1. XXXV Curso de Reumatologia dos CHUC
“Ciência na Prática”
Coimbra, 16 e 17 Outubro de 2014
Manuel Salgado
Unidade de Reumatologia Pediátrica
Hospital Pediátrico de Coimbra, CHUC
Diagnósticos Frequentes
em
Reumatologia Pediátrica
2. “Rheumatologyremains one of the few medical specialities where the storyand examination are the most important aspects in establishing a differential diagnosis”.(1) Foster HE. Cabral DA. Is musculoskeletal history and examination so different in paediatrics? Best Pract Res Clin Rheumatol 2006;20(2):241-62. Desafiante…
3. •Ausência de formação pré e pós graduada no aparelho musculoesquelético .
•A revisão da história clínica (anamnese e exame físico) de 257 internamentos de crianças mostrou: > 90% da observação (e dos registos) dos aparelhos respiratórios e cardíaco apenas 4% de registos sobreo aparelho musculoesquelético.
Meyers A et al. More “cries from joints”: assessment of the musculoskeletal system is poorly documented in routine paediatric clerking. Rheumatology 2004;43:1045-9
More “cries from joints” UK
4.
5. Todo o diagnóstico se baseia na clínica… isto é na SEMIOLOGIA.
A SEMIOLOGIA é a interpretação do PORMENOR.
Não existe nenhuma associação de exames complementares que informem mais do que uma anamnese cuidadosacomplementada com uma observação minuciosa.
6. Arnold Capute“Erra-se mais por não observar do que por não saber”.
“Quem não sabe o que procura, não entende o que encontra”.
Claude Bernard
7. Doresmusculoesqueléticas e/ou claudicaçãoem Ambulatório
Total
MMEc
%
Crianças
4.292
396
9,2%
Consultas
11.052
487
4,4%
Salgado M. Consulta privadainformatizada FileMaker ≈ 20 anos, Outubro 2014
Idades >12 meses –17 anos
9. “DORES de CRESCIMENTO”
Primeira descrição:
Duchamp M. Maladies de la Croissance.
In: Levrault FG,ed. Mémoires de Médicine Practique. Paris.
Jean-Frederic Lobstein, 1832
11. DC: Localização
•80-90 % exclusiva/. membros inferiores
•Face anterior coxas, face anterior e posterior das pernas, joelhos (cavado poplíteo, zonas periarticulares), dorso pés.
•Mais raro: m. superiores
•Nunca articulares (exceto joelho, ...)
•Localização imprecisa: não aponta, antes desliza a palma da mão ao longo da coxa, perna, joelho,..
•BILATERAIS
12. DC: Horário e Periodicidade:
•Vespertinas e/ou nocturnas
•25% exclusivamente noturnas
–primeira metade da noite (++ no 1º 1/3)
–só uma vez por noite
•Duração: < 30 minutos (excecional até 2 H)
•Raramente ocorrem durante o dia
•NUNCApela matinaisDas rarassituações clínicas não orgânicascom dor noturna
13. DC: Outras Características:
•Localização imprecisa são ”profundas”
•Intermitentes-intervalos livres variáveis
•Mimetismo: horário, localização, padrão
•Ausênciade outras manifestações:
•Øsinais sistémicos
•Øpontos dolorosos
•EO sempre normal (crise e intervalos)
•Marcha normal
•Crescimento normal
•Melhoria com massagem / calor local
14. DC: Diagnóstico
•Manifestações clínicas características:
•Intermitência, bilaterais, horário, duração crises, localização, mimetismo das crises, Ø desencadeantes, Ø clínica associada, exame objetivo sempre normal,
•NÃO é um diagnóstico de exclusão
•Exames complementares são dispensáveis
•Critérios de Exclusão bastará >1 (um)
15. Salgado M, Estanqueiro P. “Dores decrescimento. Saúde Infantil 2007;29(2):83-6
DC: 11 Critérios Exclusão
16. Salgado M, Estanqueiro P. “Dores decrescimento. Saúde Infantil 2007;29(2):83-6DC: 11 Critérios Exclusão
17.
18. Am Fam Physician. 2011;83(3):285-291.
Osteochondrosis: Common Causes of Pain in Growing Bones
22 osteocondrites(0,5% população) 2 Legg-Perthes2 van Neck
8 Larsen3 Osgood-Schlatter7 Sever
20. Caso Clínico
•MC: Dores no Joelho direito (5 anos + 8 meses)
•DA:
•Dor + claudicação intermitente do MID desde 2A
•5A -dor à mobilização” do joelho direito+ claudicação matinal breve
•VS (22), hemograma N, TASO < 200
•RX joelho D –“discreta irregularidade do contorno do núcleo epifisário distal do fémur, …”
22. 4324.935A + 8M27.10.95
O nervo obturador passa junto da cápsula articular da anca, e tem expressão cutânea a nível do joelho.
23. REGRA BÁSICA
Perante uma dor referida a um determinada local dum membro, deve-se examinar também cuidadosamente:
•Articulações acima e abaixo do local da dor
•Segmentos compreendidosentre “articulação acima” e a “articulação abaixo”.
25. Manobras de Exploração da Anca
Limitação movimentos (+ a rotação interna): Artrite anca esquerda“Log-roll test”
26. Manobras de Exploração da Anca: ROTAÇÃO INTERNA
Posição antálgica:
Flexão, Abdução e Rotação Externa
27. Fausto, 13 A
-dor relacionado com esforço
-pontos dolorosos
-arrancamento parcial da tuberosidade proximal da tíbiana inserção do tendão-formação óssea na inserção do tendão tumoraçãoOsgood-Schlatter
33. “Erythema of the skin overlying a swollen joint is unusual in JIA and suggest
an alternative diagnosis such as acute rheumatic fever or septic arthritis”. 1
1. Davies K, Coperman A. The spectrum of paediatric and adolescent rheumatology. Best Pract Res Clin Rheumatol 2006;20(2):179-200. Presença de RuborPoliartrite sépticaArtrite (cotovelo) + artrite calcâneo
34. •Febre + artrite (“tibiotársica d.ta“ e cotovelo esq.)
•Artrite com padrão aditivo, com dor muito intensa, calor ++ e rubor ++ “Reumatológico”.
•Hemocultura D3: Streptococcus pyogenesCaso clínico
“Osteoartrite” Multifocal: Reumatológico ou Infeccioso? 98003119, 10 anos
35. Caso de artrite séptica por Kingella Kingae29.09.201016 meses
DOR
Impotência funcional
Dor despertada pelo exame object. articulação
Choro / queixume
Intensa
Incapaz de utilizar a
articulação
Com qualquer movimento
Sim
•Surtos em infantários 3
•O segundo gérmen mais comum de osteomielite/artrite em < 3 anos idade 3
•Febre em 50% casos de osteomielite atraso 3
•Característico: -Infecção respiratória prévia
-VS ligeiramente ↑↑
-PCR normal3
3. Kuhls TL. Kingella species. In: Feijin & Cherry Textbook of Pediatric Infectious Diseases. 2009:1773-7.
36. 93003256
•♂, 27 M
•MC: Anca dolorosa esquerda D7
•DA: Claudicação + dor espontânea + mobilização
•Apirético.
•AP e AF: irrelevantes
•EO:
–Recusava a carga
–Anca em posição flexão, abdução rotação externa (FAbRe)
JPBFCaso clínico
38. 16.06.93
93003256 ♂, 27 mesesJPBFD15D15D2D4OSTEOMIELITE metáfises:
•Manifestações radiológicas (ósseas): surgem > 7 –10 dias depois início infecção
•manifestações líticas surgem após 2 a 6 semanas
•manifestação mais precoce: perda da estrutura trabecular
Artrotomia: osteomielite séptica complicada de artrite
Líquido: muitos leucócitos; cultura negativa (flucloxacilina)
39. Reumatismos (47)
Doenças
Nº
Sinovite transitória anca
17
Artrite reactiva
11
PurpuraSchoenlein-Henoch
6
RAA + ARepós-Streptpyog
2
ArtritesIdiopática Juvenis
10
LES
1
Salgado M. 2014
41. SinoviteTrnsitóriada Anca
•Causa + freq. de dor na anca na criança
•Idades: 18 mese-13 anos; pico 4-7 anos
•Sexo: ♂> ♀= 2 : 1
•Etiologia ?
•Comum: prévio CRS 2 semanas antes (30%)
Excessivamente diagnosticada
42. SinoviteTransitória-Clínica* Mais para exclusão de outras patologias
•Deita-se bem …
•Ao acordar -dor, claudicação; por vezes recusa em caminhar e a apoiar MI afectado
•Dor pode irradiar para coxa ou joelho
•Posição antálgica(FAbRe)
•Febre baixa por vezes
•VS / Leucócitos: normal ou ligeiramente
•Ecografiaanca: derrame articular (70%)
•RX bacia / anca: normal ou alargamento
interlinha*
43. SinoviteTransitória (cont.)
•Bilateral: < 4%
•Duração: desde 4 a 5 dias a 1 a 2 semanas
•Recorrência: 4 -17%(+++ primeiros 6 meses) se bilateral … Deve-se questionar diagnóstico !!!
44. SinoviteTransitória (cont.)
•Diagnóstico diferencial:
–Artrite séptica–sem febre ou febre baixa
–Osteomielite–sem febre !!!
–Brucelose
–Legg-Perthes, etc... –se recorrente ou prolongada
–RAA / FR / ARepós estreptocócica
–AIJ oligoarticular 2% das SinovitesTransitórias Anca
55. 10024474
AIJ oligoarticular
“… ≈ 25% das crianças com AIJ oligoarticular NÃO têm dores ou comportam-se como não tendo dores, observando-se apenas a tumefacção articular” (1). AIJ: AUSÊNCIA / DOR LIGEIRA
56. “… ≈ 25% das crianças com AIJ oligoarticular NÃO têm dores ou comportam-se como não tendo dores, observando-se apenas a tumefacção articular” (1). AIJ: AUSÊNCIA / DOR LIGEIRA1. Woo P, Laxer RM, Sherry DD. Pediatric Rheumatology in Clinical PracticeLondon, Springer-Verlag 2007: pg 25+++ Tumefacção e rigidez articular com padrão inflamatórioAIJpsoriática
57. 2 meses depois de Hexacetonido triamcinolona. intra-articular JD + JEFlexo articular e/ou rigidez articular mantidas AIJ Oligoarticular (52%) Dor +
04005835
03004020Dor +
58. abertura da boca 1,5 dedos da própria doente (≈ 3 cm)
Martini G et al. Isolated temporomandibular synovitis as unique presentation of juvenile idiopathic arthritis. J Rheumatol 2001;28:1689-92.
Normal (3 dedos) Qualquer articulação a Inaugural
59. 0300484201.07.200303004842 ♂, 4 A01.07.2003Febre D13 + rigidez nuca com LCR normal + peritonite + 2 episódios de rash morbiliforme transitórioEnvolvimento inaugural e único da coluna cervical (vários meses)
•5 das 448 AIJ (≈1%)
•AIJ sistémica –1
•AIJ oligoarticular (> 6 meses) –4 (3 oligoestendida) 2ª manif. -Uveíte
66. •O crescimento não faz doer
•As “dores de crescimento” são um nome ambíguo que inclui:
-Dores idiopáticas (noturnas ou não)
-Osteocondroses (relacionadas com o crescimento)
•As dores de crescimento têm manifestações clínicas muito características
•RX osteocondroses sem clínica não tem valor clínico
CONCLUSÕES:
67. CONCLUSÕES
•A doença soro-like é uma complicação muito frequente do uso indescriminado de antibiótico
•A artralgia na criança com reumatismo é bem tolerada ao invés das infeções e dos reumatismos agudos
•As Artrite idiopáticas juvenis são o reumatismo crónico mais frequentes, sendo uveíte crónica a principal complicação extra-articular
68. CONCLUSÕES
•Os critérios de exclusão das dores de crescimento poderão ser um instrumento de selecção nos doentes a investigar e/ou a a referenciar.