1. A SOCIOLINGUÍSTICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA APLICADA –
UNITAU
Disciplina: TEORIAS LINGUÍSTICAS
Profa. Dra. MARIA APARECIDA GARCIA LOPES ROSSI
2. Nível semântico
Nível sintático
Nível morfológico
Nível
fonológico
Estudos linguísticos a partir dos anos 60
Semântica
Argumentativa
Sociolinguística
Análise da
conversação
Linguística
textual
Outras áreas
de estudo
Linguística
Aplicada
(inicialmente voltada
ao ensino de línguas
e sub-área restrita da
Linguística)
Teorias do
discurso
Pragmática
Psicolinguística
Linguística
Histórica
Gramática gerativa
3. Sociolinguística
Estudos a partir das décadas de 50 e 60, nos Estados
Unidos
William Labov (pesquisador americano) iniciou a
Sociolingüística Quantitativa (assim chamada por
operar com números e tratamento estatístico dos
dados coletados), também conhecida por Teoria da
Variação e da Mudança Lingüísticas, ou
Sociolingüística variacionista)
Em 1963
4. Labov
Insistiu na relação entre língua e sociedade e na
possibilidade de sistematizar a variação existente
e própria da língua falada
Com seus estudos, derrubou muitos mitos sobre a
inferioridade da forma de falar de comunidades
pobres, socialmente desprestigiadas, como a
comunidade negra de Nova Iorque, falante do
black English.
5. Variações linguísticas
Típicas de grupos de pessoas: dialetos
Típicas de um mesmo falante: registros
Típicas de um mesmo aspecto linguístico
(estrutura linguística): variantes
6. Dialetos
Variações lingüísticas típicas de grupos de pessoas
Variedades da língua com sistema léxico, sintático,
morfológico e fonético próprio e usadas num
ambiente mais restrito que a própria língua
Ocorrem em função do grupo de falantes, que
pode se diferenciar principalmente por: 1) região
(território, ocupação geográfica); 2) classe social;
3) grupo social ou profissional; 4) idade; 5) sexo.
Podem ter apreciação social diferente; há dialetos
prestigiados socialmente e outros não
7. Registros
Variedades da língua de um mesmo falante
decorrentes de diferentes situações no uso social da
língua.
Uma mesma pessoa não usa a língua da mesma
maneira, em todas as circunstâncias, principalmente
por: 1) grau de formalismo, tanto na escrita quanto na
fala; 2) modo (diferenças entre língua falada e escrita);
3) sintonia do falante com o ouvinte, em função do
status social do ouvinte, da tecnicidade do assunto e
dos conhecimentos do ouvinte, da cortesia que o
falante considera apropriada ao ouvinte.
O conjunto dos usos de uma língua próprio de um
indivíduo é chamado de idioleto.
8. Variantes linguísticas
A partir de gravações de língua falada, o pesquisador seleciona todas as
frases que apresentam a variável linguística que será estudada
Variável linguística = aspecto linguístico (estrutura) em estudo
Variantes linguísticas = várias formas que aquele aspecto linguístico pode
assumir na língua falada
Exemplo:
As meninas bonitas As meninas bonita As menina bonita
Variantes
Variável
Concordância
no sintagma
nominal
Em todos os
elementos
No artigo e
no
substantivo
Apenas no
artigo
9. Variantes da norma padrão Variantes populares
Especialmente
no PE
Especialmente no
PB
Forma popular de
falantes
escolarizados
Forma popular de
falantes pouco
escolarizados
( ) Canto Eu canto Eu canto Eu canto
( ) Cantas Tu cantas / Você
canta
Você canta Você canta
( ) Canta Ele canta Ele canta Ele canta
( ) Cantamos Nós cantamos A gente canta Nóis canta
( ) Cantais Vós cantais / Vocês
cantam
Vocês cantam Voceis canta
( ) Cantam Eles cantam Eles cantam
A turma / O pessoal
canta
Eles / A turma / O
pessoal canta
Exemplo de um caso de variação no Português
Variável: O paradigma de conjugação verbal
10. Exemplo de um caso de variação no Português
Variável: Pronome pessoal oblíquo de 3ª pessoa
Variantes Exemplos das variantes número de
ocorrência
%
clítico Pedro descascou as
bananas e eu as comi.
97 4,9
pronome ele/ela Pedro descascou as
bananas e eu comi elas.
304 15,4
vazio Pedro descascou as
bananas e eu comi [ ].
1.235 62,6
substantivo Pedro descascou as
bananas e eu comi as
bananas.
338 17,1
total 1.974 100,0
Fonte: DUARTE, Maria Eugênia L. Clítico Acusativo, Pronome Lexical e Categoria
Vazia no Português do Brasil. In: TARALLO, F. (Org.). Fotografias sociolinguísticas.
Campinas : Pontes, 1989. p. 19-34.
Obs.: exemplos diferentes dos fornecidos pela autora.
11. Metodologia da pesquisa Sociolinguística
Estudo da língua falada, o vernáculo, ou seja, a
enunciação nos momentos em que o mínimo de
atenção é prestado à língua, ao como falar.
Seleção e gravação de falantes de acordo com os
fatores extralinguísticos que se quer investigar:
sexo, idade, escolaridade, situação sócio-econômica,
profissão, entre outros.
Colheta de dados de, no mínimo, cinco informantes
para cada combinação dos fatores determinados.
12. Por exemplo
Variáveis extralinguísticas (não linguísticas):
sexo: masculino e feminino
Nível de escolaridade: fundamental, médio, superior
Local onde vive: São Paulo e Salvador
Serão necessários:
5 homens, de escolaridade fundamental, de São Paulo
5 homens, de escolaridade fundamental, de Salvador
5 homens, de escolaridade média, de São Paulo
5 homens, de escolaridade média, de Salvador
5 homens, de escolaridade superior, de São Paulo
5 homens, de escolaridade superior, de Salvador
O mesmo tipo de combinação para as mulheres
13. Análise dos dados obtidos
Descrição das variantes que constituem a variável
em estudo
Identificação dos fatores linguísticos e
extralinguísticos (não linguísticos) que
condicionam as variantes
Encaixamento da variável no sistema linguístico
(possíveis relações com outros aspectos da língua)
Projeção histórica (estimativa, em função das
porcentagens encontradas, se a língua está em
processo de mudança naquele aspecto focado no
estudo)
14. Exemplo de fatores linguísticos que condicionam as variantes do pronome
pessoal oblíquo de 3ª pessoa
Variantes Exemplos das
variantes
% Alguns fatores linguísticos que condicionam as
variantes
clítico Pedro descascou as
bananas e eu as
comi.
4,9 55 ocorrências seguem Verbo no infinitivo
3 seguem outro tipo de V
39 precedem V num tempo simples do
indicativo
00 com imperativo, tempos compostos,
gerúndio
pronome
ele/ela
Pedro descascou as
bananas e eu comi
elas.
15,4 Com todas as formas, principalmente com
tempos simples, imperativo e loc. verbais
vazio Pedro descascou as
bananas e eu comi
[ ].
62,6 Com todas as formas verbais
substantivo Pedro descascou as
bananas e eu comi
as bananas.
17,1 Com todas as formas verbais
total 100,0
Fonte: DUARTE, Maria Eugênia L. Clítico Acusativo, Pronome Lexical e Categoria Vazia no Português do Brasil. In:
TARALLO, F. (Org.). Fotografias sociolinguísticas. Campinas : Pontes, 1989. p. 19-34.
Obs.: exemplos diferentes dos fornecidos pela autora.
15. Encaixamento da variável pronome pessoal oblíquo de 3ª pessoa no sistema
linguístico
(possíveis relações com outros aspectos da língua)
Variantes Exemplos das variantes Relação com as variantes dos
pronomes relativos
pronome
oblíquo/relativo
Eu descasquei as laranjas
e Pedro as comeu.
Encontrei a revista cuja capa estava
rasgada.
pronome
ele/ela
Eu descasquei as laranjas
e Pedro comeu elas.
Encontrei a revista que a capa dela
estava rasgada.
vazio Eu descasquei as laranjas
e Pedro comeu [ ].
Encontrei a revista que a capa [ ]
estava rasgada.
substantivo Eu descasquei as laranjas e
Pedro comeu as laranjas.
Encontrei a revista que a capa da
revista estava rasgada.
Fonte: TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 1985.
Obs.: exemplos de Mary A. Kato.
16. Sobre a gramática da língua falada
Ainda há poucos estudos
Porque a tradição de estudos lingüísticos tem dado
atenção à língua escrita
A sociolingüística estuda a língua falada, o
vernáculo, ou seja, a enunciação e expressão de
fatos e idéias nos momentos em que o mínimo de
atenção é prestado à língua, ao como falar.
17. Conclusões gerais sobre variação
sociolinguística
Sempre existe variação linguística numa
comunidade de fala. Pode ser no nível fonológico,
morfológico, sintático, semântico, lexical
É possível sistematizar essa variação e revelar
características de um sistema devidamente
estruturado subjacente ao aparente caos da língua
falada
18. Conclusões gerais sobre variação
sociolinguística
As variantes encontram-se sempre em relação de
concorrência:
Padrão X não padrão
Conservadoras X inovadoras
De prestígio X estigmatizadas (desvalorizadas)
Por causa dessa tensão, a língua pode ser um fator
extremamente importante para demarcar diferenças
sociais em uma comunidade
As pessoas podem ser valorizadas ou desvalorizadas
em função das variantes linguísticas que produzem
19. Estudos sociolingüísticos mostraram que
A partir dos estudos sociolingüísticos, pode-se
combater a discriminação social sobre as formas
populares da língua
Diferença
Não é
deficiência
20. Formas (variantes) populares
Língua falada coloquial e dialetos de grupos desprestigiados
Crença antiga Verdade revelada pelas pesquisas sociolinguísticas
Desorganizados Organizados de acordo com uma gramática própria,
diferente da gramática da norma padrão
Sem gramática Com gramática própria
Incoerentes Coerentes
21. Erro X variação sociolinguística
Só se pode falar em ERRO no caso de violações a
regras invariantes, ou seja, àquelas que não variam em
qualquer dialeto social ou regional da língua, em
qualquer situação que seja. Por exemplo:
Meninos os bonitos são.
Não é erro, mas é VARIAÇÃO SOCIOLINGÜÍSTICA
dizer:
Os menino são bonitos.
Os menino são bonito.
Os menino é bonito.
22. Da perspectiva da Sociolinguística
O quadro de variação da língua precisa ser descrito
As variantes devem ser julgadas como adequadas
ou não adequadas às situações de comunicação. A
variante padrão, formal, nem sempre é a mais
adequada. Pode ser inadequada numa situação
muito coloquial, informal, por parecer pedante.
As pessoas precisam conhecer, discutir, entender
essa dinâmica da língua para poderem aprender a
norma padrão ensinada na escola e decidir quando
usá-la ou quando usar as variantes populares
23. Variação e mudança
Variação de uma estrutura (de uma variável) não
implica necessariamente mudança linguística (a
variação pode permanecer ocorrendo por séculos)
Determinadas variações podem causar o
desaparecimento de uma ou mais variantes e/ou o
fortalecimento de uma nova variante, provocando
uma mudança na língua
24. Duas grandes linhas interpretativas da mudança
linguística
IMANENTISTA: continuadora do pensamento
neogramático, do estruturalismo e do gerativismo,
assume a mudança linguística como um fato
primordialmente interno, como um acontecimento que
se dá no interior da língua e condicionado por fatores da
própria língua.
INTEGRATIVA: surgiu de críticas aos neogramáticos,
assumida pela dialetologia e sociolinguística, entende
que a mudança linguística deve ser vista como articulada
com o contexto social, condicionada por uma conjunção
de fatores internos (estruturais) e externos (sociais).
25. Variações sociolinguísticas no Português Brasileiro
São inúmeras
Algumas já foram descritas, pelo menos com
relação a algumas regiões
Muitas outras ainda não foram estudadas
O sistema pronominal brasileiro é rico em
variações e já foi relativamente bem estudado
26. Bibliografia
ALKMIM, Tânia. Sociolingüística. Parte I. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Org.).
Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p. 21-47.
CAMACHO, Roberto G. . Sociolingüística. Parte II. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C.
Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p. 49-75.
LOUZADA, Maria S. O. O ensino da norma na escola. In: MURRIE, Zuleika de F. (Org.). O
ensino de português. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1994. p. 11-21.
PRETI, Dino. Sociolingüística – os níveis da fala. 7. ed. São Paulo: Edusp, 1994.
SOARES, Magda. Linguagem e escola – uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1986.
STAUB, Augostinus. Perguntas e afirmações que devem ser analisadas. In: KIRST, M.;
CLEMENTE, E. (Org.). Lingüística Aplicada ao ensino de português. Porto Alegre
Mercado Aberto, 1987. p. 18-31.
TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 1985.
______. Fotografias sociolingüísticas. Campinas: Pontes: Unicamp, 1989.