Este documento discute a literatura infantil brasileira, definindo-a como arte e subgênero literário. Apresenta suas características, origens e evolução no Brasil, desde a literatura oral indígena até autores contemporâneos. Também aborda gêneros literários, conceitos, a literatura infantil na sala de aula e referências bibliográficas sobre o tema.
4. A literatura infantil é, antes de tudo,
literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de
criatividade que representa o mundo, o
homem, a vida através da palavra. Funde
sonhos e a vida prática, o imaginário e o
real, os ideais e sua possível/impossível
realização...
Nelly Novaes Coelho
5. Gêneros literários:
• Lírico (em verso).
• Narrativo ou épico (em prosa: romances,
epopeias, novelas, contos, crônicas,
fábulas).
• Dramático (peças de teatro).
6. CONCEITOS:
1. Literatura Infantil é arte.
2. Literatura Infantil é subgênero literário.
3. “Não é mero entretenimento...É uma
aventura espiritual que engaja o eu em uma
experiência de vida, inteligência e emoções”.
(COELHO, 2010, p. 32)
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7.
8. CARACTERÍSTICAS:
(GREGORIN FILHO, 2009)
1. As temáticas apresentam “valores humanos,
construídos através da longa caminhada humana
pela história, e não valores que circulam apenas no
universo infantil das sociedades contemporâneas”.
2. Autor apresenta o tema com uma “roupa” infantil,
de acordo com a faixa etária do leitor.
3. Dois planos de expressão (semióticas): texto visual
+ texto verbal.
4. Pressupõe leitor intersemioticamente competente.
5. Há um “cardápio” ao qual o autor recorre, de
acordo com a sociedade e/ou indicações da
Pedagogia.
6. Temas recorrentes: folclórico, pedagógico, ficção.
9. “Geleia Geral” + Literatura Infantil +
Formação de Nova Mentalidade
(COELHO, 2010)
O TRADICINAL
1. Espírito individualista
2. Obediência à autoridade
3. Valorização do ter e do
parecer, acima do ser
4. Moral dogmática
5. Sociedade sexófoba
6. Reverência pelo passado
7. Visão transcendental da
condição humana
8. Racionalismo
9. Racismo
10. Criança = “adulto em miniatura”
O NOVO
1. Espírito solidário
2. Questionamento da autoridade
3. Valorização do fazer como
manifestação autêntica do ser
4. Moral da responsabilidade ética
5. Sociedade sexófila
6. Redescoberta e reinvenção do passado
7. Visão cósmica/existencial/mutante da
condição humana
8. Fenomenologia
9. Antirracismo
10. Criança = “ser em formação”
(mutantes do novo milênio)
10. Literatura Clássica Mundial
(ARROYO, 2011)
1. A tradição oral: mitos, lendas,contos
exemplares.
2. Fábulas orientais (séc. V a.C.): Pantcha-
Tantra, Ramayana, Hitopadexa, Calila
e Dimna, as Mil de uma noites
3. Homero (séc. VIII a.c.) com Odisseia e
Ilíada. Fábulas de Esopo (séc. VII a.C.) e
Fedro (14 d.C.)
4. Della Croce (1550-1620) com Bertoldo
5. Straparola de Caravaggio (1557), As 13
noites prazerosas, aparece o Gato de
Botas.
6. Giambattista Basile (1575-1632), Conti
de conti, aparecem a Gata
Borralheira, Bela Adormecida, Branca
de Neve, etc.
7. Gonçalo Trancoso (1575), Contos e
histórias de proveito, histórias
colhidas da tradição portuguesa,
árabe, influencia de Caravaggio e
Basile
8. La Fontaine (1621-1695), Fábulas, retoma
Esopo e Fedro.
9. Charles Perrault (1623-1703), da tradição
oral, Contos da mamãe Ganso,
aparecem Cinderela, Chapeuzinho
Vermelho, Gato de Botas, Barba Azul,
Bela Adormecida
10. Madame D’Aulnoy (1650-1705), Contos de
fadas (1ª vez)
11. Comenius (1592-1670), Orbis Pictus
(1658), 1º livro didático ilustrado
12. Fénelon (1651-1715), Fábulas e
Télémaque.
13. Mademoiselle De La Force (1654-1724),
As fadas (2ª vez)
14. Daniel Defoe (1661-1731), Robinson
Crusoé
15. Jonathan Swift (1667-1745), As viagens
de Gulliver
11. 16. Condessa de Murat (1670-1716),
Novos contos de fadas
17. Dama de Villeneuve (1740), A Bela
e a Fera
18. Irmãos Grimm (1785-1863), fábulas e
contos recolhidos da tradição
folclórica alemã: Branca de Neve,
Cinderela, O Alfaiate Valente, O
Flautista de Hamelin, Os músicos
de Bremen, Rapunzel, Chapeuzinho
Vermelho, A Bela Adormecida, João
e Maria, Rumpelstiltskin etc.
19. Condessa de Ségur (1799-1894),
Biblioteca cor de rosa
20. Hans Christian Andersen (1805-1875),
O patinho feio, Soldadinho de
chumbo, A pequena Sereia, O
rouxinol, A rainha da Neve etc.
21. Collodi (1826-1890), Pinóquio
22. Lewis Carroll (1832-1898), Alice no
país das maravilhas
23. Mark Twain (1834-1911), Tom Sawyer
e Huckleberry Finn.
24. Edmundo Amicis (1846-1908), Coração
25. Stevenson (1850-1894), A Ilha do
Tesouro e Raptado
26. James Barrie (1860-1937), Peter Pan
27. Edgar Rice Burroughs (1875-1950),
Tarzan
12. Origens da Literatura Infantil no Brasil
Brasil Colônia 1500-1808
Educação Jesuítica (até 1759)
Tradição oral = literatura
ágrafa. Contribuição dos
contadores de histórias africanos:
griôs, akpalôs, arokins, dialis.
Andavam pelos engenhos contando
histórias para crianças. Na maioria,
histórias de amedrontar.
13. Período imperial: de D. João VI a D. Pedro II
•Permanência da literatura ágrafa e popular
(de cordel)
•Fundação de colégios, aulas e liceus
•A permanência do status religioso na
educação
•Falta de livros de textos
•Instalação da Imprensa Régia
•Criança: adulto em miniatura
•Escola do castigo, textos adultos para
memorização
•Educação diferenciada para meninas e
meninos
•Destaque para professores/preceptores
franceses. Havia também ingleses e alemães
•Livros da literatura mundial traduzidos no
português de Portugal ou lidos no original
•Literatura escolar /ilustrações pobres
•Leitura obrigatória: Os Lusíadas de Luiz de
Camões
D. João VI
D. Pedro I
D. Pedro II
14. Trecho de “Os Lusíadas”
Luiz de Camões
Eis presto as Nereidas, surgindo das furnas,
Rodeiam a frota, que oscila nas águas;
Tritão que, soberbo, levava Dione,
Da ardente petrina se abrasa nas fráguas.
......
De mui remotos séculos
De Lísias vem a origem;
Some-lhe o berço mítico
Do tempo atra caligem
.......
“Os Lusíadas” – poema épico que narra os feitos do povo Luso (português), de 1556. A
ação central é a decoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta
da qual se vão descrevendo outros episódios da História de Portugal, glorificando o povo
português. Muitas referência à mitologia grega. Os pontinhos representam partes
“impróprias” censuradas pelo Barão de Paranapiacaba.
Imaginem crianças no Brasil decorando e declamando esse poema, certamente nada
entendiam. Como diziam críticos da época “estavam preparando crianças para falarem e
escreverem como pessoas de 500 anos atrás. Ninguém era capaz de escrever um simples
bilhete, se não fosse em um português rebuscado, complicado e antigo...”
15. República até Monteiro Lobato
•Leitura de livros para adultos: internacionais e
nacionais, exemplo: José de Alencar, Gonçalves Dias...
•Predomínio da literatura escolar (didatismo
moralizante): Coração (1886), de Amicis; Saudade
(1919), de Tales de Andrade; Cazuza (1938), de Viriato
Correa
• Destaque para imprensa escolar e infantil: jornais
publicados por escolas e estudantes (séc. XVIII e XIX)
•Revista Tico-Tico (1905). 50 anos de existência.
Entretenimento, histórias em quadrinhos, literatura
infantil. Desaparece após surgimentos das histórias em
quadrinhos estrangeiras: Fantasma, Mandrake etc.
•Literatura reflete todas as principais tendências da
Europa: fábulas, contos de fada maravilhosos, novelas
de aventura e cavalaria
•Nacionalismo com ênfase na vida rural
•Culto da inteligência
• Moralismo e religiosidade
•Exemplaridade e doutrinação
16. Autores brasileiros da época da Literatura Escolar
(didatismo moralizante, nacionalista – realismo sem
fantasia)
•José Saturnino da Costa Pereira, com Leitura para meninos (1818)
•Ildefonso Laura César, com Lições a meus filhos ( 1854)
•César Augusto Marques, com A meus filhos (1872)
•Gabriela de Jesus Ferreira França, com Contos Brasileiros (1881)
•Antônio Marques Rodrigues, com o Livro do Povo (1881)
•Adelina A. Lopes Vieira e Julia Lopes de Almeida, com Contos
Infantis (1886)
•Olavo Bilac, com Através do Brasil, Contos Pátrios, Poesias, Livro
de leitura, Teatro infantil (1906 a 1910)
•Julia Lopes de Almeida, com Histórias da nossa terra (1907); Era
uma vez... e Jardim florido (1917)
•Tales de Andrade, com Saudade (1919)
17. Monteiro Lobato: gênio revolucionário/
divisor de águas/pai da literatura infantil brasileira
•Desvinculou a literatura infantil da literatura escolar/pedagógica/didática
•Deu voz à criança, por meio da boneca Emília.
•Narizinho Arrebitado (1921); O Saci (1921); Fábulas (1922); e mais 21 títulos com milhares e
milhares de exemplares publicados.
•Criou as bases da verdadeira literatura infantil brasileira: apelo à imaginação, o non-sense (o
absurdo), harmonia com o complexo ecológico brasileiro, movimentação dos diálogos, graça
na expressão, linguagem visual e concreta, o enredo...
•Muitos autores renomados da literatura para adultos escreveram livros para crianças, na
mesma época que Monteiro Lobato, no entanto, não na mesma quantidade.
18. Leitor infantil hoje (COELHO, 2010)
PRÉ-LEITOR LEITOR
INICIANTE
LEITOR EM
PROCESSO
LEITOR
FLUENTE
LEITOR CRÍTICO
15 MESES AOS
5 ANOS
APROXIMADA-
MENTE
A PARTIR DOS 5
OU 6 ANOS
A PARTIR DOS 8
ANOS
A PARTIR DOS
10 ANOS
A PARTIR DOS
12 ANOS
EDUCAÇÃO
INFANTIL
ENSINO FUNDAMENTAL
Criança: ser em processo de formação (mutantes do novo milênio)
19. A literatura Infantil na sala de aula
(GREGORIN FILHO, 2011)
LIVROS DIDÁTICOS DE APOIO DIDÁTICO DE LITERATURA
INFANTIL
Usados para ensinar as
disciplinas formadoras
do currículo: Português,
Matemática, Geografia,
História, Ciências...
Publicações para
aprofundar os
conhecimentos de cada
disciplina
Livros de ficção,
Linguagem artística
20. LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
PÓS-LOBATO (1980/1990)
CONTEMPORÂNEA
(1990 até atualidade)
-”Boom” editorial;
-influências da abertura política na
concepção de educação;
-literatura inquieta e questionadora;
-questões cotidianas e mais realistas;
-apelo à curiosidade do leitor;
-diálogo entre autor e leitor;
-computador passa a tomar seu lugar
nas casas e vida cotidiana;
-apelo à visualidade.
EXPERIMENTALISMO
-LDBEN 9394/1996;
-PCNs;
-Temas transversais: Ética; Pluralidade
Cultural; Meio Ambiente; Saúde;
Orientação Sexual; Temas locais.
-movimentos sociais e de minorias
como reação à estereótipos negativos;
-Lei 11645/2008; “História e Cultura
Afro-Brasileira e Indígena”
-tecnologias e múltilas linguagens;
-hipertextualidade.
MORAL RELATIVA E
DIÁLOGOS COM O LEITOR
(GREGORIN FILHO, 2011)
21. Abobrinhas
Carlos Queiroz Telles (1999)
Batatinhas, quando nascem,
esparramam pelo chão,
invadem as escolinhas,
entram em todas as festinhas
e viram, declamação:
-Que chateação!
Ao contrário das colegas
de terreiro e de pomar,
as alegres abobrinhas
crescem fortes e felizes,
sem nunca se perguntar
onde meninas dormindo
colocam os pés e as mãos.
22. Referências Bibliográficas:
ARROYO, Leonardo. Literatura infantil brasileira. 3. ed. São Paulo: Editora
UNESP, 2011.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 7. ed.
São Paulo: Editora Moderna, 2010.
GREGORIN FILHO, José Nicolau. Literatura infantil: múltiplas linguagens na
formação de leitores. São Paulo: Melhoramentos, 2009.