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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
HOSPITAL PROVINCIAL DE XAI-XAI
Meningite Bacteriana
Xai-Xai, de Março de 2016
Sebastião Moisés (Medico Generalista)
Tópicos
• Breve consideração anatómica das meninges (orador)
• Conceito
• Epidemiologia
• Etiologia
• Factores de risco
• Vias de infecção
• Fisiopatologia
• Quadro clinico
• Exames auxiliares(Elisa Mabuza)
• Tratamento
• Complicações
• Seguimento
• Conclusões
Meningite bacteriana
Conceito:
• Inflamação das
membranas que
envolvem o SNC (pia-
máter, aracnóide) até
ao espaço
subaracnoídeo.
• Constitui uma
urgência medica
extrema.
• São de notificação
obrigatória.
Epidemiologia:
Fr. nos extremos da vida
(infância e idosos), em
adultos fr. em indivíduos
com patologia debilitante:
HIV, Neoplasias,
quimioterapia,
Esplenectomias, DM,
doenças auto-imunes, ID.
primarias, desnutrição, etc.
Com mortalidade elevada e
graves sequelas associadas.
• Aumenta a fr. durante o
inverno.
Agentes etiológicos
Idade/ situação clinica debilitante Agentes etiológicos frequentes
Recém-nascidos S. Agalactiae, E. Coli, L. Monocytogens
1-3 meses S. Agalactiae, S. Pneumoniae, N. Meningite
Acima de 3meses e adultos S. Pneumoniae, N. Meningite, H. Influenza
Derivação Ventrículo peritoneal Sthaphylococcus aureus/ epidermidis,
bacilos gran-,
Esplenectomizados S. Pneumoniae, N. Meningite, H. Influenza,
Pseudomonas, E.Coli, microrganismos
entericos
SIDA S. Pneumoniae, N. Meningite, H. Influenza,
M. Tuberculose, Pseudomonas, L.
Monocitogens
Factores de risco
Factor de Risco Patógeno
Alcoolismo, Esplenectomia,
Anemia falciforme, Doença
sinusal, défice de actividade do
complemento,
Fratura da base do crânio
Pneumococos
Traumatismo, Cateter ventricular,
Cirurgia intracraniana
Staphylococcus
Idosos, Debilitados Listeria
Pacientes pediátricos com otite
ou
infecção respiratória, Navahos,
HLA B12
Haemophilus influenzae
Vias de Infecção
• Hematogenica
• Por continuidade (mastoidite, otite media, etc)
• Cateteres com acesso ao SNC
• Directa (fracturas, defeitos de fechamento do
tubo neural)
Devendo o microorganismo vencer os mecanismos
de defesa local para poder proliferar-se
Fisiopatologia
• Bacteremia, com segregação de IgA bacteriana que
inactiva os anticorpos do hospedeiro e há adesão ao
endotelio;
• Há dano da barreira hematoencefalica e a bactéria
atinge o LCR (pobre imunologicamente);
• Os astrocitos e Neuroglias quando expostos ao
antígeno bacteriano liberam citoquinas abundantes;
• Há quimiotaxia com migração leucocitária e resposta
imunológica exagerada (edema citotóxico) e aumento
da permeabilidade vascular(vasogénico);
• Há diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e
metabolismo anaeróbico
Fisiopatologia
• A morte celular leva a formação de exsudado
purulento e posterior obstrução das do
sistema ventricular, granulações= Edema
intersticial e posterior hidrocefalia;
• A vasculite leva a eventos: isquemicos,
tromboembolismo, tromboflebite;
• Edema vasogenico+ citotoxico+ intersticial=
HTIC (consequente diminuição da PPC)
Fisiopatologia
Quadro clinico
Anamnese
Idade Clinica
RN Sintomas B, irritabilidade, choro
fr., não mama, convulsões
Lactente Sintomas B, irritabilidade,
convulsões, alt. na alimentação
Adulto Sintomas B, cefaleia, diplopia,
convulsões, alteração do nível de
consciência
Exame Físico
Idade Clinica
RN Abaulamento da
fontanela,
hipertermia, sinais de
HTIC, grito meníngeo
(grito ao fletir as
pernas)
Lactente Há sinais meníngeos
acima dos 10meses,
sinais de HTIC,
hipertermia
Adulto Sinais meníngeos, S.
HTIC., paralesias dos
pares craneanos
Exames auxiliares
Punção Lombar
Colheita e manipulação
• O LCR e colectado por punção lombar, entre a
terceira e a quarta vértebras lombares.
• Embora esse procedimento não seja complicado
requer determinadas precauções cuidadosa
técnica para evitar a introdução de infecção ou
danificar o tecido neural.
• O volume a ser removido baseia-se no volume
disponível do paciente (adulto versus neonato) e
na pressão de abertura do LCR tomada quando a
agulha entra pela primeira vez no espaço
subaracnoideo.
Colheita de amostras
• As amostras são colectadas em três tubos estéreis, que
são rotulados em 1,2e 3 na ordem em que são retirados.
• O 1 e para testes químicos e serológicos,
• O 2 e destinado para o lab. De microbiologia e o 3 para a
contagem celular porque e o menos provável de conter
células introduzidas pelo procedimento de punção
lombar.
• Os testes são realizados em carácter de urgência. Se isso
não for possível as amostras são mantidas da seguinte
maneira:
• Hematologia: os tubos são refrigerados; microbiologia
temp. ambiente; bioquímica os tubos são congelados.
Aspecto
• O aspecto de um LCR normalmente cristalino
pode fornecer informações importantes para o
diagnostico.
• O primeiro exame do liquido e feito na cabeceira
do paciente, e o seu resultado faz parte do
relatório do laboratório.
Terminologia
• O liquor pode ser cristalino límpido, ligeiramente
turvo ou turvo, leitoso, xantocromico e hemolisado̸
sanguinolento.
• Uma amostras ligeiramente turva ou leitosa, pode ser
resultado de aumento da concentração das proteínas
ou de lipidos, mas tambem pode ser indicativo de
infecção, sendo a turbidez causada pela presença de
de GBs.
• Xantocromia- a causa mais comum é a presença de
produtos de degradação das hemacias e billurubina
sérica elevada.
Punção Traumática
• LCR macroscopicamente sanguinolento pode ser uma
indicação de hemorragia intracraniana, mas tambem
pode ser por causa da punção lombar.
• Deve-se determinar se o sangue é o resultado de uma
hemorragia ou de uma punção traumática através de:
• Distribuição desigual de sangue;
• Formação de coágulos;
• Sobrenadante xantocromico.
• Note: Uma película reticular pode ser vista depois de
uma noite de refrigeração de fluido associado a
meningite tuberculosa.
Contagem de Células
• A contagem de células que é realizada rotineiramente
nas amostras é a de GBs.
• Qualquer contagem de células deve ser realizado
imediatamente, pois os GBs e Gvs começam a lisar
dentro de uma hora, com 40% dos leucócitos
desintegrados dentro de 2 horas.
• A amostras que não puder ser analisada
imediatamente deve ser refrigerada.
Células/
ml
Predomínio Proteínas Glicose Outros testes
LCR normal <10 Mn <45 35-100
Bacteriana >1000 PMN Elevadas Diminuída Gran
Cultura+TSA
Viral <300 MN Normal Normal Aglutinação de
Latex, PCR
M.Tuberculose <1000 MN Muito
elevado
Diminuída ADA+;
BK/Genexpert+
Cryptococos 1-100 MN Elevadas Normal/Baixa Tinta de china
Cultura
Significado Clínico das Células
Predominantes no LCR
Testes Bioquímicos
• Proteínas no Liquor
• Significado clínico:
• A analise mais frequente é a dosagem proteica, o
LCR contem uma quantidade muito pequena de
proteínas, e seus valores normais variam entre 15
a 45mg/dl.
• A elevação dos valores proteicos deve-se a
meningite e a hemorragia hematoencefalica, o
que torna o liquor opaco e eleva o nr. De células
Glicose no LCR
• O valor normal da glicose no LCR é de 60 a 70% da glicose
plasmática.
• Se a glicose plasmática é de 100mg/dL, a glicose no LCR será
de aproximadamente 65mg/dL.
• Para uma avaliação precisa de glicose no LCR, um teste de
glicemia deve ser realizado para comparação.
• O sangue para o exame da glicemia deve ser colhido duas
horas antes da punção lombar para dar tempo par equilíbrio
entre o sangue e o liquor, cuja a glicose é analisada com os
mesmos métodos usados para a glicemia.
• As amostras devem ser examinadas de imediato, pois um
decréscimo nos valores de glicose podem produzir erros
graves no tratamento do paciente.
Significado Clínico
• O significado do diagnostico da glicose no LCR
restringe-se ao achado de valores inferiores aos
plasmáticos.
• Valores baixos de glicose no LCR acompanhados
por aumento de GBs e com grande percentual de
neutrófilos é indicativo de meningite bacteriana.
• Se os GBs são linfocitos a suspeita é meningite
tuberculosa.
• Se o valor de glicose é normal mas com aumento
de nr. De linfocitos a suspeita é meningite viral.
Punção Lombar
Contra-Indicações absolutas
• Evidência de aumento da pressão intracraniana :(exame
neurológico pormenorizado, com fundo de olho –
papiledema) para que a realização do procedimento não
cause herniação de amigdalas cerebelares. Essa condição é
rara em crianças pequenas em função da complacência
craniana (suturas abertas).
• Infecções superficiais no local da punção.
Obs. Em caso de dúvidas quanto a possibilidade de aumento
da pressão intracraniana, indicar ultra-sonografia ou
tomografia antes da realização do procedimento.
Possíveis resultados do estudo de Gran
Patógeno Bacterioscopia pelo Gram
S. pneumoniae Cocos Gram +
N. meningitidis Diplococos Gram -
S. aureus Cocos Gram +
L. monocytogenes Bacilos Gram +
Enterobacteriaceae;
P. aeruginosa;
Acinetobacter spp.
Bacilos Gram -
H. influenzae Cocobacilos Gram -
Exames auxiliares
Exame Achado
Hemograma Leucocitose/Leucopenia com predomínio de neutrofilos,
trombocitopenia(CIVD)
Reagentes da fase
aguda
VS aumentada, Proteina C reactiva, Procalcitonina
Glicemia Para comparar com a glicorraquia
Hemocultura Valor prognostico se a hemocultura for
positiva=prognostico reservado
Coagulograma CIVD, sindrome de Waterhouse-Friderichsen
Ionograma Hiponatremia ( Na+ menor que 135mEq/L)
TAC-CE (se há sinais focais)
Tratamento
GERAL:
• Ressuscitação volêmica e equilíbrio hidroeletrolítico
• Manejo da hipertensão intracraniana: proteção de
vias aéreas, cabeceira a 30º, agente hiperosmolar
(manitol 20% 0,25-0,5g/kg/dose), corticóide
(dexametasona 0,15mg/kg/dose 6/6h),
hiperventilação, sedação(tiopental)/indução do coma
com hipotermia 34ᴼC.
• Controlar e evitar crises convulsivas;
• Tratamento Sintomático(analgesia, antipireticos, etc);
Antibiótico terapia empírica
Perfil do paciente Agentes
prováveis
Esquema
preferencial
Esquema
alternativo
2-50 anos S. pneumoniae
N. meningitidis
H. influenzae
Ceftriaxone +
Vancomicina
Moxifloxacino
/Cloranfenicol+
Vancomicina
> 50 anos S. pneumoniae
L.monocytogenes
N. meningitidis
Ceftriaxone +
Vancomicina+
Ampicilina
Moxifloxacino
/Cloranfenicol
+Vancomicina
+SMX-TMP
Imunocomprometidos S. pneumoniae
L.monocytogenes
N. meningitidis
Gram-negativos
Cefepime+
Vancomicina +
Ampicilina
Meropenem+
Vancomicina+
SMX-TMP
Trauma,
neurocirurgia,
dispositivos,
nosocomial
Gram-negativos
Staphylococcus spp.
S. pneumoniae
Cefepime +
Vancomicina
Meropenem+
Vancomicina
Antibiótico terapia guiada
Patógeno Esquema
preferencial
Esquema
alternativo
Duração
S. pneumoniae
Penicilina ≤ 0,06 (S)
Penicilina G Ceftriaxone
Mofloxacino ou
CAF
10-14 dias
S. pneumoniae:
Penicilina ≥ 0,12
(R) Cef 3ª < 1 (MIC <
I)
Ceftriaxone
S. pneumoniae
Penicilina > 2 (muito
R); Cef 3ª > 1 (MIC >
I)
Ceftriaxone + Vancomicina
±
Rifampicina
N. meningitidis
Ceftriaxone ou
Penicilina G (conforme
perfil de sensibilidade local)
Cloranfenicol 7-10dias
S. aureus - MSSA Oxacilina Vancomicina+
Rifampicina
14 dias
Antibiótico terapia guiada
Patógeno Esquema
preferencial
Esquema
alternativo
Duração
S. aureus - MRSA Vancomicina+
Rifampicina
Linezolida ou SMX-
TMP
14 dias
H. influenzae Ceftriaxone Cloranfenicol 7-10 dias
L.
monocytogenes
Ampicilina ou
Penicilina G+
Gentamicina
SMX-TMP
21 dias
Enterobacteriacea
e
Ceftriaxone Meropenem 14-21 dias
P. aeruginosa;
Acinetobacter spp.
Cefepime+
Gentamicina
Meropenem+
Gentamicina
14-21 dias
Tratamento MISAU
Faixa Etária 1ᵃ opção 2ᵃ opção 3ᵃ opção
0-7 dias Ampicilina + Gentamicina Cefotaxima+ Gentamicina
8-28 dias Ampicilina + Gentamicina Cefotaxima+Gentamicina
29dias- 2meses Ampicilina+Gentamicina Cefotaxima+Gentamicina
2 meses- 5anos Ampicilina + Cefotaxima Ceftriaxona
>5anos Ampicilina + CAF P. Cristalina + CAF Ceftriaxona
Adulto Ampicilina + CAF P. Cristalina + CAF Ceftriaxona
Complicações
• Hipertensão intracraneal
• Ventriculite
• Meningoencefalite
• Abcesso cerebral
• Surdez/ paralise de pares oculomotores
• Epilepsia
• Atraso de desenvolvimento psicomotor
• Défice motor
Seguimento
• Fisioterapia
• Terapia de fala
• Psicólogo
• Psiquiatria
• Medicina interna/ Neurologia
• Otorrinolaringologia
• Neurocirurgia
Requerendo uma abordagem multidisciplinar
Crianças devem ser seguidas até a idade escolar.
Conclusão
• Meningite constitui emergência medica de
notificação obrigatória;
• O diagnostico é clinico, necessitando de exames
auxiliares para etiologia e tratamento guiado;
• Importante o inicio precoce da antibioticoterapia
cobrindo todos agentes prováveis
• A punção lombar é necessário para o diagnostico
e também para o tratamento;
• O seguimento deve ser prolongado e
multidisciplinar devido as sequelas associadas a
meningite.

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Meningite Bacteriana: Diagnóstico e Tratamento

  • 1. REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DA SAÚDE HOSPITAL PROVINCIAL DE XAI-XAI Meningite Bacteriana Xai-Xai, de Março de 2016 Sebastião Moisés (Medico Generalista)
  • 2. Tópicos • Breve consideração anatómica das meninges (orador) • Conceito • Epidemiologia • Etiologia • Factores de risco • Vias de infecção • Fisiopatologia • Quadro clinico • Exames auxiliares(Elisa Mabuza) • Tratamento • Complicações • Seguimento • Conclusões
  • 3. Meningite bacteriana Conceito: • Inflamação das membranas que envolvem o SNC (pia- máter, aracnóide) até ao espaço subaracnoídeo. • Constitui uma urgência medica extrema. • São de notificação obrigatória. Epidemiologia: Fr. nos extremos da vida (infância e idosos), em adultos fr. em indivíduos com patologia debilitante: HIV, Neoplasias, quimioterapia, Esplenectomias, DM, doenças auto-imunes, ID. primarias, desnutrição, etc. Com mortalidade elevada e graves sequelas associadas. • Aumenta a fr. durante o inverno.
  • 4.
  • 5. Agentes etiológicos Idade/ situação clinica debilitante Agentes etiológicos frequentes Recém-nascidos S. Agalactiae, E. Coli, L. Monocytogens 1-3 meses S. Agalactiae, S. Pneumoniae, N. Meningite Acima de 3meses e adultos S. Pneumoniae, N. Meningite, H. Influenza Derivação Ventrículo peritoneal Sthaphylococcus aureus/ epidermidis, bacilos gran-, Esplenectomizados S. Pneumoniae, N. Meningite, H. Influenza, Pseudomonas, E.Coli, microrganismos entericos SIDA S. Pneumoniae, N. Meningite, H. Influenza, M. Tuberculose, Pseudomonas, L. Monocitogens
  • 6. Factores de risco Factor de Risco Patógeno Alcoolismo, Esplenectomia, Anemia falciforme, Doença sinusal, défice de actividade do complemento, Fratura da base do crânio Pneumococos Traumatismo, Cateter ventricular, Cirurgia intracraniana Staphylococcus Idosos, Debilitados Listeria Pacientes pediátricos com otite ou infecção respiratória, Navahos, HLA B12 Haemophilus influenzae
  • 7. Vias de Infecção • Hematogenica • Por continuidade (mastoidite, otite media, etc) • Cateteres com acesso ao SNC • Directa (fracturas, defeitos de fechamento do tubo neural) Devendo o microorganismo vencer os mecanismos de defesa local para poder proliferar-se
  • 8. Fisiopatologia • Bacteremia, com segregação de IgA bacteriana que inactiva os anticorpos do hospedeiro e há adesão ao endotelio; • Há dano da barreira hematoencefalica e a bactéria atinge o LCR (pobre imunologicamente); • Os astrocitos e Neuroglias quando expostos ao antígeno bacteriano liberam citoquinas abundantes; • Há quimiotaxia com migração leucocitária e resposta imunológica exagerada (edema citotóxico) e aumento da permeabilidade vascular(vasogénico); • Há diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e metabolismo anaeróbico
  • 9. Fisiopatologia • A morte celular leva a formação de exsudado purulento e posterior obstrução das do sistema ventricular, granulações= Edema intersticial e posterior hidrocefalia; • A vasculite leva a eventos: isquemicos, tromboembolismo, tromboflebite; • Edema vasogenico+ citotoxico+ intersticial= HTIC (consequente diminuição da PPC)
  • 11. Quadro clinico Anamnese Idade Clinica RN Sintomas B, irritabilidade, choro fr., não mama, convulsões Lactente Sintomas B, irritabilidade, convulsões, alt. na alimentação Adulto Sintomas B, cefaleia, diplopia, convulsões, alteração do nível de consciência Exame Físico Idade Clinica RN Abaulamento da fontanela, hipertermia, sinais de HTIC, grito meníngeo (grito ao fletir as pernas) Lactente Há sinais meníngeos acima dos 10meses, sinais de HTIC, hipertermia Adulto Sinais meníngeos, S. HTIC., paralesias dos pares craneanos
  • 13. Colheita e manipulação • O LCR e colectado por punção lombar, entre a terceira e a quarta vértebras lombares. • Embora esse procedimento não seja complicado requer determinadas precauções cuidadosa técnica para evitar a introdução de infecção ou danificar o tecido neural. • O volume a ser removido baseia-se no volume disponível do paciente (adulto versus neonato) e na pressão de abertura do LCR tomada quando a agulha entra pela primeira vez no espaço subaracnoideo.
  • 14. Colheita de amostras • As amostras são colectadas em três tubos estéreis, que são rotulados em 1,2e 3 na ordem em que são retirados. • O 1 e para testes químicos e serológicos, • O 2 e destinado para o lab. De microbiologia e o 3 para a contagem celular porque e o menos provável de conter células introduzidas pelo procedimento de punção lombar. • Os testes são realizados em carácter de urgência. Se isso não for possível as amostras são mantidas da seguinte maneira: • Hematologia: os tubos são refrigerados; microbiologia temp. ambiente; bioquímica os tubos são congelados.
  • 15. Aspecto • O aspecto de um LCR normalmente cristalino pode fornecer informações importantes para o diagnostico. • O primeiro exame do liquido e feito na cabeceira do paciente, e o seu resultado faz parte do relatório do laboratório.
  • 16. Terminologia • O liquor pode ser cristalino límpido, ligeiramente turvo ou turvo, leitoso, xantocromico e hemolisado̸ sanguinolento. • Uma amostras ligeiramente turva ou leitosa, pode ser resultado de aumento da concentração das proteínas ou de lipidos, mas tambem pode ser indicativo de infecção, sendo a turbidez causada pela presença de de GBs. • Xantocromia- a causa mais comum é a presença de produtos de degradação das hemacias e billurubina sérica elevada.
  • 17. Punção Traumática • LCR macroscopicamente sanguinolento pode ser uma indicação de hemorragia intracraniana, mas tambem pode ser por causa da punção lombar. • Deve-se determinar se o sangue é o resultado de uma hemorragia ou de uma punção traumática através de: • Distribuição desigual de sangue; • Formação de coágulos; • Sobrenadante xantocromico. • Note: Uma película reticular pode ser vista depois de uma noite de refrigeração de fluido associado a meningite tuberculosa.
  • 18. Contagem de Células • A contagem de células que é realizada rotineiramente nas amostras é a de GBs. • Qualquer contagem de células deve ser realizado imediatamente, pois os GBs e Gvs começam a lisar dentro de uma hora, com 40% dos leucócitos desintegrados dentro de 2 horas. • A amostras que não puder ser analisada imediatamente deve ser refrigerada.
  • 19. Células/ ml Predomínio Proteínas Glicose Outros testes LCR normal <10 Mn <45 35-100 Bacteriana >1000 PMN Elevadas Diminuída Gran Cultura+TSA Viral <300 MN Normal Normal Aglutinação de Latex, PCR M.Tuberculose <1000 MN Muito elevado Diminuída ADA+; BK/Genexpert+ Cryptococos 1-100 MN Elevadas Normal/Baixa Tinta de china Cultura
  • 20. Significado Clínico das Células Predominantes no LCR
  • 21. Testes Bioquímicos • Proteínas no Liquor • Significado clínico: • A analise mais frequente é a dosagem proteica, o LCR contem uma quantidade muito pequena de proteínas, e seus valores normais variam entre 15 a 45mg/dl. • A elevação dos valores proteicos deve-se a meningite e a hemorragia hematoencefalica, o que torna o liquor opaco e eleva o nr. De células
  • 22. Glicose no LCR • O valor normal da glicose no LCR é de 60 a 70% da glicose plasmática. • Se a glicose plasmática é de 100mg/dL, a glicose no LCR será de aproximadamente 65mg/dL. • Para uma avaliação precisa de glicose no LCR, um teste de glicemia deve ser realizado para comparação. • O sangue para o exame da glicemia deve ser colhido duas horas antes da punção lombar para dar tempo par equilíbrio entre o sangue e o liquor, cuja a glicose é analisada com os mesmos métodos usados para a glicemia. • As amostras devem ser examinadas de imediato, pois um decréscimo nos valores de glicose podem produzir erros graves no tratamento do paciente.
  • 23. Significado Clínico • O significado do diagnostico da glicose no LCR restringe-se ao achado de valores inferiores aos plasmáticos. • Valores baixos de glicose no LCR acompanhados por aumento de GBs e com grande percentual de neutrófilos é indicativo de meningite bacteriana. • Se os GBs são linfocitos a suspeita é meningite tuberculosa. • Se o valor de glicose é normal mas com aumento de nr. De linfocitos a suspeita é meningite viral.
  • 24. Punção Lombar Contra-Indicações absolutas • Evidência de aumento da pressão intracraniana :(exame neurológico pormenorizado, com fundo de olho – papiledema) para que a realização do procedimento não cause herniação de amigdalas cerebelares. Essa condição é rara em crianças pequenas em função da complacência craniana (suturas abertas). • Infecções superficiais no local da punção. Obs. Em caso de dúvidas quanto a possibilidade de aumento da pressão intracraniana, indicar ultra-sonografia ou tomografia antes da realização do procedimento.
  • 25. Possíveis resultados do estudo de Gran Patógeno Bacterioscopia pelo Gram S. pneumoniae Cocos Gram + N. meningitidis Diplococos Gram - S. aureus Cocos Gram + L. monocytogenes Bacilos Gram + Enterobacteriaceae; P. aeruginosa; Acinetobacter spp. Bacilos Gram - H. influenzae Cocobacilos Gram -
  • 26. Exames auxiliares Exame Achado Hemograma Leucocitose/Leucopenia com predomínio de neutrofilos, trombocitopenia(CIVD) Reagentes da fase aguda VS aumentada, Proteina C reactiva, Procalcitonina Glicemia Para comparar com a glicorraquia Hemocultura Valor prognostico se a hemocultura for positiva=prognostico reservado Coagulograma CIVD, sindrome de Waterhouse-Friderichsen Ionograma Hiponatremia ( Na+ menor que 135mEq/L) TAC-CE (se há sinais focais)
  • 27. Tratamento GERAL: • Ressuscitação volêmica e equilíbrio hidroeletrolítico • Manejo da hipertensão intracraniana: proteção de vias aéreas, cabeceira a 30º, agente hiperosmolar (manitol 20% 0,25-0,5g/kg/dose), corticóide (dexametasona 0,15mg/kg/dose 6/6h), hiperventilação, sedação(tiopental)/indução do coma com hipotermia 34ᴼC. • Controlar e evitar crises convulsivas; • Tratamento Sintomático(analgesia, antipireticos, etc);
  • 28. Antibiótico terapia empírica Perfil do paciente Agentes prováveis Esquema preferencial Esquema alternativo 2-50 anos S. pneumoniae N. meningitidis H. influenzae Ceftriaxone + Vancomicina Moxifloxacino /Cloranfenicol+ Vancomicina > 50 anos S. pneumoniae L.monocytogenes N. meningitidis Ceftriaxone + Vancomicina+ Ampicilina Moxifloxacino /Cloranfenicol +Vancomicina +SMX-TMP Imunocomprometidos S. pneumoniae L.monocytogenes N. meningitidis Gram-negativos Cefepime+ Vancomicina + Ampicilina Meropenem+ Vancomicina+ SMX-TMP Trauma, neurocirurgia, dispositivos, nosocomial Gram-negativos Staphylococcus spp. S. pneumoniae Cefepime + Vancomicina Meropenem+ Vancomicina
  • 29. Antibiótico terapia guiada Patógeno Esquema preferencial Esquema alternativo Duração S. pneumoniae Penicilina ≤ 0,06 (S) Penicilina G Ceftriaxone Mofloxacino ou CAF 10-14 dias S. pneumoniae: Penicilina ≥ 0,12 (R) Cef 3ª < 1 (MIC < I) Ceftriaxone S. pneumoniae Penicilina > 2 (muito R); Cef 3ª > 1 (MIC > I) Ceftriaxone + Vancomicina ± Rifampicina N. meningitidis Ceftriaxone ou Penicilina G (conforme perfil de sensibilidade local) Cloranfenicol 7-10dias S. aureus - MSSA Oxacilina Vancomicina+ Rifampicina 14 dias
  • 30. Antibiótico terapia guiada Patógeno Esquema preferencial Esquema alternativo Duração S. aureus - MRSA Vancomicina+ Rifampicina Linezolida ou SMX- TMP 14 dias H. influenzae Ceftriaxone Cloranfenicol 7-10 dias L. monocytogenes Ampicilina ou Penicilina G+ Gentamicina SMX-TMP 21 dias Enterobacteriacea e Ceftriaxone Meropenem 14-21 dias P. aeruginosa; Acinetobacter spp. Cefepime+ Gentamicina Meropenem+ Gentamicina 14-21 dias
  • 31. Tratamento MISAU Faixa Etária 1ᵃ opção 2ᵃ opção 3ᵃ opção 0-7 dias Ampicilina + Gentamicina Cefotaxima+ Gentamicina 8-28 dias Ampicilina + Gentamicina Cefotaxima+Gentamicina 29dias- 2meses Ampicilina+Gentamicina Cefotaxima+Gentamicina 2 meses- 5anos Ampicilina + Cefotaxima Ceftriaxona >5anos Ampicilina + CAF P. Cristalina + CAF Ceftriaxona Adulto Ampicilina + CAF P. Cristalina + CAF Ceftriaxona
  • 32. Complicações • Hipertensão intracraneal • Ventriculite • Meningoencefalite • Abcesso cerebral • Surdez/ paralise de pares oculomotores • Epilepsia • Atraso de desenvolvimento psicomotor • Défice motor
  • 33. Seguimento • Fisioterapia • Terapia de fala • Psicólogo • Psiquiatria • Medicina interna/ Neurologia • Otorrinolaringologia • Neurocirurgia Requerendo uma abordagem multidisciplinar Crianças devem ser seguidas até a idade escolar.
  • 34. Conclusão • Meningite constitui emergência medica de notificação obrigatória; • O diagnostico é clinico, necessitando de exames auxiliares para etiologia e tratamento guiado; • Importante o inicio precoce da antibioticoterapia cobrindo todos agentes prováveis • A punção lombar é necessário para o diagnostico e também para o tratamento; • O seguimento deve ser prolongado e multidisciplinar devido as sequelas associadas a meningite.