Este documento resume a Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, incluindo seu autor (Paulo), ocasião (para responder perguntas e problemas na igreja em Corinto), data (aproximadamente 54-55 d.C.), estrutura e conteúdo (tratando de divisões, imoralidade, casamento, adoração pública e ressurreição).
3. AUTOR
Paulo, o apóstolo. Clemente de Roma (por
volta de 96 d.C.) escreveu a Corinto, citando
as admoestações de Paulo desta carta. Inácio
(que faleceu por volta de 107 d.C.) e Justino
Mártir (que faleceu por volta de 165 d.C.)
conheciam bem as palavras de Paulo
encontradas nesta carta. Ela foi incluída no
cânon de Marcião, e o Fragmento Muratoriano
tem-na como a primeira das cartas de Paulo.
Esta carta ocupa o lugar mais seguro entre
todas as cartas atribuídas a Paulo.
4. OCASIÃO
Foi afirmado acima que Paulo havia
escrito pelo menos uma carta anterior à
igreja em Corinto, a "carta anterior"
referida em I Cor. 5:9, da qual pode ser
descoberto um possível problema na
igreja. Aparente-mente, entre talvez
outras razões, Paulo havia escrito uma
admoestação acerca do não
disciplinamento de um caso de
imoralidade na família da igreja.
5. OCASIÃO
Os irmãos acharam a admoestação de Paulo
ambígua, e escreve-ram em resposta a ele,
assinalando a ambigüidade alegada. Pelo menos
três representantes levaram a carta, juntamente
com a comunicação pessoal particular acerca dos
negócios da igreja (16:17). Entrementes, Apolo
havia retornado a Éfeso (16:12), Sóstenes
chegado (1:1), e alguns da casa de Cloé (1:11)
haviam informado Paulo sobre a situação da
igreja.
6. Destas fontes, Paulo soube acerca
das divisões na igreja (1:10-12), um
caso de gritante imoralidade (5:1) e o
levar disputas perante tribunais
pagãos (6:1). Era necessário dar
respostas à igreja acerca de sua
com-preensão da "carta anterior"
(5:9-13), casamento e celibato (7:1),
o comer carnes sacrificadas às
deidades pagãs (8:1), a adoração
pública (11:2; 12:1), a ressurreição
(15:1), a coleta para os crentes
pobres de Jerusalém (16:1) e sobre
Apolo (16:12).
7. Com todas as interrogações e problemas, teria sido
melhor, natural-mente, ir até Corinto, mas Paulo
sentiu que não podia deixar Éfeso no momento
(16:8,9). O melhor que ele pôde fazer, naquelas
circunstân-cias, foi escrever e enviar um emissário
pessoal, Timóteo (4:14-21), que chegaria a Corinto
depois desta carta (16:10). Como resultado, os
crentes de todas as épocas têm esta notável carta.
Nenhuma carta de Paulo responde a tantas
questões práticas ou apresenta tão vigorosamente
as implicações éticas colocadas sobre a vida cristã
em uma sociedade pagã imoral.
9. ESTRUTURA E CONTEÚDO
Depois da saudação normal paulina e o dar
graças pela igreja em Corinto (1:1-9), Paulo
escreve acerca das divisões na igreja (1:10-
4:21). Esta informação havia sido dada por
membros da família de Cloé (1:11). Paulo
demonstra que o "espírito de partidos" dentro
da comunidade cristã é incompatível com o
espírito de amor (1:12-16), não está de acordo
com os princípios básicos do evangelho (1:17-
3:4), tampouco está baseado no propósito de
Deus de prover ministros para a igreja (3:5-
4:21).
10. O material de 5:1-6:20 aparentemente fora mencionado
na "carta anterior", mas havia sido compreendido
erroneamente. Isto é em especial verdadeiro quanto à
imoralidade gritante (5:1-8). Tal pecado flagrante deveria
ter sido tratado e condenado através de ação disciplinar
adequa-da, para prevenir tal propagação de pecado por
toda a igreja e a destruição do poder do evangelho na
comunidade (5:6-8). A imoralidade simplesmente não
pode ser tolerada dentro do corpo da igreja (5:9-13), e o
litígio entre cristãos perante tribunais pagãos é
inconcebível (6:1-11). O pecado do orgulho e insistência
sobre o direito de alguém é tão imoral para o cristão
quanto o é a fornicação (6:12-20). O cristão
individualmen-te e os cristãos coletivamente formam um
templo para o uso exclusivo do Espírito Santo (6:19,20).
11. O capítulo 7 foi escrito em resposta a uma
pergunta da igreja (7:1). Cláudio havia
estabelecido uma lei que exigia que as
pessoas se casassem; todos os solteiros
teriam que pagar um imposto. O governo
romano estava tentando dominar as
condições imorais do Império, e pensou que
uma maneira de fazer isto era estabilizar a
situação da família. Também os judeus
achavam uma desgraça uma mocinha de
quinze anos ou um jovem acima de vinte não
serem casados.
12. A pergunta da igreja em Corinto foi: "É certo um
cristão (especialmente um homem) não se casar?"
Ao respon-der, Paulo escreve que é certo
permanecer solteiro (7:1). Deve-se observar que
Paulo não usa o comparativo aqui. Também em
7:6, vê-se que esta é a opinião de Paulo, e não
uma ordem expressa do Senhor. Devido à
prevalência da fornicação por toda parte em
Corinto, seria melhor, diz Paulo, pelo testemunho
da igreja, que os homens se casassem. Casar ou
não casar, contudo, deve ser determinado,
procurando-se a vontade de Deus em cada caso
(7:7).
13. Em se tratando de casamentos mistos,
aqueles em que um dos cônjuges se torna um
crente depois de ter casado, o peso de
dissolver-se o casamento cai sobre o cônjuge
não-crente (7:8-24). É logicamente admitido
no Novo Testamento que um cristão jamais
deve entrar numa relação tal com um não-
crente que possa levar ao casa-mento; um
cristão simplesmente não pode casar-se com
um não-cristão. Cada coisa relacionada com o
casamento e a vida familiar deverá ser tratada
à luz da vontade de Deus para cada situação
(7:25-40).
14. Outra pergunta dirigida a Paulo tinha a ver com o
comer carne (8:1). Para se entender a resposta de
Paulo, é necessário conhecer-se o costume que
havia em Corinto acerca de vender-se carne.
Normalmente, qualquer pessoa que tinha um animal
para vender, primeiramente o levaria a um dos
templos pagãos e o ofereceria como um sacrifício ao
ídolo pagão. Os trabalhadores do templo ficariam
com uma parte e o proprietário, então, pegaria as
partes restantes e as venderia no mercado.
Freqüentemente os trabalhadores do templo
também vendiam o que haviam recebido.
15. Qualquer pessoa que comprasse carne nos
açougues (10:25) não poderia saber se a carne
havia ou não sido primeiramente dedicada a um
ídolo. Nesta passagem, Paulo acentua os princípios
da liberdade cristã e da responsabilidade cristã. Ele
primeiro estabelece o princípio da liberdade cristã
quanto ao temor dos ídolos (deuses pagãos que não
são deuses), lembrando que há, na realidade, um só
Deus (8:3-6). Contudo, este conhecimento da
liberdade cristã impõe certas responsabilidades. O
princípio, em toda parte, é que a liberdade de um
cristão forte na fé deve ser voluntariamente cedida
para ajudar o irmão que tem uma fraca consciência
(8:7-13).
16. Como exemplo desta entrega de direitos, Paulo
diz que ele não insistia em ter os direitos de um
apóstolo quando ele trabalhou entre eles (9:1-27).
Não existe, escreve Paulo, nenhum lugar, na vida
de um seguidor de Cristo, para o orgulho ou
insistência sobre os direitos de liberdade próprios
(9:23-27), por causa de possíveis conseqüências
trágicas, conforme vistas no exemplo de Israel
(10:1-13).
17. O princípio geral a seguir é que um cristão não
deve tomar parte em nenhuma atividade em
honra de um deus pagão. Na sua própria casa, a
pessoa pode comer, dando graças, qualquer
carne comprada nos mercados (10:25,26). Se for
feita uma pergunta acerca da origem da carne, é
melhor não comer (10:28-31). A liberdade que a
pessoa tem em Cristo deve ser limitada pelo
princípio de amor e preocupação pelo
desenvolvimento espiritual de seu irmão.
18. Paulo teve sua atenção chamada para
desordens na adoração comum da igreja, e
ele escreve sobre isto em 11:2-14:40. Primeiro
ele escreve sobre o papel das mulheres na
adoração pública (11:2-16). Esta passagem
deve ser lida e entendida à luz da situação
histórica de Corinto. Por causa do papel das
mulheres na adoração licenciosa no templo de
Afrodite, como "prostitutas sagradas" e
sacerdotisas, qualquer ajuntamento no qual as
mulheres tomassem uma parte importante era
suspeita.
19.
20. O cabelo curto era indicação de que a mulher
era ou havia sido uma das adoradoras
daquela deusa. Seu papel como sacerdotisa
permitia-lhe ser voz ativa nos ajuntamentos
públicos. Paulo diz que, a fim de evitar
qualquer confusão da adoração de Afrodite
com a de Jesus Cristo, uma mulher cristã
não deveria nem cortar seu cabelo curto nem
falar numa assembléia cristã. O princípio é
que não deveria haver absolutamente
nenhuma confusão da adoração de Deus
com a de qualquer deidade pagã, na mente
de nenhuma pessoa que visitasse uma
adoração cristã pública.
21. Outra desordem tinha a ver com a maneira pela qual
os Coríntios celebravam a Ceia do Senhor (11:17-
34). A igreja em Corinto era composta de ricos e de
pobres igualmente. Era o costume da igreja primitiva
ter um jantar que seria seguido pela Ceia do Senhor.
Durante o jantar, os membros abastados comeriam
até encher, enquanto os membros mais pobres eram
solicitados a ficar de lado (11:20-22). Depois da
refeição, os membros pobres então seriam
convidados a participar com os membros ricos na
Ceia do Senhor. Paulo escreve que isto é
incompatível com o significado real da Ceia do
Senhor (11:20-34).
22. Participar com tais divisões é celebrar
de uma maneira indigna, e isto é
pecado, porque o corpo de Cristo (a
Igreja) não é discernido (11:27-30). Se
não puder ser fornecida comida para
todos os presentes, então a "festa de
amor" deve ser dispensada e somente a
Ceia do Senhor celebrada, em
demonstração da unidade e unicidade
do Corpo de Cristo (11:34).
23. Outro caso de desordem na adoração
pública é tratado nos capítulos 12 a 14.
Infelizmente, a palavra "dons" encontrou
seu caminho em várias traduções de
12:1. Esta palavra não se encontra em
nenhum manuscrito grego existente. O
problema parece ser mais com
membros "espirituais" do que acerca
dos "dons" (12:1-3; 14:37-40).
24. Aqueles que afirmavam ter alcançado
um nível superior de "espiritualidade"
desejavam demonstrar seu crescimento
avançado através de uma mostra
pública de seus "dons espirituais". Paulo
escreve que os dons de Deus para a
igreja, através de membros individuais,
são para a igreja inteira, e não para a
glória pessoal de algum único membro
(12:4-30).
25. A espiritualidade não se vê nas consecuções de
uma pessoa, mas, antes, na utilidade de uma
pessoa em despreender-se para ajudar o corpo da
igreja inteira, através do amor auto-sacrificial (12:31-
13:13). De fato, o mais observável e mais evidente
dos dons (falar em línguas) é o menos proveitoso de
todos para a adoração pública (14:19,23). A
adoração cristã pública deverá ser feita com
decência, com tão pouca confusão quanto possível
e com entendimento, a fim de que todos possam
glorificar a Deus através do Senhor Jesus Cristo
(14:26-40)
26. A importância e natureza da
ressurreição é tratada no capítulo 15.
Paulo dá ênfase à importância da
ressurreição como sendo central na
mensagem cristã (15:1-12). Fora da
ressurreição real de Jesus, não pode
haver um lar para o cristão (15:13-19). A
dúvida acerca da ressurreição do corpo
vem da idéia grega sobre a inerente
natureza má da carne.
27. A filosofia grega, numa tentativa de explicar a
origem do mal e por que os homens sofrem,
afirmava que a alma, sendo imortal, torna-se
presa na prisão de carne, o corpo. O universo
físico, e, portanto, a carne, é criação de
espíritos maus. A salvação só pode ocorrer
quando a alma, tendo obtido conhecimento
suficiente acerca dos mistérios do universo, é
liberta do ciclo interminável de reencarnações
e é absorvida finalmente no remoto Deus, o
Primeiro-Movedor.
28. Paulo insiste que Deus é o Criador do
universo e que o corpo é bom, não mau
em si. Na ressurreição, este corpo carnal
(adaptado agora para esta esfera) deve
ser transformado em um corpo adaptado
para a esfera do céu (15:20-50). A certeza
da mensagem cristã é que, exatamente
como Jesus ressuscitou do túmulo (15:20-
28), da mesma forma o corpo do crente
será transformado, para ser igual ao do
Senhor ressurreto (15:51-54).
29. Esta salvação não depende do
conhecimento de uma pessoa, mas se
apóia na relação da pessoa para com o
Senhor Jesus Cristo, através de quem
se tem a vitória sobre o pecado, a morte
e a sepultura (15:54-58).
30. É feita menção em 16:1-4 acerca da oferta
a ser coletada e mandada para os cristãos
pobres de Jerusalém. Após escrever
acerca de seus planos pessoais de viagem
para visitar Corinto e Macedônia (16:5-9),
Paulo indica seu envio de Timóteo para
chegar a Corinto após esta carta (16:10-
13). Paulo então conclui a carta com
saudações pessoais, uma advertência final
e uma bênção (16:14-24).