dos aspectos sociais, econômicos e ecológicos, que foi a criação das
reservas extrativistas, pautadas na concepção do chamado desenvolvimento sustentável.




                           Figura 01: Mapa de localização do Estado do Acre.
                                 Fonte: Elaboração dos autores, 2010.
     Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010.
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ACRE: BOLIVIANO OU BRASILEIRO?

     O    processo     de    conquista      do   Acre     é   de fundamental importância                 para
compreendermos os motivos do país possuir os atuais limites, sendo este processo
resultante de uma série de interesses, seja nacional ou não, que acabaram levando a
alguns acordos internacionais.
     Na época da colônia, estes acordos eram realizados com base nos interesses das
metrópoles européias. É o que ocorreu com o Tratado de Madri, em 1750, em que a
Espanha reconhecia o direito à posse dos portugueses sobre o território do Brasil,
baseada no uti possidetis, ou seja, nas terras em que houvesse ocupação portuguesa,
Portugal teria direito.
     O Tratado de Santo Ildefonso (1777), é basicamente o mesmo de 1750, com
exceção dos limites territoriais dos estados sulinos. No entanto, é necessário destacar
que “a fronteira norte conservou, assim, as características do Tratado de Madri”, pois
espanhóis e portugueses não chegaram a um consenso a respeito desta, uma vez que os
únicos cursos d’água conhecidos da fronteira da região eram o rio Madeira e o Javari, que
acabaram servindo como pontos de referência para a fronteira sul da Amazônia, conforme
destacado por Leandro Tocantins (2001, p. 96).
     No século XIX, em decorrência do processo de independência dos países da
América, estes acordos passaram a ser realizados diretamente entre as novas nações; é
o caso do Acre, entre Brasil e Bolívia. Os dois países assinaram, em 1867, na tentativa de
demarcar a fronteira, o Tratado de Ayacucho, em que o Brasil reconhecia o direito
boliviano sobre o território do Acre, porém a diplomacia brasileira conseguiu obter o
“reconhecimento do uti possidetis post facto, como critério de fixação de limites, sob o
disfarce de um instrumento a título de regular o comércio de fronteira e a navegação dos
rios” (TOCANTINS, idem, p. 151).
     O consentimento do uti possidetis estabelecia que a fronteira partiria da confluência
dos rios Beni e Madeira “por uma paralela tirada da sua margem esquerda, na latitude
10° S, até encontrar as nascentes do Javari” (TOCANTINS, ibiden, p. 153). Entretanto,
   20’
as nascentes do rio Javari eram desconhecidas. Machado (1989, p. 423) destaca que os
bolivianos conseguiram inserir no tratado que, caso a nascente do Javari estivesse ao
norte, a fronteira partiria em linha reta (leste-oeste) até as nascentes. Desta forma, se a
fronteira estivesse ao sul, o território pertenceria ao Brasil, porém se estivesse ao norte
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caberia à Bolívia. Entretanto, o Tratado de Ayacucho foi uma iniciativa dos bolivianos,
preocupados em demarcar os limites fronteiriços, mas o governo imperial compreende a
necessidade de conseguir a neutralidade boliviana na guerra contra a República do
Paraguai, pois as autoridades nacionais temiam que Solano Lopes conseguisse agregar
as tropas bolivianas contra o Brasil (LIMA, 1998, p. 37).
     As terras do Acre estavam assinaladas como “tierras no descubiertas” nos mapas
bolivianos, pois “era um triângulo de moléstias tropicais e, rios tortuosos encravados entre
a Bolívia, Peru e o Brasil. Enfim, um lugar que nenhum cristão procuraria para juntar seus
trapos” (SOUZA, 1995, p. 15).
     Em grande parte, estes cristãos que se aventuraram por essas “tierras no
descubiertas” eram destemidos plantadores - remanescentes da economia agrícola da
cana-de-açúcar, vaqueiros e boiadeiros. “E foi desta subcamada infeliz que saíram os
povoadores do Acre” (BASTOS, 1960, p. 23).
     A dificuldade encontrada pelos nordestinos, em decorrência da grande seca da
década de 1870, levou a um aumento significativo destes, principalmente cearenses, para
a região amazônica, cuja grande procura pelo látex foi decorrente do “desenvolvimento da
indústria de pneumáticos, que possibilitou uma crescente demanda pelo consumo da
borracha nos países industrializados da Europa e Estados Unidos da América” (MAIA
NETO, 2000, p .27). Isso, consequentemente, provocou o aumento da área de produção,
que se foi deslocando para a Amazônia Ocidental, chegando aos altos cursos dos rios
Juruá e Purus. “Os cearenses não tiveram medo da febre e entraram na região.
Empurraram a fronteira com a própria miséria [...]” (SOUZA, 1995, p. 44).
     Os cearenses encontraram uma região rica em belas espécies de Hevea
Brasiliensis, que satisfazia a demanda internacional transformando o Acre no maior
produtor de látex da região, proporcionando “o povoamento da margem direita do rio
Amazonas, principalmente nos vales dos Purus, Juruá e Madeira” (MACHADO, idem, p.
420). Dessa forma, mesmo com novos habitantes, permanecia o espaço sendo
organizado, no que Gonçalves (2008) denomina como o padrão de organização rio-
várzea-floresta, pois, apesar da existência de barracões com produtos para o consumo, a
relação de dependência dos produtos da floresta permanecia.
     O desenvolvimento proporcionado pelo látex, retirado do Acre, beneficiou,
principalmente, as casas aviadoras instaladas em Belém e Manaus, pois através da

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política do aviamento financiavam a extração e a comercialização do produto, levando a
uma maior dependência dos seringueiros em relação ao seringalista (MAIA NETO, 2000,
p. 27).
      Entretanto, este crescimento produtivo passou a atrair cada vez mais interesses da
Bolívia pelas “tierras no descubiertas”, em virtude da grande riqueza que a região estava
proporcionando ao Brasil. A Bolívia passa a reivindicar o território do Acre como porção
de seu domínio territorial embasado no Tratado de Ayacucho, direito este reconhecido
pelo governo brasileiro.
     Uma das primeiras atitudes tomadas pelo governo boliviano, na tentativa de garantir
a posse do território, foi a implantação de uma aduaneira em Porto Alonso, pelo Ministro
José Pavancine, onde este determina que seja cobrado 15% sobre as importações em
geral e 30 a 40% sobre os gêneros indispensáveis à vida dos acreanos (LIMA, 1998, p.
42). Esta atitude tomada pelo governo boliviano causou sérios prejuízos à economia do
Amazonas, uma vez que “a supressão de vultosas rendas provenientes dos impostos
sobre a borracha, bem como dos polpudos impostos que derivam do movimento da praça
de Manaus” provocará a redução das divisas do Estado (LIMA, 1998, p. 42).
     A política boliviana provoca sérios protestos dos brasileiros do Acre, principalmente
por parte de Joaquim Vítor, o mais prestigiado produtor da região. Este organiza a
rebelião chefiada pelo advogado José Carvalho, em fins de abril de 1899, com
aproximadamente 15.000 homens dispostos a lutar.
     A luta armada leva à deposição do cônsul Dom Moisés Santinez por parte de José
Carvalho: “Venho em nome do povo deste rio e em nome do povo brasileiro, intimar V.
Excia. a abandonar este lugar, porque não toleramos mais o governo que V. Excia.
representa” (LIMA, 1998, p. 43). Entretanto, a postura do governo federal era de
reconhecer vigente o Tratado de Ayacucho e garantir o direito boliviano à criação da
aduaneira, porém a posição do governo do Amazonas é de apoiar os compatriotas.
     Em 30 de maio de1899, a canhoteira norte-americana Wilmington, sob o comando
do Champam Todd, partiu rumo às cidades de Tabatinga e Iquito, secretamente, levando
o cônsul dos Estados Unidos. Esta atitude não é vista com bons olhos pelas autoridades
brasileiras, principalmente do Amazonas e do Pará, pois consideravam um desrespeito à
soberania nacional, pediram explicações às autoridades americanas, e estas informaram
que o comandante Todd não tinha ordem para agir desta forma.

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     As explicações americanas colocariam fim à questão se o jornalista Luiz Galvez
Rodrigues Aires não tivesse denunciado, na edição de 3 de junho de 1889 de A Província
do Pará, que a verdadeira missão da canhoteira Wilmington era transportar as base do
acordo com a Bolívia para o presidente americano K. K. Kennedy. Em 4 de junho de
1899, são publicadas “as bases de um grave acontecimento de ordem comercial e política
para as relações internacionais” (LIMA, 1998, p. 47):


                        Os Estados Unidos auxiliariam a Bolívia a defender seus direitos sobre o território
                        do Acre, Purus e Iaco, por via diplomática ou, no caso de guerra com o Brasil,
                        fornecendo armas e financiamento e recebendo em hipoteca as rendas das
                        alfândegas bolivianas. Também exigiriam que o Brasil nomeasse uma comissão,
                        para demarcar, juntamente com a Bolívia, as fronteiras definitivas entre o Purus e
                        o Javari, e concedesse livre trânsito pelas alfândegas de Belém e Manaus as
                        mercadorias bolivianas. A Bolívia, por sua vez, concederia abatimento de 50%
                        sobre a borracha destinada aos portos dos E.U.A, pelo prazo de 10 anos. Caso
                        tivesse que apelar para a guerra com o Brasil, a Bolívia denunciaria o tratado de
                        1867 e a linha de fronteira passaria a correr pela boca do Acre, ficando com os
                        E.U.A, em livre posse, o território restante (BANDEIRA, 2000, p. 03).


      Após a deposição da delegação boliviana, é formada uma junta Revolucionária, cuja
presidência ficou a cargo de Joaquim Domingos Carneiro. Entretanto, Galvez, que havia
chegado ao Acre, a serviço do Governo do Estado do Amazonas, diante de problemas,
como o direito boliviano reconhecido pelo governo federal em detrimento dos interesses
dos brasileiros do Acre e as insistentes expedições frustradas que o governo de La Paz
despachou na tentativa de recuperar o território, resolve proclamar o Estado
Independente do Acre.
     Com o processo de independência, Galvez baixou decretos importantes e, “em
menos de 24 horas de poder, já mandou despachos para todos os países da Europa,
designando representantes diplomáticos do novo Estado que acaba de tirar do nada”
(LIMA, 1998, p. 51). Entretanto, Galvez foi destituído por uma operação conjunta das
forças armadas de Brasil e Bolívia, em 08 de dezembro de 1899, sendo deportado para a
Espanha.


O TERRITÓRIO FEDERAL DO ACRE


      Após a queda da “República do Galvez”, chamada assim pelos “pariodistas
brasileiros” (MACHADO, ibidem, p. 426), o governo amazonense apoia uma expedição
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criada para a retomada do território acreano, formada por engenheiros, repórteres e
escritores. A expedição Floriano Peixoto, apelidada de Expedição dos Poetas e liderada
por Orlando Corrêa Lopes, fracassou logo no primeiro confronto com os bolivianos devido
à inexperiência militar de seus integrantes.
      Contudo, a Bolívia estava inclinada a livrar-se do problema acreano, pois a
administração desse território se tornara deveras dificultosa, principalmente após
sucessivas investidas dos levantes de seringueiros brasileiros que buscavam expulsar os
bolivianos daquelas terras. Para isso, assinou, em 1901, um acordo de arrendamento do
Acre para a companhia anglo-americana Bolivian Syndicate, que passaria a ter, durante
30 anos, direitos soberanos sobre aquele território, podendo inclusive “manter polícia e
equipar uma força armada ou barcos de guerra, para a defesa dos rios ou conservação da
ordem interna” (BANDEIRA, 2000, p. 06).
      Entretanto, constantes conflitos entre os soldados bolivianos e os seringueiros
brasileiros impediam a Bolívia de ter o controle efetivo do território e assim cumprir a sua
parte no acordo, o de conceder o território à companhia. Dessa forma, o governo boliviano
pede ajuda aos EUA, sinalizando que “não tinha força para sustentar o contrato”
(BANDEIRA, 2000, p .07), e estes se mostram dispostos a ajudar a Bolívia, instruindo que
o governo brasileiro
                        defendesse os ‘interesses de inocentes americanos’ e justificou sua atitude [...],
                        argumentando que os americanos entraram no acordo ‘perfeitamente inocentes’ e
                        contavam com o cumprimento do acordo por parte da Bolívia, mas o Brasil, por
                        meio de sérias ameaças, tentava impedi-lo, o que agradável não era para os EUA
                        (BANDEIRA, 2000, p. 07).

      O governo norte-americano se refere, além dos confrontos armados, ao embargo
brasileiro à navegação boliviana no rio Amazonas e seus afluentes, que foi motivado pela
emergência do acordo anglo-americano com La Paz, quando cita que o Brasil “ameaça” o
acordo da Bolivian Syndicate.
      A questão acreana se encaminha para um momento decisivo quando Plácido de
Castro, um ex-militar gaúcho que foi trabalhar na região como agrimensor, foi convidado a
assumir o comando do movimento de resistência à ocupação boliviana no Acre. Ele
aceitou o cargo ao tomar ciência sobre o acordo da Bolívia com a companhia anglo-
americana Bolivian Syndicate, pois considerava tal fato um perigo à soberania nacional.
Plácido denota isso quando escreve em seu diário:


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                        Veio-me à mente a ideia de que a pátria brasileira se ia desmembrar, pois a meu
                        ver, aquilo não era mais do que um caminho que os Estados Unidos abriam para
                        futuros planos, forçando desde então a lhes franquear a navegação dos nossos
                        rios, inclusive o Acre. Qualquer resistência por parte do Brasil ensejaria aos
                        poderosos Estados Unidos o emprego da força e a nossa desgraça em breve
                        estaria consumada. Guardei apressadamente a bússola de Casella, de que me
                        estava servindo, abandonei as balisas e demais utensílios e saí no mesmo dia (23
                        de junho de 1902) para as margens do Acre (SCHILLING, 2006).

      Sob a liderança de Plácido de Castro, os seringueiros brasileiros iniciam a nova
campanha de retomada do Acre ao atacar e tomar a vila de Xapuri, em 07 de agosto de
1902 (MACHADO, 1989, p. 429), para concluí-la em 24 de janeiro de 1903 com a
assinatura da carta de rendição da Bolívia após uma ofensiva no Porto do Acre. Três dias
depois, em 27 de janeiro de 1903, foi novamente proclamada a República do Acre
(SCHILLING, 2006).
      A relação entre Brasil, Bolívia e EUA se torna ainda mais complicada com a
expulsão das tropas bolivianas do Acre pelo levante de Plácido, pois os norte-americanos
têm grande interesse econômico na região, e a Bolívia teria de pagar indenização para a
companhia anglo-americana caso não cumprisse sua parte no acordo. Nesse contexto,
José Maria da Silva Paranhos, conhecido como Barão do Rio Branco, já havia assumido o
ministério das relações exteriores brasileiro, mudando a postura do Brasil frente à questão
acreana, que a partir de então passou a reivindicar o Acre para si. Rio Branco é motivado
a intervir no Acre devido à iminência de um conflito armado com a Bolívia, sendo esta
possivelmente auxiliada pelos EUA, e assume a atitude de reivindicá-lo devido à
consolidação dos seringueiros brasileiros na região a partir da proclamação da República
do Acre por Plácido.
     Nesse sentido, o novo ministro das relações exteriores assume o problema como
diplomata e político, e não simplesmente geográfico, como seus antecessores
(BANDEIRA, 2000, p. 08-09), e atua em duas frentes para resolver a questão
(SCHILLING, 2003). A primeira buscou um acordo com a Bolivian Syndicate. Nele o
governo brasileiro se comprometeu a pagar 110.000 libras esterlinas para a companhia
em troca da desistência da concessão, acordo este assinado em fevereiro de 1903. A
segunda foi mostrar à Bolívia que o Brasil estava disposto a enfrentar um conflito armado
pelo território acreano caso La Paz não aceitasse negociar e, para isso, mobilizou tropas
federais do Mato Grosso e do Amazonas para o Acre, baseado no termo do uti possidetis
solis, previsto no acordo de 1867 entre os dois países (SCHILLING, 2003). Com o seu

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principal aliado e sócio fora das negociações, La Paz não teve escolha senão aceitar as
reivindicações brasileiras.
     O território acreano foi formalmente anexado ao Brasil com a assinatura do Tratado
de Petrópolis em novembro de 1903, que estabeleceu que:


                        A Bolívia cederia não só a parte do território do Acre em disputa, como uma
                        porção da bacia do rio Acre localizada ao sul de 10º20’ e sobre o qual seu direito
                        era inquestionável. O Brasil, por outro lado, cedeu a Bolívia um pequeno triângulo
                        de terra, considerado valioso porque permitia o acesso ao rio Madeira. Como
                        também quatro trechos de terra na margem esquerda do rio Paraguai, totalizando
                        cerca de 3.164 Km². [...] Para compensar as desigualdades das concessões
                        territoriais - 189.000 Km² pela Bolívia e somente 3.164 Km² pelo Brasil - o último
                        concordou em pagar uma indenização de 2.000.000 de libras esterlinas para a
                        melhoria das comunicações entre os dois países. Também concordou em financiar
                        e construir no território brasileiro uma estrada de ferro para evitar as cataratas do
                        [rio] Madeira, o que permitiria aos bolivianos terem acesso ao baixo Madeira.
                        (MACHADO, 1989, p. 430-431).


     Porém, o Acre não passa a fazer parte da República do Brasil na forma de Estado,
como queriam os seringueiros e seringalistas acreanos, nem como parte do Estado do
Amazonas, mas sim como um Território Federal, o que Gonçalves (2008, p. 89) afirma ser
uma figura jurídica inventada, já que Territórios Federais não constavam na Legislação
Brasileira. O território acreano, agora sob tutela do governo federal, tem o dinheiro gerado
pela borracha transferido, via impostos exorbitantes, para a capital federal. Nesse
contexto, Francisco Pereira Passos, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, inicia o
processo de revitalização urbana da capital federal com o dinheiro da borracha acreana
(GONÇALVES, idem, p. 89). Bastos denota que esse contexto de permuta de poder na
verdade não contemplou o interesse dos sujeitos envolvidos na causa revolucionária.


                        Antes, era o fuzil boliviano, o chumbo da tributação boliviana, as ameaças
                        bolivianas, o “território das colônias”. Depois, o fuzil brasileiro, o chumbo da
                        tributação brasileira, as ameaças brasileiras e, sobre o revolucionário “estado
                        independente” com foro de república e pronunciamentos populares, o “‘Território
                        Federal do Acre” e a ocupação militar (1967, p. 14).


     A situação de insatisfação com a realidade acreana neste contexto pode ser
observada nas palavras de Plácido de Castro em carta enviada ao ministro da justiça e
negócios interiores Augusto Tavares Lyra:



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                        Convenha V. Ex. em que para ninguém é mais doloroso do que para nós vir dizer
                        que na qualidade de colonos do estrangeiro, cujo jugo sacudimos, tínhamos mais
                        direitos do que temos hoje na comunhão brasileira [...] antes [quando o acre era
                        boliviano] a nossa importação pagava apenas 15 por cento ad-valoren. Hoje sob
                        denominação da soberania brasileira não temos direitos de voto, nem tribunal,
                        nem habeas corpus e por conseguinte não temos existência política na comunhão
                        nacional; o nosso produto de exportação paga 23 por cento de imposto [...]. Os
                        acreanos [...] tem consciência de sua aflictiva situação e [...] o que se vê no Acre é
                        a exploração da terra e a espoliação do homem (LYRA apud BEZERRA, 2006, p.
                        75-76).


     De acordo com Bezerra (2006), o Território Federal do Acre foi divido em três
departamentos administrativos: o do Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá. Os departamentos
eram autônomos entre si, eram governados por prefeitos nomeados pelo presidente da
república e se reportavam diretamente a este ou ao ministro da justiça e negócios
interiores. Seu território configura-se a partir dos acordos firmados entre o Brasil, Bolívia e
Peru no século XIX e início do XX, considerando a região abaixo da linha oblíqua ao
paralelo de 10° S, que vai da confluência do rio Beni com o Madeira até a nascente do
               20’
rio Javarí, como terras pertencentes ao Brasil (Figura 02).




                         Figura 02: Mapa do Território Federal do Acre em 1904.
                                 Fonte: Atlas do Estado do Acre, 2008.


     Porém, no início do século XX, inicia a produção de látex no sudeste asiático, que
concorre com a produção amazônica, diminuindo de forma progressiva e intensa a
exportação do látex da região para os países produtores de borracha. A exportação

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gomífera asiática superou a amazônica devido ao fato de que “os países importadores de
borracha, no caso os países industrializados, mantinham à época uma relação de controle
colonial sobre os países asiáticos” e compravam o látex asiático por preços muito
menores que o do amazônico (GONÇALVES, ibidem, p. 91).
     Com a crise da exportação gomífera na Amazônia, o Acre passa a depender dos
recursos do governo federal, de sua produção gomífera em crise e da fraca produção
agrícola. Ou seja, os papéis se invertem, pois agora é a capital federal que sustenta o
território acreano. A sua estrutura socio-espacial também foi alterada, pois a crise fez ruir
o sistema de aviamento, fazendo com que muitos seringueiros passassem a exercer
outras atividades. Houve uma intensa emigração, principalmente entre 1920 e 1940,
causando um decréscimo populacional na região (GONÇALVES, ibidem, p. 90).
     A crise da produção gomífera se estende até a II Guerra Mundial (1939-1945),
quando o látex amazônico torna-se importante para os principais países consumidores
desta matéria-prima, uma vez que os japoneses, inimigos desses países, tomaram o
controle dos seringais do sudeste asiático. O governo federal brasileiro incentiva a
imigração para região amazônica para o trabalho nos seringais, dinamizando a economia
acreana com o aumento de suas exportações.



O ESTADO DO ACRE


     Com o fim da segunda guerra mundial, há uma queda abrupta na exportação do
látex da Amazônia, pois os EUA retomam o controle da produção asiática. Com isso, o
território acreano deixa de repassar para o governo federal as altas somas em dinheiro
geradas pelos impostos sobre a produção gomífera durante a segunda guerra. Dessa
forma, o Acre volta a depender do dinheiro do governo federal para sustentar-se, e a
disparidade entre o que este último arrecada e o que ele investe no território acreano
chega a Cr$ 300.000.000 por ano de saldo negativo (BEZERRA, 2006, p. 146). Esse
fator, somado à articulação de autoridades locais, representadas na figura do ex-
governador delegado e, nessa época, atual deputado federal do território do Acre
Guiomard dos Santos, com interesses político-eleitoreiros, o Acre foi elevado à categoria
de Estado em julho de 1962.


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     O projeto de transformação do Acre em Estado, proposto por Guiomard dos Santos,
teve como base um discurso pró-democrático e desenvolvimentista, que argumentava que
um sistema de governo de um território federal conduz a “fórmulas totalitárias, senão ao
conformismo ou aceitação de seus princípios” (Santos apud BEZERRA, 2006, p. 144).
Lembremos que estamos, nesse momento, no contexto da guerra fria, em que discursos
como estes eram muito pertinentes e perfeitos para respaldar as políticas de
desenvolvimento que o governo federal planejara para a Amazônia, consequentemente
para o Acre, criando um novo padrão de organização espacial (GONÇALVES, ibidem, p.
95) para a região.


ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS NO TERRITÓRIO DO ACRE: DA BORRACHA À
PECUÁRIA


     Como visto anteriormente, o Acre se consolidava como o maior produtor de látex do
país, que praticamente monopolizava toda a produção da borracha mundial, entre fins do
século XIX e começo do século XX.
     Nesse sentido, a produção da borracha no Acre representava uma importante
atividade econômica com implicações locais, nacionais e internacionais, envolvendo
desde o seringueiro até os diversos setores da indústria, especialmente o da indústria
automobilística.
     Contudo, historicamente, o sistema que pautou as relações de trabalho nos
seringais no Acre fundamentava-se na subordinação de seringueiros a patrões. Por este
sistema, os seringueiros eram obrigados a pagar uma taxa anual (renda) pelas estradas
de seringa que exploravam, além de entregar toda a sua produção de borracha nos
barracões, onde encontravam disponíveis para venda artigos de consumo doméstico (sal,
açúcar, querosene, munição etc.). A borracha operava como uma moeda para a aquisição
dessas mercadorias.
     Entretanto, devido ao preço extremamente elevado das mesmas, os seringueiros
terminavam por contrair uma dívida com o "barracão" que, mesmo comportando saldos
em seu favor, era renovada no início da safra anual de borracha, ocasião em que se
aviavam.


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     Embora o controle do processo de geração e apropriação do excedente fosse
monopolizado pelos agentes do grande capital internacional, a dinâmica das relações
internas permanecia regida por uma trama típica do capital mercantil - o de imobilizar a
força de trabalho e perpetuar sua utilização e exploração na atividade extrativa. Também
era proibido nas colocações dos seringueiros o cultivo de agricultura de subsistência, a
caça e a pesca.
     Verifica-se, a partir de tais afirmações, que o período histórico contextualizado no
Estado do Acre compreende o primeiro padrão de organização social do espaço
amazônico, rio-várzea-floresta, assinalado por Gonçalves, quando enfatiza que nesse
contexto:
                        [...] a Amazônia se organizava sob a hegemonia do capital comercial. Como é da
                        natureza do capital comercial, mais do que uma apropriação direta dos recursos
                        naturais, o que lhe é importante, é o controle das vias de acesso, das vias de
                        circulação. Aqui, sem dúvida alguma, a intensa e intricada rede hidrográfica da
                        região foi uma importante aliada do capital comercial permitindo que se lançasse
                        capilarmente pelos lugares mais recônditos da Amazônia (GONÇALVES, 2008,
                        p.114).


     Contudo, vale ressaltar que esse padrão passa por um processo de transformação,
e o ciclo da borracha, importante elemento econômico da estruturação de tal padrão,
entra em fase de declínio. Entre as causas de tal processo aparece a noção de que a
partir de 1915 entrou no mercado mundial a produção de borracha de cultivo oriunda dos
seringais asiáticos, o que, devido à impossibilidade de concorrência, fez declinar a
produção de borracha nativa da Amazônia, fator evidenciado também no Estado do Acre.
Esse fato trouxe como consequência um arrefecimento do controle do seringalista,
permitindo ao seringueiro fazer agricultura de subsistência, bem como explorar atividades
primárias comerciais, como castanha, madeira, entre outros. Assim, os seringueiros foram
ganhando autonomia no processo de produção através da posse da terra e do acesso
parcial a alguns meios de produção.
     Em contrapartida, durante a II Guerra Mundial, a economia extrativa da borracha no
Acre recebeu novo estímulo, inclusive contando com os “soldados da borracha”
(ALEGRETTI, 2002, p. 130-131), quando o sistema de controle da produção do
seringueiro obrigou-o a dedicar-se exclusivamente à extração do látex.
     No entanto, vale assinalar que em 1969-1970 uma boa parte dos seringais nativos
no Acre entrou novamente em estágio de desativação. Dessa vez, em consequência da

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nova direção que toma o investimento estatal, isto é, ao maciço incentivo que passou a
ser dado à implementação da atividade pecuarista neste Estado. Esse novo modelo
econômico, embutido, por sua vez, no processo de modernização pensado para a
Amazônia, trouxe profundas transformações na estrutura econômica de base extrativa.
Nesse sentido:
                        Deve-se salientar que a expansão extensiva do capitalismo para a Amazônia
                        desestruturou e modificou significativamente a relação típica do seringal, o
                        aviamento, fazendo surgir novas relações de produção, alterando o ser das
                        frações de classe e suas relações. O seringueiro tradicional transmuta-se em
                        seringueiro autônomo, posseiro, pequeno proprietário e trabalhador assalariado; o
                        seringalista mantêm-se nas regiões mais interiores ou transforma-se em
                        fazendeiro e comerciante urbano; aparecem o grande fazendeiro e o parceleiro do
                        INCRA; crescem a pequena burguesia do comércio, dos serviços e do Estado, e
                        operariado urbano, na esteira da urbanização precoce (RÊGO apud
                        CAVALCANTE, 1993, p. 10).


     Considera-se, portanto, que este novo modelo pauta-se em novas matrizes
ideológicas em relação ao papel da Amazônia face ao contexto nacional nesse período
histórico (1960-1970). Nesse sentido, como salienta Gonçalves (ibidem), o novo padrão
de organização do espaço amazônico ganha suporte, através do governo federal, nas
agências multilaterais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o BIRD
(Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento), para realizar obras de
infraestrutura, comunicação, transporte e energia necessárias às iniciativas do grande
capital.
     Em 1967, o governo decreta o fim da linha de crédito à borracha, o que resultou na
venda de grande parte dos seringais. Essas propriedades foram transformadas em
fazendas de gado, pois as linhas de créditos e incentivos fiscais partiam nessa direção
desde 1965, a agropecuária era o novo carro chefe para o desenvolvimento da região,
sucumbindo o extrativismo vegetal. A intenção era ocupar a região. Sendo assim, a
pecuária era o grande objetivo do I PND (Plano Nacional de Desenvolvimento). No Estado
do Acre, entre os anos de 1974 e 1978, a SUDAM aprovou a implantação de quatro
grandes projetos agropecuários no Estado em uma área que somadas totalizavam
159.111 ha.
     A primeira iniciativa para estes ex-seringueiros se adaptarem à nova situação foi a
mudança para a beira dos rios, local de melhor acesso. Em seguida, se empenharam na
agricultura, caça, pesca e produção de madeira serrada, gerando uma pressão sobre os
três últimos recursos e dando início aos primeiros conflitos de ocupação de território.
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Menos de uma década após essa mudança administrativa, econômica e espacial, grande
parte da produção agrícola é comercializada nos centros urbanos mais próximos.
      Nesse contexto, a luta contra o desmatamento provocado pelo fazendeiro e a
consequente expulsão dos seringalistas de suas terras em função deste novo modelo
econômico criam um ambiente fértil para o surgimento de grupos de resistência ao
desmatamento e em defesa da terra que aos poucos imprimirão significativas mudanças
no território acreano no que diz respeito à forma de organização fundiária.


LUTA  PELA   POSSE   DA   TERRA,                            RESERVAS            EXTRATIVISTAS            E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


     Os conflitos ocorridos no Acre a partir, principalmente, da década de 1970
decorreram de vários fatores, entretanto é importante salientar pelo menos dois que
contribuíram significativamente para este cenário. O primeiro deles diz respeito à política
instaurada pelo governo federal de suspensão dos subsídios à produção de borracha e
direcionamento de incentivos fiscais a atividades agropecuárias. E, de outro lado, tem-se
por parte do governo estadual o desenvolvimento de políticas de atração de empresas do
sul do país para adquirirem terras no Estado do Acre e, consequentemente, implantarem
projetos agropecuários (ALEGRETTI, 2002, p. 191).
     Apesar da redução de subsídios à atividade gomífera, por parte do governo federal,
é importante destacar que a mesma não deixou de existir, mesmo com a chegada da
atividade agropecuária. É a partir, portanto, da coexistência entre essas duas atividades
que derivam os confrontos entre ambas. De um lado tem-se a extração do látex, atividade
que já existia previamente e que dependia dos recursos naturais para sua reprodução, e,
de outro, tem-se a agropecuária, que vai completamente de encontro à manutenção dos
recursos da floresta. Nesse sentido, expõe Alegretti

                        Os processos sociais que emergiram durante este período estão relacionados,
                        simultaneamente, à resistência à destruição do modelo anterior, à contestação do
                        novo, e à busca de soluções que contemplassem as especificidades do modo de
                        vida dos protagonistas principais, os seringueiros (2002, p. 191).


     Outra questão importante decorrente do surgimento da pecuária como atividade
econômica foi a formação de mão de obra livre, como posseiros, seringueiros e
arrendatários, como enfatiza Cavalcante:
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                         A desativação dos seringais e a implantação da pecuária extensiva de corte veio
                         propiciar a formação de contingentes livres de posseiros, seringueiros,
                         arrendatários, que, ao não mais permanecerem ligados ao trabalho rural, migram
                         para as periferias das cidades, onde passam a viver em condições precárias
                         (1993, p.10).


     Devido à formação dos contingentes de mão de obra livre, muitos desses
trabalhadores rurais tornaram-se seringueiros autônomos em relação aos seringalistas e
arrendatários e, posteriormente, deram origem a um movimento contra a pecuária como
atividade predatória. É válido ressaltar que antes da implementação da nova atividade
econômica a luta no território acreano se dava pela liberdade nas relações semi-
escravistas e, posteriormente, essa luta passa a ser a favor pela posse da terra, pela
manutenção da floresta ameaçada, pelas imensas pastagens, e na resistência a se
tornarem favelados nas periferias urbanas (CAVALCANTE,1993, p. 10).
      Foi exatamente nessa luta contra os fazendeiros que se destacaram nomes
importantes como os dos líderes sindicais Wilson Pinheiro e Chico Mendes, que viriam a
ser assassinados nos anos de 1980 e 1988, respectivamente. A luta dos seringueiros
contou, ainda, com o apoio de importantes instituições como a Igreja Católica e a
CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Esta última, além
de esclarecer sobre os direitos do trabalhador rural e dar assistência jurídica aos
injustiçados, também objetivou organizar os sindicatos. Nesse sentido, uma das principais
formas de luta foi o chamado "empate", que “são formas de resistência mais organizadas
que visam impedir o desmatamento e a implantação das fazendas, assegurando a
subsistência através da defesa da seringueira e da castanheira” (Jornal “O Varadouro”
apud GONÇALVES, ibidem, p. 454).
     É importante destacar que:


                        [...] a luta dos seringueiros pela defesa da terra não se deu com o intuito de
                        defender a propriedade privada, e sim de defender a preservação da floresta e o
                        direito de usufruto dela, ou melhor, lutar pela manutenção dos seringais, para os
                        seringueiros, era lutar pela própria vida (DUARTE apud CAVALCANTE, 1993,
                        p.12).


     Dessa forma, fica evidente que a principal preocupação estava na manutenção dos
interesses socio-econômicos desses sujeitos, sendo, portanto, a preservação da floresta
uma consequência de tais interesses.

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     Entretanto, não bastava a simples resistência dos seringueiros ao novo modelo
econômico que estava se instaurando na Amazônia, no caso a pecuária, era necessária a
proposição de uma nova alternativa. É nesse contexto que surge a concepção de reserva
extrativista, ou seja, esta seria uma alternativa econômica e ecológica para justificar a luta
contra o desmatamento na Amazônia.
     A partir de 1985, após o I Encontro Nacional dos Seringueiros, as pressões de
movimentos sociais e ambientalistas foram intensificadas a favor da criação das Reservas
Extrativistas. Essa pressão intensificou-se ainda mais após o assassinato de Chico
Mendes, visto que, ainda em vida, foi responsável pela repercussão internacional das
políticas ditas de desenvolvimento para a região amazônica. Dessa maneira, em 1990, foi
criada a primeira reserva extrativista no Estado do Acre, a reserva Alto Juruá, com
506.186 ha., e, ainda neste ano, a reserva Chico Mendes, com 970.570 ha (Figura 03).




         Figura 03. Mapa das Reservas Extrativistas Alto Juruá e Chico Mendes (em amarelo).
                                        Fonte: IBAMA sd.


     A definição de Reservas Extrativistas pressupõe que os grupos sociais que
dependem dos recursos da floresta para sua sobrevivência devem se utilizar dos mesmos
de forma sustentável, ou seja, considerando um modelo de desenvolvimento que leve em
conta a associação de, pelo menos, três fatores: o social, o econômico e o ecológico.
Nesse sentido, de acordo com o CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros), a Reserva
Extrativista deve ser entendida como:


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                        [...] parte da luta pela reforma agrária no Brasil, [...] questiona o modelo tradicional
                        de assentamento em lotes agrícolas padronizados, propondo a utilização coletiva
                        da terra. Junta a questão fundiária com a agroecológica propondo novos critérios
                        no apossamento da terra, centrado no uso sustentável dos recursos naturais. A
                        principal característica da reserva extrativista é o resgate da importância do
                        homem numa nova perspectiva de ocupação do espaço amazônico associada à
                        conservação do meio ambiente, onde são levados em consideração os aspectos
                        sociais, culturais e econômicos das populações locais (CNS apud CAVALCANTE,
                        1993, p. 20).


     Dessa maneira, percebe-se uma inter-relação entre os conceitos de Reservas
Extrativistas e de desenvolvimento sustentável, sendo este último possuidor de diversos
significados. Para Becker (1993), por exemplo:


                        O conceito de desenvolvimento sustentável não é claro; envolvendo múltiplas e
                        diversas interpretações constitui uma ‘caixa preta’. Só pode, pois, ser
                        compreendido no contexto histórico da nova ordem em construção sobre a
                        desordem global e do desafio que representa para o Brasil e para a Amazônia
                        (BECKER apud CAVALCANTE, 1993, p. 38).


     Considerando, por outro lado, o que diz o Relatório Brundtland a respeito de
desenvolvimento sustentável, este “é aquele que satisfaz as necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas”, observa-se
que este é um conceito já ultrapassado, pois não questiona o modelo econômico vigente:


                        O debate entre desenvolvimento e o meio ambiente não pode ficar restrito à
                        propostas de desenvolvimento sustentável, que não questiona os pressupostos
                        econômicos do sistema que provoca a miséria. Ou então, pode-se direcionar a um
                        profundo questionamento das relações de dominação existentes na sociedade e
                        entre os países, pois a sustentabilidade do planeta não se encontra apenas na
                        defesa da natureza, mas também na mudança das relações de dominação entre
                        os homens (CEDI/CRAB apud CAVALCANTE, 1993, p. 19).


     É válido ressaltar que o debate sobre a sustentabilidade nas Reservas Extrativistas
deve abordar o papel do Estado, que abrange medidas relativas à criação de
infraestrutura, programas de saúde e educação, apoio à comercialização de produtos
agroextrativistas, exigindo a atuação dos diversos níveis do governo em seu
financiamento e sua implementação, o federal, estadual e municipal.
     Contudo, dados do CNPT (Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das
Populações Tradicionais) revelam que, de forma geral, no Acre, as reservas foram apenas
criadas, isto é, o governo não procedeu da forma prevista, dando as mínimas condições

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de sobrevivência à população local. Esse fato contribuiu para o êxodo rural de uma
parcela considerável da população das Reservas Extrativistas, “na RESEX Chico Mendes,
por exemplo, a população residente, reduziu-se mais de 33% em 4 anos caindo de 9 mil
para cerca de 6 mil habitantes” (ZEE apud SEVÁ, 2002, p. 64).
     A luta dos seringueiros intensificou-se ainda mais, pois na década de 1990,
principalmente, o setor extrativista entrou em decadência. Dessa forma, os seringueiros
perceberam que apenas o extrativismo não era suficiente para que a reserva se tornasse
sustentável, eram necessários incentivos também à diversificação da produção dentro da
reserva. Com a incorporação, portando, de outras atividades econômicas como a
pecuária, por exemplo, o nível de desmatamento dentro das reservas aumentou
consideravelmente.
     Diante desses fatos, compreende-se que a realidade das reservas, assim como o
extrativismo, contrasta com a perspectiva que os mesmos oferecem como alternativas de
sustentabilidade para os povos que vivem na floresta. Entretanto, apesar das críticas
contrárias a esse modelo, é importante que se reconheça que a proposta de criação das
Reservas Extrativistas constitui-se num importante avanço para o tratamento dos
problemas ambientais amazônicos, a partir do momento em que esses problemas são
focados diante da visão e dos interesses das comunidades locais. Sendo assim, as
deficiências decorrentes desde sua criação dizem respeito mais à questão de tratamento
inadequado por parte dos órgãos competentes do que por constituírem-se como
inviabilidade econômica.


CONCLUSÃO


      A história do estado do Acre é marcada pelo confronto armado, causado pelo
conflito de interesses dos diversos agentes que buscaram o controle deste território, com
o objetivo de explorá-lo economicamente, seja a nível local, nacional ou internacional. A
produção gomífera foi o elemento sine qua non para sua formação territorial, visto que a
ocupação da região onde se localiza, se deu em função desta atividade, além de ter sido
essencial para a sua formação social, econômica e cultural.
      Este Estado foi protagonista de um singular episódio de articulação geopolítica que
objetivou impedir um confronto direto com a Bolívia, e indireto com os Estados Unidos, e

     Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010.
                                     www.geograficas.cfh.ufsc.br
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anexar um território rico numa das principais commodities da época: o látex. Porém, a
riqueza gerada por essa matéria-prima, de maneira geral, não foi aplicada no
desenvolvimento do próprio território.
      A partir da década de 1970, a “imposição” de um modelo de desenvolvimento, que
não levava em consideração as peculiaridades do território acreano, implementando a
lógica da circulação rodoviária e da atividade agropecuária, torna-se o estopim para a
criação de um movimento de resistência ao poder hegemônico, visto que o modo de vida
da população local estava ameaçado diante dessa nova lógica. Nesse sentido, surge a
proposta de criação das Reservas Extrativistas, que levava em consideração a tríade:
sociedade, economia e ambiente, pautada num modelo de desenvolvimento sustentável.
      Entretanto, é importante avaliar se após a criação das reservas extrativistas,
criadas há aproximadamente duas décadas, tais propostas foram realmente postas em
prática, se as RESEX’s, de fato, resolveram as questões as quais se propuseram e,
principalmente, se os órgãos competentes atuaram no sentido de promover melhores
condições de vida da população extrativista acreana.


REFERÊNCIAS

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do Acre/Governo do Estado do Acre. Fundação de Tecnologia do Estado do Acre – Rio
Branco: FUNTAC, 2008. Disponível em:
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     Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010.
                                     www.geograficas.cfh.ufsc.br
39



(Graduação) Graduação em Economia, Departamento de Economia, Universidade
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    Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010.
                                    www.geograficas.cfh.ufsc.br

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Acre entre o fuzil e a borracha

  • 1. 19 ACRE: ENTRE O FUZIL E A BORRACHA Ana Karolina Ferreira Corrêa Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) anageo.correa@gmail.com Denison da Silva Ferreira Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) denisonferreira2008@hotmail.com Edson Maués Corrêa Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) edsonmcorrea@gmail.com Fernando Alves de Araújo Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) mcsfernando@gmail.com Larissa Paola Damasceno Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) llpld86@hotmail.com RESUMO O processo de formação territorial do Estado do Acre é resultado de uma série de acordos e conflitos internacionais envolvendo países da América do Sul e os interesses imperialistas das grandes potências econômicas do final do século XIX e início do século XX, que viram na extração gomífera uma rentável atividade no mercado internacional. Nesse sentido, este artigo busca fazer uma breve análise sobre tal processo, considerando os agentes envolvidos, bem como as atividades econômicas praticadas no território mostrando de que forma estas afetaram sua configuração socioespacial, e evidencia, num contexto atual, o papel dos movimentos de resistência local às políticas adotadas pelo governo federal para o Estado acreano, dando origem às chamadas reservas extrativistas. Palavras – chave: Acre; Extração Gomífera; Formação Territorial; Reservas Extrativistas. RÉSUMÉ Le processus de formation du territoire d’État du Acre est résultat d’une série d’accords et conflits internationales entre pays de l’Amérique du Sud e les intérêts des grandes puissances de la fin du XIXº siècle et début du XXº, qu’on a vu l’extraction de la gomme comme une riche activité dans le marché international. Notre travail veut faire une petite analyse sur ce processus, en considérant ses eléments et encore les activités économiques pratiqués dans le territoire, en montrant la forme comme ses eléments et activités ont affecté sa configuration sociale et spatiale. On souligne aussi, dans l’actualité, la fonction des mouvements sociaux à propos des actions du gouvernement fédéral, avec, par exemple, la formation des réserves extractivistes. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 2. 20 Mots-clés: Acre; Extraction de la Gomme; Formation Territoriale; Réserves Extractivistes. INTRODUÇÃO Este artigo analisa, de forma breve, o processo de formação territorial do estado do Acre (Figura 01), expondo como e por quais motivos este ocorre, levando em consideração os interesses internacionais, nacionais e locais envolvidos e tendo como marco as diversas figuras político-territoriais assumidas por este Estado ao longo de sua história (parte do território boliviano, território federal e unidade da federação brasileira). É justamente a partir da constituição do Acre enquanto Estado brasileiro que emerge a problemática socioambiental decorrente de um novo modelo econômico pensado para a região, que impõe a pecuária como principal alternativa para o desenvolvimento do território acreano. Nesse sentido, o trabalho abordará os conflitos gerados pela introdução dessa nova atividade e como a mesma influenciou na geração de uma nova configuração territorial, a partir da implantação das reservas extrativistas no Estado. Portanto, inicialmente, será abordada a formação territorial do Acre, a partir de sua conquista pelos brasileiros até sua elevação à categoria de Estado. Posteriormente, serão enfatizados, dentro de um contexto atual, os conflitos que deram origem a uma nova abordagem dos aspectos sociais, econômicos e ecológicos, que foi a criação das reservas extrativistas, pautadas na concepção do chamado desenvolvimento sustentável. Figura 01: Mapa de localização do Estado do Acre. Fonte: Elaboração dos autores, 2010. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 3. 21 ACRE: BOLIVIANO OU BRASILEIRO? O processo de conquista do Acre é de fundamental importância para compreendermos os motivos do país possuir os atuais limites, sendo este processo resultante de uma série de interesses, seja nacional ou não, que acabaram levando a alguns acordos internacionais. Na época da colônia, estes acordos eram realizados com base nos interesses das metrópoles européias. É o que ocorreu com o Tratado de Madri, em 1750, em que a Espanha reconhecia o direito à posse dos portugueses sobre o território do Brasil, baseada no uti possidetis, ou seja, nas terras em que houvesse ocupação portuguesa, Portugal teria direito. O Tratado de Santo Ildefonso (1777), é basicamente o mesmo de 1750, com exceção dos limites territoriais dos estados sulinos. No entanto, é necessário destacar que “a fronteira norte conservou, assim, as características do Tratado de Madri”, pois espanhóis e portugueses não chegaram a um consenso a respeito desta, uma vez que os únicos cursos d’água conhecidos da fronteira da região eram o rio Madeira e o Javari, que acabaram servindo como pontos de referência para a fronteira sul da Amazônia, conforme destacado por Leandro Tocantins (2001, p. 96). No século XIX, em decorrência do processo de independência dos países da América, estes acordos passaram a ser realizados diretamente entre as novas nações; é o caso do Acre, entre Brasil e Bolívia. Os dois países assinaram, em 1867, na tentativa de demarcar a fronteira, o Tratado de Ayacucho, em que o Brasil reconhecia o direito boliviano sobre o território do Acre, porém a diplomacia brasileira conseguiu obter o “reconhecimento do uti possidetis post facto, como critério de fixação de limites, sob o disfarce de um instrumento a título de regular o comércio de fronteira e a navegação dos rios” (TOCANTINS, idem, p. 151). O consentimento do uti possidetis estabelecia que a fronteira partiria da confluência dos rios Beni e Madeira “por uma paralela tirada da sua margem esquerda, na latitude 10° S, até encontrar as nascentes do Javari” (TOCANTINS, ibiden, p. 153). Entretanto, 20’ as nascentes do rio Javari eram desconhecidas. Machado (1989, p. 423) destaca que os bolivianos conseguiram inserir no tratado que, caso a nascente do Javari estivesse ao norte, a fronteira partiria em linha reta (leste-oeste) até as nascentes. Desta forma, se a fronteira estivesse ao sul, o território pertenceria ao Brasil, porém se estivesse ao norte Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 4. 22 caberia à Bolívia. Entretanto, o Tratado de Ayacucho foi uma iniciativa dos bolivianos, preocupados em demarcar os limites fronteiriços, mas o governo imperial compreende a necessidade de conseguir a neutralidade boliviana na guerra contra a República do Paraguai, pois as autoridades nacionais temiam que Solano Lopes conseguisse agregar as tropas bolivianas contra o Brasil (LIMA, 1998, p. 37). As terras do Acre estavam assinaladas como “tierras no descubiertas” nos mapas bolivianos, pois “era um triângulo de moléstias tropicais e, rios tortuosos encravados entre a Bolívia, Peru e o Brasil. Enfim, um lugar que nenhum cristão procuraria para juntar seus trapos” (SOUZA, 1995, p. 15). Em grande parte, estes cristãos que se aventuraram por essas “tierras no descubiertas” eram destemidos plantadores - remanescentes da economia agrícola da cana-de-açúcar, vaqueiros e boiadeiros. “E foi desta subcamada infeliz que saíram os povoadores do Acre” (BASTOS, 1960, p. 23). A dificuldade encontrada pelos nordestinos, em decorrência da grande seca da década de 1870, levou a um aumento significativo destes, principalmente cearenses, para a região amazônica, cuja grande procura pelo látex foi decorrente do “desenvolvimento da indústria de pneumáticos, que possibilitou uma crescente demanda pelo consumo da borracha nos países industrializados da Europa e Estados Unidos da América” (MAIA NETO, 2000, p .27). Isso, consequentemente, provocou o aumento da área de produção, que se foi deslocando para a Amazônia Ocidental, chegando aos altos cursos dos rios Juruá e Purus. “Os cearenses não tiveram medo da febre e entraram na região. Empurraram a fronteira com a própria miséria [...]” (SOUZA, 1995, p. 44). Os cearenses encontraram uma região rica em belas espécies de Hevea Brasiliensis, que satisfazia a demanda internacional transformando o Acre no maior produtor de látex da região, proporcionando “o povoamento da margem direita do rio Amazonas, principalmente nos vales dos Purus, Juruá e Madeira” (MACHADO, idem, p. 420). Dessa forma, mesmo com novos habitantes, permanecia o espaço sendo organizado, no que Gonçalves (2008) denomina como o padrão de organização rio- várzea-floresta, pois, apesar da existência de barracões com produtos para o consumo, a relação de dependência dos produtos da floresta permanecia. O desenvolvimento proporcionado pelo látex, retirado do Acre, beneficiou, principalmente, as casas aviadoras instaladas em Belém e Manaus, pois através da Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 5. 23 política do aviamento financiavam a extração e a comercialização do produto, levando a uma maior dependência dos seringueiros em relação ao seringalista (MAIA NETO, 2000, p. 27). Entretanto, este crescimento produtivo passou a atrair cada vez mais interesses da Bolívia pelas “tierras no descubiertas”, em virtude da grande riqueza que a região estava proporcionando ao Brasil. A Bolívia passa a reivindicar o território do Acre como porção de seu domínio territorial embasado no Tratado de Ayacucho, direito este reconhecido pelo governo brasileiro. Uma das primeiras atitudes tomadas pelo governo boliviano, na tentativa de garantir a posse do território, foi a implantação de uma aduaneira em Porto Alonso, pelo Ministro José Pavancine, onde este determina que seja cobrado 15% sobre as importações em geral e 30 a 40% sobre os gêneros indispensáveis à vida dos acreanos (LIMA, 1998, p. 42). Esta atitude tomada pelo governo boliviano causou sérios prejuízos à economia do Amazonas, uma vez que “a supressão de vultosas rendas provenientes dos impostos sobre a borracha, bem como dos polpudos impostos que derivam do movimento da praça de Manaus” provocará a redução das divisas do Estado (LIMA, 1998, p. 42). A política boliviana provoca sérios protestos dos brasileiros do Acre, principalmente por parte de Joaquim Vítor, o mais prestigiado produtor da região. Este organiza a rebelião chefiada pelo advogado José Carvalho, em fins de abril de 1899, com aproximadamente 15.000 homens dispostos a lutar. A luta armada leva à deposição do cônsul Dom Moisés Santinez por parte de José Carvalho: “Venho em nome do povo deste rio e em nome do povo brasileiro, intimar V. Excia. a abandonar este lugar, porque não toleramos mais o governo que V. Excia. representa” (LIMA, 1998, p. 43). Entretanto, a postura do governo federal era de reconhecer vigente o Tratado de Ayacucho e garantir o direito boliviano à criação da aduaneira, porém a posição do governo do Amazonas é de apoiar os compatriotas. Em 30 de maio de1899, a canhoteira norte-americana Wilmington, sob o comando do Champam Todd, partiu rumo às cidades de Tabatinga e Iquito, secretamente, levando o cônsul dos Estados Unidos. Esta atitude não é vista com bons olhos pelas autoridades brasileiras, principalmente do Amazonas e do Pará, pois consideravam um desrespeito à soberania nacional, pediram explicações às autoridades americanas, e estas informaram que o comandante Todd não tinha ordem para agir desta forma. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 6. 24 As explicações americanas colocariam fim à questão se o jornalista Luiz Galvez Rodrigues Aires não tivesse denunciado, na edição de 3 de junho de 1889 de A Província do Pará, que a verdadeira missão da canhoteira Wilmington era transportar as base do acordo com a Bolívia para o presidente americano K. K. Kennedy. Em 4 de junho de 1899, são publicadas “as bases de um grave acontecimento de ordem comercial e política para as relações internacionais” (LIMA, 1998, p. 47): Os Estados Unidos auxiliariam a Bolívia a defender seus direitos sobre o território do Acre, Purus e Iaco, por via diplomática ou, no caso de guerra com o Brasil, fornecendo armas e financiamento e recebendo em hipoteca as rendas das alfândegas bolivianas. Também exigiriam que o Brasil nomeasse uma comissão, para demarcar, juntamente com a Bolívia, as fronteiras definitivas entre o Purus e o Javari, e concedesse livre trânsito pelas alfândegas de Belém e Manaus as mercadorias bolivianas. A Bolívia, por sua vez, concederia abatimento de 50% sobre a borracha destinada aos portos dos E.U.A, pelo prazo de 10 anos. Caso tivesse que apelar para a guerra com o Brasil, a Bolívia denunciaria o tratado de 1867 e a linha de fronteira passaria a correr pela boca do Acre, ficando com os E.U.A, em livre posse, o território restante (BANDEIRA, 2000, p. 03). Após a deposição da delegação boliviana, é formada uma junta Revolucionária, cuja presidência ficou a cargo de Joaquim Domingos Carneiro. Entretanto, Galvez, que havia chegado ao Acre, a serviço do Governo do Estado do Amazonas, diante de problemas, como o direito boliviano reconhecido pelo governo federal em detrimento dos interesses dos brasileiros do Acre e as insistentes expedições frustradas que o governo de La Paz despachou na tentativa de recuperar o território, resolve proclamar o Estado Independente do Acre. Com o processo de independência, Galvez baixou decretos importantes e, “em menos de 24 horas de poder, já mandou despachos para todos os países da Europa, designando representantes diplomáticos do novo Estado que acaba de tirar do nada” (LIMA, 1998, p. 51). Entretanto, Galvez foi destituído por uma operação conjunta das forças armadas de Brasil e Bolívia, em 08 de dezembro de 1899, sendo deportado para a Espanha. O TERRITÓRIO FEDERAL DO ACRE Após a queda da “República do Galvez”, chamada assim pelos “pariodistas brasileiros” (MACHADO, ibidem, p. 426), o governo amazonense apoia uma expedição Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 7. 25 criada para a retomada do território acreano, formada por engenheiros, repórteres e escritores. A expedição Floriano Peixoto, apelidada de Expedição dos Poetas e liderada por Orlando Corrêa Lopes, fracassou logo no primeiro confronto com os bolivianos devido à inexperiência militar de seus integrantes. Contudo, a Bolívia estava inclinada a livrar-se do problema acreano, pois a administração desse território se tornara deveras dificultosa, principalmente após sucessivas investidas dos levantes de seringueiros brasileiros que buscavam expulsar os bolivianos daquelas terras. Para isso, assinou, em 1901, um acordo de arrendamento do Acre para a companhia anglo-americana Bolivian Syndicate, que passaria a ter, durante 30 anos, direitos soberanos sobre aquele território, podendo inclusive “manter polícia e equipar uma força armada ou barcos de guerra, para a defesa dos rios ou conservação da ordem interna” (BANDEIRA, 2000, p. 06). Entretanto, constantes conflitos entre os soldados bolivianos e os seringueiros brasileiros impediam a Bolívia de ter o controle efetivo do território e assim cumprir a sua parte no acordo, o de conceder o território à companhia. Dessa forma, o governo boliviano pede ajuda aos EUA, sinalizando que “não tinha força para sustentar o contrato” (BANDEIRA, 2000, p .07), e estes se mostram dispostos a ajudar a Bolívia, instruindo que o governo brasileiro defendesse os ‘interesses de inocentes americanos’ e justificou sua atitude [...], argumentando que os americanos entraram no acordo ‘perfeitamente inocentes’ e contavam com o cumprimento do acordo por parte da Bolívia, mas o Brasil, por meio de sérias ameaças, tentava impedi-lo, o que agradável não era para os EUA (BANDEIRA, 2000, p. 07). O governo norte-americano se refere, além dos confrontos armados, ao embargo brasileiro à navegação boliviana no rio Amazonas e seus afluentes, que foi motivado pela emergência do acordo anglo-americano com La Paz, quando cita que o Brasil “ameaça” o acordo da Bolivian Syndicate. A questão acreana se encaminha para um momento decisivo quando Plácido de Castro, um ex-militar gaúcho que foi trabalhar na região como agrimensor, foi convidado a assumir o comando do movimento de resistência à ocupação boliviana no Acre. Ele aceitou o cargo ao tomar ciência sobre o acordo da Bolívia com a companhia anglo- americana Bolivian Syndicate, pois considerava tal fato um perigo à soberania nacional. Plácido denota isso quando escreve em seu diário: Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 8. 26 Veio-me à mente a ideia de que a pátria brasileira se ia desmembrar, pois a meu ver, aquilo não era mais do que um caminho que os Estados Unidos abriam para futuros planos, forçando desde então a lhes franquear a navegação dos nossos rios, inclusive o Acre. Qualquer resistência por parte do Brasil ensejaria aos poderosos Estados Unidos o emprego da força e a nossa desgraça em breve estaria consumada. Guardei apressadamente a bússola de Casella, de que me estava servindo, abandonei as balisas e demais utensílios e saí no mesmo dia (23 de junho de 1902) para as margens do Acre (SCHILLING, 2006). Sob a liderança de Plácido de Castro, os seringueiros brasileiros iniciam a nova campanha de retomada do Acre ao atacar e tomar a vila de Xapuri, em 07 de agosto de 1902 (MACHADO, 1989, p. 429), para concluí-la em 24 de janeiro de 1903 com a assinatura da carta de rendição da Bolívia após uma ofensiva no Porto do Acre. Três dias depois, em 27 de janeiro de 1903, foi novamente proclamada a República do Acre (SCHILLING, 2006). A relação entre Brasil, Bolívia e EUA se torna ainda mais complicada com a expulsão das tropas bolivianas do Acre pelo levante de Plácido, pois os norte-americanos têm grande interesse econômico na região, e a Bolívia teria de pagar indenização para a companhia anglo-americana caso não cumprisse sua parte no acordo. Nesse contexto, José Maria da Silva Paranhos, conhecido como Barão do Rio Branco, já havia assumido o ministério das relações exteriores brasileiro, mudando a postura do Brasil frente à questão acreana, que a partir de então passou a reivindicar o Acre para si. Rio Branco é motivado a intervir no Acre devido à iminência de um conflito armado com a Bolívia, sendo esta possivelmente auxiliada pelos EUA, e assume a atitude de reivindicá-lo devido à consolidação dos seringueiros brasileiros na região a partir da proclamação da República do Acre por Plácido. Nesse sentido, o novo ministro das relações exteriores assume o problema como diplomata e político, e não simplesmente geográfico, como seus antecessores (BANDEIRA, 2000, p. 08-09), e atua em duas frentes para resolver a questão (SCHILLING, 2003). A primeira buscou um acordo com a Bolivian Syndicate. Nele o governo brasileiro se comprometeu a pagar 110.000 libras esterlinas para a companhia em troca da desistência da concessão, acordo este assinado em fevereiro de 1903. A segunda foi mostrar à Bolívia que o Brasil estava disposto a enfrentar um conflito armado pelo território acreano caso La Paz não aceitasse negociar e, para isso, mobilizou tropas federais do Mato Grosso e do Amazonas para o Acre, baseado no termo do uti possidetis solis, previsto no acordo de 1867 entre os dois países (SCHILLING, 2003). Com o seu Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 9. 27 principal aliado e sócio fora das negociações, La Paz não teve escolha senão aceitar as reivindicações brasileiras. O território acreano foi formalmente anexado ao Brasil com a assinatura do Tratado de Petrópolis em novembro de 1903, que estabeleceu que: A Bolívia cederia não só a parte do território do Acre em disputa, como uma porção da bacia do rio Acre localizada ao sul de 10º20’ e sobre o qual seu direito era inquestionável. O Brasil, por outro lado, cedeu a Bolívia um pequeno triângulo de terra, considerado valioso porque permitia o acesso ao rio Madeira. Como também quatro trechos de terra na margem esquerda do rio Paraguai, totalizando cerca de 3.164 Km². [...] Para compensar as desigualdades das concessões territoriais - 189.000 Km² pela Bolívia e somente 3.164 Km² pelo Brasil - o último concordou em pagar uma indenização de 2.000.000 de libras esterlinas para a melhoria das comunicações entre os dois países. Também concordou em financiar e construir no território brasileiro uma estrada de ferro para evitar as cataratas do [rio] Madeira, o que permitiria aos bolivianos terem acesso ao baixo Madeira. (MACHADO, 1989, p. 430-431). Porém, o Acre não passa a fazer parte da República do Brasil na forma de Estado, como queriam os seringueiros e seringalistas acreanos, nem como parte do Estado do Amazonas, mas sim como um Território Federal, o que Gonçalves (2008, p. 89) afirma ser uma figura jurídica inventada, já que Territórios Federais não constavam na Legislação Brasileira. O território acreano, agora sob tutela do governo federal, tem o dinheiro gerado pela borracha transferido, via impostos exorbitantes, para a capital federal. Nesse contexto, Francisco Pereira Passos, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, inicia o processo de revitalização urbana da capital federal com o dinheiro da borracha acreana (GONÇALVES, idem, p. 89). Bastos denota que esse contexto de permuta de poder na verdade não contemplou o interesse dos sujeitos envolvidos na causa revolucionária. Antes, era o fuzil boliviano, o chumbo da tributação boliviana, as ameaças bolivianas, o “território das colônias”. Depois, o fuzil brasileiro, o chumbo da tributação brasileira, as ameaças brasileiras e, sobre o revolucionário “estado independente” com foro de república e pronunciamentos populares, o “‘Território Federal do Acre” e a ocupação militar (1967, p. 14). A situação de insatisfação com a realidade acreana neste contexto pode ser observada nas palavras de Plácido de Castro em carta enviada ao ministro da justiça e negócios interiores Augusto Tavares Lyra: Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 10. 28 Convenha V. Ex. em que para ninguém é mais doloroso do que para nós vir dizer que na qualidade de colonos do estrangeiro, cujo jugo sacudimos, tínhamos mais direitos do que temos hoje na comunhão brasileira [...] antes [quando o acre era boliviano] a nossa importação pagava apenas 15 por cento ad-valoren. Hoje sob denominação da soberania brasileira não temos direitos de voto, nem tribunal, nem habeas corpus e por conseguinte não temos existência política na comunhão nacional; o nosso produto de exportação paga 23 por cento de imposto [...]. Os acreanos [...] tem consciência de sua aflictiva situação e [...] o que se vê no Acre é a exploração da terra e a espoliação do homem (LYRA apud BEZERRA, 2006, p. 75-76). De acordo com Bezerra (2006), o Território Federal do Acre foi divido em três departamentos administrativos: o do Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá. Os departamentos eram autônomos entre si, eram governados por prefeitos nomeados pelo presidente da república e se reportavam diretamente a este ou ao ministro da justiça e negócios interiores. Seu território configura-se a partir dos acordos firmados entre o Brasil, Bolívia e Peru no século XIX e início do XX, considerando a região abaixo da linha oblíqua ao paralelo de 10° S, que vai da confluência do rio Beni com o Madeira até a nascente do 20’ rio Javarí, como terras pertencentes ao Brasil (Figura 02). Figura 02: Mapa do Território Federal do Acre em 1904. Fonte: Atlas do Estado do Acre, 2008. Porém, no início do século XX, inicia a produção de látex no sudeste asiático, que concorre com a produção amazônica, diminuindo de forma progressiva e intensa a exportação do látex da região para os países produtores de borracha. A exportação Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 11. 29 gomífera asiática superou a amazônica devido ao fato de que “os países importadores de borracha, no caso os países industrializados, mantinham à época uma relação de controle colonial sobre os países asiáticos” e compravam o látex asiático por preços muito menores que o do amazônico (GONÇALVES, ibidem, p. 91). Com a crise da exportação gomífera na Amazônia, o Acre passa a depender dos recursos do governo federal, de sua produção gomífera em crise e da fraca produção agrícola. Ou seja, os papéis se invertem, pois agora é a capital federal que sustenta o território acreano. A sua estrutura socio-espacial também foi alterada, pois a crise fez ruir o sistema de aviamento, fazendo com que muitos seringueiros passassem a exercer outras atividades. Houve uma intensa emigração, principalmente entre 1920 e 1940, causando um decréscimo populacional na região (GONÇALVES, ibidem, p. 90). A crise da produção gomífera se estende até a II Guerra Mundial (1939-1945), quando o látex amazônico torna-se importante para os principais países consumidores desta matéria-prima, uma vez que os japoneses, inimigos desses países, tomaram o controle dos seringais do sudeste asiático. O governo federal brasileiro incentiva a imigração para região amazônica para o trabalho nos seringais, dinamizando a economia acreana com o aumento de suas exportações. O ESTADO DO ACRE Com o fim da segunda guerra mundial, há uma queda abrupta na exportação do látex da Amazônia, pois os EUA retomam o controle da produção asiática. Com isso, o território acreano deixa de repassar para o governo federal as altas somas em dinheiro geradas pelos impostos sobre a produção gomífera durante a segunda guerra. Dessa forma, o Acre volta a depender do dinheiro do governo federal para sustentar-se, e a disparidade entre o que este último arrecada e o que ele investe no território acreano chega a Cr$ 300.000.000 por ano de saldo negativo (BEZERRA, 2006, p. 146). Esse fator, somado à articulação de autoridades locais, representadas na figura do ex- governador delegado e, nessa época, atual deputado federal do território do Acre Guiomard dos Santos, com interesses político-eleitoreiros, o Acre foi elevado à categoria de Estado em julho de 1962. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 12. 30 O projeto de transformação do Acre em Estado, proposto por Guiomard dos Santos, teve como base um discurso pró-democrático e desenvolvimentista, que argumentava que um sistema de governo de um território federal conduz a “fórmulas totalitárias, senão ao conformismo ou aceitação de seus princípios” (Santos apud BEZERRA, 2006, p. 144). Lembremos que estamos, nesse momento, no contexto da guerra fria, em que discursos como estes eram muito pertinentes e perfeitos para respaldar as políticas de desenvolvimento que o governo federal planejara para a Amazônia, consequentemente para o Acre, criando um novo padrão de organização espacial (GONÇALVES, ibidem, p. 95) para a região. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS NO TERRITÓRIO DO ACRE: DA BORRACHA À PECUÁRIA Como visto anteriormente, o Acre se consolidava como o maior produtor de látex do país, que praticamente monopolizava toda a produção da borracha mundial, entre fins do século XIX e começo do século XX. Nesse sentido, a produção da borracha no Acre representava uma importante atividade econômica com implicações locais, nacionais e internacionais, envolvendo desde o seringueiro até os diversos setores da indústria, especialmente o da indústria automobilística. Contudo, historicamente, o sistema que pautou as relações de trabalho nos seringais no Acre fundamentava-se na subordinação de seringueiros a patrões. Por este sistema, os seringueiros eram obrigados a pagar uma taxa anual (renda) pelas estradas de seringa que exploravam, além de entregar toda a sua produção de borracha nos barracões, onde encontravam disponíveis para venda artigos de consumo doméstico (sal, açúcar, querosene, munição etc.). A borracha operava como uma moeda para a aquisição dessas mercadorias. Entretanto, devido ao preço extremamente elevado das mesmas, os seringueiros terminavam por contrair uma dívida com o "barracão" que, mesmo comportando saldos em seu favor, era renovada no início da safra anual de borracha, ocasião em que se aviavam. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 13. 31 Embora o controle do processo de geração e apropriação do excedente fosse monopolizado pelos agentes do grande capital internacional, a dinâmica das relações internas permanecia regida por uma trama típica do capital mercantil - o de imobilizar a força de trabalho e perpetuar sua utilização e exploração na atividade extrativa. Também era proibido nas colocações dos seringueiros o cultivo de agricultura de subsistência, a caça e a pesca. Verifica-se, a partir de tais afirmações, que o período histórico contextualizado no Estado do Acre compreende o primeiro padrão de organização social do espaço amazônico, rio-várzea-floresta, assinalado por Gonçalves, quando enfatiza que nesse contexto: [...] a Amazônia se organizava sob a hegemonia do capital comercial. Como é da natureza do capital comercial, mais do que uma apropriação direta dos recursos naturais, o que lhe é importante, é o controle das vias de acesso, das vias de circulação. Aqui, sem dúvida alguma, a intensa e intricada rede hidrográfica da região foi uma importante aliada do capital comercial permitindo que se lançasse capilarmente pelos lugares mais recônditos da Amazônia (GONÇALVES, 2008, p.114). Contudo, vale ressaltar que esse padrão passa por um processo de transformação, e o ciclo da borracha, importante elemento econômico da estruturação de tal padrão, entra em fase de declínio. Entre as causas de tal processo aparece a noção de que a partir de 1915 entrou no mercado mundial a produção de borracha de cultivo oriunda dos seringais asiáticos, o que, devido à impossibilidade de concorrência, fez declinar a produção de borracha nativa da Amazônia, fator evidenciado também no Estado do Acre. Esse fato trouxe como consequência um arrefecimento do controle do seringalista, permitindo ao seringueiro fazer agricultura de subsistência, bem como explorar atividades primárias comerciais, como castanha, madeira, entre outros. Assim, os seringueiros foram ganhando autonomia no processo de produção através da posse da terra e do acesso parcial a alguns meios de produção. Em contrapartida, durante a II Guerra Mundial, a economia extrativa da borracha no Acre recebeu novo estímulo, inclusive contando com os “soldados da borracha” (ALEGRETTI, 2002, p. 130-131), quando o sistema de controle da produção do seringueiro obrigou-o a dedicar-se exclusivamente à extração do látex. No entanto, vale assinalar que em 1969-1970 uma boa parte dos seringais nativos no Acre entrou novamente em estágio de desativação. Dessa vez, em consequência da Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 14. 32 nova direção que toma o investimento estatal, isto é, ao maciço incentivo que passou a ser dado à implementação da atividade pecuarista neste Estado. Esse novo modelo econômico, embutido, por sua vez, no processo de modernização pensado para a Amazônia, trouxe profundas transformações na estrutura econômica de base extrativa. Nesse sentido: Deve-se salientar que a expansão extensiva do capitalismo para a Amazônia desestruturou e modificou significativamente a relação típica do seringal, o aviamento, fazendo surgir novas relações de produção, alterando o ser das frações de classe e suas relações. O seringueiro tradicional transmuta-se em seringueiro autônomo, posseiro, pequeno proprietário e trabalhador assalariado; o seringalista mantêm-se nas regiões mais interiores ou transforma-se em fazendeiro e comerciante urbano; aparecem o grande fazendeiro e o parceleiro do INCRA; crescem a pequena burguesia do comércio, dos serviços e do Estado, e operariado urbano, na esteira da urbanização precoce (RÊGO apud CAVALCANTE, 1993, p. 10). Considera-se, portanto, que este novo modelo pauta-se em novas matrizes ideológicas em relação ao papel da Amazônia face ao contexto nacional nesse período histórico (1960-1970). Nesse sentido, como salienta Gonçalves (ibidem), o novo padrão de organização do espaço amazônico ganha suporte, através do governo federal, nas agências multilaterais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento), para realizar obras de infraestrutura, comunicação, transporte e energia necessárias às iniciativas do grande capital. Em 1967, o governo decreta o fim da linha de crédito à borracha, o que resultou na venda de grande parte dos seringais. Essas propriedades foram transformadas em fazendas de gado, pois as linhas de créditos e incentivos fiscais partiam nessa direção desde 1965, a agropecuária era o novo carro chefe para o desenvolvimento da região, sucumbindo o extrativismo vegetal. A intenção era ocupar a região. Sendo assim, a pecuária era o grande objetivo do I PND (Plano Nacional de Desenvolvimento). No Estado do Acre, entre os anos de 1974 e 1978, a SUDAM aprovou a implantação de quatro grandes projetos agropecuários no Estado em uma área que somadas totalizavam 159.111 ha. A primeira iniciativa para estes ex-seringueiros se adaptarem à nova situação foi a mudança para a beira dos rios, local de melhor acesso. Em seguida, se empenharam na agricultura, caça, pesca e produção de madeira serrada, gerando uma pressão sobre os três últimos recursos e dando início aos primeiros conflitos de ocupação de território. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 15. 33 Menos de uma década após essa mudança administrativa, econômica e espacial, grande parte da produção agrícola é comercializada nos centros urbanos mais próximos. Nesse contexto, a luta contra o desmatamento provocado pelo fazendeiro e a consequente expulsão dos seringalistas de suas terras em função deste novo modelo econômico criam um ambiente fértil para o surgimento de grupos de resistência ao desmatamento e em defesa da terra que aos poucos imprimirão significativas mudanças no território acreano no que diz respeito à forma de organização fundiária. LUTA PELA POSSE DA TERRA, RESERVAS EXTRATIVISTAS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os conflitos ocorridos no Acre a partir, principalmente, da década de 1970 decorreram de vários fatores, entretanto é importante salientar pelo menos dois que contribuíram significativamente para este cenário. O primeiro deles diz respeito à política instaurada pelo governo federal de suspensão dos subsídios à produção de borracha e direcionamento de incentivos fiscais a atividades agropecuárias. E, de outro lado, tem-se por parte do governo estadual o desenvolvimento de políticas de atração de empresas do sul do país para adquirirem terras no Estado do Acre e, consequentemente, implantarem projetos agropecuários (ALEGRETTI, 2002, p. 191). Apesar da redução de subsídios à atividade gomífera, por parte do governo federal, é importante destacar que a mesma não deixou de existir, mesmo com a chegada da atividade agropecuária. É a partir, portanto, da coexistência entre essas duas atividades que derivam os confrontos entre ambas. De um lado tem-se a extração do látex, atividade que já existia previamente e que dependia dos recursos naturais para sua reprodução, e, de outro, tem-se a agropecuária, que vai completamente de encontro à manutenção dos recursos da floresta. Nesse sentido, expõe Alegretti Os processos sociais que emergiram durante este período estão relacionados, simultaneamente, à resistência à destruição do modelo anterior, à contestação do novo, e à busca de soluções que contemplassem as especificidades do modo de vida dos protagonistas principais, os seringueiros (2002, p. 191). Outra questão importante decorrente do surgimento da pecuária como atividade econômica foi a formação de mão de obra livre, como posseiros, seringueiros e arrendatários, como enfatiza Cavalcante: Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 16. 34 A desativação dos seringais e a implantação da pecuária extensiva de corte veio propiciar a formação de contingentes livres de posseiros, seringueiros, arrendatários, que, ao não mais permanecerem ligados ao trabalho rural, migram para as periferias das cidades, onde passam a viver em condições precárias (1993, p.10). Devido à formação dos contingentes de mão de obra livre, muitos desses trabalhadores rurais tornaram-se seringueiros autônomos em relação aos seringalistas e arrendatários e, posteriormente, deram origem a um movimento contra a pecuária como atividade predatória. É válido ressaltar que antes da implementação da nova atividade econômica a luta no território acreano se dava pela liberdade nas relações semi- escravistas e, posteriormente, essa luta passa a ser a favor pela posse da terra, pela manutenção da floresta ameaçada, pelas imensas pastagens, e na resistência a se tornarem favelados nas periferias urbanas (CAVALCANTE,1993, p. 10). Foi exatamente nessa luta contra os fazendeiros que se destacaram nomes importantes como os dos líderes sindicais Wilson Pinheiro e Chico Mendes, que viriam a ser assassinados nos anos de 1980 e 1988, respectivamente. A luta dos seringueiros contou, ainda, com o apoio de importantes instituições como a Igreja Católica e a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). Esta última, além de esclarecer sobre os direitos do trabalhador rural e dar assistência jurídica aos injustiçados, também objetivou organizar os sindicatos. Nesse sentido, uma das principais formas de luta foi o chamado "empate", que “são formas de resistência mais organizadas que visam impedir o desmatamento e a implantação das fazendas, assegurando a subsistência através da defesa da seringueira e da castanheira” (Jornal “O Varadouro” apud GONÇALVES, ibidem, p. 454). É importante destacar que: [...] a luta dos seringueiros pela defesa da terra não se deu com o intuito de defender a propriedade privada, e sim de defender a preservação da floresta e o direito de usufruto dela, ou melhor, lutar pela manutenção dos seringais, para os seringueiros, era lutar pela própria vida (DUARTE apud CAVALCANTE, 1993, p.12). Dessa forma, fica evidente que a principal preocupação estava na manutenção dos interesses socio-econômicos desses sujeitos, sendo, portanto, a preservação da floresta uma consequência de tais interesses. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 17. 35 Entretanto, não bastava a simples resistência dos seringueiros ao novo modelo econômico que estava se instaurando na Amazônia, no caso a pecuária, era necessária a proposição de uma nova alternativa. É nesse contexto que surge a concepção de reserva extrativista, ou seja, esta seria uma alternativa econômica e ecológica para justificar a luta contra o desmatamento na Amazônia. A partir de 1985, após o I Encontro Nacional dos Seringueiros, as pressões de movimentos sociais e ambientalistas foram intensificadas a favor da criação das Reservas Extrativistas. Essa pressão intensificou-se ainda mais após o assassinato de Chico Mendes, visto que, ainda em vida, foi responsável pela repercussão internacional das políticas ditas de desenvolvimento para a região amazônica. Dessa maneira, em 1990, foi criada a primeira reserva extrativista no Estado do Acre, a reserva Alto Juruá, com 506.186 ha., e, ainda neste ano, a reserva Chico Mendes, com 970.570 ha (Figura 03). Figura 03. Mapa das Reservas Extrativistas Alto Juruá e Chico Mendes (em amarelo). Fonte: IBAMA sd. A definição de Reservas Extrativistas pressupõe que os grupos sociais que dependem dos recursos da floresta para sua sobrevivência devem se utilizar dos mesmos de forma sustentável, ou seja, considerando um modelo de desenvolvimento que leve em conta a associação de, pelo menos, três fatores: o social, o econômico e o ecológico. Nesse sentido, de acordo com o CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros), a Reserva Extrativista deve ser entendida como: Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 18. 36 [...] parte da luta pela reforma agrária no Brasil, [...] questiona o modelo tradicional de assentamento em lotes agrícolas padronizados, propondo a utilização coletiva da terra. Junta a questão fundiária com a agroecológica propondo novos critérios no apossamento da terra, centrado no uso sustentável dos recursos naturais. A principal característica da reserva extrativista é o resgate da importância do homem numa nova perspectiva de ocupação do espaço amazônico associada à conservação do meio ambiente, onde são levados em consideração os aspectos sociais, culturais e econômicos das populações locais (CNS apud CAVALCANTE, 1993, p. 20). Dessa maneira, percebe-se uma inter-relação entre os conceitos de Reservas Extrativistas e de desenvolvimento sustentável, sendo este último possuidor de diversos significados. Para Becker (1993), por exemplo: O conceito de desenvolvimento sustentável não é claro; envolvendo múltiplas e diversas interpretações constitui uma ‘caixa preta’. Só pode, pois, ser compreendido no contexto histórico da nova ordem em construção sobre a desordem global e do desafio que representa para o Brasil e para a Amazônia (BECKER apud CAVALCANTE, 1993, p. 38). Considerando, por outro lado, o que diz o Relatório Brundtland a respeito de desenvolvimento sustentável, este “é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas”, observa-se que este é um conceito já ultrapassado, pois não questiona o modelo econômico vigente: O debate entre desenvolvimento e o meio ambiente não pode ficar restrito à propostas de desenvolvimento sustentável, que não questiona os pressupostos econômicos do sistema que provoca a miséria. Ou então, pode-se direcionar a um profundo questionamento das relações de dominação existentes na sociedade e entre os países, pois a sustentabilidade do planeta não se encontra apenas na defesa da natureza, mas também na mudança das relações de dominação entre os homens (CEDI/CRAB apud CAVALCANTE, 1993, p. 19). É válido ressaltar que o debate sobre a sustentabilidade nas Reservas Extrativistas deve abordar o papel do Estado, que abrange medidas relativas à criação de infraestrutura, programas de saúde e educação, apoio à comercialização de produtos agroextrativistas, exigindo a atuação dos diversos níveis do governo em seu financiamento e sua implementação, o federal, estadual e municipal. Contudo, dados do CNPT (Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais) revelam que, de forma geral, no Acre, as reservas foram apenas criadas, isto é, o governo não procedeu da forma prevista, dando as mínimas condições Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 19. 37 de sobrevivência à população local. Esse fato contribuiu para o êxodo rural de uma parcela considerável da população das Reservas Extrativistas, “na RESEX Chico Mendes, por exemplo, a população residente, reduziu-se mais de 33% em 4 anos caindo de 9 mil para cerca de 6 mil habitantes” (ZEE apud SEVÁ, 2002, p. 64). A luta dos seringueiros intensificou-se ainda mais, pois na década de 1990, principalmente, o setor extrativista entrou em decadência. Dessa forma, os seringueiros perceberam que apenas o extrativismo não era suficiente para que a reserva se tornasse sustentável, eram necessários incentivos também à diversificação da produção dentro da reserva. Com a incorporação, portando, de outras atividades econômicas como a pecuária, por exemplo, o nível de desmatamento dentro das reservas aumentou consideravelmente. Diante desses fatos, compreende-se que a realidade das reservas, assim como o extrativismo, contrasta com a perspectiva que os mesmos oferecem como alternativas de sustentabilidade para os povos que vivem na floresta. Entretanto, apesar das críticas contrárias a esse modelo, é importante que se reconheça que a proposta de criação das Reservas Extrativistas constitui-se num importante avanço para o tratamento dos problemas ambientais amazônicos, a partir do momento em que esses problemas são focados diante da visão e dos interesses das comunidades locais. Sendo assim, as deficiências decorrentes desde sua criação dizem respeito mais à questão de tratamento inadequado por parte dos órgãos competentes do que por constituírem-se como inviabilidade econômica. CONCLUSÃO A história do estado do Acre é marcada pelo confronto armado, causado pelo conflito de interesses dos diversos agentes que buscaram o controle deste território, com o objetivo de explorá-lo economicamente, seja a nível local, nacional ou internacional. A produção gomífera foi o elemento sine qua non para sua formação territorial, visto que a ocupação da região onde se localiza, se deu em função desta atividade, além de ter sido essencial para a sua formação social, econômica e cultural. Este Estado foi protagonista de um singular episódio de articulação geopolítica que objetivou impedir um confronto direto com a Bolívia, e indireto com os Estados Unidos, e Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 20. 38 anexar um território rico numa das principais commodities da época: o látex. Porém, a riqueza gerada por essa matéria-prima, de maneira geral, não foi aplicada no desenvolvimento do próprio território. A partir da década de 1970, a “imposição” de um modelo de desenvolvimento, que não levava em consideração as peculiaridades do território acreano, implementando a lógica da circulação rodoviária e da atividade agropecuária, torna-se o estopim para a criação de um movimento de resistência ao poder hegemônico, visto que o modo de vida da população local estava ameaçado diante dessa nova lógica. Nesse sentido, surge a proposta de criação das Reservas Extrativistas, que levava em consideração a tríade: sociedade, economia e ambiente, pautada num modelo de desenvolvimento sustentável. Entretanto, é importante avaliar se após a criação das reservas extrativistas, criadas há aproximadamente duas décadas, tais propostas foram realmente postas em prática, se as RESEX’s, de fato, resolveram as questões as quais se propuseram e, principalmente, se os órgãos competentes atuaram no sentido de promover melhores condições de vida da população extrativista acreana. REFERÊNCIAS ACRE, Governo do Estado. Fundação de Tecnologia do Estado do Acre. Atlas do Estado do Acre/Governo do Estado do Acre. Fundação de Tecnologia do Estado do Acre – Rio Branco: FUNTAC, 2008. Disponível em: http://www.acre.ac.gov.br/images/stories/atlas_30_06_2009.pdf, acesso em: 01/11/2009. ALEGRETTI, Mary Helena. A construção social de políticas ambientais: Chico Mendes e o movimento dos seringueiros. Brasília, 2002, 811f. Tese (Doutorado) Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, 2002. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Barão de Rothschild e a questão do Acre. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v.43, n. 2, dezembro 2000. Disponível em: http://www.scielo.br , acesso em: 14/10/2009. BASTOS, Abguar. A conquista Acreana: um olhar social. Rio de Janeiro: SPVEA, 1960. BEZERRA, Maria José. Invenções do Acre: de território a estado – um olhar social. São Paulo, 2006, 383f. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em História Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2006. CAVALCANTE, Ormifran Pessoa. A polêmica em torno do conceito de reserva extrativista enquanto atividade econômica sustentável. Rio Branco, 1993. Monografia Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br
  • 21. 39 (Graduação) Graduação em Economia, Departamento de Economia, Universidade Federal do Acre, 1993. GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Amazônia, Amazônias. São Paulo: Contexto, 2008. ______. Geografando nos varadouros do mundo: da territorialidade (o seringal) à territorialidade seringueira (a Reserva Extrativista). Brasília: IBAMA, 2003. SEVÁ, Fernando Farias. Ambientalismo e desenvolvimento sustentável: o caso da borracha e da pecuária no Acre. Rio Branco, 2002. Monografia (Graduação) Graduação em Economia, Departamento de Economia, Universidade Federal do Acre, 2002 LIMA, Cláudio de Araujo. Plácido de Castro: um caudilho contra o imperialismo. Rio Branco: Fundação Cultural do Estado do Acre, 1998. MACHADO, Lia Osório. Mitos e realidades da Amazônia brasileira no contexto geopolítico internacional (1540-1912). Barcelona, 1989. Tese (Doutorado) Facultat de Geografia i História, Universitat de Barcelona, 1989. MAIA NETO, José. A economia da Borracha e o Esforço de Guerra: Os soldados da Borracha na Amazônia. In: FILHO, Armando Alves et al. Pontos de história da Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2000. p. 27-43. MARTMO, Giovana Beatriz Teodoro. Hevea brasiliensis (serigueira). Disponível em: <http://www.ipef.br/identificacao/hevea.brasiliensis.asp>, acesso em: 01/12/2009. SCHILLING, Voltaire. A questão do Acre, 2003. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2007/01/08/000.htm, acesso em 01 de novembro de 2009. _________________. Plácido de Castro e a conquista do Acre, 2006. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2007/01/08/000.htm, acesso em 01/11/2009. SOUZA, Márcio. Galvez: imperador do Acre. São Paulo: Marco Zero, 1995. TOCANTINS, Leandro. Formação histórica do Acre. Brasília: Senado Federal, 2001. Revista Discente Expressões Geográficas, nº 06, ano VI, p. 19 – 40. Florianópolis, junho de 2010. www.geograficas.cfh.ufsc.br