Mais uma publicação no afã de difundir a mais pura exposição do ensino genuíno da Palavra de Deus, especialmente do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, fundamentada nos escritos dos puritanos históricos e daqueles que foram os seus seguidores até o presente.
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De vez em quando recebemos uma pergunta ou
um pedido de ajuda sobre esse assunto,
geralmente de alguém que entrou em contato com
alguém que pertence a um seguimento que dá
destaque à “cura divina”, a remoção de males
físicos, sem a ajuda de médicos e remédios, em
resposta à fé e à oração. Esses amigos indagadores
geralmente estão um tanto perplexos. Eles nunca
ouviram nada sobre o assunto em suas próprias
igrejas e se sentem meio que no escuro nesse
assunto. Aqueles que forçam essa “cura divina”
demonstram ser pessoas desequilibradas e de
forma nenhuma são ortodoxos na doutrina. Se eles
são induzidos a frequentar essas reuniões, não
estarão com uma impressão favorável e sentirão
que há algo errado ali. Ausência de reverência, a
permissão de que as mulheres participam da
condução dos cultos diante de uma congregação
mista, a proeminência do elemento espetacular e
o espirito geral de excitação que prevalece, fazem
com que um filho de Deus normal se sinta como
se não pertencesse àquela reunião. O zelo exibido
não parece estar de acordo com o conhecimento e
o fervor emocional o abate como sendo “fogo
estranho” (Levítico 10:1) — algo que não provém
do altar divino.
Mas o que dizer do seu ensino sobre a “cura
divina”? É bíblico ou não bíblico? Esta é uma
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questão que não é fácil de responder em uma
única frase. A Palavra de Deus fala sobre a cura
em várias passagens, mas a mesma levanta a
questão de sua interpretação - de acordo com o
contexto e também em harmonia com a analogia
geral da fé e também requer um exame cuidadoso
de todas as conclusões baseadas nessas passagens.
Além disso, esses cultos modernos que enfatizam
a “cura divina” não são, de modo algum,
uniformes em seus ensinamentos, sendo alguns
mais radicais e extremos do que outros, de modo
que a refutação de uma apresentação errônea
sobre esse assunto não seria proveitosa da mesma
maneira em relação a um erro similar com
roupagem diferente. Embora familiarizados com
todas as principais variações deles — durante
nossa longa jornada nos Estados Unidos da
América (onde quase todos esses movimentos se
originaram) nós tivemos um contato mais ou
menos próximo com eles — nós não nos
propomos a desperdiçar o tempo do leitor
tomando-os em série, mas sim lidar com
princípios amplos que se aplicam a todos eles.
Primeiro deve-se dizer que grande parte do
ensinamento dado sobre esse assunto é
decididamente não bíblico. Por exemplo, a
maioria dos que enfatizam a “cura divina”
insistem que “foi na expiação” — na cruz — que
Cristo levou verdadeiramente não só nossos
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pecados como nossas doenças. Foi ali, eles
ensinam, que Ele comprou a cura para o corpo,
bem como a salvação para a alma, e então, por isso
mesmo, cada Cristão tem o mesmo direito de se
apropriar pela fé da cura das doenças corporais,
assim como ele tem o perdão por suas
transgressões. Em apoio a esta afirmação, faz-se
um apelo a Cristo, que “curou todos os que
estavam enfermos; Para que se cumprisse o que
fora dito pelo profeta Isaías, que diz: Ele tomou
sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas
doenças” (Mateus 8:16-17). É aqui que o
expositor é necessário, caso os iletrados e
inconstantes precisem ser preservados de
conceber uma conclusão errônea, onde o mero
som da palavra é suscetível de transmitir uma
impressão errada, a menos que seu sentido seja
cuidadosamente verificado - assim como a
passagem que diz que “os mortos não sabem coisa
nenhuma” (Eclesiastes 9:5) não é para ser
entendida absolutamente, como se aqueles que
partiram desta vida, estão em um estado de total
inconsciência.
Se essas palavras de Cristo “levou as nossas
doenças” tivessem ocorrido em algumas
passagens dos Atos dos Apóstolos ou das
Epístolas, onde um dos Apóstolos estivesse
explicando o propósito e o caráter da morte de
Cristo, então teríamos sido obrigados a considerar
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isso como significando que o Senhor Jesus, levou
as enfermidades de Seu povo enquanto estava na
cruz, embora isso apresentasse uma grande
dificuldade, pois não há nenhuma indicação em
qualquer lugar na Palavra que o Redentor
experimentou qualquer doença naquele tempo.
Mas em vez disso, Mateus 8:16-17 tem referência
ao que aconteceu durante os dias de Seu
ministério público, significando que Cristo não
usou a virtude que estava nEle para curar
enfermidade e doença como uma questão de mero
poder, mas em profunda piedade e ternura entrou
na condição de sofredor. O Grande Médico não
era um estoico insensível, mas tomou sobre o Seu
próprio espírito os sofrimentos e dores daqueles a
quem Ele ministrou. Seus milagres e curas lhe
custaram muito em termos de simpatia e
resistência. Assim, Ele “suspirou” (Marcos 7:34)
quando soltou a língua do mudo, “chorou” diante
do túmulo de Lazaro e teve consciência da virtude
que saiu dele (Marcos 5:30) quando Ele curou
outra. Através de uma compaixão que nós não
conhecemos, Ele se afligiu com as aflições deles.
Que a interpretação que nós demos acima
(brevemente sugestionada pelo Puritano Thomas
Goodwin) é o significado correto de: “Ele tomou
sobre si as nossas enfermidades, e levou as nossas
doenças”, pode ser visto a partir de várias
considerações. Se o significado dessas palavras
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fosse o que o movimento de “cura divina” diz ser,
então eles entendem que na sua ação de curar o
enfermo Cristo estava fazendo expiação, o que é
um absurdo em face disso. Novamente, se a cura
do corpo fosse um direito de redenção que a fé
pode, humildemente, embora fortemente,
reivindicar, então isso significaria
necessariamente que o crente jamais deveria
morrer, pois toda vez que ele se sentisse doente
poderia pleitear com Deus o sacrifício do Seu
filho e clamar por sua cura. Nesse caso, por que
Paulo não exortou Timóteo a exercitar sua fé na
expiação ao invés de lhe ordenar: “usa de um
pouco de vinho, por causa do teu estômago” (1
Timóteo 5:23) e por que ele deixou Trófimo
doente na cidade de Mileto (2 Timóteo 4:20)? Um
corpo glorificado, assim como uma alma, é fruto
da expiação de Cristo, mas para aquele crente que
espera o tempo designado por Deus.
Um erro leva a outro: A maioria dos que ensinam
que a cura divina está na expiação, argumentam
que, portanto, ela deve constituir um elemento
essencial e parte do Evangelho e assim o seu
slogan favorito é “Cristo é nosso Salvador, Cristo
é nosso Santificador, Cristo é nosso Curador,
Cristo é nosso Rei que voltará”, e, portanto, “um
Evangelho Quadrangular” é o principal lema da
maioria deles. Mas tal controvérsia não suportará
a luz da Sagrada Escritura. No livro de Atos nós
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encontramos os Apóstolos pregando o Evangelho
de Deus tanto para judeus como para gentios, e
embora no curso do seu ministério curas e
milagres foram realizados por eles (Para
autenticar sua missão, pois nada do Novo
Testamento havia sido escrito), em nenhum lugar
a remoção dos males físicos faz parte de suas
mensagens. Em 1 Coríntios 15:1-4 é dado um
breve resumo do Evangelho dizendo “que Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou
ao terceiro dia” — observe a omissão de sua morte
por nossas enfermidades! Em Romanos, somos
providos de um desdobramento sistemático e
completo do “Evangelho de Deus” (veja 1:1), a
“cura” das doenças corporais nunca é referida.
Se fosse verdade que Cristo fez expiação pelas
nossas enfermidades, bem como pelos nossos
pecados, então consequentemente todas as
desordens corporais são a consequência imediata
de alguma iniquidade. Dizemos “a consequência
imediata”, pois, claro, é facilmente admitido que
todos os males dos quais o homem é herdeiro são
tanto efeito quanto resultado da grande
transgressão de nossos primeiros pais. Então, é
razoável concluir que se o pecado nunca tivesse
entrado neste mundo, não haveria sofrimento de
modo algum. Pois sabemos que no Céu a ausência
do pecado assegura a ausência do sofrimento.
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Assim, há uma diferença vital entre dizer que uma
doença física que provoca grande desconforto e
dor, encontra sua causa na tragédia ocorrida no
Éden e afirmar que ela é o resultado direto da
própria maldade da pessoa, como insistem a
maioria dos movimentos de “cura divina”. A
resposta do nosso Senhor aos Seus discípulos em
João 9:2-3 proíbe expressamente qualquer
conclusão tão ampla. Há muito sofrimento,
especialmente entre as crianças, o que é devido à
violação ignorante e inocente das leis naturais e
não à violação da Lei Moral. Além disso, se a
afirmação do movimento de “cura divina” fosse
válida, deveríamos ser obrigados a concluir que
toda doença separa a alma da comunhão com
Deus, o que é claramente desmentido pelo
testemunho de muitas das pessoas mais santas que
já pisaram esta terra.
Aqueles que sustentam que Cristo fez expiação
por nossas enfermidades, bem como por nossos
pecados, são bastante consistentes em sustentar
que a libertação das enfermidades deve ser obtida
precisamente da mesma maneira que a salvação
do pecado: que o único meio deve ser o exercício
da fé, sem a introdução ou adição de quaisquer
obras ou ações nossas. Assim, os movimentos de
“cura divina” ensinam que procurar o serviço de
um médico ou o auxílio de medicamentos
equivale a afastar-se da obra consumada de Cristo,
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como também seria a dependência do batismo ou
de obras de caridade para a obtenção do perdão. A
falácia desta inferência lógica revela a
insensibilidade em relação ao que é prometido.
Uma referência às Escrituras mostrará
imediatamente que, embora em alguns casos,
Deus tenha prazer em curar o enfermo sem meios,
ainda em outros casos Ele designou e abençoou o
uso de meios. Para a cura das águas amargas de
Mara, Moisés foi instruído a lançar nelas um
pedaço de madeira que “o Senhor mostrou-lhe”
(Êxodo 15:25). Quando Deus prometeu curar
Ezequias, que estava doente para morrer, Isaías
pediu ao rei que “tomasse uma pasta de figos”, e
nos é dito, “e a tomaram, e a puseram sobre a
chaga; e ele sarou” (2 Reis 20:7). Esse também é
caso com Timóteo em 1 Timóteo 5:23.
Certamente, não estamos dispostos a manter
qualquer breve defesa à fraternidade médica atual
como um todo. A cobiça pelo ouro, o amor à
novidade (experimentação) e a deterioração do
caráter moral em todas as esferas da vida, não
inspiram confiança em nenhuma classe ou
camarilha e o escritor preferiria sofrer dor ao invés
de colocar-se à mercê do médico cirurgião. No
entanto, isso não significa que consideremos
todos os praticantes de medicina como charlatães
ou tratantes, e menos ainda acreditamos nos
fanáticos da “cura pela fé” quando dizem que os
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médicos são emissários especiais de Satanás. O
Espírito Santo nunca teria chamado Lucas de “o
médico amado” (colossenses 4:14) se ele tivesse
sido alguém a serviço do Diabo.