2. DESAFIOS DO MUNDO URBANO E A EVANGELIZAÇÃO
1. O FENÔMENO URBANO É MAIOR DO QUE ASCIDADES.
- “Cidades” em graus diferentes de urbanização (infraestrutura; população; mobilidade; mentalidade; estilo de vida).
Existem as ‘não-cidades’. Reivindica-se o ‘Direito à Cidade’ (DGAE 74)
- Cultura Urbana – EN 19: critérios, valores, linhas de pensamento, modelos de vida. O urbano é um modo diferente
de se enfrentar a vida. A Evangelii Gaudium fala dos “Desafios das culturas urbanas” (nn.71-75). Revisitemos,
primeiramente, o número 73: “Novas culturas continuam a formar-se nestas enormes geografias humanas em que
o cristão já não costuma ser promotor ou gerador de sentido, mas recebe delas outras linguagens, símbolos,
mensagens e paradigmas que oferecem novas orientações de vida, muitas vezes em contraste com o Evangelho de
Jesus. Uma cultura inédita palpita e está em elaboração na cidade. O Sínodo constatou que as transformações
dessas grandes áreas e a cultura que exprimem são, hoje, um lugar privilegiado da nova evangelização. Isto requer
imaginar espaços de oração e de comunhão com características inovadoras, mais atraentes e significativas para as
populações urbanas. Os ambientes rurais, devido à influência dos mass-media, não estão imunes dessas
transformações culturais que também operam mudanças significativas nas suas formas de vida”.
Outras afirmações sugestivas: “Precisamos identificar a cidade a partir de um olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que
descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças. A presença de Deus acompanha a busca sincera que
indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida. Ele vive entre os citadinos promovendo a
solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça. Essa presença não precisa ser criada, mas
descoberta, desvendada. Deus não se esconde de quantos O buscam com coração sincero, ainda que o façam tateando, de
maneira imprecisa e incerta” (n. 71). OLHARPOSITIVO/OPORTUNIDADE
3. “É necessário chegar aonde são concebidas as novas histórias e paradigmas, alcançar com a Palavra de Jesus os núcleos mais profundos da alma das
cidades. Não se deve esquecer que a cidade é um âmbito multicultural (...) Na realidade convivem variadas formas culturais, mas exercem muitas vezes
práticas de segregação e violência. A Igreja é chamada a ser servidora de um diálogo difícil. Enquanto há citadinos que conseguem os meios adequados
para o desenvolvimento da vida pessoal e familiar, muitíssimos são também os “não-citadinos”, os “meio-citadinos” ou os “resíduos urbanos”. A cidade
dá origem a uma espécie de ambivalência permanente (n. 74).
“O sentido unitário e completo da vida humana proposto pelo Evangelho é o melhor remédio para os males urbanos, embora devamos reparar que um
programa e um estilo uniformes e rígidos de evangelização não são adequados para esta realidade. No entanto, viver a
fundoarealidadehumanaeinserir-senocoraçãodosdesafioscomofermentodetestemunho,emqualquercultura,emqualquercidade,melhorao
cristão e fecunda a cidade” (n. 75). O que de melhor podemos fazer: oferecer /testemunhar(e, ás vezes, será a única coisa a fazer)
Proposta da CF 2020!
Alguns dados sociológicos sobre o fenômeno urbano (baseado no artigo de Erminia
Maricato, arquiteta e urbanista, professora da FAU-USP e coordenadora nacional da rede
BrCidades, publicado IHU, 05 Abril 2019.
O Brasilpassa por uma crise política,econômica,sociale ambiental.Mas talvezsejanas cidadesque essa crise alcance o maiornúmero
de brasileirosque são profundamenteafetados por ela. Dos207 milhões de habitantes, mais de 84%, ou 175 milhões, mora nas cidades.
Quase 1/3 desse total mora nas grandes metrópoles. O desemprego que chegou a 12,35 da população economicamente ativabrasileira
(24 milhões de pessoas) é maior em 13 capitais. A taxa nacional de homicídios alcançou 27,1 (pessoas mortas para cada 100 mil
habitantes) mas nas capitais é ainda maior (36,4) e nos bairros pobres maior ainda.
Segundo o Atlas da violência, de cada 100 mortos com arma de fogo, 71 são negros. Segundo a OMS, o Brasil é o quinto país em
feminicídio.
4. Nas periferias, e também em algumas áreas centrais antigas das grandes cidades, verifica-se um cenário explosivo: baixa
renda, baixa escolaridade, maior taxa de homicídios, maior taxa de feminicídio, maior número de favelas, maior número
de famílias chefiadas por mulheres e idosos, maior informalidade no trabalho, maior taxa de desemprego. Pesquisas
realizadas, demonstraram que cerca de 20 anos separam o tempo de vida de moradores de diferentes áreas da mesma cidade.
Comparando os mapas sobre o preço do metro quadrado dos imóveis e a localização da moradia de pretos e pardos, salta os
olhos a existência da senzala urbana e da casa grande urbana onde vivem os ricos, brancos, nas suas mansões ou
condomínios murados e protegidos.
Infelizmente, temos leis avançadas para uma realidade atrasada. Apesar das conquistas legais e institucionais – a partir da
Constituição de 1988 foi promulgado no país um arcabouço legal fantástico ligado às cidades, por exemplo, Estatuto da
Cidade, Lei do Saneamento Básico, Lei da Mobilidade Humana, além de um Ministério das Cidades, com o Conselho
Nacional das Cidades e a Conferência Nacional das Cidades – há, na verdade, uma regressão nas soluções para as cidades
de nosso país.
2. REDUÇÃO do número de católicos / AUMENTO dos pentecostais / AUMENTO dos sem-religião.
5. 1890: 99, 8%; 1980: 88%; 1991: 83,4%; 2000: 73,8%; 2004: 67,2%; 2010: 64,6% (cerca de 123 milhões)
Crescimento das igrejas evangélicas pentecostais – 4,9%
Crescimento das igrejas evangélicas tradicionais – 2%
Crescimento dos sem-religião – 2,55%
Em2010 -evangélicostradicionaisepentecostais:22,2%(cercade42,3milhões)
Crescimento dos sem religião– 2,55. Em 2010: 8% (cerca de 15,3 milhões).
100%
88% 083%
074%
067%065%
000%
020%
040%
060%
080%
100%
120%
1905ral
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1905ral
1905ral
1905ral
(%)
Anos
(%) de catolicos
6. 3. DESINSTITUCIONALIZAÇÃO e DESTRADICIONALIZAÇÃO + individualização e subjetivação
(experimento!) – Causas da MOBILIDADE religiosa – é ela que caracteriza a religião urbana.
Urgência/gosto/necessidades/respostas...
Todos recebem e oferecem. Chega-se a um teto de seis mudanças.
Pq. o catolicismo mais dá? Era a religião universal; maior número.
Pq. o pentecostalismo mais recebe? É mais desinstitucionalização (e aí atrai tanto); tem baixos teores de tradicionalismo; é
instantâneo; é ato mais individual; é interativo (aleluia!).
4. Hoje o “EXPERIMENTAR” é o horizonte cultural. A dinâmica da religião não passa mais pelo institucional. “Escolher
é preciso!”. “Movimentar-se é preciso!”. Atenção também aos fundamentalismos! No fundo, dois extremos!
O processo sóciocultural é muito mais determinante. Mais que as causas e respostas ‘internas’. Agentes ‘externos” que levam
`as mudanças. Mudança de época!
5. ANÚNCIO de JESUS CRISTO! Que Cristo?
Esta religião ‘globalizada’ tem uma cristologia também. Traços principais desta cristologia:
- Jesus sem Comunidade
- Jesus Cristo – Auto-ajuda!
- Jesus é força para você. Se falhar, o problema é seu! (Teologia da prosperidade!)
- Jesus não interpela. Cristo sem profetismo. Jesus Cristo sem carne e sem compromisso(EG!)
7. 6. RESPOSTAS pastorais:
- Estamosacostumadosna pastoral:estabilidade,perenidade,territorialidade–ehoje émobilidade!
- Escolha, conversão(adesão pessoal)e mistagogia.
- Alargamento e contração = como o coração, o pulsar da vida: alarga e contrai! Equilíbrio: identidade firme
e abertura; portas e janelas.Na identidade,abertura firme ao diálogo!Raízes e asas!
- Cruz(Solidariedade)epresença=diantedeumCristoindividualizado,voltaràs fontes:CristologiadaCruz,
gratuidade,fraternidade,relação – ultrapassar a cristologiada auto-ajuda!
EG 89: “Mais do que o ateísmo, o desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de
Deusdemuitaspessoas,paraquenãotenhamdeirapagá-lacompropostasalienantesoucomumJesus
Cristo sem carne e sem compromisso com o outro”.
Voltar às fontes: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em
resgate por muitos” (Mc 10,45). HUMANIZAR (-se) – SERVIR - LIBERTAR
7. OLHAR o atual momento como “POSSIBILIDADE”
- O Cristianismo tem perspectiva de mobilidade – missão!
- Todo momento cultural é libertador – Todo momento novo quebra seguranças e nos leva para frente. É
oportunidade.
- Pastoral mais missionáriae dialogal!
8. REVISITANDOUMA DASPRIMEIRASRESPOSTASDAIGREJADO BRASIL
À CULTURA URBANA - Estudos da CNBB 22 (1978)
(Contexto mais imediato: Conferência de Medellín, Evangelii Nuntiandi e preparação para Puebla)
“Estas Pistas para uma Pastoral Urbana, que agora apresentamos, são um primeiro passo,
necessariamente modesto. Pretendem, em primeiro lugar, encarar com serenidade e objetividade a
realidade das nossas cidades, no que esta contém de DESAFIO para a Igreja na realização da sua missão
evangelizadora.
Num segundo momento, olham as atividades pastorais que se realizam nas áreas urbanas, para
apontar aquelas que parecem responder aos desafios da cidade e que prometem PISTAS para uma
pastoral urbana mais orgânica”.
1. DESAFIOSATUAIS DA PASTORAL URBANA
1.1 Rapidez e dramaticidade das transformações urbana – crescimento desordenado, expansão
desordenada, modelo econômico de industrializaçãoacelerada.
1.2 Concentração do Poder econômico e “inchação” da cidade– crescimento baseado no capital, no
quase monopólio dos meios de produção e no lucro, a exploração do trabalhador, desigual distribuição de
serviços (escassez de água, esgotos, escolas, hospitais, áreas de lazer etc.). A periferia como fenômeno de
marginalização, salta os olhos. E esta periferia tende a crescer, mais como “inchação” que por integração
orgânica.
1.3 Centro e Periferia – os males da periferia exigem a conversão e o engajamento da cidade para se tornar
humana e digna deste nome. A Igreja também, e em primeiro lugar, deve fazer da opção prioritária pela
“periferia” o caminho de uma ação pastoral que vise à salvação de toda a cidade.
9. 1.4 Multiplicidade de relações funcionais e anonimato
1.5 Estruturas territoriais e mobilidade
1.6 Massificação e Consciência Crítica
1.7 Pluralismo cultural e tendências religiosas
1.8 Tensões Internas da Pastoral Urbana: Rural e urbano; Evangelização e Promoção Humana; Unidade e
Profetismo; Estruturas tradicionaise novas estruturas
2. PERSPECTIVAS
a) –Planejaraaçãopastoralapartirdarealidadeurbana:“Numa cidadeprofundamentepolarizadaedividida,que
mantém na marginalização a maior parte do povo, a perspectiva prioritária da ação pastoral urbana, neste
momento histórico, é a perspectiva evangélica da libertação dos pobres e oprimidos, da promoção da
justiça e de condições mais humanas na ‘periferia’”.
b) – Gestos proféticos: “Consciente de sua missão profética, a Igreja tem procurado tomar uma atitude
evangélica face aos diversos problemas que angustiam nossas cidades, sobretudo as mais afetadas pelo
crescimento rápido e seus conflitos. Esta atitude tem lhe dado peso histórico, como sinal de credibilidade,
sobretudo quando tais atos são expressos pelo Pastor, que conhece e ouve os apelos do seu povo”. Exemplos:
Vigílias de oração; presença da Igreja nos atos de reivindicações daqueles que exigem melhores condições de vida, salário, trabalho,
liberdadedeexpressão;pronunciamentosecelebraçõespúblicas;gestosperiódicoscomoaCampanhadaFraternidade.
c) – Inciativa do povo e participação da Igreja: “Na sua prática pastoral, a Igreja está tentando acentuar a dimensão
educativa e promocional, a partir da convicção de que é o próprio povo que pode e deve assumir ativamente
a sua história. A Igreja, mais que continuar atitudes assistenciais, procura colocar à disposição do povo,
especialmente dos mais marginalizados e indefesos, os recursos humanos, morais e materiais de que ela dispõe”.
10. d) – Pastoral ambiental: “Para exercer sua missão evangelizadora na cidade, a pastoral ambiental tem-se revelado
ummeioeficaz. Osambientes atingidossãoespecializados:pastoraloperária,universitária,familiar,dejuventude,
dos meios de comunicação, da saúde e se diferenciam segundo a idade, classe social, a ocupação ou outra
característica dos seus membros”.
e) – Formas de comunhão eclesial: “A estruturação pastoral da cidade em Regiões e setores, além da estrutura
ambiental, deixa mais claro que na cidade há uma Igreja só. Relativiza assim a situação da paróquia territorial... Em
termos de estrutura, os movimentos respondem melhor à realidade da cidade do que a paróquia. Mas como a
estrutura pastoral normal é territorial, e não ambiental, há tensões inevitáveis entre movimentos e paróquia... As
CEB’s constituem lugar de conscientização do pobre da periferia numa reflexão sobre os problemas da sua vida à
luz do Evangelho para tomar decisões que levam à ação... O homem urbano alimenta cada aspecto da sua vida
social num grupo diferente”.
f. Igreja e Meiosde Comunicação Social:“AIgrejatambémdeve valorizarosMCS comoalgoconstrutivona
vida moderna. Devem-se valorizar mais os MCS como meios para atingir a massa”.
g. Diálogoe abertura ecumênica: “Face ao pluralismoculturale religioso,que não é somente um dado de fato,
mas um valor para o homem da cidade,a Igrejadeve antes de tudo aceita-loplena e sinceramente.Os princípios
fixados pelo Concílio Vaticano II, reconhecendo o direito à liberdade religiosa, incentivando o ecumenismo e
estimulando o diálogo e a colaboração dos cristãos com todos os homens de boa vontade, são essenciais
para nortear a ação da Igreja na cidade”.
h. – Em busca da unidade:
1) A pastoral urbana exige o aprofundamento da reflexão teológica sobre a conexão entre evangelização e
libertação, entre missão da Igreja e transformação do mundo. Esta reflexão preocupa toda a Igreja,
especialmentedesdeGaudiumetSpes,Medellín,osSínodosde1971e1974,EvangeliiNuntiandi,preparaçãode
Puebla.
11. 2) A pastoral urbana necessita de correta impostação e execução do planejamento pastoral. Ela
implica a distinção nítida entre os OBJETIVOS COMUNS E FUNDAMENTAIS, que toda a Igreja
local deve assumir numa perspectiva a longo prazo, e os INTERESSES IMEDIATOS dos diversos
grupos, movimentos e comunidades eclesiais, que são o ponto de partida, de onde – segundo os meios
e pelo ritmo de cada um – tende-se para o objetivo comum.
3) A pastoral urbana exige a participação efetiva do povo na tomada de decisões relativas à própria
ação pastoral, de modo que o planejamento não seja execução de diretrizes vindas de cima e de fora
da comunidade cristã, mas coordenação do esforço comum de todos.
4) A pastoral urbana demanda ainda o desempenho eficaz do papel do Bispo, como animador do
processo de planejamento pastoral e expressão da unidade de ação da Igreja; o desempenho deste
papel, na complexidade da grande cidade, supõe evidentemente que o bispo trabalhe com uma
assessoria ampla e qualificada, em contato com as bases, visando expressar em toda a sua riqueza – e
em todas as suas tensões – a vida e ação da Igreja local.
5) A pastoral urbana precisa enfim da criação de novos ministérios e de novas estruturas
eclesiais, ou da reformulação dos já existentes.