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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
DAIANNE SERAFIM MARTINS
A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Porto Alegre, março de 2008
2
DAIANNE SERAFIM MARTINS
A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Monografia apresentada para obtenção
parcial do título de Especialista em
Educação Inclusiva
Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul - PUC/RS
Programa de Pós-Graduação Em Educação
Professor Orientador: Dr. Claus Dieter Stobäus
Porto Alegre, março de 2008
3
TERMO DE APROVAÇÃO
DAIANNE SERAFIM MARTINS
A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de
Especialista em Educação Inclusiva pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul - PUC/RS, examinada pelo avaliador Dr. Claus Dieter
Stöbaus.
Data de Aprovação: ____/____/____.
Profª. Dr. Claus Dieter Stobäus
PUC/RS
Porto Alegre, março de 2008
4
Dedico este trabalho a minha família por respeitar e apoiar os caminhos
que tenho escolhido.
5
Agradeço imensamente a todos que de uma forma ou outra compartilharam
comigo os anseios e as aflições na realização deste trabalho.
Aos meus professores do curso de graduação em Terapia Ocupacional que me
guiaram na busca pelo conhecimento das bases da Terapia Ocupacional. Hoje
reconheço e valorizo ainda mais os seus ensinamentos.
A equipe interdisciplinar do CEDI, em especial à Rita Bersch, por ter
possibilitado que participasse desse grupo e pelo apoio nesta caminhada de
aperfeiçoamento profissional.
Ao pessoal do CID, escola maravilhosa, a qual muitas deveriam seguir como
exemplo, por terem motivado minha busca por conhecer ainda mais sobre a
diversidade e minha luta por uma sociedade mais justa e inclusiva.
Aos alunos e professores da WOW! Línguas pela convivência semanal e pelo
suporte, no período do curso e da finalização desta monografia.
Aos meus pais, Severino e Benta, e ao meu irmão Gabriel, por terem
compreendido minha ausência durante a realização do curso, nos finais de
semana e na produção deste trabalho.
Ao Hérlon Höltz por estar sempre ao meu lado, nos momentos alegres e nos
difíceis, agradeço pelo seu carinho e compreensão.
As colegas do curso de especialização Izabel, Neuza e à Cláudia (que não
pôde concluir o curso devido ao seu “projeto mamãe”) que além de dividirem
comigo as sextas-feiras à noite e os sábados inteiros, foram parceiras nas
discussões, na realização dos trabalhos e nos momentos de descontração.
6
RESUMO
O principal objetivo deste trabalho foi o de esclarecer como a Terapia
Ocupacional pode apoiar para uma melhor inclusão de alunos com
necessidades educacionais especiais na escola regular. Para tanto, foram
entrevistadas duas terapeutas ocupacionais que relacionam suas práticas
clínicas aos propósitos da educação inclusiva. As questões levantadas
envolveram a relação da terapia ocupacional com a educação inclusiva e as
possibilidades de atuação de um terapeuta ocupacional neste contexto. As
entrevistas foram analisadas, divididas em categorias e embasadas em
referenciais teóricos, após a análise das respostas comentamos que a terapia
ocupacional pode ser utilizada para auxiliar a promover a inclusão de alunos
com NEE na escola regular, além de que outros elementos relatados pelos
profissionais relacionam temas com a educação e a saúde e com as famílias,
que também foram contempladas. Conclui-se que a terapia ocupacional
inserida na escola regular pode apoiar a inclusão de alunos com deficiência
através da construção de um trabalho interdisciplinar entre a equipe escolar, a
equipe de apoio técnico especializado, famílias e comunidade visando garantir
a efetividade da inclusão.
Palavras Chave: Terapia Ocupacional. Educação Inclusiva. Equipe
Interdisciplinar.
7
ABSTRACT
The main objective of this paper is to elucidate how Occupational Therapy can
support the inclusion of students with special needs in the regular school. To do
so, two occupational therapists that relate their clinical practices to the purposes
of inclusive education were interviewed. The questions raised involved the
relationship between occupational therapy and inclusive education, and the
possibilities in the occupational therapist practice in this setting. The tools that
an occupational therapist can use to promote the inclusion of students with
special needs in the regular school setting and the relationships between this
professional and others from education and health areas, and the families were
also concerned. The interviews were analyzed, categorized and supported by
theoretical references. It was concluded that the occupational therapy in the
regular school can support the inclusion of students with disabilities through the
building of an interdisciplinary work among the school team, the specialized
technical support team, families and community in pursue of the effectiveness
of educational inclusion.
Keywords: Occupational Therapy. Inclusive Education. Interdisciplinar Team.
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
TO – Terapia Ocupacional / Terapeuta Ocupacional
NEE – Necessidades Educacionais Especiais
TA – Tecnologia Assistiva
CREFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
AOTA – American Occupational Therapy Association
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11
2. REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................... 14
2.1. DEFINIÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA TERAPIA
OCUPACIONAL............................................................................................ 14
2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA...... 15
2.3. PONTOS CONVERGENTES ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA ............................................................................. 16
2.4. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NOS ESTADOS UNIDOS E
CANADÁ....................................................................................................... 18
2.5. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NO BRASIL HOJE .......... 19
3. DELINEAMENTO DA PESQUISA................................................................ 20
3.1. ESCOLHA E DELIMITAÇÃO DO TEMA................................................ 20
3.2. OBJETIVOS........................................................................................... 20
3.2.1.OBJETIVO GERAL .......................................................................... 20
3.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:.......................................................... 20
3.3. MÉTODO DE PESQUISA...................................................................... 21
3.3.1 SOBRE AS ENTREVISTAS............................................................. 21
3.3.2. QUESTÕES NORTEADORAS........................................................ 22
3.3.3. ANÁLISE DE DADOS ..................................................................... 22
3.3.4. SUJEITOS DA PESQUISA ............................................................. 23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 24
4.1. A RELAÇÃO TERAPIA OCUPACIONAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA
PRÁTICA CLÍNICA....................................................................................... 24
4.1.1. A TRÍADE PESSOA – OCUPAÇÃO – AMBIENTE: FUNDAMENTOS
DA TERAPIA OCUPACIONAL.................................................................. 25
4.1.2. OS ESPAÇOS E A IMPORTÂNCIA DE ESTAR INCLUÍDO ........... 26
4.1.3. O GRUPO COMO FATOR MOTIVACIONAL.................................. 26
4.2. ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA ESCOLA ................ 28
4.2.1. A TRÍADE FAMÍLIA – ALUNO – ESCOLA: BASES PARA
INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL....................................... 29
4.2.2. A FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL: A VISÃO DO
“PACIENTE COMO UM TODO”................................................................ 30
4.2.3. ANÁLISE CRÍTICA DO CONTEXTO SÓCIO – POLÍTICO –
ECONÔMICO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO
BRASIL ..................................................................................................... 32
4.2.4. OS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL:
DIRETAMENTE NA ESCOLA OU NOS SERVIÇOS DE APOIO
ESPECIALIZADOS NA COMUNIDADE.................................................... 34
4.2.5. O PAPEL DA TERAPIA OCUPACIONAL NA RENOVAÇÃO DO
DESEJO DO PROFESSOR...................................................................... 35
4.3. INSTRUMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL PARA PROMOVER A
INCLUSÃO ................................................................................................... 37
4.3.1. COMO A TERAPIA OCUPACIONAL PODE APOIAR A INCLUSÃO
DE UM ALUNO COM NEE NA ESCOLA .................................................. 37
10
4.3.2. ANÁLISE DA ATIVIDADE E DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA:
INSTRUMENTOS ESPECÍFICOS DA TERAPIA OCUPACIONAL ........... 40
4.4. A RELAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM A EQUIPE
ESCOLAR, A EQUIPE DE APOIO ESPECIALIZADO E AS FAMÍLIAS........ 42
4.4.1. O TERAPEUTA OCUPACIONAL NAS EQUIPES
INTERDISCIPLINARES ............................................................................ 43
4.4.2. A RELAÇÃO COM A EQUIPE ESCOLAR: APENAS QUEIXAS? ... 45
4.4.3. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS NA ESCOLA
INCLUSIVA ............................................................................................... 46
4.4.4. COMPREENDENDO A SITUAÇÃO PARA FAZER OS
ENCAMINHAMENTOS ............................................................................. 47
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 49
REFERÊNCIAS................................................................................................ 51
ANEXOS .......................................................................................................... 53
11
1. INTRODUÇÃO
A tarefa de realizar uma pesquisa requer, do meu ponto de vista, além da
identificação com o tema de forma até mesmo passional, a escolha de um
assunto que vise responder às inquietações pessoais com o objetivo de gerar
conhecimento a ser compartilhado.
Dessa forma, vou me remeter à minha trajetória acadêmica e profissional,
para poder explicar de onde surgiu a idéia de desenvolver esse trabalho.
Sempre tive como idéia de profissão, uma em que pudesse ajudar o outro,
que lidasse diretamente com pessoas e que de certa forma envolvesse a
interação, através da troca de informações, da conversa e da ação.
Também me lembro que desde a infância gostava de ensinar. E, por ter
estudado desde pequena a língua inglesa e ter fluência neste idioma, comecei
a me dedicar para o ensino de Inglês, no início com aulas particulares e depois
em cursos, atividade que realizo desde o segundo ano de faculdade. Esta nova
área me encantou e ainda me encanta muito, mas ao mesmo tempo sabia que
me identificava também com a área da saúde.
Quando tive o primeiro contato com a coordenadora do curso de Terapia
Ocupacional, para conhecer mais esta prática, percebi que esta envolvia
também as aprendizagens, os interesses e as motivações do outro.
Em 2002 entrei para o curso de Terapia Ocupacional (TO) e no mesmo
ano comecei a dar aulas de Inglês para as séries iniciais do Ensino
Fundamental em uma escola inclusiva de Porto Alegre. Foi lá que, ao conhecer
o trabalho com a diversidade, despertei o interesse em aprofundar meus
estudos em Educação Inclusiva. Ao concluir a graduação, desenvolvi meu
trabalho final com o tema ‘Inclusão Escolar no Ensino de Inglês como Língua
Estrangeira’ permeado pelo olhar da terapia ocupacional tanto sobre a
12
participação dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE),
quanto na contribuição desta área para a escola.
Meu objetivo ao desenvolver essa monografia de conclusão de curso com
foi de aprofundar os estudos nesses campos combinados e promover a Terapia
Ocupacional entre educadores, estudantes e outros profissionais interessados.
A atuação de terapeutas ocupacionais em educação inclusiva ainda é
modesta no Brasil atualmente, assim como são escassos os referenciais
teóricos produzidos no Brasil sobre a Terapia Ocupacional na Escola.
Este trabalho combina o referencial teórico brasileiro disponível e artigos
estrangeiros de países como os Estados Unidos e Canadá e traz ainda o
depoimento de terapeutas ocupacionais que transitam pela área da inclusão
escolar.
Esse trabalho visa principalmente discorrer sobre como a Terapia
Ocupacional pode apoiar a inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais. Para tanto, entrevistei duas terapeutas ocupacionais que relacionam
suas práticas clínicas aos propósitos da educação inclusiva.
Levantei com elas questões sobre a relação da terapia ocupacional com a
educação inclusiva e como se dá a atuação de um terapeuta ocupacional neste
contexto. Também questionei sobre quais os instrumentos a terapia
ocupacional pode utilizar para promover a inclusão de alunos com NEE na
escola regular e a respeito da relação do terapeuta ocupacional com as
famílias de alunos com NEE e com outros profissionais da saúde e da
educação.
Esta monografia será organizada em capítulos. No capítulo 2 (dois),
intitulado como Apresentação, busco apresentar os conceitos e a
contextualização histórica da terapia ocupacional e da educação inclusiva e
suas convergências.
No capítulo 3 (três) explicito o Delineamento da Pesquisa, apresentando
os caminhos metodológicos e instrumentos utilizados na coleta de dados. É
também neste capítulo que apresento os sujeitos da pesquisa.
A seguir, o capítulo 4 (quatro) compreende a Análise dos Dados obtidos
na pesquisa, envolvendo ainda uma reflexão a partir dos referenciais teóricos
sobre temas expostos pelas terapeutas ocupacionais que participaram da
pesquisa.
13
No capítulo 5 (cinco) e último exponho as Considerações Finais deste
trabalho, no qual são retomados os resultados da pesquisa envolvendo uma
reflexão final sobre a contribuição da terapia ocupacional nos processos de
inclusão escolar e as possibilidades de inserção deste profissional no contexto
escolar brasileiro.
14
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. DEFINIÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA TERAPIA
OCUPACIONAL
A terapia ocupacional tem sua definição profissional revista
periodicamente. Uma definição mais recente formulada pelo curso de terapia
ocupacional da USP – Universidade de São Paulo, de Cavalcanti e Galvão
(2007, p. 3), é a seguinte:
É um campo de conhecimento de intervenção em saúde, educação e
na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a
emancipação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas a
problemática específica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas
e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente,
dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções
em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade,
elemento centralizador e orientador, na construção complexa e
contextualizada do processo terapêutico
De forma também abrangente, De Carlo e Bartalotti (2001 p.15) definem a
Terapia Ocupacional como uma profissão da área da saúde, que tem como
objeto de estudo a ação humana, entendida como todo o fazer do homem em
sua vida cotidiana, “é através da análise das condições (físicas, psicológicas e
sociais) que podem afetar esse fazer que o terapeuta ocupacional intervem, no
sentido de ajudar a pessoa a (re) encontrar seu lugar social, como ser ativo,
tendo como metas a qualidade de vida e a inclusão social.”
A Terapia Ocupacional foi organizada como categorial profissional e como
profissão da área da saúde nos Estados Unidos a partir da Primeira Guerra
Mundial com os veteranos da guerra. Nesse momento de expansão
econômica, devido a pressões sociais por autonomia financeira e pela
absorção de pessoas incapacitadas no mercado de trabalho, o foco era a
reabilitação física através do uso das atividades ocupacionais. A
institucionalização da terapia ocupacional ocorreu nos Estados Unidos entre
1906 e 1938 com a oferta de cursos de formação e com a organização da
categoria em 1917 e do registro profissional em 1932.
15
Também desde essa época o tratamento pelas ocupações era utilizado
em hospitais psiquiátricos no Brasil, partindo do principio de que a organização
do ambiente e das ocupações levava à reorganização do comportamento do
doente mental. A terapia ocupacional na reabilitação física foi introduzida a
partir de entidades beneficentes da sociedade civil, como a APAE (Associação
de Pais e Amigos dos Excepcionais), Sociedades Pestalozzi e centros de
reabilitação, com os surtos de mielite e meningite nos anos 1940 e 1950 como
fatores decisivos. Em 1969, a profissão foi reconhecida como de nível superior
no Brasil.
Com os movimentos de desinstitucionalização na década de 90, os
pacientes foram deslocados dos grandes hospitais e instituições totais para
centros de saúde comunitários e a terapia ocupacional passou a pensar no
sujeito e no seu papel na sociedade e por conseqüência na inclusão dessas
pessoas no meio social e escolar.
Segundo Schwartz (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002, p. 800),:
No final dos anos 60 até os anos 80, houve um período de rápidas
mudanças na sociedade e na terapia ocupacional. A prática de terapia
ocupacional se tornou especializada e começou a se expandir para
áreas dos cuidados da saúde, além do hospital.
Nos Estados Unidos, a área da pediatria emergiu em grande parte por
causa da promulgação do Education of the Handicapped Act (PL 94-142) em
1975. Esta lei forneceu às crianças com incapacidades a terapia necessária
para garantir a participação no ambiente escolar, levando os serviços de
terapia ocupacional para as escolas públicas.
2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
De acordo com Sassaki (2006), a história da atenção educacional para
pessoas com deficiência teve as fases de exclusão, segregação institucional,
integração e mais recentemente de inclusão. Na fase de exclusão eram
ignoradas pela sociedade ou então perseguidas por serem consideradas como
vítimas de espíritos e de feitiçarias. Na fase de segregação eram separadas de
suas famílias e da sociedade para viverem confinadas em instituições
geralmente religiosas ou filantrópicas. Foi nesse contexto que a educação
16
especial surgiu assim com os centros de reabilitação e as oficinas protegidas
de trabalho. Na fase de integração surgiram as classes especiais dentro das
escolas comuns, ainda assim as crianças que participavam dessas classes
eram selecionadas por meio de testes de inteligência, pois teriam potencial
acadêmico.
No final da década de 80, o conceito de inclusão surgiu inspirado por uma
pequena parte da sociedade em muitos países que começava a lutar para que
as pessoas com deficiências pudessem ter participação plena e igualdade de
oportunidades. Países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Itália foram
os pioneiros na implantação de classes e escolas inclusivas. Houve uma série
de ações e encontros internacionais em prol da educação para todos em idade
escolar. Dentre essas reuniões destacam-se a Conferência Mundial de
Educação para Todos em Jomtiem (Tailândia) em 1990 e a Conferência
Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em Salamanca (Espanha)
em 1994, que contribuíram para impulsionar a Educação Inclusiva em todo o
mundo.
Neste novo paradigma da educação, Mantoan (2003) afirma que a
inclusão implica em uma mudança de perspectiva educacional, já que não
atinge apenas alunos com deficiência e aqueles com dificuldades de aprender,
mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral.
As escolas inclusivas devem propor um modo de organização do sistema
educacional que considere as necessidades de todos os alunos e que seja
estruturado em função dessas necessidades.
2.3. PONTOS CONVERGENTES ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A terapia ocupacional acompanhou as mudanças de paradigma em
educação à medida que também passou por fases históricas semelhantes,
como na fase de segregação nas instituições totais. Nessa época, a visão
médica e a equipe multiprofissional estabeleciam as normas para os processos
de educação especial, deixando de ouvir o educador como gestor desses
processos.
17
Acompanhando os novos paradigmas de educação e pelo estudo do
desenvolvimento humano e do processo de aprendizagem e autonomia, a
terapia ocupacional pode contribuir ao apoiar a abordagem ao indivíduo com
necessidades educacionais especiais, professores e equipe, fundamentando-
se na visão sistêmica que considera o ser humano um sistema aberto em
permanente inter-relação com o entorno e que gera mudanças constantes.
(Munguba in Cavalcanti e Galvão, 2007)
Para De Carlo e Bertalotti (2001, p. 112):
[...] a Terapia Ocupacional deve se incorporar à discussão sobre
educação inclusiva e pensar sua atuação na escola regular,
promovendo a inserção das pessoas com deficiência nesse âmbito de
sua vida ocupacional.
Segundo Dunn (1990, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002, p. 758),:
A terapia ocupacional estimula as habilidades que propiciam uma base
para o aprendizado, como o desenvolvimento da estabilidade do tronco
para sentar em uma cadeira, ou desenvolver habilidades motoras finas
para escrever com a caneta. O terapeuta também pode sugerir uma
sala e estilo de ensino especiais que possibilitariam que o estudante
exibisse um desempenho ótimo.
As práticas em Educação, mormente em Educação Especial, requerem
métodos e materiais que sejam eficientes para um grupo diverso de alunos. O
terapeuta ocupacional pode identificar que existem alguns alunos que
necessitam de adaptações, modificações ou apoio extra para aprenderem e
participarem das aulas. As intervenções propostas pelo terapeuta ocupacional
podem beneficiar o aluno no ambiente de aprendizagem, auxiliando os
professores e a equipe a intervirem com o aluno. O terapeuta ocupacional
pode, também, favorecer a inclusão de alunos NEEs através do uso da
tecnologia assistiva.
A intervenção do terapeuta ocupacional na escola de ensino regular tem
como objetivo geral aprimorar os processos inclusivos da escola contribuindo
para a melhora da qualidade do ensino e aprendizagem envolvendo
professores, alunos e equipe técnica.
18
2.4. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NOS ESTADOS UNIDOS E
CANADÁ
Nos Estados Unidos, terapeutas ocupacionais fazem parte da equipe
educacional dentro de cada distrito escolar. Além do contexto escolar, as
crianças com necessidades especiais também têm acesso ao atendimento de
terapia ocupacional em programas clínicos comunitários. Esses dois tipos de
serviços oferecidos podem ter planos de intervenção isolados ou combinados,
de forma colaborativa e coordenada através da comunicação entre os
profissionais. No contexto escolar, o serviço de terapia ocupacional é garantido
por leis federais e estaduais e a necessidade deste serviço é determinada pelo
IEP1
. Os atendimentos são oferecidos na escola individualmente ou em
pequenos grupos e se referem ao acesso e permanência do aluno com
necessidades especiais na escola e ao desempenho ocupacional escolar
como, por exemplo, completar independentemente as atividades de aula
utilizando instrumentos de escrita adaptados ou se locomover no ambiente
escolar, etc.
Já os objetivos da terapia ocupacional na modalidade clínica-comunitária
envolvem o desempenho funcional da criança em casa e na comunidade como,
por exemplo, realizar independentemente atividades de vida diária (AVD’s),
como tomar banho, escovar os dentes, vestir-se ou transferir-se da cadeira
para cama, etc. O atendimento se dá geralmente de forma individual em
clínicas, hospitais, em casa ou na comunidade.
No Canadá, a oferta dos serviços de terapia ocupacional para alunos do
sistema escolar é uma prática crescente apoiada pelo Programa de Apoio aos
Serviços de Saúde Escolar (SHSS). Tanto nos Estados Unidos quanto no
Canadá existe uma crescente demanda por estudos sobre a prática baseada
em evidências embasando teoricamente a efetividade da provisão desses
serviços.
1
O IEP (Individualized Education Program) consiste num programa educacional
individualizado de acordo com as necessidades do aluno. Todo o aluno da educação especial,
de 3 a 21 anos, nos EUA deve ter um IEP. Este é organizado e reavaliado periodicamente por
uma equipe de professores e outros profissionais em conjunto com a família onde são
propostos objetivos do currículo e encaminhamentos para serviços especializados.
19
2.5. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NO BRASIL HOJE
Atualmente, no Brasil, pouco se sabe sobre como a escola regular tem se
relacionado com os serviços de apoio terapêutico, envolvendo tanto a Terapia
Ocupacional quanto outras áreas como a Fisioterapia e a Fonoaudiologia.
As possibilidades de atuação se constituem, principalmente, através de
parcerias com clínicas privadas e instituições sem fins lucrativos especializadas
no atendimento de pessoas com deficiências que oferecem esses serviços.
Também a escola ou o terapeuta pode fazer o contato, e esses se
articulam em reuniões, nos casos em que o aluno já tem acesso a esse
serviço.
Nessas relações, a atenção ao aluno com NEE fica geralmente isolada,
de forma que é pouco compartilhada entre a escola e o atendimento clínico, ou
seja, entre professores e terapeutas, questões pertinentes ao desempenho
ocupacional escolar do mesmo sujeito.
São de meu conhecimento apenas duas iniciativas da atuação direta da
terapia ocupacional na escola: em uma escola privada de Porto Alegre, o
atendimento clínico de terapia ocupacional é integrado à escola que atua
ativamente em educação inclusiva; e, em uma outra escola privada desta
cidade, estagiários de Terapia Ocupacional com a supervisão de seus
professores apóiam a inclusão de alunos nas séries iniciais e finais do Ensino
Fundamental e Ensino Médio.
No Brasil, ainda existe uma grande carência e desvalorização do sistema
escolar público, por isso, se faz preciso encontrar meios e conhecimentos para
efetivar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no
sistema de ensino e de dar condições a escola de realmente ser acreditada na
preparação de sujeitos para a vida na sociedade. Dessa forma, a equipe
escolar pode contar com a prática da Terapia Ocupacional para impulsionar a
construção desses processos.
20
3. DELINEAMENTO DA PESQUISA
3.1. ESCOLHA E DELIMITAÇÃO DO TEMA
Neste trabalho exigido para a finalização do curso de especialização em
Educação Inclusiva, procurei desvendar, neste meio cercado principalmente
por profissionais das áreas da licenciatura e da pedagogia, a prática da Terapia
Ocupacional em suas tantas possibilidades na área da saúde e aqui articulada
a educação.
Esta pesquisa busca elucidar a prática da Terapia Ocupacional e sua
relação com a Educação Inclusiva dentro de uma perspectiva colaborativa e
interdisciplinar e, que apóie a equipe escolar, pais e comunidade na inclusão
de alunos com NEE na escola regular.
3.2. OBJETIVOS
Foram definidos como objetivo geral e objetivos específicos desta
pesquisa os seguintes:
3.2.1.OBJETIVO GERAL
Elucidar como a Terapia Ocupacional pode apoiar a inclusão de alunos
com necessidades educacionais especiais envolvendo famílias e demais
profissionais da educação e da saúde nos processos inclusivos.
3.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1. Analisar como a prática da Terapia Ocupacional se relaciona com
a educação inclusiva;
2. Pontuar as possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional
no contexto da educação inclusiva;
21
3. Identificar os instrumentos utilizados por Terapeutas
Ocupacionais nos processos de inclusão escolar;
4. Identificar como a relação do terapeuta ocupacional com a equipe
escolar e clínica, famílias e a comunidade podem apoiar a inclusão.
3.3. MÉTODO DE PESQUISA
Esta monografia foi realizada tendo como abordagem a pesquisa
qualitativa ou naturalística que, segundo Bodgan e Biklen (apud LÜDKE e
ANDRÉ, 1986), envolve a obtenção de dados descritivos obtidos no contato
direto do pesquisador com a situação estudada, em que se enfatiza mais o
processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos
participantes.
Goldim (2000) também afirma que a pesquisa qualitativa é
essencialmente descritiva e tem como perspectiva principal a visão do
processo. Estas pesquisas têm como características fundamentais a
importância dada ao ambiente e ao papel desempenhado pelo pesquisador.
3.3.1 SOBRE AS ENTREVISTAS
A partir de um primeiro contato, por telefone e e-mail, foram agendadas as
entrevistas com cada uma das profissionais. De acordo com Szymanski et al.
(2004, p. 12),:
Quem entrevista tem informações e procura outras, assim como
aquele que é entrevistado também processa um conjunto de
conhecimentos e pré-conceitos sobre o entrevistador, organizando
suas respostas para aquela situação.
Notamos assim que a entrevista face a face é fundamentalmente uma
situação de interação humana em que estão em jogo as percepções do outro e
de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os
protagonistas: entrevistador e entrevistado. Pode-se afirmar então que existem
vários aspectos subjetivos envolvidos no processo de entrevista.
Como instrumento de pesquisa, a entrevista semi-estruturada se
caracteriza pela ausência de uma imposição rígida de questões onde o
22
entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele
detém e que são a verdadeira razão da entrevista, dizem Lüdke e André (1986)
3.3.2. QUESTÕES NORTEADORAS
As questões norteadoras da entrevista semi-estruturada foram as
seguintes:
1. Como você relacionaria a sua prática clínica com os propósitos e ideais
da educação inclusiva?
2. Quais as possibilidades de atuação que você considera que um
terapeuta ocupacional tenha no contexto da educação inclusiva?
3. Que exemplos de instrumentos um terapeuta ocupacional pode utilizar
para promover e facilitar a inclusão de uma criança/adolescente na escola
regular?
4. Como você considera a interação do terapeuta ocupacional com outros
profissionais da saúde e da educação e com as famílias?
3.3.3. ANÁLISE DE DADOS
A transcrição das entrevistas foi feita de modo a passar a linguagem oral
para a escrita tal como ela se deu, sendo feita apenas uma limpeza dos vícios
de linguagem, mas sem substituição de palavras.
Os resultados das entrevistas foram sustentados pela análise documental
complementando as informações obtidas nas entrevistas e também trouxeram
novos aspectos dos temas discutidos. Para Caulley (apud LÜDKE e ANDRÉ,
1986), a análise documental busca identificar informações factuais nos
documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse.
A análise dos dados qualitativos é um processo complexo que envolve
procedimentos e decisões que não se limitam a um conjunto de regras a serem
seguidas, e envolvem processos de codificação e de formação de categorias
variados, sendo calcados na própria experiência do pesquisador, comentam
Fazenda et al. (2004).
Bardin (apud SZYMANSKI et al. 2004) refere-se à análise de conteúdo
como uma atividade de interpretação que consiste no desvelamento do oculto,
23
do “não-aparente, o potencial de inédito (do não dito), retido por qualquer
mensagem”
3.3.4. SUJEITOS DA PESQUISA
Ao aceitarem participar desta pesquisa, as entrevistadas assinaram um
Termo de Consentimento Informado e seus nomes serão mantidos em sigilo,
sendo identificadas aqui apenas como TO 1 e TO 2.
Os sujeitos dessa pesquisa foram duas terapeutas ocupacionais que
articulam suas práticas à educação inclusiva. A escolha das terapeutas
ocupacionais foi intencional, com base no conhecimento desta pesquisadora
dessas profissionais com as quais já atuou.
Para contextualizar os sujeitos da pesquisa em suas trajetórias, são
apresentados aqui alguns dados sobre a formação das entrevistadas e suas
áreas de atuação atualmente.
A TO 1 graduou-se em 1989 em Terapia Ocupacional e tem
especialização em Estimulação Precoce, em Desenvolvimento Social da
Família e em Psicanálise. É diretora de uma escola inclusiva e atua na clínica
integrada à mesma.
A TO 2 concluiu o curso de Terapia Ocupacional em 1991. Tem
especialização em Desenvolvimento Infantil e em Psicanálise. É mestre em
Educação. Já atuou em duas APAEs, na antiga FEBEM e desenvolve um
trabalho em uma fundação de atendimento à crianças e adolescentes com
deficiências múltiplas. Também é professora do curso de graduação em
Terapia Ocupacional e supervisora de estágio de terapia ocupacional em
educação inclusiva.
A seguir são apresentados os resultados desta pesquisa, provenientes da
análise dos discursos das entrevistas e de análise documental de referencial
teórico.
24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das questões da entrevista semi-estruturada, são destacadas aqui
partes do discurso das terapeutas ocupacionais entrevistadas apoiados por
referencial teórico.
4.1. A RELAÇÃO TERAPIA OCUPACIONAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA
PRÁTICA CLÍNICA
Nesta primeira questão buscou-se identificar como os fundamentos da
Terapia Ocupacional se relacionam com os ideais da educação inclusiva na
prática clínica.
A TO 1 relatou que ao iniciar sua atuação em terapia ocupacional se
frustrava em não poder inserir seus pacientes na escola regular, ressaltando
que não conseguia incluir nem mesmo as crianças pequenas com síndrome de
down na educação infantil. Foi então que ela decidiu em 1990, meio ano após
ter se formado, abrir uma escola inclusiva. Uma escola que trabalhasse com
pequenos grupos e que pudesse possibilitar que todos estivessem em um
processo de aprendizagem. Ela ainda acrescentou:
“Eu acredito muito no potencial das pessoas, que cada uma tem o seu.”
Já a TO 2 fala de dois lugares: de quem clinica e de quem supervisiona
um projeto de estagiários de TO assessorando escolas. Ela relata que pensar
sobre a inclusão, sempre esteve em seu percurso profissional, de formas
diferentes, mas sempre esteve, e:
Tem essa parte da clínica, que a experiência que eu tenho é essa de
preparar uma criança ou um adolescente muito fragilizado
psiquicamente ou motoramente pra iniciar um processo de
socialização que a gente chama de espaço educativo...onde tem TO
trabalhando com as crianças para incluir na escola regular ou na
escola especial.
E trabalhando na parte de supervisão em TO em escola inclusiva,
em estágio...eu estou particularmente um pouco desiludida, pela
experiência que eu tenho de estar em um único lugar e de esse lugar
não se movimentar com o mesmo tesão que a gente tem nas nossas
discussões...
25
Os posicionamentos das duas terapeutas ocupacionais quanto a sua
prática clínica vinculada à inclusão escolar tem como origem os pressupostos
da profissão, sua fundamentação teórica e estruturas de referência.
4.1.1. A TRÍADE PESSOA – OCUPAÇÃO – AMBIENTE: FUNDAMENTOS DA
TERAPIA OCUPACIONAL
A terapia ocupacional tem se voltado historicamente para os
componentes-chave da ocupação humana no que se refere às pessoas que se
engajam numa ocupação num ambiente específico.
De acordo com Hagedorn (2003, p.76) os valores e crenças do modelo
teórico “performance pessoa-ambiente-ocupação” consideram que a ocupação
é uma parte essencial da vida humana, contribuindo para a saúde e o bem
estar e valorizando o indivíduo como singular e importante, respeitando as suas
percepções e desejos. Os aspectos subjetivos da experiência são de
importância fundamental e contribuem para o significado e qualidade de vida
pessoal.
Ainda segundo Hagedorn (2003), o principal objetivo da TO é habilitar as
pessoas a se engajarem na ocupação. Por ocupação entende-se as atividades
de lazer, produtividade e auto-cuidado. Essas têm funções práticas e
econômicas que habilitam as pessoas a se adaptarem às suas necessidades, a
estruturar e a gerenciar seus ambientes. Também são fontes de propósito,
significado, escolha e controle nas vidas humanas. O ambiente tem elementos
culturais, institucionais, físicos e sociais. Esses afetam a natureza e o objetivo
das ocupações. A pessoa é vista como um ser integrado que possui
habilidades cognitivas, físicas e afetivas, além da espiritualidade como
essência de singularidade, que enquanto para umas pessoas é uma visão
religiosa, para outras é uma sensação de significado que é observada como o
direcionamento da força de autodeterminação e escolha.
A pediatria é definida amplamente como o período entre o nascimento e
os 21 anos de idade. A prática da Terapia Ocupacional com esta população,
deve levar em conta as características dos ambientes onde esse indivíduo está
inserido e a sua condição diagnóstica para avaliar os resultados nas áreas de
26
desempenho funcional, conforme Baloueff (apud WILLARD e SPACKMAN,
2002)
4.1.2. OS ESPAÇOS E A IMPORTÂNCIA DE ESTAR INCLUÍDO
Peter Mittler (2000) diz que o processo de trabalhar em direção a uma
sociedade mais inclusiva tem que começar muito antes de a criança ir para a
escola. Precisa estar fundamentada numa sociedade que apóie pais e mães
tanto econômico quanto socialmente para cuidar da família, para criar os filhos;
uma sociedade na qual as crianças são valorizadas e aceitas e dentro da qual
elas possam desenvolver-se. Esse autor afirma que as iniciativas para a
primeira infância devem envolver os serviços de intervenção precoce e que
muitas crianças com deficiência são identificadas precocemente e estão nos
serviços regulares de um tipo ou outro, como grupos de recreação, berçário,
escolas maternais ou classes maternais vinculadas a escolas regulares. Esses
serviços precisam preparar e encaminhar a criança para uma escolarização
inclusiva.
Stainback e Stainback (1999) afirmam que quando existem programas
adequados, a inclusão funciona para todos os alunos com e sem deficiências,
em termos de atitudes positivas, mutuamente desenvolvidas, de ganhos nas
habilidades acadêmicas e sociais e de preparação para a vida na comunidade.
A terapia ocupacional atuando nos processos de capacitação e
preparação do educando para inclusão escolar compreende a habilitação deste
para a autonomia na execução das atividades do cotidiano e a transferência de
soluções para situações em que ocorrem as situações diversas. Para tanto, o
terapeuta ocupacional, dentre suas atribuições, procede à adaptação da tarefa
para as necessidades do indivíduo, considerando o contexto sócio-histórico-
cultural em que este se encontra, para Munguba (apud CAVALCANTI e
GALVÃO 2007)
4.1.3. O GRUPO COMO FATOR MOTIVACIONAL
É pertinente à terapia ocupacional entender os processos grupais e os
fatores envolvidos nas relações entre os membros do grupo.
27
Algumas das fundamentações que norteiam as concepções existentes
sobre grupos são as seguintes, como diz Ballarin (apud CAVALCANTI e
GALVÃO 2007):
- O homem é um ser gregário por natureza e desde seu nascimento
participa de diferentes grupos;
- Um grupo não existe de maneira autônoma e separada da realidade que
se insere;
- Um grupo não é um mero somatório de indivíduos e sim uma nova
entidade que se constitui.
A TO 1 refere sobre este assunto no seguinte trecho:
Vou usar um exemplo bem corriqueiro. Aquilo que as mães das
crianças dizem: Nossa! Como ele come bem na escola! Está no
grupo, o grupo é motivacional sempre. Tem que ser, quando não é a
gente tem que pensar porque que ele não está sendo.
A TO 2 também fala sobre seus pacientes estarem incluídos em um grupo
educativo.
[...] eles estão num espaço dentro da fundação, que é um espaço
que tem como objetivo construir a experiência de grupo. Eram
pacientes que eram atendidos individualmente e evoluíram tanto no
seu desenvolvimento que demandam, estão pedindo grupo [...]
A TO 2 fala em especial de um menino muito comprometido mentalmente,
que segundo ela, não fazia absolutamente nada durante o percurso de dois
anos, além de se morder, ele se feria de arrancar pedaços da boca ou dos
dedos e que hoje freqüenta esse espaço educativo.
[...] ele está muito interessado nas letras, e não é um espaço só para
socialização. É um espaço onde tem uma TO e uma psicopedagoga
que estão trabalhando com ele coisas do pedagógico, poder dizer o
nome das cores, defini-las, letras do nome, do pai e da mãe, fazendo
jogos com conceitos de quantidade... Além de todo esse circuito
social que ele não fazia, foi pro cinema pela primeira vez, foi pro
parque com esse grupo. Tem um cunho de socialização, de
apresentar um novo circuito social que não aquele tradicional que é
sair de casa, ir para clínica, ser atendido pelo TO, pelo fisioterapeuta,
pelo psicólogo, e voltar pra casa, isso que acontece muito. E esse
menino está tendo uma oportunidade de passar por outras
experiências através do espaço educativo [...]
Schwartzberg (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002), afirma que o
ambiente comunitário ou institucional, como no caso das escolas, fornece o
contexto para os relacionamentos individuais e interpessoais. Sendo que o
28
comportamento humano não pode ser compreendido fora desses contextos.
Ainda afirma a autora que cada ambiente possui sua própria missão e filosofia,
valores e hierarquia, os quais influenciam os indivíduos daquela instituição.
Portanto, pertencer a um grupo, como no ambiente escolar é fundamental
para o desenvolvimento das habilidades individuais e interpessoais. Este
também tem influência nas motivações e possibilita vivenciar situações inéditas
relativas ao fazer, possibilitando que a ação tenha um sentido e um significado.
As pessoas com deficiências muitas vezes têm acesso a um número
restrito de espaços, de instituições e com isso pertencem a menos grupos.
Também é papel do terapeuta ocupacional avaliar a participação de pessoas
com NEE em espaços diversos e até em alguns casos de ponderar se a
inserção de determinado indivíduo em um grupo está sendo benéfica
mutuamente ou não.
4.2. ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA ESCOLA
A segunda questão buscou identificar quais são as possibilidades de
atuação de um terapeuta ocupacional no contexto educacional.
A TO 1 relatou que é necessário na prática clínica trabalhar com a família
sensibilizando sistematicamente essa família à condição dessa criança de estar
em sala de aula e fazendo o aporte junto à família com a escola.
A gente divide o aprendizado em vários núcleos eu vou te dizer da
minha atuação nesses vários núcleos: a gente recebe a criança na
clínica, essa criança está ou não colocada na escola. Não basta que
ela esteja simplesmente na escola, a gente vai proporcionar também
a ela que possa estar na escola com um sentido para a família. Eu
acho que a gente da clínica de TO consegue fazer essa outra ponte,
que é a clínica de TO ir para a sala de aula conversar com essa
professora e pra ouvir dela as dificuldades e as facilidades também.
A TO 2 ressalta que existem três bases para pensar a inclusão na escola:
a escola, o aluno e os familiares.
Eu penso que a TO entraria nessas três bases como
assessoramento pra escola. Hoje eu tenho dúvidas se a TO só
assessora ou se intervém e eu acho que em alguns momentos a TO
também teria que intervir pra fazer uma avaliação e pra ter subsídios
suficientes pra fazer um trabalho e sentar com os pais pra conversar
sobre o aluno da escola. São três bases e tem que acontecer juntas,
29
integradas. A escola tem que estar com um projeto, tem que
entender isso, tem que se bancar em relação a isso.
4.2.1. A TRÍADE FAMÍLIA – ALUNO – ESCOLA: BASES PARA
INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL
As famílias constituem a unidade social primária em que as crianças
vivem e recebem cuidados e educação; por conseguinte, elas fornecem a
influência central nas vidas dessas crianças. Conforme afirma Baloueff (apud
WILLARD e SPACKMAN, 2002), a natureza da prática pediátrica focada na
família está ligada à filosofia da terapia ocupacional, que reconhece a
importância de incluir a família no planejamento da intervenção.
Cada família apresenta suas próprias características, determinadas por
seus próprios padrões de relacionamento, cultura, estrutura, ciclo de vida e
fundamentos socioeconômicos (HUMPHRY e CASE-SMITH, 1995; ZEITLIN e
WILLIAMSON, 1994, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002).
Baloueff (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002) afirma que o
desenvolvimento das crianças depende em grande parte de suas experiências
de cuidado e do ambiente social. É um processo de ajuste, resultado de
interações dinâmicas contínuas entre a criança e a experiência oferecida pela
família. O comportamento de uma criança com deficiência severa ou
comprometimento cognitivo desafia os parentes e cuidadores na prestação de
atendimentos e podem tornar problemáticas as atividades diárias, brincadeiras
e interações. A prevenção e o tratamento de uma cadeia desastrosa de
comportamentos são cruciais para o desenvolvimento da criança e
funcionamento familiar.
As famílias de crianças com necessidades especiais enfrentam, além das
pressões e tensões de todas as famílias, questões como demandas físicas e
de tempo, a incerteza sobre a condição e auto-suficiência da criança em sua
fase adulta, a sensação de estigma para a criança e sua família e a falta de
informação e recursos para satisfazer as necessidades da criança e a família.
Todos os pais, na sociedade moderna, dependem de alguma forma de
outros profissionais para atender as questões de cuidado e de educação de
30
seus filhos. Para os pais de crianças com deficiências, essa dependência é
ainda maior.
Para os terapeutas ocupacionais que trabalham em pediatria, o desafio
está em como contribuir melhor com as suas experiências e serviços, de uma
maneira que respeite a integridade da família e que promova a competência e
independência nas crianças e em seus pais, para Baloueff (apud WILLARD &
SPACKMAN, 2002)
Os terapeutas ocupacionais que atuam diretamente em educação
inclusiva, além de trabalharem com a família no que se refere ao apoio ao
aprendizado e participação de seus filhos na escola, também precisam unir-se
à equipe escolar. Dessa forma podem dar suporte à equipe para receber um
aluno com deficiência, envolver a família no contexto escolar, planejar e
desenvolver atividades e ambientes e, recomendar equipamentos e
modificações arquitetônicas e do currículo para permitir o acesso e incluir todos
os alunos.
4.2.2. A FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL: A VISÃO DO
“PACIENTE COMO UM TODO”
A TO 1 relatou que a terapia ocupacional por estar inserida em vários
contextos, tem instrumentos para se articular com as outras áreas
especializadas.
Acho que nós temos uma formação bem ampla e que cada uma de
nós vai buscar a sua área de poder ficar mais miúdo. (...)
Eu acho que a gente tem uma fluidez maior porque nós não estamos
tomados de uma questão só... Para nós funciona muito bem, vermos
o paciente como um todo.
A TO 2 também pondera sobre o mesmo assunto:
O terapeuta ocupacional carrega esse arquétipo, que é meio piada
entre nós, de ver o paciente como um todo e a gente fica
debochando disso, não encontramos uma palavra mais bacana pra
falar sobre isso ainda, ou a gente tem que falar duas horas sobre o
porquê que a gente vê o paciente como um todo. [...] A gente tem o
recurso para construir, tem o conhecimento nem que seja parcial
(tipo pra ele fazer isso eu preciso de uma fisioterapeuta pra me dizer
em qual posição que eu tenho que deixa-lo, pra ele fazer isso eu
preciso de um psicanalista pra me dizer como é que eu tiro ele do
31
colo da mãe...) mas como a gente tem um percurso enorme de
várias disciplinas na faculdade, a gente consegue enxergar, o que
ele precisa, o que ele quer e vai buscar os instrumentos. Eu acho
que é esse o diferencial da TO pros outros cursos, outras disciplinas,
as outras profissões. Porque as outras profissões tem que fazer um
percurso maior fora da faculdade pra conseguir ter esse olhar, por
que tem um olhar muito focal [...].
No capítulo 2 foi apresentado um pouco da história da Terapia
Ocupacional. Incluirei aqui mais algumas informações sobre a história dessa
profissão para identificar a origem do discurso dos TOs de pensarem o
“paciente como um todo”.
Segundo Hagedorn (2003), a terapia ocupacional originou-se nos Estados
Unidos no início do século XX. Este nome foi dado por um arquiteto norte-
americano, George Barton, em 1914. Seus fundadores eram de diferentes
campos de atuação: assistentes sociais, psiquiatras, enfermeiros, médicos e
artesãos. Eles compartilhavam a visão de suas profissões como de importância
vital para a saúde humana e o bem-estar, tendo o potencial de ser um
“curativo” se correta e selecionadamente utilizado. Idéias que eram muito além
para os padrões daquele tempo.
Hagedorn (2003) refere ainda que a grande variedade de conhecimentos
trouxe para a profissão, por meio desses pioneiros, tanto força, quanto
problemas. A herança de idéias e habilidades oriundas da ciência, medicina,
enfermagem, design, artes e humanidades consentiu aos terapeutas possuírem
visão holística da condição humana, mas ao mesmo tempo permitiu a crítica de
ser “muito ampla e não aprofundada” ou “insuficientemente científica”. A
tentativa de combinar o conhecimento redutor biomédico e psicológico e as
perspectivas deterministas com outros conceitos holísticos extraídos das
ciências sociais e das artes criaram uma inconsistência filosófica incorporada,
que tem preocupado a profissão desde então.
Os terapeutas ocupacionais dependeram de fontes externas para a
obtenção de conhecimentos e habilidades. Eles se basearam na compreensão
da anatomia, fisiologia, medicina e psicologia, adquirindo habilidades
selecionadas da prática de professores, artesãos, designers e artistas.
32
A partir da década de 1930, foram sendo estruturadas as definições, os
propósitos práticos e o currículo da profissão. E com o desenvolvimento da
prática, os profissionais começaram a compartilhar idéias e a construir uma
identidade profissional com base nas suas experiências.
Dentre vários rótulos para os conceitos teóricos básicos, Hagedorn (2003)
emprega o termo estrutura primária de referência (EPR) para identificar o
conhecimento emprestado, que é usado na TO com pouca ou nenhuma
alteração. A ciência emprestada envolve as ciências básicas, como anatomia,
psicologia, sociologia, antropologia, medicina e ciências naturais, dispondo da
explicação da função e disfunção e do comportamento humano, fornecendo
bases científicas para justificar a prática. As habilidades emprestadas (que
podem transportar algumas teorias relacionadas) incluem o ensino,
aconselhamento, psicoterapia, algumas técnicas de fisioterapia, artes e
habilidades técnicas.
A síntese desses elementos, associada com a prática específica da
terapia ocupacional, nos modelos e estruturas de referência como no modelo
de performance pessoa-ambiente-ocupação, trazem consigo uma coleção de
idéias, integrando a teoria com a prática (ver 4.1.1).
4.2.3. ANÁLISE CRÍTICA DO CONTEXTO SÓCIO – POLÍTICO –
ECONÔMICO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL
A TO 2 fala de um lugar político do terapeuta ocupacional e refere isso
como base para justificar o posicionamento desse profissional em relação a
esse paradigma da educação e a possibilidade de atuação do TO no
assessoramento da escola quanto à conformidade com a legislação brasileira.
Eu acho que a TO tem um circuito político, nós temos uma formação
política...nós não nos acomodamos, por exemplo nessa luta anti-
manicomial..., a gente vem carregando isso e é por isso que eu acho
que a gente é tão forte nessa discussão, porque inclusão é isso
também [...] é romper com a institucionalização, de ter outros
circuitos sociais, então eu acho que a gente se sai bem nessa
discussão...tem coragem de dizer, por exemplo: - Esse rapaz não se
beneficia mais em estar aqui fazendo o segundo grau, ele se
beneficiaria em estar numa oficina, ainda tem muita coisa pra
aprender [...] E o convencimento da família, e eu acho que a escola
33
não faz isso, pelo menos a escola que eu percorri, as que
supervisionamos e as que fomos convidadas pra palestrar ou pra
conversar.
A TO 2 ainda acrescenta:
Eu acho que o TO, ou qualquer outro profissional poderia estar
ajudando pensando a lei e, fazendo uma avaliação, ajudando a
escola a se embasar teoricamente do que é melhor pra essa criança
e pra esse adolescente, se é estar ali e construir um novo currículo,
construir outros instrumentos.
Esse posicionamento político do terapeuta ocupacional é justificado pela
configuração dos fundamentos da profissão no nosso país.
Até a década de 80, as bases da terapia ocupacional remetiam aos
pressupostos americanos. A partir de então, teve início uma fase de produção
teórica nacional que questionava os antigos modelos, principalmente os norte-
americanos. As questões envolviam a alienação política das práticas
profissionais e a falta de condições concretas para a reabilitação no contexto
sócio-econômico-político brasileiro, conforme Drummond (apud CAVALCANTI
e GALVÃO, 2007)
A crescente insatisfação com o sistema político e econômico vigentes no
país nas décadas de 70 e 80 e o desencadeamento de mais greves operárias,
do movimento pela anistia, do questionamento sobre o autoritarismo, e
inclusive da organização do sistema de saúde, favoreceu um processo de
maior conscientização política e social da prática profissional. A gradativa
inserção do terapeuta ocupacional na atenção primária à saúde, também
implicou uma vivência real da realidade da saúde brasileira. Esses
questionamentos levaram na década de 90 a organização das pessoas com
deficiências e o fortalecimento do movimento de desinstitucionalização na área
de saúde mental, que tiveram como pano de fundo a luta pelos direitos à
cidadania, diz Drummond (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007).
Conclui-se que o terapeuta ocupacional como profissional atuante em
movimentos políticos importantes para a história da atenção à saúde e aos
direitos das pessoas com necessidades especiais, deva também estar
vinculado aos debates e movimentos em prol da educação, na inclusão de
alunos em situações menos favorecidas, sejam essas por deficiência ou
questões sociais e econômicas.
34
4.2.4. OS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL:
DIRETAMENTE NA ESCOLA OU NOS SERVIÇOS DE APOIO
ESPECIALIZADOS NA COMUNIDADE
A TO 2 reflete sobre a prática profissional do ponto de vista desses dois
espaços de atuação, seja na escola ou na clínica.
Acho que a TO dentro das escolas é um componente de equipe, é
perder o potencial da TO fazendo apenas avaliação de alunos, avalia
e passa o diagnóstico, acho que chamar a TO pra dentro da sala de
aula pra só trabalhar com a Tecnologia Assistiva
2
também é perder
potencial. Eu acho que a TO tem recurso pra fazer tudo isso, pra
pensar a Tecnologia Assistiva (...) mas eu acho que a diferença é
essa: nós entramos e pensamos isso tudo de novo, pensamos a
classe, pensamos a direção da classe, pensamos onde o aluno está
sentado, pensamos como a professora chega, pensamos como ele
pega o lápis, como ele puxa a mochila, pensamos como ele
conversa com os outros colegas, pensamos num geral...pensamos
como é oferecido o almoço dele, se pedirem pra uma TO fazer a
avaliação, a TO vai avaliar o dia dele dentro da escola e vai ter como
articular com o dia dele dentro da escola... Se a TO fizesse parte de
uma equipe dentro da secretaria de educação, se eu fosse chamada
pela escola para ver aquele aluno, nós não conseguiríamos fazer
uma avaliação em tudo que contempla a TO e que poderia ajudar o
aluno indo lá e fazendo uma avaliação de horas dele, assistindo ele
numa aula, numa educação física. Nós iríamos precisar
compreender a dinâmica da escola, tu tem que ir passar um tempo
na escola, entender qual é o currículo da escola, entender qual é o
desejo dos professores com relação aos projetos, entender a família
dessa criança, entender a criança, para então poder avaliar e poder
lançar um diagnóstico e um prognóstico.
A Terapia Ocupacional tem como foco a habilidade de uma pessoa em
participar das atividades de vida diária ou de suas ocupações. Nas escolas, os
terapeutas ocupacionais utilizam seus conhecimentos para ajudar as crianças a
estarem preparados e realizarem atividades importantes na vida escolar e para
o aprendizado. Esses profissionais dão suporte para atingir os objetivos
acadêmicos e não acadêmicos incluindo as habilidades sócias, matemáticas,
de leitura e escrita, a participação nos esportes, no recreio, nas habilidades de
auto-cuidado e higiene e na preparação para o trabalho. Podem também
facilitar o acesso às atividades curriculares e extra-curriculares para todos os
alunos através de recursos, apoios, planejamento arquitetônico e outros
2
Tecnologia Assistiva pode ser definida como recursos ou serviços que facilitam ou ampliam a
realização de atividades, promovendo maior independência ao usuário.
Mais informações em 4.3.1
35
métodos. Além disso, também desenvolvem um papel fundamental na relação
com as famílias, com a equipe escolar e com os cuidadores em relação à
educação de alunos com diferentes necessidades (AOTA – ASSOCIAÇÃO
AMERICANA DE TERAPIA OCUPACIONAL, 2006)
E do ponto de vista da atuação da terapia ocupacional nos serviços de
apoio especializados externos à escola, a TO 2 complementa:
Eu acho que fora é um técnico que está trabalhando com aquele
aluno, é um profissional que atende, que clinica um aluno que está
numa escola regular sendo incluído. Então eu acho que é um
compromisso do profissional que atende clinicamente de assessor a
escola, se a escola convoca um profissional pra ir lá, ele tem um
compromisso ético de ir lá. Então ele poderia ir, a escola não
precisaria ter um TO pra fazer isso, se o paciente tem um TO.
O terapeuta ocupacional que atua em uma instituição de atendimento
especializado, em uma clínica ou consultório próprio, precisa estar pensando
para além das habilidades na realização das atividades de vida diária, na
inclusão, desde o encaminhamento de seu paciente para escola até um apoio
no que se refere ao desempenho de atividades escolares. Assim poderá intervir
junto à escola, solicitando encontros e pensando junto com a equipe escolar
sobre a participação ativa e o aprendizado dessa criança. A escola também
deve sentir-se à vontade para contatar esse profissional quando achar
necessário, sendo um compromisso dele comparecer às reuniões quando
solicitado, assim como do cumprimento das responsabilidades previstas no
código de ética profissional aprovado pela resolução COFFITO-10 de 3 de julho
de 1978.
4.2.5. O PAPEL DA TERAPIA OCUPACIONAL NA RENOVAÇÃO DO
DESEJO DO PROFESSOR
O terapeuta ocupacional trabalha essencialmente com pessoas com
necessidades especiais, seja essas de ordem mental, psíquica, física ou social.
Por isso precisa apoiar o professor que inicia agora, com os projetos de
36
inclusão escolar, um trabalho com esses alunos e que muitas vezes já é um
professor queixoso por diversos motivos seja por muitas horas de trabalho,
baixos salários, pouco reconhecimento social, pressões internas e externas,
turmas com um número excessivo de alunos, violência na comunidade, etc.
A TO 2 refere o seguinte envolvendo esse assunto:
[...] temos que pensar que às vezes não são nem os recursos, é um
apoio ao professor que não enxerga mais, não consegue mais ver
nada por que tem que cuidar de 40 [...] tem q pensar no aluno e eu
acho que a TO tem isso, ela se renova, por que escolhemos uma
profissão que sabemos que historicamente vamos trabalhar com a
deficiência... a gente escolheu se frustrar, ter pouquíssimas
expectativas, mas as expectativas que a gente tem são as que nos
renovam o tempo todo, quer dizer a criança levantou o dedinho e a
gente sai batendo palma e contando pra todo mundo, então nós
estamos mais trabalhadas na nossa frustração e ao mesmo tempo
nos satisfazemos mais com pequenos detalhes, que não é da
pedagogia, a escola da pedagogia ainda é uma escola que ensina a
ensinar e que não é um ensinar para a educação popular, um
ensinar para a autonomia, ainda não é. Não estou dizendo que não
tem que aprender a ler e escrever, não é isso, mas ainda se utiliza
de um instrumento único pra ensinar 40 dentro de uma sala de aula.
[...] estamos querendo renovar o desejo do professor pela área que
escolhemos. A gente tem que estar sempre se renovando no desejo
e tentando renovar o desejo do professor também que é um
profissional que se ralou, nunca foi convidado pra fazer grandes
discussões, as leis vieram todas e pouquíssimas vezes vieram pra
serem discutidas [...].
Para os terapeutas ocupacionais, currículos e sua organização, plano de
aula, horários dos professores, reuniões de pais e mestres e outras
particularidades desse contexto ainda são pouco conhecidas. Para que esse
profissional comece a se incluir nesse contexto, ele precisa estar presente
nessa realidade e se comunicar com esse universo. Compreender o educador,
sua forma de ver o mundo. O educador, durante muito tempo, sob a visão
médica da educação especial, não era ouvido. Suas dificuldades e
necessidades, lacunas na sua formação não foram valorizadas, levando ao que
se vê muitas vezes hoje, a inadequação de sua práxis na educação inclusiva.
Aos poucos, o educador vem sendo ouvido e a preocupação em capacitá-
lo é percebida como um movimento mundial. Esse profissional é visto como
detentor de saberes construídos durante sua história de vida.
A subjetividade desse indivíduo é a base para a contribuição da terapia
ocupacional na valorização desses saberes. O terapeuta ocupacional tem em
sua formação a ênfase na harmonia entre esses aspectos devido ao paradigma
37
humanista que constitui a base de seus fundamentos. Tendo como objeto de
estudo o fazer humano, a sua atenção é voltada para a capacidade de
mudança, para a plasticidade das condutas e a motivação para adotar uma
postura reflexiva. Essa visão é decisiva para a sua contribuição na mudança de
perspectiva do educador para que este compreenda o seu fazer na perspectiva
da subjetividade e diversidades próprias e do educando, comenta Munguba
(apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007, p. 523)
4.3. INSTRUMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL PARA PROMOVER A
INCLUSÃO
Nesta questão, a intenção era identificar na prática clínica que tipos de
instrumentos3
os terapeutas ocupacionais podem utilizar para favorecer a
inclusão de alunos com NEE na escola regular. Alguns dos assuntos dispostos
aqui, já apareceram nas questões 4.1 e 4.2 em termos gerais, no entanto serão
mais especificados aqui, para possibilitar identificação de algumas práticas sem
a intenção de esgotá-las nesta questão.
4.3.1. COMO A TERAPIA OCUPACIONAL PODE APOIAR A INCLUSÃO DE
UM ALUNO COM NEE NA ESCOLA
A TO 1 fala sobre alguns instrumentos para promover a inclusão de um
aluno com NEE na escola regular. Ela cita desde uma assessoria na entrada
desse aluno na turma, como apresenta-lo ao grupo e aos professores até a
informação como instrumento, as adaptações no ambiente escolar e a
sensibilização do aluno com NEE.
Sobre o apoio na entrada a de um aluno com NEE na escola e a
efetividade da inclusão:
[[..] podemos oportunizar uma apresentação de um sujeito para essa
escola junto de sua família como forma de quebrar um tabu ou um
preconceito. Se eu vou te apresentar pra escola que vai te acolher
eu posso falar de tudo que tu tem de legal mesmo que num primeiro
3
Aqui a palavra instrumentos é utilizada para designar um conjunto de recursos empregados
para se atingir determinado objetivo ou resultado.
38
momento para a escola o fato de tu não caminhar, de tu não te
comunicar oralmente possa ser desmotivador. Podemos então
pensar em apresentar esse sujeito junto de sua família e depois
favorecer a estada dele em sala de aula. [...].
O terapeuta ocupacional, ao trabalhar como profissional da equipe de
apoio, pode assessorar a escola e o professor para receber um aluno com NEE
e sua família. A intervenção do TO pode ir desde uma avaliação diagnóstica
inicial para conhecer esse aluno, sua família, verificando quais são as suas
necessidades e seus interesses até estratégias para apresentá-lo à equipe
escolar e ao grupo de alunos, de forma que seja bem acolhido por todos. A
partir de então a ação do terapeuta ocupacional poderá ser de um trabalho
junto com o professor, que é o especialista no processo ensino-aprendizagem,
e a equipe para pensar em estratégias e se são necessários recursos para
apoiar as atividades e o desempenho escolar deste aluno.
Sobre a informação como método de trabalho da TO:
[...] as adaptações podem ser favoráveis ao grupo que está vivendo
elas. Porque aí a gente esclarece a necessidade e o preconceito só
se quebra com a clareza de uma situação, quando tu tens
informação. Acho que a informação pode ser um grande método de
trabalho da TO na sala de aula, na escola como um todo. Se tiver
que adaptar um balanço, é bom que todo mundo viva aquele
balanço, pra saber por que o colega não pode ir pro pátio sem
aquela adaptação. Porque tu consegues ter o tronco ereto, mas o
Fulano não consegue, então é importante que a gente dê toda essa
situação aqui de corda, de fita, de velcro para oportunizar [...].
Bartalotti (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) refere que o terapeuta
ocupacional junto à equipe de apoio e em parceria com a escola, desenvolve
projetos que objetivam a sensibilização da comunidade escolar para a
superação de barreiras para a inclusão, principalmente no que se refere aos
preconceitos. Dessa forma, esse profissional possui o embasamento para falar
abertamente e esclarecer de diferentes formas, tanto com a equipe escolar, os
alunos e a família quanto junto à própria criança com NEE. Nesse caso, de
poder sensibilizar o aluno quanto a algumas estratégias que podem beneficiá-lo
na escola, de certa forma conscientizando ele de suas necessidades e
limitações. Como reflete a TO 1 no seguinte trecho:
[...] nós temos as idéias de recursos, mas também de cuidar, se tem
uma questão visual, era melhor que esse aluno sentasse na primeira
classe sempre, então ter cuidado para também sensibilizar esse aluno.
39
Quanto à Tecnologia Assistiva:
[...] Se alguém não vai ficar bem em uma classe convencional e vai
ficar bem numa almofada bem apoiado, eu acho que a gente pode ir
lá e dizer. Isso não vai tirar em nada a qualidade da escola, poder
dar a criança uma outra condição física na sala de aula [...],
oportunizar a entrada desse objeto, deixar que os colegas sentarem
e familiarizar a turma com essa nova situação que está entrando [...].
Tecnologia Assistiva (TA) é uma expressão utilizada para designar um
conjunto de recursos e serviços que contribuem para promover ou ampliar as
habilidades funcionais de pessoas com deficiências e, consequentemente,
promover vida independente e inclusão.
Bersch (MEC/SEESP, 2007, apud DIAS de SÁ, 2006) refere que a
tecnologia assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas
funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades
humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e de
qualidade de vida. Entre as modalidades da TA, pode-se citar os recursos de
comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de atividades de
vida diária, de orientação e mobilidade, de adequação postural, de adaptação
de veículos, órteses e próteses, entre outros.
Na escola, o serviço de tecnologia assistiva buscará resolver as
dificuldades funcionais do aluno, no contexto escolar, buscando alternativas
para que ele participe ativamente e não seja apenas um expectador na
realização das atividades. É importante que o seu próprio jeito de fazer seja
valorizado e que soluções e estratégias criativas sejam encontradas para
aumentar suas capacidades com novas alternativas para a comunicação,
escrita, leitura, brincadeiras, no uso de materiais escolares e pedagógicos,
posicionamento em diferentes espaços, etc.
A adaptação é um ramo da tecnologia assistiva que se define como a
modificação da tarefa, método e meio ambiente, promovendo independência e
função. O ato de adaptar promove ajuste, acomodação e adequação do
indivíduo a uma nova situação.
Profissionais especializados podem avaliar e prescrever o uso de recursos
de tecnologia assistiva. O terapeuta ocupacional, utilizando seus
conhecimentos específicos, faz uma análise da atividade, das habilidades do
aluno e de outros fatores como condições sociais, econômicas e culturais, para
40
indicar e trabalhar junto com o aluno, a equipe escolar, a equipe de apoio e a
família no uso de equipamentos ou estratégias para promover maior
independência e participação ativa.
4.3.2. ANÁLISE DA ATIVIDADE E DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA:
INSTRUMENTOS ESPECÍFICOS DA TERAPIA OCUPACIONAL
A TO 2 relatou alguns exemplos de casos para ilustrar alguns dos
instrumentos mais específicos da Terapia Ocupacional: A análise da atividade
e as Atividades de Vida Diária.
[...] ele é um adolescente que tem um quadro motor e caminha na
ponta dos pés. Ele tem o braço direito fletido, mas ele pega os
objetos com o braço direito. Num dia, ele pega uma caneta com o
braço direito e bate com a caneta na boca. A psicóloga fica olhando
aquela cena e pensa: - ele está na fase oral. E a TO diz pra ele: -
Tudo bem que tu estás brincando com a caneta na boca, mas se tu
quiseres fazer outra coisa com a caneta como, por exemplo,
desenhar como está todo mundo desenhando tu podes passar a
caneta pra outra mão que eu te ajudo. E ele então pega e passa pra
outra mão e ela passa a ajudá-lo. A psicóloga leva essa cena pra
discutir e pra falar da especificidade da TO. A TO analisou, faz uma
interpretação de que embora esteja sendo bacana tocar na boca
com o lápis, se quiser outra coisa eu te ofereço outra coisa...Então
eu acho que a TO na clínica tem isso de a qualquer movimento
oferecer um instrumento...nós colocamos um objeto entre o desejo e
a ação, com muito mais propriedade por que nós fazemos a análise
da atividade [...], um menino com Síndrome de Down estava tendo
problemas colocando a cola no seu trabalho e aí a TO sugere
colocar a cola num potinho e usar um pincel e usar uma quantidade
que ele consiga manipular melhor, não a de apertar a cola e vir
aquela ‘bolotona’ de cola e ele não saber o que fazer...mudaram os
trabalhos do menino, ele ficou muito feliz por que seus trabalhos
ficaram mais bonitos e por que ele tinha domínio sobre a cola, o que
é ridículo de simples, mas a professora não tinha tempo pra pensar
isso. Então esse olhar é da TO [...].
De acordo com a AOTA (American Occupational Therapy Association), o
terapeuta ocupacional é o profissional que, por meio da atividade, oferece ao
sujeito oportunidades para uma ação efetiva. Essas atividades têm um
propósito, uma vez que auxiliam e são construídas sobre as habilidades desse
sujeito.
Ao analisar a atividade, o terapeuta ocupacional pode identificar as áreas
em que são necessárias adaptações e graduações, dependendo da
capacidade funcional do indivíduo. Pode ser considerada no processo de
41
avaliação e no tratamento de terapia ocupacional, podendo ser construída por
observação e por perguntas, para Silva (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007)
Neste próximo exemplo de caso, a TO 2 ilustra a importância da análise
da rotina, das atividades de vida diária para a terapia ocupacional poder
compreender melhor o problema e então buscar alternativas para solucioná-lo:
[...] um menino que chega muito atrasado na escola... É um menino
com paralisia cerebral. E como a escola quer que ele seja
independente, ele tem que carregar a mochila dele pra subir as
escadas. E ele é um menino que consegue subir as escadas sozinho
e consegue carregar sua mochila, só que essa junção: carregar sua
mochila subindo a escada sendo ele PC é tão complicado que ele
entra na sala de aula e já está todo mundo com os livros abertos. E
aí a escola diz: - Nós somos inclusivos, deixamos ele se atrasar, não
o xingamos se ele está atrasado, deixamos ele fazer o seu percurso.
E aí a TO diz, mas não é assim. Primeiro vamos colocar a mochila
de rodinha, vamos diminuir a quantidade de livros, ele tem todos os
livros de todas as aulas dentro da mochila, então trabalha com ele,
trabalha com a família pra que venham só os livros do dia, que ele
peça ajuda pra alguém sim pra subir. As pessoas com algum tipo de
deficiência, seja qual for [...], se tu estás sem óculos tu vais pedir pra
alguém: - Dá pra tu leres pra mim que eu não estou conseguindo?
Um amigo: -Lê aqui o cardápio que eu não estou enxergando. Então
por que uma criança também não pode aprender a encontrar
parceiros que o ajudem? E a TO tem que ter visto tudo isso: a
quantidade da mochila; como é que ele sobe; como é que ele
interage com os outros; o que a professora diz; o que os pais
pensam a respeito disso... A questão não era essa, a questão era
que ele estava sempre atrasado dentro da sala de aula e que eles
eram inclusivos por que respeitavam o tempo do aluno. Uma ova,
eles não respeitavam e nem instrumentalizavam, por que ele
precisava de instrumento melhor qualificado pra chegar junto com os
colegas, sentar, fazer o comentário, se cutucar, aquelas coisas que
antecedem o início das aulas, aquela bagunça, nada disso
acontecia, ele já entrava e a professora já estava dando matéria no
quadro [...].
Um dos instrumentos mais importantes no processo terapêutico
ocupacional é a análise de vida diária. As várias atividades que um indivíduo
desenvolve ao longo de sua vida são consideradas áreas de ocupação chave
da prática da terapia ocupacional.
Mello (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) refere que as atividades de
vida diária e as atividades instrumentais de vida diária constituem um dos
campos de intervenção da terapia ocupacional, assim como a educação, o
trabalho, o brincar, o lazer e a participação social.
As atividades de vida diária (AVD) incluem as atividades relacionadas com
o cuidado do indivíduo com o próprio corpo como, por exemplo, a higiene, a
alimentação, o auto-cuidado, o vestuário, controle dos esfíncteres, mobilidade
42
funcional entre outros. As atividades instrumentais de vida diária (AIVD)
também chamadas de atividades de vida prática (AVP) envolvem atividades
mais complexas, opcionais como, por exemplo, o cuidado com o outro, o
trabalho, o uso de equipamentos, gerenciamento da casa, etc.
O terapeuta ocupacional pode utilizar instrumentos de avaliação das AVD
e AIVD, como a aplicação de testes e escalas padrão para medir o
desempenho funcional e a independência das pessoas.
Existe um modelo de avaliação da função escolar, o SFA (School Function
Assessment) produzido nos Estados Unidos com o objetivo de documentar o
perfil funcional de crianças com diferentes tipos de deficiência que freqüentam
o ensino regular, visando facilitar a comunicação e a colaboração entre
profissionais que lidam com essas crianças no contexto escolar. No entanto,
ainda não foi realizada uma tradução formal ou avaliada a necessidade de
adaptações culturais do conteúdo para a realidade brasileira, conforme Mello
(apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007)
Na escola, o terapeuta ocupacional, através de seus conhecimentos
específicos faz de seus principais instrumentos: as estratégias para o diálogo
com a comunidade escolar; a análise das ações na dinâmica do grupo; a
tecnologia assistiva; a análise das atividades e o trabalho com as atividades de
vida diária e de vida prática.
4.4. A RELAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM A EQUIPE
ESCOLAR, A EQUIPE DE APOIO ESPECIALIZADO E AS FAMÍLIAS
Nesta última questão, as entrevistadas se posicionaram quanto a
importância da relação com a equipe escolar, a equipe de apoio especializado
e as famílias. Nos discursos apareceram a questão da prática da Terapia
Ocupacional nas equipes interdisciplinares e o reconhecimento profissional do
TO; a relação com a equipe escolar e suas queixas; a relação do TO com as
famílias; e a necessidade de encaminhamento para outros profissionais.
43
4.4.1. O TERAPEUTA OCUPACIONAL NAS EQUIPES
INTERDISCIPLINARES
A TO 1 traz no seu relato uma questão referente ao reconhecimento do
papel do terapeuta ocupacional na equipe interdisciplinar.
Este é um assunto que merece atenção. Terapeutas ocupacionais ainda
têm que explicar muitas vezes no dia-a-dia a definição de sua prática
profissional e sua atuação. Na equipe interdisciplinar, o TO mais uma vez tem
que estar claro de sua função e de seus diferenciais, para que haja um
entendimento da especificidade de sua prática e para que assim se assegure a
posição de um TO na equipe.
A TO dos profissionais da área da saúde é o que se tem menos
informação do que exatamente é a sua prática. Às vezes o próprio
TO não tem muita clareza do que ele tem que fazer e de como ele
tem que fazer para favorecer essa interlocução (...) alicerçar a
prática clínica, o discurso interdisciplinar. Eu estou ali na minha
sessão, propondo uma atividade, mas eu vou poder discutir com o
professor se ela vai poder ser válida para a sala de aula ou se ela é
uma situação muito mais singular do que coletiva.
A TO 2 também discorre sobre a articulação do TO nas equipes
interdisciplinares na escola e sobre as dificuldades dessa abordagem.
[...] acho q a TO não é bem aproveitada. Por que ela é um
componente da equipe que deveria estar junto com os professores,
na discussão das turmas, no conselho de classe, o técnico tem que
estar nesses lugares, o técnico que avaliou, no caso o TO tem que
estar nesses lugares, no conselho de classe, na hora de conversar
com os pais. Primeiro por que não se trabalha numa relação
interdisciplinar dentro da escola, é muito difícil, a relação é
multidisciplinar então se um TO tem coisas pra dizer, que sejam ditas
pelo TO pro professor, pra criança, pros pais. E quando o TO entra
pra ser um pouco articulador junto com o professor, eles armam,
acho que uma relação interdisciplinar, fica o professor sendo o
responsável e a TO meio que ajudando ele a pensar. [...] Acho vital,
mas ainda acho que é complicado, que a gente tem que estar
sempre mastigando possibilidades de agregar porque de novo
naquele circuito: os colegas, a família, os professores, todo mundo
vai compor o dia a dia desse sujeito que é o nosso paciente que é o
nosso objetivo maior.
A equipe compreende um conjunto de diferentes especialistas que
possuem formação, treinamentos, valores, opiniões e, por vezes, objetivos
diferentes. Essa se caracteriza pelo envolvimento de cada membro na tarefa e
pelo comprometimento de todos no resultado final.
44
A depender das circunstâncias do local, uma equipe pode ter
configurações, de organização e de interação entre seus membros de
diferentes formas.
Na equipe multidisciplinar, profissionais de diferentes especialidades
trabalham lado a lado, mas cada membro tem funções definidas e áreas
específicas de responsabilidade. Em geral, esses profissionais encontram-se
com as famílias e seus clientes em separado. Na equipe interdisciplinar, os
membros da equipe compartilham as responsabilidades, suas funções e estão
de acordo na tomada de decisões. As avaliações são conduzidas separadas,
mas compartilham os resultados para o desenvolvimento de um plano de
tratamento integrado e coordenado.
Os clientes e as famílias encontram-se com a equipe ou seus
representantes. Já na equipe transdisciplinar, os membros das equipes
responsabilizam-se por ensinar, aprender e trabalhar através dos limites das
especialidades, para planejar e oferecer os serviços integrados. A equipe
assimila as perspectivas dos vários membros da equipe para tomar as
decisões em conjunto, os limites de função tradicionais são transpostos e as
habilidades de outras disciplinas são integradas em um plano de tratamento
total, para Cohn (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002).
Cavalcanti e Galvão (2007) relatam que o terapeuta ocupacional tem
ampliado sua participação como membro integrante de equipes compondo o
quadro de profissionais na área de saúde, de educação, de unidade de
tratamento, de trabalho comunitário, de tecnologia assistiva ou de pesquisa.
Elas ainda afirmam que trabalhar em equipe pode ser uma tarefa difícil quando
esta desconhecer o campo de atuação prática da terapia ocupacional. E que
nesse caso, o profissional deve se posicionar diante dos membros
esclarecendo suas atribuições, competências e habilidades, estabelecendo
colaboração e comunicação.
Nessa relação, de acordo com Parham (1987, apud WILLARD e
SPACKMAN, 2002, p. 739):
Os terapeutas ocupacionais estão preocupados com a compreensão
das ocupações dos seres humanos, os modos pelos quais as
pessoas organizam as atividades que preenchem suas vidas e dão
significado a elas.
45
Em se tratando de ensino inclusivo, Stainback e Stainback (1999)
apontam a importância de três componentes práticos interdependentes: a rede
de apoio – coordenação de equipes e de indivíduos que apóiam uns aos outros
através de conexões formais e informais; a consulta cooperativa e o trabalho
em equipe – indivíduos de várias especialidades trabalhando juntos para
planejar e implementar programas para diferentes alunos em ambientes
integrados; a aprendizagem cooperativa – uma atmosfera de aprendizagem em
que alunos com vários interesses e habilidades possam atingir o seu potencial.
González (1999) ressalta que na educação especial, ao considerar os
sujeitos que esta atende, deveria priorizar alguns âmbitos científicos sobre
outros para poder oferecer respostas para todas as situações educativas que
surgem. E que por isso depende epistemologicamente, em parâmetros
educativos, de ciências que permitam conhecer as causas de determinadas
alterações. Dessa forma, a interdisciplinaridade surge como conceito
necessário para abordar a complexidade e a diversidade das variáveis no
âmbito educativo e concretamente, no da educação especial.
4.4.2. A RELAÇÃO COM A EQUIPE ESCOLAR: APENAS QUEIXAS?
A TO 2 traz uma questão que, segundo ela, é comum na escuta dos
especialistas: a de que os professores usam os encontros, os momentos de
trocas para apenas reclamarem das circunstâncias e de seus alunos.
O que eu acho é que a escola não sabe lidar muito bem com isso, lidar
muito bem com um técnico (...) a escola tem uma tradição pela
experiência que a gente tem de tomar a mesma posição de queixa
quando chega o técnico.
Já a TO 1 fala sobre a importância da relação entre a terapia ocupacional
e os professores e também pondera que essas trocas precisam acontecer não
apenas quando existem questões problemáticas. Ela argumenta que muitas
vezes, o técnico já espera que o relato do professor seja queixoso, mas que
este pode surpreender e até mesmo trazer informações para a prática clínica.
[...] a gente vai usando a experiência clínica para ir trazendo para a
sala de aula algumas proposituras novas, ouvindo o que o professor
tem a dizer sobre isso, algumas coisas funcionam muito bem, outras
precisam ser revistas na mesma proporção que tudo funciona bem
[...], eu recebi esses dias a psicóloga de um aluno que escutou a
professora [...] e, quando a professora saiu da reunião, a psicóloga
46
disse: - Nossa ela não tem queixa dele, ela adora ele! Tem também
na prática clínica achar que o professor é queixoso eternamente.
Não, tu tens que ter um canal aberto para ele te dizer... o que pode
te dar um baita de um estalo para a clínica.
Bartalotti (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) esclarece que no
trabalho em parceria com o educador, o terapeuta ocupacional desenvolve uma
ação que visa a melhor interação professor-aluno com deficiência, entendendo
o fazer do professor também como foco de sua ação. Ela ressalta que não
compete ao TO a elaboração de atividades pedagógicas, de que esse é o
espaço do professor sendo ele o especialista no processo ensino-
aprendizagem. No entanto, pode ser a partir da relação com o terapeuta
ocupacional no resgate de seu fazer específico que o professor irá conseguir
entender como é capaz de trabalhar com a diversidade.
4.4.3. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS NA ESCOLA
INCLUSIVA
Faz parte do processo inclusivo a conscientização dos pais de seu papel
social, para que busquem espaços para seus filhos na escola e na
comunidade. Quando se trata de uma criança com deficiência, a família tem
que se afirmar formando uma consciência crítica sobre as diferenças. Para
isso, precisam compartilhar com a comunidade, a equipe escolar e com a
equipe de apoio, as habilidades, as necessidades, os progressos de seus filhos
e suas expectativas.
Já foi visto na seção 4.2.1. que a tríade família – aluno – escola são as
bases para intervenção da terapia ocupacional no contexto inclusivo.
A iniciativa de desenvolver serviços centrados em torno das necessidades
e valores da família começou em programas para a infância documentados
desde 1912, colocam Mattingly e Lawlor (apud WILLARD e SPACKMAN,
2002). Para que o cuidado centrado na família se efetive é necessário que haja
esforços de colaboração entre os membros da família e terapeutas. Por meio
de equipes multidisciplinares e interdisciplinares são estabelecidas parcerias.
47
A colaboração é bem sucedida quando terapeutas e os membros da
família formam relações que fomentam uma compreensão compartilhada das
necessidades, esperanças, expectativas e contribuições de todos os parceiros,
destacam Lawlor e Cada (1998, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002).
A TO 1 refere a importância da relação com a família na clínica para que a
partir de então a inclusão realmente se efetive e que eles se sintam
pertencentes ao ambiente escolar.
[...] a partir daquele momento da clínica, do vínculo, do
conhecimento dessa criança, tu vai estender essa situação para a
família para que a inclusão na escola se dê de fato. E a família,
responda ao desejo da escola de fazer parte da reunião e não se
esconder, de poder ir lá e fazer uma pergunta, poder expor para os
outros pais as suas dificuldades e poder ouvir dos outros pais que
eles também têm problema como qualquer outra criança de fazer
tema, de querer dormir tarde, de não escovar dente. De poder fazer
com que eles se insiram num discurso que é de todas as famílias
que não é só das crianças deficientes.
4.4.4. COMPREENDENDO A SITUAÇÃO PARA FAZER OS
ENCAMINHAMENTOS
A terapia ocupacional é holística por que compreende o sujeito como um
todo (ver parte 4.2.2).
Ao contrário do modelo médico, que é reducionista e tem como orientação
o problema ou a disfunção, a terapia ocupacional evidencia as capacidades
remanescentes da pessoa maximizando-as e reconhecendo que a qualidade
de vida é um tema essencial para o desempenho humano.
Colocam Willard e Spackman (2002) que a avaliação é um processo de
coleta e interpretação de dados, que envolve o sujeito, a família, os registros
médicos e de outros profissionais e, de pessoas ligadas a esse indivíduo.
Existem vários exames e instrumentos para a avaliação de terapia ocupacional
que buscam focalizar os componentes de desempenho: habilidades ou
subsistemas específicos que afetam a capacidade funcional de uma pessoa.
Esses envolvem as habilidades neuromusculares, habilidades de
processamento, habilidades de comunicação e habilidades de interação. Para
tanto, o TO realiza avaliações clínicas do desempenho sensorial e
48
neuromuscular, da percepção e cognição e das habilidades psicossociais e dos
componentes psicológicos.
Na relação interdisciplinar o terapeuta ocupacional pode ajudar os outros
membros ao compartilhar informações sobre o cliente e aprender sobre ele a
partir das avaliações e exames elaborados por outros.
A TO 2 relata esse entendimento neste trecho:
[...] chega num final de uma avaliação e conseguimos compreender
se o que a criança está passando é uma atrapalhação de cunho
pedagógico, de assimilação ou de conhecimento e aí se encaminha
pra um psicopedagogo ou para um reforço dentro da escola mesmo,
ou se ela está passando por problemas emocionais [...], não é
chamando uma professora de matemática que vai dar conta de
resolver o que a criança ou o adolescente está passando. É um
sintoma. E, se quisermos ajudar esse sujeito de verdade, temos que
tentar trabalhar o sintoma e então, e fazemos um encaminhamento: -
Olha esse sintoma é tratado por um psicanalista ou um psicólogo, ou
esse sintoma tem que ser tratado na família, ou aqui dentro da
escola por que potencializou dentro da escola.
Muitas vezes, é a partir da avaliação e da troca de informações entre a
equipe, que em se tratando do contexto escolar inclusivo, prevê o envolvimento
dos membros da escola e da equipe de apoio, que o terapeuta ocupacional fará
o encaminhamento do aluno para determinado especialista que se apropria das
questões que envolvem esse sujeito e que poderá ajudá-lo no estabelecimento
de objetivos específicos.
49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Realizar esse trabalho ao mesmo tempo em que foi gratificante, foi
também uma tarefa árdua.
Gratificante por lidar com assuntos com os quais me sinto particularmente
apaixonada e por oferecer às crianças com NEE condições de estarem na
escola amparadas por recursos humanos e técnicos qualificados. E por
conseguir finalmente realizar esse registro para poder compartilhá-lo com quem
esteja interessado, em especial estudantes e profissionais da educação e da
rede de apoio especializado.
Uma tarefa árdua, pois o tema escolhido é bastante amplo, mas
pouquíssimo documentado no referencial teórico brasileiro. O que fez com que
o trabalho fosse embasado no referencial teórico encontrado sobre a atuação
da Terapia Ocupacional em Educação Inclusiva, e na maior parte, através de
costuras feitas entre obras dessas áreas para apoiar o depoimento dos sujeitos
da pesquisa.
Também me senti no compromisso de realizar este trabalho com o intuito
de aplacar uma das queixas que permeiam a questão do baixo reconhecimento
da atuação do terapeuta ocupacional nos diferentes settings: a falta de
trabalhos científicos, de documentação da prática para apoiar a expansão
dessa profissão.
No Canadá, a efetividade da terapia ocupacional no contexto escolar foi
documentada através de um estudo de revisão de literatura. Esse estudo
aponta para a importância do trabalho colaborativo entre o TO e o professor, a
importância da estimulação precoce e sugere ainda que a intervenção da
terapia ocupacional contribua com a redução de custos futuros em sistemas de
cuidados de saúde e de serviço social.
Bartalotti (apud CAVALCANTI e GALVÃO 2007) refere que a ação do
terapeuta ocupacional em instituições de educação especial já acontece há
algum tempo e que o novo desafio, é o trabalho junto à escola regular. Para
isso, ele deve se apropriar dos conhecimentos ligados à educação para
possibilitar uma intervenção efetiva na escola conhecendo os processos que
nela se desenvolvem.
50
Minha pretensão, para além deste trabalho, é de que a Terapia
Ocupacional seja inserida no contexto educacional regular para que assim mais
alunos com necessidades educacionais especiais e seus grupos, equipes
escolares e equipes de apoio especializado se beneficiem com esse suporte.
Os depoimentos das terapeutas ocupacionais entrevistadas foram
esclarecedores. O que se conclui é que embora as iniciativas de integrar a
terapia ocupacional e a educação inclusiva sejam isoladas, as possibilidades
de atuação, sejam estas dentro da equipe de apoio na escola ou na clínica em
contato com a escola e a família dos alunos com NEE é uma prática que visa
garantir a efetividade da inclusão. Os fundamentos da terapia ocupacional e os
instrumentos que o profissional utiliza são norteadores de um trabalho que se
constrói de forma integrada entre especialistas, educadores, pais e
comunidade.
Finalizo este trabalho, consciente de que as questões abordadas nele não
se esgotam aqui, e que mais estudos deverão ser desenvolvidos dentro da
nossa realidade apoiando a prática baseada em evidências.
51
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52
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2007.
53
ANEXOS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
PESQUISADORA: DAIANNE SERAFIM MARTINS
A presente pesquisa integra a monografia da Especialização em Educação Inclusiva, Programa de
Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, tendo como professor orientador Dr. Claus Dieter Stobäus.
Esta é uma pesquisa que pretende elucidar como a Terapia Ocupacional pode apoiar a inclusão de
alunos com necessidades educacionais especiais envolvendo famílias e demais profissionais da
educação e da saúde nos processos inclusivos.
A presente investigação visa contribuir para um melhor entendimento do processo de inclusão
escolar e dos serviços de apoio clínico especializados, como o de Terapia Ocupacional, apoiando alunos,
professores e demais profissionais na efetividade deste novo paradigma da educação.
Aqueles que participarem da pesquisa dispensarão vinte minutos para a realização da entrevista
semi-estruturada, em que serão convidados a expressar sua opinião a respeito dos temas já comentados.
As entrevistas serão gravadas em fitas cassetes, que serão posteriormente transcritas e destruídas.
A qualquer momento antes, durante e depois da pesquisa, a pesquisadora estará disponível para
esclarecer qualquer dúvida referente ao estudo e às perguntas realizadas na entrevista. Se o participante
sentir qualquer desconforto ou constrangimento, estará livre para participar ou não da pesquisa, bem
como abandonar o estudo a qualquer momento, sem que seja necessário justificar o motivo e sem que
isso signifique prejuízo para si.
Todas as informações fornecidas pelos participantes, durante a realização das entrevistas, serão
usadas somente para fins de pesquisa, com o mais absoluto sigilo. Os dados de identificação dos
participantes servirão apenas para fins de comunicação entre os pesquisadores e os participantes.
Consentimento:
Eu, _______________________________________________ fui informado (a) dos objetivos da
pesquisa acima de maneira clara e detalhada. Recebi informação a respeito do estudo e esclareci as
minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha
decisão assim que desejar. A pesquisadora Daianne Serafim Martins certificou-me de que todos os dados
dessa pesquisa serão confidenciais, bem como não serão modificados nem terei tratamento diferenciado
em função da pesquisa e terei liberdade de retirar meu consentimento de realização da pesquisa a
qualquer momento.
Declaro que li e concordo com o presente termo de consentimento.
Porto Alegre, ____ de ____________ de 2008.
Nome do participante: ________________________________________
Assinatura: _________________________RG: _____________________
Nome da pesquisadora: Daianne Serafim Martins
Assinatura: _________________________RG: _____________________
Telefones para contato:
Daianne Serafim Martins (51) 92373397
Faculdade de Educação da PUCRS (51) 3320-3620

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A Terapia Ocupacional na Rede de Apoio para a Educação Inclusiva - Monografia

  • 1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL DAIANNE SERAFIM MARTINS A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Porto Alegre, março de 2008
  • 2. 2 DAIANNE SERAFIM MARTINS A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Monografia apresentada para obtenção parcial do título de Especialista em Educação Inclusiva Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS Programa de Pós-Graduação Em Educação Professor Orientador: Dr. Claus Dieter Stobäus Porto Alegre, março de 2008
  • 3. 3 TERMO DE APROVAÇÃO DAIANNE SERAFIM MARTINS A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Educação Inclusiva pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC/RS, examinada pelo avaliador Dr. Claus Dieter Stöbaus. Data de Aprovação: ____/____/____. Profª. Dr. Claus Dieter Stobäus PUC/RS Porto Alegre, março de 2008
  • 4. 4 Dedico este trabalho a minha família por respeitar e apoiar os caminhos que tenho escolhido.
  • 5. 5 Agradeço imensamente a todos que de uma forma ou outra compartilharam comigo os anseios e as aflições na realização deste trabalho. Aos meus professores do curso de graduação em Terapia Ocupacional que me guiaram na busca pelo conhecimento das bases da Terapia Ocupacional. Hoje reconheço e valorizo ainda mais os seus ensinamentos. A equipe interdisciplinar do CEDI, em especial à Rita Bersch, por ter possibilitado que participasse desse grupo e pelo apoio nesta caminhada de aperfeiçoamento profissional. Ao pessoal do CID, escola maravilhosa, a qual muitas deveriam seguir como exemplo, por terem motivado minha busca por conhecer ainda mais sobre a diversidade e minha luta por uma sociedade mais justa e inclusiva. Aos alunos e professores da WOW! Línguas pela convivência semanal e pelo suporte, no período do curso e da finalização desta monografia. Aos meus pais, Severino e Benta, e ao meu irmão Gabriel, por terem compreendido minha ausência durante a realização do curso, nos finais de semana e na produção deste trabalho. Ao Hérlon Höltz por estar sempre ao meu lado, nos momentos alegres e nos difíceis, agradeço pelo seu carinho e compreensão. As colegas do curso de especialização Izabel, Neuza e à Cláudia (que não pôde concluir o curso devido ao seu “projeto mamãe”) que além de dividirem comigo as sextas-feiras à noite e os sábados inteiros, foram parceiras nas discussões, na realização dos trabalhos e nos momentos de descontração.
  • 6. 6 RESUMO O principal objetivo deste trabalho foi o de esclarecer como a Terapia Ocupacional pode apoiar para uma melhor inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular. Para tanto, foram entrevistadas duas terapeutas ocupacionais que relacionam suas práticas clínicas aos propósitos da educação inclusiva. As questões levantadas envolveram a relação da terapia ocupacional com a educação inclusiva e as possibilidades de atuação de um terapeuta ocupacional neste contexto. As entrevistas foram analisadas, divididas em categorias e embasadas em referenciais teóricos, após a análise das respostas comentamos que a terapia ocupacional pode ser utilizada para auxiliar a promover a inclusão de alunos com NEE na escola regular, além de que outros elementos relatados pelos profissionais relacionam temas com a educação e a saúde e com as famílias, que também foram contempladas. Conclui-se que a terapia ocupacional inserida na escola regular pode apoiar a inclusão de alunos com deficiência através da construção de um trabalho interdisciplinar entre a equipe escolar, a equipe de apoio técnico especializado, famílias e comunidade visando garantir a efetividade da inclusão. Palavras Chave: Terapia Ocupacional. Educação Inclusiva. Equipe Interdisciplinar.
  • 7. 7 ABSTRACT The main objective of this paper is to elucidate how Occupational Therapy can support the inclusion of students with special needs in the regular school. To do so, two occupational therapists that relate their clinical practices to the purposes of inclusive education were interviewed. The questions raised involved the relationship between occupational therapy and inclusive education, and the possibilities in the occupational therapist practice in this setting. The tools that an occupational therapist can use to promote the inclusion of students with special needs in the regular school setting and the relationships between this professional and others from education and health areas, and the families were also concerned. The interviews were analyzed, categorized and supported by theoretical references. It was concluded that the occupational therapy in the regular school can support the inclusion of students with disabilities through the building of an interdisciplinary work among the school team, the specialized technical support team, families and community in pursue of the effectiveness of educational inclusion. Keywords: Occupational Therapy. Inclusive Education. Interdisciplinar Team.
  • 8. 8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS TO – Terapia Ocupacional / Terapeuta Ocupacional NEE – Necessidades Educacionais Especiais TA – Tecnologia Assistiva CREFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional AOTA – American Occupational Therapy Association
  • 9. 9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11 2. REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................... 14 2.1. DEFINIÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA TERAPIA OCUPACIONAL............................................................................................ 14 2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA...... 15 2.3. PONTOS CONVERGENTES ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA ............................................................................. 16 2.4. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ....................................................................................................... 18 2.5. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NO BRASIL HOJE .......... 19 3. DELINEAMENTO DA PESQUISA................................................................ 20 3.1. ESCOLHA E DELIMITAÇÃO DO TEMA................................................ 20 3.2. OBJETIVOS........................................................................................... 20 3.2.1.OBJETIVO GERAL .......................................................................... 20 3.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:.......................................................... 20 3.3. MÉTODO DE PESQUISA...................................................................... 21 3.3.1 SOBRE AS ENTREVISTAS............................................................. 21 3.3.2. QUESTÕES NORTEADORAS........................................................ 22 3.3.3. ANÁLISE DE DADOS ..................................................................... 22 3.3.4. SUJEITOS DA PESQUISA ............................................................. 23 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................... 24 4.1. A RELAÇÃO TERAPIA OCUPACIONAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA PRÁTICA CLÍNICA....................................................................................... 24 4.1.1. A TRÍADE PESSOA – OCUPAÇÃO – AMBIENTE: FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL.................................................................. 25 4.1.2. OS ESPAÇOS E A IMPORTÂNCIA DE ESTAR INCLUÍDO ........... 26 4.1.3. O GRUPO COMO FATOR MOTIVACIONAL.................................. 26 4.2. ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA ESCOLA ................ 28 4.2.1. A TRÍADE FAMÍLIA – ALUNO – ESCOLA: BASES PARA INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL....................................... 29 4.2.2. A FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL: A VISÃO DO “PACIENTE COMO UM TODO”................................................................ 30 4.2.3. ANÁLISE CRÍTICA DO CONTEXTO SÓCIO – POLÍTICO – ECONÔMICO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL ..................................................................................................... 32 4.2.4. OS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL: DIRETAMENTE NA ESCOLA OU NOS SERVIÇOS DE APOIO ESPECIALIZADOS NA COMUNIDADE.................................................... 34 4.2.5. O PAPEL DA TERAPIA OCUPACIONAL NA RENOVAÇÃO DO DESEJO DO PROFESSOR...................................................................... 35 4.3. INSTRUMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL PARA PROMOVER A INCLUSÃO ................................................................................................... 37 4.3.1. COMO A TERAPIA OCUPACIONAL PODE APOIAR A INCLUSÃO DE UM ALUNO COM NEE NA ESCOLA .................................................. 37
  • 10. 10 4.3.2. ANÁLISE DA ATIVIDADE E DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA: INSTRUMENTOS ESPECÍFICOS DA TERAPIA OCUPACIONAL ........... 40 4.4. A RELAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM A EQUIPE ESCOLAR, A EQUIPE DE APOIO ESPECIALIZADO E AS FAMÍLIAS........ 42 4.4.1. O TERAPEUTA OCUPACIONAL NAS EQUIPES INTERDISCIPLINARES ............................................................................ 43 4.4.2. A RELAÇÃO COM A EQUIPE ESCOLAR: APENAS QUEIXAS? ... 45 4.4.3. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS NA ESCOLA INCLUSIVA ............................................................................................... 46 4.4.4. COMPREENDENDO A SITUAÇÃO PARA FAZER OS ENCAMINHAMENTOS ............................................................................. 47 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 49 REFERÊNCIAS................................................................................................ 51 ANEXOS .......................................................................................................... 53
  • 11. 11 1. INTRODUÇÃO A tarefa de realizar uma pesquisa requer, do meu ponto de vista, além da identificação com o tema de forma até mesmo passional, a escolha de um assunto que vise responder às inquietações pessoais com o objetivo de gerar conhecimento a ser compartilhado. Dessa forma, vou me remeter à minha trajetória acadêmica e profissional, para poder explicar de onde surgiu a idéia de desenvolver esse trabalho. Sempre tive como idéia de profissão, uma em que pudesse ajudar o outro, que lidasse diretamente com pessoas e que de certa forma envolvesse a interação, através da troca de informações, da conversa e da ação. Também me lembro que desde a infância gostava de ensinar. E, por ter estudado desde pequena a língua inglesa e ter fluência neste idioma, comecei a me dedicar para o ensino de Inglês, no início com aulas particulares e depois em cursos, atividade que realizo desde o segundo ano de faculdade. Esta nova área me encantou e ainda me encanta muito, mas ao mesmo tempo sabia que me identificava também com a área da saúde. Quando tive o primeiro contato com a coordenadora do curso de Terapia Ocupacional, para conhecer mais esta prática, percebi que esta envolvia também as aprendizagens, os interesses e as motivações do outro. Em 2002 entrei para o curso de Terapia Ocupacional (TO) e no mesmo ano comecei a dar aulas de Inglês para as séries iniciais do Ensino Fundamental em uma escola inclusiva de Porto Alegre. Foi lá que, ao conhecer o trabalho com a diversidade, despertei o interesse em aprofundar meus estudos em Educação Inclusiva. Ao concluir a graduação, desenvolvi meu trabalho final com o tema ‘Inclusão Escolar no Ensino de Inglês como Língua Estrangeira’ permeado pelo olhar da terapia ocupacional tanto sobre a
  • 12. 12 participação dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE), quanto na contribuição desta área para a escola. Meu objetivo ao desenvolver essa monografia de conclusão de curso com foi de aprofundar os estudos nesses campos combinados e promover a Terapia Ocupacional entre educadores, estudantes e outros profissionais interessados. A atuação de terapeutas ocupacionais em educação inclusiva ainda é modesta no Brasil atualmente, assim como são escassos os referenciais teóricos produzidos no Brasil sobre a Terapia Ocupacional na Escola. Este trabalho combina o referencial teórico brasileiro disponível e artigos estrangeiros de países como os Estados Unidos e Canadá e traz ainda o depoimento de terapeutas ocupacionais que transitam pela área da inclusão escolar. Esse trabalho visa principalmente discorrer sobre como a Terapia Ocupacional pode apoiar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais. Para tanto, entrevistei duas terapeutas ocupacionais que relacionam suas práticas clínicas aos propósitos da educação inclusiva. Levantei com elas questões sobre a relação da terapia ocupacional com a educação inclusiva e como se dá a atuação de um terapeuta ocupacional neste contexto. Também questionei sobre quais os instrumentos a terapia ocupacional pode utilizar para promover a inclusão de alunos com NEE na escola regular e a respeito da relação do terapeuta ocupacional com as famílias de alunos com NEE e com outros profissionais da saúde e da educação. Esta monografia será organizada em capítulos. No capítulo 2 (dois), intitulado como Apresentação, busco apresentar os conceitos e a contextualização histórica da terapia ocupacional e da educação inclusiva e suas convergências. No capítulo 3 (três) explicito o Delineamento da Pesquisa, apresentando os caminhos metodológicos e instrumentos utilizados na coleta de dados. É também neste capítulo que apresento os sujeitos da pesquisa. A seguir, o capítulo 4 (quatro) compreende a Análise dos Dados obtidos na pesquisa, envolvendo ainda uma reflexão a partir dos referenciais teóricos sobre temas expostos pelas terapeutas ocupacionais que participaram da pesquisa.
  • 13. 13 No capítulo 5 (cinco) e último exponho as Considerações Finais deste trabalho, no qual são retomados os resultados da pesquisa envolvendo uma reflexão final sobre a contribuição da terapia ocupacional nos processos de inclusão escolar e as possibilidades de inserção deste profissional no contexto escolar brasileiro.
  • 14. 14 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. DEFINIÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA TERAPIA OCUPACIONAL A terapia ocupacional tem sua definição profissional revista periodicamente. Uma definição mais recente formulada pelo curso de terapia ocupacional da USP – Universidade de São Paulo, de Cavalcanti e Galvão (2007, p. 3), é a seguinte: É um campo de conhecimento de intervenção em saúde, educação e na esfera social, reunindo tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia das pessoas que, por razões ligadas a problemática específica, físicas, sensoriais, mentais, psicológicas e/ou sociais, apresentam, temporariamente ou definitivamente, dificuldade na inserção e participação na vida social. As intervenções em Terapia Ocupacional dimensionam-se pelo uso da atividade, elemento centralizador e orientador, na construção complexa e contextualizada do processo terapêutico De forma também abrangente, De Carlo e Bartalotti (2001 p.15) definem a Terapia Ocupacional como uma profissão da área da saúde, que tem como objeto de estudo a ação humana, entendida como todo o fazer do homem em sua vida cotidiana, “é através da análise das condições (físicas, psicológicas e sociais) que podem afetar esse fazer que o terapeuta ocupacional intervem, no sentido de ajudar a pessoa a (re) encontrar seu lugar social, como ser ativo, tendo como metas a qualidade de vida e a inclusão social.” A Terapia Ocupacional foi organizada como categorial profissional e como profissão da área da saúde nos Estados Unidos a partir da Primeira Guerra Mundial com os veteranos da guerra. Nesse momento de expansão econômica, devido a pressões sociais por autonomia financeira e pela absorção de pessoas incapacitadas no mercado de trabalho, o foco era a reabilitação física através do uso das atividades ocupacionais. A institucionalização da terapia ocupacional ocorreu nos Estados Unidos entre 1906 e 1938 com a oferta de cursos de formação e com a organização da categoria em 1917 e do registro profissional em 1932.
  • 15. 15 Também desde essa época o tratamento pelas ocupações era utilizado em hospitais psiquiátricos no Brasil, partindo do principio de que a organização do ambiente e das ocupações levava à reorganização do comportamento do doente mental. A terapia ocupacional na reabilitação física foi introduzida a partir de entidades beneficentes da sociedade civil, como a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Sociedades Pestalozzi e centros de reabilitação, com os surtos de mielite e meningite nos anos 1940 e 1950 como fatores decisivos. Em 1969, a profissão foi reconhecida como de nível superior no Brasil. Com os movimentos de desinstitucionalização na década de 90, os pacientes foram deslocados dos grandes hospitais e instituições totais para centros de saúde comunitários e a terapia ocupacional passou a pensar no sujeito e no seu papel na sociedade e por conseqüência na inclusão dessas pessoas no meio social e escolar. Segundo Schwartz (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002, p. 800),: No final dos anos 60 até os anos 80, houve um período de rápidas mudanças na sociedade e na terapia ocupacional. A prática de terapia ocupacional se tornou especializada e começou a se expandir para áreas dos cuidados da saúde, além do hospital. Nos Estados Unidos, a área da pediatria emergiu em grande parte por causa da promulgação do Education of the Handicapped Act (PL 94-142) em 1975. Esta lei forneceu às crianças com incapacidades a terapia necessária para garantir a participação no ambiente escolar, levando os serviços de terapia ocupacional para as escolas públicas. 2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA De acordo com Sassaki (2006), a história da atenção educacional para pessoas com deficiência teve as fases de exclusão, segregação institucional, integração e mais recentemente de inclusão. Na fase de exclusão eram ignoradas pela sociedade ou então perseguidas por serem consideradas como vítimas de espíritos e de feitiçarias. Na fase de segregação eram separadas de suas famílias e da sociedade para viverem confinadas em instituições geralmente religiosas ou filantrópicas. Foi nesse contexto que a educação
  • 16. 16 especial surgiu assim com os centros de reabilitação e as oficinas protegidas de trabalho. Na fase de integração surgiram as classes especiais dentro das escolas comuns, ainda assim as crianças que participavam dessas classes eram selecionadas por meio de testes de inteligência, pois teriam potencial acadêmico. No final da década de 80, o conceito de inclusão surgiu inspirado por uma pequena parte da sociedade em muitos países que começava a lutar para que as pessoas com deficiências pudessem ter participação plena e igualdade de oportunidades. Países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Itália foram os pioneiros na implantação de classes e escolas inclusivas. Houve uma série de ações e encontros internacionais em prol da educação para todos em idade escolar. Dentre essas reuniões destacam-se a Conferência Mundial de Educação para Todos em Jomtiem (Tailândia) em 1990 e a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, em Salamanca (Espanha) em 1994, que contribuíram para impulsionar a Educação Inclusiva em todo o mundo. Neste novo paradigma da educação, Mantoan (2003) afirma que a inclusão implica em uma mudança de perspectiva educacional, já que não atinge apenas alunos com deficiência e aqueles com dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. As escolas inclusivas devem propor um modo de organização do sistema educacional que considere as necessidades de todos os alunos e que seja estruturado em função dessas necessidades. 2.3. PONTOS CONVERGENTES ENTRE A TERAPIA OCUPACIONAL E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A terapia ocupacional acompanhou as mudanças de paradigma em educação à medida que também passou por fases históricas semelhantes, como na fase de segregação nas instituições totais. Nessa época, a visão médica e a equipe multiprofissional estabeleciam as normas para os processos de educação especial, deixando de ouvir o educador como gestor desses processos.
  • 17. 17 Acompanhando os novos paradigmas de educação e pelo estudo do desenvolvimento humano e do processo de aprendizagem e autonomia, a terapia ocupacional pode contribuir ao apoiar a abordagem ao indivíduo com necessidades educacionais especiais, professores e equipe, fundamentando- se na visão sistêmica que considera o ser humano um sistema aberto em permanente inter-relação com o entorno e que gera mudanças constantes. (Munguba in Cavalcanti e Galvão, 2007) Para De Carlo e Bertalotti (2001, p. 112): [...] a Terapia Ocupacional deve se incorporar à discussão sobre educação inclusiva e pensar sua atuação na escola regular, promovendo a inserção das pessoas com deficiência nesse âmbito de sua vida ocupacional. Segundo Dunn (1990, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002, p. 758),: A terapia ocupacional estimula as habilidades que propiciam uma base para o aprendizado, como o desenvolvimento da estabilidade do tronco para sentar em uma cadeira, ou desenvolver habilidades motoras finas para escrever com a caneta. O terapeuta também pode sugerir uma sala e estilo de ensino especiais que possibilitariam que o estudante exibisse um desempenho ótimo. As práticas em Educação, mormente em Educação Especial, requerem métodos e materiais que sejam eficientes para um grupo diverso de alunos. O terapeuta ocupacional pode identificar que existem alguns alunos que necessitam de adaptações, modificações ou apoio extra para aprenderem e participarem das aulas. As intervenções propostas pelo terapeuta ocupacional podem beneficiar o aluno no ambiente de aprendizagem, auxiliando os professores e a equipe a intervirem com o aluno. O terapeuta ocupacional pode, também, favorecer a inclusão de alunos NEEs através do uso da tecnologia assistiva. A intervenção do terapeuta ocupacional na escola de ensino regular tem como objetivo geral aprimorar os processos inclusivos da escola contribuindo para a melhora da qualidade do ensino e aprendizagem envolvendo professores, alunos e equipe técnica.
  • 18. 18 2.4. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ Nos Estados Unidos, terapeutas ocupacionais fazem parte da equipe educacional dentro de cada distrito escolar. Além do contexto escolar, as crianças com necessidades especiais também têm acesso ao atendimento de terapia ocupacional em programas clínicos comunitários. Esses dois tipos de serviços oferecidos podem ter planos de intervenção isolados ou combinados, de forma colaborativa e coordenada através da comunicação entre os profissionais. No contexto escolar, o serviço de terapia ocupacional é garantido por leis federais e estaduais e a necessidade deste serviço é determinada pelo IEP1 . Os atendimentos são oferecidos na escola individualmente ou em pequenos grupos e se referem ao acesso e permanência do aluno com necessidades especiais na escola e ao desempenho ocupacional escolar como, por exemplo, completar independentemente as atividades de aula utilizando instrumentos de escrita adaptados ou se locomover no ambiente escolar, etc. Já os objetivos da terapia ocupacional na modalidade clínica-comunitária envolvem o desempenho funcional da criança em casa e na comunidade como, por exemplo, realizar independentemente atividades de vida diária (AVD’s), como tomar banho, escovar os dentes, vestir-se ou transferir-se da cadeira para cama, etc. O atendimento se dá geralmente de forma individual em clínicas, hospitais, em casa ou na comunidade. No Canadá, a oferta dos serviços de terapia ocupacional para alunos do sistema escolar é uma prática crescente apoiada pelo Programa de Apoio aos Serviços de Saúde Escolar (SHSS). Tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá existe uma crescente demanda por estudos sobre a prática baseada em evidências embasando teoricamente a efetividade da provisão desses serviços. 1 O IEP (Individualized Education Program) consiste num programa educacional individualizado de acordo com as necessidades do aluno. Todo o aluno da educação especial, de 3 a 21 anos, nos EUA deve ter um IEP. Este é organizado e reavaliado periodicamente por uma equipe de professores e outros profissionais em conjunto com a família onde são propostos objetivos do currículo e encaminhamentos para serviços especializados.
  • 19. 19 2.5. A TERAPIA OCUPACIONAL EM ESCOLAS NO BRASIL HOJE Atualmente, no Brasil, pouco se sabe sobre como a escola regular tem se relacionado com os serviços de apoio terapêutico, envolvendo tanto a Terapia Ocupacional quanto outras áreas como a Fisioterapia e a Fonoaudiologia. As possibilidades de atuação se constituem, principalmente, através de parcerias com clínicas privadas e instituições sem fins lucrativos especializadas no atendimento de pessoas com deficiências que oferecem esses serviços. Também a escola ou o terapeuta pode fazer o contato, e esses se articulam em reuniões, nos casos em que o aluno já tem acesso a esse serviço. Nessas relações, a atenção ao aluno com NEE fica geralmente isolada, de forma que é pouco compartilhada entre a escola e o atendimento clínico, ou seja, entre professores e terapeutas, questões pertinentes ao desempenho ocupacional escolar do mesmo sujeito. São de meu conhecimento apenas duas iniciativas da atuação direta da terapia ocupacional na escola: em uma escola privada de Porto Alegre, o atendimento clínico de terapia ocupacional é integrado à escola que atua ativamente em educação inclusiva; e, em uma outra escola privada desta cidade, estagiários de Terapia Ocupacional com a supervisão de seus professores apóiam a inclusão de alunos nas séries iniciais e finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. No Brasil, ainda existe uma grande carência e desvalorização do sistema escolar público, por isso, se faz preciso encontrar meios e conhecimentos para efetivar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais no sistema de ensino e de dar condições a escola de realmente ser acreditada na preparação de sujeitos para a vida na sociedade. Dessa forma, a equipe escolar pode contar com a prática da Terapia Ocupacional para impulsionar a construção desses processos.
  • 20. 20 3. DELINEAMENTO DA PESQUISA 3.1. ESCOLHA E DELIMITAÇÃO DO TEMA Neste trabalho exigido para a finalização do curso de especialização em Educação Inclusiva, procurei desvendar, neste meio cercado principalmente por profissionais das áreas da licenciatura e da pedagogia, a prática da Terapia Ocupacional em suas tantas possibilidades na área da saúde e aqui articulada a educação. Esta pesquisa busca elucidar a prática da Terapia Ocupacional e sua relação com a Educação Inclusiva dentro de uma perspectiva colaborativa e interdisciplinar e, que apóie a equipe escolar, pais e comunidade na inclusão de alunos com NEE na escola regular. 3.2. OBJETIVOS Foram definidos como objetivo geral e objetivos específicos desta pesquisa os seguintes: 3.2.1.OBJETIVO GERAL Elucidar como a Terapia Ocupacional pode apoiar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais envolvendo famílias e demais profissionais da educação e da saúde nos processos inclusivos. 3.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Analisar como a prática da Terapia Ocupacional se relaciona com a educação inclusiva; 2. Pontuar as possibilidades de atuação do terapeuta ocupacional no contexto da educação inclusiva;
  • 21. 21 3. Identificar os instrumentos utilizados por Terapeutas Ocupacionais nos processos de inclusão escolar; 4. Identificar como a relação do terapeuta ocupacional com a equipe escolar e clínica, famílias e a comunidade podem apoiar a inclusão. 3.3. MÉTODO DE PESQUISA Esta monografia foi realizada tendo como abordagem a pesquisa qualitativa ou naturalística que, segundo Bodgan e Biklen (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986), envolve a obtenção de dados descritivos obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, em que se enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Goldim (2000) também afirma que a pesquisa qualitativa é essencialmente descritiva e tem como perspectiva principal a visão do processo. Estas pesquisas têm como características fundamentais a importância dada ao ambiente e ao papel desempenhado pelo pesquisador. 3.3.1 SOBRE AS ENTREVISTAS A partir de um primeiro contato, por telefone e e-mail, foram agendadas as entrevistas com cada uma das profissionais. De acordo com Szymanski et al. (2004, p. 12),: Quem entrevista tem informações e procura outras, assim como aquele que é entrevistado também processa um conjunto de conhecimentos e pré-conceitos sobre o entrevistador, organizando suas respostas para aquela situação. Notamos assim que a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana em que estão em jogo as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado. Pode-se afirmar então que existem vários aspectos subjetivos envolvidos no processo de entrevista. Como instrumento de pesquisa, a entrevista semi-estruturada se caracteriza pela ausência de uma imposição rígida de questões onde o
  • 22. 22 entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que são a verdadeira razão da entrevista, dizem Lüdke e André (1986) 3.3.2. QUESTÕES NORTEADORAS As questões norteadoras da entrevista semi-estruturada foram as seguintes: 1. Como você relacionaria a sua prática clínica com os propósitos e ideais da educação inclusiva? 2. Quais as possibilidades de atuação que você considera que um terapeuta ocupacional tenha no contexto da educação inclusiva? 3. Que exemplos de instrumentos um terapeuta ocupacional pode utilizar para promover e facilitar a inclusão de uma criança/adolescente na escola regular? 4. Como você considera a interação do terapeuta ocupacional com outros profissionais da saúde e da educação e com as famílias? 3.3.3. ANÁLISE DE DADOS A transcrição das entrevistas foi feita de modo a passar a linguagem oral para a escrita tal como ela se deu, sendo feita apenas uma limpeza dos vícios de linguagem, mas sem substituição de palavras. Os resultados das entrevistas foram sustentados pela análise documental complementando as informações obtidas nas entrevistas e também trouxeram novos aspectos dos temas discutidos. Para Caulley (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986), a análise documental busca identificar informações factuais nos documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse. A análise dos dados qualitativos é um processo complexo que envolve procedimentos e decisões que não se limitam a um conjunto de regras a serem seguidas, e envolvem processos de codificação e de formação de categorias variados, sendo calcados na própria experiência do pesquisador, comentam Fazenda et al. (2004). Bardin (apud SZYMANSKI et al. 2004) refere-se à análise de conteúdo como uma atividade de interpretação que consiste no desvelamento do oculto,
  • 23. 23 do “não-aparente, o potencial de inédito (do não dito), retido por qualquer mensagem” 3.3.4. SUJEITOS DA PESQUISA Ao aceitarem participar desta pesquisa, as entrevistadas assinaram um Termo de Consentimento Informado e seus nomes serão mantidos em sigilo, sendo identificadas aqui apenas como TO 1 e TO 2. Os sujeitos dessa pesquisa foram duas terapeutas ocupacionais que articulam suas práticas à educação inclusiva. A escolha das terapeutas ocupacionais foi intencional, com base no conhecimento desta pesquisadora dessas profissionais com as quais já atuou. Para contextualizar os sujeitos da pesquisa em suas trajetórias, são apresentados aqui alguns dados sobre a formação das entrevistadas e suas áreas de atuação atualmente. A TO 1 graduou-se em 1989 em Terapia Ocupacional e tem especialização em Estimulação Precoce, em Desenvolvimento Social da Família e em Psicanálise. É diretora de uma escola inclusiva e atua na clínica integrada à mesma. A TO 2 concluiu o curso de Terapia Ocupacional em 1991. Tem especialização em Desenvolvimento Infantil e em Psicanálise. É mestre em Educação. Já atuou em duas APAEs, na antiga FEBEM e desenvolve um trabalho em uma fundação de atendimento à crianças e adolescentes com deficiências múltiplas. Também é professora do curso de graduação em Terapia Ocupacional e supervisora de estágio de terapia ocupacional em educação inclusiva. A seguir são apresentados os resultados desta pesquisa, provenientes da análise dos discursos das entrevistas e de análise documental de referencial teórico.
  • 24. 24 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir das questões da entrevista semi-estruturada, são destacadas aqui partes do discurso das terapeutas ocupacionais entrevistadas apoiados por referencial teórico. 4.1. A RELAÇÃO TERAPIA OCUPACIONAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA NA PRÁTICA CLÍNICA Nesta primeira questão buscou-se identificar como os fundamentos da Terapia Ocupacional se relacionam com os ideais da educação inclusiva na prática clínica. A TO 1 relatou que ao iniciar sua atuação em terapia ocupacional se frustrava em não poder inserir seus pacientes na escola regular, ressaltando que não conseguia incluir nem mesmo as crianças pequenas com síndrome de down na educação infantil. Foi então que ela decidiu em 1990, meio ano após ter se formado, abrir uma escola inclusiva. Uma escola que trabalhasse com pequenos grupos e que pudesse possibilitar que todos estivessem em um processo de aprendizagem. Ela ainda acrescentou: “Eu acredito muito no potencial das pessoas, que cada uma tem o seu.” Já a TO 2 fala de dois lugares: de quem clinica e de quem supervisiona um projeto de estagiários de TO assessorando escolas. Ela relata que pensar sobre a inclusão, sempre esteve em seu percurso profissional, de formas diferentes, mas sempre esteve, e: Tem essa parte da clínica, que a experiência que eu tenho é essa de preparar uma criança ou um adolescente muito fragilizado psiquicamente ou motoramente pra iniciar um processo de socialização que a gente chama de espaço educativo...onde tem TO trabalhando com as crianças para incluir na escola regular ou na escola especial. E trabalhando na parte de supervisão em TO em escola inclusiva, em estágio...eu estou particularmente um pouco desiludida, pela experiência que eu tenho de estar em um único lugar e de esse lugar não se movimentar com o mesmo tesão que a gente tem nas nossas discussões...
  • 25. 25 Os posicionamentos das duas terapeutas ocupacionais quanto a sua prática clínica vinculada à inclusão escolar tem como origem os pressupostos da profissão, sua fundamentação teórica e estruturas de referência. 4.1.1. A TRÍADE PESSOA – OCUPAÇÃO – AMBIENTE: FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL A terapia ocupacional tem se voltado historicamente para os componentes-chave da ocupação humana no que se refere às pessoas que se engajam numa ocupação num ambiente específico. De acordo com Hagedorn (2003, p.76) os valores e crenças do modelo teórico “performance pessoa-ambiente-ocupação” consideram que a ocupação é uma parte essencial da vida humana, contribuindo para a saúde e o bem estar e valorizando o indivíduo como singular e importante, respeitando as suas percepções e desejos. Os aspectos subjetivos da experiência são de importância fundamental e contribuem para o significado e qualidade de vida pessoal. Ainda segundo Hagedorn (2003), o principal objetivo da TO é habilitar as pessoas a se engajarem na ocupação. Por ocupação entende-se as atividades de lazer, produtividade e auto-cuidado. Essas têm funções práticas e econômicas que habilitam as pessoas a se adaptarem às suas necessidades, a estruturar e a gerenciar seus ambientes. Também são fontes de propósito, significado, escolha e controle nas vidas humanas. O ambiente tem elementos culturais, institucionais, físicos e sociais. Esses afetam a natureza e o objetivo das ocupações. A pessoa é vista como um ser integrado que possui habilidades cognitivas, físicas e afetivas, além da espiritualidade como essência de singularidade, que enquanto para umas pessoas é uma visão religiosa, para outras é uma sensação de significado que é observada como o direcionamento da força de autodeterminação e escolha. A pediatria é definida amplamente como o período entre o nascimento e os 21 anos de idade. A prática da Terapia Ocupacional com esta população, deve levar em conta as características dos ambientes onde esse indivíduo está inserido e a sua condição diagnóstica para avaliar os resultados nas áreas de
  • 26. 26 desempenho funcional, conforme Baloueff (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002) 4.1.2. OS ESPAÇOS E A IMPORTÂNCIA DE ESTAR INCLUÍDO Peter Mittler (2000) diz que o processo de trabalhar em direção a uma sociedade mais inclusiva tem que começar muito antes de a criança ir para a escola. Precisa estar fundamentada numa sociedade que apóie pais e mães tanto econômico quanto socialmente para cuidar da família, para criar os filhos; uma sociedade na qual as crianças são valorizadas e aceitas e dentro da qual elas possam desenvolver-se. Esse autor afirma que as iniciativas para a primeira infância devem envolver os serviços de intervenção precoce e que muitas crianças com deficiência são identificadas precocemente e estão nos serviços regulares de um tipo ou outro, como grupos de recreação, berçário, escolas maternais ou classes maternais vinculadas a escolas regulares. Esses serviços precisam preparar e encaminhar a criança para uma escolarização inclusiva. Stainback e Stainback (1999) afirmam que quando existem programas adequados, a inclusão funciona para todos os alunos com e sem deficiências, em termos de atitudes positivas, mutuamente desenvolvidas, de ganhos nas habilidades acadêmicas e sociais e de preparação para a vida na comunidade. A terapia ocupacional atuando nos processos de capacitação e preparação do educando para inclusão escolar compreende a habilitação deste para a autonomia na execução das atividades do cotidiano e a transferência de soluções para situações em que ocorrem as situações diversas. Para tanto, o terapeuta ocupacional, dentre suas atribuições, procede à adaptação da tarefa para as necessidades do indivíduo, considerando o contexto sócio-histórico- cultural em que este se encontra, para Munguba (apud CAVALCANTI e GALVÃO 2007) 4.1.3. O GRUPO COMO FATOR MOTIVACIONAL É pertinente à terapia ocupacional entender os processos grupais e os fatores envolvidos nas relações entre os membros do grupo.
  • 27. 27 Algumas das fundamentações que norteiam as concepções existentes sobre grupos são as seguintes, como diz Ballarin (apud CAVALCANTI e GALVÃO 2007): - O homem é um ser gregário por natureza e desde seu nascimento participa de diferentes grupos; - Um grupo não existe de maneira autônoma e separada da realidade que se insere; - Um grupo não é um mero somatório de indivíduos e sim uma nova entidade que se constitui. A TO 1 refere sobre este assunto no seguinte trecho: Vou usar um exemplo bem corriqueiro. Aquilo que as mães das crianças dizem: Nossa! Como ele come bem na escola! Está no grupo, o grupo é motivacional sempre. Tem que ser, quando não é a gente tem que pensar porque que ele não está sendo. A TO 2 também fala sobre seus pacientes estarem incluídos em um grupo educativo. [...] eles estão num espaço dentro da fundação, que é um espaço que tem como objetivo construir a experiência de grupo. Eram pacientes que eram atendidos individualmente e evoluíram tanto no seu desenvolvimento que demandam, estão pedindo grupo [...] A TO 2 fala em especial de um menino muito comprometido mentalmente, que segundo ela, não fazia absolutamente nada durante o percurso de dois anos, além de se morder, ele se feria de arrancar pedaços da boca ou dos dedos e que hoje freqüenta esse espaço educativo. [...] ele está muito interessado nas letras, e não é um espaço só para socialização. É um espaço onde tem uma TO e uma psicopedagoga que estão trabalhando com ele coisas do pedagógico, poder dizer o nome das cores, defini-las, letras do nome, do pai e da mãe, fazendo jogos com conceitos de quantidade... Além de todo esse circuito social que ele não fazia, foi pro cinema pela primeira vez, foi pro parque com esse grupo. Tem um cunho de socialização, de apresentar um novo circuito social que não aquele tradicional que é sair de casa, ir para clínica, ser atendido pelo TO, pelo fisioterapeuta, pelo psicólogo, e voltar pra casa, isso que acontece muito. E esse menino está tendo uma oportunidade de passar por outras experiências através do espaço educativo [...] Schwartzberg (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002), afirma que o ambiente comunitário ou institucional, como no caso das escolas, fornece o contexto para os relacionamentos individuais e interpessoais. Sendo que o
  • 28. 28 comportamento humano não pode ser compreendido fora desses contextos. Ainda afirma a autora que cada ambiente possui sua própria missão e filosofia, valores e hierarquia, os quais influenciam os indivíduos daquela instituição. Portanto, pertencer a um grupo, como no ambiente escolar é fundamental para o desenvolvimento das habilidades individuais e interpessoais. Este também tem influência nas motivações e possibilita vivenciar situações inéditas relativas ao fazer, possibilitando que a ação tenha um sentido e um significado. As pessoas com deficiências muitas vezes têm acesso a um número restrito de espaços, de instituições e com isso pertencem a menos grupos. Também é papel do terapeuta ocupacional avaliar a participação de pessoas com NEE em espaços diversos e até em alguns casos de ponderar se a inserção de determinado indivíduo em um grupo está sendo benéfica mutuamente ou não. 4.2. ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL NA ESCOLA A segunda questão buscou identificar quais são as possibilidades de atuação de um terapeuta ocupacional no contexto educacional. A TO 1 relatou que é necessário na prática clínica trabalhar com a família sensibilizando sistematicamente essa família à condição dessa criança de estar em sala de aula e fazendo o aporte junto à família com a escola. A gente divide o aprendizado em vários núcleos eu vou te dizer da minha atuação nesses vários núcleos: a gente recebe a criança na clínica, essa criança está ou não colocada na escola. Não basta que ela esteja simplesmente na escola, a gente vai proporcionar também a ela que possa estar na escola com um sentido para a família. Eu acho que a gente da clínica de TO consegue fazer essa outra ponte, que é a clínica de TO ir para a sala de aula conversar com essa professora e pra ouvir dela as dificuldades e as facilidades também. A TO 2 ressalta que existem três bases para pensar a inclusão na escola: a escola, o aluno e os familiares. Eu penso que a TO entraria nessas três bases como assessoramento pra escola. Hoje eu tenho dúvidas se a TO só assessora ou se intervém e eu acho que em alguns momentos a TO também teria que intervir pra fazer uma avaliação e pra ter subsídios suficientes pra fazer um trabalho e sentar com os pais pra conversar sobre o aluno da escola. São três bases e tem que acontecer juntas,
  • 29. 29 integradas. A escola tem que estar com um projeto, tem que entender isso, tem que se bancar em relação a isso. 4.2.1. A TRÍADE FAMÍLIA – ALUNO – ESCOLA: BASES PARA INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL As famílias constituem a unidade social primária em que as crianças vivem e recebem cuidados e educação; por conseguinte, elas fornecem a influência central nas vidas dessas crianças. Conforme afirma Baloueff (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002), a natureza da prática pediátrica focada na família está ligada à filosofia da terapia ocupacional, que reconhece a importância de incluir a família no planejamento da intervenção. Cada família apresenta suas próprias características, determinadas por seus próprios padrões de relacionamento, cultura, estrutura, ciclo de vida e fundamentos socioeconômicos (HUMPHRY e CASE-SMITH, 1995; ZEITLIN e WILLIAMSON, 1994, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002). Baloueff (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002) afirma que o desenvolvimento das crianças depende em grande parte de suas experiências de cuidado e do ambiente social. É um processo de ajuste, resultado de interações dinâmicas contínuas entre a criança e a experiência oferecida pela família. O comportamento de uma criança com deficiência severa ou comprometimento cognitivo desafia os parentes e cuidadores na prestação de atendimentos e podem tornar problemáticas as atividades diárias, brincadeiras e interações. A prevenção e o tratamento de uma cadeia desastrosa de comportamentos são cruciais para o desenvolvimento da criança e funcionamento familiar. As famílias de crianças com necessidades especiais enfrentam, além das pressões e tensões de todas as famílias, questões como demandas físicas e de tempo, a incerteza sobre a condição e auto-suficiência da criança em sua fase adulta, a sensação de estigma para a criança e sua família e a falta de informação e recursos para satisfazer as necessidades da criança e a família. Todos os pais, na sociedade moderna, dependem de alguma forma de outros profissionais para atender as questões de cuidado e de educação de
  • 30. 30 seus filhos. Para os pais de crianças com deficiências, essa dependência é ainda maior. Para os terapeutas ocupacionais que trabalham em pediatria, o desafio está em como contribuir melhor com as suas experiências e serviços, de uma maneira que respeite a integridade da família e que promova a competência e independência nas crianças e em seus pais, para Baloueff (apud WILLARD & SPACKMAN, 2002) Os terapeutas ocupacionais que atuam diretamente em educação inclusiva, além de trabalharem com a família no que se refere ao apoio ao aprendizado e participação de seus filhos na escola, também precisam unir-se à equipe escolar. Dessa forma podem dar suporte à equipe para receber um aluno com deficiência, envolver a família no contexto escolar, planejar e desenvolver atividades e ambientes e, recomendar equipamentos e modificações arquitetônicas e do currículo para permitir o acesso e incluir todos os alunos. 4.2.2. A FORMAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL: A VISÃO DO “PACIENTE COMO UM TODO” A TO 1 relatou que a terapia ocupacional por estar inserida em vários contextos, tem instrumentos para se articular com as outras áreas especializadas. Acho que nós temos uma formação bem ampla e que cada uma de nós vai buscar a sua área de poder ficar mais miúdo. (...) Eu acho que a gente tem uma fluidez maior porque nós não estamos tomados de uma questão só... Para nós funciona muito bem, vermos o paciente como um todo. A TO 2 também pondera sobre o mesmo assunto: O terapeuta ocupacional carrega esse arquétipo, que é meio piada entre nós, de ver o paciente como um todo e a gente fica debochando disso, não encontramos uma palavra mais bacana pra falar sobre isso ainda, ou a gente tem que falar duas horas sobre o porquê que a gente vê o paciente como um todo. [...] A gente tem o recurso para construir, tem o conhecimento nem que seja parcial (tipo pra ele fazer isso eu preciso de uma fisioterapeuta pra me dizer em qual posição que eu tenho que deixa-lo, pra ele fazer isso eu preciso de um psicanalista pra me dizer como é que eu tiro ele do
  • 31. 31 colo da mãe...) mas como a gente tem um percurso enorme de várias disciplinas na faculdade, a gente consegue enxergar, o que ele precisa, o que ele quer e vai buscar os instrumentos. Eu acho que é esse o diferencial da TO pros outros cursos, outras disciplinas, as outras profissões. Porque as outras profissões tem que fazer um percurso maior fora da faculdade pra conseguir ter esse olhar, por que tem um olhar muito focal [...]. No capítulo 2 foi apresentado um pouco da história da Terapia Ocupacional. Incluirei aqui mais algumas informações sobre a história dessa profissão para identificar a origem do discurso dos TOs de pensarem o “paciente como um todo”. Segundo Hagedorn (2003), a terapia ocupacional originou-se nos Estados Unidos no início do século XX. Este nome foi dado por um arquiteto norte- americano, George Barton, em 1914. Seus fundadores eram de diferentes campos de atuação: assistentes sociais, psiquiatras, enfermeiros, médicos e artesãos. Eles compartilhavam a visão de suas profissões como de importância vital para a saúde humana e o bem-estar, tendo o potencial de ser um “curativo” se correta e selecionadamente utilizado. Idéias que eram muito além para os padrões daquele tempo. Hagedorn (2003) refere ainda que a grande variedade de conhecimentos trouxe para a profissão, por meio desses pioneiros, tanto força, quanto problemas. A herança de idéias e habilidades oriundas da ciência, medicina, enfermagem, design, artes e humanidades consentiu aos terapeutas possuírem visão holística da condição humana, mas ao mesmo tempo permitiu a crítica de ser “muito ampla e não aprofundada” ou “insuficientemente científica”. A tentativa de combinar o conhecimento redutor biomédico e psicológico e as perspectivas deterministas com outros conceitos holísticos extraídos das ciências sociais e das artes criaram uma inconsistência filosófica incorporada, que tem preocupado a profissão desde então. Os terapeutas ocupacionais dependeram de fontes externas para a obtenção de conhecimentos e habilidades. Eles se basearam na compreensão da anatomia, fisiologia, medicina e psicologia, adquirindo habilidades selecionadas da prática de professores, artesãos, designers e artistas.
  • 32. 32 A partir da década de 1930, foram sendo estruturadas as definições, os propósitos práticos e o currículo da profissão. E com o desenvolvimento da prática, os profissionais começaram a compartilhar idéias e a construir uma identidade profissional com base nas suas experiências. Dentre vários rótulos para os conceitos teóricos básicos, Hagedorn (2003) emprega o termo estrutura primária de referência (EPR) para identificar o conhecimento emprestado, que é usado na TO com pouca ou nenhuma alteração. A ciência emprestada envolve as ciências básicas, como anatomia, psicologia, sociologia, antropologia, medicina e ciências naturais, dispondo da explicação da função e disfunção e do comportamento humano, fornecendo bases científicas para justificar a prática. As habilidades emprestadas (que podem transportar algumas teorias relacionadas) incluem o ensino, aconselhamento, psicoterapia, algumas técnicas de fisioterapia, artes e habilidades técnicas. A síntese desses elementos, associada com a prática específica da terapia ocupacional, nos modelos e estruturas de referência como no modelo de performance pessoa-ambiente-ocupação, trazem consigo uma coleção de idéias, integrando a teoria com a prática (ver 4.1.1). 4.2.3. ANÁLISE CRÍTICA DO CONTEXTO SÓCIO – POLÍTICO – ECONÔMICO: FUNDAMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL A TO 2 fala de um lugar político do terapeuta ocupacional e refere isso como base para justificar o posicionamento desse profissional em relação a esse paradigma da educação e a possibilidade de atuação do TO no assessoramento da escola quanto à conformidade com a legislação brasileira. Eu acho que a TO tem um circuito político, nós temos uma formação política...nós não nos acomodamos, por exemplo nessa luta anti- manicomial..., a gente vem carregando isso e é por isso que eu acho que a gente é tão forte nessa discussão, porque inclusão é isso também [...] é romper com a institucionalização, de ter outros circuitos sociais, então eu acho que a gente se sai bem nessa discussão...tem coragem de dizer, por exemplo: - Esse rapaz não se beneficia mais em estar aqui fazendo o segundo grau, ele se beneficiaria em estar numa oficina, ainda tem muita coisa pra aprender [...] E o convencimento da família, e eu acho que a escola
  • 33. 33 não faz isso, pelo menos a escola que eu percorri, as que supervisionamos e as que fomos convidadas pra palestrar ou pra conversar. A TO 2 ainda acrescenta: Eu acho que o TO, ou qualquer outro profissional poderia estar ajudando pensando a lei e, fazendo uma avaliação, ajudando a escola a se embasar teoricamente do que é melhor pra essa criança e pra esse adolescente, se é estar ali e construir um novo currículo, construir outros instrumentos. Esse posicionamento político do terapeuta ocupacional é justificado pela configuração dos fundamentos da profissão no nosso país. Até a década de 80, as bases da terapia ocupacional remetiam aos pressupostos americanos. A partir de então, teve início uma fase de produção teórica nacional que questionava os antigos modelos, principalmente os norte- americanos. As questões envolviam a alienação política das práticas profissionais e a falta de condições concretas para a reabilitação no contexto sócio-econômico-político brasileiro, conforme Drummond (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) A crescente insatisfação com o sistema político e econômico vigentes no país nas décadas de 70 e 80 e o desencadeamento de mais greves operárias, do movimento pela anistia, do questionamento sobre o autoritarismo, e inclusive da organização do sistema de saúde, favoreceu um processo de maior conscientização política e social da prática profissional. A gradativa inserção do terapeuta ocupacional na atenção primária à saúde, também implicou uma vivência real da realidade da saúde brasileira. Esses questionamentos levaram na década de 90 a organização das pessoas com deficiências e o fortalecimento do movimento de desinstitucionalização na área de saúde mental, que tiveram como pano de fundo a luta pelos direitos à cidadania, diz Drummond (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007). Conclui-se que o terapeuta ocupacional como profissional atuante em movimentos políticos importantes para a história da atenção à saúde e aos direitos das pessoas com necessidades especiais, deva também estar vinculado aos debates e movimentos em prol da educação, na inclusão de alunos em situações menos favorecidas, sejam essas por deficiência ou questões sociais e econômicas.
  • 34. 34 4.2.4. OS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL: DIRETAMENTE NA ESCOLA OU NOS SERVIÇOS DE APOIO ESPECIALIZADOS NA COMUNIDADE A TO 2 reflete sobre a prática profissional do ponto de vista desses dois espaços de atuação, seja na escola ou na clínica. Acho que a TO dentro das escolas é um componente de equipe, é perder o potencial da TO fazendo apenas avaliação de alunos, avalia e passa o diagnóstico, acho que chamar a TO pra dentro da sala de aula pra só trabalhar com a Tecnologia Assistiva 2 também é perder potencial. Eu acho que a TO tem recurso pra fazer tudo isso, pra pensar a Tecnologia Assistiva (...) mas eu acho que a diferença é essa: nós entramos e pensamos isso tudo de novo, pensamos a classe, pensamos a direção da classe, pensamos onde o aluno está sentado, pensamos como a professora chega, pensamos como ele pega o lápis, como ele puxa a mochila, pensamos como ele conversa com os outros colegas, pensamos num geral...pensamos como é oferecido o almoço dele, se pedirem pra uma TO fazer a avaliação, a TO vai avaliar o dia dele dentro da escola e vai ter como articular com o dia dele dentro da escola... Se a TO fizesse parte de uma equipe dentro da secretaria de educação, se eu fosse chamada pela escola para ver aquele aluno, nós não conseguiríamos fazer uma avaliação em tudo que contempla a TO e que poderia ajudar o aluno indo lá e fazendo uma avaliação de horas dele, assistindo ele numa aula, numa educação física. Nós iríamos precisar compreender a dinâmica da escola, tu tem que ir passar um tempo na escola, entender qual é o currículo da escola, entender qual é o desejo dos professores com relação aos projetos, entender a família dessa criança, entender a criança, para então poder avaliar e poder lançar um diagnóstico e um prognóstico. A Terapia Ocupacional tem como foco a habilidade de uma pessoa em participar das atividades de vida diária ou de suas ocupações. Nas escolas, os terapeutas ocupacionais utilizam seus conhecimentos para ajudar as crianças a estarem preparados e realizarem atividades importantes na vida escolar e para o aprendizado. Esses profissionais dão suporte para atingir os objetivos acadêmicos e não acadêmicos incluindo as habilidades sócias, matemáticas, de leitura e escrita, a participação nos esportes, no recreio, nas habilidades de auto-cuidado e higiene e na preparação para o trabalho. Podem também facilitar o acesso às atividades curriculares e extra-curriculares para todos os alunos através de recursos, apoios, planejamento arquitetônico e outros 2 Tecnologia Assistiva pode ser definida como recursos ou serviços que facilitam ou ampliam a realização de atividades, promovendo maior independência ao usuário. Mais informações em 4.3.1
  • 35. 35 métodos. Além disso, também desenvolvem um papel fundamental na relação com as famílias, com a equipe escolar e com os cuidadores em relação à educação de alunos com diferentes necessidades (AOTA – ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE TERAPIA OCUPACIONAL, 2006) E do ponto de vista da atuação da terapia ocupacional nos serviços de apoio especializados externos à escola, a TO 2 complementa: Eu acho que fora é um técnico que está trabalhando com aquele aluno, é um profissional que atende, que clinica um aluno que está numa escola regular sendo incluído. Então eu acho que é um compromisso do profissional que atende clinicamente de assessor a escola, se a escola convoca um profissional pra ir lá, ele tem um compromisso ético de ir lá. Então ele poderia ir, a escola não precisaria ter um TO pra fazer isso, se o paciente tem um TO. O terapeuta ocupacional que atua em uma instituição de atendimento especializado, em uma clínica ou consultório próprio, precisa estar pensando para além das habilidades na realização das atividades de vida diária, na inclusão, desde o encaminhamento de seu paciente para escola até um apoio no que se refere ao desempenho de atividades escolares. Assim poderá intervir junto à escola, solicitando encontros e pensando junto com a equipe escolar sobre a participação ativa e o aprendizado dessa criança. A escola também deve sentir-se à vontade para contatar esse profissional quando achar necessário, sendo um compromisso dele comparecer às reuniões quando solicitado, assim como do cumprimento das responsabilidades previstas no código de ética profissional aprovado pela resolução COFFITO-10 de 3 de julho de 1978. 4.2.5. O PAPEL DA TERAPIA OCUPACIONAL NA RENOVAÇÃO DO DESEJO DO PROFESSOR O terapeuta ocupacional trabalha essencialmente com pessoas com necessidades especiais, seja essas de ordem mental, psíquica, física ou social. Por isso precisa apoiar o professor que inicia agora, com os projetos de
  • 36. 36 inclusão escolar, um trabalho com esses alunos e que muitas vezes já é um professor queixoso por diversos motivos seja por muitas horas de trabalho, baixos salários, pouco reconhecimento social, pressões internas e externas, turmas com um número excessivo de alunos, violência na comunidade, etc. A TO 2 refere o seguinte envolvendo esse assunto: [...] temos que pensar que às vezes não são nem os recursos, é um apoio ao professor que não enxerga mais, não consegue mais ver nada por que tem que cuidar de 40 [...] tem q pensar no aluno e eu acho que a TO tem isso, ela se renova, por que escolhemos uma profissão que sabemos que historicamente vamos trabalhar com a deficiência... a gente escolheu se frustrar, ter pouquíssimas expectativas, mas as expectativas que a gente tem são as que nos renovam o tempo todo, quer dizer a criança levantou o dedinho e a gente sai batendo palma e contando pra todo mundo, então nós estamos mais trabalhadas na nossa frustração e ao mesmo tempo nos satisfazemos mais com pequenos detalhes, que não é da pedagogia, a escola da pedagogia ainda é uma escola que ensina a ensinar e que não é um ensinar para a educação popular, um ensinar para a autonomia, ainda não é. Não estou dizendo que não tem que aprender a ler e escrever, não é isso, mas ainda se utiliza de um instrumento único pra ensinar 40 dentro de uma sala de aula. [...] estamos querendo renovar o desejo do professor pela área que escolhemos. A gente tem que estar sempre se renovando no desejo e tentando renovar o desejo do professor também que é um profissional que se ralou, nunca foi convidado pra fazer grandes discussões, as leis vieram todas e pouquíssimas vezes vieram pra serem discutidas [...]. Para os terapeutas ocupacionais, currículos e sua organização, plano de aula, horários dos professores, reuniões de pais e mestres e outras particularidades desse contexto ainda são pouco conhecidas. Para que esse profissional comece a se incluir nesse contexto, ele precisa estar presente nessa realidade e se comunicar com esse universo. Compreender o educador, sua forma de ver o mundo. O educador, durante muito tempo, sob a visão médica da educação especial, não era ouvido. Suas dificuldades e necessidades, lacunas na sua formação não foram valorizadas, levando ao que se vê muitas vezes hoje, a inadequação de sua práxis na educação inclusiva. Aos poucos, o educador vem sendo ouvido e a preocupação em capacitá- lo é percebida como um movimento mundial. Esse profissional é visto como detentor de saberes construídos durante sua história de vida. A subjetividade desse indivíduo é a base para a contribuição da terapia ocupacional na valorização desses saberes. O terapeuta ocupacional tem em sua formação a ênfase na harmonia entre esses aspectos devido ao paradigma
  • 37. 37 humanista que constitui a base de seus fundamentos. Tendo como objeto de estudo o fazer humano, a sua atenção é voltada para a capacidade de mudança, para a plasticidade das condutas e a motivação para adotar uma postura reflexiva. Essa visão é decisiva para a sua contribuição na mudança de perspectiva do educador para que este compreenda o seu fazer na perspectiva da subjetividade e diversidades próprias e do educando, comenta Munguba (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007, p. 523) 4.3. INSTRUMENTOS DA TERAPIA OCUPACIONAL PARA PROMOVER A INCLUSÃO Nesta questão, a intenção era identificar na prática clínica que tipos de instrumentos3 os terapeutas ocupacionais podem utilizar para favorecer a inclusão de alunos com NEE na escola regular. Alguns dos assuntos dispostos aqui, já apareceram nas questões 4.1 e 4.2 em termos gerais, no entanto serão mais especificados aqui, para possibilitar identificação de algumas práticas sem a intenção de esgotá-las nesta questão. 4.3.1. COMO A TERAPIA OCUPACIONAL PODE APOIAR A INCLUSÃO DE UM ALUNO COM NEE NA ESCOLA A TO 1 fala sobre alguns instrumentos para promover a inclusão de um aluno com NEE na escola regular. Ela cita desde uma assessoria na entrada desse aluno na turma, como apresenta-lo ao grupo e aos professores até a informação como instrumento, as adaptações no ambiente escolar e a sensibilização do aluno com NEE. Sobre o apoio na entrada a de um aluno com NEE na escola e a efetividade da inclusão: [[..] podemos oportunizar uma apresentação de um sujeito para essa escola junto de sua família como forma de quebrar um tabu ou um preconceito. Se eu vou te apresentar pra escola que vai te acolher eu posso falar de tudo que tu tem de legal mesmo que num primeiro 3 Aqui a palavra instrumentos é utilizada para designar um conjunto de recursos empregados para se atingir determinado objetivo ou resultado.
  • 38. 38 momento para a escola o fato de tu não caminhar, de tu não te comunicar oralmente possa ser desmotivador. Podemos então pensar em apresentar esse sujeito junto de sua família e depois favorecer a estada dele em sala de aula. [...]. O terapeuta ocupacional, ao trabalhar como profissional da equipe de apoio, pode assessorar a escola e o professor para receber um aluno com NEE e sua família. A intervenção do TO pode ir desde uma avaliação diagnóstica inicial para conhecer esse aluno, sua família, verificando quais são as suas necessidades e seus interesses até estratégias para apresentá-lo à equipe escolar e ao grupo de alunos, de forma que seja bem acolhido por todos. A partir de então a ação do terapeuta ocupacional poderá ser de um trabalho junto com o professor, que é o especialista no processo ensino-aprendizagem, e a equipe para pensar em estratégias e se são necessários recursos para apoiar as atividades e o desempenho escolar deste aluno. Sobre a informação como método de trabalho da TO: [...] as adaptações podem ser favoráveis ao grupo que está vivendo elas. Porque aí a gente esclarece a necessidade e o preconceito só se quebra com a clareza de uma situação, quando tu tens informação. Acho que a informação pode ser um grande método de trabalho da TO na sala de aula, na escola como um todo. Se tiver que adaptar um balanço, é bom que todo mundo viva aquele balanço, pra saber por que o colega não pode ir pro pátio sem aquela adaptação. Porque tu consegues ter o tronco ereto, mas o Fulano não consegue, então é importante que a gente dê toda essa situação aqui de corda, de fita, de velcro para oportunizar [...]. Bartalotti (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) refere que o terapeuta ocupacional junto à equipe de apoio e em parceria com a escola, desenvolve projetos que objetivam a sensibilização da comunidade escolar para a superação de barreiras para a inclusão, principalmente no que se refere aos preconceitos. Dessa forma, esse profissional possui o embasamento para falar abertamente e esclarecer de diferentes formas, tanto com a equipe escolar, os alunos e a família quanto junto à própria criança com NEE. Nesse caso, de poder sensibilizar o aluno quanto a algumas estratégias que podem beneficiá-lo na escola, de certa forma conscientizando ele de suas necessidades e limitações. Como reflete a TO 1 no seguinte trecho: [...] nós temos as idéias de recursos, mas também de cuidar, se tem uma questão visual, era melhor que esse aluno sentasse na primeira classe sempre, então ter cuidado para também sensibilizar esse aluno.
  • 39. 39 Quanto à Tecnologia Assistiva: [...] Se alguém não vai ficar bem em uma classe convencional e vai ficar bem numa almofada bem apoiado, eu acho que a gente pode ir lá e dizer. Isso não vai tirar em nada a qualidade da escola, poder dar a criança uma outra condição física na sala de aula [...], oportunizar a entrada desse objeto, deixar que os colegas sentarem e familiarizar a turma com essa nova situação que está entrando [...]. Tecnologia Assistiva (TA) é uma expressão utilizada para designar um conjunto de recursos e serviços que contribuem para promover ou ampliar as habilidades funcionais de pessoas com deficiências e, consequentemente, promover vida independente e inclusão. Bersch (MEC/SEESP, 2007, apud DIAS de SÁ, 2006) refere que a tecnologia assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma perspectiva de desenvolvimento das potencialidades humanas, valorização de desejos, habilidades, expectativas positivas e de qualidade de vida. Entre as modalidades da TA, pode-se citar os recursos de comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de atividades de vida diária, de orientação e mobilidade, de adequação postural, de adaptação de veículos, órteses e próteses, entre outros. Na escola, o serviço de tecnologia assistiva buscará resolver as dificuldades funcionais do aluno, no contexto escolar, buscando alternativas para que ele participe ativamente e não seja apenas um expectador na realização das atividades. É importante que o seu próprio jeito de fazer seja valorizado e que soluções e estratégias criativas sejam encontradas para aumentar suas capacidades com novas alternativas para a comunicação, escrita, leitura, brincadeiras, no uso de materiais escolares e pedagógicos, posicionamento em diferentes espaços, etc. A adaptação é um ramo da tecnologia assistiva que se define como a modificação da tarefa, método e meio ambiente, promovendo independência e função. O ato de adaptar promove ajuste, acomodação e adequação do indivíduo a uma nova situação. Profissionais especializados podem avaliar e prescrever o uso de recursos de tecnologia assistiva. O terapeuta ocupacional, utilizando seus conhecimentos específicos, faz uma análise da atividade, das habilidades do aluno e de outros fatores como condições sociais, econômicas e culturais, para
  • 40. 40 indicar e trabalhar junto com o aluno, a equipe escolar, a equipe de apoio e a família no uso de equipamentos ou estratégias para promover maior independência e participação ativa. 4.3.2. ANÁLISE DA ATIVIDADE E DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA: INSTRUMENTOS ESPECÍFICOS DA TERAPIA OCUPACIONAL A TO 2 relatou alguns exemplos de casos para ilustrar alguns dos instrumentos mais específicos da Terapia Ocupacional: A análise da atividade e as Atividades de Vida Diária. [...] ele é um adolescente que tem um quadro motor e caminha na ponta dos pés. Ele tem o braço direito fletido, mas ele pega os objetos com o braço direito. Num dia, ele pega uma caneta com o braço direito e bate com a caneta na boca. A psicóloga fica olhando aquela cena e pensa: - ele está na fase oral. E a TO diz pra ele: - Tudo bem que tu estás brincando com a caneta na boca, mas se tu quiseres fazer outra coisa com a caneta como, por exemplo, desenhar como está todo mundo desenhando tu podes passar a caneta pra outra mão que eu te ajudo. E ele então pega e passa pra outra mão e ela passa a ajudá-lo. A psicóloga leva essa cena pra discutir e pra falar da especificidade da TO. A TO analisou, faz uma interpretação de que embora esteja sendo bacana tocar na boca com o lápis, se quiser outra coisa eu te ofereço outra coisa...Então eu acho que a TO na clínica tem isso de a qualquer movimento oferecer um instrumento...nós colocamos um objeto entre o desejo e a ação, com muito mais propriedade por que nós fazemos a análise da atividade [...], um menino com Síndrome de Down estava tendo problemas colocando a cola no seu trabalho e aí a TO sugere colocar a cola num potinho e usar um pincel e usar uma quantidade que ele consiga manipular melhor, não a de apertar a cola e vir aquela ‘bolotona’ de cola e ele não saber o que fazer...mudaram os trabalhos do menino, ele ficou muito feliz por que seus trabalhos ficaram mais bonitos e por que ele tinha domínio sobre a cola, o que é ridículo de simples, mas a professora não tinha tempo pra pensar isso. Então esse olhar é da TO [...]. De acordo com a AOTA (American Occupational Therapy Association), o terapeuta ocupacional é o profissional que, por meio da atividade, oferece ao sujeito oportunidades para uma ação efetiva. Essas atividades têm um propósito, uma vez que auxiliam e são construídas sobre as habilidades desse sujeito. Ao analisar a atividade, o terapeuta ocupacional pode identificar as áreas em que são necessárias adaptações e graduações, dependendo da capacidade funcional do indivíduo. Pode ser considerada no processo de
  • 41. 41 avaliação e no tratamento de terapia ocupacional, podendo ser construída por observação e por perguntas, para Silva (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) Neste próximo exemplo de caso, a TO 2 ilustra a importância da análise da rotina, das atividades de vida diária para a terapia ocupacional poder compreender melhor o problema e então buscar alternativas para solucioná-lo: [...] um menino que chega muito atrasado na escola... É um menino com paralisia cerebral. E como a escola quer que ele seja independente, ele tem que carregar a mochila dele pra subir as escadas. E ele é um menino que consegue subir as escadas sozinho e consegue carregar sua mochila, só que essa junção: carregar sua mochila subindo a escada sendo ele PC é tão complicado que ele entra na sala de aula e já está todo mundo com os livros abertos. E aí a escola diz: - Nós somos inclusivos, deixamos ele se atrasar, não o xingamos se ele está atrasado, deixamos ele fazer o seu percurso. E aí a TO diz, mas não é assim. Primeiro vamos colocar a mochila de rodinha, vamos diminuir a quantidade de livros, ele tem todos os livros de todas as aulas dentro da mochila, então trabalha com ele, trabalha com a família pra que venham só os livros do dia, que ele peça ajuda pra alguém sim pra subir. As pessoas com algum tipo de deficiência, seja qual for [...], se tu estás sem óculos tu vais pedir pra alguém: - Dá pra tu leres pra mim que eu não estou conseguindo? Um amigo: -Lê aqui o cardápio que eu não estou enxergando. Então por que uma criança também não pode aprender a encontrar parceiros que o ajudem? E a TO tem que ter visto tudo isso: a quantidade da mochila; como é que ele sobe; como é que ele interage com os outros; o que a professora diz; o que os pais pensam a respeito disso... A questão não era essa, a questão era que ele estava sempre atrasado dentro da sala de aula e que eles eram inclusivos por que respeitavam o tempo do aluno. Uma ova, eles não respeitavam e nem instrumentalizavam, por que ele precisava de instrumento melhor qualificado pra chegar junto com os colegas, sentar, fazer o comentário, se cutucar, aquelas coisas que antecedem o início das aulas, aquela bagunça, nada disso acontecia, ele já entrava e a professora já estava dando matéria no quadro [...]. Um dos instrumentos mais importantes no processo terapêutico ocupacional é a análise de vida diária. As várias atividades que um indivíduo desenvolve ao longo de sua vida são consideradas áreas de ocupação chave da prática da terapia ocupacional. Mello (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) refere que as atividades de vida diária e as atividades instrumentais de vida diária constituem um dos campos de intervenção da terapia ocupacional, assim como a educação, o trabalho, o brincar, o lazer e a participação social. As atividades de vida diária (AVD) incluem as atividades relacionadas com o cuidado do indivíduo com o próprio corpo como, por exemplo, a higiene, a alimentação, o auto-cuidado, o vestuário, controle dos esfíncteres, mobilidade
  • 42. 42 funcional entre outros. As atividades instrumentais de vida diária (AIVD) também chamadas de atividades de vida prática (AVP) envolvem atividades mais complexas, opcionais como, por exemplo, o cuidado com o outro, o trabalho, o uso de equipamentos, gerenciamento da casa, etc. O terapeuta ocupacional pode utilizar instrumentos de avaliação das AVD e AIVD, como a aplicação de testes e escalas padrão para medir o desempenho funcional e a independência das pessoas. Existe um modelo de avaliação da função escolar, o SFA (School Function Assessment) produzido nos Estados Unidos com o objetivo de documentar o perfil funcional de crianças com diferentes tipos de deficiência que freqüentam o ensino regular, visando facilitar a comunicação e a colaboração entre profissionais que lidam com essas crianças no contexto escolar. No entanto, ainda não foi realizada uma tradução formal ou avaliada a necessidade de adaptações culturais do conteúdo para a realidade brasileira, conforme Mello (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) Na escola, o terapeuta ocupacional, através de seus conhecimentos específicos faz de seus principais instrumentos: as estratégias para o diálogo com a comunidade escolar; a análise das ações na dinâmica do grupo; a tecnologia assistiva; a análise das atividades e o trabalho com as atividades de vida diária e de vida prática. 4.4. A RELAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM A EQUIPE ESCOLAR, A EQUIPE DE APOIO ESPECIALIZADO E AS FAMÍLIAS Nesta última questão, as entrevistadas se posicionaram quanto a importância da relação com a equipe escolar, a equipe de apoio especializado e as famílias. Nos discursos apareceram a questão da prática da Terapia Ocupacional nas equipes interdisciplinares e o reconhecimento profissional do TO; a relação com a equipe escolar e suas queixas; a relação do TO com as famílias; e a necessidade de encaminhamento para outros profissionais.
  • 43. 43 4.4.1. O TERAPEUTA OCUPACIONAL NAS EQUIPES INTERDISCIPLINARES A TO 1 traz no seu relato uma questão referente ao reconhecimento do papel do terapeuta ocupacional na equipe interdisciplinar. Este é um assunto que merece atenção. Terapeutas ocupacionais ainda têm que explicar muitas vezes no dia-a-dia a definição de sua prática profissional e sua atuação. Na equipe interdisciplinar, o TO mais uma vez tem que estar claro de sua função e de seus diferenciais, para que haja um entendimento da especificidade de sua prática e para que assim se assegure a posição de um TO na equipe. A TO dos profissionais da área da saúde é o que se tem menos informação do que exatamente é a sua prática. Às vezes o próprio TO não tem muita clareza do que ele tem que fazer e de como ele tem que fazer para favorecer essa interlocução (...) alicerçar a prática clínica, o discurso interdisciplinar. Eu estou ali na minha sessão, propondo uma atividade, mas eu vou poder discutir com o professor se ela vai poder ser válida para a sala de aula ou se ela é uma situação muito mais singular do que coletiva. A TO 2 também discorre sobre a articulação do TO nas equipes interdisciplinares na escola e sobre as dificuldades dessa abordagem. [...] acho q a TO não é bem aproveitada. Por que ela é um componente da equipe que deveria estar junto com os professores, na discussão das turmas, no conselho de classe, o técnico tem que estar nesses lugares, o técnico que avaliou, no caso o TO tem que estar nesses lugares, no conselho de classe, na hora de conversar com os pais. Primeiro por que não se trabalha numa relação interdisciplinar dentro da escola, é muito difícil, a relação é multidisciplinar então se um TO tem coisas pra dizer, que sejam ditas pelo TO pro professor, pra criança, pros pais. E quando o TO entra pra ser um pouco articulador junto com o professor, eles armam, acho que uma relação interdisciplinar, fica o professor sendo o responsável e a TO meio que ajudando ele a pensar. [...] Acho vital, mas ainda acho que é complicado, que a gente tem que estar sempre mastigando possibilidades de agregar porque de novo naquele circuito: os colegas, a família, os professores, todo mundo vai compor o dia a dia desse sujeito que é o nosso paciente que é o nosso objetivo maior. A equipe compreende um conjunto de diferentes especialistas que possuem formação, treinamentos, valores, opiniões e, por vezes, objetivos diferentes. Essa se caracteriza pelo envolvimento de cada membro na tarefa e pelo comprometimento de todos no resultado final.
  • 44. 44 A depender das circunstâncias do local, uma equipe pode ter configurações, de organização e de interação entre seus membros de diferentes formas. Na equipe multidisciplinar, profissionais de diferentes especialidades trabalham lado a lado, mas cada membro tem funções definidas e áreas específicas de responsabilidade. Em geral, esses profissionais encontram-se com as famílias e seus clientes em separado. Na equipe interdisciplinar, os membros da equipe compartilham as responsabilidades, suas funções e estão de acordo na tomada de decisões. As avaliações são conduzidas separadas, mas compartilham os resultados para o desenvolvimento de um plano de tratamento integrado e coordenado. Os clientes e as famílias encontram-se com a equipe ou seus representantes. Já na equipe transdisciplinar, os membros das equipes responsabilizam-se por ensinar, aprender e trabalhar através dos limites das especialidades, para planejar e oferecer os serviços integrados. A equipe assimila as perspectivas dos vários membros da equipe para tomar as decisões em conjunto, os limites de função tradicionais são transpostos e as habilidades de outras disciplinas são integradas em um plano de tratamento total, para Cohn (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002). Cavalcanti e Galvão (2007) relatam que o terapeuta ocupacional tem ampliado sua participação como membro integrante de equipes compondo o quadro de profissionais na área de saúde, de educação, de unidade de tratamento, de trabalho comunitário, de tecnologia assistiva ou de pesquisa. Elas ainda afirmam que trabalhar em equipe pode ser uma tarefa difícil quando esta desconhecer o campo de atuação prática da terapia ocupacional. E que nesse caso, o profissional deve se posicionar diante dos membros esclarecendo suas atribuições, competências e habilidades, estabelecendo colaboração e comunicação. Nessa relação, de acordo com Parham (1987, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002, p. 739): Os terapeutas ocupacionais estão preocupados com a compreensão das ocupações dos seres humanos, os modos pelos quais as pessoas organizam as atividades que preenchem suas vidas e dão significado a elas.
  • 45. 45 Em se tratando de ensino inclusivo, Stainback e Stainback (1999) apontam a importância de três componentes práticos interdependentes: a rede de apoio – coordenação de equipes e de indivíduos que apóiam uns aos outros através de conexões formais e informais; a consulta cooperativa e o trabalho em equipe – indivíduos de várias especialidades trabalhando juntos para planejar e implementar programas para diferentes alunos em ambientes integrados; a aprendizagem cooperativa – uma atmosfera de aprendizagem em que alunos com vários interesses e habilidades possam atingir o seu potencial. González (1999) ressalta que na educação especial, ao considerar os sujeitos que esta atende, deveria priorizar alguns âmbitos científicos sobre outros para poder oferecer respostas para todas as situações educativas que surgem. E que por isso depende epistemologicamente, em parâmetros educativos, de ciências que permitam conhecer as causas de determinadas alterações. Dessa forma, a interdisciplinaridade surge como conceito necessário para abordar a complexidade e a diversidade das variáveis no âmbito educativo e concretamente, no da educação especial. 4.4.2. A RELAÇÃO COM A EQUIPE ESCOLAR: APENAS QUEIXAS? A TO 2 traz uma questão que, segundo ela, é comum na escuta dos especialistas: a de que os professores usam os encontros, os momentos de trocas para apenas reclamarem das circunstâncias e de seus alunos. O que eu acho é que a escola não sabe lidar muito bem com isso, lidar muito bem com um técnico (...) a escola tem uma tradição pela experiência que a gente tem de tomar a mesma posição de queixa quando chega o técnico. Já a TO 1 fala sobre a importância da relação entre a terapia ocupacional e os professores e também pondera que essas trocas precisam acontecer não apenas quando existem questões problemáticas. Ela argumenta que muitas vezes, o técnico já espera que o relato do professor seja queixoso, mas que este pode surpreender e até mesmo trazer informações para a prática clínica. [...] a gente vai usando a experiência clínica para ir trazendo para a sala de aula algumas proposituras novas, ouvindo o que o professor tem a dizer sobre isso, algumas coisas funcionam muito bem, outras precisam ser revistas na mesma proporção que tudo funciona bem [...], eu recebi esses dias a psicóloga de um aluno que escutou a professora [...] e, quando a professora saiu da reunião, a psicóloga
  • 46. 46 disse: - Nossa ela não tem queixa dele, ela adora ele! Tem também na prática clínica achar que o professor é queixoso eternamente. Não, tu tens que ter um canal aberto para ele te dizer... o que pode te dar um baita de um estalo para a clínica. Bartalotti (apud CAVALCANTI e GALVÃO, 2007) esclarece que no trabalho em parceria com o educador, o terapeuta ocupacional desenvolve uma ação que visa a melhor interação professor-aluno com deficiência, entendendo o fazer do professor também como foco de sua ação. Ela ressalta que não compete ao TO a elaboração de atividades pedagógicas, de que esse é o espaço do professor sendo ele o especialista no processo ensino- aprendizagem. No entanto, pode ser a partir da relação com o terapeuta ocupacional no resgate de seu fazer específico que o professor irá conseguir entender como é capaz de trabalhar com a diversidade. 4.4.3. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO COM AS FAMÍLIAS NA ESCOLA INCLUSIVA Faz parte do processo inclusivo a conscientização dos pais de seu papel social, para que busquem espaços para seus filhos na escola e na comunidade. Quando se trata de uma criança com deficiência, a família tem que se afirmar formando uma consciência crítica sobre as diferenças. Para isso, precisam compartilhar com a comunidade, a equipe escolar e com a equipe de apoio, as habilidades, as necessidades, os progressos de seus filhos e suas expectativas. Já foi visto na seção 4.2.1. que a tríade família – aluno – escola são as bases para intervenção da terapia ocupacional no contexto inclusivo. A iniciativa de desenvolver serviços centrados em torno das necessidades e valores da família começou em programas para a infância documentados desde 1912, colocam Mattingly e Lawlor (apud WILLARD e SPACKMAN, 2002). Para que o cuidado centrado na família se efetive é necessário que haja esforços de colaboração entre os membros da família e terapeutas. Por meio de equipes multidisciplinares e interdisciplinares são estabelecidas parcerias.
  • 47. 47 A colaboração é bem sucedida quando terapeutas e os membros da família formam relações que fomentam uma compreensão compartilhada das necessidades, esperanças, expectativas e contribuições de todos os parceiros, destacam Lawlor e Cada (1998, apud WILLARD e SPACKMAN, 2002). A TO 1 refere a importância da relação com a família na clínica para que a partir de então a inclusão realmente se efetive e que eles se sintam pertencentes ao ambiente escolar. [...] a partir daquele momento da clínica, do vínculo, do conhecimento dessa criança, tu vai estender essa situação para a família para que a inclusão na escola se dê de fato. E a família, responda ao desejo da escola de fazer parte da reunião e não se esconder, de poder ir lá e fazer uma pergunta, poder expor para os outros pais as suas dificuldades e poder ouvir dos outros pais que eles também têm problema como qualquer outra criança de fazer tema, de querer dormir tarde, de não escovar dente. De poder fazer com que eles se insiram num discurso que é de todas as famílias que não é só das crianças deficientes. 4.4.4. COMPREENDENDO A SITUAÇÃO PARA FAZER OS ENCAMINHAMENTOS A terapia ocupacional é holística por que compreende o sujeito como um todo (ver parte 4.2.2). Ao contrário do modelo médico, que é reducionista e tem como orientação o problema ou a disfunção, a terapia ocupacional evidencia as capacidades remanescentes da pessoa maximizando-as e reconhecendo que a qualidade de vida é um tema essencial para o desempenho humano. Colocam Willard e Spackman (2002) que a avaliação é um processo de coleta e interpretação de dados, que envolve o sujeito, a família, os registros médicos e de outros profissionais e, de pessoas ligadas a esse indivíduo. Existem vários exames e instrumentos para a avaliação de terapia ocupacional que buscam focalizar os componentes de desempenho: habilidades ou subsistemas específicos que afetam a capacidade funcional de uma pessoa. Esses envolvem as habilidades neuromusculares, habilidades de processamento, habilidades de comunicação e habilidades de interação. Para tanto, o TO realiza avaliações clínicas do desempenho sensorial e
  • 48. 48 neuromuscular, da percepção e cognição e das habilidades psicossociais e dos componentes psicológicos. Na relação interdisciplinar o terapeuta ocupacional pode ajudar os outros membros ao compartilhar informações sobre o cliente e aprender sobre ele a partir das avaliações e exames elaborados por outros. A TO 2 relata esse entendimento neste trecho: [...] chega num final de uma avaliação e conseguimos compreender se o que a criança está passando é uma atrapalhação de cunho pedagógico, de assimilação ou de conhecimento e aí se encaminha pra um psicopedagogo ou para um reforço dentro da escola mesmo, ou se ela está passando por problemas emocionais [...], não é chamando uma professora de matemática que vai dar conta de resolver o que a criança ou o adolescente está passando. É um sintoma. E, se quisermos ajudar esse sujeito de verdade, temos que tentar trabalhar o sintoma e então, e fazemos um encaminhamento: - Olha esse sintoma é tratado por um psicanalista ou um psicólogo, ou esse sintoma tem que ser tratado na família, ou aqui dentro da escola por que potencializou dentro da escola. Muitas vezes, é a partir da avaliação e da troca de informações entre a equipe, que em se tratando do contexto escolar inclusivo, prevê o envolvimento dos membros da escola e da equipe de apoio, que o terapeuta ocupacional fará o encaminhamento do aluno para determinado especialista que se apropria das questões que envolvem esse sujeito e que poderá ajudá-lo no estabelecimento de objetivos específicos.
  • 49. 49 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Realizar esse trabalho ao mesmo tempo em que foi gratificante, foi também uma tarefa árdua. Gratificante por lidar com assuntos com os quais me sinto particularmente apaixonada e por oferecer às crianças com NEE condições de estarem na escola amparadas por recursos humanos e técnicos qualificados. E por conseguir finalmente realizar esse registro para poder compartilhá-lo com quem esteja interessado, em especial estudantes e profissionais da educação e da rede de apoio especializado. Uma tarefa árdua, pois o tema escolhido é bastante amplo, mas pouquíssimo documentado no referencial teórico brasileiro. O que fez com que o trabalho fosse embasado no referencial teórico encontrado sobre a atuação da Terapia Ocupacional em Educação Inclusiva, e na maior parte, através de costuras feitas entre obras dessas áreas para apoiar o depoimento dos sujeitos da pesquisa. Também me senti no compromisso de realizar este trabalho com o intuito de aplacar uma das queixas que permeiam a questão do baixo reconhecimento da atuação do terapeuta ocupacional nos diferentes settings: a falta de trabalhos científicos, de documentação da prática para apoiar a expansão dessa profissão. No Canadá, a efetividade da terapia ocupacional no contexto escolar foi documentada através de um estudo de revisão de literatura. Esse estudo aponta para a importância do trabalho colaborativo entre o TO e o professor, a importância da estimulação precoce e sugere ainda que a intervenção da terapia ocupacional contribua com a redução de custos futuros em sistemas de cuidados de saúde e de serviço social. Bartalotti (apud CAVALCANTI e GALVÃO 2007) refere que a ação do terapeuta ocupacional em instituições de educação especial já acontece há algum tempo e que o novo desafio, é o trabalho junto à escola regular. Para isso, ele deve se apropriar dos conhecimentos ligados à educação para possibilitar uma intervenção efetiva na escola conhecendo os processos que nela se desenvolvem.
  • 50. 50 Minha pretensão, para além deste trabalho, é de que a Terapia Ocupacional seja inserida no contexto educacional regular para que assim mais alunos com necessidades educacionais especiais e seus grupos, equipes escolares e equipes de apoio especializado se beneficiem com esse suporte. Os depoimentos das terapeutas ocupacionais entrevistadas foram esclarecedores. O que se conclui é que embora as iniciativas de integrar a terapia ocupacional e a educação inclusiva sejam isoladas, as possibilidades de atuação, sejam estas dentro da equipe de apoio na escola ou na clínica em contato com a escola e a família dos alunos com NEE é uma prática que visa garantir a efetividade da inclusão. Os fundamentos da terapia ocupacional e os instrumentos que o profissional utiliza são norteadores de um trabalho que se constrói de forma integrada entre especialistas, educadores, pais e comunidade. Finalizo este trabalho, consciente de que as questões abordadas nele não se esgotam aqui, e que mais estudos deverão ser desenvolvidos dentro da nossa realidade apoiando a prática baseada em evidências.
  • 51. 51 REFERÊNCIAS BARDIN, Lawrence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. CAVALCANTI, A; GALVÃO, C. Terapia Ocupacional: Fundamentação & Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL- 5ª REGIÃO. Leis e Atos Normativos das Profissões do Fisioterapeuta e do Terapeuta Ocupacional. 3. ed. Porto Alegre: 2004. DE CARLO, M. R.; BARTALOTTI, C.C. Terapia Ocupacional no Brasil: Fundamentos e Perspectivas. São Paulo: Editora Plexus, 2001. FAZENDA, I. et al. Metodologia da Pesquisa Social. São Paulo, Cortez, 2004. FONSECA, V. Educação Especial: programa de estimulação precoce – uma introdução às idéias de Feuerstein. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1995. GOLDIM, J. R. Manual de Iniciação à Pesquisa em Saúde. 2. ed. Porto Alegre: Dacasa, 2000. GONZÁLEZ, J. Educação e Diversidade: Bases Didáticas e organizativas. Porto Alegre: Artmed, 2002. HAGEDORN, R. Fundamentos para a prática em terapia ocupacional. São Paulo: Rocca, 2003. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MANTOAN, M. Inclusão Escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. MITTLER, P. Educação Inclusiva: Contextos Sociais. Porto Alegre: Artmed, 2003. NEISTADT, M e CREPEAU, E. WILLARD & SPACKMAN: Terapia Ocupacional. Rio de Janeiro: Editora Guanabara-Koogan, 2002. OCCUPATIONAL THERAPY in Educational Settings Under the Individuals With Disabilities Education Act. AOTA. Disponível em <http:// www.aota.org>. Acesso em 15 dez. 2007. PÁDUA, E.; MAGALHÃES, L. (Orgs.). Terapia Ocupacional: Teoria e Prática. Campinas,SP: Papirus, 2003. PAROLIN, I. Aprendendo a Incluir e Incluindo para aprender. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2006. SASSAKI, R. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WMA, 1997. STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: Um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
  • 52. 52 SZYMANSKI, H. et al. A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: Líber Livro Editora, 2004. WHALEN, S. Effectiveness of Occupational Therapy in the School Environment. CanChild Centre for Childhood Disability Research, 2003 Disponível em <http://www.canchild.ca/Default.aspx?tabid=121>. Acesso em 15 dez. 2007. WHALEN, S. How occupational therapy makes a difference in the school setting: A summary of the literature. OT Now. May/June, 2002. CAOT Publications ACE. Disponível em <http:// www.otworks.ca> Acesso em 15 dez. 2007.
  • 53. 53 ANEXOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO A TERAPIA OCUPACIONAL NA REDE DE APOIO PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA PESQUISADORA: DAIANNE SERAFIM MARTINS A presente pesquisa integra a monografia da Especialização em Educação Inclusiva, Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, tendo como professor orientador Dr. Claus Dieter Stobäus. Esta é uma pesquisa que pretende elucidar como a Terapia Ocupacional pode apoiar a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais envolvendo famílias e demais profissionais da educação e da saúde nos processos inclusivos. A presente investigação visa contribuir para um melhor entendimento do processo de inclusão escolar e dos serviços de apoio clínico especializados, como o de Terapia Ocupacional, apoiando alunos, professores e demais profissionais na efetividade deste novo paradigma da educação. Aqueles que participarem da pesquisa dispensarão vinte minutos para a realização da entrevista semi-estruturada, em que serão convidados a expressar sua opinião a respeito dos temas já comentados. As entrevistas serão gravadas em fitas cassetes, que serão posteriormente transcritas e destruídas. A qualquer momento antes, durante e depois da pesquisa, a pesquisadora estará disponível para esclarecer qualquer dúvida referente ao estudo e às perguntas realizadas na entrevista. Se o participante sentir qualquer desconforto ou constrangimento, estará livre para participar ou não da pesquisa, bem como abandonar o estudo a qualquer momento, sem que seja necessário justificar o motivo e sem que isso signifique prejuízo para si. Todas as informações fornecidas pelos participantes, durante a realização das entrevistas, serão usadas somente para fins de pesquisa, com o mais absoluto sigilo. Os dados de identificação dos participantes servirão apenas para fins de comunicação entre os pesquisadores e os participantes. Consentimento: Eu, _______________________________________________ fui informado (a) dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada. Recebi informação a respeito do estudo e esclareci as minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão assim que desejar. A pesquisadora Daianne Serafim Martins certificou-me de que todos os dados dessa pesquisa serão confidenciais, bem como não serão modificados nem terei tratamento diferenciado em função da pesquisa e terei liberdade de retirar meu consentimento de realização da pesquisa a qualquer momento. Declaro que li e concordo com o presente termo de consentimento. Porto Alegre, ____ de ____________ de 2008. Nome do participante: ________________________________________ Assinatura: _________________________RG: _____________________ Nome da pesquisadora: Daianne Serafim Martins Assinatura: _________________________RG: _____________________ Telefones para contato: Daianne Serafim Martins (51) 92373397 Faculdade de Educação da PUCRS (51) 3320-3620