1. O Coaching na Educação
Autora: Teresa Pêgo
Palavras-chave: Coach, coachee, desenvolvimento pessoal, educação;
Resumo
O caminho da aprendizagem contínua informal (aprendizagem ao longo
da vida) e não formal (aprendizagem adquirida em contexto de formação
profissional) é extremamente importante e necessário. Quando se termina o
ciclo normal da aprendizagem formal (aprendizagem escolar), é essencial a
pessoa não se deixar limitar por esses conhecimentos e, de alguma forma,
procurar expandi-los todos os dias um bocadinho.
E, para isso, é preciso uma grande abertura por parte de quem pretende
aprender mais, consciente da sua humildade e do seu estado ainda inacabado.
A vida é uma constante construção diária, em que a pessoa vai recolhendo
diversas vivências, sementes que irão, depois, germinar dentro de si para dar
lugar a novas formas de estar. Apesar de termos uma identidade única e
irrepetível, apesar de termos um feitio mais ou menos delineado, podemos
reprogramar-nos diariamente consoante as vivências que vamos tendo.
Assim, onde entra o Coaching nas nossas vidas? Entra para potenciar
atitudes mais positivas, auxilia numa postura mais autorreflexiva e numa
atitude de silêncio perante aquilo que não interessa. Contribui para o
crescimento de pensamentos salutares e de ações verdadeiramente
inspiradoras para os próprios e para os outros que os rodeiam. É, assim, uma
excelente ferramenta para cada um de nós no sentido de nos ajudar a
contornar situações que, por vezes, nos impedem de atingir os nossos
objetivos.
Então, como funciona uma sessão de coaching e quais são os papéis do
coach e do coachee?
Um coach ajuda o seu coachee a chegar à resolução dos seus desafios através
2. de questões sempre baseadas na autorreflexão que o cliente é convidado a
fazer.
O coach é um espelho, é o reflexo do seu cliente. Se o cliente diz:
“Quero motivar os meus alunos pois estão desmotivados”, o coach pega na
palavra “motivar” e questiona nessa base lançando aqui o momento reflexivo
“O que é para si motivar?”, sempre no sentido positivo, de resolução de
desafios, não havendo nunca qualquer tipo de sugestão ou comentário por
parte do coach.
O coachee tem um objetivo e pretende soluções para a resolução desse
mesmo desafio. Para isso contrata um coach que, através de questões
orientadas no momento certo baseadas sempre no discurso do cliente, vai
ajudá-lo a atingir a sua meta.
E como poderá o Coaching contribuir para uma educação mais positiva e
com maior taxa de sucesso?
De facto, e numa sociedade com cada vez mais estímulos externos que
podem desviar a atenção dos mais jovens, a tarefa de educar e motivar é, cada
vez mais, um desafio maior para as equipas escolares. Tendo em conta os
vários fatores externos que acabam por desfavorecer uma educação mais
harmoniosa (o aumento do número de alunos por turma, a instabilidade de
cada profissional de educação, a falta de apoio ao aluno por parte da família, a
utilização inapropriada das novas tecnologias, o bombardeamento de
informação descontrolada por parte dos média, entre outras), é sempre uma
peleja contínua as equipas escolares conseguirem manter sempre o mesmo
nível de entusiasmo. De notar que o conceito de equipa escolar alberga não só
os professores como os diretores e também os auxiliares de educação que
fazem parte deste contexto. Todos estes profissionais formam um todo, ou
seja, uma equipa, trabalhando de forma interligada.
Assim, o Coaching poderá ajudar no sentido de poder potenciar nos
professores, diretores, auxiliares e também alunos atitudes mais positivas e
proativas. O segredo está no investimento que cada pessoa pode fazer nela
própria, ou seja, enveredar por um caminho de consciencialização de hábitos,
3. atitudes e perspetivas e limá-las para que todas estas ferramentas,
devidamente arrumadas, propiciem ao próprio um bem-estar quase constante
que irá, posteriormente, repercutir-se nas suas vivências pessoais e
profissionais, mesmo apesar de todas as adversidades externas.
O coaching pode ajudar as equipas escolares (e qualquer
cidadão/profissional) se as pessoas assim o desejarem. Basta
consciencializarem daquilo que precisam de melhorar e de agirem em
conformidade com esse querer. Ao se ajudarem a si próprias, as pessoas vão
conseguir atingir os seus objetivos, sentindo-se realizadas, pelo que isto se vai
repercutir positivamente junto de outras pessoas que as rodeiam. Por exemplo,
um professor, que esteja consciente daquilo que pretende melhorar e atingir e
que age com todas as suas ferramentas para chegar aos seus fins, vai
obviamente transformar-se num profissional mais realizado, pelo que isso se
vai refletir, posteriormente, no contexto onde trabalha e nas pessoas que o
envolvem, neste caso os seus colegas, psicólogos, os auxiliares, que habitam o
contexto escolar e, mais importante de tudo, os alunos que sentirão o
entusiasmo do professor realizado e bem consigo próprio. O coaching, se
utilizado pela equipa escolar também pode facilmente ser utilizado com os
alunos no sentido de os ajudar a ultrapassar dificuldades que possam encontrar
ou atitudes que possam de alguma maneira melhorar. No entanto, o trabalho
será sempre do aluno, apesar de orientado pelo professor.
Falamos aqui do contexto educacional mas é claro que o coaching se
pode aplicar a qualquer indivíduo, a qualquer área profissional. O que é
relevante neste processo é que cada indivíduo aja com autonomia suficiente
para perceber o trabalho interior a ser realizado para que tudo isto o possa
beneficiar a ele e à comunidade onde está inserido.
E como pode qualquer um de nós, independentemente da nossa função,
cultivar uma atitude positiva quotidiana, quando frequentemente existem
inúmeras situações na nossa vida que nos fazem esmorecer essa mesma
atitude?
4. Como foi dito anteriormente, é importante termos, em primeiro lugar,
consciência de quem somos, do que queremos e do que pretendemos fazer nas
nossas vidas. A partir do momento em que temos essa consciência mais nítida,
é essencial transformar os sonhos e as ideias em ações e trabalhar nelas para
que possamos sentir que nos estamos a cumprir verdadeiramente. De realçar
que nesta vontade de alcançar estas atitudes positivas é realmente relevante o
trabalho interior que cada pessoa terá de começar ou continuar a empreender:
um trabalho que é árduo, quotidiano, exigindo de cada pessoa muita
consciência, reflexão, disciplina, perseverança e, acima de tudo, amor-próprio.
Claro está que nós não estamos sós no mundo e na sociedade e
precisamos de trabalhar, quase diariamente, com outras pessoas e isso não é,
obviamente, uma tarefa fácil mas é algo possível, se com as atitudes
adequadas, se com o devido burilar interno que implica, muitas vezes, uma
transformação no indivíduo, um rompimento com velhos paradigmas que não
lhe servem mais e o abraçar de um trilho mais autêntico e mais coerente com a
sua própria maneira de ser.
Desta forma, e com outras práticas que cada um poderá considerar
como sendo as melhores para o seu bem-estar interior e consequentemente
exterior (práticas estas que têm de ser descobertas pelo próprio, por exemplo:
- uma caminhada diária,
- meditação,
- prática de um desporto específico,
- escrita terapêutica,
- programas em família ou com os amigos;
Desta forma, pode-se cultivar, assim, uma atitude positiva que se irá
repercutir na vida pessoal e profissional de cada indivíduo.
5. Coaching na Educação
1. O que é o Coaching?
2. Quais os papéis do Coach e do Coachee ou Cliente?
“Mantenha-se afastado das pessoas que tentam depreciar sua ambição.
Pessoas pequenas sempre fazem isso, mas as realmente grandes fazem você
sentir que você, também, pode-se tornar grande.”
( Mark Twain )
O coaching é a arte de fazer brilhar os outros, através de questões
orientadoras que levam o coachee a refletir sobre os seus próprios objetivos
ou mesmo ladrões de energia, ou seja, aqueles pensamentos que furtam o
entusiasmo para concretizar os objetivos por ele definidos. De notar que
existe beleza nesta arte pois o coach assiste à transformação do outro, à sua
metamorfose em algo que o coachee desconhecia ou que sentia, de alguma
forma, adormecido. Assiste-se ao desabrochar da borboleta que se
libertou da crisálida bafienta, repleta de condicionamentos sufocantes.
O coach é uma espécie de arqueólogo, no sentido de encontrar, através
da reflexão do coachee, as preciosidades que fazem parte da essência do
coachee e das quais ele, por vezes, não está plenamente consciente.
“A maior parte das pessoas vive – quer física e intelectualmente, quer
moralmente – num círculo muito restrito do seu ser potencial. Todos temos
reservatórios de vida aos quais recorrer que nem sequer imaginamos.”
(William James)
O coach auxilia precisamente neste desbravar da profundidade do
cliente, ajuda através de perguntas poderosas, na reflexão introspetiva
que cada coachee faz no sentido de encontrar ele próprio as respostas
para as suas dúvidas, para as suas questões.
6. O livro “Coaching com PNL” de Andrea Lages e Joseph O’Connor
apresenta-nos definições de coaching, explica o funcionamento desta
mesma ferramenta, do perfil e características de um coach e de como a
PNL, ou seja, a programação neurolinguístca pode ser útil no processo de
coaching. Um livro que sublinha o facto de o coaching ser uma ponte entre o
sonho, que reside na esfera cerebral de uma possível utopia, e a
realidade pragmática da concretização desses mesmos sonhos em
objetivos.
O objetivo de um coach é precisamente ajudar o coachee a fazer a
passagem entre uma margem, a do universo enevoado dos medos,
indecisões, condicionamentos, para a outra que é a do universo prático da
responsabilização e da ação das estratégias refletidas. Para além disso, um
coach liberta, de uma certa forma, o cliente do “limbo” onde se encontra.
Considero muito interessante esta afirmação “Um coach não é apenas
um mágico, mas também um batalhador pela liberdade.” (in “Coaching com
PNL”, de Andrea Lages e Joseph O’Connor) porque realmente é uma frase que
resume o que deve ser um coach e qual o seu objetivo durante uma sessão
de coaching. É indubitável que o coach é aquele que se envolve, quotidianamente,
numa peleja pela liberdade, numa luta constante pelo libertar de amarras, de
condicionamentos que são impeditivos da concretização de ideias que esperam numa
dimensão povoada pela cor da incerteza. Estes condicionamentos são hábitos
enraizados no fundo do ser do cliente que demoram a ser desprogramados, pois cada
cliente tem o seu ritmo próprio. No entanto, cabe ao coach dar liberdade ao cliente
para desatar esses nós que aprisionam os movimentos do coachee e que o deixam,
muita das vezes, em estados de ansiedade e frustração. Para desatar esses nós é
necessário que o coach seja assertivo, que confronte o cliente com a realidade,
com a ação, com as estratégias e que não o deixe disperso, numa navegação sem
rumo.
Acima de tudo, o coachee pretende ser feliz, despir-se de tudo aquilo
que é fútil, desconfortável, de tudo aquilo que lhe cria muros, aparentemente
7. intransponíveis, para chegar à sua libertação e liberdade. Para o fazer e para o
conseguir, é necessário que o coach adote uma atitude correta, de plena
presença, de focalização consciente para poder entrar num baile entre ele e o
seu cliente e poder assistir à busca interior, à reflexão promovida pelas
perguntas que vai lançar ao coachee. O coach irá orientar este último para
outros caminhos através da formulação de questões. No entanto, de sublinhar
que não é pretendido um somatório de questões inquisidoras mas sim
questões que serão lançadas porque o coachee as pediu através da formulação
dos seus pensamentos. O coach terá de numa atitude de verdadeira presença,
entender a linguagem verbal e também a linguagem não verbal e tornar tudo
isso objeto de reflexão para auxiliar o seu cliente na demanda de caminhos
exequíveis para a obtenção do seu objetivo. Para se poder realmente conhecer
o coachee e notar algo de diferente nos seus movimentos corporais, no entoar
da sua voz que poderão ser significativos para a formulação de questões, o
coach deve estar extremamente presente, atento à pessoa que tem pela frente,
surdo aos seus próprios ruídos interiores, o que significa que o coach deve-se
silenciar antes de iniciar uma sessão.
De notar ainda que todas as questões formuladas a partir do discurso do
coachee serão sempre orientadas para um pensamento positivo, para uma
ação positiva, serão questões sempre colocadas com o intuito de dar algum
suporte ao seu cliente, de o fazer ver (através do tal exercício da auto-reflexão)
que realmente tem um potencial ilimitado e que depende dele torná-lo visível e
explorá-lo da melhor forma na sua vida quotidiana. A questão pragmática, no
processo de coaching, é fundamental na medida em que o coach tem o dever
de orientar o coachee no caminho da ação, tem a função de o auxiliar na sua
reflexão mas sempre no sentido de agir e não de se deixar ficar na dimensão do
pensamento e do sonho, no tal limbo a que me referi anteriormente.
Outra questão verdadeiramente importante é o facto de o coach não
ser de todo um terapeuta, não se esperando dele qualquer tipo de orientação,
de emissão de juízo de valor, de opinião sobre qualquer reflexão que
esteja a ser elaborada por parte do cliente. O coach tem de ser espelho, não
8. querendo isto dizer que esteja completamente indiferente ao mesmo,
pois deve haver também, logo no começo da sessão de coaching, um
estabelecimento de “rapport” que irá ajudar a que a sessão de coaching flua
naturalmente pois o clima de confiança está já estabelecido.
Considero também relevante o facto de se acentuar neste livro que o
cliente é responsável por ele próprio, pelas suas reflexões e,
consequentemente, pelas suas ações, não havendo qualquer tipo de
delegação de responsabilidade no coach. Isso é algo que logo à partida, na
sessão de briefing antes da sessão de coaching propriamente dita, tem de
ser esclarecido. O coach deve desde logo explicar ao coachee que numa
sessão de coaching pretende-se que o cliente faça uma reflexão sobre o
objetivo que trouxe para a sessão mas um exercício individual, numa
espécie de monólogo, orientado, ocasionalmente, por questões que o coach
julgará pertinentes, no sentido sempre de auxiliar o cliente a atingir de
forma plena o seu objetivo.
De sublinhar ainda o facto de o coach não poder tomar partido em
opiniões e muito menos em sentimentos, pelo que é necessário, senão
imprescindível, haver um afastamento, um ser-se neutro a qualquer
sentimento verbalizado, o que implica uma grande gestão interior dos
sentimentos, uma grande serenidade de espírito, um sentimento pleno de
ausência de ruídos, um domínio total da sua essência e da sua mente.
De uma certa forma o processo de coaching faz com que o
cliente, adormecido ou estagnado numa dimensão enevoada, se
aperceba do seu valor e das suas verdadeiras capacidades que estão
dentro de si mas, por vezes, aprisionadas por condicionamentos criados,
muitas das vezes, por outros que não o cliente. Assim, de sublinhar o que é
referido no Código de Ética da ISPC “ Através do Processo de Coaching os
clientes aprofundam o seu auto- conhecimento, encaram as mudanças
desejadas, orientam-se para a Acção, produzindo abertura a mais
9. aprendizagem, melhoria do desempenho e da sua qualidade de vida.” (in
Código de Ética, International School of Professional Coaching)
“Confia em ti mesmo. Cria o tipo de vida que te fará feliz para o resto
dos teus dias. Aproveita as tuas capacidades ao máximo, transformando
as pequeninas centelhas de possibilidade que tens dentro de ti em
chamas de conquista.” (in “O monge que vendeu o seu ferrari” de Robin
Sharma)
O Coaching na Educação – um aliado profícuo
O Coaching é sempre uma ferramenta de grande utilidade para
qualquer área, no entanto penso que nesta área é fundamental dado que se
trabalha essencialmente com o ser humano e, como se sabe, todas as pessoas,
apesar de serem idênticas em termos estruturais, são diferentes a nível
comportamental, de filosofias de vida, de gostos e hábitos culturais, o que
também acaba por ser enriquecedor, isto porque a diversidade acaba sempre
por ser benéfica.
Foi feito um inquérito a vários profissionais da educação precisamente
sobre as sessões de coaching que tinham realizado, procurando saber-se quais
as vantagens e a utilidade das mesmas na vida destas pessoas. A maior parte
dos inquiridos refere a utilidade destas mesmas sessões, nomeadamente a
nível da consciencialização de determinadas atitudes, do aumento do
autoconhecimento, gerando sentimentos de uma maior autoconfiança,
promovendo também um clima relacional muito mais interessante e vantajoso.
De facto, a consciencialização de si, das suas atitudes, posturas,
comportamentos e filosofias de vida é essencial para se conseguir ter sucesso
nas suas metas. De qualquer forma, referenciaram que é importante haver um
equilíbrio noutras áreas de vida para que tudo o resto e especialmente a parte
profissional possa desenvolver-se de forma apropriada. É importante não
esquecer também de que este exercício deve ser quotidiano, levando a que a
pessoa adote um comportamento de compromisso face aos objetivos que
delineou. Desta maneira, e como muitos dos inquiridos referenciaram, é crucial
10. haver constantemente uma postura de autoquestionamento de si, no sentido
de se querer aperfeiçoar enquanto pessoa e profissional. Para além de tudo
isto, foi referido que o coaching auxilia na gestão pessoal de prioridades,
ajudando a organizar melhor as ideias e, consequentemente, atitudes,
ajudando ainda a focalizar em objetivos mais concretos, encurtando o
pensamento divergente quando ele não é benéfico. Acima de tudo, ter a noção
de que é preciso cada vez mais apostar no desenvolvimento pessoal de cada
indivíduo para haver uma verdadeira transformação. Só tendo conhecimento
de si próprio é que a pessoa se pode aperfeiçoar e se consegue focar nas suas
metas, procurando posteriormente ajudar os outros. Ao se entregar ao
exercício do desenvolvimento pessoal quotidiano é que poderá de alguma
forma concretizar aquilo que almeja.
O que é o desenvolvimento pessoal ou estratégias para nos melhorarmos:
“Sou um artista no meu modo de viver – a minha vida é a minha obra de
arte.”
Suzuki
O desenvolvimento pessoal pressupõe o aperfeiçoamento constante em várias
áreas como por exemplo: as competências de vida (saber ser, saber estar e
saber fazer), o relacionamento interpessoal, o ininterrupto auto-conhecimento,
as atitudes face à maneira de encarar a vida, a realização pessoal e profissional.
Tudo isto contribui para um contínuo desenvolvimento do ser.
O ser humano passa toda uma vida a desenvolver-se, no início com a
orientação de outros seres humanos sempre com o intuito de se aperfeiçoar,
de evoluir enquanto pessoa e também enquanto cidadão/ã inserido/a numa
sociedade.
De facto, parece-me cada vez mais que o desenvolvimento pessoal é
fundamental para o indivíduo, no sentido de o ajudar a compreender-se melhor
para depois, posteriormente, poder entender e relacionar-se melhor com os
11. outros. Parece-me no entanto que a sociedade atual não está ainda consciente
da importância deste desenvolvimento contínuo, apostando apenas no lado
mais pragmático do indivíduo, esquecendo a parte espiritual. Algumas pessoas
ficaram impregnadas por este pragmatismo e ainda por um consumismo
desenfreado de objetos que lhes parecem atenuar um pouco a necessidade
que têm de serem felizes. Consideravam, na minha opinião erradamente, que o
material poderia anestesiar a avidez que sentiam pela felicidade.
Creio que existem ainda inúmeros elementos distratores do que é realmente
relevante para o alcance da plena felicidade, como por exemplo os meios de
comunicação social, o desenvolvimento desenfreado das novas tecnologias que
vieram afastar o ser humano de si próprio, levando-o a interessar-se, de forma
obcecada, quase doentia, por estes mesmos elementos. Não quero com isto
dizer que as pessoas se devem fechar ao mundo, se devem transformar em
eremitas, procuro apenas dizer que deve haver sim um equilíbrio em tudo o
que se faz, permitindo à pessoa ter um tempo para se dedicar a uma
autoanálise diária que se poderá repercutir favoravelmente na sua vida
quotidiana e nos seus relacionamentos.
Sem dúvida que é importante dedicar uma grande parte da nossa vida ao que
não é visível, ao que não é palpável, ao que é abstrato e não mensurável. Já lá
dizia Saint-Exupéry que “O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o
coração.” Creio ser de extrema relevância a pessoa procurar-se e fazer disso um
exercício diário, rotineiro de forma a conhecer-se cada vez melhor, fazendo
com que posteriormente a sua relação com os outros e com o mundo seja
melhor.
De qualquer forma, considero que é necessária uma grande força de vontade
para se contrariar aquilo que foi construído por outros ao longo de anos e difícil
e moroso é a pessoa conseguir desconstruir todos os condicionamentos e os
sonhos contidos, criticados e até proibidos pela própria
sociedade/comunidade. No entanto, creio que este mergulho interior
quotidiano é uma das formas da pessoa se encontrar enquanto ser humano, de
12. poder encontrar a sua verdadeira essência, conseguindo depois chegar aos
outros. E isso muitas das vezes pode implicar algum sofrimento, alguns
processos de luto de vivências passadas que já não são mais úteis para o
usufruir pleno do agora. Depois de caminhar no sentido da aceitação, da
aprendizagem com as experiências promotoras de algum desconforto e
sofrimento, depois desta morosa peleja, é mais fecunda a busca de um outro
trilho no sentido ascendente. Desta forma, a pessoa deve-se liberar de todo o
ruído para atingir o silêncio interior e a felicidade de simplesmente ser.
“Para transcenderes a dor, primeiro tens de senti-la. Ou, por outras palavras,
como é que podes verdadeiramente sentir a alegria de estar no cume da
montanha, sem visitares primeiro o fundo do vale?(…)”
Robin Sharma
Penso que atualmente algumas pessoas já começaram a despertar, a
perceber que existe algo mais dentro delas que lhes permite vencer
muitas adversidades da vida e o que existe é a sua verdadeira essência, as suas
potencialidades enquanto ser humano dotado de dons particulares. A
época atual, apesar de crítica, propicia, no meu entender, a criatividade, a
auto-reflexão, a procura de algo mais para além do material, do que é
mensurável. Parece-me que as pessoas começam cada vez mais a
perceber onde reside a felicidade e o caminho é precisamente o
desenvolvimento pessoal, é o iniciar de um turismo interior nunca antes
experienciado e extremamente apelativo, porque desconhecido. De sublinhar
que algumas pessoas entendem agora que a vida é para ser vivida
plenamente, que é para ser sentida com entusiasmo de forma a poder
transmiti-lo ao que as circunda de forma positiva.
Desta forma, creio ser essencial frequentar cada vez mais cursos de
desenvolvimento pessoal: coaching, gestão emocional, liderança, gestão de
equipas, programação neurolinguística, pois considero que os mesmos ajudam
a potenciar atitudes positivas, auxiliam numa postura cada vez mais auto-
reflexiva e numa atitude de silêncio perante aquilo que não interessa, para o
13. florescimento de pensamentos salutares e de ações verdadeiramente
inspiradoras para os próprios e para os outros que os rodeiam. Acabam ainda
por calar as vozes sôfregas da mente que pretendem invadir a essência,
fazendo elevar o ego.
“Nunca te esqueças do quão importante é viver com um entusiasmo
desenfreado. Nunca deixes de ver a beleza extraordinária de todos os seres
vivos. O dia de hoje, este preciso instante, é um dom. Concentra-te na missão
da tua vida. O Universo encarregar-se-á de tudo o resto.”
Robin Sharma
Considero que, acima de tudo, é essencial conhecermo-nos, termos a
consciência daquilo que pretendemos, sermos verdadeiros connosco próprios
e, para isso, é preciso algum trabalho de introspeção e de procura. Ao fazermos
este trabalho, podemos de repente perceber, de forma clara, quais são os
nossos sonhos e objetivos e, a partir, desse momento, ir na demanda dos
mesmos. Por vezes, ao realizarmos este trabalho, ou seja, ir na procura de nós
próprios, poderá ser um desafio desconcertante, na medida em que poderemos
ter de desconstruir muitas das ideias que tínhamos sobre nós (ideias negativas
que nos poderiam impedir de viver a vida na sua total plenitude), havendo,
então, a necessidade iminente de uma total reprogramação para atingir a
harmonia. Penso que o exercício de desconstrução é o desafio mais árduo pois
temos de rumar contra a maré de preconceitos, de ideias predefinidas, de
regras impostas por outros e construir o nosso próprio caminho, baseado
apenas nas nossas convicções, na verdade que consideramos nossa, seguindo o
nosso elemento, a nossa missão na vida.
Bibliografia
- Bach, Richard, 1983, Fernão Capelo Gaivota, USA, Publicações Europa-América
- Lages, Andrea e O’Connor, Joseph, 2004, Coaching com PNL, Qualitymark
- Sharma, Robin, 2009, O Monge que vendeu o seu ferrari, Pergaminho