Este documento analisa a atuação subjacente dos grupos de interesses na política e no poder no Brasil. Discute como as elites detentoras do poder historicamente dominaram as massas de variadas formas, e como atualmente utilizam técnicas sofisticadas de manipulação linguística e midiática para manter as condições ideais de dominação. Também examina a origem do patrimonialismo no Brasil e como os grupos de interesses se formaram dentro deste contexto histórico para promover seus próprios interesses através do Estado.
O documento discute conceitos fundamentais de ciência política como sociedade, estado e povo. A sociedade é definida como um complexo de relações entre pessoas e pode ser vista de forma mecânica ou orgânica. O estado é a organização do poder político de uma sociedade em um território e exerce o monopólio legítimo da violência. O povo é o conjunto de cidadãos vinculados a um ordenamento jurídico estatal.
Segundo Thomas Marshall, o conceito de cidadania envolve três elementos conquistados historicamente: direitos civis, políticos e sociais. A cidadania é um status concedido aos membros de uma comunidade e confere direitos iguais, enquanto a classe social é um sistema de desigualdades econômicas. Os direitos sociais reduziram as diferenças de classe, mas seu objetivo inicial era diminuir a pobreza, não alterar a desigualdade.
Prefacio da Contribuicao a Critica da Economia Politica de Karl MarxAlexandre Protásio
Os trechos descrevem os conceitos marxistas de base material da sociedade, superestrutura e luta de classes. Marx argumenta que as relações sociais e formas do Estado são determinadas pelas condições materiais de existência e não pelo espírito humano. A estrutura econômica da sociedade constitui a base sobre a qual se eleva a superestrutura jurídica e política.
Max Weber foi um sociólogo alemão do século XIX que estudou a relação entre protestantismo e capitalismo. Ele propôs uma classificação da ação social e conceitos como tipo ideal, burocracia e dominação para analisar a sociedade. Suas principais obras exploraram como valores religiosos influenciaram o desenvolvimento econômico.
Para entender a sociologia bourdieusiana, se faz necessário, assim como sugere nosso autor, remontar as condições de ‘campos’ que geraram o autor e sua teoria.
1) O documento discute as teorias contratualistas sobre a origem do Estado e do poder político, segundo autores como Hobbes, Locke e Rousseau.
2) Hobbes via o estado de natureza como um estado de guerra de todos contra todos, onde o contrato social estabelece um Estado absoluto para garantir a segurança.
3) Locke defendia que o estado de natureza tinha falta de regras, surgindo o Estado por meio de contrato para julgar disputas de forma imparcial.
4) Rousseau via o estado de natureza como harmônico,
Max Weber's sociological thought is summarized in 3 sentences:
1) Max Weber analyzes the origins and development of capitalism in society and how it rationalizes and alienates humans.
2) He proposes that social action shapes society and leads to the emergence of social classes as humans seek power and accumulation of wealth.
3) Weber argues that under capitalism, humans become commodified and divided into two main classes - the bourgeoisie class that owns capital and the proletariat class that sells their labor.
Este documento apresenta um resumo do prefácio e introdução do livro "Ética e Serviço Social: Fundamentos Ontológicos" de Maria Lúcia Barroco. No prefácio, José Paulo Netto elogia a qualificação intelectual de Barroco e vê o livro como uma importante contribuição para a fundamentação ética de um projeto profissional crítico e humanista no Serviço Social. A introdução explica que a análise é baseada no método dialético de Marx e visa compreender a gênese da profissão e a base on
O documento discute conceitos fundamentais de ciência política como sociedade, estado e povo. A sociedade é definida como um complexo de relações entre pessoas e pode ser vista de forma mecânica ou orgânica. O estado é a organização do poder político de uma sociedade em um território e exerce o monopólio legítimo da violência. O povo é o conjunto de cidadãos vinculados a um ordenamento jurídico estatal.
Segundo Thomas Marshall, o conceito de cidadania envolve três elementos conquistados historicamente: direitos civis, políticos e sociais. A cidadania é um status concedido aos membros de uma comunidade e confere direitos iguais, enquanto a classe social é um sistema de desigualdades econômicas. Os direitos sociais reduziram as diferenças de classe, mas seu objetivo inicial era diminuir a pobreza, não alterar a desigualdade.
Prefacio da Contribuicao a Critica da Economia Politica de Karl MarxAlexandre Protásio
Os trechos descrevem os conceitos marxistas de base material da sociedade, superestrutura e luta de classes. Marx argumenta que as relações sociais e formas do Estado são determinadas pelas condições materiais de existência e não pelo espírito humano. A estrutura econômica da sociedade constitui a base sobre a qual se eleva a superestrutura jurídica e política.
Max Weber foi um sociólogo alemão do século XIX que estudou a relação entre protestantismo e capitalismo. Ele propôs uma classificação da ação social e conceitos como tipo ideal, burocracia e dominação para analisar a sociedade. Suas principais obras exploraram como valores religiosos influenciaram o desenvolvimento econômico.
Para entender a sociologia bourdieusiana, se faz necessário, assim como sugere nosso autor, remontar as condições de ‘campos’ que geraram o autor e sua teoria.
1) O documento discute as teorias contratualistas sobre a origem do Estado e do poder político, segundo autores como Hobbes, Locke e Rousseau.
2) Hobbes via o estado de natureza como um estado de guerra de todos contra todos, onde o contrato social estabelece um Estado absoluto para garantir a segurança.
3) Locke defendia que o estado de natureza tinha falta de regras, surgindo o Estado por meio de contrato para julgar disputas de forma imparcial.
4) Rousseau via o estado de natureza como harmônico,
Max Weber's sociological thought is summarized in 3 sentences:
1) Max Weber analyzes the origins and development of capitalism in society and how it rationalizes and alienates humans.
2) He proposes that social action shapes society and leads to the emergence of social classes as humans seek power and accumulation of wealth.
3) Weber argues that under capitalism, humans become commodified and divided into two main classes - the bourgeoisie class that owns capital and the proletariat class that sells their labor.
Este documento apresenta um resumo do prefácio e introdução do livro "Ética e Serviço Social: Fundamentos Ontológicos" de Maria Lúcia Barroco. No prefácio, José Paulo Netto elogia a qualificação intelectual de Barroco e vê o livro como uma importante contribuição para a fundamentação ética de um projeto profissional crítico e humanista no Serviço Social. A introdução explica que a análise é baseada no método dialético de Marx e visa compreender a gênese da profissão e a base on
O documento discute as visões de Marx e Engels sobre educação. Eles viam a educação como dependente da sociedade e das classes dominantes, e defendiam uma educação pública, gratuita e ligada ao trabalho produtivo. Suas ideias influenciaram a Comuna de Paris e revolucionaram a pedagogia ao colocar o trabalho no centro do processo educativo.
O documento descreve os princípios e objetivos da educação nacional brasileira segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ele estabelece o direito à educação, os deveres do Estado e dos pais em relação à educação básica obrigatória e gratuita, e as responsabilidades dos diferentes níveis de governo na organização do sistema educacional.
Material 1 - Introdução às Ciências Sociais.pptxWillianVieira54
O documento discute a Sociologia como a ciência que estuda a sociedade e as interações sociais. A Sociologia analisa como os comportamentos humanos se tornam padronizados e formam grupos que interagem. O olhar sociológico requer afastamento do senso comum através da desnaturalização e estranhamento para analisar os fenômenos sociais de forma objetiva.
O documento discute os conceitos de alienação e ideologia e seus riscos para a educação. Apresenta como a cultura pode ser contaminada por modos perversos que desviam do processo de humanização, como a alienação e a ideologia. Argumenta que a educação não deve ser apolítica e deve promover a construção da personalidade social do educando.
O documento discute o surgimento e características da democracia. A democracia surgiu na Grécia antiga como um governo exercido diretamente pelo povo, evoluindo para a democracia representativa moderna onde os cidadãos elegem representantes. No Brasil, a democracia teve início no governo Getúlio Vargas. Atualmente há questionamentos sobre o desempenho das instituições democráticas e desconfiança dos cidadãos, apesar do apoio legal à democracia.
1) O documento discute a evolução do conceito de ciência política, desde Aristóteles até autores modernos como Kant e Comte. 2) Ele também contrasta as abordagens naturalista versus idealista para entender o mundo natural e social. 3) Por fim, aborda diferentes perspectivas (filosófica, sociológica e jurídica) para analisar a realidade política de uma nação.
O documento discute o conceito de gênero, definindo-o como uma construção social que varia ao longo do tempo e entre culturas, diferente do sexo biológico. Aborda como o gênero influencia as relações de poder entre mulheres e homens e origina desigualdades. Também apresenta os princípios do feminismo emancipacionista de que a opressão de gênero está ligada à divisão sexual e social do trabalho.
O documento apresenta os principais conceitos da sociologia como ciência, tais como: seu objeto de estudo são os problemas sociais e sua abordagem é científica e objetiva para explicar racionalmente os fenômenos sociais; discute os principais pensadores da sociologia clássica como Comte, Spencer e Durkheim, destacando a visão de Comte de que a sociologia é a "física social" e sua lei dos três estados; e aborda as transformações sociais do século XVIII, como a Revolução Industrial e Revolução Francesa, que
Este documento discute os conceitos de política e cidadania ao longo da história moderna. Apresenta definições iniciais de política e poder, e descreve a evolução da política desde a Idade Média, passando pelas revoluções burguesas e socialistas, até chegar ao neoliberalismo moderno. Também aborda os conceitos de cidadania, participação política e indiferença política.
O documento discute as classes sociais na sociedade capitalista. Define classe social como grupos estratificados com base na propriedade, renda, consumo, educação e poder. Explora como as desigualdades são estruturadas na sociedade capitalista e como a mobilidade entre classes é maior do que em outras sociedades, mas ainda existem barreiras.
Processos Sociais (Sociologia Geral e do Direito)Helíssia Coimbra
O documento discute processos sociais como isolamento social, tipos de processos sociais (associativos e dissociativos) e tipos de contato social. Explica como o isolamento pode ser espacial, estrutural, funcional ou psíquico e exemplos de cada. Também descreve processos associativos como cooperação e acomodação e dissociativos como competição e conflito.
[1] O texto discute o capítulo "O papel da sociedade civil e da esfera pública política" do livro "Direito e Democracia" de Jürgen Habermas. [2] Habermas analisa o papel da sociedade civil e da esfera pública na consolidação da democracia e circulação do poder político. [3] Ele defende que a democracia requer a demanda vir da periferia para o centro, com a sociedade civil tematizando problemas e introduzindo-os no sistema político.
O documento discute a natureza e função do estado, definindo-o como uma instituição política organizada social e juridicamente com soberania sobre um território e população. Explora os conceitos de poder, autoridade e coerção do estado para manter a ordem social através das leis e força policial, se necessário. Também apresenta as teorias de Hobbes sobre o "Leviatã" e os tipos de autoridade de acordo com Weber.
O documento discute o processo de socialização e como indivíduos assimilam as normas e cultura de seus grupos sociais através de agentes como família, escola e mídia. Também aborda a análise das classes sociais e como teóricos como Marx, Durkheim e Weber examinaram a relação entre indivíduo e sociedade.
O documento discute a educação politécnica segundo a perspectiva de Marx. A educação politécnica visa unir formação intelectual e trabalho produtivo, contrariando a educação burguesa que separa esses elementos. Ela permitiria o desenvolvimento pleno das capacidades humanas numa sociedade pós-capitalista livre da dominação de classe. Há debates sobre os termos mais adequados usados por Marx, mas o conceito central é de uma educação que supere a divisão entre trabalho manual e intelectual.
Código ética profissional do Serviço Social 1965FILIPE NERI
O documento descreve a estruturação de um seminário sobre o Código de Ética Profissional do Serviço Social de 1965 no Brasil. Apresenta os componentes do seminário, o contexto histórico de desenvolvimento do código e uma análise das possibilidades de superação e permanências em relação ao código anterior de 1947. Destaca alguns artigos do código de 1965 relacionados aos direitos da família, participação social e imparcialidade profissional.
O documento discute conceitos-chave da ciência política como sociedade, estado e comunidade. Apresenta definições organicistas e mecanicistas de sociedade e explica a distinção entre sociedade e estado. Também resume diferentes abordagens filosóficas, jurídicas e sociológicas para o conceito de estado.
1) O documento discute a noção de "necropolítica" proposta pelo filósofo Achille Mbembe como uma atualização da crítica social de Foucault para fenômenos da periferia do capitalismo.
2) Argumenta-se que a necropolítica descreve uma política centrada na produção em larga escala da morte, característica de um mundo em crise sistêmica.
3) Também se apresenta a crítica de Domenico Losurdo ao suposto déficit periférico na obra de Foucault e como M
Os slides apresentam 4 capítulos da obra: Escritos de Educação de Pierre Bourdieu, onde o autor faz uma reflexão sobre a metodologia científica e a ciência.
O documento discute diferentes abordagens sociológicas e o conceito de política. A sociologia pode ser objetivista ou subjetivista. A sociologia objetivista foca nas estruturas sociais e como elas influenciam os indivíduos, enquanto a subjetivista foca na perspectiva dos indivíduos. O documento também define política como disputa por recursos escassos entre grupos com interesses conflitantes e discute os processos decisórios políticos e comportamentos políticos nas organizações.
Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeterJuscislayne Bianca
resenha que fala sobre capitalismo e democracia na america latina na concepção de um consagrado autor. Este arquivo é uma forma de divulgar esse importante trabalho cientifico.
O documento discute o capítulo "O papel da sociedade civil e da esfera pública política" do livro "Direito e Democracia" de Jürgen Habermas. Habermas defende que a sociedade civil e a esfera pública desempenham um papel importante na democracia ao introduzirem novos assuntos e problemas sociais no sistema político e ao possibilitarem a formação democrática da opinião e da vontade.
O documento discute as visões de Marx e Engels sobre educação. Eles viam a educação como dependente da sociedade e das classes dominantes, e defendiam uma educação pública, gratuita e ligada ao trabalho produtivo. Suas ideias influenciaram a Comuna de Paris e revolucionaram a pedagogia ao colocar o trabalho no centro do processo educativo.
O documento descreve os princípios e objetivos da educação nacional brasileira segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ele estabelece o direito à educação, os deveres do Estado e dos pais em relação à educação básica obrigatória e gratuita, e as responsabilidades dos diferentes níveis de governo na organização do sistema educacional.
Material 1 - Introdução às Ciências Sociais.pptxWillianVieira54
O documento discute a Sociologia como a ciência que estuda a sociedade e as interações sociais. A Sociologia analisa como os comportamentos humanos se tornam padronizados e formam grupos que interagem. O olhar sociológico requer afastamento do senso comum através da desnaturalização e estranhamento para analisar os fenômenos sociais de forma objetiva.
O documento discute os conceitos de alienação e ideologia e seus riscos para a educação. Apresenta como a cultura pode ser contaminada por modos perversos que desviam do processo de humanização, como a alienação e a ideologia. Argumenta que a educação não deve ser apolítica e deve promover a construção da personalidade social do educando.
O documento discute o surgimento e características da democracia. A democracia surgiu na Grécia antiga como um governo exercido diretamente pelo povo, evoluindo para a democracia representativa moderna onde os cidadãos elegem representantes. No Brasil, a democracia teve início no governo Getúlio Vargas. Atualmente há questionamentos sobre o desempenho das instituições democráticas e desconfiança dos cidadãos, apesar do apoio legal à democracia.
1) O documento discute a evolução do conceito de ciência política, desde Aristóteles até autores modernos como Kant e Comte. 2) Ele também contrasta as abordagens naturalista versus idealista para entender o mundo natural e social. 3) Por fim, aborda diferentes perspectivas (filosófica, sociológica e jurídica) para analisar a realidade política de uma nação.
O documento discute o conceito de gênero, definindo-o como uma construção social que varia ao longo do tempo e entre culturas, diferente do sexo biológico. Aborda como o gênero influencia as relações de poder entre mulheres e homens e origina desigualdades. Também apresenta os princípios do feminismo emancipacionista de que a opressão de gênero está ligada à divisão sexual e social do trabalho.
O documento apresenta os principais conceitos da sociologia como ciência, tais como: seu objeto de estudo são os problemas sociais e sua abordagem é científica e objetiva para explicar racionalmente os fenômenos sociais; discute os principais pensadores da sociologia clássica como Comte, Spencer e Durkheim, destacando a visão de Comte de que a sociologia é a "física social" e sua lei dos três estados; e aborda as transformações sociais do século XVIII, como a Revolução Industrial e Revolução Francesa, que
Este documento discute os conceitos de política e cidadania ao longo da história moderna. Apresenta definições iniciais de política e poder, e descreve a evolução da política desde a Idade Média, passando pelas revoluções burguesas e socialistas, até chegar ao neoliberalismo moderno. Também aborda os conceitos de cidadania, participação política e indiferença política.
O documento discute as classes sociais na sociedade capitalista. Define classe social como grupos estratificados com base na propriedade, renda, consumo, educação e poder. Explora como as desigualdades são estruturadas na sociedade capitalista e como a mobilidade entre classes é maior do que em outras sociedades, mas ainda existem barreiras.
Processos Sociais (Sociologia Geral e do Direito)Helíssia Coimbra
O documento discute processos sociais como isolamento social, tipos de processos sociais (associativos e dissociativos) e tipos de contato social. Explica como o isolamento pode ser espacial, estrutural, funcional ou psíquico e exemplos de cada. Também descreve processos associativos como cooperação e acomodação e dissociativos como competição e conflito.
[1] O texto discute o capítulo "O papel da sociedade civil e da esfera pública política" do livro "Direito e Democracia" de Jürgen Habermas. [2] Habermas analisa o papel da sociedade civil e da esfera pública na consolidação da democracia e circulação do poder político. [3] Ele defende que a democracia requer a demanda vir da periferia para o centro, com a sociedade civil tematizando problemas e introduzindo-os no sistema político.
O documento discute a natureza e função do estado, definindo-o como uma instituição política organizada social e juridicamente com soberania sobre um território e população. Explora os conceitos de poder, autoridade e coerção do estado para manter a ordem social através das leis e força policial, se necessário. Também apresenta as teorias de Hobbes sobre o "Leviatã" e os tipos de autoridade de acordo com Weber.
O documento discute o processo de socialização e como indivíduos assimilam as normas e cultura de seus grupos sociais através de agentes como família, escola e mídia. Também aborda a análise das classes sociais e como teóricos como Marx, Durkheim e Weber examinaram a relação entre indivíduo e sociedade.
O documento discute a educação politécnica segundo a perspectiva de Marx. A educação politécnica visa unir formação intelectual e trabalho produtivo, contrariando a educação burguesa que separa esses elementos. Ela permitiria o desenvolvimento pleno das capacidades humanas numa sociedade pós-capitalista livre da dominação de classe. Há debates sobre os termos mais adequados usados por Marx, mas o conceito central é de uma educação que supere a divisão entre trabalho manual e intelectual.
Código ética profissional do Serviço Social 1965FILIPE NERI
O documento descreve a estruturação de um seminário sobre o Código de Ética Profissional do Serviço Social de 1965 no Brasil. Apresenta os componentes do seminário, o contexto histórico de desenvolvimento do código e uma análise das possibilidades de superação e permanências em relação ao código anterior de 1947. Destaca alguns artigos do código de 1965 relacionados aos direitos da família, participação social e imparcialidade profissional.
O documento discute conceitos-chave da ciência política como sociedade, estado e comunidade. Apresenta definições organicistas e mecanicistas de sociedade e explica a distinção entre sociedade e estado. Também resume diferentes abordagens filosóficas, jurídicas e sociológicas para o conceito de estado.
1) O documento discute a noção de "necropolítica" proposta pelo filósofo Achille Mbembe como uma atualização da crítica social de Foucault para fenômenos da periferia do capitalismo.
2) Argumenta-se que a necropolítica descreve uma política centrada na produção em larga escala da morte, característica de um mundo em crise sistêmica.
3) Também se apresenta a crítica de Domenico Losurdo ao suposto déficit periférico na obra de Foucault e como M
Os slides apresentam 4 capítulos da obra: Escritos de Educação de Pierre Bourdieu, onde o autor faz uma reflexão sobre a metodologia científica e a ciência.
O documento discute diferentes abordagens sociológicas e o conceito de política. A sociologia pode ser objetivista ou subjetivista. A sociologia objetivista foca nas estruturas sociais e como elas influenciam os indivíduos, enquanto a subjetivista foca na perspectiva dos indivíduos. O documento também define política como disputa por recursos escassos entre grupos com interesses conflitantes e discute os processos decisórios políticos e comportamentos políticos nas organizações.
Resenha sobre capitalismo_socialismo_e_democracia_de_schumpeterJuscislayne Bianca
resenha que fala sobre capitalismo e democracia na america latina na concepção de um consagrado autor. Este arquivo é uma forma de divulgar esse importante trabalho cientifico.
O documento discute o capítulo "O papel da sociedade civil e da esfera pública política" do livro "Direito e Democracia" de Jürgen Habermas. Habermas defende que a sociedade civil e a esfera pública desempenham um papel importante na democracia ao introduzirem novos assuntos e problemas sociais no sistema político e ao possibilitarem a formação democrática da opinião e da vontade.
Grupo de estudos anarquistas josé oiticicamoratonoise
Este documento resume os principais conceitos do anarquismo de acordo com a dissertação de mestrado "Rediscutindo o Anarquismo" de Felipe Corrêa. Ele define anarquismo como uma ideologia socialista e revolucionária que defende a autogestão contra a dominação através da estratégia da revolução e da construção da autogestão em microesferas sociais. Também discute conceitos centrais como ideologia, teoria, estratégia, força social, poder e classes sociais.
Constituicao e concretizacao da democraciaThiago Almeida
O documento discute a democracia formal versus a democracia substancial no contexto dos direitos das coletividades e deveres minoritários no Brasil contemporâneo. A democracia formal é vista como promovendo apenas a legitimidade do modelo hegemônico capitalista, enquanto a democracia substancial busca igualdade social, econômica e participação cidadã nas decisões políticas. O documento argumenta que a democracia formal permite a manipulação do processo democrático em favor de interesses ilegítimos e a exclusão de minorias.
Considerações sobre a teoria poliarquicaJoão Cardoso
O texto analisa a teoria poliárquica de Robert Dahl, discutindo suas premissas, críticas e limitações. A poliárquica defende a participação política pluralista e descentralização do poder, porém estudiosos apontam problemas como a tendência à oligarquização de grupos e distorção causada por grupos com mais recursos. O texto conclui que a fragmentação dos grupos e descentralização do poder político dificultam a representação equilibrada de todos os interesses.
02 magda e viritiana-os paradigmas da análise politicaSérgio Braga
O documento discute três paradigmas da análise política - elitismo, pluralismo e marxismo - e como eles explicam a relação entre democracia e economia. O elitismo argumenta que o poder é concentrado nas elites. O pluralismo defende que o poder emana da capacidade de convencimento de grupos. O marxismo vê o poder como determinado pelas relações econômicas de classe.
1. O documento analisa o livro "O futuro da democracia - uma defesa das regras do jogo" de Norberto Bobbio, que discute os desafios atuais da democracia e a necessidade de seguir certas regras para seu funcionamento.
2. A democracia moderna enfrenta problemas como a dificuldade de participação popular apenas nas eleições, o surgimento de grupos de pressão e o poder invisível de elites sobre decisões políticas.
3. Embora necessária, a democracia representativa não atende perfeitamente
O resumo do Capítulo mostra pesquisas que representam as várias direções em que a Ciência Política vem se desenvolvendo. Nele são examinados alguns trabalhos de filosofia política que têm influenciado os debates contemporâneos e como a aproximação entre Ciência Política e Economia tem contribuído para a compreensão das diferenças de desenvolvimento entre os países.
Este documento discute como os partidos políticos privatizam a política pública ao monopolizarem o processo político. Argumenta que as teorias liberais da democracia não se aplicam mais em mundos altamente conectados e que uma "democracia forte" mais participativa é necessária, onde cidadãos façam política em suas comunidades.
O documento discute conceitos de sociedade, política e Estado. A política é dividida em três modalidades: institucional, de base e individual. O Estado segundo Aristóteles é uma extensão da família com funções de defesa, segurança e conservação da virtude.
Excertos do capítulo 7 do livro de Augusto de Franco, Fluzz: vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio. São Paulo: Escola de Redes, 2011.
O documento discute a democracia direta na Grécia antiga e sua comparação com a democracia moderna. Ele afirma que na Grécia antiga, o poder político era exercido publicamente na praça da cidade, em contraste com o poder oculto dos palácios. Além disso, discute que na democracia grega, as decisões políticas frequentemente giram em torno de festas e assuntos religiosos, ao contrário da seriedade que é frequentemente atribuída à democracia grega. Por fim
O documento discute como as instituições tradicionais como escolas, igrejas e partidos políticos tentam proteger as pessoas da experiência direta da política e da aprendizagem. Argumenta que esses sistemas hierárquicos privatizam a política pública e impedem as pessoas de fazer suas próprias experiências. Defende uma nova forma de democracia mais distribuída e baseada na comunidade.
O documento discute as formas de poder nas organizações, incluindo autoridade formal, poder coercitivo, poder de recompensa e poder de competência. Também aborda os três fatores que definem a potência do poder: necessidade/urgência, escassez e insubstituibilidade. Por fim, resume brevemente a visão de Aristóteles sobre política e cidade-estado.
O documento discute os conceitos de política, estado, democracia e totalitarismo. Define política como a arte de governar e gerir o destino da cidade-estado. Discute visões de Estado segundo Marx, Durkheim e Weber. Explana sobre democracia direta e representativa e características do totalitarismo.
O documento discute a humildade da inteligência humana diante das grandes questões sem resposta e a aceitação desta humilhação sem buscar refúgio na fé. O autor defende que continua sendo um homem com razão limitada, reconhecendo os limites do que sabe.
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaRafael Pinto
O documento discute os debates sobre a construção democrática na América Latina e apresenta ferramentas analíticas para estudar o processo de democratização. Apresenta insatisfações com teorias dominantes, como tratar a sociedade civil como ator unificado, e propõe analisar a heterogeneidade da sociedade civil e do Estado, os projetos políticos em disputa, e as trajetórias entre sociedade civil e política.
O documento discute como os partidos políticos e os estados-nação modernos privatizam a política e como isso pode mudar nos mundos altamente conectados do século 21. Primeiramente, explica como os partidos políticos existem para proteger as pessoas da experiência direta da política pública, agindo como organizações privadas que controlam o acesso ao poder político. Em segundo lugar, analisa como os estados-nação foram originalmente entidades privadas e como ainda mantêm traços autocráticos, apesar da democratização parcial. Por fim, sug
O documento discute as políticas públicas da educação em Moçambique. Aborda conceitos de política e ideologia, as formas de poder, a globalização das políticas educativas, e o papel da educação no contexto moçambicano. Destaca que a Constituição de Moçambique consagra a educação como um direito fundamental e que a política nacional busca massificar o acesso à educação e melhorar sua qualidade.
O documento propõe duas atividades para analisar livros didáticos de história do ensino fundamental. A primeira atividade pede para usar imagens e responder proposições. A segunda atividade solicita identificar seis aspectos em um livro didático de história selecionado, incluindo dados gerais, editoriais, visuais, iconografia, avaliação do texto e tipologia de atividades.
O documento discute a organização do sistema educacional brasileiro, destacando que: (1) embora a legislação preveja colaboração entre as esferas, na prática há competição; (2) isso ocorre devido a fatores como estrutura de classes e conflitos entre grupos; (3) portanto, conclui-se que o Brasil não possui um sistema nacional de educação integrado.
O documento discute as características e funções dos livros didáticos, destacando que eles refletem valores dominantes e são influenciados por editores, autores e demandas do mercado, apesar de serem importantes ferramentas pedagógicas. As ilustrações desempenham um papel significativo em facilitar a compreensão dos alunos, embora estejam sujeitas a limitações técnicas e econômicas.
A atividade discute medidas para evitar a poluição de uma área e reflexões sobre o que falta para completar a criação ou solução de problemas relacionados à poluição.
As sete maravilhas do mundo antigo incluíam as Pirâmides de Gizé construídas para sepultar faraós, a Estátua de Zeus em Olímpia feita de ouro e marfim, e os Jardins Suspensos da Babilônia construídos para agradar a esposa do rei.
1. Análise do Discurso Político Subjacente e a Terceira
Dimensão do Poder.
A Fala e a Escrita dos Grupos de Interesses.
(Lingüística e Política)
Gentil Tadeu Gomes1 & Herbert Schützer2
2007
1
Bacharel em Letra e especialista em Lingüística.
gentiltadeugomes@ig.com.br
2
Especialista em Política e Relações Internacionais e Mestre em Geografia.
hschutzer@globomail.com
2. Resumo
As classes detentoras do poder exerceram sua dominação de variadas formas, que vão
desde a utilização da força bruta material explícita até sofisticadas e sutis modalidades
de coação.
Modernamente, apropriando-se dos avanços tecnológicos e das descobertas nos campos
da Psicologia e da Lingüística, a atividade de produção e manutenção das condições
ideais para dominação das massas, por parte das elites mandatárias, tem se tornado cada
vez mais fácil.
A idéia de Liberdade, que a priori seria inegavelmente positiva, passa a ser de cunho,
no mínimo, duvidoso. Aliado a isso, inclua-se o papel do Governo perante o eleitor.
O presente trabalho não tem por objetivo propor soluções ao problema. O que se deseja
é mostrar uma das formas atuais de manipulação do pensamento coletivo, realizada
através de um veículo midiático do âmbito da imprensa escrita. A intenção é demonstrar
como se dá essa forma de ação subliminar que diariamente invade o país.
Palavras-chaves: Elites, Massas, Poder, Manipulação.
Abstract
Throughout the times, the class who had the power exerted their domination of varied
forms, since the utilization of brute strength material explicit , sophisticate and subtle
modalities of coax.
Modernly, assuming itself of discovered of the constants technological advances and
uncountable in the psychology and linguistics fields, on the part of the controller elites,
it had become easier.
The idea of freedom, that priori would be undeniably positive, starts to be matrix, in the
minimum, doubtful. It is enough that it question and maximum meaning of freedom and
which the border between freedom and prison. Ally to this, includes itself for analyses
proposal the government attitude before the voter.
The present work has not for objective to consider solutions to the problem. The desire
is to show one of the current forms of manipulation of the collective thought, carries
through a propagate by media on the scope of the written press. The intention is to
demonstrate how happen this form of action that daily invades the country, under the
false image of NEWS ARTICLE
Keywords: Power, Domination, Masses, Elite, Manipulation.
3. 1. Introdução.
Uma teoria moderna da Democracia não deve prescindir dos
conceitos rigorosamente elaborados pelos cientistas políticos que se
debruçaram sobre o tema. Seus postulados fundamentam e dão sustentação
teórico-material àqueles que buscam respostas e caminhos às questões de
nosso tempo. Ou mesmo àqueles que desejam aprofundar-se em algum
assunto que perpasse, em maior ou menor escala, por ela, a Democracia.
Mas, afinal, o que é a Democracia? Qualquer manual de direito
constitucional nos ensina que a Democracia é “...a afirmação de certos valores
fundamentais da pessoa humana, bem como a exigência de organização e
funcionamento do Estado tendo em vista a proteção daqueles valores.” (Dallari,
1985, 127), ou de política, que a “...democracia se foi entendendo um método
ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de Governo e
para a formação das decisões políticas” (Bobbio, Matteucci e Pasquino, 1983,
326). Entretanto, aceitar definições como essa, pura e simplesmente,
corresponderia a não levar em conta a infinita graduação de Estados com suas
diferentes práticas democráticas existentes no mundo atual.
Por isso, é preciso questionar e praticar a Democracia, para
não permitir que ela seja tão corrompida pelos poderes econômico e financeiro.
Principalmente dos grupos de pressão, que se formam satelizando os
governos, os quais não são nem eleitos pelo voto popular nem controlados
pelos cidadãos.
Então, como podemos definir suas ações?
“...se a atividade dos Grupos de pressão é possível
apenas nos sistemas democráticos e, em segundo lugar,
procurando avaliar o seu papel dentro dos sistemas
democráticos para saber se eles representam uma
degeneração destes sistemas ou se não desenvolvem
funções úteis à manutenção e adaptação destes
sistemas, em que condições e com que riscos.” (Bobbio,
Matteucci e Pasquino, 1983, 569)
4. Os Grupos de Interesses, como se vê, constituem-se em
organizações próprias das democracias. (Bobbio, Matteucci e Pasquino, 1983,
570) E não se pretende aqui fazer qualquer juízo de valor desses Grupos mas,
ao contrário, analisar uma de suas formas de atuação.
Para os estudiosos, o fato de que a Democracia possa ser
definida com muita precisão não significa que ela realmente funcione da
mesma forma em todos os lugares. Uma breve incursão na história das idéias
políticas leva a duas observações, muitas vezes relegadas sob o pretexto de
que o mundo muda, é dinâmico:
I) A experiência confirma que uma democracia política que não
se baseie numa democracia econômica e cultural de pouco adiantará.
Desprezada e relegada a ser o depositário de fórmulas obsoletas, a idéia de
uma democracia econômica deu lugar a um mercado triunfante que beira a
obscenidade;
II) Os estrategistas políticos, de toda e qualquer filiação
partidária, impuseram um silêncio prudente para que ninguém ousasse insinuar
que continuamos cultivando a mentira e aceitamos ser seus cúmplices de um
sistema que distancia do modelo ideal.
O chamado sistema democrático parece, cada vez mais, um
governo dos ricos e, cada vez menos, um governo do povo, como percebemos
na matéria da revista VEJA. Impossível negar o óbvio: a massa de pobres
convocada a votar jamais é chamada a governar.
Os povos não elegeram seus governos para que estes os
“ofereçam” ao mercado. Idéia desenvolvida por Bobbitt (2001) quando defendia
a evolução3 do Estado-Nação para o Estado-Mercado, em que o mercado
passa a ser o receptáculo de suas ações e o povo deve moldar-se a ele -
mercado. Assim o mercado condiciona os governos para que estes lhe
“ofereçam” seus povos.
As dificuldades de determinada sistematização teórica4 são
muitas, porém, tal fato não se deve apresentar como inibidor de investigação
sobre a ação dos grupos de interesses. Vale ressaltar, ainda, que esse estudo
3
Dinâmica pela qual o Estado vem passando desde sua criação no século XV, na qual Bobbitt
acrescentou uma nova etapa.
4
Existem várias definições sobre a Democracia, o que dá margem a inúmeras interpretações. Além disso,
as particularidades de cada sociedade dão ensejo a diferentes práticas do sistema democrático.
5. investigativo não elimina nem despreza a capacidade de organização e eficácia
desses grupos para a produção de políticas públicas que atendam seus
objetivos. Quando se busca, ademais, uma análise nos padrões da escolha
racional coletiva, os problemas, sobretudo práticos, se avolumam. Anthony
Downs, Olson, Dahl, Lukes e tantos outros os enfrentaram e estabeleceram
diretrizes que possibilitam uma análise racional dos elementos constitutivos da
escolha de grupos, sob a ótica do governo democrático.
Mais ainda quando se busca um encadeamento lógico que
justifique um controle dessa mesma ação governamental, pois as dificuldades
se multiplicam, é aí que o pesquisador tem o dever de encontrar nas
instituições os pressupostos das práticas de uma nova postura diante de novas
realidades.
Nessa perspectiva, procurou-se, neste trabalho, descrever a
ação não-aparente dos grupos de interesses, que no Brasil alcançaram um
desenvolvimento tal a ponto de não serem percebidos, pois são articulados por
outros grupos que não permite que eles se exponham diretamente ao público.
Assim, objetivou-se demonstrar como essa ação é praticada, através de um
pequeno relato das teorias de ação de grupos de interesses, para
contextualizar o tema e a análise de um artigo de revista de circulação
nacional.
2. Onde estão as origens dos grupos de interesses no Brasil?
As origens da estrutura política brasileira estão, segundo Faoro
(1975), sedimentadas na História da formação de Portugal, Estado constituído
com base em uma estrutura patrimonial, que não desenvolveu o sistema feudal
como as outras unidades políticas da Europa, portanto sem a constituição de
uma nobreza autônoma. Esse fato deu origem a um patriomonialismo
estamental, por referência às características da nobreza feudal, que passa a
constituir o quadro administrativo do Estado. Por meio desse quadro de
controle burocrático, a nobreza busca honra social, para alcançar e conservar a
independência em relação ao soberano. Nesse tipo de sistema, o soberano
6. domina o território do país através desse corpo administrativo. É o tipo de
Estado que vai vigorar no Brasil-colônia e que, posteriormente, será
transformado no modelo pelo qual o país independente se constituirá.
Transplantado da metrópole, o modelo administrativo que aqui se instala tem
como característica a fusão do público ao privado, em benefício do estamento
que administra o Estado.
O modelo capitalista português, que foi transferido para o
Brasil, apresenta um padrão que é conduzido e determinado pela política, de
modo a não estimular o desenvolvimento econômico segundo os princípios
liberais que nortearam outras nações européias. Esse fator foi responsável pelo
atraso e dependência econômica que vão se verificar em Portugal, deixando o
Brasil como área de exploração mercantil, responsável pelo lucro que o Estado
lusitano retira para se manter. E se manter significa, em última análise, saldar
dívidas portuguesas através da transferência das riquezas brasileiras para as
nações que adotaram o liberalismo econômico, as quais eram credoras de
Portugal. Assim, no Brasil, o Estado português implementará a colonização,
cooptando comerciantes e agentes do capital, que irão constituir o estamento
burocrático que, por sua vez, envolverá o setor privado, submetendo-o a seu
rogo e esgotando-o em benefício de poucos.
A centralização do poder é o principal aspecto que a máquina
administrativa portuguesa vai instaurar no Brasil, na fase dos grandes
engenhos de cana-de-açúcar (Nordeste) e na fase da exploração das minas de
ouro e pedras preciosas (Minas Gerais, principalmente). Sob o pretexto do
estabelecimento de um controle para atender os interesses da coroa, o
estamento burocrático se fortalece na colônia. Na realidade, atendendo os
próprios interesses, através de um governo forte, com grande número de
funcionários para lhe dar supremacia sobre os senhores rurais. O aparato
administrativo que age em nome do rei (a favor dele [rei] e em interesse
próprio) exclui o povo de qualquer tipo de participação, servindo este apenas e
tão-somente para uso econômico e político.
A vinda da família real para a colônia transfere toda a máquina
burocrática que vai dar inicio à consolidação da estrutura estamental-
burocrática a ser implantada pelo Estado brasileiro independente. A
organização da nação vai ocorrer sob a lógica do liberalismo, o que parece,
7. pretensamente, ser o elemento modernizador do país. No entanto, o liberalismo
adquire um caráter contraditório, pois se assenta na base de uma economia
escravista. Acresce-se que a instituição do poder moderador e as formas de
organização do Estado brasileiro serão as mesmas que se desenvolveram no
período colonial, com um estamento burocrático muito forte. Principalmente no
segundo reinado, que alijou a possibilidade de participação do povo. Limitado
com base na renda, ele permanece sob o controle do aparelho administrativo,
que dá as diretrizes do país imperial. Como se vê, desde os primórdios da
formação do Estado brasileiro se limitou a organização de grupos de interesses
nas esferas inferiores da sociedade.
Com a instauração da República, o modelo vai se reproduzir
sob novas formas. Primeiro, pelo poder dos militares. Depois, no período civil,
pela implantação da Política dos Governadores, momento máximo da ação do
estamento burocrático na privatização do lucro e socialização dos custos. As
características do Estado brasileiro, daí em diante, não irão se alterar. Mudará
apenas o regime do qual o estamento burocrático irá se servir, mesclando–se
momentos de maior distanciamento em relação ao povo a momentos em que
ele aparece mais próximo (como, por exemplo, o Estado Novo).
Em suma, O Estado brasileiro consolidou o patrimonialismo,
transferido pelo colonizador português, o qual, aplicando suas características
gestoras, construiu uma lacuna entre os interesses do Estado e os da nação,
atendendo, por fim, ao grupo que se apropriou do aparelho administrativo do
Estado. Geralmente esse grupo não fazia distinção entre o público e o privado,
submetendo a seu jugo, inclusive, importantes setores da economia. Com isso,
tais setores acabaram sendo incorporados ao modelo capitalista vigente,
perdendo suas características naturais, o que inviabilizou qualquer
possibilidade de crescimento em termos sócio-econômicos. Quanto à nação,
reproduz-se fora da esfera do Estado, como mostram os modelos históricos,
graças aos mecanismos de defesa produzidos pelo estamento burocrático,
para impedir o acesso dos interesses públicos na esfera da ação do Estado.
Neste caso, a formação política brasileira caminha na direção da teoria de
Andrew Mc Farland (1992), que defendeu a idéia da “muitas elites”, uma vez
que o Brasil, após o processo de industrialização, parece tê-la desenvolvido.
8. 3. A Lógica da Ação Coletiva
Os grupos de interesse estão presentes nas democracias e
servem para que os interesses de partes da sociedade possam conseguir os
benefícios das políticas públicas. Geralmente, os grupos de interesses podem
ser conceituados pela lógica da ação coletiva.
A teoria da ação coletiva parte de uma constatação: diversas
vezes a interação de agentes com interesses comuns não gera resultados
coletivamente eficientes. Em outras palavras, sob certas condições, indivíduos
racionais são incapazes de, espontaneamente, alcançar resultados que
estejam de acordo com seus interesses. A análise de Olson (1999) busca
identificar quais são as circunstâncias em que a afirmativa anterior se verifica,
ou seja, quando a racionalidade individual não é suficiente para a racionalidade
coletiva.
Olson (1999) mostra que o fato dos benefícios conjuntos de
uma ação superarem os custos para um grupo não implica em sua efetivação.
A ação coletiva, geralmente, está voltada para a produção de bens públicos
para seus membros, pois bens privados podem ser produzidos através do
mercado. Ora, em tal caso, como não se podem excluir os não-contribuintes, o
grupo fracassa na produção de potenciais bens coletivos, visto que a decisão
racional de cada agente será a defecção. Exemplificando: os trabalhadores
recebem aumento salarial quer tenham contribuído ou não para uma greve
bem-sucedida, ou cada empresário de um determinado setor se beneficia da
imposição de uma tarifa de importação mesmo que não tenha contribuído para
o lobby5.
De acordo com a análise de Olson (1999), o número de
participantes de um grupo é uma variável-chave para as questões da ação
coletiva. Utilizando um modelo formal, ele demonstrou que quanto menor o
grupo, maiores são as chances de um de seus membros arcar com todos os
custos do bem coletivo (Olson.1999). Já em grupos maiores, essa possibilidade
5
Grupo de pressão; grupo dos que freqüentam as antecâmaras dos parlamentos com o objetivo de
influenciar os deputados no sentido de votarem de acordo com os seus interesses.
9. é mais restrita e a ação coletiva tem de ser obtida através de incentivos
seletivos (selective incentives), i.e., benefícios que se aplicam apenas aos
agentes que contribuíram para a provisão de um bem público (Olson, 1999).
Conhecidos casos de incentivos seletivos são os descontos em planos de
saúde para os membros de sindicatos e o fornecimento de informações
qualificadas para os componentes de um grupo de interesse patronal. Existem
ainda outros incentivos mais informais, mas não por isso menos eficazes, que
vão desde o ostracismo até a violência física contra, por exemplo, os que
"furam" uma greve ou rompem um cartel.
Mesmo levando-se em conta a possibilidade de recurso aos
incentivos seletivos, é fácil notar que grupos com poucos membros, cujos
benefícios prováveis estão concentrados, têm mais incentivos e facilidades de
organização e ação do que os grandes grupos pulverizados. Os resultados são
pequenos grupos ativos e uma maioria desorganizada inerte, apesar de seus
interesses comuns. Segundo Olson (1999), "pequenos grupos em uma
sociedade, geralmente, terão maior poder de lobby e de cartel per capita (ou
mesmo por dólar da renda agregada) do que grupos maiores" (Olson.1999).
Olson (1999) também argumentou que os pequenos grupos
tendem a incorrer em ações redistributivas em seu favor, em detrimento de
práticas que aumentariam a eficiência em geral. Um grupo pequeno é atingido
apenas por uma ínfima parte dos danos que porventura atinjam toda a
sociedade, uma vez que, por definição, sua participação nesta é deveras
restrita. Logo, mesmo que as ações redistributivas dos grupos com poucos
membros piorem a situação geral, seus participantes serão mais do que
compensados pelos "desvios" dos ganhos em seu favor. Sindicatos de
trabalhadores e patronais, associações profissionais, lobbies e cartéis, ou
qualquer outro grupo que vise à provisão de bens coletivos para seus
membros, foram incluídos sob a designação "coalizões distributivas"
(distributional coalitions).
4. As práticas brasileiras
Para este trabalho procurou-se adotar os princípios pluralistas
defendidos por Dahl (1961), que parte da idéia de que as democracias
10. permitem, na sua dinâmica, um sistema de desigualdades não-cumulativas. E
que os recursos políticos num sistema pluralista apresentam-se vários, sendo
eles distribuídos desigualmente e por isso os atores possuem um maior
número de oportunidades para influenciar o poder público, portanto há uma
participação maior da sociedade, cada parte em um determinado segmento.
Uma extensa guerra de interesses se trava no Brasil entre o
público e o privado. Isso não quer dizer que exista um conflito sistêmico (pelo
menos não se percebe isso), o que se desenrola é um conflito temático (La
Palombara, 1982, 291). Essa guerra tem no Estado um espaço preferencial,
embora ela cruze todos os cantos da nossa sociedade. É neste sentido, que
empreendemos nosso esforço elucidativo.
Os interesses privados lutam pela mais extensa e profunda
mercantilização da sociedade, isto é, pela transformação radical de tudo em
mercadoria. Em outras palavras, a sociedade deve ser um lugar onde tudo se
vende e tudo se compra. O setor privado luta para que o Estado: a) financie
seus interesses e não coloque nenhum entrave à circulação do capital; b)
perdoe seus impostos e degrade ainda mais os salários; c) gaste cada vez
menos com a atenção à massa da população. Em suma, que o Estado seja
máximo para o capital e mínimo para os que vivem do trabalho.
E a iniciativa privada tem conseguido grandes avanços nos
últimos tempos. O Estado está profundamente penetrado por seus interesses,
em especial pelos do capital especulativo, num verdadeiro processo de
financeirização do Estado. O conjunto das atividades estatais está definido
pelos compromissos financeiros assumidos pelas autoridades econômicas -
elas mesmas originárias de grandes empresas privadas, na maioria das vezes
organizadas em grupos representativos de caráter neocorporativista6 (Werneck
Vianna, 1994). O Banco Central, os Ministérios Econômicos, o próprio
Ministério do Trabalho, da Indústria e Comércio, da Agricultura e Reforma
Agrária, por exemplo, representam os interesses do grande capital privado,
6
As associações de interesse não são necessariamente entidades autônomas que pressionam de fora do
Estado, sendo também partidos políticos, podendo, pelo menos em parte, ter caráter heterônimo face as
autoridades governamentais e agir como canais como canis seletivos na formação (e na implementação)
da política pública.
11. prioritariamente os do capital especulativo, sobre cuja atração repousa a
modalidade de estabilização monetária do governo atual.
Se o Brasil é a sociedade mais injusta do mundo (segundo os
dados das Nações Unidas), é em grande parte devido a que o Capitalismo
Central influencia o Estado e a elite, fazendo com que cada vez menos sejam
universalizados os direitos da população. Ao mesmo tempo, o próprio Estado
subsidia o processo de acumulação privada de capital, favorecendo
principalmente grupos de interesses organizados, que possuem eficientes
canais de comunicação junto aos policy makers. Entre várias práticas utilizadas
para tal, uma delas é a difusão midiática da ideologia dominante, que no
presente trabalho será analisada num recorte – a mídia impressa. Não
bastasse isso, o mercado, para concentrar renda, produz exclusão social e
destrói empregos formais com seus respectivos direitos. E, fechando o
processo sócio-econômico, numa postura inegavelmente pró-iniciativa privada,
o Estado maximiza, até limites inéditos, a super-exploração econômica, a
destruição de direitos e a exclusão social.
O liberalismo busca legitimar esse processo mediante a
restrição do debate em torno do eixo estatal/privado. Desqualificando o Estado,
enfraquece a capacidade deste para regular as relações econômicas e sociais,
garantir direitos e servir de instrumento contra o processo de maximização dos
lucros das grandes empresas privadas. E não é difícil desqualificar um Estado
que arrecada apenas metade do que deveria (dos assalariados,
principalmente) e gasta mal, prestando serviços ruins à população que dele
necessita, sendo forte com os fracos e fraco com os fortes, pagando mal a
seus funcionários, gastando mais com o pagamento dos juros das dívidas do
que com educação e saúde.
Em suma, um Estado onde os grandes interesses privados se
manifestam, e que reproduz através das políticas públicas que atendem as
particularidades, independentemente do sistema de governo e do próprio
governante, através de um sistema pluralista (não no sentido apresentado por
Dahl, mas no apresentado por Lukes), que defende a idéia de uma
desigualdade de oportunidades em que o ator mais importante tem maior
proporção de sucessos.
12. 5. A ação do 3º. Poder no Brasil
Apesar de Lukes (1992), que será melhor abordado no próximo
item, achar difícil empreender uma análise das ações dos grupos que
exercitam o poder na ausência de conflito, o artigo publicado pela revista Veja,
em 01 de novembro de 2001, nos permite tangenciar a questão sem nos
aprofundarmos, uma vez que este não é o objetivo deste trabalho. Mas nos
permite antever as ações para fazer seus objetivos.
Na matéria analisada7, na verdade, há dois textos; portanto há
dois objetos: um aparente, um subjacente. Em outras palavras, existe um texto
dentro de outro texto.
O jornalista João Gabriel de Lima faz uma abordagem da
Língua Portuguesa como sendo uma das maiores dificuldades dos brasileiros,
impedindo que leiam e escrevam adequadamente. Há vários depoimentos de
pessoas com autoridade no assunto, comentando e avaliando o problema.
Destacam-se o Professor Pasquale Cipro Neto e o economista Reinaldo Polito,
dono de uma escola de expressão oral.
É o texto verdadeiro? É nele que se encontra o sentido real que
originou a matéria? É nele que se encontra a intencionalidade dos interesses
presentes?
O jornalista, associado a seus co-enunciadores, solicita à
Classe Média (os brasileiros) que vote em José Serra (o que fala a Língua
Correta), e não em Lula (o brasileiro que não sabe falar nem escrever) ou em
Enéias Carneiro (o da linguagem empolada) – conflito temático entre os
grupos. É como se houvesse uma união de personalidades da Classe Média
(os brasileiros que querem melhorar – e melhorar seria votar em José Serra)
tentando convencer uma outra parcela dessa classe de que o candidato do
PSDB é o único que deve, merece e possui condições de ocupar a cadeira
presidencial. Justifica isso apresentando a tese de que José Serra é o único
que fala a mesma língua da Classe Média. E falar a mesma língua implica
dizer, nesse contexto, ter os mesmos ideais, ter os mesmos anseios, pensar da
7
Veja a matéria completa no Anexo I
13. mesma maneira compartilhar a mesma ideologia. A partir desse ponto,
estabelece-se uma igualdade entre a Classe Média e José Serra; ambos têm
as mesmas origens, ambos são iguais, ambos falam a mesma Língua. E assim
é criada a identidade entre os pares Classe Média /José Serra.
O autor criou um silogismo: deve-se votar naquele que fala a
mesma língua do eleitor; José Serra é o único candidato que fala a língua da
Classe Média; logo a classe média deve votar em José Serra.
Dessa forma, a questão Língua funciona apenas como elo
entre iguais. Ela não é, como sugere o Texto Aparente, o cerne da
matéria/reportagem. A língua (Ideologia, no Texto Subjacente) é o meio de
convencimento, é a grande força de argumentação lógica para convencer a
porção da Classe Média que decidiu votar em Lula ou em Enéias Carneiro, ou
que está indecisa, a votar no PSDB de José Serra. O texto vai, do início ao fim,
demonstrando, por meio de depoimentos de co-enunciadores-pares da Classe
Média, entre eles Fernando Henrique Cardoso, Evanildo Bechara, outros
professores, empresários, altos executivos, e não-pares diretos, como Sérgio
Buarque de Holanda, o filósofo Ludwig Wittgenstein, utilizando vivos e mortos,
para confirmar a necessidade da Classe Média votar no candidato do PSDB,
porque: o Lula fala errado, a Língua do povão, ou seja, governará para as
classes menos favorecidas; e Enéias fala a língua do passado, o que
significará um retrocesso político.
5.1. Onde está Fernando Henrique Cardoso (FHC)?
Não se encontra, diretamente, no texto em palavras. Ele está
simbolizado nas imagens estilizadas do “homem tranqüilo e calmo que escreve
e fala com grande facilidade a Língua Correta – a Língua da Classe Média”.
Aqui verificamos uma manipulação dos símbolos, já que se procura
desenvolver um sentimento de medo (avesso às mudanças) no público, para
impedi-lo de questionar as demandas das elites, legitimando-as, criando um
consenso em torno dos valores da classe dominante. (Hayes. 1981)
Na ocasião da matéria, FHC era o Presidente da República, e
pautou seus governos pelo favorecimento às classes sociais economicamente
14. superiores, ou seja, os setores da sociedade mais organizados fizeram valer os
seus interesses contra os interesses não-organizados. Por ser do PSDB, sua
imagem sugere a continuidade desse favorecimento no caso da vitória de José
Serra, que também era do PSDB e, portanto, falava e continuaria falando a
mesma Língua de FHC. A Língua Correta, a Língua da Classe Média.
5.2. Contextualizando a análise
A revista Veja, dirigida à Classe Média, publicou a matéria num
ano eleitoral, quando o cenário político apontava Lula como o principal
candidato, que recebia apoio de cantores ligados à elite intelectual brasileira
(Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, etc.) e de atores de prestígio, o que
provocava uma fuga de votos (da Classe Média) para o PT.
Signos icônicos são utilizados, primeiramente na capa, que
mostra um “Rapaz Bonito, Branco” (Classe Média) “sorridente” (alegria,
felicidade); de sua boca sai a expressão: “Falar bem”. Complementando, o
fundo Amarelo une-se ao Azul da camisa do rapaz, sugerindo “a bandeira do
PSDB”. Num segundo momento, signos são apresentados no decorrer da
matéria em si. Como se a Democracia, com alternância do poder, estivesse
associada aos baixos padrões culturais da população, abalando tanto o
pensamento conservador como o liberal na sociedade brasileira, principalmente
na Classe Média.
Outras pistas são dadas pelo texto, como: a diferença entre “o
brasileiro” (que não sabem falar nem escrever) e “os brasileiros” (que querem
melhorar). Existe um sentido pejorativo no termo “o brasileiro”; enquanto há um
sentido positivo no termo “os brasileiros”. Após a fala de Suplicy (a reportagem
diz que ele é um homem inteligente, mas não sabe se expressar – pejorativo)
abre o parágrafo dizendo que “A dificuldade do brasileiro em falar e
escrever...”, o que sugere que Suplicy não sabe falar, se expressar.
Isso demonstra a intenção de macular a imagem do brasileiro,
que é sempre associado a não falar e a não escrever bem. Como no texto
aponta que as escolas públicas não possuem quantidade suficiente de
professores de Língua Portuguesa capacitados adequadamente ao cargo, para
15. a maioria do povo, este por conseqüência não aprende a falar nem a escrever
direito. Estabelece-se, portanto, uma identidade entre ambos: brasileiro e
“povão”. Percebe-se que os membros do PT falam a Língua do “povão”. Assim,
pelo conceito de identidade/ideologia, todos do PT falam a mesma Língua que
o povão. Como a imagem do PT sempre esteve ligada a Luiz Inácio Lula da
Silva, temos que: Lula igual a povão. Portanto, “brasileiro” significa Lula e por,
extensão, PT e “povão”. Claramente esse fato remete ao temor do “governo do
povo” em contraste com a plutocracia8, defendida pela Classe Média. Como se
fosse possível, ao povo, governar da mesma forma que os ricos
(essencialmente em benefício próprio), quando na verdade se busca um
governo que atenda os desejos comuns da sociedade (Wollheim,1999,p. 97),
uma vez que se governa para todos (ou, pelo menos, é o que teoricamente
deveria acontecer).
Existe no texto um dialogismo constitutivo9 que se dá pela
polifonia10 existente, que fica, do início ao fim, retomando falas direcionadas ao
senso comum que justificam a idéia de que “Lula é analfabeto, por isso não
pode ser presidente”. Essa polifonia dirigida é, em grande parte, explicita e
implícita ao mesmo tempo. Explícita, na medida em que o co-enunciador é
citado ou tem sua fala marcada pelas aspas. Contudo, o enunciado não revela
seu conteúdo real, verdadeiro; ele só é percebido pelo analista no conjunto da
análise, pois encontra-se submerso. Assim, o explícito verdadeiro só existe
pelo implícito, uma vez que seja percebido e compreendido. De outra forma, o
que existirá é um pseudo-explícito residente na superfície do texto, que
provocará inevitavelmente uma não-apreensão do conteúdo intencional,
projetado pela classe difusora da ideologia política. O leitor ficará apenas no
âmbito do Texto Aparente, que é apenas um “merchandising”. Mas ficará
submetido ao papel político desempenhado pela mídia.
8
Governo dos mais ricos.
9
Conceito Bakhtiniano (Mikhail Bakhtin, pelo qual se forma um diálogo “virtual! Entre aquilo que é dito
no texto e alguma idéia a ele relacionada, a qual pode ser indiretamente/subliminarmente percebida pelo
leitor)
10
Conceito Bakhtiniano, que afirma a existência de várias “vozes” (aquilo que ouvimos, vemos, lemos e
reelaboramos consciente ou inconscientemente, passando a afirmar como produto autêntico da nossa
reflexão) numa produção textual.
16. “...Influencia a formação de políticas ao gerar a atenção
do público e, através dela, a pressão política para que
certos atores passem a atuar sobre uma questão
particular. A cobertura da mídia, porém, não apenas
aumenta as percepções e atenção públicas sobre várias
questões, mas as constrói, definindo-as como
econômicas, ou políticas, sociais ou pessoais, radicais
ou conservadoras.” (Howlett, 2000, 186)
Em linhas gerais, a argumentação lógica de defesa do voto da
Classe Média em José Serra foi tecido a partir de dois patamares centrais: i)
criação da identidade ideológica entre PSDB/Classe Média, para esse objetivo,
a idéia de “falar a mesma Língua”. Com isso, valorizaram a face positiva
(Teoria das Faces de P. Brown e S Levinson. 1987) do PSDB e, por
decorrência imanente, a de seu candidato à Presidência da República, José
Serra; ii) destruição profunda da imagem de Lula/PT e Enéias/PRONA,
desabilitando-os ao exercício de Presidente da República, utilizando, para essa
finalidade, a mesma arma anterior, a Língua, só que em sentido iconoclasta. O
mesmo elemento que habilita José Serra desabilita Lula e Enéias Carneiro.
5.3. A apoteose
“A julgar pela máxima do filósofo Ludwig Wittgenstein – ‘os
limites da minha linguagem são também os limites do meu pensamento’ – os
brasileiros que tentam melhorar seu português estão também aprendendo a
pensar melhor.” A coação final, trazendo o peso da palavra de um filósofo
austríaco, se liga aos brasileiros da Classe Média que votará em Serra
aprendendo a votar melhor, votar no PSDB.
É importante acrescentar, a título de elucidação, que existe um
grau de interpenetração entre os grupos de interesses e os partidos políticos.
Em alguns casos, interferem no recrutamento e formulação da política a seguir
e na elaboração dos programas, inviabilizando o atendimento mais amplo dos
interesses da sociedade. (Pasquino, 1982,13)
Há ainda, no texto subjacente, outros dialogismos constitutivos,
perceptíveis apenas dentro da analise do contexto profundo. Um deles localiza-
se logo na abertura do Texto Aparente, no primeiro parágrafo: “Roberto Carlos,
17. Romário, Silvio Santos, Carla Perez.” A referência a essas personalidades do
meio artístico e esportivo, não se dá casualmente, ela é planejada. Outras,
poderiam estar ali, mas não estão. Essas personalidades associam-se a Lula e
ao PT, de modo pejorativo, pois são populares (e de origem popular) e se
destacaram esportiva ou artisticamente, não intelectualmente. Isso faz parte de
um sistema lógico-coercitivo, que tem por objetivo induzir a Classe Média a
votar em José Serra. Por outro lado, em sentido oposto, aparecem, logo a
seguir, duas personalidades do mundo acadêmico e empresarial, o Professor
Pasquale Cipro Neto e o empresário e também professor Reinaldo Polito,
representantes dos brasileiros que querem melhorar (parte da Classe Média
que vota no PSDB). Opõe-se ao povo, por não falarem a mesma Língua. Em
suma, temos a disputa: Rico X Pobre. Os ricos representados pelo PSDB de
José Serra, e os pobres, representados pelo PT de Lula. Aqui, parece que
somente numa plutocracia o Brasil atingirá um estágio superior. Quando
Péricles já tinha afirmado: “que a democracia é perfeitamente compatível com
as diferenças de riqueza, o que não é compatível é que essas diferenças
acarretem influência política de grupos de interesses” (Wollheim,1999,p. 94).
Pode-se verificar a intencionalidade das escolhas. Os nomes
ali colocados foram selecionados com o objetivo de serem atados e
entrelaçados, ao longo do enunciado global, à idéia de mediocridade, uma vez
que representam o gosto popular. E a lógica dessa relação vai sendo
construída com o “martelamento” de que o pobre não sabe falar nem escrever
direito, por isso não pensa de modo racional e articulado. Como Lula vem
dessa classe e é seu ícone, criou-se a identidade Lula/Povo a partir do
elemento de igualdade entre ambos: “ignorância”, no sentido do
desconhecimento da Língua culta, que levaria a outros desconhecimentos.
Não se sabendo a Língua, não se articula o pensamento. Logo, a falta de
domínio lingüístico é uma barreira aos demais setores do saber humano. Isto
posto, não se justifica votar em alguém que não tenha capacidade de raciocinar
e de tomar decisões em nome de um país. Ainda mais por não falar a “mesma
Língua”. Eis a lógica iconoclasta que é repetida ao longo do texto. Dessa
forma, se objetiva socialmente transmitir valores dos grupos de interesses
dominantes, para posterior subjetivização desta ideologia às demais classes
sociais.
18. Dentro dessa ótica, os indivíduos da Classe Média procuram
agir como racionais utilitaristas, uma vez que para atingir uma maior
compreensão da dinâmica política tem-se que investir maior quantidade de
recursos (Downs.1999) para manter-se informado. Assim, com poucos
investimentos, uma revista pode, aparentemente, lhes dar acesso à
informação. Entretanto acabam reféns desse meio de comunicação, o que os
torna elementos manipuláveis/capturáveis pelos grupos dominantes,
principalmente em períodos eleitorais. (Downs.1999).
Como Downs (1999) afirmou, as lideranças políticas sabem
utilizar os fatores dispostos no sistema e, como pode-se observar pela análise
anterior, no Brasil a prática é colocada em uso para favorecer o grupo que tem
acesso aos meios de comunicação, no que se refere à difusão de seus valores.
Isso livra alguns atores do conflito, por terem maiores recursos políticos e
econômicos (Dahl.1961).
6. A visão de Lukes. The Power - A Radical View
O cientista político britânico Steven Lukes foi responsável pela
criação da teoria da Terceira Dimensão da Representação Política, que se
denomina Controle sobre as Preferências. Ela está intrinsecamente relacionada
à discussão sobre os impasses e alternativas para a representação política,
sobre o foco da disputa do poder.
Essa teoria, em oposição às das outras duas antecessoras,
produzidas por R. Dahl, P. Bachrach e M. Baratz, que discutiram sobre os
sistemas políticos pluralista e elitista, contraria através de novas propostas
sobre a representatividade política, pois o conflito aberto entre os atores pode
nunca ocorrer. Isso aconteceu devido à onda que arrastou a discussão nos
últimos trinta anos sobre a democracia eleitoral, principalmente procurando
ocupar o espaço dos regimes autoritário e totalitário, deslegitimados diante da
eficácia participativa da Democracia.
É sobre essas duas teorias que Lukes (1992) constrói sua
crítica de como o poder pode ser considerado a partir da visão unidimensional
19. e bidimensional. A análise conceitual do poder e sua relação íntima entre os
sentidos teóricos e políticos constituem questões metodológicas e invocam ao
limite o behaviourismo. As questões teóricas procuram os limites do pluralismo,
a consciência falsa e os interesses verdadeiros. As raízes históricas do tema
remontam a Weber e influenciaram marcadamente Dahl e seus colegas
americanos da década de 1960.
Sua grande crítica a essas duas teorias, elitista e pluralista, é
de que elas são limitadas, uma vez que só se referem às formas observáveis
do poder e a isso adicionou uma terceira dimensão que remete à discussão
apresentada anteriormente.
A visão unidimensional está centrada na questão do poder
como capacidade de tomada de decisão onde um ator A pode ou consegue
fazer com que um ator B faça algo que, sem a força coercitiva de A, não faria
por si só. Outro aspecto levado em conta nesta análise diz respeito a que este
poder (força) é exercido através de instituições formais. Além disso, na medida
em que este poder só se refere a exemplos observáveis, pode ser medido por
seus resultados nas decisões. Sobre isso Lukes(1982) afirma que: “...one-
dimensional, view of power involves a focus on behaviour in the making of
decisions on issues over which there is an observable conflict of (subjective)
interests, seen as express policy preferences revealed by political
participations.”11
Na análise bidimensional, há também a questão do fato ou
conflito observável, real. Mas Bachrach e Baratz (1963) afirmam que além do
poder institucionalizado existe a influência informal. As duas dimensões são a
tomada de decisão e a não-tomada de decisão, sendo ambas as faces do
tomador de decisões.. A não-tomada de decisão é ela mesma uma decisão.
Além da força da autoridade coercitiva pode-se observar a influência, indução,
persuasão, manipulação. Neste sentido, a análise do texto da revista Veja
demonstra como esse poder pode ser utilizado sem que se percebam os
grupos interessados na sua difusão. Voltando ao texto: ao procurar construir
uma identidade, hiperboliza-se12 a necessidade da Classe Média não votar em
Lula, sob pena de se igualar ao “povo”. Em outras palavras, diz que a Classe
11
LUKES, Steven. Power: A radical view. P. 15
12
Figura de estilo que consiste em engrandecer ou diminuir exageradamente a verdade das coisas.
20. Média é superior, e não ignorante como o “povo” e o PT, o que justifica votar
em José Serra, seu igual. A elaboração do enunciado traz, de forma latente,
uma ameaça à face positiva da Classe Média, caso ela vote no PT, pois estaria
registrando e autenticando que é ignorante. Por oposição lógica, a face positiva
será valorizada, caso essa classe vote no PSDB.
Também na análise de Lukes(1992), há a presunção de que os
interesses são observáveis e conscientemente articulados pelo tomador de
decisão, desde que os indivíduos ou grupos tenham o capital cultural
necessário à sua apreensão. Aqui reside a mais importante diferença do que
tentamos demonstrar neste trabalho, pois o autor acredita que esses eventos
não possam ser observáveis (ou possam, mas de forma muito difícil) e que
esses mesmos eventos possam ser articulados, ou melhor, aconteçam de
forma inconsciente e, portanto, requeiram um exercício muito grande de
abstração. E como já apresentamos anteriormente, o objeto deste trabalho
requer um maior conhecimento que supera o senso comum.
A não-tomada de decisão, não observável e inconscientemente
articulada, pode nos dar uma pista de que haja uma superestrutura
perpassando (ou encobrindo) o centro de tomadas de decisão. Neste sentido,
procura-se não questionar o status quo, mas legitimá-lo, não politizando a
demanda (ela não passa pelo Congresso). Com este proceder, as reais
demandas populares adquirem o formato de ilegítimas, criando-se assim uma
pseudo-realidade, que vai de encontro aos interesses das classes dominantes
(Hayes. 1981). De fato, analisar um determinado evento não somente no
âmbito do indivíduo, mas na estrutura em que o indivíduo, país e/ou
organização estão envolvidos, é algo bastante complexo. Mas as dificuldades
podem ser transpassadas e certamente não requeiram de nós consignar a
visão da terceira dimensão do poder numa esfera metafísica ou ideológica.
Esta superestrutura impele algumas tomadas de decisão, ou uma não tomada
de decisão, que à luz da simples análise do indivíduo ou da organização, não
fariam sentido. Pode-se dizer, assim, que uma visão ou análise tridimensional
do poder deva levar em conta idéias, valores e normas em que estejam
inseridos os tomadores de decisão. E não se deve perder a dimensão de que
esses elementos influenciam os grupos não-organizados. Além disso, as
percepções (sentidos) de tais grupos sofrem a força do poder coercitivo do
21. Estado, que difere daquela exercida pelo terceiro poder, pois é aplicada de
forma inexorável quando a amplitude de suas conseqüências não atinge os
indivíduos ou grupos de interesses.
Em suma, Lukes contraria a idéia dos antecessores, propondo
que os indivíduos que não fazem parte de um determinado grupo social,
detentor de poder decisório, são deixados de lado e manipulados no que se
refere as suas propostas, não sendo considerados na agenda política. Como a
proposição apresentada neste trabalho, os grupos que dominam o poder se
utilizam dos meios disponíveis para continuar a reproduzir os seus interesses.
E isso pode ser comprovado por uma pequena parcela da sociedade, uma vez
que o conhecimento exigido é muito superior à média da população e,
consequentemente, devido a esse fato, no Brasil estas práticas podem ser
reproduzidas por longo tempo.
22. Bibliografia
BACHRACH, Peter & BARATZ, Morton. Decisions and Nondecisions: Na
Analytical Framework, in American Political Science Review, Vol 57, N˚.3.
1963.
BARROS, D.L.P. de. “Contribuições de Bakhtin às teorias do discurso”. In:
Brait, B. (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. Campinas, Editora
da Unicamp. 1997. pp.27-36.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário
de Política. Vol 1. Brasília. Editora Unb. 1983.
BOBBIIT, Philip. A Guerra e a Paz na História Moderna. São Paulo. Editora
Campus. 2001.
BROWN, P & LEVINSON, S. C. Politeness: some Universal in Language
Use. Studies Interaction Sociolinguistics 4. Cambridge: Cambridge University
Press, 1987.
DAHL, Robert. Who Governs? Democracy and Power in na American City –
New Haven. EUA. Yale University Press. 1961.
____________ Dilemmas of Pluralist Democracy: Autonomy vs. Control.
New Haven (USA) Yale University Press. 1982.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. São
Paulo. Editora Saraiva. 1983.
DOWNS, Anthony. Uma Teoria Econômica da Democracia. São Paulo.
Edusp. 1999.
FAORO, Raimundo. Os Donos do Poder. Vol 1 e 2. 6ª, ed.Rio de Janeiro.
Editora Globo. 1975.
HAYES, Michael. Lobbyists and Legislators. New Brunswick (USA). Rutgers
University Press. 1981.
HOWLETT, Michael. A dialética da opinião pública: efeitos recíprocos da
política pública e da opinião pública em sociedades democráticas
contemporâneas. Opinião Pública, vol. VI, n˚ 2, p. 171-337. Campinas. 2000.
MC FARLAND, Interest Groups and the Policymaking Process: Sources of
Countervailing in América. In: Mark Petracca (Org.) – The Politics of Interest
Groups: Interst Groups Transformed. USA. Westview Press. 1992.
23. La PALOMBARA, Joseph. A Política no Interior das Nações. Brasília.
Editora Unb. 1982.
LUKES, Steven. Power: A Radical View. Londres. The Macmillan Press.
1992.
OLSON, Mancur. A Lógica da Ação Coletiva. São Paulo. Edusp. 1999.
PASQUINO, Gianfranco. Teoria dos Grupos e Grupos de Pressão. In: Curso
de Ciência Política, Unidade VI. Brasília. Editora Unb. 1982.
WERNECK VIANNA, Maria Lúcia. Lobismo: Um Novo Conceito para
Analisar a Articulação de Interesses no Brasil. Rio de Janeiro. Centro de
Estudos de Políticas Públicas, N˚. 25. 1994.
WOLLHEIM, Richard. Democracia. In: Ideologias Políticas. CRESPIGNY,
Anthony de; CRONIN, Jeremy (eds). Brasília. Editora Unb. 1999.
24. ANEXO I
Falar e escrever,
eis a questão
Edição 1 725 - 7 de novembro de 2001
Expressar-se em português com clareza e correção é uma das
maiores dificuldades dos brasileiros. A boa notícia é que
muitos estão conscientes disso e querem melhorar
João Gabriel de Lima
Ilustração Orlando
Roberto Carlos, Romário, Silvio Santos, Vera Fischer, Carla Perez. Os famosos
no Brasil em geral jogam futebol, atuam na televisão ou cantam música
popular. O professor paulista Pasquale Cipro Neto, de 46 anos, tornou-se um
nome nacional de uma forma bem diferente: ensinando português. Há duas
semanas ele estreou um quadro no Fantástico, da Rede Globo. Já na estréia, E
Agora, Professor? (esse é o nome do quadro) recebeu uma enxurrada de e-
mails de telespectadores – cerca de 300 –, que queriam tirar dúvidas sobre o
25. uso do idioma. Pasquale é um fenômeno de mídia. Além de levantar a
audiência na TV, ele ajuda a vender publicações. Quando produziu um encarte
com exercícios de português para O Globo, provocou um aumento de 40% na
circulação dominical do jornal carioca. Republicada mais tarde na revista
Época, pertencente à mesma empresa, a série fez com que a vendagem em
bancas do semanário quase dobrasse. Pasquale também é um sucesso no
rádio, em livros, em palestras e em CD-ROM. Ele não é o único que ficou
conhecido nacionalmente por ensinar os brasileiros a falar e escrever melhor.
Dono de uma escola de expressão oral, o economista Reinaldo Polito também
faz um sucesso impressionante. Tem 1.600 alunos por ano, já vendeu mais de
570.000 livros e suas palestras estão cotadas em 9.500 reais.
Seria errado concluir, a partir desses dois exemplos, que a língua portuguesa é
uma paixão dos brasileiros, assim como o futebol, a televisão e a música. A
verdade é que as pessoas finalmente perceberam que precisam dominar a
norma culta do idioma. Principalmente na vida profissional. Nunca, no mundo
corporativo, houve tantas reuniões e apresentações. Quem não consegue
articular pensamentos com clareza e correção tem um grande entrave à
ascensão na carreira. A invenção do e-mail contribuiu para este quadro, ao
incrementar também a comunicação por escrito dentro das empresas. Na
Nestlé, por exemplo, o número de mensagens eletrônicas trocadas entre os
funcionários dobra a cada ano. Foram 2 milhões em 1999, 4 milhões em 2000
e, até o fim de 2001, esse número deve chegar a 8 milhões. É óbvio que é
péssimo para a imagem de alguém enviar a seu chefe um e-mail confuso ou
com erros de português. "O domínio da língua é importantíssimo para qualquer
profissional, tanto que, na hora de admitir novos funcionários, costumamos
fazer um teste de expressão escrita", informa Carlos Faccina, diretor de
recursos humanos da Nestlé. José Paulo Moreira de Oliveira, especialista em
português ligado à empresa de consultoria MVC, estima que, em carreiras nas
quais a internet é ferramenta de trabalho, os profissionais despendam 25% de
seu dia atualizando a correspondência eletrônica. Fora do trabalho, o e-mail é
também cada vez mais usado na vida particular. A tendência é que sua
utilização fique cada vez menos restrita à parcela da população que tem
computador em casa. Recentemente, os Correios criaram um programa piloto
de internet. No Rio de Janeiro e em São Paulo, várias agências contam com
terminais para quem quiser enviar e-mails em vez de cartas. Quem não tiver
endereço eletrônico pode obter um de graça, aderindo ao programa. Os
Correios prometem colocar esse equipamento em todas as agências do país
até 2003.
26. AS ATIVIDADES DE PASQUALE
Escreve colunas em jornais de dez
capitais brasileiras
Participa de programas de
treinamento no jornal Folha de S.
Paulo e na Rede Globo
Ancora o Nossa Língua Portuguesa,
na TV Cultura
Acaba de estrear um quadro no
Fantástico, da Rede Globo
Apresenta dois programas de rádio
Coordena atividades especiais
numa das unidades do Curso Anglo
Tem sete livros publicados, que
totalizam 350 000 exemplares
vendidos
Seu CD-ROM Nossa Língua
Portuguesa vendeu
50 000 cópias
As angústias dos brasileiros em relação ao português são de duas ordens.
Para uma parte da população, a que não teve acesso a uma boa escola e,
mesmo assim, conseguiu galgar posições, o problema é sobretudo com a
gramática. É esse o público que consome avidamente os fascículos e livros do
professor Pasquale, em que as regras básicas do idioma são apresentadas de
forma clara e bem-humorada. Para o segmento que teve a oportunidade de
estudar em bons colégios, a principal dificuldade é com a clareza. É para
satisfazer principalmente a essa demanda que um novo tipo de profissional
27. surgiu: o professor de português especializado em adestrar funcionários de
empresas. Antigamente, os cursos dados no escritório eram de gramática
básica e se destinavam principalmente a secretárias. De uns tempos para cá,
eles passaram a atender primordialmente gente de nível superior. Em geral, os
professores que atuam em firmas são acadêmicos que fazem esse tipo de
trabalho esporadicamente, para ganhar um dinheiro extra. "É fascinante,
porque deixamos de viver na teoria para enfrentar a língua do mundo real", diz
Antônio Suárez Abreu, livre-docente pela Universidade de São Paulo que já
deu cursos em empresas como a Mercedes-Benz, a Nortel e a Companhia
Paulista de Força e Luz. Abreu até lançou um livro voltado para esse público, A
Arte de Argumentar – Gerenciando Razão e Emoção, que está na segunda
edição.
Já existe no país até uma escola voltada para o ensino da língua para
profissionais. É o Curso Permanente de Português, de Porto Alegre. O CPP,
como é conhecido, foi fundado em 1976 por Édison de Oliveira, uma espécie
de precursor gaúcho de Pasquale Cipro Neto. Ele se notabilizou com aulas de
gramática no rádio e na televisão do Rio Grande do Sul. Até recentemente, o
CPP funcionava como um curso especializado em redação para o vestibular.
Há cinco anos, resolveu atacar o filão das empresas. "É um trabalho bastante
complexo, porque nós temos de entrar no universo das profissões para saber
os problemas específicos que cada uma apresenta", analisa a professora Maria
Elyse Bernd, diretora do CPP. O curso mescla aulas de gramática com
atividades práticas direcionadas para as diferentes carreiras. Médicos
aprendem a escrever laudos; advogados, petições; economistas, relatórios e
assim por diante (veja exemplos). O CPP tem como clientes bancos, tribunais e
até um hospital. Algumas empresas procuram o curso incentivadas pelos
próprios funcionários. "Fizemos uma pesquisa e descobrimos que conhecer
melhor as regras do idioma era uma demanda de todos os níveis hierárquicos",
diz Josué Vieira da Costa, da área de recursos humanos do Banrisul, banco
estatal gaúcho que contratou os serviços do CPP. Costa lembra que as
dificuldades com o português chegaram a entravar a burocracia do banco.
"Uma vez, um funcionário quase foi promovido erroneamente por causa do
parecer dúbio de um executivo. É incrível que esse tipo de coisa atrapalhe o
funcionamento de uma empresa."
28. AS PROEZAS DE POLITO
Tem 11 livros publicados, que
venderam 570 000 exemplares
O best-seller é Como Falar
Corretamente e sem Inibições, que
vendeu 300 000 exemplares
Por seu curso passam, em média,
1 600 alunos por ano
Dá em média 3 palestras por mês
Seu cachê por palestra é 9 500
reais
Tem vários alunos famosos, entre
eles o senador Eduardo Suplicy
Ouça dicas do professor Reinaldo
Polito sobre como falar bem em
público.
A dificuldade com a clareza é um traço cultural no Brasil. "Num país com tantas
carências educacionais, falar de maneira rebuscada é indicador de status,
mesmo que o falante não esteja dizendo coisa com coisa", afirma o professor
Francisco Platão Savioli, da Universidade de São Paulo, autor de nove livros
sobre o ensino do idioma. Esse amor pelas palavras difíceis tem origem na
época da transição do Império para a República, no fim do século XIX.
Conforme explica Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico Raízes do
Brasil, com o advento da República o curso superior passou a ser o principal
parâmetro de reconhecimento social. Na época, estavam em voga as escolas
de direito. Assim, para ser alguém na sociedade daquele tempo, era necessário
não apenas ser advogado, mas também falar como advogado. É daí que surge,
segundo Sérgio Buarque, a linguagem bacharelesca. Esse estilo floresceu no
começo do século XX e, a partir do modernismo, seu prestígio foi decaindo. O
português empolado persiste, no entanto, até hoje, em formas degeneradas.
Uma delas é o chamado "burocratês", a linguagem dos memorandos das
empresas, nos quais mesmo para solicitar a compra de uma caixa de clipes
são necessárias várias saudações e salamaleques. Outra é a retórica de parte
dos políticos. O linguajar pomposo também sobrevive nas teses acadêmicas e,
como era de esperar, no discurso dos advogados.
Há vários indícios, no entanto, de que essa tradição de rebuscamento está
fadada a ir para a lata de lixo da História. Na área do direito, por exemplo,
existe uma corrente que defende a simplificação da língua. Há duas semanas,
o desembargador João Wehbi Dib ganhou as manchetes de jornais pelo tom
com que redigiu seu voto num processo contra o escritor Ruy Castro, acusado
de difamar Garrincha no livro Estrela Solitária. Entre as provas arroladas pelos
advogados dos herdeiros do jogador, havia uma descrição feita por Castro da
anatomia íntima do craque. Para choque de muitos, o desembargador Wehbi
Dib discorreu sobre o assunto sem meias palavras. "As novas gerações de
advogados perceberam que o discurso empolado, muitas vezes, atrapalha a
29. argumentação lógica", diz Ester Kosovski, professora da área de direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outro golpe no barroquismo vem da
própria popularização do e-mail. "A linguagem da correspondência eletrônica,
nas empresas, tem de ser mais concisa e mais clara que a do memorando,
porque em geral tem o objetivo de provocar uma ação imediata", analisa o
professor paranaense Artur Roman, autor de dissertação de mestrado sobre o
assunto e funcionário do setor de treinamento do Banco do Brasil.
A clareza também se tornou a prioridade dos cursos de oratória. O professor
Reinaldo Polito, que há 26 anos tem em São Paulo uma escola de expressão
verbal para profissionais de várias áreas, constatou, ao longo de sua carreira,
uma mudança significativa. Segundo ele, até pouco tempo atrás a maior parte
de sua clientela era formada por executivos na faixa dos 45 anos, que se
preocupavam, antes de tudo, com a impostação de voz e a gestualidade.
Recentemente, ele passou a ser procurado principalmente por jovens em início
de carreira que querem aprender a se expressar de forma clara e simples.
"Para atender esse pessoal, que hoje é o grosso do meu público, tive de
reorientar o curso. Passei a enfatizar o encadeamento das idéias e a coerência
da argumentação", conta Polito. A demanda é tanta que, em março passado,
ele inaugurou outra unidade de sua escola, no bairro paulistano do Ipiranga.
Nela, há auditórios de vários tamanhos para simular diferentes tipos de
conferências. Polito tem entre seus alunos o senador do PT Eduardo Suplicy.
"Ele é um homem inteligentíssimo, só precisa aprender a se expressar melhor.
É um grande desafio para mim", avalia Polito.
A dificuldade do brasileiro em falar e escrever de forma a se fazer entender não
é apenas conseqüência da tradição bacharelesca. Há outros fatores. Para
começar, lê-se pouco no Brasil. O parâmetro de comparação que costuma ser
utilizado nessa área é a média de livros publicados per capita, que resulta da
divisão do total da produção pela população do país. No Brasil se produzem
2,4 livros por habitante, contra sete na França e onze nos Estados Unidos.
Esse indicador, no entanto, é imperfeito, porque ignora a taxa de
analfabetismo, a proporção de livros didáticos no universo editorial e a
quantidade de volumes que vai parar em bibliotecas. A Câmara Brasileira do
Livro divulgou recentemente um estudo que mostra que, na verdade, os
brasileiros lêem em média apenas 1,2 livro por ano. Não cultivar a leitura é um
desastre para quem deseja expressar-se bem. Ela é condição essencial para
melhorar a linguagem oral e escrita. Quem lê interioriza as regras gramaticais
básicas e aprende a organizar o pensamento.
As escolas poderiam ensinar a escrever, mas não o fazem. Não que as aulas
de redação sejam em menor número do que o desejado. O problema é que
essa matéria é ensinada de forma errada, por meio de assuntos distantes da
vida real. "Em vez de escrever redações sobre temas vagos, como 'Minhas
férias' ou 'Meu cachorro', o aluno deveria ser adestrado nos diferentes gêneros
da escrita: a carta, o memorando, a ficção, a conferência e até o e-mail", opina
o professor Luiz Marcuschi, da Universidade Federal de Pernambuco. Por
último, há a questão do nível dos professores. "A maior parte da mão-de-obra
nessa área é de baixa qualificação", diz o professor Pasquale Cipro Neto.
"Como o aluno vai aprender a diferença entre sujeito e predicado se nem o
professor entende direito? Infelizmente, não existem bons professores de
30. português em número suficiente para atender à imensa demanda que o país
tem."
Pasquale conhece bem as carências nessa área. Ele percorre o Brasil para dar
palestras. Transformou-se em estrela de magnitude nacional depois de atuar
em comerciais da rede de lanchonetes McDonald's, em 1997. Pasquale, no
entanto, não é uma unanimidade. Esteja em São Paulo, Macapá ou Passo
Fundo, inevitavelmente ouve críticas. Elas ecoam o pensamento de uma certa
corrente relativista, que acha que os gramáticos preocupados com as regras da
norma culta prestam um desserviço à língua. De acordo com essa tendência, o
certo e o errado em português não são conceitos absolutos. Quem aponta
incorreções na fala popular estaria, na verdade, solapando a inventividade e a
auto-estima das classes menos abastadas. Isso configuraria uma postura
elitista. Trata-se de um raciocínio torto, baseado num esquerdismo de meia-
pataca, que idealiza tudo o que é popular – inclusive a ignorância, como se ela
fosse atributo, e não problema, do "povo". O que esses acadêmicos
preconizam é que os ignorantes continuem a sê-lo. Que percam oportunidades
de emprego e a conseqüente chance de subir na vida por falar errado.
"Ninguém defende que o sujeito comece a usar o português castiço para
discutir futebol com os amigos no bar", irrita-se Pasquale. "Falar bem significa
ser poliglota dentro da própria língua. Saber utilizar o registro apropriado em
qualquer situação. É preciso dar a todos a chance de conhecer a norma culta,
pois é ela que vai contar nas situações decisivas, como uma entrevista para um
novo trabalho." Felizmente, a maior parte das pessoas não está nem aí para a
conversa mole dos relativistas. Quer saber, isso sim, de falar e escrever direito.
A julgar pela máxima do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein – "os limites da
minha linguagem são também os limites do meu pensamento" –, os brasileiros
que tentam melhorar seu português estão também aprendendo a pensar
melhor.