1. A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ASPECTOS HISTÓRICOS E LEGAIS,
POTENCIALIDADES E DESAFIOS
Antonio Carlos Amador Gil
Este texto, que faz uma introdução ao Ensino a Distância (EAD) e trata de
alguns aspectos históricos, legislativos e pedagógicos do EAD, possui caráter
informativo e pretende, de forma sintética e clara, mostrar o estado atual do Ensino na
modalidade a distância no Brasil. Este texto foi pensado como sendo introdutório ao
curso e traz elementos e indicações para que vocês possam posteriormente desenvolver
estes temas.
Esta unidade é muito importante dentro do curso visto que é preciso conhecer
um pouco da história e da regulação do ensino na modalidade a distância no Brasil e
também os requisitos necessários para que se tenha um ótimo desempenho nesta nova
forma de ensino. As informações aqui contidas serão importantes para o
desenvolvimento do curso e também para o seu processo de formação profissional como
um todo. Sugiro que a cada ponto do texto sejam feitas consultas à legislação citada,
que está disponível na internet. Basta digitar a Lei ou Decreto numa máquina de busca,
como o Google, por exemplo, e descobrir a sua localização. Tendo em seu computador
um programa para a leitura de arquivos em pdf ou em Word, será possível abrir os
documentos e fazer a leitura.
Seria interessante que vocês, com as informações contidas no texto, as
referências bibliográficas e as referências de endereços da internet, fizessem mais
pesquisas, discutissem esses pontos e analisassem as potencialidades pedagógicas da
EAD diante da realidade brasileira, levando em consideração as dimensões do território
nacional e a nossa diversidade sociocultural. Ou seja, discutir e desenvolver uma
reflexão de como a EAD, em face da escola e da realidade brasileiras, pode contribuir
como estratégia de ensino eficaz. Quais seriam os seus limites e potencialidades?
Pretendemos, neste texto, falar um pouco da história do Ensino a Distância no
Brasil no decorrer do século XX, a legislação que embasa a oferta de cursos na
modalidade de EAD, as diversas fases desta modalidade de ensino, a sua definição, a
regulação e o controle feito pelo governo federal. Além disso, iremos abordar alguns
dados sobre o crescimento da oferta desta modalidade, o objetivo da Lei n°. 10.639 que
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2. trata do ensino da História e Cultura Afro-brasileiras, bem como o novo papel a ser
desempenhado por vocês, alunos, no processo de educação à distância.
A trajetória do ensino a distância no Brasil
Muitos de vocês, talvez, possam ter pensado que o ensino a distância é uma
novidade. Pois não é bem assim. O que é novo é o uso de novas tecnologias como os
recursos interativos da internet, o que chamamos de novas Tecnologias de Informação e
Comunicação. Os cursos a distância existem desde o momento em que começaram a ser
veiculados pelos correios, ou seja, por correspondência.
Diversos historiadores, ao trabalharem com alguns jornais do final do século
XIX e inícios do século XX, se depararam com anúncios com ofertas de cursos
profissionalizantes a distância. Em seu artigo A História da EAD no Brasil, João
Roberto Moreira Alves nos informa sobre alguns estudos que demonstram a existência
dessa oferta. Ao tentar fazer, de uma forma bem sucinta, ligeira, um percurso
panorâmico do ensino a distância no Brasil no decorrer do século XX, ele relata, por
exemplo, estudos do IPEA em periódicos como o Jornal do Brasil do final do século
XIX e início do século XX, que mostram a oferta de cursos profissionalizantes por
correspondência. Eram geralmente cursos de datilografia oferecidos por professoras
particulares. Também nos informa que em 1904 houve a instalação de uma instituição
chamada “Escolas Internacionais”. A unidade de ensino era, segundo o autor, uma filial
norte-americana que oferecia cursos por correspondência voltados para a área de
comércio e negócios.
Imagem 1 – Edgard Roquette-Pinto, precursor da radiodifusão brasileira
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3. O ensino a distância alcançou novo patamar com o surgimento de uma nova
tecnologia, a radiodifusão, inaugurada no Brasil em 1922. Com o tempo, ela tornou-se o
meio de comunicação que a maioria da população tinha acesso como ouvinte. Com a
redução dos custos do receptor de rádio, passou a exercer grande influência na vida
diária das pessoas, tanto em zonas urbanas quanto rurais. O professor Edgard Roquette-
Pinto lançou, em 1923, a primeira estação de rádio no Brasil, a Sociedade Rádio do Rio
de Janeiro. Essa rádio passou a veicular, em sua grade de programação, vários
programas de educação popular que tiveram muito êxito. Os governos à época estavam
atentos e preocupados, visto que temiam a difusão de programas de contestação na
atmosfera revolucionária do final dos anos 1920 e inícios dos anos 1930. A partir da
Revolução de 1930, o governo de Getúlio Vargas criou várias exigências de difícil
cumprimento. A rádio acabou sendo incorporada ao Ministério da Educação e Saúde em
1936.
Em 1932, Getúlio Vargas autorizou, através de decreto, a comercialização de
espaços publicitários pelas emissoras e passou a utilizar o rádio para veicular suas
realizações e ideias. Com a receita da publicidade, as emissoras investiram em
equipamentos e nos funcionários. A consequência foi a popularização da programação,
o que possibilitou ao rádio viver sua época de ouro, entre os anos 1930 e 1940. A
radiodifusão passou a ser uma grande influência em todas as áreas, tendo poder decisivo
nos campos econômico, político, social, religioso, cultural e educativo. Os mecanismos
de controle e censura no período também foram muito ativos. Em 1937, foi criado o
Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e vários programas
foram implantados como, por exemplo, a Escola Rádio Postal.
A partir do fim do Estado Novo (ditadura de Getúlio Vargas que durou de 1937
a 1945), diversas iniciativas ocorreram no campo do ensino a distância. A abertura do
SENAC em 1946 foi muito importante. Uma de suas mais relevantes realizações foi a
criação da Universidade do Ar que, em 1950, já atingia 318 localidades.
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4. Imagem 2 – Primeira escola SENAC de Santos/SP
Isto não quer dizer que a oferta de cursos por correspondência tenha sofrido
diminuição. Pelo contrário. Uma experiência de grande sucesso foram os cursos por
correspondência do Instituto Universal Brasileiro (IUB), criado em 1939 em São Paulo.
Os anúncios encartados em jornais e revistas ofereciam cursos por correspondência em
diversas áreas como corte e costura, fotografia, mecânica, eletrônica, contabilidade, etc.
Ou seja, a tecnologia veio contribuir com novas formas de oferta de ensino a distância,
numa perspectiva somativa e não substitutiva.
A década de 1950 e o início dos anos 60, no Brasil constituíram um período
efervescente na política e de grande crescimento dos movimentos populares, que
reivindicavam melhores oportunidades em termos políticos, sociais, econômicos e
educativos. No início dos anos 1960, por exemplo, com a popularização do rádio de
pilha, o Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Igreja Católica, com o apoio
do governo federal, desenvolveu um programa de alfabetização de adultos através do
Rádio Educativo.
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5. Imagem 3 – Panfleto de divulgação dos cursos oferecidos pelo Instituto
Universal Brasileiro (1945)
As primeiras medidas legislativas
Em 20 de dezembro de 1961 foi promulgada a Lei n°. 4.024, a primeira LDB –
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Esta lei foi a primeira legislação que
tratou especificamente da modalidade do ensino a distância.
O Golpe de Estado de 1964 e o aumento da repressão política e social em 1968
com o AI 5 e o recrudescimento da censura tornaram as iniciativas independentes e
transformadoras mais difíceis. Houve, neste período, iniciativas governamentais no
ensino a distância, como o Projeto Minerva, curso a distância de formação no nível
básico de ensino, transmitido via rádio, depois da Voz do Brasil. O curso podia também
ser acompanhado com apostilas impressas.
Em 11 de agosto de 1971 foi promulgada a Lei n°. 5.692, que fixou diretrizes e
bases para o ensino de 1º e 2º graus. Nessa reforma da LDB foi inserido um capítulo
específico sobre o ensino supletivo, definindo que poderiam ser usados o rádio, a
televisão, correspondência e outros meios de educação que permitissem alcançar o
maior número de alunos.
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6. Durante o período da Ditadura Militar houve iniciativas de uso da televisão com
fins educativos, com a promulgação de leis que determinavam a transmissão de
programas educativos pelas emissoras comerciais. A televisão no Brasil iniciou as suas
transmissões na década de 1950 e, lentamente, foi ocupando um espaço cada vez mais
importante. Em 1970, pelos dados do Censo Demográfico, 27% das casas brasileiras
estavam equipadas com televisão e 75% do total de televisores estavam concentrados no
Rio de Janeiro e São Paulo. No decorrer da década de 1970, houve algumas
experiências interessantes no campo educacional como a criação do Telecurso Segundo
Grau. O projeto começou em janeiro de 1978, quando a Fundação Roberto Marinho
assinou convênio com a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura de São
Paulo, para a realização do primeiro Telecurso de Segundo grau. Neste ano o Brasil já
possuía 14 milhões e oitocentos mil aparelhos de televisão. Em 1980, 55% das casas
brasileiras possuíam televisão. Logo a seguir, em 1981, foi criado o Telecurso Primeiro
Grau, voltado para as últimas séries do ensino fundamental. O surgimento do vídeo
cassete, no final dos anos 1970 e popularizado nos anos 1980, multiplicou as
possibilidades de acesso aos conteúdos. Também não podemos deixar de mencionar o
papel das TV’s Educativas, como a TV Cultura. Com o surgimento do sistema de TV a
cabo e a satélite surgiram novas emissoras voltadas para o campo educativo como as
TV’s Universitárias e o Canal Futura. Uma das mais recentes iniciativas é a TV Escola.
Em 20 de dezembro de 1996 foi promulgada a Lei n°. 9.394, a segunda Lei de
Diretrizes e Bases, também chamada Nova LDB ou Lei Darcy Ribeiro, em homenagem
ao seu relator. A partir daí, de fato, foram criadas as bases legais para a modalidade de
Ensino a Distância, que passou a ser possível em todos os níveis. A partir de então, o
ensino a distância tem se desenvolvido em vários segmentos, nos cursos de graduação e
pós-graduação, na educação básica, principalmente na modalidade de jovens e adultos e
na educação especial. Houve também um grande aumento da oferta de cursos livres,
principalmente no ambiente corporativo.
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7. Imagem 4 – O político e escritor Darcy Ribeiro, relator da LDB de 1996
O artigo 80 da lei 9.394 determina que o poder público deve incentivar o
desenvolvimento de programas em EAD e também programas de educação continuada
na modalidade EAD. A lei prevê igualmente, dentre outras coisas, tratamento
diferenciado para a concessão de canais com finalidade educativa e a redução de custos
de transmissão por via de canais comerciais para uso de programas de EAD.
Há muitas definições possíveis para a EAD. O Decreto n°. 2.494 de 10 de
fevereiro de 1998, que regulamentou o art. 80 da Lei n°. 9.394 (LDB), estabeleceu um
conceito oficial de EAD:
Forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem com a mediação de
recursos didáticos, sistematicamente organizados, apresentados em
diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e
veiculados pelos diversos meios de comunicação (DECRETO
N.2.494/1998).
Ao analisarmos essa definição podemos perceber alguns problemas. Se, em
termos jurídicos, a definição era legítima, pois pretendia clarificar o conceito, por outro
lado, academicamente falando, sofreu diversas críticas, uma vez que essa definição
corria o risco de rápida obsolescência.
Diversos autores que analisaram o Decreto 2.934, como Candido Alberto da
Costa Gomes, por exemplo, afirmam que essa regulamentação foi muito cautelosa,
estabelecendo uma equiparação entre educação presencial e a distância, condicionando
a avaliação do rendimento dos alunos à realização de exames presenciais.
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8. Segundo a ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), a EAD é
uma modalidade de educação em que as atividades de ensino-aprendizagem são
desenvolvidas, em sua maioria, sem que alunos e professores estejam presentes no
mesmo lugar à mesma hora.
Como se vê no histórico traçado, o ensino a distância não é algo novo. O que é
inovador são os meios empregados hoje. Cada nova tecnologia não descarta as
anteriores, há uma complementação. O rádio ainda tem um papel importantíssimo em
regiões de difícil acesso. Não podemos esquecer que as novas tecnologias ainda estão
muito distantes da maioria dos brasileiros. Podemos perceber, portanto, que houve
momentos históricos diferentes marcados pelo uso de diferentes tecnologias. Não há
consenso sobre a periodização desses momentos, alguns autores dividindo a história da
EAD em três gerações, outros em até cinco. Para os que defendem a periodização em
três gerações, teríamos as seguintes fases:
a) Primeira geração: ensino por correspondência, modalidade que marca o
início da EAD e predominante no Brasil na primeira metade do século XX;
b) Segunda Geração: modelo Multimída, a partir do final dos anos 70, com uso
da Teleaprendizagem, de videoaulas, de fitas de áudio e de vídeo;
c) Terceira Geração: momento em que são utilizadas redes de comunicação
interativas, como a internet e recursos WWW (web), os computadores
pessoais e os sistemas de videoconferência, incorporando também as mídias
anteriores. A interatividade é reforçada através da comunicação mediada
pelo computador e acesso a portais educativos e softwares interativos de
aprendizagem, como o ambiente Moodle.
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9. Imagem 5 – Ambiente virtual da Plataforma Moodle
A Educação a Distância na era digital
Vivemos agora um momento importante, com a expansão dos computadores
pessoais e a comunicação via internet. O ensino a distância está se consolidando
atualmente graças a essa tecnologia usada por vocês no presente curso. A tecnologia
digital, a educação on-line, estimulam, hoje, a interatividade. Há diversas ferramentas
disponíveis para isso: o e-mail, os fóruns de discussão, os chats (ambientes de conversa
on-line), amplamente explorados em softwares de educação como o Moodle, e as
videoconferências.
O desafio agora, no Brasil, é fazer a inclusão digital de todos os brasileiros. Isso
só será possível com o barateamento dos custos de transmissão para fins sociais, com a
democratização do acesso via banda larga.
Em 2005 houve uma nova regulamentação do art. 80 da Lei n°. 9.394 (LDB) que
revogou a de 1998. O decreto n°. 5.622, de 19 de dezembro de 2005 é mais amplo que o
anterior, em termos de artigos e também em termos de impacto e abrangência.
Formulou a seguinte definição de EAD:
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10. Modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos
processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos
(DECRETO N.5.622/2005).
Nessa definição, o conceito de EAD é atualizado e referenciado como
modalidade educacional e há a referência às TICs – Tecnologias de Informação e
Comunicação. Seria interessante se vocês consultassem esse decreto, disponível no
seguinte endereço:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm
No texto do decreto vocês constatarão que são estabelecidas, por exemplo, a
obrigatoriedade de momentos presenciais não só para a avaliação dos estudantes, mas
também nas seguintes etapas do ensino: (i) nos estágios obrigatórios, quando previstos
na legislação pertinente; (ii) na defesa de trabalhos de conclusão de curso, quando
previstos na legislação pertinente, e (iii) nas atividades relacionadas a laboratórios de
ensino, quando for o caso, tudo isso com a obrigatoriedade de criação de polos de apoio
presencial.
Conforme estabelece o Decreto n°. 5.622, de 19 de dezembro de 2005, os
diplomas de cursos a distância têm a mesma validade dos cursos equivalentes em
universidades presenciais, desde que devidamente reconhecidos pelo MEC.
Desde 2004, com a criação do SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior, através da Lei n°. 10.861 de 14 de abril de 2004, que instituiu a
avaliação das instituições, de cursos e do desempenho dos estudantes de forma
integrada, as instituições de Ensino Superior e os cursos de graduação presenciais e a
distância têm passado por um contínuo processo de avaliação sob a responsabilidade do
INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
O Decreto Federal n°. 5.773, de 9 de maio de 2006, dispõe sobre o exercício das
funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e
cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino. Nesse
decreto são definidas as competências da Secretaria de Educação a Distância (SEED),
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11. como são feitas as autorizações, os reconhecimentos e as renovações de reconhecimento
de cursos, os credenciamentos e recredenciamentos de Instituições de Ensino Superior.
Ao Ministério da Educação compete promover os atos de credenciamento de
instituições para oferta de cursos e programas a distância para a educação superior. Às
autoridades dos sistemas de ensino estaduais e do Distrito Federal compete promover os
atos de credenciamento de instituições para a oferta de cursos a distância, no âmbito da
respectiva unidade da federação, no nível básico nas modalidades de educação de
jovens e adultos, educação especial e educação profissional.
A Secretaria de Educação a Distância (SEED) foi criada em 1996 e tem por
missão atuar como agente de inovação dos processos de ensino-aprendizagem,
fomentando a incorporação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e da
Educação a Distância aos métodos didático-pedagógicos das escolas públicas. Vocês
podem consultar a página da secretaria na internet (http://www.portal.mec.gov.br/).
Dentre os programas da secretaria, podemos destacar o Proinfo (Programa
Nacional de Informática na Educação), o Programa Banda Larga nas Escolas e a TV
Escola.
A Portaria Normativa n°. 2 de 10 de janeiro de 2007, dispõe sobre os
procedimentos de regulação e avaliação da educação superior na modalidade a
distância, regulamentando também a criação de polos para a atuação da Instituição de
Ensino Superior na modalidade de EAD, para que possam ser realizados os momentos
presenciais obrigatórios. O polo de apoio presencial é a unidade operacional para o
desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas relativas
aos cursos e programas ofertados a distância.
O Ministério da Educação instituiu, por meio do Decreto n°. 5.800, de 8 de
junho de 2006, o Sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB. Esse sistema é
mantido mediante a oferta de cursos e programas por instituições de educação superior
filiadas, num sistema de colaboração entre a União e os estados com o apoio financeiro
de dotações do Ministério da Educação e do FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação). Sua ação, prioritariamente, está voltada para a
formação inicial e continuada de professores da educação básica. Cabe aos estados e
municípios a responsabilidade pela implementação e sustentação de seus polos, onde
são desenvolvidas as atividades presenciais. Cada polo pode se associar a uma ou mais
instituições públicas de ensino, responsáveis pela execução das atividades acadêmicas
dos cursos bem como pela expedição dos diplomas aos concluintes.
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12. A democratização do Ensino a Distância
Nos últimos anos houve um crescimento exponencial da EAD no Brasil. Ao
consultarmos os dados do censo divulgado pelo Ministério da Educação no início de
2009, podemos constatar que, em 2007, doze por cento dos jovens brasileiros entre 18 e
24 anos cursavam o Ensino Superior. Em 2007, o número de alunos matriculados
aumentou 7%. Deste total, 93% faziam cursos presenciais. Em relação ao Ensino a
Distância, as matrículas cresceram 78%, quase 20 vezes mais que nos cursos
presenciais, que tiveram um aumento de 4%. Como se pode ver, os cursos a distância
são os que mais se expandem no país.
Os dados do censo também demonstram que, em 2007, o maior crescimento do
número de matrículas em EAD ocorreu nas instituições estaduais, cujo percentual de
aumento foi de 219%. As instituições privadas tiveram um aumento de matrículas da
ordem de 66% e as instituições federais de 47%.
Foi publicado, no início de 2010, o Censo EaD.Br. O livro é organizado pela
Associação Brasileira de Educação a Distância. Esse censo foi lançado no 15º CIAED –
Congresso Internacional ABED de Educação a Distância, realizado entre os dias 27 e 30
de setembro de 2009, em Fortaleza. O livro é o primeiro de uma série que a Associação
Brasileira de Educação a Distância – ABED pretende publicar anualmente, com o
objetivo de mapear, analiticamente, todas as atividades relacionadas à aprendizagem a
distância no País. Para tal fim, a ABED enviou, para as Instituições de Ensino e o
Mercado de Educação a Distância, um questionário com o objetivo de coletar as
informações necessárias para a consecução dessa nova publicação – Censo EaD.Br –
Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil. A ampla coleta de dados do
Censo EaD.Br, publicada em 2010, mostra os resultados referentes ao ano base de 2008
e tendências apontadas por centenas de instituições de ensino, empresas e alunos de
educação a distância no País.
A ABED afirma que esse censo é mais abrangente que o do Ministério da
Educação, pois inclui os cursos de extensão e os corporativos. Esse censo nos dá os
seguintes números: de um total de 2.648.031 alunos, 1.075.272 pertencem aos cursos
regulares, enquanto 1.074.106 estão na modalidade extensão e 498.653 na modalidade
corporativa. Dos alunos regulares, 273.487 estão em instituições públicas, enquanto
801.785 estão matriculados em instituições particulares. Somente na Região Norte, há
mais alunos regulares nas instituições públicas do que nas particulares. O total de cursos
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13. é de 1.752 e 80% das matrículas se encontram nas regiões Sul e Sudeste e 54% das
instituições informam que a idade predominante fica acima de 30 anos. O pessoal
docente envolvido (professor, monitor, coordenador e outros) compreende 28.457
profissionais, dos quais 12.236 no setor público e 16.221 no particular. O material
impresso ainda é o mais importante nos cursos de EAD. O crescimento dos cursos em
relação a 2007 foi de 90%.
Como vemos, de fato, está ocorrendo um crescimento exponencial do ensino a
distância. Mais um exemplo disso é a presença de vocês aqui. O presente curso
pretende, exatamente, usar a modalidade do ensino a distância para contribuir na
aplicação da Lei n°. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei n°. 9.394 de 20 de
dezembro de 1996 (LDB). Dentre os artigos acrescidos à LDB, através dessa última Lei,
temos o artigo 26-A, determinando que nos estabelecimentos de ensino fundamental e
médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura
Afrobrasileiras. O artigo tem dois parágrafos determinando que o conteúdo
programático incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros
no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil. Além disso, ficou definido que os conteúdos referentes
à História e Cultura Afrobrasileiras serão ministrados no âmbito de todo o currículo
escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
Brasileiras.
Para cumprir o que estabelece a Lei n°. 10.639, é preciso que tenhamos
professores capacitados em História da África e que dominem os conteúdos referentes à
História e Cultura Afrobrasileiras. Há um grande contingente de professores, no ensino
fundamental e médio, que não estão capacitados para atender essa demanda. É nesse
ponto que o ensino a distância assume papel de destaque. Tendo tal perspectiva em
mente, foi criado este curso, Educação para as Relações Étnico-raciais: A História e a
Cultura Afrobrasileiras, na modalidade de ensino a distância. Por intermédio dele,
professores da educação básica, principalmente os residentes longe dos grandes centros
ou que não podem abandonar fisicamente o seu local de trabalho estarão capacitados a
frequentar o curso, independentemente da localização geográfica dos alunos ou dos
horários em que possam estar disponíveis.
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14. Os novos desafios da EAD
Gostaria de encerrar este texto discutindo as questões da aprendizagem por meio
da modalidade de ensino a distância. Há muitos desafios. Nessa modalidade de ensino,
vocês, alunos, têm um novo papel. Devem ser participantes ativos no processo de
educação a distância. Uma habilidade importante é desenvolver a capacidade de
pesquisar e avaliar fontes de informação, transformando-as em conhecimento. Devem
também desejar dedicar uma parte de seu tempo semanal aos estudos e não ver o curso
como uma forma mais fácil de obter créditos ou um diploma. Devem gerenciar o tempo
e organizar as atividades a serem realizadas. O estudo a distância toma, geralmente,
mais tempo do que os cursos presenciais. Vocês devem também ser capazes de estudar
em ambientes informatizados, ter autodeterminação, saber selecionar, tomar decisões e
aprender de modo autônomo. Para tanto, precisam desenvolver estratégias de estudo
adequadas e utilizar e explorar os novos recursos de comunicação, criando habilidades
para participar de grupos virtuais, ter confiança no uso da tecnologia e motivação extra
para os estudos. Que vocês tenham sucesso e um bom proveito neste curso!
Referências
DIAS, Rosilânia Aparecida; LEITE, Lígia Silva. Educação a Distância: da legislação
ao pedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 7. ed.
Campinas, SP: Papirus, 2009.
LITTO, Fredric Michael; FORMIGA, Manuel Marcos Maciel (Org.). Educação a
Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
MAIA, Carmen; MATTAR, João. ABC da EaD. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2007.
ALVES, João Roberto Moreira. A história da EAD no Brasil. In: LITTO, Fredric
Michael; FORMIGA, Marcos. Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2009.
GOMES, Candido Alberto da Costa. A legislação que trata da EAD. In: LITTO, Fredric
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15. Michael; FORMIGA, Marcos. Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Censo EAD.br. São
Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010
Sítios da internet
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (ABED). Disponível
em:<www.abed.org.br/>. Acesso em: 20 set. 2010.
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RBAAD - Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância. Disponível em:
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SALA DE AULA INTERATIVA. Disponível em:<www.saladeaulainterativa.pro.br/>.
Acesso em: 4 set. 2010.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Disponível em:<portal.mec.gov.br>
- Clique em Serviços - Depois clique em Secretarias e Órgãos vinculados - Clique então
em SEED. Acesso em: 3 set. 2010.
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