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design
           do caos
           a tropicália de rogério duarte
           projeto gráfico de eduardo ramuski




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À memória de meu pai
           Carlos Eduardo Ramuski,
           ex-aluno e ex-professor da Faculdade Belas Artes




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agradecimentos
   ESPECIAIS
           Ao excelente trio de professores.

           Ao Elcio Sartori, professor dedicado, com uma didáti-
           ca perfeita, olhar detalhista, apaixonado pelo que faz
           e com uma baita conhecimento que poucas vezes por
           introspecção, consegui sugar.

           À Christiane Wagner,
           que me ensinou que só desenhar bem não garante
           nada, que é sempre preciso dizer algo mais e que
           também me ensinou a ser menos orgulhoso e recon-
           hecer meus erros. Tentei fazer “a grande iilustração”
           mas parece que ainda não foi desta vez. Continuarei
           treinando.

           À Marina que eu só fui descobrir que era a Chaccur,
           que eu tanto queria conhecer, depois de não entender
           bem porque “duas aulas” de tipografia em “direção de
           arte”. Entende tudo de tipografia e até hoje, considero
           a melhor no quesito “avaliação de trabalhos”.

           Obrigado a todos




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inventaria-te
                        antesnum que
           te transformem
            MAL ENTENDIDO
                   glauber rocha




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pioneiro
TRANSGRESSOR
           Designer, poeta, músico e tradutor da cultura e identidade vi-
           sual do Brasil. Rogério Duarte é o guru da estética tropica-
           lista que influenciou inúmeros artistas e designers. Rogério
           “Caos” como ficou conhecido, desenvolveu vários projetos
           para amigos e colegas, entre eles: Glauber Rocha, Caetano
           Veloso e Gilberto Gil.
                   Interessou-se pelo design porque acreditava que a
           arte não devia ficar confinada em galerias e defendia a possi-
           bilidade de se comunicar através das técnicas de reprodução
           gráfica para a grande massa.
           Rogério Duarte é uma figura importantíssima para a cultura
           e o design. Reconhecido, porém não popularmente, ele foi
           pioneiro no design brasileiro que se instituía no Brasil no fim
           dos anos 60. Aprendeu a cartilha racionalista da Bauhaus e
           Ulm e rompeu com o modernismo, assimilando novas influên-
           cias, fazendo com que seu trabalho gráfico ganhasse status
           de inovador e experimental.
           Em 1965, publica na revista Civilização Brasileira, um dos pri-
           meiros textos sobre design, o artigo “Notas sobre o desenho
           Industrial”. Unindo novidade e tradição, as capas que realizou
           para o movimento tropicalista e os cartazes para o Cinema
           novo, traziam esta personalidade múltipla, que compreendeu
           aquelas transformações surgidas nos anos 60 e as projetou
           graficamente, fazendo como que no caso de cartaz do filme
           “Deus e o Diabo na terra do sol”, além de ser um marco no ci-
           nema nacional, também tornasse um ícone do design gráfico,
           apesar dos poucos recursos existentes naquela época.




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Algumas de suas obras mais famosas, que em sua maioria,
           foram realizadas com total liberdade, sem a necessidade de
           aprovação de clientes, artistas e gravadoras. Dedicou-se à
           militância política e acabou sendo preso e torturado pela Dita-
           dura Militar em abril de 1968. Após a prisão, viveu na clandes-
           tinidade e passou a freqüentar clínicas psiquiátricas.
                    Duarte foi esquecido. Sua genialidade foi posta de
           lado. Poucos quiseram compreender profundamente a sua
           obra, que poderia ter sido maior, se a ditadura não o tivesse
           escolhido para a tortura.
                    Mesmo sem diploma universitário, tornou-se profes-
           sor, primeiro na Universidade de Brasília e na Faculdade de
           Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Quem já
           assistiu a suas aulas se impressiona com sua erudição e inte-
           ligência.
                    Tem dois títulos de notório saber, um concedido pelo
           Ministério da Educação em 1997 e outro pela UNB em 1998.
           Em 2000, recebeu uma homenagem da ADG com a exposi-
           ção Resgatando Rogério Caos. Em 2003, fez o projeto gráfico
           do disco da banda Titãs e publicou “Tropicaos”, livro em que
           ele narra as torturas que sofreu na prisão.
           Agora nos últimos anos tem se dedicado mais a poesia e a
           escrita.




           “
           O Brasil vai apresentar uma grande novidade.Um índio descerá uma
           estrela colorida, brilhante. E quando o oculto e o obvio se revelarem
           idênticos, então o coração do povo reverenciará, se não um nome
           - Rogério Duarte-, um ponto gerador de energia,perdido em algum
           lugar da pré-história do grande acontecimento.
           Caetano Veloso




                                                                             0:7


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“   Uma das coisas que mais me enriqueceu foi ter querido ser
               um Anti-Wollner




                      rigor
                      rigor
                      e PAIXÃO
                      e PAIXÃO
                                  Rogério Duarte teve papel importante como um dos teóri-
                          cos do design brasileiro. Em 1965, escreveu o que seria, um dos
                          primeiros textos brasileiros sobre design, o artigo Notas sobre
                          o desenho industrial, publicado na revista Civilização Brasileira.
                          Nele, discute as origens do design, critica a ESDI e a influência
                          demasiada do formalismo da escola de ULM no design brasileiro.
                                  Com o profundo conhecimento que tinha do design gráfico,
                          não foi difícil que incorporasse a tipografia suíça e ainda sentisse
                          a necessidade de transgredir: “Alguns professores tentavam nos
                          impor um formalismo racionalista europeu sem levar em conta nos-
                          sa singularidade e individualidade como cultura e nação”, relata.
                                  Fez questão de aplicar o rigor técnico e funcional, mas,
                          ao mesmo tempo, não deixou de pinçar elementos da cultura
                          popular brasileira a serem mantidos nos projetos.


                                                                                         1:9


2.indd 9                                                                                     18/5/2009 18:55:29
SIGNOS DO CAOS Eis aqui alguns exemplos de projetos voltados para o mundo corporativo que revelam o profundo conhe-
            cimento de Rogério Duarte adquirido com o aprendizado no escritório de Aloísio Magalhães. Logotipo da Fundação CINEME-
            MÓRIA(1993), Pólo de Cinema e Vídeo de Brasília(1992), Desígnio Estúdio de Comunicação Visual, Fundação Roquete Pinto
            - emissora educativa TVE, logotipo do disco Refazenda (1975), Letras S.A. Letras de Câmbio, grupo Palhaços da Alvorada
            (1998), empresa GG - Produções Artísticas ltda(1975) Núcleo de Saúde e Sexualidade de Brasília, Centenário Villa Lobos
            (1987) e Renovadora de pneus Amazonas (1989).




2.indd 10                                                                                                                       18/5/2009 18:55:43
O grande feito de Rogério Duarte para o design
            foi ter tido uma preocupação com a identidade brasileira, e
            conseguido representar uma brasilidade, nunca antes vista.
            Assim como Aluisio Magalhães , com quem trabalhou, Rogé-
            rio Duarte tinha a preocupação em expressar a nacionalida-
            de em seus projetos gráficos. Foi onde aprendeu mesmo a
            exercer a profissão. A experiência de trabalhar com Aloísio
            Magalhães, foi fundamental para seu desenvolvimento como
            designer, pois segundo Rogério Duarte a rigorosa metodolo-
            gia lá utilizada se diferenciava da prática comum das agências
            da época que era a de imitar padrões internacionais.

            POSTURA RADICAL
            Rogério Duarte saiu do escritório de Aloísio Magalhaes muita
            em voga por causa de sua postura radical. Ele conta que Aloi-
            sio Magalhães o indicou para fazer a direção de arte do Labo-
            ratório Maurício Vilela. Ele fez o projeto, e apresentou para o
            diretor, que segundo Rogério, ficou raivoso e gritando: “ Isso é
            fascismo, você deveria ter me apresentado várias possibilida-
            des para eu escolher uma”. Duarte respondeu:




  “         O senhor é médico, Eu não tenho que fazer
            outro. Por acaso você apresenta vários diag-
            nósticos para o paciente escolher um? Isso
            aqui que eu estou fazendo é sério, rapaz. Isso
            é ciência. Se você não quer vários, chame vá-
            rios profissionais, cada um tem uma lingua-
            gem. A minha é esta.




                                                                               1 : 11


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Intervenção gráfica no trabalho de Rogério Duarte
      para a capa Folias Brejeiras




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“
            Não seremos mais colonizados. Não haverá nada
            nos indicando o rumo a seguir. Vamos seguir só a
            bússula do nosso coração




                desbunde
                desbunde
                  TOTAL
                   TOTAL
                 A trajetória do designer Rogério Duarte, obteve laços estrei-
                 tos com o movimento Tropicália. Imprimiu no conjunto de sua
                 obra, a linguagem tropicalista -de liberdade e irreverência
                 e uma preocupação em expressar a nacionalidade, mesmo
                 com o fim do movimento, que ocorre com a prisão de Caetano
                 e Gil, em Dezembro de 1968. O período vai ser influenciado
                 pelas novos modos de vida pregados pelo movimento que
                 ressoariam até 1972, quando se inicia o período conhecido
                 como “desbunde” termo originado do verbo desbundar, que,
                 segundo o dicionário, significa: “perder o autodomínio, enlou-
                 quecer, loucura, desvario”.



                                                                         2 : 13


2.indd 13                                                                     18/5/2009 18:55:56
Projeto Gráfico do Tablóide Flor
            do Mal (1969) que foi criado junto
            com Luiz Carlos Maciel, Tite de
            Lemos e Torquato. Produzido com
            grande liberdade e de forma arte-
            sanal, reunia poesia e prosa era
            quase todo escrito a mão. Durou
            apenas cinco edições. Na capa,a
            imagem polêmica de um menina
            negra seminua sorrindo.




                                                 Cartaz do filme Meteorango Kid Heroi intergalático(1969).




2.indd 14                                                                                                    18/5/2009 18:56:10
Surgem nessa época, no Brasil e no mundo, jornais alternati-
            vos que anunciam esse novo modo de vida. Na Bahia, surge
            o Verbo encantado, no Rio, os jornais Flor do Mal e Presença.
            É publicado, também no Rio, o primeiro e único número da
            revista Navilouca.


            PSICODELIA MARGINAL
            O designer Rogério Duarte opera com criatividade na com-
            plexa concepção do cartaz do filme Meteorango Kid: O herói
            Intergaláctico, de André Luis Oliveira. O designer se diverte
            com o desenho da tipografia, o fundo branco e as cores vi-
                                                                                Capa do livro Folias brejeiras (1975).
            brantes. A tipografia é deformada e substituída pelo desenho
            libertário. O cartaz não tem a menor preocupação de oferecer
            legibilidade. A figura do herói intergaláctico verde, de cabelos
            compridos unida aos peixes disformes exige decifração de
            quem vê o cartaz. As escamas dos peixes cobrem a leitura
            das palavras “herói” e “intergaláctico”, tornando a compreen-
            são ainda mais difícil. A psicodelia usada no cartaz fascinava
            os jovens, por sua linguagem libertária e influenciou bastante
            os tropicalistas tanto na música, como no design. Rogério Du-
            arte, ao criar o pôster psicodélico, acaba por colocar o design
            brasileiro definitivamente no pós-modernismo.




                                                                               NAVILOUCA Em 1974, Duarte partici-
                                                                               pou da primeira e única edição da re-
                                                                               vista NAVILOUCA, projeto editorial de
                                                                               Torquato Neto e Waly Salomão .




                                                                                                             2 : 15


2.indd 15                                                                                                           18/5/2009 18:56:19
MULTID


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“
              Para criar capas de discos, tornei-me músico; para fazer carta-
              zes de cinema, tornei-me cineasta e para fazer capas de livros
              tive que virar escritor




      multimídia
TIDIRECIONADO                 O designer colecionou diversas atividades e define-se como um
                              “artista multimídia”, ou “multidirecionado, confuso, até”. Foi poe-
                              ta, músico, ator, professor universitário, pintor, escritor, jornalis-
                              ta, tradutor de sânscrito e acima de tudo, tropicalista.
                              Rogério Duarte não gosta quando dizem que ele é tradutor do
                              tropicalismo: “O que se traduz é uma obra alheia, eu fui autor
                              também. O tropicalismo é um movimento que nasce no âmbito
                              das artes visuais, com Hélio Oiticica e comigo. O Caetano e Gil
                              é que fizeram a tradução do movimento”.
                              Rogério Duarte foi o designer que esteve mais próximo dos tro-
                              picalistas. Amigo de Hélio Oiticica e Glauber Rocha, costumava
                              visitar Caetano Veloso no Solar da Fossa, e foi um dos próceres
                              do tropicalismo. Ele é quem inicia Caetano nas primeiras dis-
                              cussões sobre o tropicalismo.


                                                                                             3 : 17


  2.indd 17                                                                                        18/5/2009 18:56:29
A estética tropicalista criada por Rogério Duarte trouxe uma
                                                        brasilidade nunca antes vista para o design. Na metade dos
                                                        anos 60, quando haviam poucos profissionais trabalhando na
                                                        área e pouco conhecimento sobre a profissão, Rogério Duar-
                                                        te, foi importante referência para os designers do período, já
                                                        incorporava antropofagicamente, em seu trabalho, a preocu-
                                                        pação em representar a nacionalidade, em juntar tradição e
                                                        inovação e também realizar a mistura de elementos díspares,
                                                        como na antropofagia.
                                                                 A grande contribuição de Rogério Duarte, segundo o
                                                        próprio, foi ter assumido uma posição radical. Ele procurou
                                                        aplicar seus conhecimentos em busca de uma linguagem
                                                        nova para o design que incorporasse influencias variadas, que
                                                        assim como a cultura brasileira, fosse heterogênea e múltipla.
                                                        Esta postura, se deu basicamente de investigações pessoais,
            Como músico, Rogério Duarte fez a tri-      que resultaram em trabalhos gráficos conceituais que foram
            lha sonora e como designer, o cartaz        marcos de uma estética revolucionária que se assemelhava
            para o filme A Idade da Terra (1980) de
                                                        com o que viria a se chamar posteriormente de tropicalismo.
            Glauber Rocha. No cartaz, a imagem
            da terra está invertida e a tipografia do            O experimentalismo constante no trabalho gráfico que
            título é escrita com dentes de um colar     buscava transformar estilos que eram predominantes naquela
            semelhante ao que Rogério Duarte utili-     época e somá-los com outras fórmulas que resultou nesta
            zou no filme Câncer fig. abaixo) . de
            Glauber Rocha (1970)                        nova linguagem que apareceu com maior força no tropica-
                                                        lismo. Isto permitiu que Duarte realizasse experimentações
                                                        maiores e mais caras nas capas de discos.
                                                                 Rogério Duarte tinha a preocupação em criar uma
                                                        nova indústria cultural, que não se transformasse em estilo
                                                        ou que fosse fácil de ser digerida. Ele propôs uma nova lin-
                                                        guagem para o design que captasse as influencias estrangei-
                                                        ras e mesclasse com a cultura nacional , criando assim, algo
                                                        novo e interessante. Figura importantíssima para a cultura e
                                                        o design nacional. Reconhecido, porém não popularmente,
                                                        seus trabalhos transformaram-se em ícones do design nacio-
                                                        nal. Ele foi pioneiro no design que se instituía no Brasil no
                                                        fim dos anos 60, com a chegada da Esdi (Escola Superior
                                                        de Desenho Industrial). Aprendeu a cartilha racionalista das




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escolas que foram referência no mundo e ao propor unir arte
            e indústria, Bauhaus e Escola de Ulm e rompeu com o moder-
            nismo, assimilando novas influências de uma época eferves-
            cente tanto na área cultural, política como comportamental e
            sexual.
            Em seu primeiro artigo “Notas sobre o Desenho Industrial”
            publicado na Revista Civilização Brasileira em 1965, Rogério
            Duarte debate a relação do design e a arte, e contesta influ-
            ência ulmiana no design. Sugere a antropofagia - nome que
            se dava às práticas sacrificais, comuns, em algumas tribos
            indígenas que viviam no Brasil e consistia na visão do escritor
            Oswald de Andrade a valorização das raízes nacionais e de-        MESTRE NO XADREZ
            glutição das influências estrangeiras, resultando na devolução    Projeto de peças e pictogramas para o
                                                                              ensinando Xadrez. 1994. Rogério Duar-
            de um produto novo de exportação, original e brasileiro como      te criou novos sistemas de anotação de
            solução para libertar o Brasil da forte presença colonialista.    xadrez.

                    Participou intensamente de um dos movimentos cul-
            turais mais importantes num momento político marcado pelo
            Golpe Militar, em 1964. Amigo de vários dos participantes que
            integrariam o movimento tropicalista, como o artista plástico
            Hélio Oiticica, o cineasta Glauber Rocha, e os cantores Cae-
            tano Veloso, Gilberto Gil.
            Artista e músico e unindo novidade e tradição, as capas que
            realizou para o movimento tropicalista e os cartazes para o
            Cinema novo, traziam esta personalidade múltipla, que com-
            preendeu as transformações de uma época e as projetou
            graficamente em seu trabalho, apesar dos poucos recursos
            financeiros existentes naquela época. alguns cartazes, como
            para o filme “Deus e o Diabo na terra do sol”, ficaram reco-
            nhecidos internacionalmente, além de marco no cinematogra-
            fia nacional, também tornasse um ícone do design gráfico.
            Polêmico e irreverente, Duarte traduziu graficamente o tropi-     Rogério Duarte e seu projeto de design
            calismo e acredita que “o verdadeiro tropicalismo ainda está      Cúpulas Neodésicas (1989)
            para ser inventado”.




                                                                                                            3 : 19


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CAOS ESQUECIDO PORÉM ATIVO
                                                 No ano 2000, ele recebe sua primeira exposição “Resgatando
                                                 Rogério Caos”, pela ADG (Associação de Designers Gráficos
                                                 do Brasil). A mostra apresenta parte de sua produção gráfica
                                                 que revela a personalidade múltipla do designer.
                                                 Com a exposição realizada pela ADG e o lançamento de Tro-
                                                 picaos, em 2003, é que o trabalho de Duarte passou a voltar
                                                 a ganhar dimensão e reconhecimento.
            Pictograma para a seção de rou-      Entender as propostas de Rogério Duarte para o design bra-
            bos e furtos da Polícia Técnica de   sileiro, é revelar a face de um designer que contribuiu imensa-
            Salvador.
                                                 mente para o crescimento do design, e que uniu conhecimen-
                                                 to técnico e ousadia em sua linguagem, quando a profissão
                                                 era ainda desconhecida no Brasil.
                                                 Em “Tropicaos”, publicado também em 2003, o designer con-
                                                 ta suas experiências e reúne poesias, entrevistas e artigos
                                                 publicados em revistas. No livro, o designer expõe sua versão
                                                 do tropicalismo e também conta seus dias de tortura em um
                                                 texto de memórias sobre o período da ditadura militar.




            Cartaz da Primeira Mostra de Ar-     PÓS-TROPICÁLIA
            tesanato da Região Centro-oeste.     Alguns artistas que vieram depois, acabaram ficando mais conhecidos na Bahia.
            1978.                                É o caso de Walter Smetak(1974) e É a Massa/Trio Eletrico Dodô e Osmar(1976)




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Ao lado, Cartazes para o Parque do Fla-
            gengo no IV Centenário do Rio de Ja-
            neiroCartaz do filme Erotique (1992), de
            Ana Maria Magalhães.Cartaz da Peça
            Teatral As Mãos Sujas. 1995.




            MISTISCISMO
            Após sair da prisão Rogério Duarte
            converteu-se ao budismo. Fez a tradu-
            ção do Bragavah Gita. Em 1998, lançou
            o disco Canções do Divino Mestre



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TITÃS VERDE E AMARELO
                                            Rogério Duarte foi convidado pela banda TITÃS para fazer
                                            a capa do disco “Como estão vocês?”. Em parceria com o
                                            filho Rogério Duarte Filho, a capa traz a novidade de alguns
                                            recursos produzidos com o auxílio de programas gráficos em
                                            que o designer bebe novamente na pop arte e reacende o
                                            tropicalismo. A capa imprime a estética pop tropicalista de
                                            Rogério Duarte cujos tons verde, amarelo e vermelho recorda
                                            bastante o primeiro album de Gilberto Gil. Lembrando que, no
                                            período de 2003, a esquerda estava ingressando no poder
                                            com a posse do presidente Lula e levando junto um tropi-




            PAI E FILHO JUNTOS
            Capa do disco para a banda
            TITAS (2003). Feita em par-
            ceria com o filho, somente
            reforça que a estética de Ro-
            gério Duarte continua viva
            e transcendendo o tempo,
            surgindo na capa do disco
            de uma banda de rock-pop.




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calista (Gilberto Gil) como ministro da cultura. A explIcação
            de Rogério é que o vermelho seja diretamente o PT (Partido
            dos Trabalhadores), embora ache que o Brasil vive um mo-
            mento que merecia essa citação. Representando o sangue e
            a carne, o vermelho também critica o verde-amarelo.
                    Desta vez, o espaço de 30x30 do vinil foi reduzido
            para o formato CD de 12x12.O título do álbum na cor vermel-
            ha vibrante, explodindo a pergunta na capa do “Como estão
            vocês?” - com uma multidão de rostos, ao fundo, que inclui a
            banda Titãs. A pergunta é direcionada à banda, ao público, e
            a nação.




            “     Tive que dar uma de estrela. Não estava
                  ali para escolher qual titã está mais bo-
                  nitinho na foto. Disse que se me chama-
                  ram iam ter que me engolir


            E O POETA CONTINUA...
            Pouco a pouco, Rogério Duarte vem sendo descoberto por
            outros designers. No livro “O design Brasileiro: Anos 60”, or-
            ganizado por Chico Homem de Melo, é dedicado um fascículo
            ao designer.
                   Recentemente ele fez o projeto para a sinalização do
            Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha e está sendo
            produzido um documentário sobre sua carreira. Em parceria        SINALIZAÇÃO
            com o poeta Narlan Matos, Rogério Duarte compôs algumas          Rogério Duarte foi convidado a fazer a si-
                                                                             nalização do Espaço Unibanco de Cinema
            músicas para um novo disco que aguarda interesse de al-          Glauber Rocha (2008). Ele desenvolveu a
            guma gravadora. Agora nos últimos anos ele tem se dedicado       identidade visual do Cinema em parceria
            mais a poesia e ao tratamento de uma doença.                     com o artista plástico Bel Borba, à partir
                                                                             da rosácea existente no cartaz, que é tra-
                                                                             balhada em mosaico.




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                                          TORTURADOR
                                          Retrato falado do policial que iniciou
                                          uma série de violência contra Ro-
                                          gério e seu irmão Ronaldo Duarte,
                                          publicado no jornal Última Hora em
                                          26 de Abril de 1968.
               em termos da minha obra
               Sou um cara destruído pela ditadura mesmo, pelo menos


                                                                                   “

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Lado2

  • 1. design do caos a tropicália de rogério duarte projeto gráfico de eduardo ramuski 2.indd 1 18/5/2009 18:55:06
  • 2. À memória de meu pai Carlos Eduardo Ramuski, ex-aluno e ex-professor da Faculdade Belas Artes 2.indd 2 18/5/2009 18:55:09
  • 3. 2.indd 3 18/5/2009 18:55:14
  • 4. agradecimentos ESPECIAIS Ao excelente trio de professores. Ao Elcio Sartori, professor dedicado, com uma didáti- ca perfeita, olhar detalhista, apaixonado pelo que faz e com uma baita conhecimento que poucas vezes por introspecção, consegui sugar. À Christiane Wagner, que me ensinou que só desenhar bem não garante nada, que é sempre preciso dizer algo mais e que também me ensinou a ser menos orgulhoso e recon- hecer meus erros. Tentei fazer “a grande iilustração” mas parece que ainda não foi desta vez. Continuarei treinando. À Marina que eu só fui descobrir que era a Chaccur, que eu tanto queria conhecer, depois de não entender bem porque “duas aulas” de tipografia em “direção de arte”. Entende tudo de tipografia e até hoje, considero a melhor no quesito “avaliação de trabalhos”. Obrigado a todos 2.indd 4 18/5/2009 18:55:14
  • 5. inventaria-te antesnum que te transformem MAL ENTENDIDO glauber rocha 2.indd 5 18/5/2009 18:55:18
  • 6. pioneiro TRANSGRESSOR Designer, poeta, músico e tradutor da cultura e identidade vi- sual do Brasil. Rogério Duarte é o guru da estética tropica- lista que influenciou inúmeros artistas e designers. Rogério “Caos” como ficou conhecido, desenvolveu vários projetos para amigos e colegas, entre eles: Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Interessou-se pelo design porque acreditava que a arte não devia ficar confinada em galerias e defendia a possi- bilidade de se comunicar através das técnicas de reprodução gráfica para a grande massa. Rogério Duarte é uma figura importantíssima para a cultura e o design. Reconhecido, porém não popularmente, ele foi pioneiro no design brasileiro que se instituía no Brasil no fim dos anos 60. Aprendeu a cartilha racionalista da Bauhaus e Ulm e rompeu com o modernismo, assimilando novas influên- cias, fazendo com que seu trabalho gráfico ganhasse status de inovador e experimental. Em 1965, publica na revista Civilização Brasileira, um dos pri- meiros textos sobre design, o artigo “Notas sobre o desenho Industrial”. Unindo novidade e tradição, as capas que realizou para o movimento tropicalista e os cartazes para o Cinema novo, traziam esta personalidade múltipla, que compreendeu aquelas transformações surgidas nos anos 60 e as projetou graficamente, fazendo como que no caso de cartaz do filme “Deus e o Diabo na terra do sol”, além de ser um marco no ci- nema nacional, também tornasse um ícone do design gráfico, apesar dos poucos recursos existentes naquela época. 2.indd 6 18/5/2009 18:55:18
  • 7. Algumas de suas obras mais famosas, que em sua maioria, foram realizadas com total liberdade, sem a necessidade de aprovação de clientes, artistas e gravadoras. Dedicou-se à militância política e acabou sendo preso e torturado pela Dita- dura Militar em abril de 1968. Após a prisão, viveu na clandes- tinidade e passou a freqüentar clínicas psiquiátricas. Duarte foi esquecido. Sua genialidade foi posta de lado. Poucos quiseram compreender profundamente a sua obra, que poderia ter sido maior, se a ditadura não o tivesse escolhido para a tortura. Mesmo sem diploma universitário, tornou-se profes- sor, primeiro na Universidade de Brasília e na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Quem já assistiu a suas aulas se impressiona com sua erudição e inte- ligência. Tem dois títulos de notório saber, um concedido pelo Ministério da Educação em 1997 e outro pela UNB em 1998. Em 2000, recebeu uma homenagem da ADG com a exposi- ção Resgatando Rogério Caos. Em 2003, fez o projeto gráfico do disco da banda Titãs e publicou “Tropicaos”, livro em que ele narra as torturas que sofreu na prisão. Agora nos últimos anos tem se dedicado mais a poesia e a escrita. “ O Brasil vai apresentar uma grande novidade.Um índio descerá uma estrela colorida, brilhante. E quando o oculto e o obvio se revelarem idênticos, então o coração do povo reverenciará, se não um nome - Rogério Duarte-, um ponto gerador de energia,perdido em algum lugar da pré-história do grande acontecimento. Caetano Veloso 0:7 2.indd 7 18/5/2009 18:55:18
  • 8. 2.indd 8 18/5/2009 18:55:24
  • 9. Uma das coisas que mais me enriqueceu foi ter querido ser um Anti-Wollner rigor rigor e PAIXÃO e PAIXÃO Rogério Duarte teve papel importante como um dos teóri- cos do design brasileiro. Em 1965, escreveu o que seria, um dos primeiros textos brasileiros sobre design, o artigo Notas sobre o desenho industrial, publicado na revista Civilização Brasileira. Nele, discute as origens do design, critica a ESDI e a influência demasiada do formalismo da escola de ULM no design brasileiro. Com o profundo conhecimento que tinha do design gráfico, não foi difícil que incorporasse a tipografia suíça e ainda sentisse a necessidade de transgredir: “Alguns professores tentavam nos impor um formalismo racionalista europeu sem levar em conta nos- sa singularidade e individualidade como cultura e nação”, relata. Fez questão de aplicar o rigor técnico e funcional, mas, ao mesmo tempo, não deixou de pinçar elementos da cultura popular brasileira a serem mantidos nos projetos. 1:9 2.indd 9 18/5/2009 18:55:29
  • 10. SIGNOS DO CAOS Eis aqui alguns exemplos de projetos voltados para o mundo corporativo que revelam o profundo conhe- cimento de Rogério Duarte adquirido com o aprendizado no escritório de Aloísio Magalhães. Logotipo da Fundação CINEME- MÓRIA(1993), Pólo de Cinema e Vídeo de Brasília(1992), Desígnio Estúdio de Comunicação Visual, Fundação Roquete Pinto - emissora educativa TVE, logotipo do disco Refazenda (1975), Letras S.A. Letras de Câmbio, grupo Palhaços da Alvorada (1998), empresa GG - Produções Artísticas ltda(1975) Núcleo de Saúde e Sexualidade de Brasília, Centenário Villa Lobos (1987) e Renovadora de pneus Amazonas (1989). 2.indd 10 18/5/2009 18:55:43
  • 11. O grande feito de Rogério Duarte para o design foi ter tido uma preocupação com a identidade brasileira, e conseguido representar uma brasilidade, nunca antes vista. Assim como Aluisio Magalhães , com quem trabalhou, Rogé- rio Duarte tinha a preocupação em expressar a nacionalida- de em seus projetos gráficos. Foi onde aprendeu mesmo a exercer a profissão. A experiência de trabalhar com Aloísio Magalhães, foi fundamental para seu desenvolvimento como designer, pois segundo Rogério Duarte a rigorosa metodolo- gia lá utilizada se diferenciava da prática comum das agências da época que era a de imitar padrões internacionais. POSTURA RADICAL Rogério Duarte saiu do escritório de Aloísio Magalhaes muita em voga por causa de sua postura radical. Ele conta que Aloi- sio Magalhães o indicou para fazer a direção de arte do Labo- ratório Maurício Vilela. Ele fez o projeto, e apresentou para o diretor, que segundo Rogério, ficou raivoso e gritando: “ Isso é fascismo, você deveria ter me apresentado várias possibilida- des para eu escolher uma”. Duarte respondeu: “ O senhor é médico, Eu não tenho que fazer outro. Por acaso você apresenta vários diag- nósticos para o paciente escolher um? Isso aqui que eu estou fazendo é sério, rapaz. Isso é ciência. Se você não quer vários, chame vá- rios profissionais, cada um tem uma lingua- gem. A minha é esta. 1 : 11 2.indd 11 18/5/2009 18:55:45
  • 12. Intervenção gráfica no trabalho de Rogério Duarte para a capa Folias Brejeiras 2.indd 12 18/5/2009 18:55:51
  • 13. Não seremos mais colonizados. Não haverá nada nos indicando o rumo a seguir. Vamos seguir só a bússula do nosso coração desbunde desbunde TOTAL TOTAL A trajetória do designer Rogério Duarte, obteve laços estrei- tos com o movimento Tropicália. Imprimiu no conjunto de sua obra, a linguagem tropicalista -de liberdade e irreverência e uma preocupação em expressar a nacionalidade, mesmo com o fim do movimento, que ocorre com a prisão de Caetano e Gil, em Dezembro de 1968. O período vai ser influenciado pelas novos modos de vida pregados pelo movimento que ressoariam até 1972, quando se inicia o período conhecido como “desbunde” termo originado do verbo desbundar, que, segundo o dicionário, significa: “perder o autodomínio, enlou- quecer, loucura, desvario”. 2 : 13 2.indd 13 18/5/2009 18:55:56
  • 14. Projeto Gráfico do Tablóide Flor do Mal (1969) que foi criado junto com Luiz Carlos Maciel, Tite de Lemos e Torquato. Produzido com grande liberdade e de forma arte- sanal, reunia poesia e prosa era quase todo escrito a mão. Durou apenas cinco edições. Na capa,a imagem polêmica de um menina negra seminua sorrindo. Cartaz do filme Meteorango Kid Heroi intergalático(1969). 2.indd 14 18/5/2009 18:56:10
  • 15. Surgem nessa época, no Brasil e no mundo, jornais alternati- vos que anunciam esse novo modo de vida. Na Bahia, surge o Verbo encantado, no Rio, os jornais Flor do Mal e Presença. É publicado, também no Rio, o primeiro e único número da revista Navilouca. PSICODELIA MARGINAL O designer Rogério Duarte opera com criatividade na com- plexa concepção do cartaz do filme Meteorango Kid: O herói Intergaláctico, de André Luis Oliveira. O designer se diverte com o desenho da tipografia, o fundo branco e as cores vi- Capa do livro Folias brejeiras (1975). brantes. A tipografia é deformada e substituída pelo desenho libertário. O cartaz não tem a menor preocupação de oferecer legibilidade. A figura do herói intergaláctico verde, de cabelos compridos unida aos peixes disformes exige decifração de quem vê o cartaz. As escamas dos peixes cobrem a leitura das palavras “herói” e “intergaláctico”, tornando a compreen- são ainda mais difícil. A psicodelia usada no cartaz fascinava os jovens, por sua linguagem libertária e influenciou bastante os tropicalistas tanto na música, como no design. Rogério Du- arte, ao criar o pôster psicodélico, acaba por colocar o design brasileiro definitivamente no pós-modernismo. NAVILOUCA Em 1974, Duarte partici- pou da primeira e única edição da re- vista NAVILOUCA, projeto editorial de Torquato Neto e Waly Salomão . 2 : 15 2.indd 15 18/5/2009 18:56:19
  • 16. MULTID 2.indd 16 18/5/2009 18:56:24
  • 17. Para criar capas de discos, tornei-me músico; para fazer carta- zes de cinema, tornei-me cineasta e para fazer capas de livros tive que virar escritor multimídia TIDIRECIONADO O designer colecionou diversas atividades e define-se como um “artista multimídia”, ou “multidirecionado, confuso, até”. Foi poe- ta, músico, ator, professor universitário, pintor, escritor, jornalis- ta, tradutor de sânscrito e acima de tudo, tropicalista. Rogério Duarte não gosta quando dizem que ele é tradutor do tropicalismo: “O que se traduz é uma obra alheia, eu fui autor também. O tropicalismo é um movimento que nasce no âmbito das artes visuais, com Hélio Oiticica e comigo. O Caetano e Gil é que fizeram a tradução do movimento”. Rogério Duarte foi o designer que esteve mais próximo dos tro- picalistas. Amigo de Hélio Oiticica e Glauber Rocha, costumava visitar Caetano Veloso no Solar da Fossa, e foi um dos próceres do tropicalismo. Ele é quem inicia Caetano nas primeiras dis- cussões sobre o tropicalismo. 3 : 17 2.indd 17 18/5/2009 18:56:29
  • 18. A estética tropicalista criada por Rogério Duarte trouxe uma brasilidade nunca antes vista para o design. Na metade dos anos 60, quando haviam poucos profissionais trabalhando na área e pouco conhecimento sobre a profissão, Rogério Duar- te, foi importante referência para os designers do período, já incorporava antropofagicamente, em seu trabalho, a preocu- pação em representar a nacionalidade, em juntar tradição e inovação e também realizar a mistura de elementos díspares, como na antropofagia. A grande contribuição de Rogério Duarte, segundo o próprio, foi ter assumido uma posição radical. Ele procurou aplicar seus conhecimentos em busca de uma linguagem nova para o design que incorporasse influencias variadas, que assim como a cultura brasileira, fosse heterogênea e múltipla. Esta postura, se deu basicamente de investigações pessoais, Como músico, Rogério Duarte fez a tri- que resultaram em trabalhos gráficos conceituais que foram lha sonora e como designer, o cartaz marcos de uma estética revolucionária que se assemelhava para o filme A Idade da Terra (1980) de com o que viria a se chamar posteriormente de tropicalismo. Glauber Rocha. No cartaz, a imagem da terra está invertida e a tipografia do O experimentalismo constante no trabalho gráfico que título é escrita com dentes de um colar buscava transformar estilos que eram predominantes naquela semelhante ao que Rogério Duarte utili- época e somá-los com outras fórmulas que resultou nesta zou no filme Câncer fig. abaixo) . de Glauber Rocha (1970) nova linguagem que apareceu com maior força no tropica- lismo. Isto permitiu que Duarte realizasse experimentações maiores e mais caras nas capas de discos. Rogério Duarte tinha a preocupação em criar uma nova indústria cultural, que não se transformasse em estilo ou que fosse fácil de ser digerida. Ele propôs uma nova lin- guagem para o design que captasse as influencias estrangei- ras e mesclasse com a cultura nacional , criando assim, algo novo e interessante. Figura importantíssima para a cultura e o design nacional. Reconhecido, porém não popularmente, seus trabalhos transformaram-se em ícones do design nacio- nal. Ele foi pioneiro no design que se instituía no Brasil no fim dos anos 60, com a chegada da Esdi (Escola Superior de Desenho Industrial). Aprendeu a cartilha racionalista das 2.indd 18 18/5/2009 18:56:40
  • 19. escolas que foram referência no mundo e ao propor unir arte e indústria, Bauhaus e Escola de Ulm e rompeu com o moder- nismo, assimilando novas influências de uma época eferves- cente tanto na área cultural, política como comportamental e sexual. Em seu primeiro artigo “Notas sobre o Desenho Industrial” publicado na Revista Civilização Brasileira em 1965, Rogério Duarte debate a relação do design e a arte, e contesta influ- ência ulmiana no design. Sugere a antropofagia - nome que se dava às práticas sacrificais, comuns, em algumas tribos indígenas que viviam no Brasil e consistia na visão do escritor Oswald de Andrade a valorização das raízes nacionais e de- MESTRE NO XADREZ glutição das influências estrangeiras, resultando na devolução Projeto de peças e pictogramas para o ensinando Xadrez. 1994. Rogério Duar- de um produto novo de exportação, original e brasileiro como te criou novos sistemas de anotação de solução para libertar o Brasil da forte presença colonialista. xadrez. Participou intensamente de um dos movimentos cul- turais mais importantes num momento político marcado pelo Golpe Militar, em 1964. Amigo de vários dos participantes que integrariam o movimento tropicalista, como o artista plástico Hélio Oiticica, o cineasta Glauber Rocha, e os cantores Cae- tano Veloso, Gilberto Gil. Artista e músico e unindo novidade e tradição, as capas que realizou para o movimento tropicalista e os cartazes para o Cinema novo, traziam esta personalidade múltipla, que com- preendeu as transformações de uma época e as projetou graficamente em seu trabalho, apesar dos poucos recursos financeiros existentes naquela época. alguns cartazes, como para o filme “Deus e o Diabo na terra do sol”, ficaram reco- nhecidos internacionalmente, além de marco no cinematogra- fia nacional, também tornasse um ícone do design gráfico. Polêmico e irreverente, Duarte traduziu graficamente o tropi- Rogério Duarte e seu projeto de design calismo e acredita que “o verdadeiro tropicalismo ainda está Cúpulas Neodésicas (1989) para ser inventado”. 3 : 19 2.indd 19 18/5/2009 18:56:47
  • 20. CAOS ESQUECIDO PORÉM ATIVO No ano 2000, ele recebe sua primeira exposição “Resgatando Rogério Caos”, pela ADG (Associação de Designers Gráficos do Brasil). A mostra apresenta parte de sua produção gráfica que revela a personalidade múltipla do designer. Com a exposição realizada pela ADG e o lançamento de Tro- picaos, em 2003, é que o trabalho de Duarte passou a voltar a ganhar dimensão e reconhecimento. Pictograma para a seção de rou- Entender as propostas de Rogério Duarte para o design bra- bos e furtos da Polícia Técnica de sileiro, é revelar a face de um designer que contribuiu imensa- Salvador. mente para o crescimento do design, e que uniu conhecimen- to técnico e ousadia em sua linguagem, quando a profissão era ainda desconhecida no Brasil. Em “Tropicaos”, publicado também em 2003, o designer con- ta suas experiências e reúne poesias, entrevistas e artigos publicados em revistas. No livro, o designer expõe sua versão do tropicalismo e também conta seus dias de tortura em um texto de memórias sobre o período da ditadura militar. Cartaz da Primeira Mostra de Ar- PÓS-TROPICÁLIA tesanato da Região Centro-oeste. Alguns artistas que vieram depois, acabaram ficando mais conhecidos na Bahia. 1978. É o caso de Walter Smetak(1974) e É a Massa/Trio Eletrico Dodô e Osmar(1976) 2.indd 20 18/5/2009 18:56:54
  • 21. Ao lado, Cartazes para o Parque do Fla- gengo no IV Centenário do Rio de Ja- neiroCartaz do filme Erotique (1992), de Ana Maria Magalhães.Cartaz da Peça Teatral As Mãos Sujas. 1995. MISTISCISMO Após sair da prisão Rogério Duarte converteu-se ao budismo. Fez a tradu- ção do Bragavah Gita. Em 1998, lançou o disco Canções do Divino Mestre 3 : 21 2.indd 21 18/5/2009 18:57:07
  • 22. TITÃS VERDE E AMARELO Rogério Duarte foi convidado pela banda TITÃS para fazer a capa do disco “Como estão vocês?”. Em parceria com o filho Rogério Duarte Filho, a capa traz a novidade de alguns recursos produzidos com o auxílio de programas gráficos em que o designer bebe novamente na pop arte e reacende o tropicalismo. A capa imprime a estética pop tropicalista de Rogério Duarte cujos tons verde, amarelo e vermelho recorda bastante o primeiro album de Gilberto Gil. Lembrando que, no período de 2003, a esquerda estava ingressando no poder com a posse do presidente Lula e levando junto um tropi- PAI E FILHO JUNTOS Capa do disco para a banda TITAS (2003). Feita em par- ceria com o filho, somente reforça que a estética de Ro- gério Duarte continua viva e transcendendo o tempo, surgindo na capa do disco de uma banda de rock-pop. 2.indd 22 18/5/2009 18:57:13
  • 23. calista (Gilberto Gil) como ministro da cultura. A explIcação de Rogério é que o vermelho seja diretamente o PT (Partido dos Trabalhadores), embora ache que o Brasil vive um mo- mento que merecia essa citação. Representando o sangue e a carne, o vermelho também critica o verde-amarelo. Desta vez, o espaço de 30x30 do vinil foi reduzido para o formato CD de 12x12.O título do álbum na cor vermel- ha vibrante, explodindo a pergunta na capa do “Como estão vocês?” - com uma multidão de rostos, ao fundo, que inclui a banda Titãs. A pergunta é direcionada à banda, ao público, e a nação. “ Tive que dar uma de estrela. Não estava ali para escolher qual titã está mais bo- nitinho na foto. Disse que se me chama- ram iam ter que me engolir E O POETA CONTINUA... Pouco a pouco, Rogério Duarte vem sendo descoberto por outros designers. No livro “O design Brasileiro: Anos 60”, or- ganizado por Chico Homem de Melo, é dedicado um fascículo ao designer. Recentemente ele fez o projeto para a sinalização do Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha e está sendo produzido um documentário sobre sua carreira. Em parceria SINALIZAÇÃO com o poeta Narlan Matos, Rogério Duarte compôs algumas Rogério Duarte foi convidado a fazer a si- nalização do Espaço Unibanco de Cinema músicas para um novo disco que aguarda interesse de al- Glauber Rocha (2008). Ele desenvolveu a guma gravadora. Agora nos últimos anos ele tem se dedicado identidade visual do Cinema em parceria mais a poesia e ao tratamento de uma doença. com o artista plástico Bel Borba, à partir da rosácea existente no cartaz, que é tra- balhada em mosaico. 3 : 23 2.indd 23 18/5/2009 18:57:17
  • 24. 18/5/2009 18:57:22 2.indd 24 TORTURADOR Retrato falado do policial que iniciou uma série de violência contra Ro- gério e seu irmão Ronaldo Duarte, publicado no jornal Última Hora em 26 de Abril de 1968. em termos da minha obra Sou um cara destruído pela ditadura mesmo, pelo menos “