SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Baixar para ler offline
A EXPERIÊNCIA DA DOR NO MINISTÉRIO PASTORAL


                                                                       Rev. Moisés Coelho Castro
                                                                        moshecastro@gmail.com

            Dez anos e seis meses de ministério pastoral em uma mesma igreja representam
um tempo sugestivo para uma parada estratégica e necessária. Após ter vivido diversas
experiências durante todos esses anos, sinto-me impulsionado a empreender uma jornada
auto-reflexiva em busca de compreensões, respostas e caminhos alternativos para a
continuidade do exercício ministerial.
            Para esta reflexão escolhi uma dessas experiências que têm marcado a minha
praxis1 ministerial, exercida no tempo, no espaço e em meio à vida humana. Esta vida que,
aos olhos do poeta, “não pára”2, lançando-me sobre as tramas e teias da existência humana.
“Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma; até quando o corpo pede um pouco
mais de alma; a vida não pára”3. Nessa mesma veia poética, falando sobre a beleza e
importância do tempo, Rubem Alves adverte em seu Tempus Fugit: “Quem sabe que o
tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais
será...”4
            Preciso, então, valorizar e aproveitar o tempo que Deus tem me concedido para
viver em meio à vida das pessoas, experimentar suas experiências e chorar suas dores.
Refletir sobre isso, hoje, é compreender o que é tempus fugit.
            A experiência a que me refiro, como o próprio título deste trabalho especifica,
trata-se da convivência com a dor, que tanto pode ser a minha própria dor, enquanto pastor
e ser humano inserido em um universo de aflições (Jo 16.33), como bem pode ser a dor
alheia, do próximo, com a qual tenho me confrontado no exercício do aconselhamento

1
  Mantenho o termo original por compreender, na linha de Aristóteles e juntamente com Groome, que “Praxis
é a ação ética decidida, intencional e reflexivamente escolhida.” Nesta acepção, “praxis inclui sempre
‘momentos gêmeos’ – ação (isto é, participação) e reflexão, mas não separadas entre si; é ação praticada
reflexivamente, e reflexão sobre o que se faz.” As citações foram extraídas de: GROOME, Thomas H.
Educação religiosa cristã: compartilhando nosso caso e visão. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 229 e 233.
2
 Faço referência ao poema “Paciência” de Lenine e Dudu Falcão, selecionado em: BORGATTO, Ana M.
Trinconi, BERTINI, Teresinha Costa H. e MARCHESI, Vera Lúcia de Carvalho (Orgs.). Antologia Poética
Nestlé. São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura, 2002, p. 15.
3
    Ibid.
4
    ALVES, Rubem. Tempus Fugit. São Paulo: Paulus, 1990, p. 11.
2



pastoral, nas visitas aos enfermos e angustiados, nas casas, nos hospitais, nos púlpitos e em
diversos lugares por onde transito, não como habitante, mas como passageiro convidado
ou, até mesmo, como clandestino, viajando sem pedir licença e introduzindo-me “sub-
repticiamente” na vida e no cotidiano das pessoas.
         A dor que tenho sentido e que agora reflito talvez seja da mesma intensidade
daquela experimentada pelo profeta Jeremias, tão bem externada em seu desabafo: “Por
que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura?” (Jr
15.18). Uma dor que é constante, não vai embora, permanece diante dos meus olhos todos
os dias; a dor que o ministério pastoral me obriga a ver, a sentir e a enfrentar com realismo,
com fé, com esperança e, acima de tudo, com amor; a dor que me desafia a fugir às
armadilhas da apatia e do conformismo, afinal de contas tenho visto essa dor todos os dias
nos olhos dos doentes, dos enlutados, dos abandonados, dos traídos, dos humilhados, dos
alcoolizados, dos deprimidos e de todos aqueles e aquelas que me procuram para uma
oração, que me encontram para ouvir os meus sermões aos domingos ou que me são
apresentados todos os dias na labuta pastoral. Dor e sofrimento que não são maus, mas que,
por ocorrerem continuamente diante dos meus olhos, podem me levar à indiferença, à
apatia. A esse respeito, Moltmann afirma que
               O mal e o sofrimento não são maus, mas a indiferença. Insensíveis esquecemo-nos
               dos acontecimentos desagradáveis. Não notamos que os jovens desempregados se
               multiplicam. Não percebemos que, sem esperança, entregam-se às drogas e se
               viciam. Acostumamo-nos a vê-los roubando para comprar “a matéria-prima” de
               seus falsos sonhos. Não mais nos alarmamos quando, à luz do dia, vemos assaltos
               ou atropelamentos. Ninguém se espanta. E assim o mal se expande como um tumor
               no corpo doente. Amplia-se o círculo diabólico da pobreza, do desemprego, da
               criminalidade e das prisões. Por quê? Porque, simplesmente, não paramos para
               pensar, e não nos deixamos impressionar. Aceitamos a brutalidade. Não queremos
               admitir a miséria dos outros. Evitamos, destarte, sofrer com eles. Perdemos a
               paixão pela vida.5

         Minha reflexão sobre a experiência da dor no ministério pastoral, apresentada
neste texto, possui dois propósitos: em primeiro lugar, quer ser uma contribuição ao Fórum
de Reflexão Ministerial no 5 Congresso Brasileiro de Teologia Vida Nova; em segundo
lugar, quer ser uma reflexão pessoal de uma parte da minha experiência ministerial com o
intuito de me auxiliar na busca e realização de minha vocação, que além de me confrontar
com a realidade e existência de muitos seres humanos, também me desafia a empreender


5
  MOLTMANN, Jürgen. Paixão pela vida. São Paulo: Aste, 1978, p. 11. Essa obra reúne as conferências
pronunciadas pelo teólogo de Tübingen, em diversas escolas de teologia, quando esteve no Brasil, em
setembro de 1977.
3



uma busca de mim mesmo, do meu “eu-em-construção”, visto que, enquanto pessoa,
jamais estarei pronto, acabado. Dessa forma, unindo experiência individual e experiência
coletiva estarei dando um importante passo para não perder a “paixão pela vida”.
            A consciência da vocação e a atuação pastoral me empurram na direção de uma
busca existencial, que e envolve a todos os seres humanos e me faz cantar a canção
Caçador de mim, eternizada pela voz de Milton Nascimento: “Por tanto amor, por tanta
emoção, a vida me fez assim: manso ou feroz, louco ou atroz, eu, caçador de mim”6.
Indubitavelmente, cada ser, em todo o mundo, está à procura de si mesmo. Não basta estar
no mundo, é preciso ser no mundo. Para tanto, como todos os seres humanos, eu preciso
empreender, sempre, a busca por mim mesmo para provocar o que Heidegger denomina
“des-ocultação do Ser”7.
            Tentando viver e compreender essa busca existencial, desafiado pela minha
vocação, apresento esta reflexão a respeito de um aspecto do meu próprio ministério,
exclusivamente, em primeira pessoa, fugindo-me da frieza da linguagem científica, porque
não desejo qualquer distância do objeto refletido, ao contrário, prezo pela aproximação,
quero estar bem perto daquilo que me toca e me confronta, fazendo-me derramar lágrimas
e apertar o peito à experiência da dor.
            Por ser um reflexo da minha praxis ministerial, dou prioridade à experiência e
faço uso limitado e parcimonioso de conteúdos e expressões teológicos. Com isso não
quero diminuir a teologia e exaltar a experiência, mas reconhecer que a principal evidência
de que sou um pastor não é a minha teologia, que dá sentido e significado ao que faço, mas
a prática ministerial refletida em minha experiência através daquilo que faço. Nesse
sentido, guardadas as devidas proporções, lembro-me de Campbell:
                   Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja
                   assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de
                   modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham
                   ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo
                   que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. 8




6
 MAGRÃO, Sérgio; SÁ, Luiz Carlos (Compositores). Em: NASCIMENTO, Milton. Minha História. Rio de
Janeiro: Polygram do Brasil, s.d. 1 CD (1:00’08”). Faixa 11.
7
    Cf.: HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 2 vols. Petrópolis: Vozes, 1997.
8
 CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. Joseph Campbell, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers.
Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Athena, 1990, p. 3.
4



          Como pastor, sou chamado por Deus a colocar-me ao lado das pessoas a fim de
orientá-las e ajudá-las na busca da superação, da resistência e da perseverança. Além de
sentir e enfrentar minhas próprias dores, tenho que sentir e enfrentar a dor alheia. A mim,
pastor, não me basta a própria experiência de dor, pois estou inserido no universo das
experiências das dores da humanidade que me cerca; sou interpelado, diariamente, pelos
olhares das “ovelhas aflitas e exaustas” (Mt 9.36).
          Com o intuito de tornar claros os meus propósitos, apresento essa reflexão
procurando evidenciar três momentos distintos que se misturam nas tramas e teias da
experiência da dor.
          Primeiramente, preciso falar da dor alheia, aquela que as pessoas dividem comigo,
deliberadamente ou não, na minha caminhada pastoral. Dor que não se cala e que me faz
lembrar das palavras do Rev. Élben Lenz César, que me foram ditas quando, juntos,
compartilhávamos nossas dores à mesa de refeições no último dia do 4 Congresso de
Teologia Vida Nova, em 2006: “Dor dividida é dor diminuída”. De fato, o pastor é
chamado a receber a parte que lhe cabe das dores alheias. A dor dos cânceres que
acometem crianças, jovens, adultos e velhos. A dor e a angústia maior9, que me faz
lembrar daquela menina, que aos cinco ou seis anos de idade passou a lutar contra um
câncer na cabeça. Como foi difícil e dolorido ter que acompanhar essa dor no limiar do
meu ministério. Mais difícil, ainda, foi ter que realizar o primeiro e, até hoje, único ofício
fúnebre de uma criança que sempre esperou a cura. Como ser pastor diante de tamanha
dor? Como ter que falar quando a dor alheia insiste em me fazer calar? O mesmo câncer
que levou a menina, também, levou ao extremo da dor dois irmãos em tempos diferentes,
mas nas mesmas condições, fazendo-os definhar, exaurindo-lhes todas as forças. E eu
estive com eles até ao fim. O que dizer da dor de uma mesma família, que teve a mãe, o
pai, a filha mais velha e a filha mais nova dizimados por cânceres diferentes, em anos
diferentes e, agora, o neto mais velho, o filho da irmã mais velha descobre, também, um
tipo diferente de câncer em seu corpo. Que dor essa família não tem enfrentado? Que
insegurança? Quem será o próximo? Como aguardar a dor que ainda virá?
          Em segundo lugar, preciso falar da minha própria experiência de dor, enfrentada e
resistida dia-a-dia com minha esposa, Eliza e meus dois filhos, Laila e Pedro, aqueles a
quem dedico este trabalho, por caminharem ao meu lado pela via dolorosa. Essa dor veio

9
 Poderia ter usado outros exemplos, como o desemprego, a traição, as drogas e outras doenças, mas escolhi o
câncer por ser o mal que mais tem causado angústia, insegurança e medo na vida das minhas ovelhas.
5



uma semana após ter pregado um sermão, baseado em Jó 40 e 41, com o título “A resposta
de Deus a Jó do meio de um redemoinho”, quando mostrei à igreja que, muitas vezes,
diante da dor, Deus responde perguntando, pois, no caso de Jó, Deus responde ao homem
de dores com cinqüenta e três perguntas. Naquele domingo, falei sobre o silêncio de Deus
diante das dores humanas; no domingo seguinte, no mesmo instante do culto, nascia o meu
filho Pedro, um lindo garoto portador da Síndrome de Down. Por quê? A dor da minha
esposa, a minha dor, incertezas, fragilidades, frustrações e lágrimas se misturando de uma
vez só. Aprendi, de fato, o que é prantear, chorar até as lágrimas não escorrerem mais dos
olhos. Hoje, meu filho está lindo, crescendo e se desenvolvendo, pela graça de Deus, além
das expectativas, provocando muitos risos e alegrias. Deus tem planos para minha família,
pois tem mostrado os caminhos. Não obstante os risos, as alegrias e a consciência dos
planos de Deus, continuo a sentir a mesma dor, a mesma insegurança, os mesmos medos e
a ausência de algumas respostas. Sou homem e continuo a questionar: Por quê?
        Por último, gostaria de dizer que, para a dor alheia e para a minha própria dor, a
melhor alternativa de enfrentamento, resistência e superação que tenho encontrado em meu
ministério tem sido a pregação da Palavra de Deus. Este aspecto do meu ministério tem se
tornado refrigério para mim e para os meus ouvintes nos momentos difíceis de
enfrentamento das dores. Através da pregação, Deus tem me feito unir o horizonte da vida
ao horizonte da Palavra; a realidade da dor à realidade antecipada e esperada pela fé; o
desespero humano à esperança divina. Através da pregação na força do Espírito, tenho
conseguido enfrentar minha dor de frente, passar pelo silêncio de Deus, mas, acima de
tudo, encher-me de esperança, porque se não tenho respostas que satisfazem, a Palavra de
Deus me mostra que ele está comigo em minha dor, seja ela qual for. Essa experiência, que
tenho levado ao púlpito, também, tem-me feito comunicar à igreja que “a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm 5.3-4).
        O ministério pastoral tem me feito ver que na experiência da dor não estou
sozinho, mas em companhia do mundo inteiro. Todas as pessoas enfrentam dor, em maior
ou menor grau e por razões diversas. Não há no mundo ninguém sem angústias ou isento
de dores. Afinal de contas, como o próprio Jesus ensinou, enfrentar aflições é a
normalidade da vida. Como diz Jonathan Menezes, fazendo uma leitura do pensamento de
Henri Nouwen, “Ele [Jesus] não veio eliminar as dores, mas ajudar-nos a enfrentá-las com
6



o realismo e a esperança que a vida nesse mundo requer, na perspectiva da graça e do amor
de Deus”10.
            Um dos principais desafios do Ministério da Palavra, em seu caráter profético, é
oferecer, sempre, uma pregação que se transforme em alternativa. Como afirma
Brueggemann, “A função do ministério profético é alimentar, nutrir, fazer surgir uma
consciência e uma percepção alternativa” 11, é claro, da realidade. Nesse sentido, a pregação
é a principal ferramenta do pastor, que o capacita a oferecer essa alternativa às pessoas no
enfrentamento, resistência e superação da dor. Não apenas porque a Palavra pode
transformar o mundo, mas porque “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de
toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mt 4.4).
            A pregação da Palavra de Deus tem sido uma ferramenta imprescindível ao meu
pastorado, pois tem me feito cumprir o ministério da consolação nos moldes de Isaías 40.1-
2: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém”. De
fato, somente a Palavra de Deus, quando dita, é capaz de falar aos corações de homens e
mulheres que se encontram em seus desertos, vales, montes e em seus “Getsêmanis”,
povoados por suas dores.
            À dimensão da dor e do desespero humano tenho apresentado, todos os domingos
nos púlpitos, a dimensão da esperança, gerada, nutrida e preservada pela Palavra de Deus.
            E, dessa forma, tenho me encontrado como pastor e homem que vive em meio às
dores do próximo e se sente desafiado a enfrentar a própria dor com a Palavra, além de se
ver, sempre, fortalecido em suas fraquezas pela graça de Deus.
            Ao concluir este texto, sei que estou “avançando para as coisas que diante de mim
estão e prosseguindo para o alvo” (Fl 3.13-14). Essa consciência me faz lembrar as
palavras do cantador François Silvestre, das quais me aproprio em paráfrase para finalizar:


             “Só é pastor quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue
                                              de seus mortos e a certeza de luta de seus vivos...”12


10
  MENEZES, Jonathan. Espiritualidade para o século XXI: o pensamento de Henri Nouwen. Disponível em:
<http://www.ftl.org.br/index2.php?option=com_content&task=view&id=59&pop=1&pag...> Acessado em 6
de junho de 2007.
11
     BRUEGGEMANN, Walter. Imaginação profética. São Paulo: Paulinas, 1983 p. 12.
12
  Verso original: “Só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus
mortos e a certeza de luta de seus vivos...” Cf. ARANTANHA, Mário de (Produtor). Elomar, Geraldo
Azevedo, Vital Farias, Xangai – Cantoria 1. Rio de Janeiro: Kuarup, 1984. 1 CD. Encarte.
7



                      MOISÉS COELHO CASTRO
                          Breve Currículo


Tenho 38 anos, sou casado com Eliza Mary Moisés Castro e temos dois
filhos: Laila Moisés Castro (4 anos) e Pedro Moisés Castro (1 ano). Sou
pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, ordenado pelo Presbitério Vale do
Rio Grande em 29 de dezembro de 1996; atuo como pastor da Igreja
Presbiteriana de Passos (Passos/MG) desde o ano de 1997; sou Mestre em
Teologia, na área de Antigo Testamento, pelo Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper (2003), em São Paulo/SP; Bacharel em Teologia
pelo Seminário Presbiteriano do Sul (1996), em Campinas/SP; Bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito de Passos – FESP/UEMG (2005), em
Passos/MG; atuei como professor de Teologia do Novo Testamento e
Introdução ao Novo Testamento, no ano de 2002, no Seminário Presbiteriano
do Sul, em Campinas/SP; fui convidado, recentemente, para lecionar Filosofia
na Faculdade de Serviço Social de Passos – FESP/UEMG, em Passos/MG.


Endereço Residencial:

Av. dos Expedicionários, 39, Ap. 602
37900-130, Centro, Passos/MG
(35) 3522-6093
moshecastro@gmail.com


Endereço Eclesiástico:

Igreja Presbiteriana de Passos
Rua Cel. Neca Medeiros, 133
37900-970, Centro, Passos/MG
(35) 3521-6046

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Boletim informativo novembro 2013
Boletim informativo   novembro 2013Boletim informativo   novembro 2013
Boletim informativo novembro 2013
fespiritacrista
 
Vencendoa depressão através das escolhas
Vencendoa depressão através das escolhasVencendoa depressão através das escolhas
Vencendoa depressão através das escolhas
iceanapolis
 
A vida impessoal joseph s. benner.
A vida impessoal joseph s. benner.A vida impessoal joseph s. benner.
A vida impessoal joseph s. benner.
saioborba
 

Mais procurados (17)

Boletim informativo novembro 2013
Boletim informativo   novembro 2013Boletim informativo   novembro 2013
Boletim informativo novembro 2013
 
Vencendoa depressão através das escolhas
Vencendoa depressão através das escolhasVencendoa depressão através das escolhas
Vencendoa depressão através das escolhas
 
Série Evangelho no Lar - Cap. 34 - Escandâlo e nós
Série Evangelho no Lar - Cap. 34 - Escandâlo e nósSérie Evangelho no Lar - Cap. 34 - Escandâlo e nós
Série Evangelho no Lar - Cap. 34 - Escandâlo e nós
 
Home cartasde_public_html_downloads_45167_26
 Home cartasde_public_html_downloads_45167_26 Home cartasde_public_html_downloads_45167_26
Home cartasde_public_html_downloads_45167_26
 
COMODISMO, O GRANDE OBSTÁCULO
COMODISMO, O GRANDE OBSTÁCULOCOMODISMO, O GRANDE OBSTÁCULO
COMODISMO, O GRANDE OBSTÁCULO
 
Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? - John Powell
Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? - John PowellPor que tenho medo de lhe dizer quem sou? - John Powell
Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? - John Powell
 
A Escada de Jacó
A Escada de JacóA Escada de Jacó
A Escada de Jacó
 
E A Vida Continua - Cap 1
E A Vida Continua - Cap 1E A Vida Continua - Cap 1
E A Vida Continua - Cap 1
 
Cura e libertação (josé carlos de lucca)
Cura e libertação (josé carlos de lucca)Cura e libertação (josé carlos de lucca)
Cura e libertação (josé carlos de lucca)
 
Mensagem de um mestre john mc donald
Mensagem de um mestre   john mc donaldMensagem de um mestre   john mc donald
Mensagem de um mestre john mc donald
 
A vida impessoal joseph s. benner.
A vida impessoal joseph s. benner.A vida impessoal joseph s. benner.
A vida impessoal joseph s. benner.
 
A IMPORTANCIA DA DOR
A  IMPORTANCIA DA DORA  IMPORTANCIA DA DOR
A IMPORTANCIA DA DOR
 
A Escravidão Si, aos Outros, aos Céus
A Escravidão Si, aos Outros, aos CéusA Escravidão Si, aos Outros, aos Céus
A Escravidão Si, aos Outros, aos Céus
 
A importância da dor pra a doutrina espírita
A importância da dor pra a doutrina espíritaA importância da dor pra a doutrina espírita
A importância da dor pra a doutrina espírita
 
O TEMPO - PRESENTE DO ETERNO
O TEMPO - PRESENTE DO ETERNOO TEMPO - PRESENTE DO ETERNO
O TEMPO - PRESENTE DO ETERNO
 
Série Evangelho no Lar - Cap. 37 - Taxa de Sombra
Série Evangelho no Lar - Cap. 37 - Taxa de SombraSérie Evangelho no Lar - Cap. 37 - Taxa de Sombra
Série Evangelho no Lar - Cap. 37 - Taxa de Sombra
 
Conversando o Evangelho - Suicídio
Conversando o Evangelho - SuicídioConversando o Evangelho - Suicídio
Conversando o Evangelho - Suicídio
 

Semelhante a Pdf 4 a experiência da dor no ministério pastoral

A empatia do visitador e os cuidados no fim da vida
A empatia do visitador e os cuidados no fim da vidaA empatia do visitador e os cuidados no fim da vida
A empatia do visitador e os cuidados no fim da vida
Jean Francesco
 
SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)
SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)
SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)
Sarita Birth
 

Semelhante a Pdf 4 a experiência da dor no ministério pastoral (20)

A empatia do visitador e os cuidados no fim da vida
A empatia do visitador e os cuidados no fim da vidaA empatia do visitador e os cuidados no fim da vida
A empatia do visitador e os cuidados no fim da vida
 
ENFERMIDADE E LUTO
ENFERMIDADE E LUTOENFERMIDADE E LUTO
ENFERMIDADE E LUTO
 
"LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALOR...
"LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALOR..."LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALOR...
"LONGEVIDADE E TEMPO LIVRE: NOVAS PROPOSTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL E DE VALOR...
 
Edição n. 35 do CH Noticias - Maio/2018
Edição n. 35 do CH Noticias - Maio/2018Edição n. 35 do CH Noticias - Maio/2018
Edição n. 35 do CH Noticias - Maio/2018
 
Mereça ser feliz!
Mereça ser feliz!Mereça ser feliz!
Mereça ser feliz!
 
Estudo do livro Roteiro lição 33
Estudo do livro Roteiro lição 33Estudo do livro Roteiro lição 33
Estudo do livro Roteiro lição 33
 
Salvifici Doloris
Salvifici DolorisSalvifici Doloris
Salvifici Doloris
 
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
Sobre a morte_e_o_morrer_elisabeth_kuble (2)
 
PRÁTICAS DE ACONSELHAMENTO PARA ADULTOS ENLUTADOS: A importância da relação d...
PRÁTICAS DE ACONSELHAMENTO PARA ADULTOS ENLUTADOS: A importância da relação d...PRÁTICAS DE ACONSELHAMENTO PARA ADULTOS ENLUTADOS: A importância da relação d...
PRÁTICAS DE ACONSELHAMENTO PARA ADULTOS ENLUTADOS: A importância da relação d...
 
Apostila obsessão lar rubataiana -doc - 11 doc
Apostila obsessão   lar rubataiana -doc - 11 docApostila obsessão   lar rubataiana -doc - 11 doc
Apostila obsessão lar rubataiana -doc - 11 doc
 
Apostila obsessão lar rubataiana -2009 .doc - 11 doc
Apostila obsessão   lar rubataiana -2009 .doc - 11 docApostila obsessão   lar rubataiana -2009 .doc - 11 doc
Apostila obsessão lar rubataiana -2009 .doc - 11 doc
 
A região do Umbral
A região do UmbralA região do Umbral
A região do Umbral
 
A elaboração da morte
A elaboração da morteA elaboração da morte
A elaboração da morte
 
SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)
SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)
SÉRIE FOTOGRÁFICA - O Prazer Afetivo Da Resignação (2012)
 
Carta 9
Carta 9Carta 9
Carta 9
 
Home cartasde_public_html_downloads_45167_26
 Home cartasde_public_html_downloads_45167_26 Home cartasde_public_html_downloads_45167_26
Home cartasde_public_html_downloads_45167_26
 
Carta 9
Carta 9Carta 9
Carta 9
 
O Livro Tibetano da Vida e da M - Sogyal Rinpoche.pdf
O Livro Tibetano da Vida e da M - Sogyal Rinpoche.pdfO Livro Tibetano da Vida e da M - Sogyal Rinpoche.pdf
O Livro Tibetano da Vida e da M - Sogyal Rinpoche.pdf
 
Inversão epistemológica | carolina buoro 2016
Inversão epistemológica | carolina buoro 2016Inversão epistemológica | carolina buoro 2016
Inversão epistemológica | carolina buoro 2016
 
Lição 10 adeus a culpa
Lição 10   adeus a culpaLição 10   adeus a culpa
Lição 10 adeus a culpa
 

Mais de Paulo Dias Nogueira

Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão   pedro - um homem em busca de compromissoSermão   pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
Paulo Dias Nogueira
 
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermãoSermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Paulo Dias Nogueira
 
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Paulo Dias Nogueira
 
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Paulo Dias Nogueira
 
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexãoSermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Paulo Dias Nogueira
 
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Paulo Dias Nogueira
 

Mais de Paulo Dias Nogueira (20)

Em Jesus os opostos se atraem
Em Jesus os opostos se atraemEm Jesus os opostos se atraem
Em Jesus os opostos se atraem
 
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro - O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
O Senhor é meu Pastor e Hospedeiro -
 
Plano de Ação Pastoral - aula e exemplo
Plano de Ação Pastoral - aula e exemploPlano de Ação Pastoral - aula e exemplo
Plano de Ação Pastoral - aula e exemplo
 
Boletim Mensageiro - 05 06 2016
Boletim Mensageiro - 05 06 2016Boletim Mensageiro - 05 06 2016
Boletim Mensageiro - 05 06 2016
 
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33 Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
Sermão - Não Temais... Sou Eu - Mt 14:22-33
 
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
Sermão - O maior Mandamento - Mt 22 34-40
 
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa CristãLiturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
Liturgia - Da Páscoa Judaica à Páscoa Cristã
 
SERMÃO: Natal - as mensagens dos anjos
SERMÃO: Natal  - as mensagens dos anjosSERMÃO: Natal  - as mensagens dos anjos
SERMÃO: Natal - as mensagens dos anjos
 
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjosSERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
SERMÃO - Natal: as mensagens dos anjos
 
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAMPOV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
POV 2016 - Carta de orientação e ficha da CLAM
 
Gaivota 183 encarte
Gaivota 183 encarteGaivota 183 encarte
Gaivota 183 encarte
 
Gaivota 183
Gaivota 183Gaivota 183
Gaivota 183
 
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
Liturgia - da páscoa judaica à páscoa cristã - grupo de comunhão do campos el...
 
Apresentação do pov 2015
Apresentação do pov 2015Apresentação do pov 2015
Apresentação do pov 2015
 
Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão   pedro - um homem em busca de compromissoSermão   pedro - um homem em busca de compromisso
Sermão pedro - um homem em busca de compromisso
 
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermãoSermão   ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
Sermão ouvir a deus ou aos homens - 2 cr 18 1-27 - sermão
 
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)Sermão   o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
Sermão o senhor é meu pastor e hospedeiro - salmo 23 (2012)
 
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)Sermão   jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
Sermão jesus o bom pastor - joão 10 11-18 (2012)
 
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexãoSermão   jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
Sermão jesus nos chama ao compromisso - lucas 14 25-33 - reflexão
 
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17Sermão   eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
Sermão eliseu e a mulher sunamita - 2 reis 4 8-17
 

Pdf 4 a experiência da dor no ministério pastoral

  • 1. A EXPERIÊNCIA DA DOR NO MINISTÉRIO PASTORAL Rev. Moisés Coelho Castro moshecastro@gmail.com Dez anos e seis meses de ministério pastoral em uma mesma igreja representam um tempo sugestivo para uma parada estratégica e necessária. Após ter vivido diversas experiências durante todos esses anos, sinto-me impulsionado a empreender uma jornada auto-reflexiva em busca de compreensões, respostas e caminhos alternativos para a continuidade do exercício ministerial. Para esta reflexão escolhi uma dessas experiências que têm marcado a minha praxis1 ministerial, exercida no tempo, no espaço e em meio à vida humana. Esta vida que, aos olhos do poeta, “não pára”2, lançando-me sobre as tramas e teias da existência humana. “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma; até quando o corpo pede um pouco mais de alma; a vida não pára”3. Nessa mesma veia poética, falando sobre a beleza e importância do tempo, Rubem Alves adverte em seu Tempus Fugit: “Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será...”4 Preciso, então, valorizar e aproveitar o tempo que Deus tem me concedido para viver em meio à vida das pessoas, experimentar suas experiências e chorar suas dores. Refletir sobre isso, hoje, é compreender o que é tempus fugit. A experiência a que me refiro, como o próprio título deste trabalho especifica, trata-se da convivência com a dor, que tanto pode ser a minha própria dor, enquanto pastor e ser humano inserido em um universo de aflições (Jo 16.33), como bem pode ser a dor alheia, do próximo, com a qual tenho me confrontado no exercício do aconselhamento 1 Mantenho o termo original por compreender, na linha de Aristóteles e juntamente com Groome, que “Praxis é a ação ética decidida, intencional e reflexivamente escolhida.” Nesta acepção, “praxis inclui sempre ‘momentos gêmeos’ – ação (isto é, participação) e reflexão, mas não separadas entre si; é ação praticada reflexivamente, e reflexão sobre o que se faz.” As citações foram extraídas de: GROOME, Thomas H. Educação religiosa cristã: compartilhando nosso caso e visão. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 229 e 233. 2 Faço referência ao poema “Paciência” de Lenine e Dudu Falcão, selecionado em: BORGATTO, Ana M. Trinconi, BERTINI, Teresinha Costa H. e MARCHESI, Vera Lúcia de Carvalho (Orgs.). Antologia Poética Nestlé. São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura, 2002, p. 15. 3 Ibid. 4 ALVES, Rubem. Tempus Fugit. São Paulo: Paulus, 1990, p. 11.
  • 2. 2 pastoral, nas visitas aos enfermos e angustiados, nas casas, nos hospitais, nos púlpitos e em diversos lugares por onde transito, não como habitante, mas como passageiro convidado ou, até mesmo, como clandestino, viajando sem pedir licença e introduzindo-me “sub- repticiamente” na vida e no cotidiano das pessoas. A dor que tenho sentido e que agora reflito talvez seja da mesma intensidade daquela experimentada pelo profeta Jeremias, tão bem externada em seu desabafo: “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura?” (Jr 15.18). Uma dor que é constante, não vai embora, permanece diante dos meus olhos todos os dias; a dor que o ministério pastoral me obriga a ver, a sentir e a enfrentar com realismo, com fé, com esperança e, acima de tudo, com amor; a dor que me desafia a fugir às armadilhas da apatia e do conformismo, afinal de contas tenho visto essa dor todos os dias nos olhos dos doentes, dos enlutados, dos abandonados, dos traídos, dos humilhados, dos alcoolizados, dos deprimidos e de todos aqueles e aquelas que me procuram para uma oração, que me encontram para ouvir os meus sermões aos domingos ou que me são apresentados todos os dias na labuta pastoral. Dor e sofrimento que não são maus, mas que, por ocorrerem continuamente diante dos meus olhos, podem me levar à indiferença, à apatia. A esse respeito, Moltmann afirma que O mal e o sofrimento não são maus, mas a indiferença. Insensíveis esquecemo-nos dos acontecimentos desagradáveis. Não notamos que os jovens desempregados se multiplicam. Não percebemos que, sem esperança, entregam-se às drogas e se viciam. Acostumamo-nos a vê-los roubando para comprar “a matéria-prima” de seus falsos sonhos. Não mais nos alarmamos quando, à luz do dia, vemos assaltos ou atropelamentos. Ninguém se espanta. E assim o mal se expande como um tumor no corpo doente. Amplia-se o círculo diabólico da pobreza, do desemprego, da criminalidade e das prisões. Por quê? Porque, simplesmente, não paramos para pensar, e não nos deixamos impressionar. Aceitamos a brutalidade. Não queremos admitir a miséria dos outros. Evitamos, destarte, sofrer com eles. Perdemos a paixão pela vida.5 Minha reflexão sobre a experiência da dor no ministério pastoral, apresentada neste texto, possui dois propósitos: em primeiro lugar, quer ser uma contribuição ao Fórum de Reflexão Ministerial no 5 Congresso Brasileiro de Teologia Vida Nova; em segundo lugar, quer ser uma reflexão pessoal de uma parte da minha experiência ministerial com o intuito de me auxiliar na busca e realização de minha vocação, que além de me confrontar com a realidade e existência de muitos seres humanos, também me desafia a empreender 5 MOLTMANN, Jürgen. Paixão pela vida. São Paulo: Aste, 1978, p. 11. Essa obra reúne as conferências pronunciadas pelo teólogo de Tübingen, em diversas escolas de teologia, quando esteve no Brasil, em setembro de 1977.
  • 3. 3 uma busca de mim mesmo, do meu “eu-em-construção”, visto que, enquanto pessoa, jamais estarei pronto, acabado. Dessa forma, unindo experiência individual e experiência coletiva estarei dando um importante passo para não perder a “paixão pela vida”. A consciência da vocação e a atuação pastoral me empurram na direção de uma busca existencial, que e envolve a todos os seres humanos e me faz cantar a canção Caçador de mim, eternizada pela voz de Milton Nascimento: “Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim: manso ou feroz, louco ou atroz, eu, caçador de mim”6. Indubitavelmente, cada ser, em todo o mundo, está à procura de si mesmo. Não basta estar no mundo, é preciso ser no mundo. Para tanto, como todos os seres humanos, eu preciso empreender, sempre, a busca por mim mesmo para provocar o que Heidegger denomina “des-ocultação do Ser”7. Tentando viver e compreender essa busca existencial, desafiado pela minha vocação, apresento esta reflexão a respeito de um aspecto do meu próprio ministério, exclusivamente, em primeira pessoa, fugindo-me da frieza da linguagem científica, porque não desejo qualquer distância do objeto refletido, ao contrário, prezo pela aproximação, quero estar bem perto daquilo que me toca e me confronta, fazendo-me derramar lágrimas e apertar o peito à experiência da dor. Por ser um reflexo da minha praxis ministerial, dou prioridade à experiência e faço uso limitado e parcimonioso de conteúdos e expressões teológicos. Com isso não quero diminuir a teologia e exaltar a experiência, mas reconhecer que a principal evidência de que sou um pastor não é a minha teologia, que dá sentido e significado ao que faço, mas a prática ministerial refletida em minha experiência através daquilo que faço. Nesse sentido, guardadas as devidas proporções, lembro-me de Campbell: Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. 8 6 MAGRÃO, Sérgio; SÁ, Luiz Carlos (Compositores). Em: NASCIMENTO, Milton. Minha História. Rio de Janeiro: Polygram do Brasil, s.d. 1 CD (1:00’08”). Faixa 11. 7 Cf.: HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. 2 vols. Petrópolis: Vozes, 1997. 8 CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. Joseph Campbell, com Bill Moyers; org. por Betty Sue Flowers. Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Athena, 1990, p. 3.
  • 4. 4 Como pastor, sou chamado por Deus a colocar-me ao lado das pessoas a fim de orientá-las e ajudá-las na busca da superação, da resistência e da perseverança. Além de sentir e enfrentar minhas próprias dores, tenho que sentir e enfrentar a dor alheia. A mim, pastor, não me basta a própria experiência de dor, pois estou inserido no universo das experiências das dores da humanidade que me cerca; sou interpelado, diariamente, pelos olhares das “ovelhas aflitas e exaustas” (Mt 9.36). Com o intuito de tornar claros os meus propósitos, apresento essa reflexão procurando evidenciar três momentos distintos que se misturam nas tramas e teias da experiência da dor. Primeiramente, preciso falar da dor alheia, aquela que as pessoas dividem comigo, deliberadamente ou não, na minha caminhada pastoral. Dor que não se cala e que me faz lembrar das palavras do Rev. Élben Lenz César, que me foram ditas quando, juntos, compartilhávamos nossas dores à mesa de refeições no último dia do 4 Congresso de Teologia Vida Nova, em 2006: “Dor dividida é dor diminuída”. De fato, o pastor é chamado a receber a parte que lhe cabe das dores alheias. A dor dos cânceres que acometem crianças, jovens, adultos e velhos. A dor e a angústia maior9, que me faz lembrar daquela menina, que aos cinco ou seis anos de idade passou a lutar contra um câncer na cabeça. Como foi difícil e dolorido ter que acompanhar essa dor no limiar do meu ministério. Mais difícil, ainda, foi ter que realizar o primeiro e, até hoje, único ofício fúnebre de uma criança que sempre esperou a cura. Como ser pastor diante de tamanha dor? Como ter que falar quando a dor alheia insiste em me fazer calar? O mesmo câncer que levou a menina, também, levou ao extremo da dor dois irmãos em tempos diferentes, mas nas mesmas condições, fazendo-os definhar, exaurindo-lhes todas as forças. E eu estive com eles até ao fim. O que dizer da dor de uma mesma família, que teve a mãe, o pai, a filha mais velha e a filha mais nova dizimados por cânceres diferentes, em anos diferentes e, agora, o neto mais velho, o filho da irmã mais velha descobre, também, um tipo diferente de câncer em seu corpo. Que dor essa família não tem enfrentado? Que insegurança? Quem será o próximo? Como aguardar a dor que ainda virá? Em segundo lugar, preciso falar da minha própria experiência de dor, enfrentada e resistida dia-a-dia com minha esposa, Eliza e meus dois filhos, Laila e Pedro, aqueles a quem dedico este trabalho, por caminharem ao meu lado pela via dolorosa. Essa dor veio 9 Poderia ter usado outros exemplos, como o desemprego, a traição, as drogas e outras doenças, mas escolhi o câncer por ser o mal que mais tem causado angústia, insegurança e medo na vida das minhas ovelhas.
  • 5. 5 uma semana após ter pregado um sermão, baseado em Jó 40 e 41, com o título “A resposta de Deus a Jó do meio de um redemoinho”, quando mostrei à igreja que, muitas vezes, diante da dor, Deus responde perguntando, pois, no caso de Jó, Deus responde ao homem de dores com cinqüenta e três perguntas. Naquele domingo, falei sobre o silêncio de Deus diante das dores humanas; no domingo seguinte, no mesmo instante do culto, nascia o meu filho Pedro, um lindo garoto portador da Síndrome de Down. Por quê? A dor da minha esposa, a minha dor, incertezas, fragilidades, frustrações e lágrimas se misturando de uma vez só. Aprendi, de fato, o que é prantear, chorar até as lágrimas não escorrerem mais dos olhos. Hoje, meu filho está lindo, crescendo e se desenvolvendo, pela graça de Deus, além das expectativas, provocando muitos risos e alegrias. Deus tem planos para minha família, pois tem mostrado os caminhos. Não obstante os risos, as alegrias e a consciência dos planos de Deus, continuo a sentir a mesma dor, a mesma insegurança, os mesmos medos e a ausência de algumas respostas. Sou homem e continuo a questionar: Por quê? Por último, gostaria de dizer que, para a dor alheia e para a minha própria dor, a melhor alternativa de enfrentamento, resistência e superação que tenho encontrado em meu ministério tem sido a pregação da Palavra de Deus. Este aspecto do meu ministério tem se tornado refrigério para mim e para os meus ouvintes nos momentos difíceis de enfrentamento das dores. Através da pregação, Deus tem me feito unir o horizonte da vida ao horizonte da Palavra; a realidade da dor à realidade antecipada e esperada pela fé; o desespero humano à esperança divina. Através da pregação na força do Espírito, tenho conseguido enfrentar minha dor de frente, passar pelo silêncio de Deus, mas, acima de tudo, encher-me de esperança, porque se não tenho respostas que satisfazem, a Palavra de Deus me mostra que ele está comigo em minha dor, seja ela qual for. Essa experiência, que tenho levado ao púlpito, também, tem-me feito comunicar à igreja que “a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm 5.3-4). O ministério pastoral tem me feito ver que na experiência da dor não estou sozinho, mas em companhia do mundo inteiro. Todas as pessoas enfrentam dor, em maior ou menor grau e por razões diversas. Não há no mundo ninguém sem angústias ou isento de dores. Afinal de contas, como o próprio Jesus ensinou, enfrentar aflições é a normalidade da vida. Como diz Jonathan Menezes, fazendo uma leitura do pensamento de Henri Nouwen, “Ele [Jesus] não veio eliminar as dores, mas ajudar-nos a enfrentá-las com
  • 6. 6 o realismo e a esperança que a vida nesse mundo requer, na perspectiva da graça e do amor de Deus”10. Um dos principais desafios do Ministério da Palavra, em seu caráter profético, é oferecer, sempre, uma pregação que se transforme em alternativa. Como afirma Brueggemann, “A função do ministério profético é alimentar, nutrir, fazer surgir uma consciência e uma percepção alternativa” 11, é claro, da realidade. Nesse sentido, a pregação é a principal ferramenta do pastor, que o capacita a oferecer essa alternativa às pessoas no enfrentamento, resistência e superação da dor. Não apenas porque a Palavra pode transformar o mundo, mas porque “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mt 4.4). A pregação da Palavra de Deus tem sido uma ferramenta imprescindível ao meu pastorado, pois tem me feito cumprir o ministério da consolação nos moldes de Isaías 40.1- 2: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém”. De fato, somente a Palavra de Deus, quando dita, é capaz de falar aos corações de homens e mulheres que se encontram em seus desertos, vales, montes e em seus “Getsêmanis”, povoados por suas dores. À dimensão da dor e do desespero humano tenho apresentado, todos os domingos nos púlpitos, a dimensão da esperança, gerada, nutrida e preservada pela Palavra de Deus. E, dessa forma, tenho me encontrado como pastor e homem que vive em meio às dores do próximo e se sente desafiado a enfrentar a própria dor com a Palavra, além de se ver, sempre, fortalecido em suas fraquezas pela graça de Deus. Ao concluir este texto, sei que estou “avançando para as coisas que diante de mim estão e prosseguindo para o alvo” (Fl 3.13-14). Essa consciência me faz lembrar as palavras do cantador François Silvestre, das quais me aproprio em paráfrase para finalizar: “Só é pastor quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus mortos e a certeza de luta de seus vivos...”12 10 MENEZES, Jonathan. Espiritualidade para o século XXI: o pensamento de Henri Nouwen. Disponível em: <http://www.ftl.org.br/index2.php?option=com_content&task=view&id=59&pop=1&pag...> Acessado em 6 de junho de 2007. 11 BRUEGGEMANN, Walter. Imaginação profética. São Paulo: Paulinas, 1983 p. 12. 12 Verso original: “Só é cantador quem traz no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus mortos e a certeza de luta de seus vivos...” Cf. ARANTANHA, Mário de (Produtor). Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Xangai – Cantoria 1. Rio de Janeiro: Kuarup, 1984. 1 CD. Encarte.
  • 7. 7 MOISÉS COELHO CASTRO Breve Currículo Tenho 38 anos, sou casado com Eliza Mary Moisés Castro e temos dois filhos: Laila Moisés Castro (4 anos) e Pedro Moisés Castro (1 ano). Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, ordenado pelo Presbitério Vale do Rio Grande em 29 de dezembro de 1996; atuo como pastor da Igreja Presbiteriana de Passos (Passos/MG) desde o ano de 1997; sou Mestre em Teologia, na área de Antigo Testamento, pelo Centro Presbiteriano de Pós- Graduação Andrew Jumper (2003), em São Paulo/SP; Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul (1996), em Campinas/SP; Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Passos – FESP/UEMG (2005), em Passos/MG; atuei como professor de Teologia do Novo Testamento e Introdução ao Novo Testamento, no ano de 2002, no Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas/SP; fui convidado, recentemente, para lecionar Filosofia na Faculdade de Serviço Social de Passos – FESP/UEMG, em Passos/MG. Endereço Residencial: Av. dos Expedicionários, 39, Ap. 602 37900-130, Centro, Passos/MG (35) 3522-6093 moshecastro@gmail.com Endereço Eclesiástico: Igreja Presbiteriana de Passos Rua Cel. Neca Medeiros, 133 37900-970, Centro, Passos/MG (35) 3521-6046