2. A evolução da ciência
A história da ciência mostra-nos um conjunto de leis, teorias e modelos
científicos sucessivamente revistos ou rejeitados e substituídos por
outros mais eficazes, mais aptos a explicar os fenómenos
3. A evolução da ciência
• Iniciado por Aristóteles (340 a. C.) e mais tarde desenvolvido por Ptolomeu (I d.C.) o modelo geocêntrico
prevaleceu durante séculos, tendo sido substituído em 1514 pelo modelo heliocêntrico de Copérnico.
• Este modelo veio mais tarde a ser aperfeiçoado por Kepler e Galileu, e depois por Newton.
• No século XX a teoria da relatividade de Einstein introduz novas perspectivas do espaço, do tempo e da
gravidade que não haviam sido exploradas e que obrigam a uma revisão dos princípios da física
newtoniana.
Alguns dos exemplos mais marcantes da história da ciência podem ser dados a partir
das diferentes conceções desenvolvidas sobre o universo.
Das concepções antigasaté às modernas, encontrámosa Terra sob condições muito diferentes daquela que hoje
conhecemos, graças a Hubble ( 1924), que a apresenta comum um singelo planeta de uma galáxiaentre muitas galáxias.
4. • O facto de quase todas as teorias da história da ciência terem sido substituídas constituirá um
indício de que as que atualmente vigoram serão também um dia dadas como falsas ou
inadequadas?
• Como poderemos estar certos de que a ciência NOS oferece um conjunto de conhecimentos
verdadeiros?
• Para onde nos leva o conhecimento científico?
• Não poderemos ter a certeza que a ciência evoluiu no sentido da verdade?
8. Karl Popper
• O valor da ciência enquanto conhecimento resulta de um processo
progressivo de construção de conjeturas e refutações.
• De acordo com o critério de cientificidade das teorias - a falsificabilidade–
a todo o momento as teorias podem ser refutadas.
• Nenhuma teoria, mesmo aquela que é corroborada, é completamente
definitiva e verdadeira.
• A verdade - entendida como correspondência das proposições científicasa
realidade dos factos - é a meta para a qual a ciência avança.
• O progresso científico deve, por isso, ser entendido como o
desenvolvimento da ciência em direção a um fim que, podendo não ser
alcançável, não deixa de ser pressuposto.
9. • A ciência nunca pode afirmar-se como
tradutora da verdade. As teorias são
sempre falsificáveis.
• Mesmo no caso das teorias
corroboradas, há sempre a hipótese de
virem a ser refutadas no futuro. Por
isso, podemos mostrar apenas que uma
dada teoria é verosímil.
• Uma teoria é mais verosímil do que uma
teoria rival apenas no caso de implicar
mais verdades e menos falsidades.
• Uma vez que ciência é conjetural, ela não
atinge verdade, apenas se aproxima dela.
10. Evolução da ciência - Karl Popper
• A Ciência avança no meio de tentativas e erros.
• Parte de problemas (P1);
• Propõe hipóteses ou conjeturas, novas teorias – tentativas (TT) de
explicação do mundo, são provisórias;
• Vai eliminando os erros (EE), submetendo as teorias à refutação;
• Conduz, neste processo, à descoberta de novos problemas (P2), e
assim por diante.
P1 TT EE P2
11. A evolução da ciência é comparável à evolução
das espécies. Assim como, à luz da conceção
darwinista da evolução das espécies, as
espécies que melhor respondem aos desafios
que o ambiente e a natureza propõe, são as
que mais probabilidades têm de
sobreviver, também no processo de construção
da ciência das hipóteses sofrem uma espécie de
processo de seleção natural: as teorias mais
fortes- as que resistem às várias tentativas de
refutação - são as melhores, isto é, as que
oferecem uma boa explicação dos factos. As
teorias menos aptas – as que não resistem aos
testesexperimentais - são eliminadas e dadas
como erros. Estes erros obrigam o cientistaa
procurar novas explicações dos factos ou
problemas. Será a crítica, enquanto critério
racional de progresso científico, que permitirá a
eliminação dos erros e, consequentemente,o
avanço da ciência em direção à verdade
12. «1. Não existe nenhum critério de verdade; nem mesmo quando houvemos alcançado a verdade, podemos estar seguros
disso.
2. Existe um critério racional de progresso na busca da verdade e, por conseguinte,um critério do progresso científico.[...]
Mas que se entende então por critério racional do progresso científico na busca da verdade, do progresso das nossas
hipóteses, das nossas conjeturas? Quandoé que uma hipótese científica é preferível a uma outra hipótese?
A resposta é: a ciência é uma atividade crítica. Nós testamos criticamente as nossas hipóteses. Criticamo-las com o
propósitode detetar erros e na esperança de, ao eliminarmos os erros, nos aproximarmos da verdade.
Consideramos uma dada hipótese – por exemplo, uma hipótese nova – preferível a uma outra quando satisfaz os três
requisitos seguintes: em primeiro lugar, a nova hipótese deve explicar todos aqueles aspetos que a hipótese anterior havia
conseguido explicar com êxito. Este constitui o primeiro ponto e o mais importante. Em segundo lugar, deve evitar ao menos
algumas das falhas da hipótese anterior. Ou seja, deve, se possível, resistir a alguns dos exames críticos a que a outra
hipótese não resistiu. Em terceiro lugar, deve explicar, se possível, os aspetos que a antiga hipótese não pôde esclarecer ou
prever.
É este, pois, o critério do progresso científico.
Este critério evolutivo pode ser considerado simultaneamente um critério de aproximação da verdade. Isto porque se uma
hipótese satisfaz o critério do progresso, e consequentemente suporta as verificações críticas pelo menos tão eficazmente
quanto a hipótese que a precedeu, não consideramos tal facto como fortuito; e se resistir ao exame crítico de forma ainda
mais eficaz, admitimos então que se aproximamais da verdadedo que a sua predecessora.
O objetivo da ciência é, por conseguinte, a verdade; a ciência é a busca da verdade. Muito embora nunca possamos saber
(…) se alcançamos esse objetivo, podemos mesmo assim dispor de razões válidas que nos permitam supor estarmos mais
próximos do nosso objetivo,da verdade»
Popper, K., Em Busca de um Mundo Melhor,Lisboa; Editorial Fragmentos. 1989, pp. 48-49.
13. Tendo por base a crítica, o cientistaencontra falhas ou
erros nas teorias já existentes e empenha-se na procura
de novas respostas.Estaprocura de novas tentativas de
solução para os problemas, decorrente da eliminação
de erros, impede que a ciência estagne ou se fixe a
qualquer tipo de dogma.
Só com uma atitude crítica, contrária à
dogmática, será possível ao cientista avançar. O seu
objetivo é encontrar a verdade, ainda que essa tarefa
corresponda apenas a uma aproximação da
verdade por intermédio de teorias cada vez melhores.
14. A ciência nunca pode afirmar-se como detentora da
verdade. as teorias são sempre falsificáveis. mesmo no caso
das teorias corroboradas, há sempre hipótese de virem a
ser refutadas no futuro. por isso podemos mostrar apenas
que dada teoria é verosímil.
Uma vez que ciência é conjetural, ela não atinge a
verdade, apenas se aproxima dela.
15. Thomas Kuhn
• A evolução da ciência depende essencialmente do trabalho do cientista e, portanto, o
processo de produção da ciência torna-se o ponto central da sua reflexão
epistemológica.
• Ao contrário da tradição positivista, não viu o cientista como um
investigador neutro, minhas teorias como construções resultantes da análise de factos
em bruto depois de submetidos à experimentação e à matematização.
• O cientista não é um sujeito neutro nem isolado, mas condicionado e contextualizado.
• Construção de teorias científicas está sempre dependente de um conjunto de factos, que
me crenças de conhecimentos, regras, técnicas e valores compartilhados e aceites pela
maioria dos cientistas, isto é, produção científica depende de um paradigma científico.
• O paradigma funciona como um modelo de referência na descoberta e resolução de
problemas, no interior da comunidade científica.
A verdade das teorias científicas está sempre dependente do paradigma em que se inserem: aquilo
que é verdadeiro num paradigma pode não ser no outro. Exemplo: as três conceções de espaço (a
de Euclides, a de Riemann e a de Lobachevsky-Bolyai) que suportam três geometrias diferentes,
podem ser todas verdadeiras, pois funcionam em paradigmas distintos.
16. • Ao longo da história da ciência encontrámos diferentes paradigmas, a
partir dos quais os cientistas propuseram teorias e explicações para os
factos.
• por exemplo, no âmbito da cosmologia, o modelo ptolomaico, proposto
por Ptolomeu, (I d.C), embora já Aristóteleso tivesse concebido,
colocou a Terra no centro do universo durante vários séculos.
• No século XVII, este modelo foi substituído pelo modelo heliocêntrico,
(1473-1543) e depois defendido por Galileu (1564-1642), passando o
Sol é ocupar o lugar central.
• À luz de cada um destes modelos funcionaram diferentes
conceitos, propuseram-se diferentes hipóteses explicativas que
contribuíram para a construçãode duas visões radicalmente diferentes
do universo e dos movimentos planetários.
Para compreender a evolução da ciência, Kuhn estuda as etapas do seu
desenvolvimento e interroga se sobre como ocorrem as mudanças de
paradigmas.
É no interior da própria comunidade científica e analisando o modo de operar
dos cientistas que Kuhn encontra a respostapara esta questão.
17. É a ocorrência de anomalias que pode alterar as condições da atividade
científica, provocar uma crise e uma revolução científica, situação que
culmina na eleição de um novo paradigma.
• As anomalias são problemas ou enigmas que os cientistas não conseguem resolver a
partir dos pressupostosteóricos fundamentais de um paradigma.
• Nos períodos normais da atividade científica - ciência normal - os enigmas resolvem
se como puzzles. Cada peça, mais cedo ou mais tarde, encaixa no devido lugar.
• Aconteceque, por vezes, algumas peças parecem não conseguem encaixar. Quando
isto acontece, estamosperante uma anomalia. Nessa altura, ao contrário do que se
poderia pensar, os cientistas não abandonam o paradigma ou as teorias vigentes e
tudo fazem para resolver aquela anomalia. Por outras palavras, antes de se avançar
para um novo paradigma, tenta-se a assimilação do novo facto ( problema)
18. • O investigador não tem como preocupação primeira tentar
falsificar as suas teorias, antes procurará encontrar uma
forma de resolver os problemas que surgem, mantendo as
suas teorias.
• Assim, em condições muito especiais- quando já não é
possível responder às exigências dos factos - e as
anomalias se vão acumulando, que a ciência entre em
período de crise.
• A atividade científica vive um período instável, é escolha e
de maca sobre a manutenção do paradigma vigente e
sobre a eventual adoção de melhores teorias, novos
conceitos e princípios, procurando-se sim definir os
alicerces de um novo paradigma, que permita explicar
aquilo que não é mais explicável à luz do paradigma
anterior - período de ciência extraordinária.
• Finalizado o debate, ou se mantém o paradigma vigente
ou se opera uma revolução cientifica, que impõe a
mudança e a adoção do novo paradigma,
19.
20. A mudança de um paradigma para outro não é cumulativa, antes
corresponde a um modo qualitativamentediferente de olhar o real.
Os paradigmas são incomensuráveis, istoé, são incomparáveis e incompatíveis. Não
podemos comparar objetivamente aquilo que cada paradigma defende, pois
correspondem a formas totalmente diferentes de explicar e prever os fenómenos
O progressocientífico não pode ser entendido como um processo contínuo e
cumulativo de teorias ou paradigmas cada vez melhores em direção a uma meta ou
fim.
Se não podemos afirnar que um paradigma é melhor que o anterior, então também
não podemos afirmar que, ao ocorrer uma mudança de paradigma, haverá uma
evolução da ciência para melhor.
Não podemos dizer que o novo paradigma descreve melhor a realidade que o seu
antexessor; também não podemos dizer que a ciência progride de forma cumulativa
e contínua ao substituir um pelo outro. As mudanças de paradigmas não implicam
a aproximação à verdade
21. A ideia de que a ciência é o único meio para alcançar a verdade
definitiva sobre o mundo real está errada e corresponde a um
cientifismo ingénuo que supõe o progresso da ciência como uma
corrida indefinida em direção à verdade.
A verdade não é a meta para a qual a
ciência se orienta. Ela é relativa ao
paradigma. Só pode ser compreendida
dentro dos limites que cada paradigma
impõe.
Rejeição da visão teleológica da evolução da ciência
22. Escolha do novo paradigma
A escolha entre teorias rivais obedece a critérios objetivos e subjetivos
A escolha de um novo paradigma é marcada por fatores de ordem histórica,
sociológica e psicológica.
Quando a comunidadecientíficatem de escolher entre doisparadigmas rivais, ela entra em
debate. Nestascircunstâncias, a atividadedo cientista não se reduz à resolução de enigmas,
ao recurso à lógica e à experimentação,mas está dependente da argumentação.
Os critériosobjetivos são partilhadospor toda a comunidadecientífica,sendo dependentes
de fatores objetivos- princípios,regras e até valores comummente adotados
Os critériossubjetivos são individuais,dependentes de fatores subjetivos, relativosao que
individualmentecada cientistasente e pensa – de acordo com a sua história de vida e a sua
personalidade– em relação à teoria que elege.
23. Princípios ou critérios objetivos de escolha das teorias
Característicasegundo a qual uma teoria capazde fazer previsões corretas. quanto
mais exata for uma teoria, mais perto pela Estado que é possível observar o dos
resultadosda experimentação.
Ausência de contradiçõesinternase compatibilidadeda teoria com outrasteorias
aceites dentro do paradigmavigente
Abrangênciada teoria relativamenteà diversidadede fenómenos que é capazde
explicar
Sobriedadee elegânciana forma como a teoria explica os fenómenos; uma teoria é
simples se não depende de muitas leis para explicar os fenómenos observados.
Capacidadeda teoria para impulsionara investigaçãocientíficaem direção a novas
descobertas
Exatidão
Consistência
Alcance
Simplicidade
Fecundidade