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Nosso objetivo é publicar obras com qualidade editorial e gráfica.
                                 Para expressar suas sugestões, dúvidas, críticas e eventuais
                                 reclamações entre em contato conosco.

                                 CENTRAL DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR
                                 Rua Pedroso Alvarenga, 1046 • 9o andar • 04531-004 • São Paulo • SP
                                 Fone: (11) 3706-1466 • Fax: (11) 3706-1462
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                                 Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada,
                                 transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações,
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                                 de acordo com a Lei no 9.610/98.


                                 Este livro é fruto do trabalho do autor e de toda uma equipe
                                 editorial. Por favor, respeite nosso trabalho: não faça cópias.




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                                  revist Ão
                                 ampli  ae
                                       ada




                                        Studio Nobel


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© 1997 Dijon De Moraes

                                 Direitos desta edição reservados à Nobel Franquias S. A.
                                 (Studio Nobel é um selo editorial da Nobel Franquias S. A.)


                                 Publicado em 2008




                                 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
                                 (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

                                 Moraes, Dijon De
                                 Limites do design / Dijon De Moraes. — São Paulo : Studio Nobel, 1999.

                                 Bibliografia
                                 ISBN 978-85-85455-73-4

                                 1. Design 2. Design – Estudo e ensino 3. Design – História
                                 4. Design – Países em desenvolvimento 5. Design industrial I.Título.

                                 99-0720 / CDD-745.4


                                 Índice para catálogo sistemático:
                                 1. Design : Artes 745




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“O Universo é infinito mas
         limitado; então, se um raio
         de luz, em qualquer
         direção que viaje,
         for bastante potente,
         retornará, depois de
         milhões de séculos, ao seu
         ponto de partida.”




         T he Seventh Sally or How Trul’s
         Own Perfection Led to No Good.
         Of The Seventh Sally, in The Cybe-
         riad, by Stanislaw Lem,
         Trad. Michael Kandel, 1974.




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Pintura do designer Isao Hosoe
                                 Milão, 1994




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No mapa-múndi do cartógrafo flamenco Gerhard Kremer Mercator
                                 (1512-1594) a Groenlândia parece ser maior do que muitos territórios maiores
                                 do que o dela, a qual se apresenta do tamanho da América do Sul. A opinião
                                 dos que vivem no Hemisfério Norte sobre os que vivem no Hemisfério Sul é
                                 que estes vivem no lado de baixo da Terra. A história, geralmente, é contada
                                 a partir das informações do ponto de vista do colonizador. Seguramente, o
                                 paradigma que norteia tais informações, acaba influenciando as decisões, em
                                 particular, de que o design deve ser defi nido pelos designers dos chamados
                                 países centrais.
                                      Diante de tal fato, talvez não seja necessário inverter a posição do mun-
                                 do como desejou o artista uruguaio Joaquim Torres Garcia, que em 1936,
                                 afi rmou que nuestro norte es el sur. Mas, sem dúvida, é preciso repensar a
                                 questão das dicotomias originadas entre norte e sul, entre ricos e pobres,
                                 entre países centrais e periféricos, principalmente, pela arrogância de quem
                                 detém o poder. O poder de saber, o poder de fazer, o poder de saber fazer,
                                 mais que isso, o poder de defi nir o destino do outro. O ensino do design no
                                 Brasil e nos demais países da América Latina e Caribe, encontra em Limites
                                 do Design um dos lugares para esta discussão.


                                                                                              Ivens Fontoura
                                                               Professor de Projeto e Teoria do Design da PUC-PR
                                                                         Articulista do jornal O Estado do Paraná




                                       Com Limites do Design, Dijon De Moraes apresenta duas grandes con-
                                 tribuições aos profissionais e estudantes da área, bem como àqueles que
                                 querem desenvolver consciência crítica sobre o papel do usuário no processo
                                 de configuração de objetos de uso e sistemas de informação, pois afi nal estes
                                 são, ou deveriam ser, os mais interessados no processo do design nacional.
                                 A primeira contribuição é a própria existência do livro, prova de que há
                                 interesse na publicação de títulos sobre design de autores brasileiros. Que
                                 o exemplo sirva de estímulo a outros, na árdua tarefa de vasculhar fundos
                                 de gavetas. Lá certamente se encontrarão alguns tesouros. A segunda con-
                                 tribuição de Dijon é o questionamento sobre o ensino do design no Brasil e
                                 sua relação com os novos desafios que se apresentam com o fenômeno da
                                 globalização econômica. O leitor poderá até discordar dos conceitos propos-
                                 tos, mas o debate sobre o tema certamente ganhará em qualidade.


                                                                                Gustavo Amarante Bomfi m
                                                             P.h.D. Bergische Universität Wuppertal — Alemanha




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Este livro é dedicado a


                                         Odair Carlos de Almeida, 1949/1992
                                                      Arquiteto e restaurador
                                 São Miguel das Missões, RS, e Alcântara, MA


                                     Primeira pessoa a me falar sobre Design.




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PREFÁCIO



                                       Se acreditamos ser a atividade de design uma forma in-
                                  conteste de avaliação da capacidade criativa e intelectual de
                                  um povo, temos que concordar com o oportuno e corajoso livro
                                  Limites do Design, escrito pelo nosso mestre e designer Dijon
                                  De Moraes.
                                       Oportuno, por estarmos justamente vivendo em tempos de
                                  globalização econômica e de formação de blocos multinacionais,
                                  o autor vem nos alertar da importante ferramenta que demonstra
                                  ser o design para a identidade e soberania de um país, por meio
                                  da sua produção industrial e da sua cultura material, fator que
                                  nem sempre é percebido por governos, pelos meios empresa-
                                  riais e pelas elites de muitos países que, muitas vezes, tendem
                                  a não lhes transferir os verdadeiros créditos necessários que os
                                  legitimem.
                                       Corajoso, pelas suas contestações quanto às expectativas dos
                                  teóricos e estudiosos de design dos países de Primeiro Mundo,
                                  que mantêm um paradigma para o desenvolvimento do design
                                  no Brasil, e para todos os outros países chamados de Terceiro
                                  Mundo, que, hoje, mais sutilmente, são considerados países de
                                  economia em ascensão.
                                       Segundo esses estudiosos dos países desenvolvidos, o de-
                                  sign a ser praticado nos países em ascensão não deveria ter o
                                  mesmo percurso que o de seus países, vindo a criar, desta forma,
                                  um dualismo entre design de centro e design de periferia, fato
                                  que o autor repudia categoricamente, defendendo o conceito de
                                  design como único e indivisível, tendo a pessoa humana como
                                  referência maior, independentemente de sua origem, raça e re-
                                  ligião. Contraria, desta forma, propostas divisionistas para essa
                                  atividade como as de design “ricco” e design “povero”.
                                       Nem por isso, o autor deixa de ter um projeto de design para
                                  os países em desenvolvimento; ao contrário, na sua explanação
                                  deixa clara a preocupação com o baixo custo dos produtos in-
                                  dustriais, que proporciona uma faixa maior de aquisição para
                                  diversas camadas sociais da população, mas sem o estigma de
                                  ter como resultado final um produto com design de segunda ordem
                                  e de referências culturais limitadas.

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Como o antropólogo Darcy Ribeiro, o autor recusa um pro-
         jeto pronto e determinado das elites dos países do norte para
         soluções dos problemas vividos pela população do sul do nosso
         planeta, seja no sentido econômico, industrial e/ou político.
              Poderíamos afirmar que o livro de Dijon De Moraes é uma
         mensagem política que traz como protagonista o universo do
         design, tendo como cenário a realidade da era atual denominada
         pós-industrial, onde as limitações tecno-fabris estão sendo ba-
         nidas e a esperança social dos bens da produção industrial para
         todas as pessoas são reafirmadas.
              O autor, que conviveu durante anos com colegas, professo-
         res e designers europeus, responde aos questionamentos sobre
         o futuro do design nos países do sul do planeta com extrema
         precisão e arte, às vezes ironicamente, às vezes com certa des-
         confiança sobre as verdadeiras intenções dos signos incutidos na
         expressão design de periferia, mas sem jamais perder a polidez
         e a elegância que o caracterizam.
              Na verdade, o autor sabe o que diz, embasado em uma
         experiência de mais de vinte e cinco anos anos de atividade em
         design, com aproximadamente duzentos produtos produzidos
         e comercializados pela indústria brasileira e do exterior. Dijon
         De Moraes, nosso estrategista designer multidisciplinar, correu
         mundo, ganhou vários prêmios, escreveu vários ensaios e nos
         brinda com este livro.
              Esta publicação, como sabiamente afirma o próprio autor,
         não é afirmativa, nem mesmo uma interrogação; é uma questão
         aberta a ser discutida. De igual forma, não é um discurso de
         designers para designers, pois pode envolver a todos: políticos,
         jornalistas, professores universitários, economistas e também
         aqueles que se preocupam com um projeto de vida melhor e mais
         harmonioso entre os povos para o próximo milênio.
              O livro proporciona ainda uma rica contribuição à cultura
         material junto às empresas produtoras e aos formadores de opi-
         nião dentro do intelecto ativo e fascinante mundo do design.

                                                          Aluísio Pimenta
                                   Ex-reitor da UEMG e ex-ministro da Cultura

                                                                                 11


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INTRODUÇÃO



                                       O leitor perceberá, no decorrer destes escritos, como a evolu-
                                  ção da indústria e do design foi sempre marcada por diversos vín-
                                  culos, condicionantes, parâmetros e limitações que vieram servir,
                                  vezes como barreira, vezes como referência, e ainda mesmo como
                                  inspiração projetual no andamento do processo de desenvolvimento
                                  da nossa indústria, do nosso design e da própria cultura material.
                                       Inicialmente, isso foi demonstrado por meio da limitada re-
                                  produção dos objetos concebidos pelo sistema artesanal, fato que
                                  proporcionava a aquisição dos produtos e o acesso a eles somente
                                  pelas classes dominantes, compostas por reis, clero e pela rica
                                  burguesia da época. Posteriormente, o limite voltava a se fazer
                                  presente junto ao sonho socializável da geração da era mecânica
                                  moderna, que via na produção seriada e em grande escala indus-
                                  trial a real oportunidade de proporcionar novos e diversificados
                                  produtos para um número cada vez maior de usuários, mesmo
                                  que esses produtos fossem marcados pelas limitações tipológicas
                                  formais e por modalidades de uso inadequadas, conseqüências
                                  da ainda incipiente condição técnico-produtiva vigente.
                                       A superação das limitações estético-formais e tipológicas
                                  dos produtos, proporcionada por uma posterior evolução bio-
                                  mecânica dos ferramentais de produção e pelo surgimento de
                                  novos materiais — como os polímeros e termoplásticos — pos-
                                  sibilitou grande desenvolvimento e disseminação dos produtos
                                  industriais. Ao mesmo tempo, perdeu-se o controle dos limites
                                  quantitativos e de adequações construtivas dos bens de consumo
                                  não-duráveis, causando, desta forma, um dano ecológico sem
                                  precedentes no ar, na terra e na água do nosso planeta.
                                       Esse é o tema exposto na primeira parte do livro, buscando
                                  situar o leitor historicamente, ao recordar e analisar brevemen-
                                  te todas as fases do desenvolvimento da indústria e do design,
                                  compreendidas desde a Revolução Industrial, por volta de 1750,
                                  até a era atual, denominada pós-industrial.

         12


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Encontramos ainda a presença do limite na barreira evolutiva
         existente entre os países do norte e do sul do planeta. Tal fator
         gerou a polêmica proposta de dualismo entre design de centro e
         design de periferia, contradizendo a tendência firmada no final do
         século XX, a de globalização dos produtos industriais sem limites
         territoriais para sua produção e comercialização, seguindo o norte-
         amento mundial dentro do chamado mercado multinacional. Esse
         dualismo contraria, ainda, a livre possibilidade de escolha por
         parte dos designers em viver e exercer suas atividades em quais-
         quer segmentos ou países, sem um limite de atuação profissional
         preestabelecido, ou área de abrangência predeterminada.
              Tem-se, também, o limite divisor entre o mundo industrial
         mecânico e o denominado pós-industrial, quando é possível
         perceber um desorientamento nos erros e acertos por parte de
         grande parcela do parque industrial produtivo e dos designers
         atuantes. Muitos dos produtos existentes na atualidade parecem
         mais demonstrar o poderio tecnológico e a capacidade evolutiva
         da nossa indústria que atender às reais necessidades do homem,
         com seus eternos limites de estatura, percepção, coordenação
         e movimento.
              É essa a temática central da segunda parte deste livro, que
         abre a discussão sobre a expectativa dos países de centro em
         ver os países periféricos e em via de desenvolvimento seguindo
         um outro caminho que não o trilhado por suas indústrias e seu
         design, indo contra a proposta por nós assumida de ter o design
         como atividade única e indivisível. Expomos nessa parte nossa
         opinião sobre o modelo de design a ser seguido pelos países de
         Terceiro Mundo e por tantos outros que compõem a nuança entre
         os sub e os superdesenvolvidos.
              Quanto ao ensino do design, comprovamos de igual forma
         a existência de várias condicionantes e de limites que deter-
         minam uma formação profissional adequada em design. Por
         exemplo, a problemática do tempo de formação escolar, ou

                                                                                13


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ainda o limite de dosagem entre a teoria e prática necessárias
                                  para uma melhor preparação de um estudante que se tornará
                                  um profissional do design.
                                        Esse é o discurso da terceira e última parte do livro. Cons-
                                  titui-se de nossas propostas para o modelo de ensino de design a
                                  ser seguido junto aos países de Terceiro Mundo, buscando pre-
                                  parar seus futuros designers para operar dentro do novo quadro
                                  da realidade mundial, mesmo contrariando as expectativas dos
                                  teóricos e estudiosos do design e da comunicação dos países
                                  mais desenvolvidos.
                                        Por outro lado, os Limites do Design, intrínsecos a essa ati-
                                  vidade e por nós abordados, não são uma afi rmativa, tampouco
                                  uma interrogação. Trata-se de uma questão aberta, abrangente,
                                  fluida. É como algo que pode ser flexível, moldável, contornável e
                                  mesmo mutável. Depende unicamente de bom senso, experiên-
                                  cia e intuição.
                                        Se pensarmos nas condicionantes objetivas projetuais, tais
                                  como custo, produção, materiais, durabilidade, ergonomia, nor-
                                  mas técnicas etc., Limites do Design vem a ser uma afirmação.
                                  Se, ao contrário, nos referirmos aos aspectos subjetivos — tipo-
                                  logia de uso, tipologia formal, cognitivo, abrangência de mercado
                                  etc., Limites do Design torna-se uma interrogação.
                                        Pode ser, ainda, uma controvérsia, quando pensamos na
                                  abrangência da profissão de design, que tramita da exatidão das
                                  engenharias à liberdade de expressão e criatividade das artes
                                  plásticas. Compreende desde os aspectos comerciais e de vendas
                                  necessários para a sobrevivência do produto no mercado, até a
                                  sua função social e sua aplicação junto às necessidades e expec-
                                  tativas dos usuários. São limites que vêm a ser, digamos assim,
                                  salutares. Não podemos dizer que esses limites, que sempre
                                  “perseguiram” a história do design e da indústria, devam ser vis-
                                  tos como um empecilho para o desenvolvimento de um produto
                                  ou para a elaboração de uma imagem de comunicação visual.

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Nem mesmo podemos afirmar que sejam simplesmente uma
         fonte de orientação projetual a ser seguida pelos profissionais do
         design. Esses limites, na verdade, sempre estiveram presentes.
         Existem, e continuarão a existir. A convivência com os limites,
         ao se praticar design, é uma realidade e torna-se premissa básica
         para quem se propõe a exercer essa fascinante atividade.
              Todavia, os limites não só se fazem presentes na vida e nas
         atividades profissionais humanas; manifestam-se também em
         qualquer expressão de vida existente na natureza.
              O cientista e professor Enzo Tiezzi, entrevistado pela revista
         italiana Juliet Art Magazine, disserta: “Eu acredito que dos limi-
         tes, melhor ainda, direi que dos vínculos, nasce a criatividade.
         A criatividade dos cientistas e, por que não, a criatividade dos
         artistas. Creio também que ter o que fazer com as incertezas
         além dos vínculos seja uma coisa muito bela. Esta liberdade não é
         deste mundo, não faz parte da nossa natureza. A natureza é feita
         de limites e de vínculos, espaciais e temporais; a nossa vida não
         é eterna, as nossas dimensões são três, o nosso peso corpóreo
         é este que temos, da mesma forma as nossas possibilidades de
         movimento. Direi que a beleza da diversidade na história evolutiva
         está no fato de que cada espécie vivente tem os seus limites e
         seus vínculos. Alguns não têm a posição ereta, outros só podem
         mover-se dentro d’água, outros vivem no ar. A biodiversidade
         consiste no fato de que para cada ser vegetal ou animal e para
         cada homem existam seus vínculos diversos, e devemos aprender
         a conviver com isto. Isso é a própria vida, é isso que determina
         a diversidade, e sem a diversidade não poderia haver a arte e a
         ciência, porque a criatividade vem do nosso ser colocado sobre
         certos vínculos”.
              Sem limite de comparação, poderia existir uma escola me-
         lhor que a vida?
              Após onze anos da primeira edição de Limites do Design
         (1997), disponibilizamos aos leitores esta terceira edição revis-

                                                                                15


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ta e ampliada conforme sugerido pela editora Carla Milano, da
                                  Studio Nobel.
                                       Escrevi o original deste livro entre os anos 1992-1994, quan-
                                  do tinha 33 anos de idade. Naquela época, ao contrário de hoje,
                                  existiam poucas publicações disponíveis no âmbito do design e
                                  poucas reflexões eram expostas e publicadas, isto é, tornadas
                                  públicas. Tive a satisfação de ter o livro como um dos premiados
                                  pelo Museu da Casa Brasileira e adotado por diversas universi-
                                  dades brasileiras e do exterior, de “Porto Alegre” a “Portogallo”
                                  (Portugal).
                                       Passados tantos anos, vejo que muitos dos conceitos ex-
                                  postos no livro se mantêm ainda bastante atuais. Vejam, por
                                  exemplo, a questão do desafio do design frente ao fenômeno de
                                  globalização que ainda se demonstrava incipiente no início dos
                                  anos 90, e de igual forma as questões da sustentabilidade socio-
                                  ambiental aqui abordadas, antes mesmo de se tornarem uma
                                  causa obrigatória e inconteste nos debates de diversas áreas do
                                  conhecimento, inclusive no design.
                                       Outras reflexões apresentadas neste livro acabaram mesmo
                                  por se consolidar: tomem o conceito de design de forma única e
                                  indivisível sem distinção de raça, credo e localização geográfica,
                                  fazendo com que o profissional tinha que se adequar aos limites
                                  e possibilidades projetuais conforme sejam as condicionantes
                                  que encontre diante de si em uma micro, pequena, média ou
                                  grande empresa.
                                       Hoje, a fácil disponibilidade tecnológica e a livre circulação
                                  das matérias-primas pelo planeta fi zeram com que os desafios
                                  enfrentados pelos designers fossem ampliados em dimensão e
                                  foco. As grandes questões atuais se apresentam mais no âmbito
                                  cultural que tecnológico, mais pelos fatores subjetivos que obje-
                                  tivos, mais pelos atributos secundários que aqueles previsíveis
                                  e primários. Fazendo com que fossem criados, por vez, novos
                                  vínculos e limites desconhecidos dos até então praticados. Por

         16


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isso, a questão de base que sustenta os argumentos expostos nes-
         te livro se mantiveram coerentes e o tempo fez com que fossem
         legitimados, inclusive com novos exemplos mais atuais.
               Nas minhas caminhadas pelo Brasil, seja para consultorias,
         cursos ou palestras, as pessoas sempre me cobravam a reedição
         deste livro. Espero, portanto, que esta nova edição continue o
         seu papel na formação básica de nossos jovens designers e, sem
         maiores pretensões, que os estimule a refletir sobre o fascinante
         mundo que continua a ser o design.
               Boa leitura,



                                                      Dijon De Moraes
                                                            Julho de 2008.




                                                                              17


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SUMÁRIO



                                  PRIMEIRA PARTE

                                  A CULTURA INDUSTRIAL                                  23

                                  O DESIGN COMO ATIVIDADE PROJETUAL                     32

                                  A ESTÉTICA MECÂNICA                                   40

                                  A SEGUNDA GUERRA, NOVOS MATERIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS 47

                                  DESIGN ITALIANO — ANOS 60 E CONTESTAÇÕES              50

                                  MADE IN JAPAN                                         58

                                  OS ESTADOS UNIDOS E O MUNDO PÓS-INDUSTRIAL            61




                                  SEGUNDA PARTE

                                  A QUESTÃO DO PODER                                    75

                                  OS LIMITES DO DESIGN                                  80

                                  O DESIGN COMO ATIVIDADE INTERNACIONAL                 93



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O DESIGN DEIXA DE TER A INDÚSTRIA E A TECNOLOGIA

         COMO REFERÊNCIA MAIOR                                    107

         O HOMEM COMO CENTRO MAIOR DA REFERÊNCIA DO DESIGN        115

         O DESIGNER ZELIG                                         127




         TERCEIRA PARTE

         PENSANDO NO ENSINO                                       139

         O DESIGN PROGRAMADO                                      153

         OS VALORES REFLEXIVOS, CRÍTICOS E ANALÍTICOS NO DESIGN   161




         QUARTA PARTE

         MANIFESTO DA RAZÃO LOCAL                                 175



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1      Parte
        ª
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A CULTURA INDUSTRIAL
         O DESIGN COMO ATIVIDADE
         PROJETUAL
         A ESTÉTICA MECÂNICA
         A SEGUNDA GUERRA, NOVOS
         MATERIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS
         DESIGN ITALIANO — ANOS 60 E
         CONTESTAÇÕES
         MADE IN JAPAN
         OS ESTADOS UNIDOS E O MUNDO
         PÓS-INDUSTRIAL



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A CULTURA INDUSTRIAL



              A cultura industrial iniciou-se com a Revolução Industrial
         na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra. Primeiro,
         com a mecanização das indústrias têxteis; em seguida, com as
         áreas dos manufaturados tradicionais — cerâmicas, porcelanas,
         utensílios metálicos e objetos em vidro. Porém, para obter um
         entendimento mais completo dos caminhos percorridos pela
         industrialização, devemos retornar próximo ao período medie-
         val, mais precisamente nas cidades mais ricas e desenvolvidas
         da Europa Ocidental, onde, para satisfazer as exigências da
         corte, do clero e dos ricos mercantes, foram criados diversos
         laboratórios que desenvolviam, em nível artesanal e limitado,
         uma variada gama de utensílios de uso doméstico, que tinham
         elevado valor artístico e considerável qualidade produtiva. Dessa
         forma, tivemos conhecimento dos primeiros modelos de produtos
         reproduzidos em série pelo método artesanal.
              Já no século XVII, com o poder concentrador das monar-
         quias, iniciou-se o mecenato a favor dos artistas e artesãos, por
         meio da fundação de diversas instituições manufatureiras, que
         eram financiadas e controladas pela Coroa. Pode-se, entre elas,
         destacar a de Gobelin na França, conhecida pelos seus tapetes,
         móveis e objetos em metal. Essa organização contava com mais
         de uma centena de artesãos e serviu de escola para um conside-
         rável número de aprendizes. Outra manufatura de destaque era
         a de Meissen, fundada pelo soberano grão-duque da Saxônia em
         1709, onde se dava acento à pesquisa e à experiência em muitos
         utensílios de porcelana.
              Na metade do século XVIII, emergiu, na Inglaterra, o di-
         namismo de diversos empreendedores como Matheus Bulton e
         Josiah Wedgwood, que deram grande impulso à idéia de mecani-
         zação da produção. É importante perceber que, para empreende-
         dores como Bulton, o produto industrial deveria ser diversificado
         em modelo e estilo, deixando a possibilidade de opção por parte
         do consumidor final. “A produção de Wedgwood, por sua vez,

                                                                              23


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era marcada pela experimentação e melhoramento dos materiais
                                              empregados, tendo como resultado mais conhecido a cerâmica
                                              Queens Ware, realizada pela primeira vez em 1763”.1
                                                   Ainda na Inglaterra, outra importante contribuição foi dada
                                              por Henry Douton, junto à sua empresa de cerâmica e aparelhos
                                              sanitários. Douton chegou a manter um estúdio dentro da sua
                                              empresa, e isso serviu de incentivo e modelo para outros empre-
                                              endedores da época.
                                                   O processo de industrialização começou a disseminar-se por
                                              toda a Europa ainda no final do século XVIII. Desenvolveu-se na
                                              França, na Alemanha e na Itália e recebeu grande impulso com o
                                              rápido desenvolvimento das ferrovias e das locomotivas a vapor.
                                              Já nos Estados Unidos, além da grande evolução ferroviária,
                                              podemos citar a produção de uma variada gama de produtos em
                                              vidros moldados. Uma das indústrias pioneiras nesse segmento
                                              foi a New Glass Company, de Boston.
                                                   Ao mesmo tempo em que crescia o processo de desenvolvi-
                                              mento da indústria, iniciavam-se também os primeiros debates
                                              sobre essa nova era e questionamentos sobre o novo mundo
                                              industrial. Três foram os movimentos que definitivamente mar-
                                              caram o início da nossa evolução industrial. Foi na Inglaterra —
                                              berço da industrialização — que aconteceram os primeiros ques-
                                              tionamentos e movimentos de oposição ao processo industrial. O
                                              primeiro desses movimentos aconteceu mais precisamente em
                                              Londres. Chamava-se Arts and Crafts, e foi idealizado e dirigido
                                              por John Ruskin e William Morris.



                                              ARTS AND CRAFTS
                                                  No Arts and Crafts, dois pontos fundamentais caracterizavam
                                              o movimento. O primeiro era a proposta de divisão da arte por
         1
          HESKETT, John. Industrial design.
         Thames and Hudson, p.16.             meio de duas denominações distintas, a arte pura e a arte apli-

         24


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Laboratório de Henry van de Velde,
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                                                                            meados de 1898.
                                                                            Fonte: Heskett, John.
                                                                            Industrial Design. Lusconi,
                                                                            Milão, 1990.




         cada, que vieram a ser conhecidas como arte maior e arte menor
         e, ainda, como belas-artes e artesanato. Nessa mesma época, os
         objetos produzidos pelos métodos industriais receberam outras
         denominações, como arte decorativa e arte industrial.
              O segundo ponto do Arts and Crafts era a oposição ao modelo
         de atuação da própria indústria e dos produtos derivados desse
         sistema. Os seguidores do movimento em questão criticavam
         a baixa qualidade dos produtos provenientes do novo sistema
         industrial. Justificavam, por meio desse enfoque, a necessida-
         de de retorno ao sistema artesanal precedente, como meio de
         produção e de manutenção da real autenticidade do produto
         de série. Lembremo-nos de que antes da Revolução Industrial
         o artesão era o profissional que criava e executava, ao mesmo
         tempo, todas as tarefas do processo de desenvolvimento e de
         confecção de um produto.
              Apesar dos aspectos sociais e humanitários que esse movi-
         mento continha, seus ideais eram nitidamente utópicos, devido ao




                                                                                                             25


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poder do dinamismo, à necessidade humana de buscar o novo, ao
                                                      espírito de conquista do homem e, acima de tudo, à opção gene-
                                                      ralizada por parte dos empreendedores pelos métodos industriais
                                                      como forma de aumentar e diversificar sua produção.



                                                      ART NOUVEAU
                                                           O segundo movimento importante no processo de industria-
                                                      lização foi o Art Nouveau, que nasceu em Glasgow, na Escócia,
                                                      desenvolveu-se em Bruxelas, na Bélgica, e seguiu em direção
                                                      a Paris, Viena, Moscou, Berlim, Milão e diversas cidades eu-
                                                      ropéias.
                                                           Esse movimento surgiu após a segunda metade do século
                                                      XIX, época de grandes migrações da população do campo para
                                                      as cidades, ao mesmo tempo em que se assistia à passagem de
                                                      uma economia tradicionalmente agrícola a uma outra que dava
                                                      destaque para o trabalho em fábricas. Marcava-se, assim, o início
                                                      do crescimento dos empregos no setor terciário, fazendo aumen-
                                                      tar em considerável porcentagem os profissionais estabilizados
                                                      na denominada classe média européia.
                                                           Com o objetivo de libertar-se dos estilos do passado, como
                                                      o clássico greco-romano, artistas e arquitetos como Mackmur-
                                                      do, Emile Gallé, Hector Guimard, Henry van de Velde, Victor
                                                      Horta, Paul Hankar e Gustave Serrurier propuseram criar
                                                      um novo estilo que não tivesse ligações com o academicismo
                                                      até então praticado. “Nas hastes e folhas de Mackmurdo e de
                                                      Obrist, as plumas de Lalique e os tentáculos de Granach. O
                                                      que sempre fascinava o artesão eram os elementos naturais
                                                      adaptados à sinuosidade do Art Nouveau” 2. Essas inspirações
                                                      vieram intencionalmente de fora do continente europeu, como
         2
          PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura   as referências à flora e à natureza, em geral, de países orientais
         moderna e do design. Martins Fontes, 1981,
         p. 78.                                       como China e Japão.

         26


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“O Art Nouveau se formou em uma atmosfera espiritual
         fortemente influenciada pelas descobertas advindas das ciências
         naturais, e especialmente por meio da biologia, da botânica e
         da fisiologia.”3 “Os designers Art Nouveau voltaram-se para a
         natureza porque necessitavam de formas que expressassem
         crescimento não feito pelo homem, formas orgânicas e não cris-
         talinas, formas sensuais e não intelectuais. Mas Van de Velde,
         por outro lado, insistia no processo intelectual de transformar a
         natureza em ornamento. O ornamento, dizia ele, deve ser estrutu-
         ral e dinamográfico. A menor associação naturalística ameaçaria
         os valores eternos do ornamento. Outro protagonista, Voysey,
         concordava: ir à natureza é realmente ir à fonte, mas, diante de
         uma planta viva, o homem deve percorrer um processo elaborado
         de seleção e análise. As formas naturais devem ser reduzidas
         a meros símbolos. Assim que o Art Nouveau se propagou e se
         tornou comercialmente explorável, a versão de Van de Velde ficou
         sendo muito exigente, e as misturas menos puras de ornamentos
         com as formas curvas das plantas, e mesmo do corpo feminino,
         obtiveram certamente um sucesso maior.”4
              O movimento Art Noveau propunha, ainda — em face do
         processo de aglomerações nas grandes cidades como Paris,
         Londres e Viena —, ser um estilo mais industrializável, por meio
         da opção por materiais como o vidro, o ferro, o bronze e outros
         metais de fácil fundição e reprodução.
              Tal movimento procurava também algo que representasse
         o desenvolvimento da indústria de então, que já era mais capa-
         citada e que necessitava de inovações para atender aos anseios
         da burguesia da época, que aspirava por mais novidades dos
         produtos da arte aplicada. “Mas a verdadeira intenção do Art
         Nouveau era aquela de unir a originalidade à utilidade, em uma      3
                                                                                 John Heskett. Op. cit., p. 68.
         relação mútua e produtiva.”5                                        4
                                                                                 Nikolaus Pevsner. Op. cit., p. 73-74.
              O estilo que havia tomado como referência a natureza man-
                                                                             5
                                                                               WITTLICH, Petr. Ar t Nouveau. Fratelli
         tinha a expectativa de proporcionar, pelos já excelentes meios de   Melita, 1990, p. 114.


                                                                                                                          27


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reprodução gráfica, como a litografia, o acesso e a absorção da
                                                                  arte pela maioria da população, como aconteceu com os cartazes
                                                                  ilustrados por Chèret e Toulouse-Lautrec. “A arte impressa veio
                                                                  permitir ao artista moderno ser compreendido pelo vasto público
                                                                  e ajudou a consolidar uma das mais fortes ambições da época:
                                                                  elevar o nível cultural das pessoas. Essas propostas constituíram,
                                                                  no século XIX, algo de muito importante, que foi a base para a
                                                                  propagação do Art Noveau, enquanto estilo novo inspirado em
                                                                  uma arte coletiva.”6
                                                                       A industrialização das cidades, juntamente com a metamor-
                                                                  fose urbana demonstrada com o aparecimento dos bondes, do
                                                                  telefone, da fotografia (uma das grandes fontes de referência do
                                                                  Art Nouveau), das redes de canalização, do correio pneumático e
                                                                  do metrô, exigia o surgimento de um novo modelo arquitetônico
                                                                  e artístico, que simbolizasse um novo estilo de vida. “Desde o
                                                                  início do século, muitas vozes já tinham aclamado a necessidade
                                                                  de um novo estilo arquitetônico capaz de unificar e de orientar,
                                                                  segundo critérios orgânicos, as diversas tendências, para melhor
                                                                  exprimir os tempos modernos.” 7 Curioso notar que, já nessa
                                                                  época, começaram os primeiros estudos sobre a influência da
                                                                  vida “moderna” no comportamento psíquico das pessoas, como
                                                                  a percepção da mentalidade nervosa dos habitantes das grandes
                                                                  cidades, expostos aos contínuos traumas da tensão advinda da
                                                                  vida moderna. Apareceram também os primeiros estudos do
                                                                  professor Freud sobre o subconsciente humano, o sonho e o
                                                                  erotismo. Como Freud, os artistas do Art Nouveau tinham estes
                                                                  conceitos inseridos em suas obras: da imaginação individual ao
                                                                  sonho, aos motivos do inconsciente.
                                                                       O movimento Art Nouveau recebeu diferentes denomina-
                                                                  ções na Europa: Liberty na Inglaterra e na Itália, Sezession na
                                          6
                                              Op. cit., p. 112.   Áustria e Jungendstil na Alemanha. Mas todos apresentavam as
                          7
                              Petr Wittlich. Op. cit., p. 99.     mesmas propostas estéticas, teóricas e culturais do Art Nouveau.

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  • 2. Nosso objetivo é publicar obras com qualidade editorial e gráfica. Para expressar suas sugestões, dúvidas, críticas e eventuais reclamações entre em contato conosco. CENTRAL DE ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR Rua Pedroso Alvarenga, 1046 • 9o andar • 04531-004 • São Paulo • SP Fone: (11) 3706-1466 • Fax: (11) 3706-1462 www.studionobel.com.br atendimento@studionobel.com.br É PROIBIDA A REPRODUÇÃO Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações, sem a permissão, por escrito, do editor. Os infratores serão punidos de acordo com a Lei no 9.610/98. Este livro é fruto do trabalho do autor e de toda uma equipe editorial. Por favor, respeite nosso trabalho: não faça cópias. NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 2 13/8/2008 12:48:23
  • 3. 3 a ediÇ revist Ão ampli ae ada Studio Nobel NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 3 13/8/2008 12:48:24
  • 4. © 1997 Dijon De Moraes Direitos desta edição reservados à Nobel Franquias S. A. (Studio Nobel é um selo editorial da Nobel Franquias S. A.) Publicado em 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Moraes, Dijon De Limites do design / Dijon De Moraes. — São Paulo : Studio Nobel, 1999. Bibliografia ISBN 978-85-85455-73-4 1. Design 2. Design – Estudo e ensino 3. Design – História 4. Design – Países em desenvolvimento 5. Design industrial I.Título. 99-0720 / CDD-745.4 Índice para catálogo sistemático: 1. Design : Artes 745 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 4 13/8/2008 12:48:24
  • 5.
  • 6. “O Universo é infinito mas limitado; então, se um raio de luz, em qualquer direção que viaje, for bastante potente, retornará, depois de milhões de séculos, ao seu ponto de partida.” T he Seventh Sally or How Trul’s Own Perfection Led to No Good. Of The Seventh Sally, in The Cybe- riad, by Stanislaw Lem, Trad. Michael Kandel, 1974. NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 6 13/8/2008 12:48:24
  • 7. Pintura do designer Isao Hosoe Milão, 1994 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 7 13/8/2008 12:48:24
  • 8. No mapa-múndi do cartógrafo flamenco Gerhard Kremer Mercator (1512-1594) a Groenlândia parece ser maior do que muitos territórios maiores do que o dela, a qual se apresenta do tamanho da América do Sul. A opinião dos que vivem no Hemisfério Norte sobre os que vivem no Hemisfério Sul é que estes vivem no lado de baixo da Terra. A história, geralmente, é contada a partir das informações do ponto de vista do colonizador. Seguramente, o paradigma que norteia tais informações, acaba influenciando as decisões, em particular, de que o design deve ser defi nido pelos designers dos chamados países centrais. Diante de tal fato, talvez não seja necessário inverter a posição do mun- do como desejou o artista uruguaio Joaquim Torres Garcia, que em 1936, afi rmou que nuestro norte es el sur. Mas, sem dúvida, é preciso repensar a questão das dicotomias originadas entre norte e sul, entre ricos e pobres, entre países centrais e periféricos, principalmente, pela arrogância de quem detém o poder. O poder de saber, o poder de fazer, o poder de saber fazer, mais que isso, o poder de defi nir o destino do outro. O ensino do design no Brasil e nos demais países da América Latina e Caribe, encontra em Limites do Design um dos lugares para esta discussão. Ivens Fontoura Professor de Projeto e Teoria do Design da PUC-PR Articulista do jornal O Estado do Paraná Com Limites do Design, Dijon De Moraes apresenta duas grandes con- tribuições aos profissionais e estudantes da área, bem como àqueles que querem desenvolver consciência crítica sobre o papel do usuário no processo de configuração de objetos de uso e sistemas de informação, pois afi nal estes são, ou deveriam ser, os mais interessados no processo do design nacional. A primeira contribuição é a própria existência do livro, prova de que há interesse na publicação de títulos sobre design de autores brasileiros. Que o exemplo sirva de estímulo a outros, na árdua tarefa de vasculhar fundos de gavetas. Lá certamente se encontrarão alguns tesouros. A segunda con- tribuição de Dijon é o questionamento sobre o ensino do design no Brasil e sua relação com os novos desafios que se apresentam com o fenômeno da globalização econômica. O leitor poderá até discordar dos conceitos propos- tos, mas o debate sobre o tema certamente ganhará em qualidade. Gustavo Amarante Bomfi m P.h.D. Bergische Universität Wuppertal — Alemanha NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 8 13/8/2008 12:48:24
  • 9. Este livro é dedicado a Odair Carlos de Almeida, 1949/1992 Arquiteto e restaurador São Miguel das Missões, RS, e Alcântara, MA Primeira pessoa a me falar sobre Design. NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 9 13/8/2008 12:48:24
  • 10. PREFÁCIO Se acreditamos ser a atividade de design uma forma in- conteste de avaliação da capacidade criativa e intelectual de um povo, temos que concordar com o oportuno e corajoso livro Limites do Design, escrito pelo nosso mestre e designer Dijon De Moraes. Oportuno, por estarmos justamente vivendo em tempos de globalização econômica e de formação de blocos multinacionais, o autor vem nos alertar da importante ferramenta que demonstra ser o design para a identidade e soberania de um país, por meio da sua produção industrial e da sua cultura material, fator que nem sempre é percebido por governos, pelos meios empresa- riais e pelas elites de muitos países que, muitas vezes, tendem a não lhes transferir os verdadeiros créditos necessários que os legitimem. Corajoso, pelas suas contestações quanto às expectativas dos teóricos e estudiosos de design dos países de Primeiro Mundo, que mantêm um paradigma para o desenvolvimento do design no Brasil, e para todos os outros países chamados de Terceiro Mundo, que, hoje, mais sutilmente, são considerados países de economia em ascensão. Segundo esses estudiosos dos países desenvolvidos, o de- sign a ser praticado nos países em ascensão não deveria ter o mesmo percurso que o de seus países, vindo a criar, desta forma, um dualismo entre design de centro e design de periferia, fato que o autor repudia categoricamente, defendendo o conceito de design como único e indivisível, tendo a pessoa humana como referência maior, independentemente de sua origem, raça e re- ligião. Contraria, desta forma, propostas divisionistas para essa atividade como as de design “ricco” e design “povero”. Nem por isso, o autor deixa de ter um projeto de design para os países em desenvolvimento; ao contrário, na sua explanação deixa clara a preocupação com o baixo custo dos produtos in- dustriais, que proporciona uma faixa maior de aquisição para diversas camadas sociais da população, mas sem o estigma de ter como resultado final um produto com design de segunda ordem e de referências culturais limitadas. 10 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 10 13/8/2008 12:48:24
  • 11. Como o antropólogo Darcy Ribeiro, o autor recusa um pro- jeto pronto e determinado das elites dos países do norte para soluções dos problemas vividos pela população do sul do nosso planeta, seja no sentido econômico, industrial e/ou político. Poderíamos afirmar que o livro de Dijon De Moraes é uma mensagem política que traz como protagonista o universo do design, tendo como cenário a realidade da era atual denominada pós-industrial, onde as limitações tecno-fabris estão sendo ba- nidas e a esperança social dos bens da produção industrial para todas as pessoas são reafirmadas. O autor, que conviveu durante anos com colegas, professo- res e designers europeus, responde aos questionamentos sobre o futuro do design nos países do sul do planeta com extrema precisão e arte, às vezes ironicamente, às vezes com certa des- confiança sobre as verdadeiras intenções dos signos incutidos na expressão design de periferia, mas sem jamais perder a polidez e a elegância que o caracterizam. Na verdade, o autor sabe o que diz, embasado em uma experiência de mais de vinte e cinco anos anos de atividade em design, com aproximadamente duzentos produtos produzidos e comercializados pela indústria brasileira e do exterior. Dijon De Moraes, nosso estrategista designer multidisciplinar, correu mundo, ganhou vários prêmios, escreveu vários ensaios e nos brinda com este livro. Esta publicação, como sabiamente afirma o próprio autor, não é afirmativa, nem mesmo uma interrogação; é uma questão aberta a ser discutida. De igual forma, não é um discurso de designers para designers, pois pode envolver a todos: políticos, jornalistas, professores universitários, economistas e também aqueles que se preocupam com um projeto de vida melhor e mais harmonioso entre os povos para o próximo milênio. O livro proporciona ainda uma rica contribuição à cultura material junto às empresas produtoras e aos formadores de opi- nião dentro do intelecto ativo e fascinante mundo do design. Aluísio Pimenta Ex-reitor da UEMG e ex-ministro da Cultura 11 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 11 13/8/2008 12:48:24
  • 12. INTRODUÇÃO O leitor perceberá, no decorrer destes escritos, como a evolu- ção da indústria e do design foi sempre marcada por diversos vín- culos, condicionantes, parâmetros e limitações que vieram servir, vezes como barreira, vezes como referência, e ainda mesmo como inspiração projetual no andamento do processo de desenvolvimento da nossa indústria, do nosso design e da própria cultura material. Inicialmente, isso foi demonstrado por meio da limitada re- produção dos objetos concebidos pelo sistema artesanal, fato que proporcionava a aquisição dos produtos e o acesso a eles somente pelas classes dominantes, compostas por reis, clero e pela rica burguesia da época. Posteriormente, o limite voltava a se fazer presente junto ao sonho socializável da geração da era mecânica moderna, que via na produção seriada e em grande escala indus- trial a real oportunidade de proporcionar novos e diversificados produtos para um número cada vez maior de usuários, mesmo que esses produtos fossem marcados pelas limitações tipológicas formais e por modalidades de uso inadequadas, conseqüências da ainda incipiente condição técnico-produtiva vigente. A superação das limitações estético-formais e tipológicas dos produtos, proporcionada por uma posterior evolução bio- mecânica dos ferramentais de produção e pelo surgimento de novos materiais — como os polímeros e termoplásticos — pos- sibilitou grande desenvolvimento e disseminação dos produtos industriais. Ao mesmo tempo, perdeu-se o controle dos limites quantitativos e de adequações construtivas dos bens de consumo não-duráveis, causando, desta forma, um dano ecológico sem precedentes no ar, na terra e na água do nosso planeta. Esse é o tema exposto na primeira parte do livro, buscando situar o leitor historicamente, ao recordar e analisar brevemen- te todas as fases do desenvolvimento da indústria e do design, compreendidas desde a Revolução Industrial, por volta de 1750, até a era atual, denominada pós-industrial. 12 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 12 13/8/2008 12:48:24
  • 13. Encontramos ainda a presença do limite na barreira evolutiva existente entre os países do norte e do sul do planeta. Tal fator gerou a polêmica proposta de dualismo entre design de centro e design de periferia, contradizendo a tendência firmada no final do século XX, a de globalização dos produtos industriais sem limites territoriais para sua produção e comercialização, seguindo o norte- amento mundial dentro do chamado mercado multinacional. Esse dualismo contraria, ainda, a livre possibilidade de escolha por parte dos designers em viver e exercer suas atividades em quais- quer segmentos ou países, sem um limite de atuação profissional preestabelecido, ou área de abrangência predeterminada. Tem-se, também, o limite divisor entre o mundo industrial mecânico e o denominado pós-industrial, quando é possível perceber um desorientamento nos erros e acertos por parte de grande parcela do parque industrial produtivo e dos designers atuantes. Muitos dos produtos existentes na atualidade parecem mais demonstrar o poderio tecnológico e a capacidade evolutiva da nossa indústria que atender às reais necessidades do homem, com seus eternos limites de estatura, percepção, coordenação e movimento. É essa a temática central da segunda parte deste livro, que abre a discussão sobre a expectativa dos países de centro em ver os países periféricos e em via de desenvolvimento seguindo um outro caminho que não o trilhado por suas indústrias e seu design, indo contra a proposta por nós assumida de ter o design como atividade única e indivisível. Expomos nessa parte nossa opinião sobre o modelo de design a ser seguido pelos países de Terceiro Mundo e por tantos outros que compõem a nuança entre os sub e os superdesenvolvidos. Quanto ao ensino do design, comprovamos de igual forma a existência de várias condicionantes e de limites que deter- minam uma formação profissional adequada em design. Por exemplo, a problemática do tempo de formação escolar, ou 13 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 13 13/8/2008 12:48:24
  • 14. ainda o limite de dosagem entre a teoria e prática necessárias para uma melhor preparação de um estudante que se tornará um profissional do design. Esse é o discurso da terceira e última parte do livro. Cons- titui-se de nossas propostas para o modelo de ensino de design a ser seguido junto aos países de Terceiro Mundo, buscando pre- parar seus futuros designers para operar dentro do novo quadro da realidade mundial, mesmo contrariando as expectativas dos teóricos e estudiosos do design e da comunicação dos países mais desenvolvidos. Por outro lado, os Limites do Design, intrínsecos a essa ati- vidade e por nós abordados, não são uma afi rmativa, tampouco uma interrogação. Trata-se de uma questão aberta, abrangente, fluida. É como algo que pode ser flexível, moldável, contornável e mesmo mutável. Depende unicamente de bom senso, experiên- cia e intuição. Se pensarmos nas condicionantes objetivas projetuais, tais como custo, produção, materiais, durabilidade, ergonomia, nor- mas técnicas etc., Limites do Design vem a ser uma afirmação. Se, ao contrário, nos referirmos aos aspectos subjetivos — tipo- logia de uso, tipologia formal, cognitivo, abrangência de mercado etc., Limites do Design torna-se uma interrogação. Pode ser, ainda, uma controvérsia, quando pensamos na abrangência da profissão de design, que tramita da exatidão das engenharias à liberdade de expressão e criatividade das artes plásticas. Compreende desde os aspectos comerciais e de vendas necessários para a sobrevivência do produto no mercado, até a sua função social e sua aplicação junto às necessidades e expec- tativas dos usuários. São limites que vêm a ser, digamos assim, salutares. Não podemos dizer que esses limites, que sempre “perseguiram” a história do design e da indústria, devam ser vis- tos como um empecilho para o desenvolvimento de um produto ou para a elaboração de uma imagem de comunicação visual. 14 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 14 13/8/2008 12:48:24
  • 15. Nem mesmo podemos afirmar que sejam simplesmente uma fonte de orientação projetual a ser seguida pelos profissionais do design. Esses limites, na verdade, sempre estiveram presentes. Existem, e continuarão a existir. A convivência com os limites, ao se praticar design, é uma realidade e torna-se premissa básica para quem se propõe a exercer essa fascinante atividade. Todavia, os limites não só se fazem presentes na vida e nas atividades profissionais humanas; manifestam-se também em qualquer expressão de vida existente na natureza. O cientista e professor Enzo Tiezzi, entrevistado pela revista italiana Juliet Art Magazine, disserta: “Eu acredito que dos limi- tes, melhor ainda, direi que dos vínculos, nasce a criatividade. A criatividade dos cientistas e, por que não, a criatividade dos artistas. Creio também que ter o que fazer com as incertezas além dos vínculos seja uma coisa muito bela. Esta liberdade não é deste mundo, não faz parte da nossa natureza. A natureza é feita de limites e de vínculos, espaciais e temporais; a nossa vida não é eterna, as nossas dimensões são três, o nosso peso corpóreo é este que temos, da mesma forma as nossas possibilidades de movimento. Direi que a beleza da diversidade na história evolutiva está no fato de que cada espécie vivente tem os seus limites e seus vínculos. Alguns não têm a posição ereta, outros só podem mover-se dentro d’água, outros vivem no ar. A biodiversidade consiste no fato de que para cada ser vegetal ou animal e para cada homem existam seus vínculos diversos, e devemos aprender a conviver com isto. Isso é a própria vida, é isso que determina a diversidade, e sem a diversidade não poderia haver a arte e a ciência, porque a criatividade vem do nosso ser colocado sobre certos vínculos”. Sem limite de comparação, poderia existir uma escola me- lhor que a vida? Após onze anos da primeira edição de Limites do Design (1997), disponibilizamos aos leitores esta terceira edição revis- 15 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 15 13/8/2008 12:48:24
  • 16. ta e ampliada conforme sugerido pela editora Carla Milano, da Studio Nobel. Escrevi o original deste livro entre os anos 1992-1994, quan- do tinha 33 anos de idade. Naquela época, ao contrário de hoje, existiam poucas publicações disponíveis no âmbito do design e poucas reflexões eram expostas e publicadas, isto é, tornadas públicas. Tive a satisfação de ter o livro como um dos premiados pelo Museu da Casa Brasileira e adotado por diversas universi- dades brasileiras e do exterior, de “Porto Alegre” a “Portogallo” (Portugal). Passados tantos anos, vejo que muitos dos conceitos ex- postos no livro se mantêm ainda bastante atuais. Vejam, por exemplo, a questão do desafio do design frente ao fenômeno de globalização que ainda se demonstrava incipiente no início dos anos 90, e de igual forma as questões da sustentabilidade socio- ambiental aqui abordadas, antes mesmo de se tornarem uma causa obrigatória e inconteste nos debates de diversas áreas do conhecimento, inclusive no design. Outras reflexões apresentadas neste livro acabaram mesmo por se consolidar: tomem o conceito de design de forma única e indivisível sem distinção de raça, credo e localização geográfica, fazendo com que o profissional tinha que se adequar aos limites e possibilidades projetuais conforme sejam as condicionantes que encontre diante de si em uma micro, pequena, média ou grande empresa. Hoje, a fácil disponibilidade tecnológica e a livre circulação das matérias-primas pelo planeta fi zeram com que os desafios enfrentados pelos designers fossem ampliados em dimensão e foco. As grandes questões atuais se apresentam mais no âmbito cultural que tecnológico, mais pelos fatores subjetivos que obje- tivos, mais pelos atributos secundários que aqueles previsíveis e primários. Fazendo com que fossem criados, por vez, novos vínculos e limites desconhecidos dos até então praticados. Por 16 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 16 13/8/2008 12:48:24
  • 17. isso, a questão de base que sustenta os argumentos expostos nes- te livro se mantiveram coerentes e o tempo fez com que fossem legitimados, inclusive com novos exemplos mais atuais. Nas minhas caminhadas pelo Brasil, seja para consultorias, cursos ou palestras, as pessoas sempre me cobravam a reedição deste livro. Espero, portanto, que esta nova edição continue o seu papel na formação básica de nossos jovens designers e, sem maiores pretensões, que os estimule a refletir sobre o fascinante mundo que continua a ser o design. Boa leitura, Dijon De Moraes Julho de 2008. 17 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 17 13/8/2008 12:48:24
  • 18. SUMÁRIO PRIMEIRA PARTE A CULTURA INDUSTRIAL 23 O DESIGN COMO ATIVIDADE PROJETUAL 32 A ESTÉTICA MECÂNICA 40 A SEGUNDA GUERRA, NOVOS MATERIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS 47 DESIGN ITALIANO — ANOS 60 E CONTESTAÇÕES 50 MADE IN JAPAN 58 OS ESTADOS UNIDOS E O MUNDO PÓS-INDUSTRIAL 61 SEGUNDA PARTE A QUESTÃO DO PODER 75 OS LIMITES DO DESIGN 80 O DESIGN COMO ATIVIDADE INTERNACIONAL 93 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 18 13/8/2008 12:48:24
  • 19. O DESIGN DEIXA DE TER A INDÚSTRIA E A TECNOLOGIA COMO REFERÊNCIA MAIOR 107 O HOMEM COMO CENTRO MAIOR DA REFERÊNCIA DO DESIGN 115 O DESIGNER ZELIG 127 TERCEIRA PARTE PENSANDO NO ENSINO 139 O DESIGN PROGRAMADO 153 OS VALORES REFLEXIVOS, CRÍTICOS E ANALÍTICOS NO DESIGN 161 QUARTA PARTE MANIFESTO DA RAZÃO LOCAL 175 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 19 13/8/2008 12:48:25
  • 20. 1 Parte ª NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 20 13/8/2008 12:48:25
  • 21. A CULTURA INDUSTRIAL O DESIGN COMO ATIVIDADE PROJETUAL A ESTÉTICA MECÂNICA A SEGUNDA GUERRA, NOVOS MATERIAIS E NOVAS TECNOLOGIAS DESIGN ITALIANO — ANOS 60 E CONTESTAÇÕES MADE IN JAPAN OS ESTADOS UNIDOS E O MUNDO PÓS-INDUSTRIAL NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 21 13/8/2008 12:48:25
  • 22.
  • 23. A CULTURA INDUSTRIAL A cultura industrial iniciou-se com a Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra. Primeiro, com a mecanização das indústrias têxteis; em seguida, com as áreas dos manufaturados tradicionais — cerâmicas, porcelanas, utensílios metálicos e objetos em vidro. Porém, para obter um entendimento mais completo dos caminhos percorridos pela industrialização, devemos retornar próximo ao período medie- val, mais precisamente nas cidades mais ricas e desenvolvidas da Europa Ocidental, onde, para satisfazer as exigências da corte, do clero e dos ricos mercantes, foram criados diversos laboratórios que desenvolviam, em nível artesanal e limitado, uma variada gama de utensílios de uso doméstico, que tinham elevado valor artístico e considerável qualidade produtiva. Dessa forma, tivemos conhecimento dos primeiros modelos de produtos reproduzidos em série pelo método artesanal. Já no século XVII, com o poder concentrador das monar- quias, iniciou-se o mecenato a favor dos artistas e artesãos, por meio da fundação de diversas instituições manufatureiras, que eram financiadas e controladas pela Coroa. Pode-se, entre elas, destacar a de Gobelin na França, conhecida pelos seus tapetes, móveis e objetos em metal. Essa organização contava com mais de uma centena de artesãos e serviu de escola para um conside- rável número de aprendizes. Outra manufatura de destaque era a de Meissen, fundada pelo soberano grão-duque da Saxônia em 1709, onde se dava acento à pesquisa e à experiência em muitos utensílios de porcelana. Na metade do século XVIII, emergiu, na Inglaterra, o di- namismo de diversos empreendedores como Matheus Bulton e Josiah Wedgwood, que deram grande impulso à idéia de mecani- zação da produção. É importante perceber que, para empreende- dores como Bulton, o produto industrial deveria ser diversificado em modelo e estilo, deixando a possibilidade de opção por parte do consumidor final. “A produção de Wedgwood, por sua vez, 23 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 23 13/8/2008 12:48:25
  • 24. era marcada pela experimentação e melhoramento dos materiais empregados, tendo como resultado mais conhecido a cerâmica Queens Ware, realizada pela primeira vez em 1763”.1 Ainda na Inglaterra, outra importante contribuição foi dada por Henry Douton, junto à sua empresa de cerâmica e aparelhos sanitários. Douton chegou a manter um estúdio dentro da sua empresa, e isso serviu de incentivo e modelo para outros empre- endedores da época. O processo de industrialização começou a disseminar-se por toda a Europa ainda no final do século XVIII. Desenvolveu-se na França, na Alemanha e na Itália e recebeu grande impulso com o rápido desenvolvimento das ferrovias e das locomotivas a vapor. Já nos Estados Unidos, além da grande evolução ferroviária, podemos citar a produção de uma variada gama de produtos em vidros moldados. Uma das indústrias pioneiras nesse segmento foi a New Glass Company, de Boston. Ao mesmo tempo em que crescia o processo de desenvolvi- mento da indústria, iniciavam-se também os primeiros debates sobre essa nova era e questionamentos sobre o novo mundo industrial. Três foram os movimentos que definitivamente mar- caram o início da nossa evolução industrial. Foi na Inglaterra — berço da industrialização — que aconteceram os primeiros ques- tionamentos e movimentos de oposição ao processo industrial. O primeiro desses movimentos aconteceu mais precisamente em Londres. Chamava-se Arts and Crafts, e foi idealizado e dirigido por John Ruskin e William Morris. ARTS AND CRAFTS No Arts and Crafts, dois pontos fundamentais caracterizavam o movimento. O primeiro era a proposta de divisão da arte por 1 HESKETT, John. Industrial design. Thames and Hudson, p.16. meio de duas denominações distintas, a arte pura e a arte apli- 24 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 24 13/8/2008 12:48:25
  • 25. Laboratório de Henry van de Velde, em Uccle, Próximo a Bruxelas, meados de 1898. Fonte: Heskett, John. Industrial Design. Lusconi, Milão, 1990. cada, que vieram a ser conhecidas como arte maior e arte menor e, ainda, como belas-artes e artesanato. Nessa mesma época, os objetos produzidos pelos métodos industriais receberam outras denominações, como arte decorativa e arte industrial. O segundo ponto do Arts and Crafts era a oposição ao modelo de atuação da própria indústria e dos produtos derivados desse sistema. Os seguidores do movimento em questão criticavam a baixa qualidade dos produtos provenientes do novo sistema industrial. Justificavam, por meio desse enfoque, a necessida- de de retorno ao sistema artesanal precedente, como meio de produção e de manutenção da real autenticidade do produto de série. Lembremo-nos de que antes da Revolução Industrial o artesão era o profissional que criava e executava, ao mesmo tempo, todas as tarefas do processo de desenvolvimento e de confecção de um produto. Apesar dos aspectos sociais e humanitários que esse movi- mento continha, seus ideais eram nitidamente utópicos, devido ao 25 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 25 13/8/2008 12:48:25
  • 26. poder do dinamismo, à necessidade humana de buscar o novo, ao espírito de conquista do homem e, acima de tudo, à opção gene- ralizada por parte dos empreendedores pelos métodos industriais como forma de aumentar e diversificar sua produção. ART NOUVEAU O segundo movimento importante no processo de industria- lização foi o Art Nouveau, que nasceu em Glasgow, na Escócia, desenvolveu-se em Bruxelas, na Bélgica, e seguiu em direção a Paris, Viena, Moscou, Berlim, Milão e diversas cidades eu- ropéias. Esse movimento surgiu após a segunda metade do século XIX, época de grandes migrações da população do campo para as cidades, ao mesmo tempo em que se assistia à passagem de uma economia tradicionalmente agrícola a uma outra que dava destaque para o trabalho em fábricas. Marcava-se, assim, o início do crescimento dos empregos no setor terciário, fazendo aumen- tar em considerável porcentagem os profissionais estabilizados na denominada classe média européia. Com o objetivo de libertar-se dos estilos do passado, como o clássico greco-romano, artistas e arquitetos como Mackmur- do, Emile Gallé, Hector Guimard, Henry van de Velde, Victor Horta, Paul Hankar e Gustave Serrurier propuseram criar um novo estilo que não tivesse ligações com o academicismo até então praticado. “Nas hastes e folhas de Mackmurdo e de Obrist, as plumas de Lalique e os tentáculos de Granach. O que sempre fascinava o artesão eram os elementos naturais adaptados à sinuosidade do Art Nouveau” 2. Essas inspirações vieram intencionalmente de fora do continente europeu, como 2 PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura as referências à flora e à natureza, em geral, de países orientais moderna e do design. Martins Fontes, 1981, p. 78. como China e Japão. 26 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 26 13/8/2008 12:48:25
  • 27. “O Art Nouveau se formou em uma atmosfera espiritual fortemente influenciada pelas descobertas advindas das ciências naturais, e especialmente por meio da biologia, da botânica e da fisiologia.”3 “Os designers Art Nouveau voltaram-se para a natureza porque necessitavam de formas que expressassem crescimento não feito pelo homem, formas orgânicas e não cris- talinas, formas sensuais e não intelectuais. Mas Van de Velde, por outro lado, insistia no processo intelectual de transformar a natureza em ornamento. O ornamento, dizia ele, deve ser estrutu- ral e dinamográfico. A menor associação naturalística ameaçaria os valores eternos do ornamento. Outro protagonista, Voysey, concordava: ir à natureza é realmente ir à fonte, mas, diante de uma planta viva, o homem deve percorrer um processo elaborado de seleção e análise. As formas naturais devem ser reduzidas a meros símbolos. Assim que o Art Nouveau se propagou e se tornou comercialmente explorável, a versão de Van de Velde ficou sendo muito exigente, e as misturas menos puras de ornamentos com as formas curvas das plantas, e mesmo do corpo feminino, obtiveram certamente um sucesso maior.”4 O movimento Art Noveau propunha, ainda — em face do processo de aglomerações nas grandes cidades como Paris, Londres e Viena —, ser um estilo mais industrializável, por meio da opção por materiais como o vidro, o ferro, o bronze e outros metais de fácil fundição e reprodução. Tal movimento procurava também algo que representasse o desenvolvimento da indústria de então, que já era mais capa- citada e que necessitava de inovações para atender aos anseios da burguesia da época, que aspirava por mais novidades dos produtos da arte aplicada. “Mas a verdadeira intenção do Art Nouveau era aquela de unir a originalidade à utilidade, em uma 3 John Heskett. Op. cit., p. 68. relação mútua e produtiva.”5 4 Nikolaus Pevsner. Op. cit., p. 73-74. O estilo que havia tomado como referência a natureza man- 5 WITTLICH, Petr. Ar t Nouveau. Fratelli tinha a expectativa de proporcionar, pelos já excelentes meios de Melita, 1990, p. 114. 27 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 27 13/8/2008 12:48:25
  • 28. reprodução gráfica, como a litografia, o acesso e a absorção da arte pela maioria da população, como aconteceu com os cartazes ilustrados por Chèret e Toulouse-Lautrec. “A arte impressa veio permitir ao artista moderno ser compreendido pelo vasto público e ajudou a consolidar uma das mais fortes ambições da época: elevar o nível cultural das pessoas. Essas propostas constituíram, no século XIX, algo de muito importante, que foi a base para a propagação do Art Noveau, enquanto estilo novo inspirado em uma arte coletiva.”6 A industrialização das cidades, juntamente com a metamor- fose urbana demonstrada com o aparecimento dos bondes, do telefone, da fotografia (uma das grandes fontes de referência do Art Nouveau), das redes de canalização, do correio pneumático e do metrô, exigia o surgimento de um novo modelo arquitetônico e artístico, que simbolizasse um novo estilo de vida. “Desde o início do século, muitas vozes já tinham aclamado a necessidade de um novo estilo arquitetônico capaz de unificar e de orientar, segundo critérios orgânicos, as diversas tendências, para melhor exprimir os tempos modernos.” 7 Curioso notar que, já nessa época, começaram os primeiros estudos sobre a influência da vida “moderna” no comportamento psíquico das pessoas, como a percepção da mentalidade nervosa dos habitantes das grandes cidades, expostos aos contínuos traumas da tensão advinda da vida moderna. Apareceram também os primeiros estudos do professor Freud sobre o subconsciente humano, o sonho e o erotismo. Como Freud, os artistas do Art Nouveau tinham estes conceitos inseridos em suas obras: da imaginação individual ao sonho, aos motivos do inconsciente. O movimento Art Nouveau recebeu diferentes denomina- ções na Europa: Liberty na Inglaterra e na Itália, Sezession na 6 Op. cit., p. 112. Áustria e Jungendstil na Alemanha. Mas todos apresentavam as 7 Petr Wittlich. Op. cit., p. 99. mesmas propostas estéticas, teóricas e culturais do Art Nouveau. 28 NOVO_LIMITES_REV3_final.indd 28 13/8/2008 12:48:25