1) O Teatro da Cornucópia, fundado por Luis Miguel Cintra há quase 40 anos, poderá acabar em janeiro devido à falta de subsídios do governo para pagar salários.
2) Cintra critica o novo secretário de estado da cultura por não ter um plano para a cultura portuguesa e não reconhecer a importância do teatro.
3) A biblioteca ambulante de Proença-a-Nova foi reconhecida pela UNESCO por levar livros e promover a leitura para idosos que vivem isolados.
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Teatro da Cornucópia pode acabar em Janeiro devido à falta de subsídios
1. CULTURA
Luis Miguel Cintra
Teatro da Cornucópia pode acabar em Janeiro
» Maria João Costa
Sem a última tranche do subsídio da Cultura, o Teatro
da Cornucópia não poderá pagar os salários até ao fim
do ano. Luis Miguel Cintra, o actor e encenador que há
quase 40 anos fundou a companhia, admite dissolvê-la
a partir de Janeiro.
Em entrevista ao programa Terça à Noite da Renascen-
ça, o actor e encenador que há quase 40 anos criou a
companhia explica: “a última tranche do subsídio ainda
não foi dada, portanto, neste momento, não sei como
vou pagar os ordenados até ao fim do ano”.
Luis Miguel Cintra vai mais longe, diz que “perdeu con-
fiança no Governo para pedir um empréstimo ao ban-
co sobre um dinheiro que não sabe sequer se virá”. O
PÁG. Teatro da Cornucópia, que tem actualmente em cena
a peça “Os Desastres do Amor”, poderá acabar em Ja-
irá dar à cultura”. O encenador conclui, dizendo que
foi uma escolha “triste”.
11 neiro.
“Como não há concurso aberto, não há qualquer pers-
pectiva de financiamento da parte do Estado da acti-
vidade; se isto continua assim até ao fim do ano, eu
Numa entrevista em que elogia Manoel de Oliveira como
um exemplo de fidelidade a si próprio, Luis Miguel Cin-
tra fala também da actual situação do país e critica o
cenário actual da educação. O actor e encenador que
não posso arriscar começar uma nova temporada e te- defende que cultura e educação devem ter uma maior
rei simplesmente de dissolver a empresa a partir de dotação orçamental, considera que o sistema de ensino
Janeiro, se não houver uma promessa de abertura de “é muito deficitário, não dá formação de cultura geral
concurso”, indica. às pessoas, nem suficientes instrumentos para um tipo
Sobre o novo secretário de Estado da Cultura, Jorge de pensamento que não seja apenas utilitário a uma
Barreto Xavier que substituiu Francisco José Viegas no maneira de viver”.
Palácio da Ajuda, Luis Miguel Cintra é bastante crítico. Numa conversa em que falou também de como o actor
Explica que o conheceu antes, quando o governante enfrenta o envelhecimento do seu corpo, Luis Miguel
esteve na Direcção Geral das Artes, e que tiveram uma Cintra abordou ainda as questões da fé.
relação que “não era carne nem peixe”. Sobre Barreto Considera impossível viver sem fé. “É muito difícil
Xavier, Cintra diz: “não reconheço nele o golpe de asa, aceitar que a nossa vida se contém só em si própria e
nem a ousadia, de estabelecer nenhuma decisão de que viver significa apenas a espera até ao momento da
fundo sobre a organização de toda a cultura portugue- morte”, diz.
sa – que é a responsabilidade que se lhe atribui”. “A vida tem outro sentido que transcende e tem outro
Nesta entrevista ao programa Terça à Noite, Luis Miguel sentido na vida dos outros. O sentido religioso da vida
Cintra sublinha ainda que acha “sintomático que tenha tem para mim a ver com isso, chegando a partir daí a
sido escolhido um funcionário daquele tipo porque sig- uma ideia de absoluto. E a ideia de absoluto é a ideia
nifica da parte do Governo que não está à espera de de Deus. Não me é possível viver sem essa ideia”.
agir sobre a cultura, está à espera de gerir o pouco que Veja a entrevista em vmais.rr.sapo.pt
Leitura
Unesco distingue biblioteca ambulante beirã
» Célia Domingues
que iam trabalhar para os campos alentejanos na déca-
Na estrada desde Junho de 2006, a “Bibliomóvel” de da de 40. A leitura é interrompida por cantares ao desa-
Proença-a-Nova é conduzida por Nuno Marçal, bibliote- fio: “Eu já te ensino a cantar”, atira uma senhora.
cário, que também vai ao jardim de infância e aos cen- A maioria dos que acompanham a leitura do bibliotecá-
tros de dia e instituições da Santa Casa da Misericórdia. rio não sabe ler nem escrever, explica Marçal. “A senho-
É um projecto que acaba de ser reconhecido pela Unes- ra sabia do projecto, mas, como não pode sair de casa
co - Organização das Nações Unidas para a Educação, a por causa de um problema que tem nas pernas, deve
Ciência e a Cultura pelo trabalho de promoção da leitura ter tido conversa com uma prima ou sobrinha, e estava
por terras da Beira Baixa. no meio da estrada e mandou-me parar. Pronto e ficou
Na Santa Casa de Sobreira Formosa, Nuno Marçal senta- combinado, como ela não pode sair de casa, vai a ‘Bi-
se frente a uma dúzia de idosos para ler poemas da li- bliomóvel’ a casa dela.”
teratura popular do distrito de Beja. “Trabalha homem A cultura em forma de livro regressa sobre quatro ro-
trabalha, se queres ter algum valor, os calos são os anéis, das daí a 15 dias à aldeia. Até lá, o livro que cada um
do homem trabalhador”, declama. levou para casa é um amigo, uma companhia contra a
Estão ali alguns ex-“ratinhos”, nome dado aos beirões solidão.
r/com renascença comunicação multimédia, 2012