SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 163
Baixar para ler offline
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte
Brazilian Journal of Physical Education and Sport
São Paulo v.31 Suplemento n.10 outubro 2017
ISSN 1807-5509
e-ISSN 1881-4690
20 e 21 de outubro de 2017
Centro de Educação Física e Desportos
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
Vitória, ES - Brasil
Coordenação Geral
Comissão Científica
Prof. Dr. Mauricio Santos Oliveira (CEFD-UFES)
Prof. Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE-USP)
Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (FEF-Unicamp)
Profa. Dra. Eliana de Toledo (FCA-Unicamp)
Prof. Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (FEF-Unicamp)
Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP-USP)
Prof. Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE-USP)
Profa. Dnda. Kizzy Antualpa (EEFE-USP)
Prof. Dnda. Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima (FEF-Unicamp)
Comissão Organizadora
Yan Tavares Galdino da Silva - Graduação (CEFD-UFES)
Prof. Dnda. Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima (FEF-Unicamp)
Profa. Dnda. Kizzy Antualpa (EEFE-/USP)
Comissão de Apoio
Matheus Agnez de Oliveira (CEFD-UFES)
Lucas Fraga Pereira (CEFD-UFES)
Carlos Eduardo Santos de Castro (CEFD-UFES)
Franciny dos Santos Dias (CEFD-UFES)
Kamau Osei Fregonesi Ferreira Monteiro (EEFERP-USP)
Vitor Ricci Costa (EEFERP-USP)
Caroline Inácio Molinari (EEFERP-USP)
Ari Damaceno (EEFERP-USP)
Lucas Lordello (FCA-Unicamp)
Mateus Henrique de Olveira (FCA-Unicamp)
Vanessa Pizzol (FCA-Unicamp)
Gabriel Ventura (FCA-Unicamp)
Kassia Mitally Carvalho (FEF-Unicamp)
Bruna Locci (FEF-Unicamp)
Camila Milani (FEF-Unicamp)
Fernanda Raffi Menegaldo (FEF-Unicamp)
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Solange Alves Santana (EEFE-USP)
Profa. Msda. Pâmela Pires da Silva (EEFE-USP)
Profa. William Ferraz de Santana (EEFE-USP)
Apoio Comissão Científica
Pareceristas
Dra. Andrize Ramires Costa (UFPEL)
Dr. Carlos Manoel dos Reis Araújo (Universidade do Porto)
Dr. César José Duarte Peixoto (Universidade de Lisboa)
Dra. Eliana de Toledo (FCA/UNICAMP)
Dra. Elizabeth Paoliello (UNICAMP)
Dra. Ieda Parra Barbosa Rinaldi (UEM)
Dr. Ivan Cuk (Universidade de Liubliana)
Dra. Ivana Montandon Soares Aleixo (UFMG)
Dr. João Carlos Oliva (UFRGS)
Dra. Juliana Pizani (UFSC)
Dra. Laurita Marconi Schiavon (UNICAMP)
Dra. Ligia Andrea Pereira Gonçalves (UEL)
Doutoranda Lorena Nabanete dos Reis (UFC)
Dr. Luiz Mochizuki (EACH/USP)
Dra. Marcia Regina Aversani Lorenço (UNOPAR)
Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (UNICAMP)
Dra. Maria de Lurdes Ávila Carvalho (Universidade do Porto)
Dra. Maria Luisa Belloto Bortoleto (FISEX-UNICAMP)
Dra. Mariana Harumi Cruz Tsukamoto (EACH/USP)
Dr. Mateus Finco (UFPB)
Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP)
Dr. Paulo Carrara (FMU)
Doutoranda Priscila Regina Lopes (UFVJM)
Dra. Regina Maria Rovigati Simões (UFTM)
Dra. Roberta Cortez Gaio (UNINOVE/UNISAL)
Dra. Rossana Travassos Benck (UNB)
Dra. Silvia Deutsch (UNESP)
Doutoranda Thais Cevada D’Almeida (UERJ)
Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE/USP)
Apoio Acadêmico-Científico
Laboratório de Ginástica - LABGIN/UFES
Grupo de Estudos e Pesquisa em Ginástica da USP - GYMNUSP
Grupo de Pesquisa em Ginástica do Laboratório de Experiências e Pesquisas em Ginástica LAPEGI/FCA/
UNICAMP
Grupo de Pesquisa em Ginástica FEF/UNICAMP
Apoio Técnico
Science of Gymnastics Journal
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte - EEFE-USP
Setores e Funcionários do CEFD/UFES
Apoio Científico
Programação
20/10 (sexta-feira)
12h Credenciamento e retirada de materiais
14h às 17h30 Atividades Simultâneas
MiniCurso GA I
Técnicas para desenvolvimento de giros longitudinais
Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente na Universidade de Friburgo, na Alemanha e presidente do
Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica)
Mediação: Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (FEF/UNICAMP)
Local: Sala de ginástica CEFD/UFES
MiniCurso GR I
A utilização dos elementos pré-acrobáticos nos exercícios de Ginástica Rítmica individual e
de conjuntos
Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente na Universidade de Friburgo, na Alemanha e presidente do
Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica)
Mediação: Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (FEF/UNICAMP)
Local: Sala de ginástica CEFD/UFES
Observação: Intervalo entre 15h30 e 16h00
19h00 Solenidade de Abertura
Local: Auditório CEFD/UFES
19h30 Conferência de Abertura
Mediação: Prof. Dr. Mauricio Santos de Oliveira (Presidente do V SIGARC e docente do
CEFD/UFES)
Local: Auditório CEFD/UFES
21/10 (sábado)
9h Sessão de Pôsteres
Local: Ginásio poliesportivo do CEFD/UFES
10h00 - 10h30 Intervalo
10h30 Mesa-Redonda I (Atividades Simultâneas)
Ginástica Artística I
Da formação ao alto rendimento na Ginástica Artística
Profa. Mestranda Caroline Molinari (Seleção Olímpica de 2004 e corpo técnico da seleção
brasileira nos ciclos olímpicos de 2005-2008, 2009-2012 e 2013-2016)
Prof. Esp. Hugo Lopes Oliveira (Formado em Educação Física na Unimesp - Fig em Guarulhos
- SP e pós graduado na Universidade Gama Filho em Treinamento Desportivo. Técnico de
Ginástica Artística Masculina no clube Serc Santa Maria, em São Caetano do Sul).
Mediação: Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP)
Local: Mini-auditório CEFD/UFES
Ginástica Rítmica I
Capacitação, mudança de normas e desafios da arbitragem em Ginástica Rítmica
Profa. Ms. Marcia Regina Aversani Lourenço (Coordenadora do curso de Especialização em
Ginástica Rítmica da UNOPAR e árbitra Internacional da Confederação Brasileira de Ginástica)
Profa. Dra. Catarina Paula Leandro Sousa Silva (Docente na Universidade Lusófona do Porto,
árbitra Internacional e formadora na Escola Nacional de Ginástica da Federação de Ginástica de
Portugal)
Mediação: Doutoranda Bruna Locci (FEF/Unicamp)
Local: Auditório CEFD/UFES
12h00 - 14h00 Almoço
14h00 - 15h30 Mesa-Redonda II (Atividades Simultâneas)
Ginástica Artística II
Treinamento em Ginástica Artística: pedagogia e tecnologia
Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente da Universidade de Friburgo na Alemanha, presidente do
Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica)
Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (docente da Universidade Estadual de Campinas e
membro da comissão de educação da Federação Internacional de Ginástica)
Mediação: Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (FEF/UNICAMP)
Local: Auditório do CEFD/UFES
Ginástica Rítmica II
Aspectos da periodização e desenvolvimento do alto rendimento da Ginástica Rítmica
Profa. Dra. Kizzy Fernandes Antualpa (Ex-ginasta da seleção brasileira, treinadora e árbitra de
Ginástica Rítmica e doutorado em Ciências na EEFE/USP)
Profa. Patrícia Luiza Bremer Boaventura (Docente na Universidade Federal de Santa Catarina,
ex-ginasta e treinadora de Ginástica Rítmica)
Mediação: Profa. Dra. Eliana de Toledo (FCA/UNICAMP)
Local: Mini-auditório CEFD/UFES
15h30 - 16h00 Intervalo
16h00 - 18h00 Atividades Simultâneas
Minicurso GA II
Aspectos do treinamento de alto rendimento na Ginástica Artística
Profa. Mestranda Caroline Molinari (seleção olímpica de 2004 e corpo técnico da seleção
brasileira nos ciclos olímpicos de 2005-2008, 2009-2012 e 2013-2016)
Mediação: Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP)
Local: Sala de ginástica CEFD/UFES
Minicurso GR II
O trinômio “corpo, música e aparelho” na Ginástica Rítmica de alto rendimento
Profa. Ms. Monika Queiroz (Graduada em Educação Física e mestre em História na
Universidade Federal do Espírito Santo, treinadora da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de
2008 e 2016) e treinadora no mundial de 2017, em Pesaro, Itália)
Mediação: Profa. Dra. Kizzy Fernandes Antualpa (EEFE/USP)
Local: Sala de dança CEFD/UFES
19h00 - 20h30 Conferência de Encerramento
Ginástica Artística, mudanças socioculturais e prolongamento da carreira esportiva
Profa. Dra. Myrian Nunomura (ex atleta, árbitra e treinadora de Ginástica Artística, professora
titular da Universidade de São Paulo e autora de livros e artigos no âmbito da Ginástica)
Mediação: Profa. Dra. Michele Carbinatto (EEFE/USP)
Local: Auditório CEFD/UFES
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10 •
ISSN 1807-5509
e-ISSN 1981-4690
Sumário
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 31, outubro 2017. Suplemento n. 10
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Apresentação
Artigos
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo: influências políticas no desenvolvimento da
ginástica artística.
LIMA, Letícia Bartholomeu de Queiroz; SILVA, Pâmela Pires da; SCHIAVON, Laurita Marconi;
SANTANA, William Ferraz de; CARBINATTO, Michele Viviene
A parceria público-privada no contexto esportivo: o caso de uma equipe de ginástica rítmica da cidade
de Campinas-SP.
MENEGALDO, Fernanda Raffi; TOLEDO, Eliana de; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho
A ginástica no terceiro setor: um estudo de caso da REMS (rede esporte pela mudança social).
ASSUMPÇÃO, Bianca; TOLEDO, Eliana de
A compreensão e a avaliação do componente artístico da ginástica artística.
OLIVEIRA, Mauricio Santos; PIRES, Fernanda Regina; ROBLE, Odilon;
MOLINARI, Caroline Inácio; NUNOMURA, Myrian
Ginástica de trampolim: estudo do processo de institucionalização e suas consequências no Brasil.
ROVERI, Murilo Guarniei; CARRARA, Paulo; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho
Motivação para o início da prática de ginástica rítmica.
OLIVEIRA,Laurade;OLIVEIRA,MaurícioSantos;COSTA,VítorRiccida;MyrianNUNOMURA
Resumos
Índice de Autores dos Resumos
Osartigosapresentadossãoderesponsabilidadedosautores.OsresumosforamaprovadospelosrevisoresdoSeminário.
i
1
15
29
41
51
63
R.73
R.153
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10 • i
V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Apresentação
Prezados colegas, acadêmicos, pesquisadores,
treinadores, ginastas, árbitros, pós-graduandos,
graduandos e todos aqueles envolvidos com a Ginástica,
temos o prazer de convidá-los a participar do Seminário
Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de
Competição (SIGARC) 2017, que graças às experiências
anteriores, acrescido ao apoio das Universidades e
Instituições parceiras, está em sua 5ª edição.
O presente evento visa, por meio de conferências,
mesas-redondas, oficinas e exposição de trabalhos
científicos no formato pôster, propor um espaço de
reflexão e de compartilhamento de conhecimento,
inovação, tecnologia e experiências que viabilizem
a continuidade do processo de desenvolvimento da
Ginástica no Brasil.
O SIGARC 2017 será realizado nas dependências
do Centro de Educação Física e Desportos da
Universidade Federal do Espírito Santo, na cidade
de Vitória. Terra natal das ginastas capixabas Natalia
Gaudio, Francielly Machado e Emmanuele Lima
representantes do Brasil na Ginástica Rítmica nos
Jogos Olímpicos de 2016. E, também, da treinadora
Monika Queiroz que atuou em duas edições das
Olimpíadas (2008 e 2016).
Os proponentes do evento, assim como os demais
organizadores, ocupam posições de destaque no
estudo em Ginástica no cenário regional, nacional
e internacional atuando, principalmente, por meio
de seus grupos de pesquisa, os quais: Laboratório de
Ginástica (LABGIN/CEFD/UFES); Grupo de Pesquisa
em Ginástica (GPG/FEF/ UNICAMP); Laboratório
de Pesquisas e Experiências em Ginástica (LAPEGI/
FCA/UNICAMP); e Grupo de Estudos e Pesquisas em
Ginástica da USP (GYMNUSP).
As universidades públicas voltam a reunir seus
esforços para concretizar mais uma edição do
SIGARC, assumindo o compromisso de contribuir
na produção do conhecimento científico da área. Em
suma, estamos diante de mais uma oportunidade para
prestigiar os trabalhos em Ginástica no país e do exterior.
A missão do SIGARC é criar aproximações entre
estudantes, árbitros, treinadores, ginastas, pesquisadores
e outros profissionais que atuam com a Ginástica, para
que compartilhem e se beneficiem mutuamente. Este é
um dos caminhos para o crescimento e desenvolvimento
da nossa Ginástica, beneficiando a todos.
Objetivos
O objetivo do SIGARC 2017 é discutir,
compartilhar e difundir os saberes entre treinadores,
acadêmicos e demais pessoas envolvidas com a
Ginástica competitiva. Com esse intuito, especialistas
nacionais e internacionais expressivos debaterão
diversos temas relacionados à Ginástica Artística e
Ginástica Rítmica com os participantes.
O encontro é oportunidade de intercâmbio de
conhecimentos e que será concretizada na forma
de comunicações orais, apresentações de pôsteres,
workshops e conferências.
Acreditamos que o público participante poderá se
atualizar sobre temas relacionados à Ginástica Artística
e Ginástica Rítmica com profissionais que atuam
no âmbito nacional e internacional; criar network
para futuras colaborações e parcerias; e compartilhar
experiências práticas com seus pares.
Destacamos que os conferencistas internacionais
também ministrarão palestras nas instituições
promotoras do evento e, assim, ampliarão o impacto
de sua passagem pelo Brasil.
Por fim, outro objetivo de destaque do evento é
aproximar treinadores e pesquisadores, situação ainda
incipiente e que dificulta o crescimento do esporte
no Brasil.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 1
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Introdução
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo:
influências políticas no desenvolvimento da ginástica artística
Letícia Bartholomeu de Queiroz LIMA*
Pâmela Pires da SILVA**
Laurita Marconi SCHIAVON*
William Ferraz de SANTANA**
Michele Viviene CARBINATTO**
No mundo contemporâneo, o Esporte pode
ser considerado um maiores fenômenos culturais
do mundo contemporâneo1-2
e se estabelece como
uma massiva e importante manifestação da cultura
e das sociedades. Sua consolidação é exemplificada
pela quantidade de modalidades sistematizadas e
institucionalizadas que passaram a ser praticadas
no mundo todo3
.
Inclusive, mesmo que não praticantes de uma
modalidade esportiva, somos cerceados e influenciados
diariamente pelo Esporte, quer seja na programação de
lazer dos aparelhos públicos, nos programas televisivos,
na moda, dentre outros4-5
. Não obstante, o esporte
carrega,desdeaAntiguidade,umarelaçãocominteresses
políticos e estratégias de diversas instituições e órgãos
governamentais,pelosseusvalores,influênciasesuafácil
utilização6
,bemcomopassouaserconsideradocomoum
produto/bemdeconsumo7
.
Nestesentido,ocrescentenúmerodepatrocinadorese
decapitalenvolvidoemtransmissõeseeventosesportivos
superaram as necessidades do Esporte e dos atletas e se
voltaramparaosinteressespolíticosedaprópriamídia6
.
Dessa forma, há “[...] uma valorização excessiva do
espetáculo e do show em detrimento das características
da modalidade esportiva”6
, ou seja, o Esporte e o atleta
foramdeixadosemumsegundoplano.
Influenciada pela Pedagogia Geral e a Ciência do
Desporto, a Pedagogia do Esporte passa a questionar
“o que, como e o por que” esportivo em diferentes
contextos8
, dentre os quais, a relação entre a
competição e a política vigente.
É sabido que estudos de caráter político e com
http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10001
Resumo
O presente artigo discute aspectos políticos que interferem no desenvolvimento competitivo de ginastas do
estado de São Paulo. Para tal, utilizou-se como exploração dois eventos esportivos tradicionais do estado: os
Jogos Regionais (JR) e Jogos Abertos (JA). A pesquisa foi dividida em duas fases: em um primeiro momento,
uma pesquisa documental, com análise dos documentos oficiais dos JA nos anos de 2011 à 2014, com o
objetivo de descrever as principais características deste campeonato na Ginástica Artística (GA); e no segundo
momento, uma pesquisa de campo, a qual foram entrevistados 17 treinadores que atuaram nos JA do ano
de 2014. As entrevistas foram gravadas na íntegra, transcritas, e posteriormente analisadas pela Análise de
Conteúdo. Como resultados, notamos que: a. os eventos têm grande importância para as prefeituras, pois
representam a supremacia das cidades; b. a contratação de atletas não gera benefícios permanentes para os
municípios e pode encobrir realidades de algumas cidades em relação ao fomento da modalidade, além de ir
contra os objetivos dos JR e JA; c. as questões financeiras foram consideradas primordiais para um adequado
trabalho na formação de ginastas e, também, para a obtenção de resultados; d. estes eventos apresentam um
forte caráter massificador, pois auxiliam no desenvolvimento de treinadores, árbitros e ginastas, aumentando
a possibilidade de experiência para os árbitros e de competição para os atletas.
PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Competição; Formação Esportiva; Política; Contratação de Atletas.
*FaculdadedeEducação
Física, Universidade
Estadual de Campinas,
Campinas, SP, Brasil.
**Escola de Educação
Física e Esporte,
Universidade de São
Paulo, São Paulo, SP,
Brasil.
2 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Lima LBQ, et al.
interfaces com a competição passaram, neste século,
a ser incitados nas pesquisas científicas9
. A inter-
relação entre esporte e política se configura em uma
vasta possibilidade de análise: a utilização ideológica
de apoio ao sistema político, propaganda de
governo, avaliação da atuação institucional de órgãos
dedicados, regulamentação do mercado esportivo, a
utilização de recursos aplicados nos diferentes níveis
governamentais, dentre outros. Quando analisamos
questões políticas em uma modalidade esportiva
específica, como a Ginástica Artística (GA), são
incipientes e praticamente nulos os estudos que
abordem o assunto10-11
.
Por este motivo, o presente artigo discute aspectos
políticos que interferem no desenvolvimento
competitivo de ginastas do estado de São Paulo
e, para tal, utilizou como exploração dois eventos
esportivos tradicionais do Estado, os Jogos Regionais
(JR) e os Jogos Abertos (JA).
Ambasascompetiçõessãorepresentativasnointerior
paulistaparadiversasmodalidadesesportivas(incluindo
a Ginástica Artística), pois abrangem um elevado
número de participantes, auxiliam na divulgação
da modalidade, e, por vezes, são responsáveis pela
manutenção dessa prática em diversos municípios
do interior do estado de São Paulo, que aparenta não
se desenvolver tecnicamente da mesma forma que a
Região Metropolitana de São Paulo12
.
Os JR acontecem desde 1950 e são organizados
pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do
estado de São Paulo (SELJ-SP) em conjunto com
os municípios sede de cada ano, sendo realizado em
oito regiões esportivas distintas: Grande São Paulo,
São José dos Campos, Bauru, Campinas, Ribeirão
Preto, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e
Sorocaba, as quais englobam 644 municípios13
.
Disputados em 22 modalidades esportivas, entre
elas a GA, esses dois campeonatos têm entre seus
objetivos favorecer o desenvolvimento das práticas
esportivas nos diversos municípios do estado e
contribuir para o melhor aprimoramento técnico
das modalidades esportivas presentes14
. Ademais, os
JR são disputados em primeira e segunda divisões de
acordo com critérios preestabelecidos.
No que se refere especificamente à competição de
GA,nota-seapresençadedisputanaGinásticaArtística
Feminina (GAF) e na Ginástica Artística Masculina
(GAM) - e, cada qual, em duas categorias: 1. GAF até
14anoseGAMaté16anos;2.GAFeGAM-categoria
livrea
. Na GA é realizada uma única competição
por região, que engloba as duas divisões, nas quais
classificam-se os campeões de cada prova por categoria
e por divisão, com idade mínima de participação de
noveanosacompletarnoanodoevento,podendocada
município participar com um máximo de oito atletas
no feminino e oito no masculino14
.
Os JA, também denominados de Jogos Abertos
“Horácio Baby Barioni”, são realizados desde 1936 e
contam anualmente com a organização da Secretaria
de Esporte, Lazer e Juventude juntamente com a
cidade sede, com o objetivo de propiciar um melhor
desenvolvimentodasdiversasmodalidadesdisputadas15
.
Nesse, são disputadas 25 modalidades esportivas em
duasdivisõesdocampeonato.Asformasdecompetição,
categorias, quantidade de atletas, idade mínima e
premiação no evento de GA nos JA, são similares ao
dos JR. Além disso, em ambos os campeonatos, cada
municípiopodeparticiparcomapenasumaequipepara
cada modalidade (GAF e GAM), tendo que optar por
apenas uma categoria na GA15
.
Método
Nesta fase foi utilizada a análise documental
em que foram consultados documentos oficiais
referentes aos JA, com o objetivo de descrever
as principais características deste campeonato
na GA. Foram analisados documentos referentes
apenas aos JA pelo fato de nos JR todos os
municípios poderem participar, sem classificação
prévia. Assim, foram analisados resultados de
quatro anos dos JA (2011, 2012, 2013 e 2014)
nas modalidades GAF e GAM. O acesso a estes
documentos ocorreu via e-mail por comunicação
com o supervisor da GA da Secretaria de Esporte,
Lazer e Juventude de 1985 a 2013. Não se teve
acesso aos resultados do ano de 2011 da categoria
até 16 anos da GAM da segunda divisão mesmo
após consulta ao site do evento e contato com o
supervisor da modalidade da Secretaria de Esporte,
Lazer e Juventude. Enfatizamos a dificuldade de
Pesquisa Documental
A presente pesquisa foi dividida em duas fases: pesquisa documental e pesquisa de campo.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 3
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Diferentemente dos JR, nos JA a participação
é restrita a certas regiões do estado de São Paulo,
devido a classificações prévias dos JR do mesmo
ano, como apontado anteriormente. Ademais,
cada município participante só pode competir em
uma categoria e divisão (primeira ou segunda), não
dependendo apenas do desempenho na modalidade
propriamente dita, mas também da classificação geral
das cidades em todas as modalidades. Dessa forma,
optou-se por analisar a participação dos municípios
na GA de forma geral, sem distinção por divisão.
Observou-se, a partir da Figura 1 que a
participação de todas as cidades durante os quatro
anos analisados dos JA (2011 a 2014) não se mostrou
regular. Houve uma diminuição do número total
de cidades participantes no ano de 2012 na GAF e
um aumento progressivo desse número a partir de
então e um aumento progressivo na GAM desde
2011 (FIGURA 1). Além disso, aponta-se maior
ter acesso aos resultados deste evento, vinculada à
falta de registro formal/sistemático.
Pesquisa de Campo
Para esta fase foi utilizada a entrevista
semiestruturada em que participaram treinadores
de GA participantes de JR e JA do ano de 2014. As
entrevistasforamgravadasnaíntegraeposteriormente
transcritas. As questões transitaram entre as
percepções gerais dos sujeitos em relação aos eventos
citados, bem como o processo de treinamento e
experiência naquelas competições.
Os critérios de inclusão dos participantes
na pesquisa foram: treinadores(as) de equipes
participantes dos JA do ano de 2014, medalhistas em
ambas as modalidades (GAF e GAM). Esses critérios
foram definidos com base apenas nos JA, pois para
participar desse evento, estas equipes necessariamente
participaram dos JR para classificarem-se como
mencionado previamente.
Assim, participaram deste estudo 17 treinadores
(9 GAF e 10 GAM), três mulheres e 14 homens,
Análise dos Dados
Para a análise dos dados qualitativos foi utilizada
a análise de conteúdo proposta por Bardin16
que
compreende três distintas etapas: pré-análise (fase
de transcrição das entrevistas realizadas com os
técnicos, com surgimento de possíveis hipóteses);
exploração do material (fase de codificação dos
dados, com inicial seleção de informações e dados
mais relevantes); e categorização (organização das
informações em Unidade de Registro, tratando-se
dos temas recorrentes dentre os dados coletados,
e Unidade de Contexto, que corresponde a uma
seleção de discursos coletados, que confirmam as
unidades de registro).
Paraosdadosquantitativosfoiutilizadaaestatística
descritiva, ramo da estatística destinado a descrever,
resumir, totalizar e apresentar dados de pesquisa17
.
Resultados e Discussão
participação na categoria livre em comparação com
a categoria até 14 anos e até 16 anos.
Nas quatro edições analisadas da GA, ocorreu
a participação, nas duas categorias e nas duas
modalidades, de 32, 32, 31 e 36 municípios (2011,
2012, 2013 e 2014). Pode-se observar um aumento
de municípios participantes com a GAM e uma
diminuição de municípios participantes apenas
com a GAF (FIGURA 2). Tal aumento pode estar
relacionado ao crescimento e desenvolvimento
da GAM paulista, reflexo dos resultados em nível
nacional e internacional e à quantidade de ginastas
paulistas na seleção nacional da modalidade.
No entanto, se observarmos o número de ginastas
participantes, temos uma predominância da GAF,
ou seja, apesar de mais municípios “incentivarem” a
prática masculina, eles não participam com muitos
ginastas ou equipes completas, o que não aparenta
acontecer no feminino (FIGURA 3).
sendo dois treinadores de ambas as modalidades.
Treze dos treinadores participantes atuam desde a
iniciação esportiva até os níveis competitivos e quatro
atuam apenas com a GA em nível competitivo.
4 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Lima LBQ, et al.
FIGURA 1 - Municípios participantes por categoria e modalidade dos JA de 2011 a 2014.
FIGURA 2 - Quantidade de municípios participantes dos JA por modalidade e por ano.
FIGURA 3 - Número de ginastas participantes dos JA por modalidade e ano.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 5
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Ademais, referente às medalhas conquistadas nestes
quatroanosdocampeonato,observa-se,primeiramente,
que 33 municípios participantes conquistaram pelo
menos uma medalha (70,2%), sendo 24 na GAF e
26 na GAM (TABELA 1). Ressaltamos que dos 24
municípios que participaram em pelo menos uma
ediçãodosJAnaGAFtodosconquistarampelomenos
uma medalha, enquanto que dos 45 que participaram
da GAM apenas 57,7% conquistaram ao menos uma
medalha.Dos47municípiosparticipantesnasedições
analisadas, apenas seis (destacados na TABELA 1),
participaram em todos os anos analisados e com
ambas as modalidades.
Em um segundo momento, a partir das falas dos
treinadores entrevistados acerca desses eventos, da
temática “Aspectos Políticos”, emergiram quatro
categorias expostas na TABELA 2 e que serão
apresentadas detalhadamente em seguida.
Número de medalhas conquistadas por edição, modalidade (GAF/GAM) e total nas quatro edições
dos JA (2011-2014).
TABELA 1 -
Município
2011 2012 2013 2014
TotalGA GA GA GA GA GA GA GA
F M F M F M F M
São Caetano do Sul 14 14 6 21 9 13 8 21 106
Osasco 13 - 13 - 8 8 6 8 56
Santos 3 9 - 21 2 8 3 8 54
São Bernardo do Campo 0 9 1 7 5 3 16 10 51
Barueri 8 - 15 - 16 - 11 - 50
São José dos Campos 1 9 2 8 0 2 12 9 43
Piracicaba 1 10 1 8 1 9 1 5 36
Praia Grande 0 - - 12 2 3 - 14 31
Hortolândia 3 3 1 1 8 3 4 2 25
Santo André 4 - 2 - 12 0 6 - 24
Ribeirão Preto 0 0 1 - 1 14 1 6 23
Americana 0 0 1 7 1 12 - - 21
Guarulhos 9 - 11 1 - - - - 21
Jacareí 0 - 0 - 3 9 6 - 18
Jundiaí 2 5 3 5 0 0 0 2 17
Jaú - 10 - - - - - - 10
Santana de Parnaíba 4 6 - 0 - - - - 10
São Carlos 1 - 5 - 1 - 1 0 8
Sorocaba 0 - 0 1 0 6 1 0 8
Mogi das Cruzes - 0 - - - - - 7 7
Pindamonhangaba 3 0 3 0 0 - - 0 6
Rio Claro - 3 3 - 0 0 - - 6
Vinhedo - - - 6 - 0 - 0 6
Boituva - - - 0 - 5 - 0 5
Campinas 3 - - - 1 - 0 - 4
Franca 0 - 0 - 0 1 1 0 2
Paulínia - - - 1 - - - 1 2
Araraquara 0 0 0 - 1 - 0 - 1
Bauru - 0 - 1 - - - - 1
Cafelândia - - - - - 1 - 0 1
Itu - - - - - 1 - - 1
Continua
6 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Lima LBQ, et al.
Um ponto largamente discutido pelos treinadores
foi em relação à importância dos JR e JA para as
prefeituras dos municípios (QUADRO 1). Estes
eventos, de acordo com os entrevistados, apresentam
extremarelevânciaparaascidades,poispodemexibira
soberaniadeumadeterminadaregiãoedarvisibilidade
para os municípios e, portanto, grande parte do
investimento, ou mesmo, das exigências de resultados
surgem a partir destas competições.
Importância dos Jogos (JR e JA) para as
prefeituras
Município
2011 2012 2013 2014
TotalGA GA GA GA GA GA GA GA
F M F M F M F M
Lins - 0 - 1 - 0 - 0 1
Marília - - - - - - - 1 1
São Jose Do Rio Preto 0 0 1 0 0 0 0 - 1
Américo Brasiliense - 0 - - - - - - 0
Araçatuba - 0 - 0 - - - - 0
Catanduva - - - 0 - 0 - 0 0
Descalvado - - - - - - - 0 0
Indaiatuba - - - 0 - - - 0 0
Itupeva - - - - - - - 0 0
Jales - - - 0 - - - 0 0
Louveira - - - - - - - 0 0
São Joao Da Boa Vista - 0 - - - - - - 0
São Jose Do Rio Pardo - - - - - 0 - 0 0
Suzano - - - - - 0 - 0 0
Tabapuã - - - - - - - 0 0
Continuação
Categorias Frequência Absoluta Frequência Relativa
Importância dos Jogos para as
prefeituras
11 64,70%
Contratação de atletas 9 52,94%
Questões financeiras 7 41,17%
Fomento/Massificação 3 17,64%
Categorias acerca dos Aspectos Políticos nos JA e JR.TABELA 2 -
Categorias acerca dos Aspectos Políticos nos JA e JR.QUADRO 1 -
Continua
Unidade de Registro
T1: Os Jogos Regionais e Abertos, são muito importantes para a Prefeitura [...] os Jogos são para nós o auge do nosso trabalho,
para a Prefeitura são os regionais, é ser o melhor da região [...].
T2: Se acabar Jogos Regionais, muita prefeitura, muita equipe vai acabar. Essa é a vantagem, que eu acho que São Paulo tem em
relação aos outros Estados [...] o Regionais é muito forte, o Regionais e Abertos no Estado de São Paulo.
T3: Os Abertos, obriga uma participação, mas não resultado. Agora nos Regionais, você precisa do resultado [...] o Jogos Aber-
tos, é mais livre, não importa tanto o resultado pra eles.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 7
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
A busca por resultados aparenta estar altamente
relacionada com o recurso destinado para a
modalidade e até mesmo com a continuidade ou
não em determinado município (T2,T4,T8 eT10)
(QUADRO 1), ou seja, a pressão por resultados para
esses campeonatos se sobrepõem sobre a qualidade
e frequência do trabalho realizado durante toda
a temporada. Segundo NUNOMURA; CARRARA;
TSUKAMOTO18
, a pressão por resultados muitas
vezes parte, sobretudo, das próprias instituições
que investem em determinado esporte e equipe,
portanto cria-se uma expectativa por resultados
desde as categorias de base, principalmente em
anos eleitorais.
Ademais, os JR e os JA, são vistos como
mais importantes para as cidades do que outros
campeonatos de maior expressividade na GA
em cenário estadual, nacional e, até mesmo,
internacional (T5, T7 e T11), sendo destacados
pelos treinadores como as competições mais
importantes para suas equipes, pela cobrança que
recebem das prefeituras.
Diversos treinadores também abordaram sobre
a diferença de importância entre estes eventos para
as prefeituras. Estes relatam que os JR apresentam
maior relevância para as prefeituras do que os JA
(T3 e T4), o que pode ter relação com a forma
de classificação destes eventos, ou mesmo com a
visibilidade das prefeituras em suas regiões.
Para classificar-se para os JA, é necessário
primeiramente disputar os JR, que subdivide os
municípios por região do estado de São Paulo, e
então passam para a etapa dos JA apenas os melhores
de cada localidade. Acontece que, em algumas
regiões, a competitividade pode ter um nível técnico
superior, por reunir equipes com melhor qualidade
técnica, o que pode gerar a desclassificação de
equipes com bom nível técnico dessa região.
Porém, o oposto também pode ocorrer, com
regiões em que a qualidade das equipes é aquém,
classificando equipes de baixo nível técnico. Como
resultado disso, equipes com um melhor nível
técnico podem não classificar para as disputas dos
JA, enquanto que equipes menos expressivas passam
para esta próxima etapa. Esse fato é abordado
por um dos treinadores (T6): “[...] teoricamente
os Jogos Abertos deveriam servir para... é...
teoricamente, pegar as melhores equipes do
Estado e se enfrentarem nos Jogos Abertos, então
a qualificatória serviria pra isso. Só que, por falha
[...] acontece que equipes mais fortes, por estarem
na mesma região, ficam de fora dos Jogos Abertos
porque são eliminadas nos Jogos Regionais. E nos
Jogos Abertos, às vezes têm equipes mais fracas em
nível de... de nota mesmo [...]”.
Desta forma, os resultados dos JA não
necessariamente repercutem a realidade da
modalidade em questão, de realmente demonstrar
as melhores equipes do Estado, o que pode reduzir
consideravelmente seu nível de competitividade/
técnico e, por conseguinte, sua relevância para as
prefeituras vigentes.
T4: Ganhar os Jogos Regionais tem um peso um pouco maior sim [...] mas a gente sente no trabalho que os Regionais têm
uma importância muito grande [...] porque o meio que veicula e mantém o ginásio é o resultado em Jogos Regionais e Jogos
Abertos, então não tem como a gente desvincular a meta da equipe como não sendo Jogos.
T5: É mais importante do que uma Olimpíada. Ah, você foi pra uma Olimpíada, você ganhou, mas você não é campeão
dos Regionais? Porque que a cidade vai investir em você se você não ganha pra cidade?
T7: [...] os Jogos Regionais e os Jogos Abertos eles são muito importantes pra essas cidades, então assim... eles querem esse
resultado ali [...] se você for campeão dos Regionais e campeão dos Abertos é muito mais importante que ser campeão
brasileiro.
T8: Os Jogos Regionais são mais importantes pra eles do que o Campeonato Sul-americano, não tenha dúvida disso [...] a
gente tem um apoio grande da Prefeitura então a gente precisa ter resultado pra prefeitura.
T9: Ah, eu acho que é mais pra colocação de ranking, né, de desempenho da cidade com relação às modalidades.
T10: Lá é muito importante politicamente. O Resultado pra eles é o que determina se tem mais verba pra uma modalidade
ou não, tanto para os Jogos Regionais como para os Abertos.
T11: Por ser uma prefeitura, tem grande importância. Então a gente leva também a sério. Pra Prefeitura é mais importante
ganhar um Jogos Regionais, Jogos Abertos do que estar no pódio em mundial. Ele dá visibilidade.
T12: E os Jogos Regionais e Abertos, na verdade é uma obrigação e compromisso com a cidade [...] Pra cidade os Jogos são
prioridade.
Continuação
8 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Lima LBQ, et al.
Entre os treinadores que se posicionaram contra
a contratação de atletas (T2, T4, T8, T9, T15 e
T16), ou seja, que não consideram esse tipo de
ação uma condição ideal, alguns pontos foram
ressaltados. Primeiramente, contratar atletas
para competir por outro município acaba por
“mascarar” a realidade da modalidade e do próprio
Esporte em determinada região com relação à
formação de atletas, incentivo e investimento.
A vitória e os resultados obtidos por meio de
contratação podem gerar um status para o município
e para seu respectivo prefeito, porém não há qualquer
retorno para a população que muitas vezes não possui
a oportunidade de praticar a GA em sua cidade.
Outro ponto a se ressaltar é o aumento do nível
técnico das competições. A contratação de atletas, e
em alguns casos, até de nível internacional, muitas
vezes, resulta em equipes com um nível muito acima
aodosdemaismunicípiosparticipantes,influenciando
diretamente no resultado destes eventos.Tal fato pode
desmotivar ginastas e treinadores em um processo de
formaçãodeatletasemlongoprazodosmunicípiosque
investemnestesetor,alémde,emumaúltimainstância,
acabar com a modalidade em certos municípios por
dificuldade financeira, somada à falta de resultados
sequeremnívelregional.Afinal,aosolhosdedirigentes
interessadosnamídiaenãonodesenvolvimentodesua
população,contratarumatleta“pronto”éumprocesso
mais simples e com menos custo do que formar um
atleta (T2 eT14). O investimento com infraestrutura,
profissionais qualificados, formação, entre outros,
além de se tratar de um processo de longo prazo é
razoavelmente representativo e permanente para uma
prefeitura, em várias modalidades esportivas. Porém,
como mencionado anteriormente a contratação não
gera benefícios permanentes para os municípios, além
Contratação de atletas
A contratação de atletas foi uma temática
largamente discutida pelos treinadores
participantes da pesquisa e é um tema recorrente
quanto se trata de JR e JA, com divergência
de opiniões. Observando as respostas dos
treinadores, notou-se uma dicotomia de opiniões
acerca da temática, com o apoio ou o repúdio a
essa prática (QUADRO 2).
Unidade de Registro
T2: [...] eu sou totalmente contra contratar, eu não gosto, mas quando tem opção e a prefeitura às vezes também quer resul-
tado tal, você tem que dar um jeito e infelizmente precisa pegar [...] É muito mais fácil o cara pagar, sei lá, quinze, vinte mil
ir lá e ganhar tudo, do que o cara investir em um ginásio, professores, esperar cinco, seis, dez anos pra montar uma equipe
boa, isso é muito mais difícil, então o pessoal que quer resultado rápido, faz isso.
T3: [...] eles contratam ginastas pra competir pela sua cidade pra mostrar que a sua cidade tem o esporte, diversos esportes,
não só a ginástica, que é importante pra eles. Acredito que seja... é interesse político mesmo.
T4: Se a gente fosse pensar em termos de forçar as prefeituras a um bom investimento, a melhorar o investimento em equi-
pamento, em atleta, em melhorar a equipe, é ruim, é ruim essa abertura de contratação, nesse sentido, porque a gente dando
resultado com contratação, a gente acaba, é, dando um tiro no pé, né, entre aspas, porque a gente dá resultado sem ter tido a
melhora necessária no espaço que a gente trabalha [...].
T7: Pra gente é muito bom porque elas não teriam a oportunidade de competir [...] e elas já estão tendo oportunidade pra
competir com outras cidades. Então, elas estão lá representando outra cidade e estão participando disso tudo que elas não
estariam participando se não fosse por isso... né... então pra gente é muito bom.
T8: Eu não gosto quando uma cidade da minha região contrata atletas de outra, fica aquela coisa artificial, ao mesmo tempo
pode formar equipes muito mais fortes do que equipe de clubes [...]. O outro Município pode formar uma Seleção [...] fica
uma equipe fortíssima.
T9: Então, a equipe, um clube, por exemplo, ele não tem atletas da cidade, e aí tem essa contratação, e aí fica, acho que
muito fácil pra você ter um pódio e ser [...] uma cidade que não tem atleta, acaba contratando e tirando a chance de pódio.
T14: Por mais que você pague um atleta de fora pra competir ainda sai mais barato do que você fazer um trabalho pra você
formar o seu atleta na sua cidade.
T15: [...] às vezes a cidade nem tem ginástica, só escolinha, ai chega e ganha a competição mas pra cidade não ficou legado
nenhum e pra gente [...] acaba que sendo desmotivador [...].
T16: Acredito que dificulta muito pra quem tem um trabalho, por exemplo, de formação. A gente nunca contratou atleta,
sempre compete com as de casa [...].
Respostas referentes às contratações de ginastas para JR e JA.QUADRO 2 -
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 9
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
de ir contra os objetivos dos JR e JA que é contribuir
paraomelhoraprimoramentotécnicodasmodalidades
esportivas no interior do estado de São Paulo, e ter
equipes com condições de desenvolvimento mais
próximas do que equipes da capital paulista19
.
Neste mesmo sentido, apesar de alguns treinadores
seremcontraacontrataçãodeginastasparacomporsuas
equipes, em alguns casos, por exigência do município
esta ação acontece, mostrando que o interesse político
em mostrar desempenho e resultados, muitas vezes,
pode se sobressair à importância de promover
experiências esportivas para os atletas locais.
Por outro lado, apenas um treinador posicionou-
se a favor da contratação de atletas ao apontar a
oportunidade para que atletas que não puderam
representar seus municípios participem da
competição, como levantado pelo treinador T7, ou
seja, uma situação bastante particular. A possibilidade
de participar de mais competições, pode ser um
ponto positivo para os atletas e para os municípios
que os cedem, principalmente pelo número reduzido
de competições por ano na modalidade, tanto no
Estado,comoemcampeonatosnacionais,noentanto,
essa não é a proposta dos Jogos Regionais e Abertos
do Interior, e muito menos é assim que se resolverá
esse problema mais amplo da Ginástica brasileira.
Além disso, a questão da contratação de atletas para
representar determinada instituição – ou neste caso,
ummunicípio–entranoâmbitodaprofissionalização
esportiva, levando o esporte a outro patamar.
O esporte do século XXI apresenta uma evidente
característicadeprofissão,oqueacaboupormodificar
a organização do Esporte, incluindo o contexto
competitivo, e, por consequência, caracterizando o
Esporte como uma carreira profissional cobiçada20
.
Uníssonoacrescenteintervençãoestatal,aatividade
esportivasupõe-se,também,comoatividadeindustrial
e comercial, transformando-se em um setor da vida
econômica e uma área de consumo importante e
dinâmica21
.Oesportedealtorendimentotornou-setão
qualificadodopontodevistatécnico,queospraticantes
com maior destaque – logo, que precisavam de maior
dedicação - passaram a ser considerados, segundo
Ferrando22
, como “trabalhadores do esporte”. Apesar
de avanços nos direitos dessa área, ainda notamos
problemas na profissionalização dos mais jovens, que
não apresenta especificações em leis trabalhistas ou
normas e estatutos sobre trabalho infantil23
.
Por fim, os treinadores levantaram algumas
sugestões de soluções em prol da melhora neste
aspecto,propondoqueinibiracontrataçãodeequipes
inteiras seria uma alternativa, pois isto obrigaria uma
Questões Financeiras
As questões financeiras foram destacadas pelos
participantes como essenciais para um trabalho
adequadonaformaçãodeginastase,consequentemente,
obtençãoderesultadosparaasinstituiçõesfinanciadoras
(QUADRO 3). De acordo com De Bosscher et al.24
o sucesso esportivo está diretamente relacionado à
captação de recursos financeiros necessários.
Atualmente, as entidades/instituições que investem
noEsportesãoasprefeituras,quegeralmentedirecionam
um percentual de seu rendimento total para esta área.
Lima12
ao investigar a GA paulista nos Campeonatos
Brasileiros da modalidade feminina, aponta que
entre as instituições participantes, há prevalência de
instituições públicas, em sua maioria entidades geridas
por prefeituras municipais. A mesma autora também
aponta que quanto maior o nível de rendimento
esportivo, maior a presença de instituições públicas,
o que certamente está vinculado ao investimento
maior necessário no alto rendimento esportivo.
Desta forma, o trabalho com a prática esportiva
depende, inevitavelmente, dos recursos financeiros
disponibilizados pelas prefeituras. No entanto, em
relaçãoàadministraçãopública,asprefeiturasdeveriam
ter o foco dos seus recursos voltados mais para a base
da modalidade do que para o esporte de rendimento,
o que aparenta não estar acontecendo12
.
A GA é uma modalidade marcada pelo uso de
materiaisdegrandeporte,quemuitasvezesdependem
de mudanças na estrutura física, sendo alguns fixos,
além do alto custo destes equipamentos19,25
. Lima et
al.19
apontamque“[...]paraaaquisiçãodeaparelhagem
necessária da GAF e da GAM é necessário um
investimento financeiro significativo”19
, além dos
gastoscomtaxasfederativas,dearbitragem,transporte,
manutenção, entre outras.
Noentanto,oinvestimento,mesmoqueinsuficiente,
vem atrelado com a cobrança por resultados, ou seja,
apesar do investimento ser aquém do necessário, a
cobrança por resultados positivos persiste. Assim,
os treinadores se veem na “obrigação” de mostrar
resultados, como uma forma de “prestação de
contas” ao investimento realizado. Isso faz com que
os treinadores tenham que tomar decisões baseadas
no investimento recebido e não nas necessidades dos
participação de atletas formadas na própria cidade
para a participação e, consequentemente, exigiria
o desenvolvimento de um trabalho de formação
esportiva, bem como um maior investimento na
modalidade por parte do próprio município.
10 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Lima LBQ, et al.
Fomento/Massificação
Os JR e os JA apresentam outra importante
característicadecompetiçõesparaofomentodaprática
esportiva, pois um dos objetivos desses campeonatos é
justamente propiciar um melhor desenvolvimento das
modalidades esportivas disputadas14
.
Nesse contexto, os JR e JA reúnem muitos atletas
e treinadores de diferentes níveis da modalidade,
desde atletas olímpicos a iniciantes nesta prática,
todos competindo em um mesmo local e na mesma
aparelhagem, tornando-se um ambiente propício
para troca de informações e, indiretamente para o
aprendizado informal.
Além de esses eventos serem um destaque no
estado de São Paulo, têm sua relevância, pois
auxiliam no desenvolvimento de treinadores,
ginastas e árbitros. Pois, aumentam a possibilidade
deexperiênciaparaosárbitrosedecompetiçõesparaos
ginastas,comomencionadopelostreinadoresT2,T4e
T8,tendoemvistaonúmeroreduzidodecompetições
anuais da modalidade no estado e no país.
Portanto, é ressaltada a importância desses
campeonatos para a massificação da prática da GA
nos municípios paulistas, mostrando o estado de São
Paulo como grande polo disseminador da prática da
Ginástica no país, como também abordado pelos
treinadores T2 e T4. Tal fato é corroborado por
pesquisas de Schiavon et al.26
e Lima12
que pontuam
Unidade de Registro
T2: [...]isso é muito forte no estado de São Paulo, então eles apoiam bastante, tem muita criança fazendo, hoje em dia muita
gente vive da Ginástica de Jogos Regionais e Abertos. Então tem muita equipe, espalhou muito, tem muita ginasta no estado
de São Paulo [...].
T4: Onde tem Jogos Regionais acaba fomentando muito e disseminando a prática da Ginástica.
T8: O objetivo dos Jogos Regionais é a formação e fomentar novos ginastas, novos técnicos, novos Municípios para prática
da Ginástica.
Respostas referentes ao Fomento/Massificação nos JR e JA.QUADRO 4 -
atletas e da equipe como um todo.
Ademais, como comentado pelo treinador
T10, para algumas equipes, o resultado das
competições é o que determina se haverá, ou
não, recurso financeiro para a modalidade no
próximo ano e até se a modalidade continuará
sendo desenvolvida no município.
Unidade de Registro
T3: Quando você tem um clube que paga as competições fica mais fácil, mas quando seu clube não paga, o próprio atleta
tem que pagar a competição, fica um pouquinho mais difícil [...].
T6: [...] a gente trabalha em prefeituras e clubes que... é... demanda da verba, de ter disponibilidade de verba pra enviá-las.
T7: A gente está na prefeitura, por exemplo, então a gente tem uma verba reduzida que não consegue atender a tudo, toda
demanda que a gente necessita, então a gente tem sempre que dar um jeitinho de economizar, né [...] hoje nós não temos os
subsídios da prefeitura suficientes para... esse projeto, né, para essas competições.
T8: Então hoje a realidade dos municípios, ela é muito difícil. Então os Municípios têm tido cada vez menos em Esporte
[...] E isso interfere diretamente nos resultados, porque você, não adianta você fazer bem o teu trabalho, você e os ginastas,
se você não puder participar das competições [...].
T10: Lá é muito importante politicamente. O Resultado para eles é o que determina se tem mais verba para uma modalida-
de ou não, tanto pros Jogos Regionais como para os Abertos.
T12: [...] aí a gente tem que começar a ver se vai conseguir arrecadar o dinheiro, se vai conseguir participar, aí tem que falar
com o pai. E aí acaba travando o trabalho, porque isso vai deixando o pessoal desinteressado, desestimulado.
T13: Esse ano, por exemplo, que eu tinha um atleta no infantil que não tinha dinheiro para ir [...].
Respostas referentes ao apoio financeiro das prefeituras municipais nos JR.QUADRO 3 -
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 11
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
Considerações Finais
Os JR e os JA representam também um importante
movimentoeconômicoepolíticonointeriordoestado
de São Paulo. No entanto ainda vemos, muitas vezes,
essescampeonatossendousadospelasprefeiturasapenas
comobandeiraspolíticasenãopelosignificadoqueeles
realmente devem ter para a população do interior do
Estado, de desenvolvimento da prática esportiva e de
formação de cidadãos.
Verificamos pelo discurso dos treinadores, que seus
dirigentes não compreendem as muitas possibilidades
de benefícios para seus municípios, como estímulo de
práticasesportivaseeventosnoperfilregional. Équase
uma situação de humilhação por parte dos treinadores
para obterem recursos e poderem desenvolver
apropriadamente seus trabalhos em suas cidades. Os
treinadores querem que esse tipo de evento continue,
principalmente porque é uma forma em que eles
podem obter auxílio financeiro para desenvolverem
suas equipes. No entanto, o propósito desses eventos
foi se modificando no passar do tempo, inclusive entre
ostreinadores,apartirdavisãodosgestoresdascidades.
Nomomentoemqueumacidadeoptaporcontratar
atletas, por ser mais barato e solucionar um problema
de forma imediata, demonstra o olhar que essa gestão
tem sobre o Esporte, como uma “escalada” política
e não como um benefício para a população em si. A
própria população, muitas vezes, não tem qualquer
cultura ou proximidade com a modalidade esportiva,
na qual a equipe da cidade é campeã da região. Não se
reconhecem como tal.
A contratação de atletas também pode ser notada
pela falta de continuidade do desenvolvimento da GA
nosmunícipiosdointeriorpaulista,quandoverificamos
na Tabela 1 que apenas seis municípios participaram
nosquatroanosanalisadoscomamodalidadefeminina
e masculina, sem interrupções, ou seja, cidades que
desenvolvem um trabalho em longo prazo. Outras
cidades, não participam durante anos da Ginástica
Artística e de repente aparecem com um número de
medalhas bastante representativo em um dos anos
analisados e posteriormente não participam mais
dos JA (TABELA 1).
Verificamos, também, o aumento da modalidade
masculina no interior paulista, o que pode ser um
retrato do estímulo pelos resultados crescentes de
ginastas brasileiros na última década pelo aumento
no investimento financeiro e incremento de
infraestrutura27
, capacitação e desenvolvimento dos
treinadores da GAM.
Logo, apesar da importância dada pelos
treinados aos JR e JA, a aparente dissociação
para a arrecadação financeira entre as diferentes
estruturas governamentais, dificulta a melhoria de
investimentos, por exemplo, em infraestrutura.
Destaca-seaimportânciadadapelostreinadoresaos
JR e JA, assim como o interesse em desenvolver a GA
em suas cidades. A busca por recursos financeiros para
o desenvolvimento de modalidades como a GA, que
dependem de infraestrutura com alto investimento
será sempre um desafio. É preciso que haja estímulos
ao desenvolvimento da GA no interior paulista,
que pode politicamente vir da Federação Paulista
de Ginástica, junto às prefeituras e ao Governo do
Estado, em parceria com as universidades paulistas,
paraquepossamencontraralternativas“saudáveis”para
o desenvolvimento do Esporte no interior do Estado.
OsJReJA,comoumeventoorganizadopelaSELJ-
SP, deveria estimular a prática esportiva no interior
do Estado e não permitir o uso apenas político desse
evento sem qualquer benefício direto para as cidades,
e para isso há que se reorganizar o regulamento que
orienta as diferentes cidades para tal evento. Assim, há
anecessidadederesgatarosprincípiosquenortearama
criação desses eventos e motivar o desenvolvimento do
esportenointeriorpaulistacomoprevistonospróprios
regulamentos destes eventos.
Notas
a. Categoria livre: a competição não é separada por idade, sendo permitido participantes a partir de nove anos de idade,
com séries livres, ou seja, séries que não são obrigatórias (todas iguais), mas possuem exigências técnicas comuns.
São Paulo como um estadorepresentativoemquestão
de entidades que oferecem o ensino e a prática da
GA, sobretudo, no interior paulista, com diversas
competiçõesdecaráterdeparticipaçãodamodalidade.
12 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13
Lima LBQ, et al.
Abstract
Jogos Regionais and Jogos Abertos from Sao Paulo State: politic influences in the development of artistic
gymnastics
The present article discusses political aspects that interfere in the competitive development of gymnasts
of the state of São Paulo. For this purpose, we employed two traditional sport’s events of the State: Jogos
Regionais (JR) and Jogos Abertos (JA). This research was divided into two phases: first, a documentary
research, with an analysis of the official documents of the JA between the years 2011 and 2014, with the
purpose of describe the main characteristics of this championship in the Artistic Gymnastics (GA); and at
the second moment, a field survey, which was interviewed 17 coaches who acted in the JA in the year of
2014. The interviews were fully recorded, transcribed, and later analyzed by Content Analysis. As results,
we observed that: a. the events have great importance for the prefectures, as they represent the supremacy
of the cities; b. The hiring of athletes does not generate permanent benefits for the cities and may obscure
the reality of some cities about the promotion of the modality, besides going against the aim of the JR
and JA; c. financial issues were considered essential for an adequate work in the training of gymnasts and
also for the achievement of results; d. these events have a high character of massification, as they help in
the development of coaches, judges and gymnasts, increasing the possibility of experiences for judges and
competition for the athletes.
KEYWORDS: Artistic Gymnastics; Competition; Sportive education; Politics; Hiring of athletes.
Referências
1. Bento JO. Da pedagogia do desporto. In: Tani, Go, Bento, Jorge Olimpo, Petersen R, editor. Pedagogia do desporto.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 26-40.
2. Paes RR. Pedagogia do esporte: contextos, evolução e perspectivas. Rev Bras Educ Física e Esporte. 2006;20(5):171.
3. Bento JO, Tani G, Prista A. Desporto e Educação Física em português. Porto: Editora Universidade do Porto; 2010.
4. Prettyman SS, Lampman B. Learning Culture through Sports: Exploring the role of sports in society. Rowman &
Littlefield Education; 2006. 284 p.
5. Moreira, WW, Bento JO. Citius, Altius, Fortius: Brasil, Esportes e Jogos Olímpicos. Belo Horizonte: Casa da Educação
Física; 2014.
6. Sigoli MA, De Rose Jr D. A história do uso político do Esporte. Rev Bras Ciência e Mov. 2004;12(2):111-9.
7. Azevedo PH. O esporte como negócio: a gestão do esporte nos dias atuais. Estud Goiânia. 2009;36(9/10):929-39.
8. Nista-Piccolo VL, Nunomura M. Os Jogos Olímpicos na perspectiva da pedagogia do esporte no Brasil. In: Moreira
WW, Bento JO, editor. Citius, Altius e Fortius. Belo Horizonte: Casa da Educação Física; 2014. p. 171-208.
9. Bueno L. Políticas Públicas no Esporte no Brasil: razões para o predomínio do alto rendimento. Fundação Getúlio
Vargas (FGV); 2008.
10. Carbinatto MV, Chaves MD, Moreira WW, Coelho ALS. Produção do conhecimento em ginástica: uma análise a
partir dos periódicos brasileiros. Rev Mov. 2016;22(4):1293-308.
11. Simões R, Moreira WW, Chaves AD, Santos SP, Coelho AL, Carbinatto MV. A produção acadêmica sobre ginástica:
estado da arte dos artigos científicos. Rev Bras Educ Física e Esporte. 2016;30(1):183-98.
12. Lima LBQ. Representatividade da Ginástica Artística feminina paulista no cenário brasileiro (2011-2014). Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; 2016.
13. Secretaria de Esportes LEAM. Jogos Regionais - História [Internet]. Acervo esportivo. 2010 [citado 2014 Nov 2].
Disponível em: http://www.selam.piracicaba.sp.gov.br/site/acervo-esportivo/89-jogos-regionais/94- jogos-regionais-
-historia.html
14. Secretaria de Esporte LEJ (SELJ-S. Regulamento dos Jogos Regionais [Internet]. 2014 [citado 2014 Nov 2]. Disponível
em: http://www.selt.sp.gov.br/2014/regulamento_jogos_regionais.pdf
15. Secretaria de Esporte LEJ (SELJ-S. Regulamento dos Jogos Abertos “Horácio Baby Barioni” [Internet]. 2014 [citado
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 13
Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo
2014 Nov 2]. Disponível em: http://www.selt.sp.gov.br/2014/Regulamento_Jogos_2014.pdf
16. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Editora Edições; 2010.
17. Appolinário F. Metodologia da Ciência. São Paulo: Thomson; 2006.
18. Nunomura, M, Carrara, PDS, Tsukamoto MHC. Ginástica artística e especialização precoce: cedo demais para espe-
cializar, tarde demais para ser campeão! Rev Bras Educ Física e Esporte [Internet]. 2010;24(3):305-14. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v24n3/a01v24n3
19. Lima, LBQ, Murbach, MA, Ferreira, MDTO, Schiavon L. Análise das condições de desenvolvimento da ginástica
artística no estado de São Paulo. Rev Bras Educ Física e Esporte. 2016;30(1):133–43.
20. Rubio K. O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo. Rev Electrónica Geogr y Ciencias Soc. Barcelona;
2012;6(119).
21. Rubio K. O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo. Rev Electron Geogr y Ciencias Soc [Internet].
Barcelona; 2002;6(119):95. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn119-95.htm
22. Ferrando MG. Problemas sociales del trabajo deportivo: el caso de los atletas españoles de elite. Rev Española Investig
Sociol. 1979;(8):33-88.
23. Lopes ACB. Breves considerações sobre a profissionalização precoce no âmbito esportivo. In: XXVII Congreso de la
Asociación Latinoamericana de Sociología. Buenos Aires: Asociación Latinoamericana de Sociología; 2009. p. 1-9.
24. De Bosscher, V, De Knop, P; Van Bottenburg, M; Shibli S. A conceptual framework for analyzing sports policy factors
leading to international sporting success. Eur Sport Manag Q. 2006;6(2):185-215.
25. Schiavon, LM, Paes RR. Condições dos treinamentos de ginastas brasileiras participantes de jogos olímpicos (1980-
2004). Motriz Rev Educ Fis. 2012;18:757-69.
26. Schiavon LM, Lima, LBQ, Ferreira, MDTO; Silva YM. Análise da formação e atualização dos técnicos de Ginástica
Artística do Estado de São Paulo. Pensar a Prática. 2014;17(3):618-35.
27. Oliveira M, Bortoleto M. A ginástica artística masculina brasileira no panorama mundial competitivo (1987-2008).
Motriz Rev Educ Fis. 2009;(2005):297-309. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/
motriz/article/viewArticle/2372
ENDEREÇO
Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima
Av. Dr. Jesuino Marcondes Machado, 2541
Chácara da Barra, Campinas – SP – BRASIL
e-mail: leticia_queiroz@hotmail.com
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 15
A parceria público-privada no contexto esportivo
Introdução
A parceria público-privada no contexto esportivo: o caso de uma
equipe de ginástica rítmica da cidade de Campinas-SP
Fernanda Raffi MENEGALDO*
Eliana de TOLEDO**
Marco Antonio Coelho BORTOLETO*
A Ginástica Rítmica (GR) constitui-se como uma
modalidade esportiva sob o auspício da Federação
Internacional de Ginástica e figura no programa
dos Jogos Olímpicos desde 19841
. No Brasil, sua
prática teve início entre os anos de 1953 e 1954
pelas mãos das instrutoras Margareth Frohlich,
de origem austríaca, e Ilona Peuker, húngara.
Sua trajetória se consolidou majoritariamente no
contexto dos clubes socioesportivos2
, especialmente
no que tange à vertente competitiva, sendo sua
prática por eles financiada no que se refere aos
custos com taxas federativas, equipamentos,
infraestrutura e despesas com profissionais,
conforme apontam Toledo e Antualpa3
.
No contexto específico do município de
Campinas (São Paulo), embora a modalidade
tenha tido grande repercussão entre 1980 e
19904
, a GR perdeu significativo espaço nas
últimas duas décadas5,6
, fato que pode ser
explicado, parcialmente, devido à crise dos
clubes socioesportivos no final da década de
19907,8
, condição que influenciou diretamente a
degradação das condições de trabalho das equipes
esportivas nessa cidade.
Por outro lado, com a criação do Ministério
do Esporte (ME) em 2003 e as posteriores
http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10015
Resumo
O presente estudo analisa a parceria estabelecida entre um clube socioesportivo da cidade de Campinas-
SP, uma associação esportiva sem fins lucrativos e a Prefeitura Municipal, por meio de uma lei municipal
de incentivo ao esporte, com objetivo de proporcionar sustentabilidade aos trabalhos de uma equipe de
Ginástica Rítmica (GR) que representa a cidade. A pesquisa, de caráter qualitativo, caracteriza-se como
estudo de caso e teve como procedimentos metodológicos uma revisão documental de arquivos públicos e
privados, e a realização de entrevistas semiestruturadas com profissionais envolvidos. Os resultados revelam
que a parceria foi e continua sendo fundamental para a manutenção das atividades da equipe de GR, sendo
atualmente o principal meio de financiamento. Além disso, a parceria possibilitou o aumento da quantidade
de ginastas e uma maior proximidade com a rede municipal de educação, contribuindo para o maior acesso
a esse esporte, inclusive para não sócias do clube e residentes em áreas de vulnerabilidade social. Embora
a parceria tenha importante função na manutenção da equipe, o modelo apresenta limitações, como o
alto grau de dependência financeira da equipe aos recursos advindos da lei de incentivo, dificultando o
planejamento das atividades competitivas da equipe – devido à imprevisibilidade temporal e ao montante
dos recursos recebidos anualmente. A dificuldade de desenvolver ações voltadas à iniciação nessa modalidade
que atendam, quantitativamente, um público ainda mais expressivo, também foi objeto de preocupação por
parte das especialistas consultadas. Por fim, observou-se uma destacável sobrecarga de trabalho por parte
das treinadoras, consequência da soma das atribuições técnicas inerentes ao treinamento esportivo e às
decisões administrativas necessárias para a gestão da parceria, sobre as quais elas não possuíam experiência
ou formação prévia.
PALAVRAS-CHAVE: Esportes; Ginástica; Organização e Administração; Políticas Públicas.
*FaculdadedeEducação
Física, Universidade
Estadual de Campinas,
Campinas, SP, Brasil.
* * F a c u l d a d e d e
Ciências Aplicadas e
FaculdadedeEducação
Física, Universidade
Estadual de Campinas,
Campinas, SP, Brasil.
16 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
Menegaldo FR, et al.
Método
O presente estudo caracteriza-se como uma
pesquisa exploratória e descritiva, de natureza
qualitativa, conforme estabelece Minayo19
,
e se designa como um estudo de caso20
. Para
a realização deste trabalho, foi necessária a
utilização de diferentes técnicas de pesquisa,
algo comum em estudos qualitativos21
: revisão
de literatura, pesquisa documental e entrevistas
semiestruturadas. Para a revisão de literatura, foi
utilizada a ferramenta on-line, intitulada “Busca
Integrada” do Sistema de Bibliotecas da Unicamp,
que permite acesso a um amplo conjunto de bases
de dados como SportDiscus, Scielo, Pubmed e
Scirus, bem como foi feita uma consulta no acervo
do Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG – FEF/
UNICAMP). Acerca da pesquisa documental, as
principais fontes utilizadas foram: Arquivo público
disponível no site oficial da PMC, na seção da
Secretaria de Esporte e Lazer, e o Diário Oficial do
Município (DOM), além do acervo documental
particular da ACGRE.
As entrevistas semiestruturadas foram realizadas
atendendo às indicações de Triviños20
, possuindo
dois roteiros norteadores: um, com questões
administrativo-burocráticas, direcionado à
voluntária da ACGRE; e outro, destinado às
quatro voluntárias representantes do CCRN,
abordando as mudanças e as consequências da
mudanças nas políticas públicas esportivas,
surgiu, nos âmbitos federal, estadual e municipal,
um conjunto de programas e leis para incentivo
ao esporte, principalmente na sua dimensão de
alto rendimento9-12
. Entre eles, merece destaque
o Programa Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo
ao Esporte (LI), instituídos respectivamente
pelas leis federais nº 10.891/200413
e nº
11.438/200614
. Esses dispositivos impulsionaram
novos modelos de financiamento e de gestão do
esporte nacional – principalmente no caso da LI,
que veio fortalecer a parceria público-privadaa,15
–
e estão sendo estudados e implementados por um
crescente, atraindo a atenção da área de pesquisa
da Gestão Esportiva16,17
.
Considerando essas novas condições
contextuais, este estudo tratará de questões
relacionadas à Ginástica Rítmica e ao seu
financiamento, tendo como objetivo analisar
como a parceria público-privada vem fomentando
o esporte de alto rendimento, especificamente
a parceria estabelecida entre a equipe de GR
do Clube Campineiro de Regatas e Nataçãob
(CCRN), a Associação Campineira de Ginástica
Rítmica de Elite (ACGRE) e a Prefeitura
Municipal de Campinas (PMC) – por meio
da Lei nº 12.352/Fundo de Investimento
Esportivo de Campinas (FIEC) –, promovendo
reflexões acerca dos benefícios e dos entraves
diagnosticados na execução desse projeto.
implantação da parceria público-privada na
dinâmica da equipe. A amostra de depoentes
se constituiu de uma voluntária representando
a ACGRE, caracterizada como uma associação
desportiva sem fins lucrativos22
e quatro voluntárias
representando o CCRN, entidade classificada
como clube socioesportivo7
. As duas instituições
– ambas situadas em Campinas, como também as
cinco voluntárias – consentiram com a realização
da pesquisa por meio de uma carta de autorização
e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
respectivamente. Previamente, o projeto de
pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da
UNICAMP, via Plataforma Brasil, sendo aprovado
conforme consta no parecer nº 709.848.
Para subsidiar e sistematizar a análise dos
dados, adotamos a Análise de Conteúdo23
. Assim,
identificamos nas transcrições as unidades de
registro e as unidades de contexto19
. Os passos
seguintes foram constituídos por: (i) distribuição
do material em categorias; (ii) realização de
inferências dos resultados; (iii) reagrupamento das
categorias; (iv) produção de narrativas temáticas; e,
por fim, (v) interpretação dos resultados obtidos e
diálogo entre as narrativas e a literatura levantada,
em atenção ao processo descrito por Souza Junior,
Melo e Santiago24
.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 17
A parceria público-privada no contexto esportivo
Resultados e Discussão
No fim do processo de categorização dos
dados, foi possível identificar sete categorias
temáticas, conforme dispostas na TABELA 1.
Para cada categoria foi confeccionado um texto
narrativo, que teve como intuito organizar o
discurso das voluntárias.
Antes, no entanto, de estabelecer o diálogo
entre essas narrativas e outros dados obtidos
por meio da análise documental, optamos por
agrupar algumas categorias que se relacionavam
de forma significativa e estratégica para a
organização das ideias e dos temas identificados.
Esse agrupamento (QUADRO 1) resultou em
três categorias apresentadas a seguir:
Categorias temáticas originadas do processo de Análise de Conteúdo.TABELA 1 -
Categoria Tema
1 Criação da ACGRE
2 Parceria ACGRE - CCRN
3 O papel do CCRN na parceria
4 Benefícios e limitações
5 ACGRE/FIEC/CCRN e as influências sobre as competições
6 O antes e o depois da ACGRE
7 Perfil das ginastas
Categorias constituídas a partir do agrupamento de categorias originais.QUADRO 1 -
Novas categorias Categorias originais
O surgimento do FIEC e da ACGRE: o porquê e o como
da consolidação de uma parceria.
Criação da ACGRE (1)
Parceria ACGRE - CCRN (2)
O funcionamento da parceria: sobre as mudanças
administrativas.
O papel do CCRN na parceria (3)
Benefícios e limitações (4)
As principais mudanças na rotina de ginastas e
treinadoras.
ACGRE/FIEC/CCRN e as influências sobre as competições (5)
O antes e o depois da ACGRE (6)
Perfil das ginastas (7)
Essas três novas “macro” categorias, portanto,
mediaram o diálogo a seguir, construído com os
dados discursivos (entrevistas), dados oriundos
da revisão documental e a literatura especializada.
O surgimento do FIEC e da ACGRE: o
porquê e o como da consolidação de uma
parceria
A trajetória das cinco entrevistadas na equipe
do CCRN é longa, a começar pelo fato de que
todas foram ginastas do clube, o que sugere
um grande envolvimento com a modalidade,
trazendo uma continuidade dessa relação na fase
adulta e no campo profissional. As voluntárias
I e II integraram a primeira geração de ginastas
em meados da década de 1980 e, posteriormente,
passaram a atuar como treinadoras, bem como
as outras três voluntárias, as quais tiveram
trajetórias similares, integrando-se ao corpo
técnico no fim de suas carreiras como atletas.
Foi no ano de 2005, de acordo com a
18 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
Menegaldo FR, et al.
voluntária I, durante uma conversa informal com
um funcionário da PMC, que a equipe tomou
conhecimento do programa FIEC, antes mesmo
da divulgação de seu primeiro edital, ocorrido em
junho de 2006. Essas informações, ao chegarem à
comissão técnica da equipe e a um grupo de pais
que auxiliava com as atividades de arrecadação de
verbas, motivaram a criação da ACGRE, uma vez
que os projetos beneficiados pelo FIEC deveriam,
obrigatoriamente, ser tramitados por associações
sem fins lucrativos25
.
Definido pela lei nº 12.352, de 10 de setembro
de 200526
, o FIEC é gerido pela Secretaria
Municipal de Cultura, Esportes e Lazer (SMCEL)
e objetiva apoiar projetos estritamente esportivos
ou de lazer de iniciativas de pessoas jurídicas, de
direito tanto público como privado25
.
Desde sua criação, foram 12 editais anuais.
Para este estudo, foram analisados os editais
de 2006 a 2014c
. De acordo com o Decreto
nº 15.442, de 26 de abril de 200627
, que
“Estabelece Normas e Procedimentos Sobre
a Organização e o Funcionamento do Fundo
de Investimentos Esportivos do Município de
Campinas – FIEC, e dá outras Providências”27
, os
editais são elaborados pela SMCEL e aprovados,
anualmente, pelo Conselho Municipal de
Esportes e Lazer (CMEL), que tem como
principal papel “apreciar os projetos esportivos
a serem financiados pelo FIEC”27
, bem como a
avaliar os pareceres técnicos, fiscalizar a execução
dos projetos e auxiliar na seleção de pareceristas
e consultores26
. Todas as informações referentes
à lei e à sua execução são divulgadas pelo Diário
Oficial do Município (DOM), inclusive os
projetos aprovados26
.
Em 2005, quando a lei foi instituída, o
SMCEL propunha sete categorias para submissão
de projetos: esporte de participação e lazer,
esporte educacional, esporte de rendimento,
paradesporto, espaços esportivos, estudo e
pesquisa e por fim, formação26
. No entanto, ao
longo de sua realização e publicações de editais
anuais, algumas categorias foram mantidas
e outras retiradas dos editais. Atualmente,
o FIEC disponibiliza apenas três opções de
categorias para submissão de projetos: esporte
de participação e lazer, esporte de rendimento
e paradesporto28
.
É importante ressaltar que essa lei foi instituída
em âmbito municipal, mas está inserida em um
cenário de implantação de políticas em diferentes
esferas do poder público, com propostas que
convergiam com os interesses das secretarias
nacionais instituídas a partir de 2003 pelo ME,
sendo elas: de Esporte Educacional (SNEED), de
Esporte e Lazer (SNDEL) e de Esporte de Alto
Rendimento (SNEAR)29,11
.
Nesse panorama, o Esporte de Alto Rendimento
(EAR) sempre possuiu grandes investimentos
por parte do governo Federal, mesmo antes da
criação do ME30,31,11
, o que pode ser constatado
pelo fato das ações esportivas do país estarem
divididas em três categorias desde a Constituição
de 1988 (Esporte-Educação, Esporte-Participação
e Esporte-Performance) – mesma data em que as
ações esportivas foram definidas como direito dos
cidadãos. Embora encontremos algumas alterações, é
possível observar grande semelhança entre a divisão
proposta pela Constituição em 88, pelo ME em
2003 e a organização atual, que propõem como
departamentos de gestão estratégica a Secretaria
Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão
Social (SNELIS) e o SNEAR, além da Secretaria
Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do
Torcedor (SNFDT) e a Autoridade Brasileira de
Controle de Dopagem (ACBD)32
.
O FIEC, por sua vez, representa uma ação do
governo municipal para o fomento de práticas
esportivas que contempla, desde seu início,
projetos esportivos de diferentes naturezas. No
entanto, analisando detalhadamente seus Editais,
podemos concluir que as verbas anunciadas ano a
ano para as atividades que estão envolvidas com o
EAR são significativamente superiores às quantias
destinadas às atividades de outras categorias
presentes nos editais, como “Esporte Educacional”
e “Esporte de Participação e Lazer”33
. No estudo
realizado por Benini30
, no qual faz-se uma análise
detalhada sobre o FIEC entre os anos de 2011 e
2013, o autor conclui que:
[p]ensando na questão da verba destinada
para cada manifestação esportiva em 2013 a
verba repassada para o Esporte de Rendimento
representa quatro vezes e meia a verba do
Esporte de Participação, seis vezes a verba
do Esporte Educacional e treze vezes a verba
do Paradesporto. Apenas com essa primeira
observaçãotendocomocritérioaverbarepassada
para os projetos pode-se observar que o Esporte
de Rendimento se apresenta em uma posição
mais valorizada dentro do fomento esportivo
na cidade de Campinas30
(p. 27).
Com o intuito de participar do referido edital,
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 19
A parceria público-privada no contexto esportivo
a equipe de GR do CCRN fundou, em 12 de
dezembro de 2005, a ACGRE, caracterizada
como uma associação civil sem fins lucrativos,
que tem como objetivos: difundir a prática da
GR; promover eventos esportivos e recreativos
com caráter amador para alunos e funcionários
da ACGRE; e representar a cidade de Campinas
em eventos esportivos34
.
O surgimento da ACGRE e a possibilidade
de acessar os fundos do FIEC foi, segundo as
voluntárias, uma alternativa à difícil situação
financeira que a equipe vivia no início da década
de 2000, situação diretamente relacionada à crise
dos clubes socioesportivos8
, que no contexto
campineiro, fez com que na década de 1990
muitos clubes sofressem uma evasão de associados,
resultando em uma crise financeira, visto que “a
manutenção dos clubes se baseia no pagamento
das taxas mensais pelos associados” (p. 108)7
.
Numa perspectiva mais ampla, é possível pensar
ainda que as sociedades pós-modernas adquirem
um caráter cada vez mais individualista35
, o que,
atrelado aos avanços tecnológicos de acessibilidade
de entretenimento instantâneo e de consumo,
desencontra-se com a ideia do usufruto coletivo
através de uma associação, o que seria, a nosso ver,
o ideal de clube8
.
Concomitantemente, Alves e Pieranti36
,
Meira, Bastos e Böhme37
e Galatti38
, apontam
o clube como o locus da prática esportiva no
país, situando-se, portanto, da base ao topo de
um modelo esportivo piramidal. A partir disso,
ao pensarmos a crise clubista, deparamo-nos
com um dilema: a base da pirâmide esportiva
não possui condições, mecanismos financeiros,
e por vezes nem interesses políticos e midiáticos
que permitam manter as equipes competitivas.
Além da dificuldade financeira, outra questão
que incentivou a busca da parceria com a
Prefeitura Municipal foi, na visão da voluntária
V, a diminuição no ingresso de novas ginastas e
a dificuldade de permanência dessas atletas para
além das categorias de base. De acordo com as
entrevistadas, a equipe passava por um período
crítico no que diz respeito à sua renovação
(ingresso de novas ginastas), fato que para a
voluntária V poderia estar relacionado às diversas
possibilidades de atividades as quais as crianças
passaram a ter acesso:
[h]oje em dia o acesso às coisas é muito fácil.
Na minha época era muito legal passar horas
treinando. Hoje não é mais porque as crianças
têm muitas possibilidades: curso de inglês, de
espanhol, de música. Na minha época a gente
viaotreinamentocomoumaopçãosensacional
e hoje não é mais assim (Voluntária V).
A menor adesão indicada na fala da Voluntária
V parece ter relação com o estudo de STRINGHINI39
,
quando são analisadas as razões da desistência
da prática da Ginástica Artística (GA) no alto
rendimento, modalidade que mantém algumas
similaridades com a GR. Foi constatado que a
condição econômica das famílias das ginastas
pode contribuir tanto para incentivar como para
desestimular os treinamentos.
Ainda sobre essa questão, a voluntária V afirmou
que, antes mesmo da efetivação da parceria, a
equipe técnica já notava uma mudança no perfil
socioeconômico das famílias que traziam as
crianças para participar do processo de “seleções de
talento”. Os testes e “peneiras”, como é comumente
denominado o processo, eram realizados no
espaço do CCRN – privilegiando o público das
proximidades da instituição –, começaram a
receber uma quantidade expressiva de meninas não
sóciasd
, que residiam em regiões distantes do clube
e que pertenciam a grupos sociais distintos aos
costumavam comparecer nas “seleções de talento”.
Refletindo acerca disso, as treinadoras perceberam
uma possibilidade para o aumento do número de
ginastas da equipe.
Simultaneamente, a parceria com o FIEC
trouxe uma nova exigência às gestoras da equipe,
o chamado “investimento social”, item presente
em todos os editais e que exige a execução de
ações relacionadas à modalidade esportiva do
projeto em áreas de vulnerabilidade social do
município. Importante ressaltar que o conceito de
vulnerabilidade social utilizado neste estudo não
está atrelado simplesmente a divisão geográfica
periferia-centro, como é mencionado por CUNHA,
JAKOB, HOGAN E CARMO40
e RIBEIRO E LAGO41
. Na
realidade, a utilização da expressão vulnerabilidade
social no contexto deste trabalho está estritamente
ligada à concepção trazida por MONTEIRO42
, que
aborda a vulnerabilidade social como um “produto
negativo da relação entre recursos simbólicos e
materiais, de indivíduos ou grupos, e o acesso a
oportunidades”42
(p. 33).
Nessa perspectiva, a vulnerabilidade social estaria
atrelada a dois pressupostos que MONTEIRO42
, em
concordância com BUSSO43
, define como o “risco
de ser ferido ou prejudicado frente à mudança
ou permanência de situações indesejáveis e [...] à
20 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
Menegaldo FR, et al.
O funcionamento da parceria: sobre as
alterações administrativas
Um dos aspectos mais influenciados pela
implantação da parceria público-privada foi o
modelo de gestão da equipe que, até então, dependia
de ações alternativas para obtenção de verba, como
a realização de rifas, apresentações remuneradas e
eventos para arrecadação de recursos. Essas ações
refletem o amadorismo que ainda define a prática
da GR no Brasil48
e as estratégias adotadas pela
maioria dos clubes. Esse novo modelo exigiu das
treinadoras competências relacionadas aos trâmites
administrativo-burocráticos, antes não necessárias,
realizados de maneira voluntária.
[e]u sei ser técnica, e com a parceria tive
que aprender a ser gestora. Isso é um pouco
complicado porque você vem dar o treino e
fica pensando na prestação de contas que você
tem que fazer. Deveria ter uma pessoa dentro
da equipe só para fazer essa parte, o que não é o
nossocaso,porqueaassociaçãoéformadapelas
próprias professoras (Voluntária I).
Em concordância com a realidade descrita acima
e confirmando o ingresso tardio de disciplinas de
gestão nos cursos de formação em Educação Física16
,
SOUCI47
define que, em geral, os administradores nos
diferentes contextos esportivos são ex-professores
e treinadores que não possuem a qualificação na
área da gestão. Em muitos casos, inclusive no
modelo estudado, o acúmulo de funções resultou
na sobrecarga e na realização de funções de maneira
não otimizada49
.
Nesse sentido, é importante reservar algumas
palavras sobre o processo de prestação de contas,
ação principal referente às questões administrativas
capacidade de respostas que os grupos sociais têm
às mudanças e aos desafios que o meio natural e
social impõe”42
(p. 33). Nesse mesmo sentido, a
autora ainda reforça a ideia de vulnerabilidade social
como sujeitos que
[e]ncontram-se incapacitados para lidar com
as circunstâncias do cotidiano da vida em
sociedade e de se movimentarem na estrutura
social. Essas situações não se restringem aos
determinantes econômicos, pois perpassam
também as organizações simbólicas de raça,
orientação sexual, gênero, etnia42
(p. 35).
A possibilidade de possuir uma equipe com
um número maior de ginastas foi viabilizada,
principalmente, pela realização de intervenções nas
escolas da rede pública do município de Campinas,
ambientes antes não acessados pela equipe técnica
do CCRN. Essas intervenções deram-se no
formato de aulas abertas semestrais ministradas
pelas treinadoras e que tinham como objetivo a
“seleção de talentos”. Essas novas intervenções
viabilizadas pela parceria permitiram, de acordo com
a voluntária IV, a criação de um trabalho de base
mais amplo: “O objetivo era ter um financiamento
para dar estrutura para trazer novas atletas para o
clube” (Voluntária IV).
A ação que a treinadora IV destaca em seu
depoimento, refere-se à busca por novas ginastas
em áreas de vulnerabilidade social e realização de
seleções de talento para além do espaço do clube
socioesportivo, são situações que têm se tornado
bastante comuns em diversos municípios, e que
muitas vezes são atreladas ao que chamamos
de projetos esportivos sociais. Estudos como
SILVA e SILVA44
e CASTRO e SOUZA45
confirmam o
aumento dos projetos sociais esportivos no país e
reforça a importância da atuação de profissionais
qualificados nesses contextos onde o esporte ainda
se faz ausente: “[...] a população carece de locais
com profissionais para dirigir e ensinar práticas
esportivas; por isso, a necessidade de disseminação
do esporte e de seus valores através de políticas
públicas esportivas”44
(p. 417).
Nesse sentido, consideramos importante destacar
a alteração quase que total do perfil das ginastas
da equipe, por conta do acesso as escolas públicas,
diminuindo drasticamente o número de atletas
sócias e ingressantes por meio dos testes realizados
do próprio CCRN. Essa mudança de perfil marcou,
em concordância com os discursos, uma mudança
no papel e “na pedagogia” das treinadoras, alterando
a dinâmica de treinamentos da equipe e, muitas
vezes, o papel que a prática esportiva assumia na
vida das praticantes. Nesse caso, parece ser que, para
essa nova geração de ginastas – e para suas famílias,
o caráter socioeducativo do esporte é prioritário.
Para além disso, o exemplo dessa parceria
público-privada, hora estudada, aponta uma
expansão do papel do clube socioesportivo
como espaço de promoção e ingresso ao esporte.
Quando concretizadas, essas parcerias fomentam
a flexibilização de algumas características para que
a instituição elitista7
assuma um “novo” status, um
novo papel, principalmente no que tange o acesso
ao esporte, esse sendo pensado não apenas como
um direito civil11
, mas também como um direito
social, quando pensado enquanto prática de lazer46
.
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 21
A parceria público-privada no contexto esportivo
de manutenção dos projetos. O “Guia de Prestação
de Contas 2014”50
, documento disponibilizado às
instituições proponentes dos projetos, confirma a
seriedade deste processo e as atribuições por parte
dos responsáveis pelas instituições beneficiadas,
alegando que as prestações de contas dos
projetos que receberem benefícios do FIEC
devem ser elaboradas com rigorosa observância à
legislação específica e às orientações, e deverão ser
assinadas por contador ou por técnico contábil
legalmente habilitado. Fica, assim, evidente,
que esse processo requer determinada cautela e
competência técnica frente a tantas exigências, as
quais revelam o cuidado das instituições públicas
com a “cultura da corrupção”e
.
A voluntária I acrescentou que, embora desejável,
a contratação de um profissional contábil é inviável
por conta da variação das quantias recebidas a cada
ano, impossibilitando a contratação de um serviço
administrativo regular ou com custo fixo.
Esse aspecto está atrelado à inconstância ou
à oscilação do volume concedido na rubrica,
anualmente, para cada projeto. Essa variação foi
apontada como um fator negativo da parceria por
outras voluntárias, que indicaram que essa oscilação
pode prejudicar o planejamento das atividades da
equipe. Como os editais permitem a submissão
de projetos com vigência, em geral, de março a
novembro, a cada ano as associações parceiras
correm o risco de ter sua verba aumentada ou
diminuída ao pleitear novamente o auxílio. Essa
situação está diretamente relacionada à própria
inconstância e organização assistemática dos
programas e projetos de esporte e lazer no Brasil,
conforme nos aponta PINTO53
.
Distanciando-nos de questões administrativas,
um ponto interessante levantado pela voluntária II
refere-se às intervenções nas escolas. Para ela, essas
ações mereceriam uma reflexão particular: “nós não
estamos lá todo dia, o tempo todo... Exatamente no
dia em que você foi fazer a “peneira”, aquela criança
que é talentosa não foi na aula, ou não estava bem,
e daí nós não conseguimos enxergá-la” (Voluntária
II). Esse aspecto torna-se um dilema no contexto
da equipe, pois as treinadoras não possuem tempo
disponibilizado pelo clube e nem financiamento –
ajuda de custo ou remuneração para a realização
dessas ações. Ao mesmo tempo, não há outras
iniciativas que possam levar as crianças para aulas
abertas no CCRN sem que elas já estejam vinculadas
a equipe de treinamento.
Essa questão está relacionada, na perspectiva da
voluntária V, a uma política esportiva mais ampla
por parte do governo municipal, no sentido de
fomentar ações que ampliem ainda mais acesso
às práticas esportivas e, paralelamente, uma ação
social de maior impacto. A entrevistada então
sinaliza que, para viabilizar outras ações para
além das que são possibilitadas pela parceria com
o FIEC, a equipe explora outras ferramentas com
intuito de ampliar o orçamento.
De fato, as políticas públicas esportivas, como
a Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte,
também merecem destaque, uma vez que já
compõem, de alguma forma, a realidade da equipe
ACGRE/FIEC/CCRN. A primeira delas, a Bolsa
Atleta13
, sancionada pela Lei nº 10.891/2004,
já beneficiou três ginastas da equipe, benefício
que foi possibilitado pelos resultados obtidos no
Campeonato Sul-americano de 2013.
A segunda política, na esfera federal, é a Lei
nº 11.438/2006, definida como a dedução de
imposto de renda, de pessoa física ou jurídica,
de valores despendidos a título de patrocínio ou
doação, no apoio direto para projetos desportivos
ou paradesportivos, que já possuam aprovação pelo
ME14
. A contemplação por esse programa público
de incentivo aos trabalhos das organizações não
governamentais sem fins lucrativos, vinculadas ao
CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente – e à Secretaria Municipal
de Assistência Social, vem sendo um dos objetivos
da equipe ACGRE/FIEC/CCRN, que já obteve
aprovação de projetos, mas não obtiveram a
captação dos recursos.
Todas essas leis preveem exigências a serem
executadas pelas instituições beneficiadas. Com
relação ao FIEC, cabe ressaltar a representação
da cidade nos Jogos Regionais (JR) e nos
Jogos Abertos do Interior (JAI), competições
de grande repercussão esportiva e política no
estado de São Paulo54
. Para além de resultados
competitivos, o edital do FIEC aponta a
obrigatoriedade da realização das intituladas
ações de “contrapartida”, que devem fomentar a
prática da modalidade no município, exigindo a
utilização de um valor referente a 5% da quantia
total recebida a cada ano pela instituição28
.
No caso da equipe CCRN, essas ações de
contrapartida se dão, em geral, pela organização
de duas atividades realizadas anualmente: a Copa
Campinas de Ginástica Rítmica e o Curso de
iniciação à Ginástica Rítmica, com caráter de
formação continuada55
.
22 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28
Menegaldo FR, et al.
As principais mudanças na rotina de
ginastas e treinadoras
Fora as exigências previstas pela lei, a efetivação
da parceria ACGRE/FIEC/CCRN exigiu
outras mudanças na rotina das treinadoras e,
principalmente, no relacionamento delas com
as ginastas. Devido ao cunho social atribuído, a
atuação profissional delas se transformou, deixando
de ter apenas o caráter técnico-esportivo, exigindo
maior “dedicação” educativa. As treinadoras
informaram que a relação treinador-atleta mudou
significativamente, em sentido similar ao relatado
por SILVA e SILVA44
, quando destacam a influência
dos treinadores na formação dos alunos de projetos
sociais, no sentido de uma expectativa de futuro
ligada diretamente à modalidade praticada,
almejando, por exemplo, tornarem-se professores.
A mudança na postura das atletas também
foi observada pelas treinadoras. As voluntárias
I, II e IV atribuem essa mudança não apenas à
expressiva alteração no perfil socioeconômico,
mas principalmente a diferenças relacionadas a
uma mudança geracional, aos diferentes contextos
históricos e aos momentos da sociedade nos
quais estão inseridas as equipes anteriores e
posteriores à parceria. Conforme a voluntária I, é
possível observar atualmente uma postura menos
independente e autônoma das atletas.
[a] geração de dez anos atrás é totalmente
diferente da geração de hoje... elas são muito
maisdependentes.Inclusivenaprópriaquadra.
Àsvezesparecequenósprecisamosdarmaisdo
que elas, porque elas sempre estão esperando
muito de nós. Elas são mais dependentes
emocionalmente, não só monetariamente
(Voluntária I).
O depoimento da voluntária I vai ao encontro da
literatura quando, por exemplo, GERVIS e DUNN56
,
citados por SCHIAVON57
, afirmam que em muitos
casos, as ginastas podem compreender a figura
do treinador como mais importante até do que
os próprios pais, estabelecendo o que os autores
denominam como relacionamento criança-adulto
ainda na infância54,55
. Essa relação pode ser similar
a um vínculo familiar, relacionamento que origina
sentimentos como respeito, carinho, obediência e
até submissão.
A relação atleta-atleta também adotou outro
caminho. A estratégia competitiva, antes voltada
para as competições individuais, passou a enfocar
as competições de conjunto. Para a voluntária V,
essa alteração se fez necessária para manter o grupo,
uma vez que o treinamento de conjuntos se mostrou
mais seguro – do ponto de vista emocional – para as
ginastas e, a cada geração, desencadeia o surgimento
de um círculo de amizade entre as ginastas que torna
o ambiente mais saudável para os treinos: “Nós
vimos que para segurar as meninas dentro do ginásio
não adiantava elas fazerem só individual, elas não
querem, é muita pressão. Com o conjunto, elas iam
se soltar mais, e ia dar para segurar as meninas pelas
amizades, pelo clima que ficava ali” (voluntária V).
Dessa forma, fica evidente que a preferência por
parte das ginastas pelas provas de conjunto se deve
ao caráter social que essa prova impõe, devido à
convivência das atletas nos treinamentos. LOPES
e NUNOMURA58
, ao escreverem sobre os fatores
motivacionais intrínsecos e extrínsecos para o
treinamento da GA, relatam a importância desse
fator para os ginastas. Assim, o vínculo social
pode ser um fator motivacional relevante para a
continuidade dos treinos59
, principalmente quando
as atletas ingressam na realidade competitiva da
modalidade que possui uma rotina de treinamentos
mais intensa60,58,61
.
Outra modificação instalada nesse período foi
a organização e o acesso a itens essenciais para o
desenvolvimento dos treinos e para a participação
da equipe em eventos de âmbito nacional e
internacional. Nas gerações de ginastas anteriores,
os investimentos aconteciam de modo individual,
decisão justificada, principalmente, pela falta de
investimento na modalidade: “Na minha época, a
gente tinha o conhecido pai-trocínio” (Voluntária
V). Cada atleta, portanto, custeava seus próprios
gastos e isso permitia às ginastas e a seus responsáveis
um maior poder de decisão em escolhas como
compra de materiais, confecção de uniformes de
treino e competição, além de competições que
iriam participar, pois os preços de passagens áreas,
hotéis e alimentação precisavam ser acessíveis
às possibilidades de investimento por parte das
ginastas. Assim, o desenvolvimento da equipe estava
condicionado a um diálogo intenso entre a equipe
técnica e os ginastas e seus familiares.
O investimento externo do FIEC atrelado à
mudança do perfil socioeconômico das ginastas
desencadeouastomadasdedecisõesdentrodaequipe,
norteadas, prioritariamente, pelas treinadoras.
Dessa forma, a compra de itens necessários para o
treinamento e, principalmente, os campeonatos a
serem disputados representam decisões da equipe
técnica, com mínima interferência das ginastas e de
Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 23
A parceria público-privada no contexto esportivo
seus responsáveis. Segundo as treinadoras, essa nova
conjuntura contribuiu para a autonomia e facilitou
o planejamento, além de viabilizar a participação
em eventos com maior número de ginastas.
Diversos estudos recentes no campo da ginástica
competitiva analisam as distintas formas de
patrocínio nas equipes esportivas, destacando a
ausência dele no âmbito da ginástica48,62,57
, exceto
no caso das seleções nacionais. Para esses autores
mencionados, o discurso amador ainda é marcante
nesse contexto, pois nem sequer ginastas de alto
nível possuem garantias de um patrocinador
individual. Isso se dá principalmente por conta
da falta de visibilidade midiática63,62
, inclusive no
campo da ginástica: “na mídia, as modalidades
não ganham exposição, não se desenvolvem, não
atraem investidores e não atingem o público [...].
Se o público não se identifica, não há investimento
por parte das empresas”62
(p. 168).
Embora seja uma alternativa que se concretizou
no contexto da equipe CCRN e que contribui
até os dias atuais de forma fundamental para
a manutenção das atividades da equipe, o
modelo de parceria apresentado gera, segundo a
presidente da ACGRE, uma possível dependência
das ginastas aos benefícios possibilitados pelo
projeto, como, por exemplo, o acesso a escolas
privadas. Após alguns anos, de acordo com as
voluntárias II e III, essas benfeitorias podem ter se
tornado condicionantes para a permanência das
ginastas na equipe, influenciando diretamente
o comprometimento delas com o treinamento.
Dessa forma, os discursos apontam para a
necessidade de redefinir o modelo atual de gestão
e o acesso a esses benefícios, evitando essa relação
acentuada de dependência entre as ginastas,
relação que, na opinião das treinadoras, não é
positiva para o desenvolvimento da equipe.
Considerações Finais
Os dados analisados não deixam dúvidas de
que as atividades da equipe de GR do CCRN
foram mantidas graças à parceria público-privada
estabelecida, um modelo relativamente recente
de gestão esportiva, que merece ser estudado com
atenção, pois revela benefícios, contradições,
problemáticas e desdobramentos merecedores
de análises mais pormenorizadas. O estudo de
TOLEDO, DESIDERIO e SCHIAVON64
trouxe essa
temática à tona, na relação entre o FIEC, CCRN
e o Instituto SOS Pequeninos, sendo este último
do terceiro setor, no desenvolvimento da Ginástica
Artística, confirmando que diversas parcerias
estão em curso e, por isso, merecem atenção da
comunidade acadêmica.
Por outro lado, a realização do presente estudo
despertou questões que nos parecem extremamente
importantes para a compreensão do atual panorama
do esporte nacional, entre elas, a temática dos clubes
socioesportivos. Acerca disto, o exemplo analisado
evidencia a decadência do associativismo clubístico
na cidade de Campinas-SP, indo ao encontro das
publicações que tratam do tema, e sua implicação
negativa na manutenção das equipes de GR da
cidade em questão. Essa crise não se resume ao
âmbito da GR, indicando tratar-se de um fenômeno
de maior amplitude que afeta a maior parte dos
esportes amadores, e não somente na localidade
analisada.
Podemos debater também o uso de um espaço
privado, o clube socioesportivo, por parte da
população oriunda das áreas de vulnerabilidade
social, normalmente pouco atendida por políticas
e serviços públicos. Esse quadro revela a ausência
ou a insuficiência de ações esportivas por parte do
setor governamental, hoje mais atento ao esporte de
alto rendimento, repassando sua responsabilidade,
por meio das leis de incentivo, ao setor privado.
Não obstante, ainda há tímidas propostas no setor
público que merecem destaque e estudos, como
propostas a serem viabilizadas em outros estados
e municípios.
O estudo aponta, por fim, que parcerias
público-privadas representam uma tendência no
âmbito do esporte de competição, envolvendo
o poder público (organizações e leis), os clubes
ou associações esportivas, e também, em alguns
casos, organizações sem fins lucrativos (ONGs).
Não obstante, parece-nos importante destacar a
limitação desta presente pesquisa, que, como já foi
dito, trata-se de um estudo de caso. Entendemos que
a análise sistemática de outros contextos – outros
casos – contribuiria sobremaneira para ampliar a
discussão aqui iniciada.
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)
Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (20)

Aula vi.coluna vertebral . part. i
Aula vi.coluna vertebral . part. iAula vi.coluna vertebral . part. i
Aula vi.coluna vertebral . part. i
 
Articulação - Joelho e Ombro (Básico)
Articulação -  Joelho e Ombro (Básico)Articulação -  Joelho e Ombro (Básico)
Articulação - Joelho e Ombro (Básico)
 
O que é sedentarismo
O que é sedentarismoO que é sedentarismo
O que é sedentarismo
 
Dança de salão.
Dança de salão.Dança de salão.
Dança de salão.
 
Laban
Laban Laban
Laban
 
Copas do Mundo
Copas do MundoCopas do Mundo
Copas do Mundo
 
Jogos Olímpicos
Jogos OlímpicosJogos Olímpicos
Jogos Olímpicos
 
Atividade física e saúde
Atividade física e saúdeAtividade física e saúde
Atividade física e saúde
 
Fisiologia do Exercício
Fisiologia do ExercícioFisiologia do Exercício
Fisiologia do Exercício
 
Ginastica historia
Ginastica historiaGinastica historia
Ginastica historia
 
resumo regra futsal.docx
resumo regra futsal.docxresumo regra futsal.docx
resumo regra futsal.docx
 
Artrologia
Artrologia Artrologia
Artrologia
 
Cotovelo
CotoveloCotovelo
Cotovelo
 
Características da Ginástica Acrobática
Características da Ginástica AcrobáticaCaracterísticas da Ginástica Acrobática
Características da Ginástica Acrobática
 
KARATÊ
KARATÊKARATÊ
KARATÊ
 
1. conceituações do treinamento desportivo
1. conceituações do treinamento desportivo1. conceituações do treinamento desportivo
1. conceituações do treinamento desportivo
 
Cinesiologia e biomecanica do cotovelo
Cinesiologia e biomecanica do cotoveloCinesiologia e biomecanica do cotovelo
Cinesiologia e biomecanica do cotovelo
 
Ginastica acrobatica [modo de compatibilidade]
Ginastica acrobatica [modo de compatibilidade]Ginastica acrobatica [modo de compatibilidade]
Ginastica acrobatica [modo de compatibilidade]
 
Marcha atletica
Marcha atleticaMarcha atletica
Marcha atletica
 
Ginástica artistica
Ginástica artisticaGinástica artistica
Ginástica artistica
 

Semelhante a Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)

4° SHBPIDS - Programa Preliminar
4° SHBPIDS - Programa Preliminar4° SHBPIDS - Programa Preliminar
4° SHBPIDS - Programa Preliminarseminariohispano
 
Artigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEM
Artigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEMArtigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEM
Artigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEMJosenildo Brussio
 
Urofisioterapia-BR.pdf
Urofisioterapia-BR.pdfUrofisioterapia-BR.pdf
Urofisioterapia-BR.pdfMartaAndrade56
 
Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...
Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...
Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...RBEFE Rev. Bras. Educação Física e Esporte
 
Livro fisiologia cardiovascular
Livro fisiologia cardiovascularLivro fisiologia cardiovascular
Livro fisiologia cardiovascularCaroline Augusta
 
Reacon 2009 ProgramaçãO Oficial
Reacon 2009 ProgramaçãO OficialReacon 2009 ProgramaçãO Oficial
Reacon 2009 ProgramaçãO OficialAdriana Quevedo
 
Tese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforço
Tese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforçoTese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforço
Tese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforçoMário Campos
 
E-book: I PROPESQ PP
E-book: I PROPESQ PPE-book: I PROPESQ PP
E-book: I PROPESQ PPIan Castro
 
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdfFisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdfUNEMAT
 
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdfFisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdfAlineLopesRJ
 
Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012
Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012
Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012gepef
 
Pdf anatomia pratica
Pdf anatomia praticaPdf anatomia pratica
Pdf anatomia praticaOlavo Duarte
 
Protocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdf
Protocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdfProtocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdf
Protocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdfTianeFinimundy1
 
Revista terapia manual e posturologia 47
Revista terapia manual e posturologia 47Revista terapia manual e posturologia 47
Revista terapia manual e posturologia 47Rodrigo Medina
 

Semelhante a Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) (20)

4° SHBPIDS - Programa Preliminar
4° SHBPIDS - Programa Preliminar4° SHBPIDS - Programa Preliminar
4° SHBPIDS - Programa Preliminar
 
Revistaout dez
Revistaout dezRevistaout dez
Revistaout dez
 
Revisao
RevisaoRevisao
Revisao
 
Artigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEM
Artigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEMArtigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEM
Artigo sobre Animes completo nos Anais do III SENACEM
 
Grupo de pesquisa Dom fisiologia
Grupo de pesquisa Dom fisiologiaGrupo de pesquisa Dom fisiologia
Grupo de pesquisa Dom fisiologia
 
Urofisioterapia-BR.pdf
Urofisioterapia-BR.pdfUrofisioterapia-BR.pdf
Urofisioterapia-BR.pdf
 
Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...
Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...
Anais do Seminário de Direitos Humanos em Educação Física e Esporte: desafios...
 
Livro fisiologia cardiovascular
Livro fisiologia cardiovascularLivro fisiologia cardiovascular
Livro fisiologia cardiovascular
 
Reacon 2009 ProgramaçãO Oficial
Reacon 2009 ProgramaçãO OficialReacon 2009 ProgramaçãO Oficial
Reacon 2009 ProgramaçãO Oficial
 
Livro de periodizacao esportiva
Livro de periodizacao esportivaLivro de periodizacao esportiva
Livro de periodizacao esportiva
 
Tese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforço
Tese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforçoTese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforço
Tese mario sistema de avaliacao postura vertebral no teste de esforço
 
E-book: I PROPESQ PP
E-book: I PROPESQ PPE-book: I PROPESQ PP
E-book: I PROPESQ PP
 
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdfFisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_by_Dee_Unglaub_Silverthorn.pdf
 
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdfFisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdf
Fisiologia_Humana_Uma_Abordagem_Integrada_Silverthorn,_Dee_Unglaud.pdf
 
Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012
Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012
Anais do Congresso de Educação Física, Esporte e Lazer - CEFEL 2012
 
Pdf anatomia pratica
Pdf anatomia praticaPdf anatomia pratica
Pdf anatomia pratica
 
Protocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdf
Protocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdfProtocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdf
Protocolos e métodos de análise em laboratorios de bbioteecnologia.pdf
 
Urologia fundamental
Urologia fundamentalUrologia fundamental
Urologia fundamental
 
Revista terapia manual e posturologia 47
Revista terapia manual e posturologia 47Revista terapia manual e posturologia 47
Revista terapia manual e posturologia 47
 
Relatorio sbfqm quiropraxia
Relatorio sbfqm quiropraxiaRelatorio sbfqm quiropraxia
Relatorio sbfqm quiropraxia
 

Mais de RBEFE Rev. Bras. Educação Física e Esporte

Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...
Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...
Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...RBEFE Rev. Bras. Educação Física e Esporte
 
XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...
XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...
XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...RBEFE Rev. Bras. Educação Física e Esporte
 

Mais de RBEFE Rev. Bras. Educação Física e Esporte (20)

RBEFE - DIRETRIZES E NORMAS AOS AUTORES - 2024
RBEFE - DIRETRIZES E NORMAS AOS AUTORES - 2024RBEFE - DIRETRIZES E NORMAS AOS AUTORES - 2024
RBEFE - DIRETRIZES E NORMAS AOS AUTORES - 2024
 
XVII Seminário de Educação Física Escolar.pdf
XVII Seminário de Educação Física Escolar.pdfXVII Seminário de Educação Física Escolar.pdf
XVII Seminário de Educação Física Escolar.pdf
 
Anais do XVI Seminário de Educação Física Escolar – 2021
Anais do XVI Seminário de Educação Física Escolar – 2021Anais do XVI Seminário de Educação Física Escolar – 2021
Anais do XVI Seminário de Educação Física Escolar – 2021
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 18, número especial, 2004
Revista Paulista de Educação Física, v. 18, número especial, 2004Revista Paulista de Educação Física, v. 18, número especial, 2004
Revista Paulista de Educação Física, v. 18, número especial, 2004
 
Anais do XV Seminário de Educação Física Escolar - 2019
Anais do XV Seminário de Educação Física Escolar - 2019Anais do XV Seminário de Educação Física Escolar - 2019
Anais do XV Seminário de Educação Física Escolar - 2019
 
XIV Seminário de Educação Física Escolar - 2017
XIV Seminário de Educação Física Escolar - 2017XIV Seminário de Educação Física Escolar - 2017
XIV Seminário de Educação Física Escolar - 2017
 
Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...
Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...
Anais do XIII Seminário de Educação Física Escolar. RBEFE - Suplemento, v. 29...
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 2, 1996.
Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 2, 1996.Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 2, 1996.
Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 2, 1996.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 1, 1996
Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 1, 1996Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 1, 1996
Revista Paulista de Educação Física, v. 10, n. 1, 1996
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 2, 1992.
Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 2, 1992. Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 2, 1992.
Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 2, 1992.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 1, 1992.
Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 1, 1992.Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 1, 1992.
Revista Paulista de Educação Física, v. 6, n. 1, 1992.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 5, n. 1/2, 1991.
Revista Paulista de Educação Física, v. 5, n. 1/2, 1991. Revista Paulista de Educação Física, v. 5, n. 1/2, 1991.
Revista Paulista de Educação Física, v. 5, n. 1/2, 1991.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 4, n. 1/2, 1990.
Revista Paulista de Educação Física, v. 4, n. 1/2, 1990. Revista Paulista de Educação Física, v. 4, n. 1/2, 1990.
Revista Paulista de Educação Física, v. 4, n. 1/2, 1990.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 3, n. 4, 1989.
Revista Paulista de Educação Física, v. 3, n. 4, 1989. Revista Paulista de Educação Física, v. 3, n. 4, 1989.
Revista Paulista de Educação Física, v. 3, n. 4, 1989.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 3, 1988.
Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 3, 1988. Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 3, 1988.
Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 3, 1988.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 2, 1988.
Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 2, 1988. Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 2, 1988.
Revista Paulista de Educação Física, v. 2, n. 2, 1988.
 
Revista Paulista de Educação Física, v. 1, n. 1, 1986
Revista Paulista de Educação Física, v. 1, n. 1, 1986Revista Paulista de Educação Física, v. 1, n. 1, 1986
Revista Paulista de Educação Física, v. 1, n. 1, 1986
 
Política de uso das mídias sociais da RBEFE
Política de uso das mídias sociais da RBEFEPolítica de uso das mídias sociais da RBEFE
Política de uso das mídias sociais da RBEFE
 
RBEFE, v. 27, supl. 7, 2013
RBEFE, v. 27, supl. 7, 2013RBEFE, v. 27, supl. 7, 2013
RBEFE, v. 27, supl. 7, 2013
 
XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...
XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...
XII Seminário de Educação Física Escolar - Resumos dos trabalhos da área temá...
 

Anais do V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC)

  • 1. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Brazilian Journal of Physical Education and Sport São Paulo v.31 Suplemento n.10 outubro 2017 ISSN 1807-5509 e-ISSN 1881-4690 20 e 21 de outubro de 2017 Centro de Educação Física e Desportos Universidade Federal do Espírito Santo - UFES Vitória, ES - Brasil
  • 2. Coordenação Geral Comissão Científica Prof. Dr. Mauricio Santos Oliveira (CEFD-UFES) Prof. Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE-USP) Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (FEF-Unicamp) Profa. Dra. Eliana de Toledo (FCA-Unicamp) Prof. Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (FEF-Unicamp) Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP-USP) Prof. Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE-USP) Profa. Dnda. Kizzy Antualpa (EEFE-USP) Prof. Dnda. Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima (FEF-Unicamp) Comissão Organizadora Yan Tavares Galdino da Silva - Graduação (CEFD-UFES) Prof. Dnda. Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima (FEF-Unicamp) Profa. Dnda. Kizzy Antualpa (EEFE-/USP) Comissão de Apoio Matheus Agnez de Oliveira (CEFD-UFES) Lucas Fraga Pereira (CEFD-UFES) Carlos Eduardo Santos de Castro (CEFD-UFES) Franciny dos Santos Dias (CEFD-UFES) Kamau Osei Fregonesi Ferreira Monteiro (EEFERP-USP) Vitor Ricci Costa (EEFERP-USP) Caroline Inácio Molinari (EEFERP-USP) Ari Damaceno (EEFERP-USP) Lucas Lordello (FCA-Unicamp) Mateus Henrique de Olveira (FCA-Unicamp) Vanessa Pizzol (FCA-Unicamp) Gabriel Ventura (FCA-Unicamp) Kassia Mitally Carvalho (FEF-Unicamp) Bruna Locci (FEF-Unicamp) Camila Milani (FEF-Unicamp) Fernanda Raffi Menegaldo (FEF-Unicamp) V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) Solange Alves Santana (EEFE-USP) Profa. Msda. Pâmela Pires da Silva (EEFE-USP) Profa. William Ferraz de Santana (EEFE-USP) Apoio Comissão Científica
  • 3. Pareceristas Dra. Andrize Ramires Costa (UFPEL) Dr. Carlos Manoel dos Reis Araújo (Universidade do Porto) Dr. César José Duarte Peixoto (Universidade de Lisboa) Dra. Eliana de Toledo (FCA/UNICAMP) Dra. Elizabeth Paoliello (UNICAMP) Dra. Ieda Parra Barbosa Rinaldi (UEM) Dr. Ivan Cuk (Universidade de Liubliana) Dra. Ivana Montandon Soares Aleixo (UFMG) Dr. João Carlos Oliva (UFRGS) Dra. Juliana Pizani (UFSC) Dra. Laurita Marconi Schiavon (UNICAMP) Dra. Ligia Andrea Pereira Gonçalves (UEL) Doutoranda Lorena Nabanete dos Reis (UFC) Dr. Luiz Mochizuki (EACH/USP) Dra. Marcia Regina Aversani Lorenço (UNOPAR) Dr. Marco Antonio Coelho Bortoleto (UNICAMP) Dra. Maria de Lurdes Ávila Carvalho (Universidade do Porto) Dra. Maria Luisa Belloto Bortoleto (FISEX-UNICAMP) Dra. Mariana Harumi Cruz Tsukamoto (EACH/USP) Dr. Mateus Finco (UFPB) Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP) Dr. Paulo Carrara (FMU) Doutoranda Priscila Regina Lopes (UFVJM) Dra. Regina Maria Rovigati Simões (UFTM) Dra. Roberta Cortez Gaio (UNINOVE/UNISAL) Dra. Rossana Travassos Benck (UNB) Dra. Silvia Deutsch (UNESP) Doutoranda Thais Cevada D’Almeida (UERJ) Dra. Michele Viviene Carbinatto (EEFE/USP) Apoio Acadêmico-Científico Laboratório de Ginástica - LABGIN/UFES Grupo de Estudos e Pesquisa em Ginástica da USP - GYMNUSP Grupo de Pesquisa em Ginástica do Laboratório de Experiências e Pesquisas em Ginástica LAPEGI/FCA/ UNICAMP Grupo de Pesquisa em Ginástica FEF/UNICAMP Apoio Técnico Science of Gymnastics Journal Revista Brasileira de Educação Física e Esporte - EEFE-USP Setores e Funcionários do CEFD/UFES Apoio Científico
  • 4. Programação 20/10 (sexta-feira) 12h Credenciamento e retirada de materiais 14h às 17h30 Atividades Simultâneas MiniCurso GA I Técnicas para desenvolvimento de giros longitudinais Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente na Universidade de Friburgo, na Alemanha e presidente do Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica) Mediação: Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (FEF/UNICAMP) Local: Sala de ginástica CEFD/UFES MiniCurso GR I A utilização dos elementos pré-acrobáticos nos exercícios de Ginástica Rítmica individual e de conjuntos Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente na Universidade de Friburgo, na Alemanha e presidente do Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica) Mediação: Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (FEF/UNICAMP) Local: Sala de ginástica CEFD/UFES Observação: Intervalo entre 15h30 e 16h00 19h00 Solenidade de Abertura Local: Auditório CEFD/UFES 19h30 Conferência de Abertura Mediação: Prof. Dr. Mauricio Santos de Oliveira (Presidente do V SIGARC e docente do CEFD/UFES) Local: Auditório CEFD/UFES
  • 5. 21/10 (sábado) 9h Sessão de Pôsteres Local: Ginásio poliesportivo do CEFD/UFES 10h00 - 10h30 Intervalo 10h30 Mesa-Redonda I (Atividades Simultâneas) Ginástica Artística I Da formação ao alto rendimento na Ginástica Artística Profa. Mestranda Caroline Molinari (Seleção Olímpica de 2004 e corpo técnico da seleção brasileira nos ciclos olímpicos de 2005-2008, 2009-2012 e 2013-2016) Prof. Esp. Hugo Lopes Oliveira (Formado em Educação Física na Unimesp - Fig em Guarulhos - SP e pós graduado na Universidade Gama Filho em Treinamento Desportivo. Técnico de Ginástica Artística Masculina no clube Serc Santa Maria, em São Caetano do Sul). Mediação: Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP) Local: Mini-auditório CEFD/UFES Ginástica Rítmica I Capacitação, mudança de normas e desafios da arbitragem em Ginástica Rítmica Profa. Ms. Marcia Regina Aversani Lourenço (Coordenadora do curso de Especialização em Ginástica Rítmica da UNOPAR e árbitra Internacional da Confederação Brasileira de Ginástica) Profa. Dra. Catarina Paula Leandro Sousa Silva (Docente na Universidade Lusófona do Porto, árbitra Internacional e formadora na Escola Nacional de Ginástica da Federação de Ginástica de Portugal) Mediação: Doutoranda Bruna Locci (FEF/Unicamp) Local: Auditório CEFD/UFES 12h00 - 14h00 Almoço 14h00 - 15h30 Mesa-Redonda II (Atividades Simultâneas) Ginástica Artística II Treinamento em Ginástica Artística: pedagogia e tecnologia Prof. Dr. Flávio Bessi (Docente da Universidade de Friburgo na Alemanha, presidente do Conselho de Formação de Treinadores da Federação Alemã de Ginástica) Prof. Dr. Marco Antônio Coelho Bortoleto (docente da Universidade Estadual de Campinas e membro da comissão de educação da Federação Internacional de Ginástica) Mediação: Profa. Dra. Laurita Marconi Schiavon (FEF/UNICAMP) Local: Auditório do CEFD/UFES
  • 6. Ginástica Rítmica II Aspectos da periodização e desenvolvimento do alto rendimento da Ginástica Rítmica Profa. Dra. Kizzy Fernandes Antualpa (Ex-ginasta da seleção brasileira, treinadora e árbitra de Ginástica Rítmica e doutorado em Ciências na EEFE/USP) Profa. Patrícia Luiza Bremer Boaventura (Docente na Universidade Federal de Santa Catarina, ex-ginasta e treinadora de Ginástica Rítmica) Mediação: Profa. Dra. Eliana de Toledo (FCA/UNICAMP) Local: Mini-auditório CEFD/UFES 15h30 - 16h00 Intervalo 16h00 - 18h00 Atividades Simultâneas Minicurso GA II Aspectos do treinamento de alto rendimento na Ginástica Artística Profa. Mestranda Caroline Molinari (seleção olímpica de 2004 e corpo técnico da seleção brasileira nos ciclos olímpicos de 2005-2008, 2009-2012 e 2013-2016) Mediação: Profa. Dra. Myrian Nunomura (EEFERP/USP) Local: Sala de ginástica CEFD/UFES Minicurso GR II O trinômio “corpo, música e aparelho” na Ginástica Rítmica de alto rendimento Profa. Ms. Monika Queiroz (Graduada em Educação Física e mestre em História na Universidade Federal do Espírito Santo, treinadora da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de 2008 e 2016) e treinadora no mundial de 2017, em Pesaro, Itália) Mediação: Profa. Dra. Kizzy Fernandes Antualpa (EEFE/USP) Local: Sala de dança CEFD/UFES 19h00 - 20h30 Conferência de Encerramento Ginástica Artística, mudanças socioculturais e prolongamento da carreira esportiva Profa. Dra. Myrian Nunomura (ex atleta, árbitra e treinadora de Ginástica Artística, professora titular da Universidade de São Paulo e autora de livros e artigos no âmbito da Ginástica) Mediação: Profa. Dra. Michele Carbinatto (EEFE/USP) Local: Auditório CEFD/UFES
  • 7. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10 • ISSN 1807-5509 e-ISSN 1981-4690 Sumário Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 31, outubro 2017. Suplemento n. 10 V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) Apresentação Artigos Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo: influências políticas no desenvolvimento da ginástica artística. LIMA, Letícia Bartholomeu de Queiroz; SILVA, Pâmela Pires da; SCHIAVON, Laurita Marconi; SANTANA, William Ferraz de; CARBINATTO, Michele Viviene A parceria público-privada no contexto esportivo: o caso de uma equipe de ginástica rítmica da cidade de Campinas-SP. MENEGALDO, Fernanda Raffi; TOLEDO, Eliana de; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho A ginástica no terceiro setor: um estudo de caso da REMS (rede esporte pela mudança social). ASSUMPÇÃO, Bianca; TOLEDO, Eliana de A compreensão e a avaliação do componente artístico da ginástica artística. OLIVEIRA, Mauricio Santos; PIRES, Fernanda Regina; ROBLE, Odilon; MOLINARI, Caroline Inácio; NUNOMURA, Myrian Ginástica de trampolim: estudo do processo de institucionalização e suas consequências no Brasil. ROVERI, Murilo Guarniei; CARRARA, Paulo; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho Motivação para o início da prática de ginástica rítmica. OLIVEIRA,Laurade;OLIVEIRA,MaurícioSantos;COSTA,VítorRiccida;MyrianNUNOMURA Resumos Índice de Autores dos Resumos Osartigosapresentadossãoderesponsabilidadedosautores.OsresumosforamaprovadospelosrevisoresdoSeminário. i 1 15 29 41 51 63 R.73 R.153
  • 8. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10 • i V Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) Apresentação Prezados colegas, acadêmicos, pesquisadores, treinadores, ginastas, árbitros, pós-graduandos, graduandos e todos aqueles envolvidos com a Ginástica, temos o prazer de convidá-los a participar do Seminário Internacional de Ginástica Artística e Rítmica de Competição (SIGARC) 2017, que graças às experiências anteriores, acrescido ao apoio das Universidades e Instituições parceiras, está em sua 5ª edição. O presente evento visa, por meio de conferências, mesas-redondas, oficinas e exposição de trabalhos científicos no formato pôster, propor um espaço de reflexão e de compartilhamento de conhecimento, inovação, tecnologia e experiências que viabilizem a continuidade do processo de desenvolvimento da Ginástica no Brasil. O SIGARC 2017 será realizado nas dependências do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo, na cidade de Vitória. Terra natal das ginastas capixabas Natalia Gaudio, Francielly Machado e Emmanuele Lima representantes do Brasil na Ginástica Rítmica nos Jogos Olímpicos de 2016. E, também, da treinadora Monika Queiroz que atuou em duas edições das Olimpíadas (2008 e 2016). Os proponentes do evento, assim como os demais organizadores, ocupam posições de destaque no estudo em Ginástica no cenário regional, nacional e internacional atuando, principalmente, por meio de seus grupos de pesquisa, os quais: Laboratório de Ginástica (LABGIN/CEFD/UFES); Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG/FEF/ UNICAMP); Laboratório de Pesquisas e Experiências em Ginástica (LAPEGI/ FCA/UNICAMP); e Grupo de Estudos e Pesquisas em Ginástica da USP (GYMNUSP). As universidades públicas voltam a reunir seus esforços para concretizar mais uma edição do SIGARC, assumindo o compromisso de contribuir na produção do conhecimento científico da área. Em suma, estamos diante de mais uma oportunidade para prestigiar os trabalhos em Ginástica no país e do exterior. A missão do SIGARC é criar aproximações entre estudantes, árbitros, treinadores, ginastas, pesquisadores e outros profissionais que atuam com a Ginástica, para que compartilhem e se beneficiem mutuamente. Este é um dos caminhos para o crescimento e desenvolvimento da nossa Ginástica, beneficiando a todos. Objetivos O objetivo do SIGARC 2017 é discutir, compartilhar e difundir os saberes entre treinadores, acadêmicos e demais pessoas envolvidas com a Ginástica competitiva. Com esse intuito, especialistas nacionais e internacionais expressivos debaterão diversos temas relacionados à Ginástica Artística e Ginástica Rítmica com os participantes. O encontro é oportunidade de intercâmbio de conhecimentos e que será concretizada na forma de comunicações orais, apresentações de pôsteres, workshops e conferências. Acreditamos que o público participante poderá se atualizar sobre temas relacionados à Ginástica Artística e Ginástica Rítmica com profissionais que atuam no âmbito nacional e internacional; criar network para futuras colaborações e parcerias; e compartilhar experiências práticas com seus pares. Destacamos que os conferencistas internacionais também ministrarão palestras nas instituições promotoras do evento e, assim, ampliarão o impacto de sua passagem pelo Brasil. Por fim, outro objetivo de destaque do evento é aproximar treinadores e pesquisadores, situação ainda incipiente e que dificulta o crescimento do esporte no Brasil.
  • 9. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 1 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo Introdução Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo: influências políticas no desenvolvimento da ginástica artística Letícia Bartholomeu de Queiroz LIMA* Pâmela Pires da SILVA** Laurita Marconi SCHIAVON* William Ferraz de SANTANA** Michele Viviene CARBINATTO** No mundo contemporâneo, o Esporte pode ser considerado um maiores fenômenos culturais do mundo contemporâneo1-2 e se estabelece como uma massiva e importante manifestação da cultura e das sociedades. Sua consolidação é exemplificada pela quantidade de modalidades sistematizadas e institucionalizadas que passaram a ser praticadas no mundo todo3 . Inclusive, mesmo que não praticantes de uma modalidade esportiva, somos cerceados e influenciados diariamente pelo Esporte, quer seja na programação de lazer dos aparelhos públicos, nos programas televisivos, na moda, dentre outros4-5 . Não obstante, o esporte carrega,desdeaAntiguidade,umarelaçãocominteresses políticos e estratégias de diversas instituições e órgãos governamentais,pelosseusvalores,influênciasesuafácil utilização6 ,bemcomopassouaserconsideradocomoum produto/bemdeconsumo7 . Nestesentido,ocrescentenúmerodepatrocinadorese decapitalenvolvidoemtransmissõeseeventosesportivos superaram as necessidades do Esporte e dos atletas e se voltaramparaosinteressespolíticosedaprópriamídia6 . Dessa forma, há “[...] uma valorização excessiva do espetáculo e do show em detrimento das características da modalidade esportiva”6 , ou seja, o Esporte e o atleta foramdeixadosemumsegundoplano. Influenciada pela Pedagogia Geral e a Ciência do Desporto, a Pedagogia do Esporte passa a questionar “o que, como e o por que” esportivo em diferentes contextos8 , dentre os quais, a relação entre a competição e a política vigente. É sabido que estudos de caráter político e com http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10001 Resumo O presente artigo discute aspectos políticos que interferem no desenvolvimento competitivo de ginastas do estado de São Paulo. Para tal, utilizou-se como exploração dois eventos esportivos tradicionais do estado: os Jogos Regionais (JR) e Jogos Abertos (JA). A pesquisa foi dividida em duas fases: em um primeiro momento, uma pesquisa documental, com análise dos documentos oficiais dos JA nos anos de 2011 à 2014, com o objetivo de descrever as principais características deste campeonato na Ginástica Artística (GA); e no segundo momento, uma pesquisa de campo, a qual foram entrevistados 17 treinadores que atuaram nos JA do ano de 2014. As entrevistas foram gravadas na íntegra, transcritas, e posteriormente analisadas pela Análise de Conteúdo. Como resultados, notamos que: a. os eventos têm grande importância para as prefeituras, pois representam a supremacia das cidades; b. a contratação de atletas não gera benefícios permanentes para os municípios e pode encobrir realidades de algumas cidades em relação ao fomento da modalidade, além de ir contra os objetivos dos JR e JA; c. as questões financeiras foram consideradas primordiais para um adequado trabalho na formação de ginastas e, também, para a obtenção de resultados; d. estes eventos apresentam um forte caráter massificador, pois auxiliam no desenvolvimento de treinadores, árbitros e ginastas, aumentando a possibilidade de experiência para os árbitros e de competição para os atletas. PALAVRAS-CHAVE: Ginástica Artística; Competição; Formação Esportiva; Política; Contratação de Atletas. *FaculdadedeEducação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. **Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
  • 10. 2 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 Lima LBQ, et al. interfaces com a competição passaram, neste século, a ser incitados nas pesquisas científicas9 . A inter- relação entre esporte e política se configura em uma vasta possibilidade de análise: a utilização ideológica de apoio ao sistema político, propaganda de governo, avaliação da atuação institucional de órgãos dedicados, regulamentação do mercado esportivo, a utilização de recursos aplicados nos diferentes níveis governamentais, dentre outros. Quando analisamos questões políticas em uma modalidade esportiva específica, como a Ginástica Artística (GA), são incipientes e praticamente nulos os estudos que abordem o assunto10-11 . Por este motivo, o presente artigo discute aspectos políticos que interferem no desenvolvimento competitivo de ginastas do estado de São Paulo e, para tal, utilizou como exploração dois eventos esportivos tradicionais do Estado, os Jogos Regionais (JR) e os Jogos Abertos (JA). Ambasascompetiçõessãorepresentativasnointerior paulistaparadiversasmodalidadesesportivas(incluindo a Ginástica Artística), pois abrangem um elevado número de participantes, auxiliam na divulgação da modalidade, e, por vezes, são responsáveis pela manutenção dessa prática em diversos municípios do interior do estado de São Paulo, que aparenta não se desenvolver tecnicamente da mesma forma que a Região Metropolitana de São Paulo12 . Os JR acontecem desde 1950 e são organizados pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do estado de São Paulo (SELJ-SP) em conjunto com os municípios sede de cada ano, sendo realizado em oito regiões esportivas distintas: Grande São Paulo, São José dos Campos, Bauru, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Sorocaba, as quais englobam 644 municípios13 . Disputados em 22 modalidades esportivas, entre elas a GA, esses dois campeonatos têm entre seus objetivos favorecer o desenvolvimento das práticas esportivas nos diversos municípios do estado e contribuir para o melhor aprimoramento técnico das modalidades esportivas presentes14 . Ademais, os JR são disputados em primeira e segunda divisões de acordo com critérios preestabelecidos. No que se refere especificamente à competição de GA,nota-seapresençadedisputanaGinásticaArtística Feminina (GAF) e na Ginástica Artística Masculina (GAM) - e, cada qual, em duas categorias: 1. GAF até 14anoseGAMaté16anos;2.GAFeGAM-categoria livrea . Na GA é realizada uma única competição por região, que engloba as duas divisões, nas quais classificam-se os campeões de cada prova por categoria e por divisão, com idade mínima de participação de noveanosacompletarnoanodoevento,podendocada município participar com um máximo de oito atletas no feminino e oito no masculino14 . Os JA, também denominados de Jogos Abertos “Horácio Baby Barioni”, são realizados desde 1936 e contam anualmente com a organização da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude juntamente com a cidade sede, com o objetivo de propiciar um melhor desenvolvimentodasdiversasmodalidadesdisputadas15 . Nesse, são disputadas 25 modalidades esportivas em duasdivisõesdocampeonato.Asformasdecompetição, categorias, quantidade de atletas, idade mínima e premiação no evento de GA nos JA, são similares ao dos JR. Além disso, em ambos os campeonatos, cada municípiopodeparticiparcomapenasumaequipepara cada modalidade (GAF e GAM), tendo que optar por apenas uma categoria na GA15 . Método Nesta fase foi utilizada a análise documental em que foram consultados documentos oficiais referentes aos JA, com o objetivo de descrever as principais características deste campeonato na GA. Foram analisados documentos referentes apenas aos JA pelo fato de nos JR todos os municípios poderem participar, sem classificação prévia. Assim, foram analisados resultados de quatro anos dos JA (2011, 2012, 2013 e 2014) nas modalidades GAF e GAM. O acesso a estes documentos ocorreu via e-mail por comunicação com o supervisor da GA da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude de 1985 a 2013. Não se teve acesso aos resultados do ano de 2011 da categoria até 16 anos da GAM da segunda divisão mesmo após consulta ao site do evento e contato com o supervisor da modalidade da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. Enfatizamos a dificuldade de Pesquisa Documental A presente pesquisa foi dividida em duas fases: pesquisa documental e pesquisa de campo.
  • 11. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 3 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo Diferentemente dos JR, nos JA a participação é restrita a certas regiões do estado de São Paulo, devido a classificações prévias dos JR do mesmo ano, como apontado anteriormente. Ademais, cada município participante só pode competir em uma categoria e divisão (primeira ou segunda), não dependendo apenas do desempenho na modalidade propriamente dita, mas também da classificação geral das cidades em todas as modalidades. Dessa forma, optou-se por analisar a participação dos municípios na GA de forma geral, sem distinção por divisão. Observou-se, a partir da Figura 1 que a participação de todas as cidades durante os quatro anos analisados dos JA (2011 a 2014) não se mostrou regular. Houve uma diminuição do número total de cidades participantes no ano de 2012 na GAF e um aumento progressivo desse número a partir de então e um aumento progressivo na GAM desde 2011 (FIGURA 1). Além disso, aponta-se maior ter acesso aos resultados deste evento, vinculada à falta de registro formal/sistemático. Pesquisa de Campo Para esta fase foi utilizada a entrevista semiestruturada em que participaram treinadores de GA participantes de JR e JA do ano de 2014. As entrevistasforamgravadasnaíntegraeposteriormente transcritas. As questões transitaram entre as percepções gerais dos sujeitos em relação aos eventos citados, bem como o processo de treinamento e experiência naquelas competições. Os critérios de inclusão dos participantes na pesquisa foram: treinadores(as) de equipes participantes dos JA do ano de 2014, medalhistas em ambas as modalidades (GAF e GAM). Esses critérios foram definidos com base apenas nos JA, pois para participar desse evento, estas equipes necessariamente participaram dos JR para classificarem-se como mencionado previamente. Assim, participaram deste estudo 17 treinadores (9 GAF e 10 GAM), três mulheres e 14 homens, Análise dos Dados Para a análise dos dados qualitativos foi utilizada a análise de conteúdo proposta por Bardin16 que compreende três distintas etapas: pré-análise (fase de transcrição das entrevistas realizadas com os técnicos, com surgimento de possíveis hipóteses); exploração do material (fase de codificação dos dados, com inicial seleção de informações e dados mais relevantes); e categorização (organização das informações em Unidade de Registro, tratando-se dos temas recorrentes dentre os dados coletados, e Unidade de Contexto, que corresponde a uma seleção de discursos coletados, que confirmam as unidades de registro). Paraosdadosquantitativosfoiutilizadaaestatística descritiva, ramo da estatística destinado a descrever, resumir, totalizar e apresentar dados de pesquisa17 . Resultados e Discussão participação na categoria livre em comparação com a categoria até 14 anos e até 16 anos. Nas quatro edições analisadas da GA, ocorreu a participação, nas duas categorias e nas duas modalidades, de 32, 32, 31 e 36 municípios (2011, 2012, 2013 e 2014). Pode-se observar um aumento de municípios participantes com a GAM e uma diminuição de municípios participantes apenas com a GAF (FIGURA 2). Tal aumento pode estar relacionado ao crescimento e desenvolvimento da GAM paulista, reflexo dos resultados em nível nacional e internacional e à quantidade de ginastas paulistas na seleção nacional da modalidade. No entanto, se observarmos o número de ginastas participantes, temos uma predominância da GAF, ou seja, apesar de mais municípios “incentivarem” a prática masculina, eles não participam com muitos ginastas ou equipes completas, o que não aparenta acontecer no feminino (FIGURA 3). sendo dois treinadores de ambas as modalidades. Treze dos treinadores participantes atuam desde a iniciação esportiva até os níveis competitivos e quatro atuam apenas com a GA em nível competitivo.
  • 12. 4 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 Lima LBQ, et al. FIGURA 1 - Municípios participantes por categoria e modalidade dos JA de 2011 a 2014. FIGURA 2 - Quantidade de municípios participantes dos JA por modalidade e por ano. FIGURA 3 - Número de ginastas participantes dos JA por modalidade e ano.
  • 13. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 5 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo Ademais, referente às medalhas conquistadas nestes quatroanosdocampeonato,observa-se,primeiramente, que 33 municípios participantes conquistaram pelo menos uma medalha (70,2%), sendo 24 na GAF e 26 na GAM (TABELA 1). Ressaltamos que dos 24 municípios que participaram em pelo menos uma ediçãodosJAnaGAFtodosconquistarampelomenos uma medalha, enquanto que dos 45 que participaram da GAM apenas 57,7% conquistaram ao menos uma medalha.Dos47municípiosparticipantesnasedições analisadas, apenas seis (destacados na TABELA 1), participaram em todos os anos analisados e com ambas as modalidades. Em um segundo momento, a partir das falas dos treinadores entrevistados acerca desses eventos, da temática “Aspectos Políticos”, emergiram quatro categorias expostas na TABELA 2 e que serão apresentadas detalhadamente em seguida. Número de medalhas conquistadas por edição, modalidade (GAF/GAM) e total nas quatro edições dos JA (2011-2014). TABELA 1 - Município 2011 2012 2013 2014 TotalGA GA GA GA GA GA GA GA F M F M F M F M São Caetano do Sul 14 14 6 21 9 13 8 21 106 Osasco 13 - 13 - 8 8 6 8 56 Santos 3 9 - 21 2 8 3 8 54 São Bernardo do Campo 0 9 1 7 5 3 16 10 51 Barueri 8 - 15 - 16 - 11 - 50 São José dos Campos 1 9 2 8 0 2 12 9 43 Piracicaba 1 10 1 8 1 9 1 5 36 Praia Grande 0 - - 12 2 3 - 14 31 Hortolândia 3 3 1 1 8 3 4 2 25 Santo André 4 - 2 - 12 0 6 - 24 Ribeirão Preto 0 0 1 - 1 14 1 6 23 Americana 0 0 1 7 1 12 - - 21 Guarulhos 9 - 11 1 - - - - 21 Jacareí 0 - 0 - 3 9 6 - 18 Jundiaí 2 5 3 5 0 0 0 2 17 Jaú - 10 - - - - - - 10 Santana de Parnaíba 4 6 - 0 - - - - 10 São Carlos 1 - 5 - 1 - 1 0 8 Sorocaba 0 - 0 1 0 6 1 0 8 Mogi das Cruzes - 0 - - - - - 7 7 Pindamonhangaba 3 0 3 0 0 - - 0 6 Rio Claro - 3 3 - 0 0 - - 6 Vinhedo - - - 6 - 0 - 0 6 Boituva - - - 0 - 5 - 0 5 Campinas 3 - - - 1 - 0 - 4 Franca 0 - 0 - 0 1 1 0 2 Paulínia - - - 1 - - - 1 2 Araraquara 0 0 0 - 1 - 0 - 1 Bauru - 0 - 1 - - - - 1 Cafelândia - - - - - 1 - 0 1 Itu - - - - - 1 - - 1 Continua
  • 14. 6 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 Lima LBQ, et al. Um ponto largamente discutido pelos treinadores foi em relação à importância dos JR e JA para as prefeituras dos municípios (QUADRO 1). Estes eventos, de acordo com os entrevistados, apresentam extremarelevânciaparaascidades,poispodemexibira soberaniadeumadeterminadaregiãoedarvisibilidade para os municípios e, portanto, grande parte do investimento, ou mesmo, das exigências de resultados surgem a partir destas competições. Importância dos Jogos (JR e JA) para as prefeituras Município 2011 2012 2013 2014 TotalGA GA GA GA GA GA GA GA F M F M F M F M Lins - 0 - 1 - 0 - 0 1 Marília - - - - - - - 1 1 São Jose Do Rio Preto 0 0 1 0 0 0 0 - 1 Américo Brasiliense - 0 - - - - - - 0 Araçatuba - 0 - 0 - - - - 0 Catanduva - - - 0 - 0 - 0 0 Descalvado - - - - - - - 0 0 Indaiatuba - - - 0 - - - 0 0 Itupeva - - - - - - - 0 0 Jales - - - 0 - - - 0 0 Louveira - - - - - - - 0 0 São Joao Da Boa Vista - 0 - - - - - - 0 São Jose Do Rio Pardo - - - - - 0 - 0 0 Suzano - - - - - 0 - 0 0 Tabapuã - - - - - - - 0 0 Continuação Categorias Frequência Absoluta Frequência Relativa Importância dos Jogos para as prefeituras 11 64,70% Contratação de atletas 9 52,94% Questões financeiras 7 41,17% Fomento/Massificação 3 17,64% Categorias acerca dos Aspectos Políticos nos JA e JR.TABELA 2 - Categorias acerca dos Aspectos Políticos nos JA e JR.QUADRO 1 - Continua Unidade de Registro T1: Os Jogos Regionais e Abertos, são muito importantes para a Prefeitura [...] os Jogos são para nós o auge do nosso trabalho, para a Prefeitura são os regionais, é ser o melhor da região [...]. T2: Se acabar Jogos Regionais, muita prefeitura, muita equipe vai acabar. Essa é a vantagem, que eu acho que São Paulo tem em relação aos outros Estados [...] o Regionais é muito forte, o Regionais e Abertos no Estado de São Paulo. T3: Os Abertos, obriga uma participação, mas não resultado. Agora nos Regionais, você precisa do resultado [...] o Jogos Aber- tos, é mais livre, não importa tanto o resultado pra eles.
  • 15. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 7 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo A busca por resultados aparenta estar altamente relacionada com o recurso destinado para a modalidade e até mesmo com a continuidade ou não em determinado município (T2,T4,T8 eT10) (QUADRO 1), ou seja, a pressão por resultados para esses campeonatos se sobrepõem sobre a qualidade e frequência do trabalho realizado durante toda a temporada. Segundo NUNOMURA; CARRARA; TSUKAMOTO18 , a pressão por resultados muitas vezes parte, sobretudo, das próprias instituições que investem em determinado esporte e equipe, portanto cria-se uma expectativa por resultados desde as categorias de base, principalmente em anos eleitorais. Ademais, os JR e os JA, são vistos como mais importantes para as cidades do que outros campeonatos de maior expressividade na GA em cenário estadual, nacional e, até mesmo, internacional (T5, T7 e T11), sendo destacados pelos treinadores como as competições mais importantes para suas equipes, pela cobrança que recebem das prefeituras. Diversos treinadores também abordaram sobre a diferença de importância entre estes eventos para as prefeituras. Estes relatam que os JR apresentam maior relevância para as prefeituras do que os JA (T3 e T4), o que pode ter relação com a forma de classificação destes eventos, ou mesmo com a visibilidade das prefeituras em suas regiões. Para classificar-se para os JA, é necessário primeiramente disputar os JR, que subdivide os municípios por região do estado de São Paulo, e então passam para a etapa dos JA apenas os melhores de cada localidade. Acontece que, em algumas regiões, a competitividade pode ter um nível técnico superior, por reunir equipes com melhor qualidade técnica, o que pode gerar a desclassificação de equipes com bom nível técnico dessa região. Porém, o oposto também pode ocorrer, com regiões em que a qualidade das equipes é aquém, classificando equipes de baixo nível técnico. Como resultado disso, equipes com um melhor nível técnico podem não classificar para as disputas dos JA, enquanto que equipes menos expressivas passam para esta próxima etapa. Esse fato é abordado por um dos treinadores (T6): “[...] teoricamente os Jogos Abertos deveriam servir para... é... teoricamente, pegar as melhores equipes do Estado e se enfrentarem nos Jogos Abertos, então a qualificatória serviria pra isso. Só que, por falha [...] acontece que equipes mais fortes, por estarem na mesma região, ficam de fora dos Jogos Abertos porque são eliminadas nos Jogos Regionais. E nos Jogos Abertos, às vezes têm equipes mais fracas em nível de... de nota mesmo [...]”. Desta forma, os resultados dos JA não necessariamente repercutem a realidade da modalidade em questão, de realmente demonstrar as melhores equipes do Estado, o que pode reduzir consideravelmente seu nível de competitividade/ técnico e, por conseguinte, sua relevância para as prefeituras vigentes. T4: Ganhar os Jogos Regionais tem um peso um pouco maior sim [...] mas a gente sente no trabalho que os Regionais têm uma importância muito grande [...] porque o meio que veicula e mantém o ginásio é o resultado em Jogos Regionais e Jogos Abertos, então não tem como a gente desvincular a meta da equipe como não sendo Jogos. T5: É mais importante do que uma Olimpíada. Ah, você foi pra uma Olimpíada, você ganhou, mas você não é campeão dos Regionais? Porque que a cidade vai investir em você se você não ganha pra cidade? T7: [...] os Jogos Regionais e os Jogos Abertos eles são muito importantes pra essas cidades, então assim... eles querem esse resultado ali [...] se você for campeão dos Regionais e campeão dos Abertos é muito mais importante que ser campeão brasileiro. T8: Os Jogos Regionais são mais importantes pra eles do que o Campeonato Sul-americano, não tenha dúvida disso [...] a gente tem um apoio grande da Prefeitura então a gente precisa ter resultado pra prefeitura. T9: Ah, eu acho que é mais pra colocação de ranking, né, de desempenho da cidade com relação às modalidades. T10: Lá é muito importante politicamente. O Resultado pra eles é o que determina se tem mais verba pra uma modalidade ou não, tanto para os Jogos Regionais como para os Abertos. T11: Por ser uma prefeitura, tem grande importância. Então a gente leva também a sério. Pra Prefeitura é mais importante ganhar um Jogos Regionais, Jogos Abertos do que estar no pódio em mundial. Ele dá visibilidade. T12: E os Jogos Regionais e Abertos, na verdade é uma obrigação e compromisso com a cidade [...] Pra cidade os Jogos são prioridade. Continuação
  • 16. 8 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 Lima LBQ, et al. Entre os treinadores que se posicionaram contra a contratação de atletas (T2, T4, T8, T9, T15 e T16), ou seja, que não consideram esse tipo de ação uma condição ideal, alguns pontos foram ressaltados. Primeiramente, contratar atletas para competir por outro município acaba por “mascarar” a realidade da modalidade e do próprio Esporte em determinada região com relação à formação de atletas, incentivo e investimento. A vitória e os resultados obtidos por meio de contratação podem gerar um status para o município e para seu respectivo prefeito, porém não há qualquer retorno para a população que muitas vezes não possui a oportunidade de praticar a GA em sua cidade. Outro ponto a se ressaltar é o aumento do nível técnico das competições. A contratação de atletas, e em alguns casos, até de nível internacional, muitas vezes, resulta em equipes com um nível muito acima aodosdemaismunicípiosparticipantes,influenciando diretamente no resultado destes eventos.Tal fato pode desmotivar ginastas e treinadores em um processo de formaçãodeatletasemlongoprazodosmunicípiosque investemnestesetor,alémde,emumaúltimainstância, acabar com a modalidade em certos municípios por dificuldade financeira, somada à falta de resultados sequeremnívelregional.Afinal,aosolhosdedirigentes interessadosnamídiaenãonodesenvolvimentodesua população,contratarumatleta“pronto”éumprocesso mais simples e com menos custo do que formar um atleta (T2 eT14). O investimento com infraestrutura, profissionais qualificados, formação, entre outros, além de se tratar de um processo de longo prazo é razoavelmente representativo e permanente para uma prefeitura, em várias modalidades esportivas. Porém, como mencionado anteriormente a contratação não gera benefícios permanentes para os municípios, além Contratação de atletas A contratação de atletas foi uma temática largamente discutida pelos treinadores participantes da pesquisa e é um tema recorrente quanto se trata de JR e JA, com divergência de opiniões. Observando as respostas dos treinadores, notou-se uma dicotomia de opiniões acerca da temática, com o apoio ou o repúdio a essa prática (QUADRO 2). Unidade de Registro T2: [...] eu sou totalmente contra contratar, eu não gosto, mas quando tem opção e a prefeitura às vezes também quer resul- tado tal, você tem que dar um jeito e infelizmente precisa pegar [...] É muito mais fácil o cara pagar, sei lá, quinze, vinte mil ir lá e ganhar tudo, do que o cara investir em um ginásio, professores, esperar cinco, seis, dez anos pra montar uma equipe boa, isso é muito mais difícil, então o pessoal que quer resultado rápido, faz isso. T3: [...] eles contratam ginastas pra competir pela sua cidade pra mostrar que a sua cidade tem o esporte, diversos esportes, não só a ginástica, que é importante pra eles. Acredito que seja... é interesse político mesmo. T4: Se a gente fosse pensar em termos de forçar as prefeituras a um bom investimento, a melhorar o investimento em equi- pamento, em atleta, em melhorar a equipe, é ruim, é ruim essa abertura de contratação, nesse sentido, porque a gente dando resultado com contratação, a gente acaba, é, dando um tiro no pé, né, entre aspas, porque a gente dá resultado sem ter tido a melhora necessária no espaço que a gente trabalha [...]. T7: Pra gente é muito bom porque elas não teriam a oportunidade de competir [...] e elas já estão tendo oportunidade pra competir com outras cidades. Então, elas estão lá representando outra cidade e estão participando disso tudo que elas não estariam participando se não fosse por isso... né... então pra gente é muito bom. T8: Eu não gosto quando uma cidade da minha região contrata atletas de outra, fica aquela coisa artificial, ao mesmo tempo pode formar equipes muito mais fortes do que equipe de clubes [...]. O outro Município pode formar uma Seleção [...] fica uma equipe fortíssima. T9: Então, a equipe, um clube, por exemplo, ele não tem atletas da cidade, e aí tem essa contratação, e aí fica, acho que muito fácil pra você ter um pódio e ser [...] uma cidade que não tem atleta, acaba contratando e tirando a chance de pódio. T14: Por mais que você pague um atleta de fora pra competir ainda sai mais barato do que você fazer um trabalho pra você formar o seu atleta na sua cidade. T15: [...] às vezes a cidade nem tem ginástica, só escolinha, ai chega e ganha a competição mas pra cidade não ficou legado nenhum e pra gente [...] acaba que sendo desmotivador [...]. T16: Acredito que dificulta muito pra quem tem um trabalho, por exemplo, de formação. A gente nunca contratou atleta, sempre compete com as de casa [...]. Respostas referentes às contratações de ginastas para JR e JA.QUADRO 2 -
  • 17. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 9 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo de ir contra os objetivos dos JR e JA que é contribuir paraomelhoraprimoramentotécnicodasmodalidades esportivas no interior do estado de São Paulo, e ter equipes com condições de desenvolvimento mais próximas do que equipes da capital paulista19 . Neste mesmo sentido, apesar de alguns treinadores seremcontraacontrataçãodeginastasparacomporsuas equipes, em alguns casos, por exigência do município esta ação acontece, mostrando que o interesse político em mostrar desempenho e resultados, muitas vezes, pode se sobressair à importância de promover experiências esportivas para os atletas locais. Por outro lado, apenas um treinador posicionou- se a favor da contratação de atletas ao apontar a oportunidade para que atletas que não puderam representar seus municípios participem da competição, como levantado pelo treinador T7, ou seja, uma situação bastante particular. A possibilidade de participar de mais competições, pode ser um ponto positivo para os atletas e para os municípios que os cedem, principalmente pelo número reduzido de competições por ano na modalidade, tanto no Estado,comoemcampeonatosnacionais,noentanto, essa não é a proposta dos Jogos Regionais e Abertos do Interior, e muito menos é assim que se resolverá esse problema mais amplo da Ginástica brasileira. Além disso, a questão da contratação de atletas para representar determinada instituição – ou neste caso, ummunicípio–entranoâmbitodaprofissionalização esportiva, levando o esporte a outro patamar. O esporte do século XXI apresenta uma evidente característicadeprofissão,oqueacaboupormodificar a organização do Esporte, incluindo o contexto competitivo, e, por consequência, caracterizando o Esporte como uma carreira profissional cobiçada20 . Uníssonoacrescenteintervençãoestatal,aatividade esportivasupõe-se,também,comoatividadeindustrial e comercial, transformando-se em um setor da vida econômica e uma área de consumo importante e dinâmica21 .Oesportedealtorendimentotornou-setão qualificadodopontodevistatécnico,queospraticantes com maior destaque – logo, que precisavam de maior dedicação - passaram a ser considerados, segundo Ferrando22 , como “trabalhadores do esporte”. Apesar de avanços nos direitos dessa área, ainda notamos problemas na profissionalização dos mais jovens, que não apresenta especificações em leis trabalhistas ou normas e estatutos sobre trabalho infantil23 . Por fim, os treinadores levantaram algumas sugestões de soluções em prol da melhora neste aspecto,propondoqueinibiracontrataçãodeequipes inteiras seria uma alternativa, pois isto obrigaria uma Questões Financeiras As questões financeiras foram destacadas pelos participantes como essenciais para um trabalho adequadonaformaçãodeginastase,consequentemente, obtençãoderesultadosparaasinstituiçõesfinanciadoras (QUADRO 3). De acordo com De Bosscher et al.24 o sucesso esportivo está diretamente relacionado à captação de recursos financeiros necessários. Atualmente, as entidades/instituições que investem noEsportesãoasprefeituras,quegeralmentedirecionam um percentual de seu rendimento total para esta área. Lima12 ao investigar a GA paulista nos Campeonatos Brasileiros da modalidade feminina, aponta que entre as instituições participantes, há prevalência de instituições públicas, em sua maioria entidades geridas por prefeituras municipais. A mesma autora também aponta que quanto maior o nível de rendimento esportivo, maior a presença de instituições públicas, o que certamente está vinculado ao investimento maior necessário no alto rendimento esportivo. Desta forma, o trabalho com a prática esportiva depende, inevitavelmente, dos recursos financeiros disponibilizados pelas prefeituras. No entanto, em relaçãoàadministraçãopública,asprefeiturasdeveriam ter o foco dos seus recursos voltados mais para a base da modalidade do que para o esporte de rendimento, o que aparenta não estar acontecendo12 . A GA é uma modalidade marcada pelo uso de materiaisdegrandeporte,quemuitasvezesdependem de mudanças na estrutura física, sendo alguns fixos, além do alto custo destes equipamentos19,25 . Lima et al.19 apontamque“[...]paraaaquisiçãodeaparelhagem necessária da GAF e da GAM é necessário um investimento financeiro significativo”19 , além dos gastoscomtaxasfederativas,dearbitragem,transporte, manutenção, entre outras. Noentanto,oinvestimento,mesmoqueinsuficiente, vem atrelado com a cobrança por resultados, ou seja, apesar do investimento ser aquém do necessário, a cobrança por resultados positivos persiste. Assim, os treinadores se veem na “obrigação” de mostrar resultados, como uma forma de “prestação de contas” ao investimento realizado. Isso faz com que os treinadores tenham que tomar decisões baseadas no investimento recebido e não nas necessidades dos participação de atletas formadas na própria cidade para a participação e, consequentemente, exigiria o desenvolvimento de um trabalho de formação esportiva, bem como um maior investimento na modalidade por parte do próprio município.
  • 18. 10 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 Lima LBQ, et al. Fomento/Massificação Os JR e os JA apresentam outra importante característicadecompetiçõesparaofomentodaprática esportiva, pois um dos objetivos desses campeonatos é justamente propiciar um melhor desenvolvimento das modalidades esportivas disputadas14 . Nesse contexto, os JR e JA reúnem muitos atletas e treinadores de diferentes níveis da modalidade, desde atletas olímpicos a iniciantes nesta prática, todos competindo em um mesmo local e na mesma aparelhagem, tornando-se um ambiente propício para troca de informações e, indiretamente para o aprendizado informal. Além de esses eventos serem um destaque no estado de São Paulo, têm sua relevância, pois auxiliam no desenvolvimento de treinadores, ginastas e árbitros. Pois, aumentam a possibilidade deexperiênciaparaosárbitrosedecompetiçõesparaos ginastas,comomencionadopelostreinadoresT2,T4e T8,tendoemvistaonúmeroreduzidodecompetições anuais da modalidade no estado e no país. Portanto, é ressaltada a importância desses campeonatos para a massificação da prática da GA nos municípios paulistas, mostrando o estado de São Paulo como grande polo disseminador da prática da Ginástica no país, como também abordado pelos treinadores T2 e T4. Tal fato é corroborado por pesquisas de Schiavon et al.26 e Lima12 que pontuam Unidade de Registro T2: [...]isso é muito forte no estado de São Paulo, então eles apoiam bastante, tem muita criança fazendo, hoje em dia muita gente vive da Ginástica de Jogos Regionais e Abertos. Então tem muita equipe, espalhou muito, tem muita ginasta no estado de São Paulo [...]. T4: Onde tem Jogos Regionais acaba fomentando muito e disseminando a prática da Ginástica. T8: O objetivo dos Jogos Regionais é a formação e fomentar novos ginastas, novos técnicos, novos Municípios para prática da Ginástica. Respostas referentes ao Fomento/Massificação nos JR e JA.QUADRO 4 - atletas e da equipe como um todo. Ademais, como comentado pelo treinador T10, para algumas equipes, o resultado das competições é o que determina se haverá, ou não, recurso financeiro para a modalidade no próximo ano e até se a modalidade continuará sendo desenvolvida no município. Unidade de Registro T3: Quando você tem um clube que paga as competições fica mais fácil, mas quando seu clube não paga, o próprio atleta tem que pagar a competição, fica um pouquinho mais difícil [...]. T6: [...] a gente trabalha em prefeituras e clubes que... é... demanda da verba, de ter disponibilidade de verba pra enviá-las. T7: A gente está na prefeitura, por exemplo, então a gente tem uma verba reduzida que não consegue atender a tudo, toda demanda que a gente necessita, então a gente tem sempre que dar um jeitinho de economizar, né [...] hoje nós não temos os subsídios da prefeitura suficientes para... esse projeto, né, para essas competições. T8: Então hoje a realidade dos municípios, ela é muito difícil. Então os Municípios têm tido cada vez menos em Esporte [...] E isso interfere diretamente nos resultados, porque você, não adianta você fazer bem o teu trabalho, você e os ginastas, se você não puder participar das competições [...]. T10: Lá é muito importante politicamente. O Resultado para eles é o que determina se tem mais verba para uma modalida- de ou não, tanto pros Jogos Regionais como para os Abertos. T12: [...] aí a gente tem que começar a ver se vai conseguir arrecadar o dinheiro, se vai conseguir participar, aí tem que falar com o pai. E aí acaba travando o trabalho, porque isso vai deixando o pessoal desinteressado, desestimulado. T13: Esse ano, por exemplo, que eu tinha um atleta no infantil que não tinha dinheiro para ir [...]. Respostas referentes ao apoio financeiro das prefeituras municipais nos JR.QUADRO 3 -
  • 19. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 11 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo Considerações Finais Os JR e os JA representam também um importante movimentoeconômicoepolíticonointeriordoestado de São Paulo. No entanto ainda vemos, muitas vezes, essescampeonatossendousadospelasprefeiturasapenas comobandeiraspolíticasenãopelosignificadoqueeles realmente devem ter para a população do interior do Estado, de desenvolvimento da prática esportiva e de formação de cidadãos. Verificamos pelo discurso dos treinadores, que seus dirigentes não compreendem as muitas possibilidades de benefícios para seus municípios, como estímulo de práticasesportivaseeventosnoperfilregional. Équase uma situação de humilhação por parte dos treinadores para obterem recursos e poderem desenvolver apropriadamente seus trabalhos em suas cidades. Os treinadores querem que esse tipo de evento continue, principalmente porque é uma forma em que eles podem obter auxílio financeiro para desenvolverem suas equipes. No entanto, o propósito desses eventos foi se modificando no passar do tempo, inclusive entre ostreinadores,apartirdavisãodosgestoresdascidades. Nomomentoemqueumacidadeoptaporcontratar atletas, por ser mais barato e solucionar um problema de forma imediata, demonstra o olhar que essa gestão tem sobre o Esporte, como uma “escalada” política e não como um benefício para a população em si. A própria população, muitas vezes, não tem qualquer cultura ou proximidade com a modalidade esportiva, na qual a equipe da cidade é campeã da região. Não se reconhecem como tal. A contratação de atletas também pode ser notada pela falta de continuidade do desenvolvimento da GA nosmunícipiosdointeriorpaulista,quandoverificamos na Tabela 1 que apenas seis municípios participaram nosquatroanosanalisadoscomamodalidadefeminina e masculina, sem interrupções, ou seja, cidades que desenvolvem um trabalho em longo prazo. Outras cidades, não participam durante anos da Ginástica Artística e de repente aparecem com um número de medalhas bastante representativo em um dos anos analisados e posteriormente não participam mais dos JA (TABELA 1). Verificamos, também, o aumento da modalidade masculina no interior paulista, o que pode ser um retrato do estímulo pelos resultados crescentes de ginastas brasileiros na última década pelo aumento no investimento financeiro e incremento de infraestrutura27 , capacitação e desenvolvimento dos treinadores da GAM. Logo, apesar da importância dada pelos treinados aos JR e JA, a aparente dissociação para a arrecadação financeira entre as diferentes estruturas governamentais, dificulta a melhoria de investimentos, por exemplo, em infraestrutura. Destaca-seaimportânciadadapelostreinadoresaos JR e JA, assim como o interesse em desenvolver a GA em suas cidades. A busca por recursos financeiros para o desenvolvimento de modalidades como a GA, que dependem de infraestrutura com alto investimento será sempre um desafio. É preciso que haja estímulos ao desenvolvimento da GA no interior paulista, que pode politicamente vir da Federação Paulista de Ginástica, junto às prefeituras e ao Governo do Estado, em parceria com as universidades paulistas, paraquepossamencontraralternativas“saudáveis”para o desenvolvimento do Esporte no interior do Estado. OsJReJA,comoumeventoorganizadopelaSELJ- SP, deveria estimular a prática esportiva no interior do Estado e não permitir o uso apenas político desse evento sem qualquer benefício direto para as cidades, e para isso há que se reorganizar o regulamento que orienta as diferentes cidades para tal evento. Assim, há anecessidadederesgatarosprincípiosquenortearama criação desses eventos e motivar o desenvolvimento do esportenointeriorpaulistacomoprevistonospróprios regulamentos destes eventos. Notas a. Categoria livre: a competição não é separada por idade, sendo permitido participantes a partir de nove anos de idade, com séries livres, ou seja, séries que não são obrigatórias (todas iguais), mas possuem exigências técnicas comuns. São Paulo como um estadorepresentativoemquestão de entidades que oferecem o ensino e a prática da GA, sobretudo, no interior paulista, com diversas competiçõesdecaráterdeparticipaçãodamodalidade.
  • 20. 12 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 Lima LBQ, et al. Abstract Jogos Regionais and Jogos Abertos from Sao Paulo State: politic influences in the development of artistic gymnastics The present article discusses political aspects that interfere in the competitive development of gymnasts of the state of São Paulo. For this purpose, we employed two traditional sport’s events of the State: Jogos Regionais (JR) and Jogos Abertos (JA). This research was divided into two phases: first, a documentary research, with an analysis of the official documents of the JA between the years 2011 and 2014, with the purpose of describe the main characteristics of this championship in the Artistic Gymnastics (GA); and at the second moment, a field survey, which was interviewed 17 coaches who acted in the JA in the year of 2014. The interviews were fully recorded, transcribed, and later analyzed by Content Analysis. As results, we observed that: a. the events have great importance for the prefectures, as they represent the supremacy of the cities; b. The hiring of athletes does not generate permanent benefits for the cities and may obscure the reality of some cities about the promotion of the modality, besides going against the aim of the JR and JA; c. financial issues were considered essential for an adequate work in the training of gymnasts and also for the achievement of results; d. these events have a high character of massification, as they help in the development of coaches, judges and gymnasts, increasing the possibility of experiences for judges and competition for the athletes. KEYWORDS: Artistic Gymnastics; Competition; Sportive education; Politics; Hiring of athletes. Referências 1. Bento JO. Da pedagogia do desporto. In: Tani, Go, Bento, Jorge Olimpo, Petersen R, editor. Pedagogia do desporto. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 26-40. 2. Paes RR. Pedagogia do esporte: contextos, evolução e perspectivas. Rev Bras Educ Física e Esporte. 2006;20(5):171. 3. Bento JO, Tani G, Prista A. Desporto e Educação Física em português. Porto: Editora Universidade do Porto; 2010. 4. Prettyman SS, Lampman B. Learning Culture through Sports: Exploring the role of sports in society. Rowman & Littlefield Education; 2006. 284 p. 5. Moreira, WW, Bento JO. Citius, Altius, Fortius: Brasil, Esportes e Jogos Olímpicos. Belo Horizonte: Casa da Educação Física; 2014. 6. Sigoli MA, De Rose Jr D. A história do uso político do Esporte. Rev Bras Ciência e Mov. 2004;12(2):111-9. 7. Azevedo PH. O esporte como negócio: a gestão do esporte nos dias atuais. Estud Goiânia. 2009;36(9/10):929-39. 8. Nista-Piccolo VL, Nunomura M. Os Jogos Olímpicos na perspectiva da pedagogia do esporte no Brasil. In: Moreira WW, Bento JO, editor. Citius, Altius e Fortius. Belo Horizonte: Casa da Educação Física; 2014. p. 171-208. 9. Bueno L. Políticas Públicas no Esporte no Brasil: razões para o predomínio do alto rendimento. Fundação Getúlio Vargas (FGV); 2008. 10. Carbinatto MV, Chaves MD, Moreira WW, Coelho ALS. Produção do conhecimento em ginástica: uma análise a partir dos periódicos brasileiros. Rev Mov. 2016;22(4):1293-308. 11. Simões R, Moreira WW, Chaves AD, Santos SP, Coelho AL, Carbinatto MV. A produção acadêmica sobre ginástica: estado da arte dos artigos científicos. Rev Bras Educ Física e Esporte. 2016;30(1):183-98. 12. Lima LBQ. Representatividade da Ginástica Artística feminina paulista no cenário brasileiro (2011-2014). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; 2016. 13. Secretaria de Esportes LEAM. Jogos Regionais - História [Internet]. Acervo esportivo. 2010 [citado 2014 Nov 2]. Disponível em: http://www.selam.piracicaba.sp.gov.br/site/acervo-esportivo/89-jogos-regionais/94- jogos-regionais- -historia.html 14. Secretaria de Esporte LEJ (SELJ-S. Regulamento dos Jogos Regionais [Internet]. 2014 [citado 2014 Nov 2]. Disponível em: http://www.selt.sp.gov.br/2014/regulamento_jogos_regionais.pdf 15. Secretaria de Esporte LEJ (SELJ-S. Regulamento dos Jogos Abertos “Horácio Baby Barioni” [Internet]. 2014 [citado
  • 21. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:1-13 • 13 Jogos regionais e jogos abertos do estado de São Paulo 2014 Nov 2]. Disponível em: http://www.selt.sp.gov.br/2014/Regulamento_Jogos_2014.pdf 16. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Editora Edições; 2010. 17. Appolinário F. Metodologia da Ciência. São Paulo: Thomson; 2006. 18. Nunomura, M, Carrara, PDS, Tsukamoto MHC. Ginástica artística e especialização precoce: cedo demais para espe- cializar, tarde demais para ser campeão! Rev Bras Educ Física e Esporte [Internet]. 2010;24(3):305-14. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbefe/v24n3/a01v24n3 19. Lima, LBQ, Murbach, MA, Ferreira, MDTO, Schiavon L. Análise das condições de desenvolvimento da ginástica artística no estado de São Paulo. Rev Bras Educ Física e Esporte. 2016;30(1):133–43. 20. Rubio K. O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo. Rev Electrónica Geogr y Ciencias Soc. Barcelona; 2012;6(119). 21. Rubio K. O trabalho do atleta e a produção do espetáculo esportivo. Rev Electron Geogr y Ciencias Soc [Internet]. Barcelona; 2002;6(119):95. Disponível em: http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn119-95.htm 22. Ferrando MG. Problemas sociales del trabajo deportivo: el caso de los atletas españoles de elite. Rev Española Investig Sociol. 1979;(8):33-88. 23. Lopes ACB. Breves considerações sobre a profissionalização precoce no âmbito esportivo. In: XXVII Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología. Buenos Aires: Asociación Latinoamericana de Sociología; 2009. p. 1-9. 24. De Bosscher, V, De Knop, P; Van Bottenburg, M; Shibli S. A conceptual framework for analyzing sports policy factors leading to international sporting success. Eur Sport Manag Q. 2006;6(2):185-215. 25. Schiavon, LM, Paes RR. Condições dos treinamentos de ginastas brasileiras participantes de jogos olímpicos (1980- 2004). Motriz Rev Educ Fis. 2012;18:757-69. 26. Schiavon LM, Lima, LBQ, Ferreira, MDTO; Silva YM. Análise da formação e atualização dos técnicos de Ginástica Artística do Estado de São Paulo. Pensar a Prática. 2014;17(3):618-35. 27. Oliveira M, Bortoleto M. A ginástica artística masculina brasileira no panorama mundial competitivo (1987-2008). Motriz Rev Educ Fis. 2009;(2005):297-309. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/ motriz/article/viewArticle/2372 ENDEREÇO Letícia Bartholomeu de Queiroz Lima Av. Dr. Jesuino Marcondes Machado, 2541 Chácara da Barra, Campinas – SP – BRASIL e-mail: leticia_queiroz@hotmail.com
  • 22. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 15 A parceria público-privada no contexto esportivo Introdução A parceria público-privada no contexto esportivo: o caso de uma equipe de ginástica rítmica da cidade de Campinas-SP Fernanda Raffi MENEGALDO* Eliana de TOLEDO** Marco Antonio Coelho BORTOLETO* A Ginástica Rítmica (GR) constitui-se como uma modalidade esportiva sob o auspício da Federação Internacional de Ginástica e figura no programa dos Jogos Olímpicos desde 19841 . No Brasil, sua prática teve início entre os anos de 1953 e 1954 pelas mãos das instrutoras Margareth Frohlich, de origem austríaca, e Ilona Peuker, húngara. Sua trajetória se consolidou majoritariamente no contexto dos clubes socioesportivos2 , especialmente no que tange à vertente competitiva, sendo sua prática por eles financiada no que se refere aos custos com taxas federativas, equipamentos, infraestrutura e despesas com profissionais, conforme apontam Toledo e Antualpa3 . No contexto específico do município de Campinas (São Paulo), embora a modalidade tenha tido grande repercussão entre 1980 e 19904 , a GR perdeu significativo espaço nas últimas duas décadas5,6 , fato que pode ser explicado, parcialmente, devido à crise dos clubes socioesportivos no final da década de 19907,8 , condição que influenciou diretamente a degradação das condições de trabalho das equipes esportivas nessa cidade. Por outro lado, com a criação do Ministério do Esporte (ME) em 2003 e as posteriores http://dx.doi.org/10.11606/1807-55092017000v31s10015 Resumo O presente estudo analisa a parceria estabelecida entre um clube socioesportivo da cidade de Campinas- SP, uma associação esportiva sem fins lucrativos e a Prefeitura Municipal, por meio de uma lei municipal de incentivo ao esporte, com objetivo de proporcionar sustentabilidade aos trabalhos de uma equipe de Ginástica Rítmica (GR) que representa a cidade. A pesquisa, de caráter qualitativo, caracteriza-se como estudo de caso e teve como procedimentos metodológicos uma revisão documental de arquivos públicos e privados, e a realização de entrevistas semiestruturadas com profissionais envolvidos. Os resultados revelam que a parceria foi e continua sendo fundamental para a manutenção das atividades da equipe de GR, sendo atualmente o principal meio de financiamento. Além disso, a parceria possibilitou o aumento da quantidade de ginastas e uma maior proximidade com a rede municipal de educação, contribuindo para o maior acesso a esse esporte, inclusive para não sócias do clube e residentes em áreas de vulnerabilidade social. Embora a parceria tenha importante função na manutenção da equipe, o modelo apresenta limitações, como o alto grau de dependência financeira da equipe aos recursos advindos da lei de incentivo, dificultando o planejamento das atividades competitivas da equipe – devido à imprevisibilidade temporal e ao montante dos recursos recebidos anualmente. A dificuldade de desenvolver ações voltadas à iniciação nessa modalidade que atendam, quantitativamente, um público ainda mais expressivo, também foi objeto de preocupação por parte das especialistas consultadas. Por fim, observou-se uma destacável sobrecarga de trabalho por parte das treinadoras, consequência da soma das atribuições técnicas inerentes ao treinamento esportivo e às decisões administrativas necessárias para a gestão da parceria, sobre as quais elas não possuíam experiência ou formação prévia. PALAVRAS-CHAVE: Esportes; Ginástica; Organização e Administração; Políticas Públicas. *FaculdadedeEducação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil. * * F a c u l d a d e d e Ciências Aplicadas e FaculdadedeEducação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
  • 23. 16 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 Menegaldo FR, et al. Método O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, de natureza qualitativa, conforme estabelece Minayo19 , e se designa como um estudo de caso20 . Para a realização deste trabalho, foi necessária a utilização de diferentes técnicas de pesquisa, algo comum em estudos qualitativos21 : revisão de literatura, pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas. Para a revisão de literatura, foi utilizada a ferramenta on-line, intitulada “Busca Integrada” do Sistema de Bibliotecas da Unicamp, que permite acesso a um amplo conjunto de bases de dados como SportDiscus, Scielo, Pubmed e Scirus, bem como foi feita uma consulta no acervo do Grupo de Pesquisa em Ginástica (GPG – FEF/ UNICAMP). Acerca da pesquisa documental, as principais fontes utilizadas foram: Arquivo público disponível no site oficial da PMC, na seção da Secretaria de Esporte e Lazer, e o Diário Oficial do Município (DOM), além do acervo documental particular da ACGRE. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas atendendo às indicações de Triviños20 , possuindo dois roteiros norteadores: um, com questões administrativo-burocráticas, direcionado à voluntária da ACGRE; e outro, destinado às quatro voluntárias representantes do CCRN, abordando as mudanças e as consequências da mudanças nas políticas públicas esportivas, surgiu, nos âmbitos federal, estadual e municipal, um conjunto de programas e leis para incentivo ao esporte, principalmente na sua dimensão de alto rendimento9-12 . Entre eles, merece destaque o Programa Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte (LI), instituídos respectivamente pelas leis federais nº 10.891/200413 e nº 11.438/200614 . Esses dispositivos impulsionaram novos modelos de financiamento e de gestão do esporte nacional – principalmente no caso da LI, que veio fortalecer a parceria público-privadaa,15 – e estão sendo estudados e implementados por um crescente, atraindo a atenção da área de pesquisa da Gestão Esportiva16,17 . Considerando essas novas condições contextuais, este estudo tratará de questões relacionadas à Ginástica Rítmica e ao seu financiamento, tendo como objetivo analisar como a parceria público-privada vem fomentando o esporte de alto rendimento, especificamente a parceria estabelecida entre a equipe de GR do Clube Campineiro de Regatas e Nataçãob (CCRN), a Associação Campineira de Ginástica Rítmica de Elite (ACGRE) e a Prefeitura Municipal de Campinas (PMC) – por meio da Lei nº 12.352/Fundo de Investimento Esportivo de Campinas (FIEC) –, promovendo reflexões acerca dos benefícios e dos entraves diagnosticados na execução desse projeto. implantação da parceria público-privada na dinâmica da equipe. A amostra de depoentes se constituiu de uma voluntária representando a ACGRE, caracterizada como uma associação desportiva sem fins lucrativos22 e quatro voluntárias representando o CCRN, entidade classificada como clube socioesportivo7 . As duas instituições – ambas situadas em Campinas, como também as cinco voluntárias – consentiram com a realização da pesquisa por meio de uma carta de autorização e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respectivamente. Previamente, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, via Plataforma Brasil, sendo aprovado conforme consta no parecer nº 709.848. Para subsidiar e sistematizar a análise dos dados, adotamos a Análise de Conteúdo23 . Assim, identificamos nas transcrições as unidades de registro e as unidades de contexto19 . Os passos seguintes foram constituídos por: (i) distribuição do material em categorias; (ii) realização de inferências dos resultados; (iii) reagrupamento das categorias; (iv) produção de narrativas temáticas; e, por fim, (v) interpretação dos resultados obtidos e diálogo entre as narrativas e a literatura levantada, em atenção ao processo descrito por Souza Junior, Melo e Santiago24 .
  • 24. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 17 A parceria público-privada no contexto esportivo Resultados e Discussão No fim do processo de categorização dos dados, foi possível identificar sete categorias temáticas, conforme dispostas na TABELA 1. Para cada categoria foi confeccionado um texto narrativo, que teve como intuito organizar o discurso das voluntárias. Antes, no entanto, de estabelecer o diálogo entre essas narrativas e outros dados obtidos por meio da análise documental, optamos por agrupar algumas categorias que se relacionavam de forma significativa e estratégica para a organização das ideias e dos temas identificados. Esse agrupamento (QUADRO 1) resultou em três categorias apresentadas a seguir: Categorias temáticas originadas do processo de Análise de Conteúdo.TABELA 1 - Categoria Tema 1 Criação da ACGRE 2 Parceria ACGRE - CCRN 3 O papel do CCRN na parceria 4 Benefícios e limitações 5 ACGRE/FIEC/CCRN e as influências sobre as competições 6 O antes e o depois da ACGRE 7 Perfil das ginastas Categorias constituídas a partir do agrupamento de categorias originais.QUADRO 1 - Novas categorias Categorias originais O surgimento do FIEC e da ACGRE: o porquê e o como da consolidação de uma parceria. Criação da ACGRE (1) Parceria ACGRE - CCRN (2) O funcionamento da parceria: sobre as mudanças administrativas. O papel do CCRN na parceria (3) Benefícios e limitações (4) As principais mudanças na rotina de ginastas e treinadoras. ACGRE/FIEC/CCRN e as influências sobre as competições (5) O antes e o depois da ACGRE (6) Perfil das ginastas (7) Essas três novas “macro” categorias, portanto, mediaram o diálogo a seguir, construído com os dados discursivos (entrevistas), dados oriundos da revisão documental e a literatura especializada. O surgimento do FIEC e da ACGRE: o porquê e o como da consolidação de uma parceria A trajetória das cinco entrevistadas na equipe do CCRN é longa, a começar pelo fato de que todas foram ginastas do clube, o que sugere um grande envolvimento com a modalidade, trazendo uma continuidade dessa relação na fase adulta e no campo profissional. As voluntárias I e II integraram a primeira geração de ginastas em meados da década de 1980 e, posteriormente, passaram a atuar como treinadoras, bem como as outras três voluntárias, as quais tiveram trajetórias similares, integrando-se ao corpo técnico no fim de suas carreiras como atletas. Foi no ano de 2005, de acordo com a
  • 25. 18 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 Menegaldo FR, et al. voluntária I, durante uma conversa informal com um funcionário da PMC, que a equipe tomou conhecimento do programa FIEC, antes mesmo da divulgação de seu primeiro edital, ocorrido em junho de 2006. Essas informações, ao chegarem à comissão técnica da equipe e a um grupo de pais que auxiliava com as atividades de arrecadação de verbas, motivaram a criação da ACGRE, uma vez que os projetos beneficiados pelo FIEC deveriam, obrigatoriamente, ser tramitados por associações sem fins lucrativos25 . Definido pela lei nº 12.352, de 10 de setembro de 200526 , o FIEC é gerido pela Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer (SMCEL) e objetiva apoiar projetos estritamente esportivos ou de lazer de iniciativas de pessoas jurídicas, de direito tanto público como privado25 . Desde sua criação, foram 12 editais anuais. Para este estudo, foram analisados os editais de 2006 a 2014c . De acordo com o Decreto nº 15.442, de 26 de abril de 200627 , que “Estabelece Normas e Procedimentos Sobre a Organização e o Funcionamento do Fundo de Investimentos Esportivos do Município de Campinas – FIEC, e dá outras Providências”27 , os editais são elaborados pela SMCEL e aprovados, anualmente, pelo Conselho Municipal de Esportes e Lazer (CMEL), que tem como principal papel “apreciar os projetos esportivos a serem financiados pelo FIEC”27 , bem como a avaliar os pareceres técnicos, fiscalizar a execução dos projetos e auxiliar na seleção de pareceristas e consultores26 . Todas as informações referentes à lei e à sua execução são divulgadas pelo Diário Oficial do Município (DOM), inclusive os projetos aprovados26 . Em 2005, quando a lei foi instituída, o SMCEL propunha sete categorias para submissão de projetos: esporte de participação e lazer, esporte educacional, esporte de rendimento, paradesporto, espaços esportivos, estudo e pesquisa e por fim, formação26 . No entanto, ao longo de sua realização e publicações de editais anuais, algumas categorias foram mantidas e outras retiradas dos editais. Atualmente, o FIEC disponibiliza apenas três opções de categorias para submissão de projetos: esporte de participação e lazer, esporte de rendimento e paradesporto28 . É importante ressaltar que essa lei foi instituída em âmbito municipal, mas está inserida em um cenário de implantação de políticas em diferentes esferas do poder público, com propostas que convergiam com os interesses das secretarias nacionais instituídas a partir de 2003 pelo ME, sendo elas: de Esporte Educacional (SNEED), de Esporte e Lazer (SNDEL) e de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR)29,11 . Nesse panorama, o Esporte de Alto Rendimento (EAR) sempre possuiu grandes investimentos por parte do governo Federal, mesmo antes da criação do ME30,31,11 , o que pode ser constatado pelo fato das ações esportivas do país estarem divididas em três categorias desde a Constituição de 1988 (Esporte-Educação, Esporte-Participação e Esporte-Performance) – mesma data em que as ações esportivas foram definidas como direito dos cidadãos. Embora encontremos algumas alterações, é possível observar grande semelhança entre a divisão proposta pela Constituição em 88, pelo ME em 2003 e a organização atual, que propõem como departamentos de gestão estratégica a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) e o SNEAR, além da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor (SNFDT) e a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ACBD)32 . O FIEC, por sua vez, representa uma ação do governo municipal para o fomento de práticas esportivas que contempla, desde seu início, projetos esportivos de diferentes naturezas. No entanto, analisando detalhadamente seus Editais, podemos concluir que as verbas anunciadas ano a ano para as atividades que estão envolvidas com o EAR são significativamente superiores às quantias destinadas às atividades de outras categorias presentes nos editais, como “Esporte Educacional” e “Esporte de Participação e Lazer”33 . No estudo realizado por Benini30 , no qual faz-se uma análise detalhada sobre o FIEC entre os anos de 2011 e 2013, o autor conclui que: [p]ensando na questão da verba destinada para cada manifestação esportiva em 2013 a verba repassada para o Esporte de Rendimento representa quatro vezes e meia a verba do Esporte de Participação, seis vezes a verba do Esporte Educacional e treze vezes a verba do Paradesporto. Apenas com essa primeira observaçãotendocomocritérioaverbarepassada para os projetos pode-se observar que o Esporte de Rendimento se apresenta em uma posição mais valorizada dentro do fomento esportivo na cidade de Campinas30 (p. 27). Com o intuito de participar do referido edital,
  • 26. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 19 A parceria público-privada no contexto esportivo a equipe de GR do CCRN fundou, em 12 de dezembro de 2005, a ACGRE, caracterizada como uma associação civil sem fins lucrativos, que tem como objetivos: difundir a prática da GR; promover eventos esportivos e recreativos com caráter amador para alunos e funcionários da ACGRE; e representar a cidade de Campinas em eventos esportivos34 . O surgimento da ACGRE e a possibilidade de acessar os fundos do FIEC foi, segundo as voluntárias, uma alternativa à difícil situação financeira que a equipe vivia no início da década de 2000, situação diretamente relacionada à crise dos clubes socioesportivos8 , que no contexto campineiro, fez com que na década de 1990 muitos clubes sofressem uma evasão de associados, resultando em uma crise financeira, visto que “a manutenção dos clubes se baseia no pagamento das taxas mensais pelos associados” (p. 108)7 . Numa perspectiva mais ampla, é possível pensar ainda que as sociedades pós-modernas adquirem um caráter cada vez mais individualista35 , o que, atrelado aos avanços tecnológicos de acessibilidade de entretenimento instantâneo e de consumo, desencontra-se com a ideia do usufruto coletivo através de uma associação, o que seria, a nosso ver, o ideal de clube8 . Concomitantemente, Alves e Pieranti36 , Meira, Bastos e Böhme37 e Galatti38 , apontam o clube como o locus da prática esportiva no país, situando-se, portanto, da base ao topo de um modelo esportivo piramidal. A partir disso, ao pensarmos a crise clubista, deparamo-nos com um dilema: a base da pirâmide esportiva não possui condições, mecanismos financeiros, e por vezes nem interesses políticos e midiáticos que permitam manter as equipes competitivas. Além da dificuldade financeira, outra questão que incentivou a busca da parceria com a Prefeitura Municipal foi, na visão da voluntária V, a diminuição no ingresso de novas ginastas e a dificuldade de permanência dessas atletas para além das categorias de base. De acordo com as entrevistadas, a equipe passava por um período crítico no que diz respeito à sua renovação (ingresso de novas ginastas), fato que para a voluntária V poderia estar relacionado às diversas possibilidades de atividades as quais as crianças passaram a ter acesso: [h]oje em dia o acesso às coisas é muito fácil. Na minha época era muito legal passar horas treinando. Hoje não é mais porque as crianças têm muitas possibilidades: curso de inglês, de espanhol, de música. Na minha época a gente viaotreinamentocomoumaopçãosensacional e hoje não é mais assim (Voluntária V). A menor adesão indicada na fala da Voluntária V parece ter relação com o estudo de STRINGHINI39 , quando são analisadas as razões da desistência da prática da Ginástica Artística (GA) no alto rendimento, modalidade que mantém algumas similaridades com a GR. Foi constatado que a condição econômica das famílias das ginastas pode contribuir tanto para incentivar como para desestimular os treinamentos. Ainda sobre essa questão, a voluntária V afirmou que, antes mesmo da efetivação da parceria, a equipe técnica já notava uma mudança no perfil socioeconômico das famílias que traziam as crianças para participar do processo de “seleções de talento”. Os testes e “peneiras”, como é comumente denominado o processo, eram realizados no espaço do CCRN – privilegiando o público das proximidades da instituição –, começaram a receber uma quantidade expressiva de meninas não sóciasd , que residiam em regiões distantes do clube e que pertenciam a grupos sociais distintos aos costumavam comparecer nas “seleções de talento”. Refletindo acerca disso, as treinadoras perceberam uma possibilidade para o aumento do número de ginastas da equipe. Simultaneamente, a parceria com o FIEC trouxe uma nova exigência às gestoras da equipe, o chamado “investimento social”, item presente em todos os editais e que exige a execução de ações relacionadas à modalidade esportiva do projeto em áreas de vulnerabilidade social do município. Importante ressaltar que o conceito de vulnerabilidade social utilizado neste estudo não está atrelado simplesmente a divisão geográfica periferia-centro, como é mencionado por CUNHA, JAKOB, HOGAN E CARMO40 e RIBEIRO E LAGO41 . Na realidade, a utilização da expressão vulnerabilidade social no contexto deste trabalho está estritamente ligada à concepção trazida por MONTEIRO42 , que aborda a vulnerabilidade social como um “produto negativo da relação entre recursos simbólicos e materiais, de indivíduos ou grupos, e o acesso a oportunidades”42 (p. 33). Nessa perspectiva, a vulnerabilidade social estaria atrelada a dois pressupostos que MONTEIRO42 , em concordância com BUSSO43 , define como o “risco de ser ferido ou prejudicado frente à mudança ou permanência de situações indesejáveis e [...] à
  • 27. 20 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 Menegaldo FR, et al. O funcionamento da parceria: sobre as alterações administrativas Um dos aspectos mais influenciados pela implantação da parceria público-privada foi o modelo de gestão da equipe que, até então, dependia de ações alternativas para obtenção de verba, como a realização de rifas, apresentações remuneradas e eventos para arrecadação de recursos. Essas ações refletem o amadorismo que ainda define a prática da GR no Brasil48 e as estratégias adotadas pela maioria dos clubes. Esse novo modelo exigiu das treinadoras competências relacionadas aos trâmites administrativo-burocráticos, antes não necessárias, realizados de maneira voluntária. [e]u sei ser técnica, e com a parceria tive que aprender a ser gestora. Isso é um pouco complicado porque você vem dar o treino e fica pensando na prestação de contas que você tem que fazer. Deveria ter uma pessoa dentro da equipe só para fazer essa parte, o que não é o nossocaso,porqueaassociaçãoéformadapelas próprias professoras (Voluntária I). Em concordância com a realidade descrita acima e confirmando o ingresso tardio de disciplinas de gestão nos cursos de formação em Educação Física16 , SOUCI47 define que, em geral, os administradores nos diferentes contextos esportivos são ex-professores e treinadores que não possuem a qualificação na área da gestão. Em muitos casos, inclusive no modelo estudado, o acúmulo de funções resultou na sobrecarga e na realização de funções de maneira não otimizada49 . Nesse sentido, é importante reservar algumas palavras sobre o processo de prestação de contas, ação principal referente às questões administrativas capacidade de respostas que os grupos sociais têm às mudanças e aos desafios que o meio natural e social impõe”42 (p. 33). Nesse mesmo sentido, a autora ainda reforça a ideia de vulnerabilidade social como sujeitos que [e]ncontram-se incapacitados para lidar com as circunstâncias do cotidiano da vida em sociedade e de se movimentarem na estrutura social. Essas situações não se restringem aos determinantes econômicos, pois perpassam também as organizações simbólicas de raça, orientação sexual, gênero, etnia42 (p. 35). A possibilidade de possuir uma equipe com um número maior de ginastas foi viabilizada, principalmente, pela realização de intervenções nas escolas da rede pública do município de Campinas, ambientes antes não acessados pela equipe técnica do CCRN. Essas intervenções deram-se no formato de aulas abertas semestrais ministradas pelas treinadoras e que tinham como objetivo a “seleção de talentos”. Essas novas intervenções viabilizadas pela parceria permitiram, de acordo com a voluntária IV, a criação de um trabalho de base mais amplo: “O objetivo era ter um financiamento para dar estrutura para trazer novas atletas para o clube” (Voluntária IV). A ação que a treinadora IV destaca em seu depoimento, refere-se à busca por novas ginastas em áreas de vulnerabilidade social e realização de seleções de talento para além do espaço do clube socioesportivo, são situações que têm se tornado bastante comuns em diversos municípios, e que muitas vezes são atreladas ao que chamamos de projetos esportivos sociais. Estudos como SILVA e SILVA44 e CASTRO e SOUZA45 confirmam o aumento dos projetos sociais esportivos no país e reforça a importância da atuação de profissionais qualificados nesses contextos onde o esporte ainda se faz ausente: “[...] a população carece de locais com profissionais para dirigir e ensinar práticas esportivas; por isso, a necessidade de disseminação do esporte e de seus valores através de políticas públicas esportivas”44 (p. 417). Nesse sentido, consideramos importante destacar a alteração quase que total do perfil das ginastas da equipe, por conta do acesso as escolas públicas, diminuindo drasticamente o número de atletas sócias e ingressantes por meio dos testes realizados do próprio CCRN. Essa mudança de perfil marcou, em concordância com os discursos, uma mudança no papel e “na pedagogia” das treinadoras, alterando a dinâmica de treinamentos da equipe e, muitas vezes, o papel que a prática esportiva assumia na vida das praticantes. Nesse caso, parece ser que, para essa nova geração de ginastas – e para suas famílias, o caráter socioeducativo do esporte é prioritário. Para além disso, o exemplo dessa parceria público-privada, hora estudada, aponta uma expansão do papel do clube socioesportivo como espaço de promoção e ingresso ao esporte. Quando concretizadas, essas parcerias fomentam a flexibilização de algumas características para que a instituição elitista7 assuma um “novo” status, um novo papel, principalmente no que tange o acesso ao esporte, esse sendo pensado não apenas como um direito civil11 , mas também como um direito social, quando pensado enquanto prática de lazer46 .
  • 28. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 21 A parceria público-privada no contexto esportivo de manutenção dos projetos. O “Guia de Prestação de Contas 2014”50 , documento disponibilizado às instituições proponentes dos projetos, confirma a seriedade deste processo e as atribuições por parte dos responsáveis pelas instituições beneficiadas, alegando que as prestações de contas dos projetos que receberem benefícios do FIEC devem ser elaboradas com rigorosa observância à legislação específica e às orientações, e deverão ser assinadas por contador ou por técnico contábil legalmente habilitado. Fica, assim, evidente, que esse processo requer determinada cautela e competência técnica frente a tantas exigências, as quais revelam o cuidado das instituições públicas com a “cultura da corrupção”e . A voluntária I acrescentou que, embora desejável, a contratação de um profissional contábil é inviável por conta da variação das quantias recebidas a cada ano, impossibilitando a contratação de um serviço administrativo regular ou com custo fixo. Esse aspecto está atrelado à inconstância ou à oscilação do volume concedido na rubrica, anualmente, para cada projeto. Essa variação foi apontada como um fator negativo da parceria por outras voluntárias, que indicaram que essa oscilação pode prejudicar o planejamento das atividades da equipe. Como os editais permitem a submissão de projetos com vigência, em geral, de março a novembro, a cada ano as associações parceiras correm o risco de ter sua verba aumentada ou diminuída ao pleitear novamente o auxílio. Essa situação está diretamente relacionada à própria inconstância e organização assistemática dos programas e projetos de esporte e lazer no Brasil, conforme nos aponta PINTO53 . Distanciando-nos de questões administrativas, um ponto interessante levantado pela voluntária II refere-se às intervenções nas escolas. Para ela, essas ações mereceriam uma reflexão particular: “nós não estamos lá todo dia, o tempo todo... Exatamente no dia em que você foi fazer a “peneira”, aquela criança que é talentosa não foi na aula, ou não estava bem, e daí nós não conseguimos enxergá-la” (Voluntária II). Esse aspecto torna-se um dilema no contexto da equipe, pois as treinadoras não possuem tempo disponibilizado pelo clube e nem financiamento – ajuda de custo ou remuneração para a realização dessas ações. Ao mesmo tempo, não há outras iniciativas que possam levar as crianças para aulas abertas no CCRN sem que elas já estejam vinculadas a equipe de treinamento. Essa questão está relacionada, na perspectiva da voluntária V, a uma política esportiva mais ampla por parte do governo municipal, no sentido de fomentar ações que ampliem ainda mais acesso às práticas esportivas e, paralelamente, uma ação social de maior impacto. A entrevistada então sinaliza que, para viabilizar outras ações para além das que são possibilitadas pela parceria com o FIEC, a equipe explora outras ferramentas com intuito de ampliar o orçamento. De fato, as políticas públicas esportivas, como a Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte, também merecem destaque, uma vez que já compõem, de alguma forma, a realidade da equipe ACGRE/FIEC/CCRN. A primeira delas, a Bolsa Atleta13 , sancionada pela Lei nº 10.891/2004, já beneficiou três ginastas da equipe, benefício que foi possibilitado pelos resultados obtidos no Campeonato Sul-americano de 2013. A segunda política, na esfera federal, é a Lei nº 11.438/2006, definida como a dedução de imposto de renda, de pessoa física ou jurídica, de valores despendidos a título de patrocínio ou doação, no apoio direto para projetos desportivos ou paradesportivos, que já possuam aprovação pelo ME14 . A contemplação por esse programa público de incentivo aos trabalhos das organizações não governamentais sem fins lucrativos, vinculadas ao CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – e à Secretaria Municipal de Assistência Social, vem sendo um dos objetivos da equipe ACGRE/FIEC/CCRN, que já obteve aprovação de projetos, mas não obtiveram a captação dos recursos. Todas essas leis preveem exigências a serem executadas pelas instituições beneficiadas. Com relação ao FIEC, cabe ressaltar a representação da cidade nos Jogos Regionais (JR) e nos Jogos Abertos do Interior (JAI), competições de grande repercussão esportiva e política no estado de São Paulo54 . Para além de resultados competitivos, o edital do FIEC aponta a obrigatoriedade da realização das intituladas ações de “contrapartida”, que devem fomentar a prática da modalidade no município, exigindo a utilização de um valor referente a 5% da quantia total recebida a cada ano pela instituição28 . No caso da equipe CCRN, essas ações de contrapartida se dão, em geral, pela organização de duas atividades realizadas anualmente: a Copa Campinas de Ginástica Rítmica e o Curso de iniciação à Ginástica Rítmica, com caráter de formação continuada55 .
  • 29. 22 • Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 Menegaldo FR, et al. As principais mudanças na rotina de ginastas e treinadoras Fora as exigências previstas pela lei, a efetivação da parceria ACGRE/FIEC/CCRN exigiu outras mudanças na rotina das treinadoras e, principalmente, no relacionamento delas com as ginastas. Devido ao cunho social atribuído, a atuação profissional delas se transformou, deixando de ter apenas o caráter técnico-esportivo, exigindo maior “dedicação” educativa. As treinadoras informaram que a relação treinador-atleta mudou significativamente, em sentido similar ao relatado por SILVA e SILVA44 , quando destacam a influência dos treinadores na formação dos alunos de projetos sociais, no sentido de uma expectativa de futuro ligada diretamente à modalidade praticada, almejando, por exemplo, tornarem-se professores. A mudança na postura das atletas também foi observada pelas treinadoras. As voluntárias I, II e IV atribuem essa mudança não apenas à expressiva alteração no perfil socioeconômico, mas principalmente a diferenças relacionadas a uma mudança geracional, aos diferentes contextos históricos e aos momentos da sociedade nos quais estão inseridas as equipes anteriores e posteriores à parceria. Conforme a voluntária I, é possível observar atualmente uma postura menos independente e autônoma das atletas. [a] geração de dez anos atrás é totalmente diferente da geração de hoje... elas são muito maisdependentes.Inclusivenaprópriaquadra. Àsvezesparecequenósprecisamosdarmaisdo que elas, porque elas sempre estão esperando muito de nós. Elas são mais dependentes emocionalmente, não só monetariamente (Voluntária I). O depoimento da voluntária I vai ao encontro da literatura quando, por exemplo, GERVIS e DUNN56 , citados por SCHIAVON57 , afirmam que em muitos casos, as ginastas podem compreender a figura do treinador como mais importante até do que os próprios pais, estabelecendo o que os autores denominam como relacionamento criança-adulto ainda na infância54,55 . Essa relação pode ser similar a um vínculo familiar, relacionamento que origina sentimentos como respeito, carinho, obediência e até submissão. A relação atleta-atleta também adotou outro caminho. A estratégia competitiva, antes voltada para as competições individuais, passou a enfocar as competições de conjunto. Para a voluntária V, essa alteração se fez necessária para manter o grupo, uma vez que o treinamento de conjuntos se mostrou mais seguro – do ponto de vista emocional – para as ginastas e, a cada geração, desencadeia o surgimento de um círculo de amizade entre as ginastas que torna o ambiente mais saudável para os treinos: “Nós vimos que para segurar as meninas dentro do ginásio não adiantava elas fazerem só individual, elas não querem, é muita pressão. Com o conjunto, elas iam se soltar mais, e ia dar para segurar as meninas pelas amizades, pelo clima que ficava ali” (voluntária V). Dessa forma, fica evidente que a preferência por parte das ginastas pelas provas de conjunto se deve ao caráter social que essa prova impõe, devido à convivência das atletas nos treinamentos. LOPES e NUNOMURA58 , ao escreverem sobre os fatores motivacionais intrínsecos e extrínsecos para o treinamento da GA, relatam a importância desse fator para os ginastas. Assim, o vínculo social pode ser um fator motivacional relevante para a continuidade dos treinos59 , principalmente quando as atletas ingressam na realidade competitiva da modalidade que possui uma rotina de treinamentos mais intensa60,58,61 . Outra modificação instalada nesse período foi a organização e o acesso a itens essenciais para o desenvolvimento dos treinos e para a participação da equipe em eventos de âmbito nacional e internacional. Nas gerações de ginastas anteriores, os investimentos aconteciam de modo individual, decisão justificada, principalmente, pela falta de investimento na modalidade: “Na minha época, a gente tinha o conhecido pai-trocínio” (Voluntária V). Cada atleta, portanto, custeava seus próprios gastos e isso permitia às ginastas e a seus responsáveis um maior poder de decisão em escolhas como compra de materiais, confecção de uniformes de treino e competição, além de competições que iriam participar, pois os preços de passagens áreas, hotéis e alimentação precisavam ser acessíveis às possibilidades de investimento por parte das ginastas. Assim, o desenvolvimento da equipe estava condicionado a um diálogo intenso entre a equipe técnica e os ginastas e seus familiares. O investimento externo do FIEC atrelado à mudança do perfil socioeconômico das ginastas desencadeouastomadasdedecisõesdentrodaequipe, norteadas, prioritariamente, pelas treinadoras. Dessa forma, a compra de itens necessários para o treinamento e, principalmente, os campeonatos a serem disputados representam decisões da equipe técnica, com mínima interferência das ginastas e de
  • 30. Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Out;31 Supl 10:15-28 • 23 A parceria público-privada no contexto esportivo seus responsáveis. Segundo as treinadoras, essa nova conjuntura contribuiu para a autonomia e facilitou o planejamento, além de viabilizar a participação em eventos com maior número de ginastas. Diversos estudos recentes no campo da ginástica competitiva analisam as distintas formas de patrocínio nas equipes esportivas, destacando a ausência dele no âmbito da ginástica48,62,57 , exceto no caso das seleções nacionais. Para esses autores mencionados, o discurso amador ainda é marcante nesse contexto, pois nem sequer ginastas de alto nível possuem garantias de um patrocinador individual. Isso se dá principalmente por conta da falta de visibilidade midiática63,62 , inclusive no campo da ginástica: “na mídia, as modalidades não ganham exposição, não se desenvolvem, não atraem investidores e não atingem o público [...]. Se o público não se identifica, não há investimento por parte das empresas”62 (p. 168). Embora seja uma alternativa que se concretizou no contexto da equipe CCRN e que contribui até os dias atuais de forma fundamental para a manutenção das atividades da equipe, o modelo de parceria apresentado gera, segundo a presidente da ACGRE, uma possível dependência das ginastas aos benefícios possibilitados pelo projeto, como, por exemplo, o acesso a escolas privadas. Após alguns anos, de acordo com as voluntárias II e III, essas benfeitorias podem ter se tornado condicionantes para a permanência das ginastas na equipe, influenciando diretamente o comprometimento delas com o treinamento. Dessa forma, os discursos apontam para a necessidade de redefinir o modelo atual de gestão e o acesso a esses benefícios, evitando essa relação acentuada de dependência entre as ginastas, relação que, na opinião das treinadoras, não é positiva para o desenvolvimento da equipe. Considerações Finais Os dados analisados não deixam dúvidas de que as atividades da equipe de GR do CCRN foram mantidas graças à parceria público-privada estabelecida, um modelo relativamente recente de gestão esportiva, que merece ser estudado com atenção, pois revela benefícios, contradições, problemáticas e desdobramentos merecedores de análises mais pormenorizadas. O estudo de TOLEDO, DESIDERIO e SCHIAVON64 trouxe essa temática à tona, na relação entre o FIEC, CCRN e o Instituto SOS Pequeninos, sendo este último do terceiro setor, no desenvolvimento da Ginástica Artística, confirmando que diversas parcerias estão em curso e, por isso, merecem atenção da comunidade acadêmica. Por outro lado, a realização do presente estudo despertou questões que nos parecem extremamente importantes para a compreensão do atual panorama do esporte nacional, entre elas, a temática dos clubes socioesportivos. Acerca disto, o exemplo analisado evidencia a decadência do associativismo clubístico na cidade de Campinas-SP, indo ao encontro das publicações que tratam do tema, e sua implicação negativa na manutenção das equipes de GR da cidade em questão. Essa crise não se resume ao âmbito da GR, indicando tratar-se de um fenômeno de maior amplitude que afeta a maior parte dos esportes amadores, e não somente na localidade analisada. Podemos debater também o uso de um espaço privado, o clube socioesportivo, por parte da população oriunda das áreas de vulnerabilidade social, normalmente pouco atendida por políticas e serviços públicos. Esse quadro revela a ausência ou a insuficiência de ações esportivas por parte do setor governamental, hoje mais atento ao esporte de alto rendimento, repassando sua responsabilidade, por meio das leis de incentivo, ao setor privado. Não obstante, ainda há tímidas propostas no setor público que merecem destaque e estudos, como propostas a serem viabilizadas em outros estados e municípios. O estudo aponta, por fim, que parcerias público-privadas representam uma tendência no âmbito do esporte de competição, envolvendo o poder público (organizações e leis), os clubes ou associações esportivas, e também, em alguns casos, organizações sem fins lucrativos (ONGs). Não obstante, parece-nos importante destacar a limitação desta presente pesquisa, que, como já foi dito, trata-se de um estudo de caso. Entendemos que a análise sistemática de outros contextos – outros casos – contribuiria sobremaneira para ampliar a discussão aqui iniciada.