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Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls. 173/173 vº,
Fundada em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em 27 de Outubro de 1984
Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira
Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira
APOSTILA Nº. 14/300.000 MIL CURSOS GRATIS EM 54 PAGINAS.
Estudo Sobre a Ética Crista
Parte – I
A ÉTICA NA FORMAÇÃO PASTORAL
A batalha pelo ser humano, nesta era pós cristã, dar-se-á no campo da ética. Não
só porque o que está em pauta é a questão das finalidades, mas, também, porque
é único campo onde as forças pró ser humano podem travá-la. A globalização já
decidiu o rumo da vida humana nos campos econômicos e sociais, a sociedade já
está estruturada de modo irreversível, independente das forças que assumam o
poder nas nações, pois, o que está em curso é supra-nacional. Resta, portanto, o
campo da ética.
Julio Santa Ana, in Tempo e Presença, n# 295 em seu artigo "Ética, cinco anos
depois...",nos dá um quadro sobre a questão ética nos relacionamentos
internacionais: 1- o crescimento da economia mundial e o desenvolvimento
tecnológico já permitiria a diminuição da carga horária para os trabalhadores,
permitindo mehor desfrute do progresso, os empresários, entretanto, optaram pela
despensa de funcionários e, mais que isso, pela exclusão do mercado de toda
uma massa de trabalhadores ; 2- no plano geopolítico, os Estados Unidos da
América, dada sua inquestionável superioridade bélica, tornaram-se o xerife do
mundo: estão em condições de intervir em qualquer conflito mundial, garantindo,
assim, um clima de paz, porém, só o fazem de acordo com os seus interesses
particulares; 3- a cultura que está sendo disseminada é a mass media, a cultura
da classe dominante mundial - sobreviverá o movimento cultural que se adaptar,
que se inserir.
Regis de Morais, in Tempo e Presença, n# 295 no escrito "Retomar a ética à luz
de nosso tempo", reitera que a batalha a ser travada é ética: "a proscrita de
grande parte do século XX - a ética - voltou agindo discretamente. Discreta, mas
eficientemente." diz ele. Insiste que esse é o caminho da esperança: "Nenhuma
hora é hora de desistir. Sempre repito que nós podemos ter tentado muitas
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 1
alternativas, mas, com certeza não tentamos todas." Descreve, em relação ao
Brasil, um quadro positivo, que passa pela deposição de um presidente da
república, pelo fortalecimento sindical, pela indignação frente ao desmando
político, pela reação frente a absurdos como as chacinas e atos estúpidos como o
assassinato de Galdino: o índio patachó. Declara que essa batalha tem uma nova
e decisiva frente: a questão das drogas. Por quê declara que tudo isso é questão
ética? Porque ética - ethos, em grego - designa a morada do homem, não é algo
pronto, porém, é a busca de construir um abrigo permanente onde o homem se
realize plenamente - ambiente que faça jus ao termo humano. Esta batalha
encerra a busca de soluções estruturais e de conversões pessoais.
Luiz Alberto Gómez de Souza, in Tempo e Presença, n# 295 em "O legado de
Betinho: a ética na política" chama-nos a atenção para o grande soldado pela
ética surgido em solo pátrio, Betinho, mostrando como a opção deste pela
sociedade, num projeto suprapartidário despertou a nação para a consciência da
possibilidade de construir uma sociedade iqualitária, participativa, livre, diversa e
solidária a partir da adoção de uma ética que estabelece o sentido do público
como a busca do bem de todos e subordina o direito de alguns aos direitos da
maioria. Deixou claro que esse é um caminho longo, que tem de ser percorrido
com liberdade, principalmente, em relação às amarras que impõe formas restritas
de encaminhamento da coisa pública, como os partidos políticos, numa
consciência de que política é um exercício de vida que se baseia na crença de que
a sociedade não está presa às garras de nenhum tipo de fatalismo, o que torna
possível sonhar com transformações sociais profundas.
Manfredo Araújo de Oliveira, in Tempo e Presença n# 295 no texto "Os dilemas
éticos de uma economia de mercado" - afirma que "desemprego estrutural, crise
ecológica e nova problemática da relação norte-sul são problemas extremamente
sérios que revelam com toda a clareza, a dramaticidade dos dilemas éticos de
uma economia de mercado capitalista. Se não formos capazes de entrentar esses
dilemas, talvez a sobrevivência do ser humano em nosso planeta se torne
impossível." Isto porque desde Hobbes, a economia de mercado passou a ser
considerada um sistema neutro de produção de riqueza onde a justa distribuição
desta não está em pauta. Essa lógica cruel gerou um nível de desigualdade social
insuportável, fragilizou as economias emergentes, como, estarrecidos, estamos
assistindo, comprometeu o ecosistema. Estamos frente a um dilema básico: "a
relação entre eficiência e justiça: uma batalha ética.
Todas essas contribuições nos remetem para a necessidade da ética na formação
pastoral, pois, como agente propagador e construtor do Reino de Deus, o pastor é,
eminentemente, um propalador da ética, ou, talvez, devessemos dizer de éticas. O
Reino de Deus se propõe a ser a casa do homem onde o humano se concretiza.
José Adriano Filho, em seu texto: "Denúncia dos causadores da ruína do povo"
(Tempo e Presença n# 295) chama atenção para o fato de que o movimento
profético dos séculos VIII e VII A.C. caracterizou-se, marcadamente, por essa
pregação ética levada a efeito por meio da denúncia que, evocando o pacto, fazia
lembrar a nação que o Deus da Bíblia é o Deus dos e pró pequeninos. Além da
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 2
denúncia, o pastor deve compreender que o pastorado, mais do que o cuidado
pastoral da ovelha, enquanto indivíduo, tem de se caracterizar pela construção de
modelos comunitários que exemplifiquem o que deve ser a casa do homem, isto é,
que sejam paradigmas éticos. "Não se pode esconder uma cidade edificada sobre
o monte" (mt 5.14), disse Jesus. O mesmo que, reiteradas vezes, pronunciou: "eu,
porém, vos digo" numa campanha pela compreensão da ética proposta por Deus.
O pastor precisa aprender que atuação da igreja passa pela proposição de
caminho que oriente o ser humano em seu devir pessoal e social. Que soberania
divina, eleição, predestinação não têm nada a ver com fatalismo ou determinismo.
O ser humano é co-agente da história, por isso será julgado. O homem é
responsável. É preciso compreender o papel da graça comum, que torna a vida e
o progresso possíveis enquanto se desenrola a história da salvação. Ainda que a
perfeição não seja passível de ser alcançada, a melhoria, o aprimoramento social
o é. A salvação tem de ser apreendida em seu papel social, pois salvação é
sempre para e não apenas por.
A ética tem de ocupar papel preponderante na formação pastoral, além do
exposto, por ser categoria teleológica, ou seja, por fazer parte do capítulo que
trata das finalidades. Por quê e para o que somos. E esta é a matéria prima da
teologia, esta só existe na forma que a conhecemos porque o ser humano perdeu
a capacidade de responder essa questão. É claro, portanto, que o ministério
pastoral é pró-ética, uma vez que não faria sentido falar de conversão se não
houvesse para onde ir, ou melhor para onde voltar. É claro, também, que isso
afeta o todo humano: o indivíduo, a sociedade, a política, a economia, a cidade, o
campo - todos os componentes do ethos, da casa humana.
O evangelho que ora assistimos é antiético, não constrói casa alguma, na medida
que promove o individualismo alienante, a irresponsabilidade social e histórica,
nesse sentido atenta contra a solidariedade e, quando age socialmente, opta pelo
paternalismo da assistência social que não conscientiza, não desperta
companheirismo e comunidade, nem promove libertação. Não se dá conta de que
há uma ação perversa de alienação em curso, cujo objetivo é fazer os pequeninos
converterem-se não só aos seus opressores como aos meios de opressão;
realidade, essa, muito bem retratada por Chico Buarque na letra:
"A novidade que há no brejo da cruz,
são as crianças se alimentarem de luz.
(...)
Mas há milhões desses seres que se disfarçam tão bem.
Ninguém pergunta de onde essa gente vem.
(...)
Já não se lembram que há um brejo da cruz,
que eram crianças, e que comiam luz."
Ou a ética faz parte da educação teológica ou teremos um evangelho antiético,
antihistória e escravizador por individualista que será.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 3
Parte II
ÉTICA NA CAPTAÇÃO DE RECURSOS
Autor(a): PR. LUIZ ROBERTO FRANÇA DE MATTOS
Doar dinheiro é uma coisa fácil e está dentro do poder de qualquer ser humano.
Mas decidir a quem, quanto, quando e para que propósito doá-lo não está dentro
do poder de cada pessoa, nem é uma coisa fácil. (Aristóteles, Ética a Nicômaco)
Resumo
O processo de captação de recursos pode ser a fonte de sérios dilemas morais
relacionados à missão da organização que se beneficia dos fundos, ao captador
de recursos e até mesmo à relação entre a primeira e este último.
A perspectiva antropológica - básica para a captação de recursos - que vê seres
humanos como capazes de realizar bons atos morais e de ter um caráter virtuoso
deveria ser considerada como fundamentada na Escritura e na teologia reformada.
Conseqüentemente, tanto esta perspectiva quanto a filantropia deveriam ser
valorizadas e incentivadas. A captação de recursos requererá uma ênfase no
diálogo e no cultivo de virtude por parte daqueles lidando com suas questões
morais inerentes. Tal ênfase, entretanto, não significa que se deva descartar um
modelo deontológico baseado na lei moral revelada na Escritura, e mais
especificamente no Decálogo, como o fundamento das decisões morais. O
compromisso - e mesmo a submissão - a tal moralidade deontológica permitiria o
desenvolvimento de uma ética de captação de recursos que evitaria a adoção de
sistemas éticos alternativos em que decisões morais são tomadas primariamente
com base na situação e no thelos a ser alcançado.
PALAVRAS-CHAVE:
antropologia, captação de recursos, deontologia, ética, virtude.
Introdução
A credibilidade do mercado financeiro internacional foi duramente afetada no ano
de 2002 com os escândalos envolvendo a Enron, a Andersen, a WorldCom e a
Tyco International, entre outras empresas. A Enron, outrora a sétima maior
companhia dos Estados Unidos, comprava eletricidade dos produtores e a
revendia aos consumidores, utilizando-se, por vezes, de suas parcerias no exterior
para mascarar problemas financeiros e continuar recebendo dinheiro e crédito. Na
esteira da Enron, a Andersen foi envolvida numa crise de proporções gigantescas.
Uma das cinco maiores firmas de auditoria do mundo, a Andersen era responsável
por auditar as contas da Enron, uma das empresas preferidas de Wall Street.
Porém, paralelamente, a Andersen atuava como consultora da Enron,
desenvolvendo uma atividade que envolvia um claro conflito de interesses e um
problema moral, se não legal.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 4
Não se deve supor, porém, que as ações censuráveis que ganharam a atenção da
mídia constituam-se em paradigmas da realidade do mercado. Em sua obra
Beyond Integrity: A Judeo-Christian Approach to Business Ethics, Scott B. Rae
and Kenman L Wong demonstram que este é apenas um lado da história. Dois
notáveis exemplos de ações moralmente louváveis - a decisão de Aaron
Feuerstein de reconstruir sua tecelagem após um incêndio que a reduziu a cinzas,
duas semanas antes do Natal de 1995 e a determinação da Companhia
Farmacêutica Merck & Co. de destinar US$ 20 milhões de seu orçamento anual
para a produção e envio do remédio para a cura de uma doença ribeirinha -
demonstram que "há muitas corporações... cujas declarações de missão e ações
assemelham-se às dos cidadãos mais louváveis."
A preocupação com o estudo da moralidade no contexto da economia de mercado
tem suscitado amplo interesse com a publicação de uma literatura especializada
no campo da Ética dos Negócios. Contudo, uma avaliação da bibliografia
disponível neste campo revela uma atenção ainda reduzida ao tópico do interesse
específico deste artigo, a saber, a Ética na Captação de Recursos. Duas das
exceções à regra são as obras de Marilyn Fischer e de Albert Anderson.
Após conceituar alguns termos fundamentais, oferecer indicações da relevância
do assunto e identificar áreas de tensão moral existentes na captação de recursos
numa primeira seção, analisar-se-ão algumas pressuposições antropológicas
relacionadas à prática do levantamento de recursos com fins filantrópicos à luz do
ensino da Escritura e de alguns documentos da teologia reformada. Uma breve
discussão de alternativas ao modelo proposto por Fischer - Ética como Narrativa -
será desenvolvida na terceira seção deste artigo, concluindo que um modelo
deontológico, associado à ênfase à virtude, evitaria alguns dos dilemas morais em
que a proposta de Fischer parece incorrer.
Captação de Recursos: Resumo
Terminologia, Relevância do Assunto e Áreas de Tensão Moral
A captação de recursos é definida por Custódio Pereira como "uma sofisticada
arte que é freqüentemente descrita como a mais sofisticada de todas as formas de
relações públicas." Esta atividade, realizada na maioria das vezes de maneira
amadora e improvisada no Brasil, constitui o chamado "terceiro setor" da
economia que engloba organizações filantrópicas e outras organizações sem fins
lucrativos.
Filantropia, entende Fischer, "é provavelmente melhor descrita listando o que ela
tem feito do que tentando oferecer uma definição unificada." A autora apela para a
obra de O'Connell intitulada Philanthropy in Action [Filantropia em Ação] para
identificar as múltiplas áreas promovidas pela filantropia, a saber, a descoberta de
novas fronteiras do conhecimento, o apoio e o encorajamento da excelência, a
capacitação de pessoas para o exercício de seu potencial, o alívio da miséria
humana, a preservação e a otimização do governo e instituições democráticas, a
melhoria da vida comunitária, o nutrimento do espírito, a criação de tolerância,
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 5
entendimento e paz entre as pessoas e, finalmente, a preservação da memória
dos mortos. Em suma, filantropia diz respeito a "criar e sustentar comunidades -
comunidades de lugar, de escolha, de propósito, de compromisso, de interesse."
Ainda que se possam oferecer definições alternativas para filantropia, sua
importância pode ser percebida simplesmente atentando para o valor a ela
atribuído por Aristóteles. Ao lado da justiça, a filantropia é considerada como a
única outra virtude moral fundamental para o bem-estar humano. O objetivo de
organizações filantrópicas é, portanto, "a promoção de um propósito público, a
melhoria do bem comum."
Estima-se que o terceiro setor movimentou R$ 12 bilhões e gerou 1,7 milhão de
empregos no Brasil, em 1999, números que embora expressivos tornam-se
insignificantes se comparados à realidade norte-americana. Segundo Pereira, No
ano de 2000, os americanos doaram 203,45 bilhões de dólares para instituições
sem fins lucrativos, o que representou um aumento de 6,6% em relação ao ano
anterior... Esses números mostram a relevância das doações e o interesse que os
americanos vêm demonstrando em apoiar a ação social, a arte e a cultura, a
saúde e a educação.
Falta de conhecimento do assunto, ausência de literatura, de dados estatísticos e
de informações acuradas sobre como captar recursos, bem como de métodos
adequados, de estímulo, de incentivos fiscais, e de credibilidade das instituições
beneficiadas são alguns dos fatores listados como responsáveis pela diferença
significativa entre o volume de recursos captados nos Estados Unidos e no Brasil.
Merece destaque, porém, o fato de que em 1999 já existiam no Brasil 250 mil
ONG's e 14 mil fundações, a maioria delas criada nos últimos 16 anos. O potencial
de recursos para investimento em causas filantrópicas é também significativo. A
necessidade da discussão da Ética na Captação de Recursos se evidencia tanto a
partir de exemplos contemporâneos quanto do passado. Em 1996, o Conselho
Nacional de Igrejas nos Estados Unidos (NCC) lançou uma campanha para
captação de recursos visando a reconstrução de igrejas queimadas, a maioria das
quais usadas por congregações negras ou miscigenadas. Esta campanha
levantou mais de US$ 9 milhões em doações e empréstimos de diversas fontes,
desde fundações até indivíduos. A despeito do sucesso na captação de recursos,
The Wall Street Journal publicou um artigo de primeira capa, em sua edição de 9
de agosto de 1996, denunciando que o NCC vinha lutando com dificuldades para
levantar dinheiro para programas de justiça racial, mas ao conectar os incêndios
com a ação "orquestrada de grupos de supremacia branca, levantou mais dinheiro
mais rapidamente do que o fez em qualquer causa anterior." O mesmo artigo,
acrescenta o articulista do The Christian Century, questionava o uso da
contribuições pelo NCC, suspeitando que parte do dinheiro estivesse sendo usado
para outros propósitos além da reconstrução das igrejas. A Secretária Geral do
NCC respondeu às denúncias afirmando que 85% do montante levantado seria
usado na reconstrução e 15% em programas relacionados ao racismo, com base
no seguinte argumento: "Devemos assumir uma abordagem holística a menos que
desejemos reconstruir igrejas somente para vê-las queimar novamente. Nós
queremos que os ataques às igrejas motivados pelo ódio parem." A despeito do
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 6
arrazoado do NCC, a denúncia feita pelo The Wall Street Journal levanta um
questionamento moral legítimo: A utilização (parcial) dos recursos levantados com
uma finalidade específica - a reconstrução de igrejas queimadas - em outro fim
apenas indiretamente relacionado ao propósito específico alegado para o
levantamento é moralmente permissível? Esta questão aponta para uma das
áreas em que problemas morais podem ocorrer na captação de recursos, a saber,
nas relações entre captadores de recursos e doadores. Outros exemplos
contemporâneos poderiam ser facilmente multiplicados. Não obstante, um
exemplo clássico de uma captação de recursos bem sucedida é suficiente para
demonstrar de modo indiscutível a importância da definição de princípios para que
tal captação seja moralmente legítima. No século XVI, John Tetzel destacou-se
como um captador de recursos extraordinariamente bem sucedido através da
venda de indulgências. O reconhecimento da doação era feito através de um
documento da Igreja Católico-Romana garantindo o perdão de pecados para o
próprio doador ou para alguém em favor de quem a doação era feita. O moto de
Tetzel era; "Tão logo a moeda alcança o fundo do cofre, a alma emerge do
purgatório."
Por que a formidável captação de recursos promovida por Tetzel deveria ser
considerada moralmente reprovável? Simplesmente porque os recursos
levantados feriam a missão fundamental da Igreja, a saber, ser instrumento para a
salvação de almas. A missão da organização que capta os recursos é, portanto,
uma segunda área de tensão moral.
Não é difícil imaginar situações em que a falta de integridade pessoal do captador
de recursos seja responsável por problemas morais quer pela omissão ou
distorção de informações quanto à missão da organização, quer pela aceitação de
recursos que firam a missão da mesma. Não é o propósito deste artigo aprofundar
a discussão de problemas específicos relacionados a cada uma destas áreas de
tensão, a saber, na (in)definição da missão da organização, nas relações
profissionais entre doador e captador, e na falta de integridade pessoal do
captador.
É conveniente, porém, destacar que Fischer observa com propriedade que
"dificuldades éticas geralmente envolvem falta de alinhamento entre a missão da
organização e as decisões diárias." Olhando para o ensino da Escritura acerca do
assunto, constata-se que o Novo Testamento menciona ao menos um exemplo de
captação de recursos. Porém, a falta de maiores informações a respeito do evento
recomenda cautela em sua utilização, exceto talvez para afirmar a preocupação
de Paulo, no sentido de que a idoneidade moral do agente que encaminharia a
oferta levantada pelas igrejas da Macedônia para os pobres da Judéia - Tito,
recomendado como "o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas
as igrejas" (2 Coríntios 8:18), garantisse a transparência do processo de captação
e envio dos recursos.
Pressuposições Antropológicas Envolvidas na Captação de Recursos Na
identificação de algumas pressuposições antropológicas envolvidas na captação
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 7
de recursos, recorrerei primariamente à obra de Fischer, Ethical Decision Making
in Fund Raising. É minha convicção que as características por ela atribuídas ao
ser humano expressam um entendimento comum do assunto do ponto de vista da
filantropia.
Fischer inicia o primeiro capítulo de seu livro com um parágrafo destinado ao seu
público-alvo que revela alguns de suas pressuposições antropológicas. Segundo a
autora:
Este livro é escrito para captadores de recursos trabalhando para organizações
filantrópicas e para outras organizações que apreciam a filantropia como um modo
de criar e de enriquecer a vida comunitária. A maioria dos que se enquadram
nesta descrição são pessoas compassivas, honestas e decentes, que já têm
considerável perícia em tomar decisões éticas e agir de maneiras que
demonstram sensibilidade ética. Eles já se esforçam por serem confiáveis, para
agir com integridade e tratar outros com decência e respeito.
O objetivo de Fischer é "entremear tecidos organizacionais de modo que pessoas
de decência e coragem usuais possam se sair bem." A mesma idéia é retomada
pouco adiante nos seguintes termos:
Meu alvo neste livro é ajudar pessoas de decência e coragem usuais a alcançar
seus propósitos, ajudá-las a construir organizações em que santidade não é um
requisito para o sucesso, mas onde possuir decência e coragem usuais é
suficiente.
Logo, Fischer crê que seres humanos são capazes de agir com honestidade,
decência e coragem, inclusive criando modelos sócio-economicos alternativos-
como o das Ilhas Trobriand (vide nota de rodapé 12) - onde um sistema serial de
presentes oferecidos ao próximo convive com a economia de mercado e estimula
o bem-estar comunitário sem um propósito egocêntrico.
Mais do que meros seres biológicos vinculados a um meio-ambiente físico, seres
humanos usam as artes, a cultura e símbolos religiosos e culturais como parte do
processo de descoberta de sua própria identidade, e são capazes do exercício de
virtudes como altruísmo, generosidade, caridade, compaixão, gratidão,
mutualidade e integridade. Fischer se refere a virtudes no sentido Aristotélico do
termo, como "características permanentes e estáveis da personalidade."
De modo a evitar um alongamento inconveniente deste ensaio, apenas duas das
virtudes mencionadas serão objeto de atenção, a saber, altruísmo e integridade.
Por que seres humanos agem com altruísmo em determinadas situações? Por que
circunstancialmente se dispõem até a sacrificar suas próprias vidas por outros
seres humanos? Fischer lança mão de uma obra de Kristen Renwick Moroe (The
Heart of Altruism: Perceptions of a Common Humanity [O Coração do Altruísmo:
Percepções de uma Humanidade Comum] para responder estas questões.
Segundo ela, o fundamento de uma postura altruísta é simplesmente a
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 8
consciência de que todo indivíduo co-participa de uma "humanidade comum." Isto,
contudo, não responde à questão por quê determinadas pessoas - talvez a maioria
- não reage com altruísmo seja ante o drama dos judeus na guerra, seja diante de
necessidades básicas de seus semelhantes. Falta-lhes percepção racional ou
intuição acerca de sua humanidade comum? Independentemente da resposta a
esta questão, o fato permanece que uma parcela de seres humanos reage com
altruísmo ante determinadas necessidades.
Seres humanos em geral - e captadores de recursos em particular - devem cultivar
integridade pessoal, acrescenta Fischer. Integridade é definida tanto como
harmonia da alma e fidelidade a ideais, quanto como o exercício de uma
responsabilidade confiável e flexibilidade.
Em sua discussão de integridade como virtude a ser desenvolvida, Fischer
apresenta duas faces intrinsecamente conflitantes. Primeiro, integridade é definida
em termos individuais. Em suas palavras, integridade "é o mais próximo que
[alguém] se aproxima de identificar a qualidade moral de si mesmo, de seu próprio
companheiro absoluto... Você é aquele perante quem você é em última análise
responsável." Complementarmente, integridade também é definida em termos
sociais. Fischer parece endossar a tese proposta por Jane Addams de que
devemos "afastar nosso foco de nossa inteireza [ou integridade] individual,
concentrando-o em nossas atividades em conexão com outras pessoas." Assim,
conclui Fischer:
Nós necessitamos de um modo de entender integridade que nos faça sentido
quanto às nossas vidas como seres sociais com múltiplas identidades, vivendo em
múltiplas comunidades e com múltiplos compromissos com outras pessoas.
O exemplo para o qual Fischer apela é elucidativo, ainda que perturbador. Ela cita
a filósofa Maria Lugones, a quem ela descreve como lésbica e hispânica, como
um paradigma de integridade. Sua comunidade étnica, argumenta Fischer, é
preconceituosa acerca de sua opção sexual. A despeito da tensão envolvida,
Maria Lugones não deseja abrir mão nem de sua opção pelo lesbianismo nem de
suas raízes latinas. De acordo com a visão de integridade de Fischer, Maria
Lugones deve mover-se entre ambas as comunidades [de lésbicas e hispânicos]
exercitando flexibilidade e sendo forte, evidenciando que membros das duas
comunidades podem contar com seu amor e participação. Segundo Fischer,
Lugones pode ser uma pessoa de integridade "sem necessitar alcançar uma
harmonia interna."
Parece evidente que este conceito de integridade suscita sérias questões morais
do ponto de vista da captação de recursos. Seria admissível que um captador de
recursos pertencente a diferentes comunidades com interesses conflitantes
pudesse desenvolver sua atividade de modo moralmente permissível,
independente dos conflitos internos existentes, simplesmente apelando para a
conclusão lassa proposta por Fischer?
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 9
Ainda mais, integridade é definida em termos teleológicos , pois Fischer a conecta
com uma perspectiva de crescimento pessoal, propondo que decisões morais
devem levar em consideração a seguinte questão: "De que maneira esta
alternativa ajuda ou não você a desenvolver-se na pessoa que você quer se
tornar?" Não parece difícil imaginar que sobre este fundamento teleológico,
decisões morais não permissíveis sob uma perspectiva deontológica pudessem
eventualmente ser consideradas como legítimas.
Anderson, seguindo uma linha semelhante à de Fischer, entende que os
praticantes da filantropia têm bons instintos morais. Tais instintos, crê Anderson,
são intuídos pelos agentes morais envolvidos na filantropia - sejam doadores,
sejam captadores de recursos. A consciência é a fonte destes instintos morais,
acrescenta Anderson sem definir se, em seu entendimento, ela deveria ser
compreendida como uma realidade inata implantada por Deus ou como uma
resposta condicionada aprendida em nosso convívio social.
Portanto, do ponto de vista da captação de recursos, seres humanos devem ser
considerados capazes do exercício de virtudes como altruísmo e integridade entre
outras mencionadas. No entender de Fischer, a captação de recursos deve ser
desenvolvida a partir destes pressupostos antropológicos, aplicáveis tanto ao
potencial doador quanto ao captador. Em última análise, seres humanos devem
ser considerados capazes de almejar e praticar o bem.
Seriam estas pressuposições antropológicas compatíveis com os princípios
bíblicos e com a teologia reformada? A próxima seção deste ensaio oferecerá uma
resposta a esta questão avaliando passagens da Escritura e textos de
documentos reformados que lançam luz sobre a mesma.
Fundamentos Teológicos: Quem Pode Fazer o Bem?
Diversos textos da Escritura são enfáticos em afirmar a incapacidade do ser
humano em fazer o bem. Escrevendo à Igreja em Roma, o apóstolo Paulo retoma
o tema dos Salmos 14 e 53 e descreve o estado de pecado do ser humano nos
seguintes termos: "Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há
quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há
quem faça o bem, não há nem um sequer" (Romanos 3:10b-12, minha ênfase). O
diagnóstico da condição espiritual de todo ser humano é claro: ele é por natureza
injusto, sua capacidade cognitiva está afetada especialmente no que diz respeito à
sua compreensão da vontade e caráter de Deus, todos os seus esforços são
inúteis no que tange a cumprir as exigências do seu Criador. Em suma, nenhuma
de suas ações pode ser considerada intrinsecamente boa, uma vez que o padrão
santo de Deus seja estabelecido como critério.
O diagnóstico de Romanos 3 é perfeitamente compatível com diversas outras
afirmações da Escritura que apontam para o estado de corrupção do ser humano
após a queda. Como um exemplo, temos Gênesis 8:21 onde lemos: "E o Senhor...
disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem,
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 10
porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade [ou infância,
segundo o texto original]..." Ainda que o texto de Gênesis 8:21 vincule esta
condição à infância - uma tradução alternativa do vocábulo hebraico naur - o
ensino geral da Bíblia deixa claro que esta é uma condição constitutiva de todo ser
humano desde sua concepção. Conforme o salmista Davi, todo ser humano nasce
em iniqüidade e é concebido em pecado (Salmo 51:5). O Catecismo de Heidelberg
ratifica esta afirmação em sua resposta à questão 7, onde se lê que a queda e
desobediência dos progenitores da raça humana "envenenou, ou corrompeu
nossa natureza de tal forma que nascemos pecadores - corruptos desde nossa
concepção." Este estado de corrupção, acrescenta o mesmo Catecismo, torna o
ser humano incapaz de fazer qualquer bem e inclinado a todo mal, "a menos que
sejamos nascidos de novo pelo Espírito de Deus."
A despeito deste trágico diagnóstico, outras passagens da Escritura referem-se a
seres humanos regenerados pela ação graciosa de Deus como capazes de fazer
o bem. Na parábola dos talentos, Jesus ensina que alguns servos receberam a
aprovação do seu senhor, sendo individualmente chamados de "servo bom e fiel."
(Mateus 25:21, 23). O próprio apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto,
manifesta sua confiança de que a graça de Deus seria capaz de fazê-los abundar
"em toda boa obra." (2 Coríntios 9:8, minha ênfase). Semelhantemente, o apóstolo
Pedro em sua primeira epístola exorta os cristãos a viverem exemplarmente, de
modo que suas boas obras motivassem os incrédulos a glorificar a Deus no dia da
visitação - provavelmente numa referência a ação misericordiosa de Deus
visitando estes mesmos incrédulos para salvá-los.
O ensino de que seres humanos regenerados são capazes de fazer o bem é
ratificado pela Confissão Belga em seu artigo 24, onde lemos que é a fé que "leva
o homem a fazer as obras que Deus ordenou em sua Palavra." Estas obras,
"procedentes da boa raiz da fé são boas e aceitáveis a Deus, desde que elas são
todas santificadas pela sua graça."
Todavia, passagens da Escritura como essas acima, bem como as de alguns
documentos reformados, não nos ajudam a lançar luz sobre a questão em pauta
uma vez que eles afirmam que apenas pessoas regeneradas e salvas pela ação
graciosa de Deus são capazes de obras boas, uma realidade que não
necessariamente se aplica àqueles que praticam a filantropia.
Os Cânones de Dort (1618-19), ao tratarem da total incapacidade decorrente da
corrupção da natureza humana, introduzem uma qualificação muito importante ao
afirmar: "[T]odas as pessoas são concebidas em pecado e nascem como filhas da
ira, inadequadas para qualquer bem salvífico, inclinados para o mal, mortos em
seus pecados, e escravos do pecado..." O mesmo documento, porém, reconhece
que, a despeito de sua condição decaída, permanece "com certeza uma certa luz
de natureza no homem [ser humano] após a queda, em virtude da qual ele retém
algumas noções sobre Deus, sobre as coisas naturais e acerca da diferença entre
o que é moral e imoral, e demonstra um certo anelo pela virtude e por um bom
comportamento exterior." Os mesmos Cânones se apressam em acrescentar que
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 11
esta luz da natureza não só é insuficiente para conduzir o ser humano a um
conhecimento salvífico de Deus, mas também que freqüentemente ela não é
usada de modo apropriado até mesmo em assuntos relacionados à natureza e à
sociedade.
Não há diferença conceitual entre os documentos reformados acima
apresentados. O que se pode entender é que enquanto que a Confissão Belga
discute os resultados da queda e regeneração a partir de categorias
essencialmente soteriológicas, os Cânones de Dort, conquanto mantendo-se fiel
ao ensino bíblico acerca da queda e regeneração, introduzem uma categoria que
permite uma avaliação mais precisa da ação moral do ser humano não
regenerado.
É possível, então, à luz do ensino da Escritura e dos documentos reformados
acima citados, fazer distinção entre três tipos de bem: salvífico, regenerado e
moral. O primeiro é aquele feito com vistas a satisfazer a justiça e santidade de
Deus. Nenhum ser humano per se - independente dos méritos de Cristo - é capaz
de fazer tal bem. O segundo é o bem realizado por aqueles que foram alcançados
pela obra regeneradora de Deus. Estes são capazes de boas obras, pois estas
decorrem da verdadeira fé, conformam-se com a lei de Deus e são feitas para Sua
glória. O terceiro bem é aquele que se conforma às exigências exteriores da lei de
Deus e é praticado independentemente de fé em Jesus Cristo ou do desejo de
glorificar a Deus. A despeito de não satisfazer os quesitos para se qualificar como
um bem satisfatório para a salvação, nem mesmo como um bem reconhecido por
Deus como louvável, ele deve ser reconhecido como um bem real do ponto de
vista da moralidade.
Dentre os reformadores, João Calvino reconhece a capacidade dos seres
humanos não regenerados para boas obras nos campos cultural, científico e moral
ao distinguir entre o que ele chama de coisas celestiais e terrenas. "A descoberta
ou transmissão sistemática das artes," afirma ele, " é conferida
indiscriminadamente sobre piedosos e ímpios, e é corretamente contada entre os
dons naturais." Diante disto, Calvino exorta seus leitores a reconhecer a admirável
luz da verdade brilhando nos escritores seculares, e aprender com eles,
caracterizando o "Espírito da Verdade como o único fundamento da verdade," e
afirmando que desprezar a verdade onde quer que ela apareça implicaria em
desonrar o próprio Espírito de Deus. Conseqüentemente, Calvino reconhece que a
verdade brilhou por detrás dos antigos juristas e filósofos, e que não é possível
aproximar-se de seus escritos sem grande admiração e reconhecimento de que
tudo louvável e nobre por eles produzido procedeu de Deus. Assim, aqueles
homens que a Escritura denomina como "homens naturais" devem ser
considerados "brilhantes e penetrantes" em sua investigação das "coisas terrenas
ou inferiores.
Ainda segundo Calvino, a capacidade do homem não regenerado não se limita à
investigação das ciências, mas ao estabelecimento da ordem cívica e da disciplina
com grande equidade, incluindo, portanto, elementos morais. Retomando esta
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 12
perspectiva de Calvino, Stackhouse reconhece que a graça de Deus, e não a
capacidade da vontade humana profundamente afetada pelo pecado, é o
fundamento por detrás das realizações do homem natural, seja num "casamento
maravilhoso, numa grande escola, numa lei justa, numa ordem política pacífica..."
Ainda que Fischer fundamente sua proposta filantrópica de uma economia da
doação em alguns pressupostos teológicos e morais discutíveis, diversas de suas
pressuposições antropológicas são, em certo sentido, consistentes com o ensino
da Escritura e com a teologia reformada. Resta, finalmente, considerar a
possibilidade de um modelo ético alternativo à proposta de Fischer que evite seus
problemas inerentes e possa ser empregado no processo de captação de
recursos.
Modelos Éticos Alternativos
Fischer reconhece com propriedade que a ação filantrópica é desenvolvida em
meio a dilemas morais que se manifestam em meio às histórias pessoais e de
organizações. Ao invés de apelar para modelos deontológicos o que, segundo ela,
implicaria em conceituar o pensamento ético e tentar aplicar regras
mecanicamente, sua proposta é que decidamos "que regras aplicar numa
determinada situação e se é um caso em que deveríamos seguir as regras
diretamente ou abrir uma exceção." O modelo ético mais adequado para a tomada
de decisões, propõe ainda Fischer, deve lançar mão de "padrões de narração de
histórias... imaginando diferentes resultados potenciais e perguntando o que cada
um significaria para a organização, a comunidade, e os indivíduos afetados."
Ética, portanto, deve ser pensada no contexto de uma narrativa de modo a inserir
as regras éticas dentro de um contexto apropriado. Fischer se esforça por evitar
qualquer acusação de relativismo enfatizando que embora certas escolhas morais
se situem no que se poderia denominar de área nebulosa, "algumas escolhas
morais são "claramente certas ou erradas, e chamar a ética de nebulosa nestes
casos é um modo de se esconder da responsabilidade e verdades éticas."
Então, quando quer que um real dilema ético surja, "pensar em ética como uma
narração de histórias pode ser útil." No processo de contar nossa história para nós
mesmos e para outras pessoas imaginativamente, "características proeminentes
emergirão, enquanto detalhes menos importantes esmaecerão." Diálogo
exercitado no contexto de uma cuidadosa investigação é evidentemente uma
atividade central na reflexão ética. Conclui-se que o modelo proposto por Fischer
possui pelo menos três características básicas: a importância da situação em um
julgamento moral, a relevância do diálogo e da narração como ferramentas
investigativas da decisão moral, e a avaliação dos resultados da decisão moral,
podendo ser denominado um modelo situacional-narrativo-teleológico.
O diálogo como instrumento, coerente com a metodologia platônica, não implica,
porém, necessariamente na adoção de um modelo ético fundamentado na
situação e na narrativa, e no conseqüente afastamento de um modelo
deontológico. Em algumas de suas obras, Platão evidencia que se pode lançar
mão do diálogo como um recurso epistemológico para a identificação de um
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 13
princípio moral, sem necessariamente afastar-se de um modelo deontológico.
Ainda mais, a adoção de um modelo deontológico é compatível com o cultivo das
virtudes, como a proposta aristotélica evidencia. Anderson dá suporte à
legitimidade desta conclusão ao afirmar: Sem dúvida, Aristóteles está familiarizado
com o conceito [de traçar linhas estabelecendo os limites da moralidade] e
assumiu em seu pensamento sobre a Ética a convicção metafísica de que existem
linhas inscritas na natureza das coisas às quais nossas próprias decisões e ações
deveriam se conformar.
Em resumo, o reconhecimento da dificuldade inerente à tomada de algumas
decisões morais, da importância do diálogo para a identificação da opção moral
correta - ou pelo menos a que aparenta ser - e de uma ênfase ao cultivo das
virtudes não são necessariamente incompatíveis com a adoção de um modelo
ético deontológico fundamentado na lei moral revelada no Decálogo que, me
parece, melhor expressa a tradição cristã em geral e a reformada em particular.
A análise de um caso hipotético pode ser útil na avaliação da aplicabilidade dos
modelos acima descritos no contexto da captação de recursos. Por exemplo, um
doador potencial deseja fazer uma doação significativa para uma escola com
princípios evangélicos, digamos R$ 1 milhão. A única restrição imposta é que 50%
do dinheiro seja destinado a bolsas de estudo para uma minoria gay. Que
respostas os modelos éticos alternativos apresentados no artigo, a saber, o
chamado situacional-narrativo-teleológico e o deontológico ofereceriam ao doador
em questão?
O primeiro modelo requereria uma avaliação do contexto específico do doador e
dos potenciais beneficiados por tal doação. A aplicabilidade ou não de regras a
priori - supondo que elas existissem - deveria ser objeto de discussão, lançando-
se mão da imaginação e considerando os diferentes resultados potenciais para as
vidas dos envolvidos no processo de decisão. Em outras palavras, ainda que um
conjunto de regras não recomendasse a aceitação da doação, fossem seus
resultados concebidos como satisfatórios para um número significativo de pessoas
beneficiadas - os membros da minoria gay que recebessem a bolsa - a
legitimidade moral da decisão estaria assegurada.
No modelo deontológico, em contrapartida, a moralidade da decisão seria avaliada
em termos independentes da situação. No caso do modelo deontológico proposto
neste artigo, a aceitação da doação deveria ser avaliada com base na Lei Moral
revelada no Decálogo, assumindo que a escola em questão explicitamente defina
em sua declaração de missão seu compromisso com esta Lei Moral. À luz do
Decálogo, seria moralmente não-permissível a aceitação da doação condicionada
nos termos mencionados, porque, independentemente dos eventuais benefícios
gerados, preceitos morais pré-estabelecidos estariam sendo quebrados. Na
eventualidade, porém, da missão da escola não possuir um compromisso formal
com os valores da Lei Moral expressa no Decálogo, mas conceber sua
responsabilidade simplesmente em termos do desenvolvimento do ser humano,
caberia ao órgão responsável pela direção da escola optar por uma dentre as
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 14
seguintes alternativas: aceitar a oferta ou rever a declaração de missão.
Conclusão
Aristóteles estava correto. Decidir a quem, quanto, quando e para que propósito
doar recursos financeiros - além de nosso tempo e talentos - não é uma coisa
fácil. Dilemas morais surgirão neste processo que envolve a captação de recursos
seja do ponto de vista da missão da organização destinatária, seja do ponto de
vista do captador, ou das relações envolvendo doador e captador.
A atividade filantrópica baseada numa perspectiva antropológica que entende o
ser humano como capaz de atos morais e de um caráter virtuoso encontra
respaldo na Escritura e na teologia reformada e, conseqüentemente, deve ser
valorizada e incentivada.
O tratamento das questões morais que inevitavelmente surgirão no processo de
captação de recursos deverá levar em consideração o diálogo e enfatizar o cultivo
das virtudes - altruísmo e integridade entre outras. Isto, porém, não significará
necessariamente abrir mão de um modelo ético deontológico, baseado na lei
moral revelada na Escritura, e mais especificamente no Decálogo. O apego - e
porque não dizer, submissão - a esta lei moral nos permitirá acolher e nos
relacionar com compaixão e boa vontade com doadores e/ou captadores como
Maria Lugones, sem necessariamente definir integridade em termos teleológicos
sujeitos a uma perspectiva individual e subjetiva.
ENGLISH ABSTRACT
The process of fundraising may be the source of some serious moral dilemmas
concerning the mission of the organization which profits from the funds, the
fundraiser, and even the relationship between the former and the latter.
The anthropological perspective - foundational to fundraising -, which sees human
beings as capable of performing good moral acts and having a virtuous character,
should be considered as grounded upon Scripture and Reformed theology as well.
Consequently, both this perspective and philanthropy should be appraised and
furthered.
Fundraising will require an emphasis on dialog and the cultivation of virtues from
those dealing with its inherent moral issues. Such an emphasis, however, does not
mean that one should dismiss a deontological model based on the moral law
revealed in Scripture, and more specifically on the Decalog, as the foundation of
moral decisions. The commitment - and even submission - to such deontological
morality would allow the development of an ethics of fundraising that would avoid
the adoption of alternative ethical systems in which moral decisions are made
primarily on the basis of both the situation and the thelos to be achieved.
Notas
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 15
Neste ensaio, Ética é entendida como o estudo da Moralidade (no que tange ao
seu escopo, modelo e fundamento), e esta última como responsável pela
identificação das mores, ou critérios, segundo os quais ações devem ser julgadas
permissíveis ou não, obrigatórias ou não. Reconhece-se, contudo, que
freqüentemente os termos são usados de forma intercambiável como sinônimos.
O autor é professor em tempo integral do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper. É engenheiro civil pela Escola de Engenharia Mauá (1978).
Bacherel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da
Conceição (1986), Mestre em Teologia Sistemática pelo Centro Presbiteriano de
Pós-Graduação Andrew Jumper (1997) e Doutor em Filosofia (Ph.D., 2001) pelo
Calvin Theological Seminary, em Grand Rapids, Michigan, EUA.. Autor dos artigos
"Deus, Revelação e Ética: A teologia da Revelação de James Gustafson," Fides
Reformata, vol. III, no. 2 (Julho-Dezembro 1998) e "Nicholas Wolterstorff e a Ética
Social do Calvinismo Holandês," Fides Reformata et Semper Reformanda Est, vol.
VI, no. 1 (2001). Foi pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração por
dois anos (1987-88) e pastor da Igreja Presbiteriana de Praia Grande (1989-1997).
Atualmente, integra a equipe pastoral da Igreja Presbiteriana de Pirituba, em São
Paulo, Capital.
Rae registra que o incêndio ocorrido em Methuen (Massachusetts), que feriu 24
pessoas e deixou 1400 trabalhadores desempregados, trouxe consigo o temor de
que a cidade seria economicamente destruída. A despeito de seus 72 anos e de
poder simplesmente aposentar-se com o dinheiro do seguro do incêndio,
Feuerstein deu um bônus de Natal de US$ 275 a cada empregado mais US$ 20
para serem gastos num supermercado local. Ainda mais, ele propôs o pagamento
do salário integral do próximo mês e de noventa dias do seguro-saúde, afirmando
sua convicção de que as circunstâncias difíceis representavam um teste das suas
convicções morais nas seguintes palavras: "Meu compromisso é com
Massachusetts e com a Nova Inglaterra. É onde eu vivo, onde eu me divirto, e
onde eu adoro [a Deus]. Malden Mills será reconstruída exatamente aqui..." Scott
B. Rae and Kenman L Wong, Beyond Integrity. A Judeo-Christian Approach to
Business Ethics (Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1996), p. 16.
Em sua decisão de produzir o medicamento para essa doença chamada river
blindness, que afetava apenas populações ribeirinhas de países da África e das
Américas Central e do Sul, a despeito da ausência de um retorno financeiro
imediato, o laboratório Merck permaneceu coerente com um elemento chave da
filosofia da companhia: "Nós tentaremos jamais esquecer que medicina é para as
pessoas e não para o lucro. O lucro decorrerá [naturalmente] e se nós lembrarmos
disso, ele nunca deixará de surgir. Quanto melhor nos lembramos disso, maior o
lucro tem sido." Rae, Beyond Integrity, p. 17.
Rae, Beyond Integrity, p. 16.
Uma pesquisa da literatura disponível nas bibliotecas da Universidade
Presbiteriana Mackenzie na área campo de Business Ethics revela a existência de
17 obras tratando de diferentes aspectos deste assunto: Business Ethics, 4th ed.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 16
(2002); Business Ethics: Critical Perspectives on Business and Management
(2001); Business Ethics: Perspectives on the Practice of Theory (2001); Business
Ethics: The Ethical Revolution of Minority Shareholders (2001); Ethics and
Governance: Business as Mediating Institution (2001); Business, Institutions, and
Ethics: A Text with Cases and Readings (2000); Just Business: Business Ethics in
Action, 2nd ed. (2000); Managing Business Ethics: Straight Talk about how to do it
Right. 2nd ed. (1999); It's Good Business: Ethics and Free Enterprise for the New
Millennium (1997); Current Issues in Business Ethics (1997); Beyond Integrity. A
Judeo-Christian Approach to Business Ethics (1996); Business and Society:
Corporate Strategy, Public Policy, Ethics. 8th ed. (1996); Business Ethics: A Guide
for Mangers (1996); An Introduction to Business Ethics (1996); Ties that Bind: A
Social Contracts Approach to Business Ethics (1996); On Moral Business:
Classical and Contemporary Resources for Ethics in Economic Life (1995).
Uma evidência deste fato é que a obra de Rae & Wong (Beyond Integrity) não
dedica sequer uma de suas 655 páginas à Ética na Captação de Recursos. O
mesmo pode ser dito da obra editada por Stackhouse e outros (On Moral
Business) que apesar de seu valor e extensão (979 páginas) não dedica uma
única seção ao tópico de nosso seminário.
Marilyn Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising (New York and others:
John Wiley & Sons. Inc., 2000) e Albert Anderson, Ethics for Fundraisers
(Bloomington: Indiana University Press, 1996). Outras obras mencionadas por
Anderson como relevantes são Robert L. Payton, Philanthropy: Voluntary Action
for the Public Good (New`York: American Council of Education, Macmillan, 1988),
especialmente os ensaios "Philanthropy as Moral Discourse,"e "Virtue and its
Consequences." Para uma pesquisa da extensão dos escritos sobre filantropia,
consultar Daphne Niobe Layton, Philanthropy and Voluntarism (Washington, DC:
Foundation Center, 1987 e Indiana Center on Philanthropy, que hospeda a Payton
Philanthropic Studies Library, segundo Anderson - o autor destas indicações - "a
maior coleção de livros e dissertações sobre filantropia na nação [norte-
americana]." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 135.
Custódio Pereira. Captação de Recursos (Fund Raising). Conhecendo Melhor
porque as Pessoas Contribuem (São Paulo: Editora Mackenzie, 2001).
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Cabe acrescentar que a
filantropia não se restringe à doação de dinheiro, mas inclui a doação de tempo e
talentos (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 15)
Brian O'Connell, Philanthropy in Action (New York: Foundation Center, 1987), p. 8
apud Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Fischer lança mão da
noção de uma economia baseada em doações como uma metáfora para a
filantropia, recorrendo ao sistema de presentes (kula) existente lado a lado com o
sistema de mercado (gimwali) nas Ilhas Trobriand.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 17
Kula inclui "vastos círculos de doação ritual englobando muitas tribos e ilhas... O
processo é caracterizado por um fluxo contínuo de presentes dados, aceitos e
retribuídos em todas as direções obrigatoriamente sem qualquer interesse próprio,
mas como conseqüência da grandeza e por serviços prestados, através de
desafios e promessas (p. 11). No sistema descrito, reciprocidade direta não é
esperada, tendo em vista que o receptor do presente deve passá-lo adiante,
transformando-se num doador e beneficiando assim a outrem. Para mais detalhes
da chamada economia baseada em doações, consultar pp. 13-16. Segundo
Anderson, "o propósito último da filantropia é melhorar o bem público."
Ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 9.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 15.
Pereira, Captação de Recursos, p. 22. O autor ainda ressalta que a maior parte
dessas doações são provenientes de pessoas físicas. A título de informação, nos
Estados Unidos, a AFP (Association of Fundraising Professionals) conta com 25
mil associados, o que evidencia o investimento feito na formação de captadores
de recursos (ver Pereira, Captação de Recursos, p. 19).
A principal razão para a diferença significativa entre o volume de recursos
captados no Brasil e nos Estado Unidos, argumenta Pereira é "o método de
captação de recursos. O método inclui desde a identificação do doador potencial,
sua sensibilização para a causa até a efetivação da doação, prestação de contas
e o reconhecimento da instituição recebedora." Pereira, Captação de Recursos, p.
23. Um exemplo de captação de recursos bem sucedido mencionado pelo mesmo
autor é o da Harvard University que, numa campanha de cinco anos, conseguiu
captar US$ 2.1 bilhões de dólares, contando com um quadro de pessoal de 250
funcionários no escritório de captação de recursos. A entidade evangélica norte-
americana O Exército da Salvação captou mais de US$ 1 bilhão em 1996,
situando-se pelo quinto ano consecutivo entre as 400 maiores obras de caridade
segundo The Chronicle of Philanthropy [ver Christian Century (December 3,
1997):1118].
Pereira, Captação de Recursos, p. 45.
"Em 1999, a empresa [Instituto C&A] investiu quatro milhões de dólares em
programas de apoio a mais de oitenta creches, escolas e centros de educação
continuada. Cerca de 50 mil crianças e adolescentes foram atendidos pelo
programa. Oitocentos funcionários da empresa atuam como voluntários nestas
instituições. Uma vez por semana, são liberados para brincar com as crianças,
ajudar na gestão e avaliar resultados." Pereira, Captação de Recursos, pp. 56-57.
O Instituto Ethos de Responsabilidade Social conta hoje com 70 associados que
representam juntos um faturamento anual de 15 bilhões de reais.
Cf. Christian Century, 28 de Agosto-4 de Setembro (1996):806.
Christian Century, August 28-September 4 (1996):p. 806.
Lucas nos oferece um outro exemplo da tensão moral envolvida na captação de
recursos ao registrar em Atos 6 que os recursos levantados para o sustento das
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 18
viúvas dos helenistas estariam alegadamente sendo desviados Fischer faz
referência ao fato, mencionando o slogan que na língua inglesa possui uma rima:
"As soon as [the] coin in coffer rings, the soul from purgatory springs." Fischer,
Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 38.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 22.
Ver 2 Coríntios 8. Outros textos neotestamentários que talvez se refiram à
captação de recursos são Atos 6 e Filipenses 4. Não há, contudo, evidência
textual nestes últimos casos de que os recursos tenham sido captados por
iniciativa de alguém e não ofertados por iniciativa das comunidades envolvidas. A
utilização de textos veterotestamentários que registram ordens de Deus aos
israelitas para a pilhagem de povos derrotados está sendo conscientemente
deixada de lado pelos mesmos enfocarem um contexto que foge ao escopo do
presente ensaio.
A preocupação do apóstolo Paulo se evidencia quando ele afirma que sua
intenção ao apontar Tito era estar "evitando, assim, que alguém nos acuse em
face desta generosa dádiva administrada por nós; pois o que nos preocupa é
procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos
homens." (2 Coríntios 8:20-21) Paralelamente, mas em menor medida, recorrerei
à obra de Anderson - Ethics for Fundraisers - identificando alguns pontos comuns
explorados por aquele autor.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 3 (minha ênfase). A grande
maioria de captadores de recursos, acrescenta ela, "quer agir com integridade e
jamais violaria a confiança pública numa escala maciça." (p. 4)
Ibid., p. 4 (minha ênfase).
Ibid., p. 5 (minha ênfase).
"Quaisquer que sejam os motivos do doador, os padrões de doação não são
egocêntricos porque eles não são dirigidos só ou primariamente para o benefício
doador. Nem são filantrópicos porque os doadores participam das comunidades
que tais doações criaram." Ibid., p. 12.
Ibid., p. 40.
Para Aristóteles, virtudes são traços de caráter firmemente estabelecidos ou
disposições para agir segundo componentes intelectuais e afetivos. As virtudes se
situam em uma posição intermediária entre dois extremos de deficiência e de
excesso, sendo a razão a faculdade que determina esta posição intermediária (cf.
Nicomachean Ethics). Não pertence ao escopo deste trabalho uma discussão
aprofundada, nem uma avaliação comparativa entre o conceito de virtude em
Aristóteles e em Tomás de Aquino (ver Suma Teológica, 5 volumes (Allen, Texas:
Christian Classics, reimpr. 1981), 2:819 (Primeira Parte da Segunda Parte,
Questão 55 e ss) Ibid., p. 44. Rae & Wong enfatizam a necessidade de virtudes
como confiança, honestidade e cooperação como fundamentais para o próprio
funcionamento do sistema capitalista, aliado ao caráter para a produção de boas
ações. Em suas palavras, "os fundadores dos Estados Unidos criam que o
experimento democrático funcionaria somente se houvesse virtude em seus
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 19
cidadãos.
Ao contrário da crença popular, liberdade total nunca foi o intento dos pais
fundadores. Ao invés sua visão era de liberdade 'ordeira' ou 'restringida' - ou seja,
liberdade moderada pela moral e caráter." Rae, Beyond Integrity, p. 40. Anderson,
a despeito de ressalvar que a cultura contemporânea se caracteriza por "uma
ambigüidade moral onipresente," entende que há lugar para enfatizar a virtude no
contexto da ação filantrópica. Anderson, Ethics for Fundraisers, p. ix. Na leitura
que Anderson faz de Aristóteles, ser moralmente responsável no contexto da
filantropia pressupõe o desenvolvimento de um caráter virtuoso. Anderson, Ethics
for Fundraisers, p. x. Virtude é entendida como a capacidade para adotar uma
linha de ação moderada que evita tanto o excesso quanto a deficiência (ver
Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 5)
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 53. Segundo Monroe, uma
pesquisa realizada com pessoas que abrigaram judeus da perseguição promovida
pelos nazistas revelou que fatores como religião contexto familiar, riqueza,
ocupação e posição familiar não foram determinantes na decisão de prestar
socorro. Nas palavras de Fischer, "o mais interessante acerca dos resgatadores é
que eles reivindicaram que não havia nada a decidir, não haviam alternativas entre
as quais escolher." Ibid., p. 52.
Ibid., pp. 92-96. Ibid., p. 91. Ibid., p. 96. Ibid. Ibid. Do grego telos (fim). Fischer,
Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 97. Deontologia deriva do termo grego
dei, que significa é necessário. Daí, concluem Rae & Wong, "vem a noção de
obrigações morais que são inerentemente necessárias e não contingentes aos fins
e conseqüências que elas produzem." Rae & Wong, Beyond Integrity, p. 35.
Stackhouse, em Moral Business, afirma que Deontologia provém do grego deon,
que significa dever, obrigação. A despeito das diferenças, Rae e Stackhouse
propõem um mesmo conceito: Deontologia define as obrigações morais em
termos de princípios pré-estabelecidos, que podem ser identificados através de
diferentes recursos, mas em que a moralidade de um ato independe dos seus
resultados.
No entendimento de Anderson, o desafio dos agentes morais consiste em
posicionar-se ante a pressão da cultura contemporânea, fazendo o que eles
sentem que devem fazer (ver Anderson, Ethics for Fudraisers, p. xi) Ibid., p. 25.
O texto original afirma que nenhum ser humano é díkaios, ou seja, de acordo com
o padrão, vontade ou caráter de Deus. Em outras palavras, nenhum ser humano é
bom (outra tradução possível para o vocábulo grego díkaios) "The Heidelberg
Catechism, Lord's Day 3, QA7," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions
(Grand Rapids: CRC Publications, 1988), p. 15 (minha tradução).
"The Heidelberg Catechism," Q/A 8, p. 15.
"The Belgic Confession," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions (Grand
Rapids: CRC Publications, 1988), p. 101 (minha tradução). A Confissão Belga
deixa claro que estas obras não "contam para nossa justificação," mas decorrem
dela.
Por "bem salvífico," os Cânones de Dort se referem a qualquer ato que possa ser
considerado como suficiente para satisfazer o padrão de justiça de Deus e,
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 20
conseqüentemente, merecedor de salvação.
"Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 3," Ecumenical
Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução).
"Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 4," Ecumenical
Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução e ênfase).
"Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 4," Ecumenical
Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução).
"The Heidelberg Catechism," Q/A 91, p. 54.
"Existe um tipo de entendimento das coisas terrenas e outro as coisas celestiais.
Eu chamo "coisas terrenas" aquelas que não pertencem a Deus ou ao Seu reino,
à verdadeira justiça, ou à felicidade da vida futura; mas que têm sua importância e
relacionamento com a vida presente e são, num certo sentido, confinadas aos
seus limites. Eu chamo de coisas celestiais o conhecimento puro de Deus, a
natureza da verdadeira justiça e os mistérios do Reino Celestial. A primeira classe
inclui o governo, o gerenciamento doméstico, todas as habilidades mecânicas e as
artes liberais. João Calvino, Institutas da Religião Cristã, John T. McNeil, ed.
(Philadelphia: The Westminster Press, 1960), II.ii.13, minha tradução.
Ibidem, II.ii.14, minha tradução.
Ibidem, II.ii.15, minha tradução.
Ibidem, minha tradução.
Stackhouse, On Moral Business, p. 31. Stackhouse não faz distinção entre graça
comum e graça especial, razão pela qual ele lista ao lados dos elementos acima
mencionados "uma comunidade religiosa que cura, inspira e guia todos que em a
conhecê-la para a santidade do amor." Por detrás de tudo isto, um "único ponto
integrador" deve ser reconhecido, a saber, Deus (p. 31).
Para Fischer "economias baseadas em doação podem refletir sistemas de fé
profundamente baseados em pressuposições filosóficas, religiosas e
cosmológicas." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 13.
Expressando suas convicções teológicas pessoais, a autora acrescenta que a
"[h]istória não possui um grande senhor controlando o script..." (p. 10), rejeitando
assim o ensino da Escritura de que Deus governa os detalhes da história - das
nações e de indivíduos - através de um plano eternamente estabelecido (Isaías
46:9-11; Salmo 139:16).
"Caridade nos lembra de que doação filantrópica serve a ideais morais e religiosos
e que tanto nossos compromissos interiores quanto nossas atividades exteriores
deveriam exemplificar estes ideais." Fischer, Ethical Decision Making in Fund
Raising, p. 58. Fischer parece sugerir que seres humanos são individualmente
responsáveis somente ante si mesmos, a despeito da Escritura afirmar que "todas
as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de
prestar contas." (Hebreus 4:13b, minha ênfase) Para uma breve, mas útil,
perspectiva de diversos modelos (ou sistemas éticos), consultar Era & Wong,
Beyond Integrity, onde os autores fazem menção ao Egoísmo Ético,
Utilitarianismo, Emotivismo, algumas formas de Deontologia e à Teoria da Virtude.
A rigor, ela se refere ao que chamo de dilemas morais como "dilemas éticos"
afirmando que "estes surgem nas histórias contínuas de pessoas e organizações."
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 5. Semelhantemente,
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 21
Anderson, que a "natureza da ética, diferentemente da aritmética, é ser incerta."
"Suas questões,"acrescenta, "escolhas e ações podem provocar o menear da
cabeça, requerer consideração, consistência e determinação - sem perspectiva
clara ou certa de que as decisões sejam totalmente certas." Anderson, Ethics for
Fundraisers, p. xii.
Para uma definição de deontologia, consultar nota de rodapé 43.
"Conceituar o pensamento ético como apenas uma questão de aplicar regras a
ocasiões específicas... é muito limitado.... Quando tentamos aplicar regras
mecanicamente, podemos omitir a necessidade por um entendimento compassivo
e esquecer que a aplicação própria de regras deve ser responsiva a
características específicas do contexto e a peculiaridades de caráter." Fischer,
Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 9. "Teorias abstratas e tradições
religiosas podem funcionar como recursos, ao invés de pontos de partida."
Ibidem., p.
xvi. É questionável a tese defendida por Fischer de que a adoção de um modelo
deontológico conduziria necessariamente a uma aplicação mecânica de regras.
Ibidem, p. 9.
Ibidem, p. 8. Fischer se refere positivamente ao filósofo John Dewey quando este
afima que "Imaginação é o principalmente instrumento do bem." Os dilemas
morais devem ser enfrentados com imaginação quanto às alternativas futuras, ao
significado das mesmas para os indivíduos, organizações e comunidades
envolvidas. Ainda mais, "a organização e os indivíduos devem ser imaginados
como não estáticos, mas como mudando e crescendo." Conseqüentemente, um
dilema moral deve ser encarado como "uma fase desse crescimento." Ibidem, p.
7-8. Anderson também enfatiza que ser eticamente responsável requer
"imaginação moral." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. xii.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 9.
"Algumas vezes em nossa reflexão ética, não vemos respostas claras, corretas;
todas alternativa é tingida com negatividade, o mal mancha o bem." Ibidem, p. 19.
Literalmente, chamar ética de "cinza," cf. Ibidem, p. 19.
Ibidem, p. 19.
Ibidem, p. 8.
Ibidem, p. 24.
Ver, por exemplo, R. E. Allen, Plato's Euthypro and the Earlier Theory of Forms
(New York: Humanities Press, 1970) e Plato, The Republic, Raymond Larson,
transl. and ed. (Arlington: Harlan Davidson, Inc., 1979).
Nas palavras de Anderson, Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 4. Paralelamente,
o mesmo Aristóteles enfatiza a responsabilidade do ser humano no
desenvolvimento de um caráter virtuoso, que significa concretamente buscar a
moderação entre o excesso e a deficiência (ver Anderson, Ethics for Fundraisers,
p. 5).
Na situação hipotética em questão, deliberadamente se evita a discussão de
quaisquer implicações relacionadas a um eventual processo seletivo. A
preocupação em pauta não é primariamente de ordem legal, mas moral.
Por resultados satisfatórios, entendam-se benefícios reais e legítimos oriundos da
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 22
concessão da bolsa como, por exemplo, o desenvolvimento pessoal dos
beneficiados, a perspectiva de uma contribuição à sociedade em suas áreas
específicas de preparo acadêmico, entre outros.
Revista Fides Reformata
http://www.mackenzie.com.br/teologia/
Parte III
O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO
Autor(a): PR. FERNANDO FERNANDES
Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico
Batista de São Paulo. mailto:prfcf@terra.com.br
Introdução:
Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou
ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética
é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética.
Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o
qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em
discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a
correção moral.
É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo
intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência
de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana
em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja,
como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por
toda a comunidade.
Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que
desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta
apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na
conduta.
O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto
que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja
evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas
reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja
os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados.
I - Postulados éticos que influenciam a sociedade:
O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 23
de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos
de relativização ética, são elas:
a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio
moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em
referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas.
b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem
sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não
há normas universais.
c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que
as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra
universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece
como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode
tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral.
d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas
sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se
preserve o ideal comum no cumprimento do dever.
e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são
conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não
existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois
vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo
ideal ninguém infringe normas.
f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais hierarquicamente
ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de modo que, diante de
um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma mais elevada nesta
estrutura.
Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja
evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam
um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não
demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus
pastores, líderes e membros.
Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética
embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro
bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela
malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o
seu distorcido padrão ético personalista.
Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente
evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos
possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 24
abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado.
II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus:
A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo
e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e
dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua
observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é
a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios
práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a
ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva.
Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano
em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais
prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões
comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento.
Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um
padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã
evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de
relacionamentos para seus membros.
A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer
que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o
poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão
integrados á igreja.
Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de
Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus
parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante
acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos
para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns
para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem
desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de
Deus para a s nossas vidas.
Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas
também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos
conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que
não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação
também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora
de Cristo para o ser humano.
Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão
superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da
mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a
fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo,
mas é também a revelação da vontade de Deus para nós.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 25
Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano,
como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética
como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras
Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser
considerada pelo cristão sincero.
Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como
fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos
resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente
contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o
errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto
sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide".
Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as
confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a
proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja
determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia
e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que
humanamente sejamos contrariados.
Conclusão:
Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade
moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a
necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a
motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que
o ato em si.
De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de
um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer
ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar
que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da
Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade
espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados
por conceitos errôneos sobre ética e moralidade.
Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso,
não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se
confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não
buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade.
Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os
parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos
capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em
desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos,
que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 26
pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações
e reações na vivência em sociedade.
A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais
prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é
considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza
sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a
virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a
honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros.
Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação
moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante
sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual.
Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de
retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se
originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou
em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3.
Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética,
mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e
evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao
Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32.
"... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22)
Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã.
Amém.
Parte IV
O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO
Autor(a): PR. FERNANDO FERNANDES
Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico
Batista de São Paulo. E-mail: prfcf@terra.com.br
Introdução:
Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou
ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética
é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética.
Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o
qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em
discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 27
correção moral.
É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo
intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência
de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana
em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja,
como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por
toda a comunidade.
Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que
desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta
apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na
conduta.
O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto
que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja
evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas
reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja
os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados.
I - Postulados éticos que influenciam a sociedade:
O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que
de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos
de relativização ética, são elas:
a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio
moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em
referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas.
b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem
sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não
há normas universais.
c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que
as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra
universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece
como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode
tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral.
d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas
sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se
preserve o ideal comum no cumprimento do dever.
e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são
conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não
existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois
vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 28
ideal ninguém infringe normas.
f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais
hierarquicamente ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de
modo que, diante de um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma
mais elevada nesta estrutura.
Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja
evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam
um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não
demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus
pastores, líderes e membros.
Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética
embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro
bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela
malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o
seu distorcido padrão ético personalista.
Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente
evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos
possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma
abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado.
II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus:
A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo
e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e
dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua
observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é
a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios
práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a
ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva.
Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano
em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais
prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões
comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento.
Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um
padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã
evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de
relacionamentos para seus membros.
A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer
que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o
poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão
integrados á igreja.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 29
Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de
Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus
parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante
acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos
para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns
para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem
desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de
Deus para a s nossas vidas.
Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas
também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos
conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que
não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação
também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora
de Cristo para o ser humano.
Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão
superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da
mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a
fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo,
mas é também a revelação da vontade de Deus para nós.
Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano,
como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética
como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras
Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser
considerada pelo cristão sincero.
Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como
fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos
resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente
contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o
errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto
sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide".
Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as
confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a
proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja
determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia
e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que
humanamente sejamos contrariados.
Conclusão:
Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade
moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 30
necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a
motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que
o ato em si.
De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de
um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer
ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar
que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da
Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade
espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados
por conceitos errôneos sobre ética e moralidade.
Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso,
não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se
confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não
buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade.
Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os
parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos
capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em
desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos,
que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas
pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações
e reações na vivência em sociedade.
A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais
prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é
considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza
sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a
virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a
honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros.
Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação
moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante
sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual.
Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de
retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se
originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou
em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3.
Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética,
mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e
evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao
Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32.
"... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22)
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 31
Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã.
Amém.
Parte V
Aborto: Infanticídio Qualificado
Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA
E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com
Qualificado porque premeditado. Os envolvidos sabem com antecedência o dia, a
hora, o local e os instrumentos usados na execução das vítimas. E mais: o crime é
cometido por motivo irrelevante, contra pessoas inocentes e indefesas.
O Código Penal estabelece pena de um a três anos de detenção para a gestante
que “provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque”
(Art.123). Para o crime de aborto deveria existir a figura do “homicídio qualificado”,
como previsto no Art. 121: (a) por motivo fútil; (b) com emprego de veneno, fogo,
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
resultar perigo comum.
Dependendo do instrumento usado, a criança sofre ou não sofre tortura? Os meios
usados são ou não são insidiosos ou cruéis? Consideradas tais circunstâncias, as
penas deveriam ser de doze a trinta anos de detenção para parturientes, médicos,
auxiliares e diretores dos hospitais envolvidos no crime.
À vista disso, urge que seja alterado o Artigo 123 do Código para atribuir ao aborto
a natureza de crime hediondo e, portanto, qualificado. Minha proposta segue em
direção contrária à que objetiva descriminar o aborto no Brasil e promover sua
total liberação.
Com base na Lei de Deus – “não matarás” -, cujos princípios éticos e morais
norteiam as constituições das nações cristãs, não podemos permitir a liberação do
aborto. A punição severa, além do castigo no plano divino, é instrumento
adequado no combate de tais crimes.
O ventre de uma mulher não pode se transformar num cárcere de horrores. O ser
que ali é gerado pelo Autor da Vida não é um condenado à morte; é predestinado
à vida – não importa se tenha um dia ou sete meses de existência uterina.
Qualquer projeto de liberação do aborto é de origem satânica. O Diabo deseja
matar o maior número possível de pessoas. Ele sabe que o homem é a obra-prima
de Deus. Como não pode atingir o Criador, descarrega seu veneno contra as
criaturas.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 32
’”Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi
homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade
nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e
pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós
me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes? (Jo 8.44-
46).
Há tempo para os que estão com as mãos manchadas de sangue inocente. Que
se arrependam de suas ações criminosas, recebam o Senhor Jesus como
Salvador pessoal e livrem-se do tormento eterno. A vida humana, que começa na
concepção, não pode ser tratada como uma questão técnica e puramente
materialista. É danoso ao homem ignorar os absolutos morais de Deus, como faz
a falsa filosofia do pós-modernismo.
A idéia dos materialistas é desvalorizar o ser humano enquanto em crescimento
no ventre materno, reduzindo-o a uma questão meramente técnica e funcional.
Todavia, o nascituro tem direito à mesma proteção dispensada às pessoas já
nascidas. O Estatuto da Criança determina ser dever do poder público assegurar,
“com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida da criança,
mediante a efetivação de políticas sociais e públicas que permitam o nascimento e
o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência” (Art.
4º e 7º da Lei 8.069, de 13.07.1990).
As tentativas de legalizar o aborto colidem com esses dispositivos, que enfatizam
a necessidade de o Estado propiciar ao bebê nascimento sadio. Daí porque “é
assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e
perinatal” (Art. 8º).
Vejam quanta insanidade! Os legisladores legislam em favor da criança que se
encontra em gestação, para que, com “absoluta prioridade”, o período até o seu
nascimento ocorra sem qualquer problema. Os defensores do aborto desejam
eliminar a criança antes do nascimento. E querem ter o direito legal de
promoverem a matança, sob os auspícios do Governo e recursos do SUS. Os
abortistas querem eliminar as crianças antes do nascimento; a Lei as protege
nesse período.
O Doador da Vida conhece o homem desde a concepção: “Antes que te formasse
no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te
dei por profeta” (Jr 1.5). Notem que o profeta foi santificado antes de nascer. Os
abortistas dizem o contrário: “Antes de sair do ventre, a criança não passa de um
conjunto de carne e osso informe e sem vida. Queremos o direito de tirá-la do
ventre e jogá-la no lixo”.
Sei o quanto é difícil conter a atual tendência liberalista que despreza os valores
éticos e morais. Mas deixo aqui o meu protesto e repúdio por tais práticas,
contrárias à vontade do Criador da Vida.
Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 33
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Ética na captação de recursos para organizações religiosas

  • 1. Convenio FENIPE e FATEFINA Promoção dos 300.000 Cursos Grátis Pelo Sistema de Ensino a Distancia – SED CNPJ º 21.221.528/0001-60 Registro Civil das Pessoas Jurídicas nº 333 do Livro A-l das Fls. 173/173 vº, Fundada em 01 de Janeiro de 1980, Registrada em 27 de Outubro de 1984 Presidente Nacional Reverendo Pr. Gilson Aristeu de Oliveira Coordenador Geral Pr. Antony Steff Gilson de Oliveira APOSTILA Nº. 14/300.000 MIL CURSOS GRATIS EM 54 PAGINAS. Estudo Sobre a Ética Crista Parte – I A ÉTICA NA FORMAÇÃO PASTORAL A batalha pelo ser humano, nesta era pós cristã, dar-se-á no campo da ética. Não só porque o que está em pauta é a questão das finalidades, mas, também, porque é único campo onde as forças pró ser humano podem travá-la. A globalização já decidiu o rumo da vida humana nos campos econômicos e sociais, a sociedade já está estruturada de modo irreversível, independente das forças que assumam o poder nas nações, pois, o que está em curso é supra-nacional. Resta, portanto, o campo da ética. Julio Santa Ana, in Tempo e Presença, n# 295 em seu artigo "Ética, cinco anos depois...",nos dá um quadro sobre a questão ética nos relacionamentos internacionais: 1- o crescimento da economia mundial e o desenvolvimento tecnológico já permitiria a diminuição da carga horária para os trabalhadores, permitindo mehor desfrute do progresso, os empresários, entretanto, optaram pela despensa de funcionários e, mais que isso, pela exclusão do mercado de toda uma massa de trabalhadores ; 2- no plano geopolítico, os Estados Unidos da América, dada sua inquestionável superioridade bélica, tornaram-se o xerife do mundo: estão em condições de intervir em qualquer conflito mundial, garantindo, assim, um clima de paz, porém, só o fazem de acordo com os seus interesses particulares; 3- a cultura que está sendo disseminada é a mass media, a cultura da classe dominante mundial - sobreviverá o movimento cultural que se adaptar, que se inserir. Regis de Morais, in Tempo e Presença, n# 295 no escrito "Retomar a ética à luz de nosso tempo", reitera que a batalha a ser travada é ética: "a proscrita de grande parte do século XX - a ética - voltou agindo discretamente. Discreta, mas eficientemente." diz ele. Insiste que esse é o caminho da esperança: "Nenhuma hora é hora de desistir. Sempre repito que nós podemos ter tentado muitas Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 1
  • 2. alternativas, mas, com certeza não tentamos todas." Descreve, em relação ao Brasil, um quadro positivo, que passa pela deposição de um presidente da república, pelo fortalecimento sindical, pela indignação frente ao desmando político, pela reação frente a absurdos como as chacinas e atos estúpidos como o assassinato de Galdino: o índio patachó. Declara que essa batalha tem uma nova e decisiva frente: a questão das drogas. Por quê declara que tudo isso é questão ética? Porque ética - ethos, em grego - designa a morada do homem, não é algo pronto, porém, é a busca de construir um abrigo permanente onde o homem se realize plenamente - ambiente que faça jus ao termo humano. Esta batalha encerra a busca de soluções estruturais e de conversões pessoais. Luiz Alberto Gómez de Souza, in Tempo e Presença, n# 295 em "O legado de Betinho: a ética na política" chama-nos a atenção para o grande soldado pela ética surgido em solo pátrio, Betinho, mostrando como a opção deste pela sociedade, num projeto suprapartidário despertou a nação para a consciência da possibilidade de construir uma sociedade iqualitária, participativa, livre, diversa e solidária a partir da adoção de uma ética que estabelece o sentido do público como a busca do bem de todos e subordina o direito de alguns aos direitos da maioria. Deixou claro que esse é um caminho longo, que tem de ser percorrido com liberdade, principalmente, em relação às amarras que impõe formas restritas de encaminhamento da coisa pública, como os partidos políticos, numa consciência de que política é um exercício de vida que se baseia na crença de que a sociedade não está presa às garras de nenhum tipo de fatalismo, o que torna possível sonhar com transformações sociais profundas. Manfredo Araújo de Oliveira, in Tempo e Presença n# 295 no texto "Os dilemas éticos de uma economia de mercado" - afirma que "desemprego estrutural, crise ecológica e nova problemática da relação norte-sul são problemas extremamente sérios que revelam com toda a clareza, a dramaticidade dos dilemas éticos de uma economia de mercado capitalista. Se não formos capazes de entrentar esses dilemas, talvez a sobrevivência do ser humano em nosso planeta se torne impossível." Isto porque desde Hobbes, a economia de mercado passou a ser considerada um sistema neutro de produção de riqueza onde a justa distribuição desta não está em pauta. Essa lógica cruel gerou um nível de desigualdade social insuportável, fragilizou as economias emergentes, como, estarrecidos, estamos assistindo, comprometeu o ecosistema. Estamos frente a um dilema básico: "a relação entre eficiência e justiça: uma batalha ética. Todas essas contribuições nos remetem para a necessidade da ética na formação pastoral, pois, como agente propagador e construtor do Reino de Deus, o pastor é, eminentemente, um propalador da ética, ou, talvez, devessemos dizer de éticas. O Reino de Deus se propõe a ser a casa do homem onde o humano se concretiza. José Adriano Filho, em seu texto: "Denúncia dos causadores da ruína do povo" (Tempo e Presença n# 295) chama atenção para o fato de que o movimento profético dos séculos VIII e VII A.C. caracterizou-se, marcadamente, por essa pregação ética levada a efeito por meio da denúncia que, evocando o pacto, fazia lembrar a nação que o Deus da Bíblia é o Deus dos e pró pequeninos. Além da Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 2
  • 3. denúncia, o pastor deve compreender que o pastorado, mais do que o cuidado pastoral da ovelha, enquanto indivíduo, tem de se caracterizar pela construção de modelos comunitários que exemplifiquem o que deve ser a casa do homem, isto é, que sejam paradigmas éticos. "Não se pode esconder uma cidade edificada sobre o monte" (mt 5.14), disse Jesus. O mesmo que, reiteradas vezes, pronunciou: "eu, porém, vos digo" numa campanha pela compreensão da ética proposta por Deus. O pastor precisa aprender que atuação da igreja passa pela proposição de caminho que oriente o ser humano em seu devir pessoal e social. Que soberania divina, eleição, predestinação não têm nada a ver com fatalismo ou determinismo. O ser humano é co-agente da história, por isso será julgado. O homem é responsável. É preciso compreender o papel da graça comum, que torna a vida e o progresso possíveis enquanto se desenrola a história da salvação. Ainda que a perfeição não seja passível de ser alcançada, a melhoria, o aprimoramento social o é. A salvação tem de ser apreendida em seu papel social, pois salvação é sempre para e não apenas por. A ética tem de ocupar papel preponderante na formação pastoral, além do exposto, por ser categoria teleológica, ou seja, por fazer parte do capítulo que trata das finalidades. Por quê e para o que somos. E esta é a matéria prima da teologia, esta só existe na forma que a conhecemos porque o ser humano perdeu a capacidade de responder essa questão. É claro, portanto, que o ministério pastoral é pró-ética, uma vez que não faria sentido falar de conversão se não houvesse para onde ir, ou melhor para onde voltar. É claro, também, que isso afeta o todo humano: o indivíduo, a sociedade, a política, a economia, a cidade, o campo - todos os componentes do ethos, da casa humana. O evangelho que ora assistimos é antiético, não constrói casa alguma, na medida que promove o individualismo alienante, a irresponsabilidade social e histórica, nesse sentido atenta contra a solidariedade e, quando age socialmente, opta pelo paternalismo da assistência social que não conscientiza, não desperta companheirismo e comunidade, nem promove libertação. Não se dá conta de que há uma ação perversa de alienação em curso, cujo objetivo é fazer os pequeninos converterem-se não só aos seus opressores como aos meios de opressão; realidade, essa, muito bem retratada por Chico Buarque na letra: "A novidade que há no brejo da cruz, são as crianças se alimentarem de luz. (...) Mas há milhões desses seres que se disfarçam tão bem. Ninguém pergunta de onde essa gente vem. (...) Já não se lembram que há um brejo da cruz, que eram crianças, e que comiam luz." Ou a ética faz parte da educação teológica ou teremos um evangelho antiético, antihistória e escravizador por individualista que será. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 3
  • 4. Parte II ÉTICA NA CAPTAÇÃO DE RECURSOS Autor(a): PR. LUIZ ROBERTO FRANÇA DE MATTOS Doar dinheiro é uma coisa fácil e está dentro do poder de qualquer ser humano. Mas decidir a quem, quanto, quando e para que propósito doá-lo não está dentro do poder de cada pessoa, nem é uma coisa fácil. (Aristóteles, Ética a Nicômaco) Resumo O processo de captação de recursos pode ser a fonte de sérios dilemas morais relacionados à missão da organização que se beneficia dos fundos, ao captador de recursos e até mesmo à relação entre a primeira e este último. A perspectiva antropológica - básica para a captação de recursos - que vê seres humanos como capazes de realizar bons atos morais e de ter um caráter virtuoso deveria ser considerada como fundamentada na Escritura e na teologia reformada. Conseqüentemente, tanto esta perspectiva quanto a filantropia deveriam ser valorizadas e incentivadas. A captação de recursos requererá uma ênfase no diálogo e no cultivo de virtude por parte daqueles lidando com suas questões morais inerentes. Tal ênfase, entretanto, não significa que se deva descartar um modelo deontológico baseado na lei moral revelada na Escritura, e mais especificamente no Decálogo, como o fundamento das decisões morais. O compromisso - e mesmo a submissão - a tal moralidade deontológica permitiria o desenvolvimento de uma ética de captação de recursos que evitaria a adoção de sistemas éticos alternativos em que decisões morais são tomadas primariamente com base na situação e no thelos a ser alcançado. PALAVRAS-CHAVE: antropologia, captação de recursos, deontologia, ética, virtude. Introdução A credibilidade do mercado financeiro internacional foi duramente afetada no ano de 2002 com os escândalos envolvendo a Enron, a Andersen, a WorldCom e a Tyco International, entre outras empresas. A Enron, outrora a sétima maior companhia dos Estados Unidos, comprava eletricidade dos produtores e a revendia aos consumidores, utilizando-se, por vezes, de suas parcerias no exterior para mascarar problemas financeiros e continuar recebendo dinheiro e crédito. Na esteira da Enron, a Andersen foi envolvida numa crise de proporções gigantescas. Uma das cinco maiores firmas de auditoria do mundo, a Andersen era responsável por auditar as contas da Enron, uma das empresas preferidas de Wall Street. Porém, paralelamente, a Andersen atuava como consultora da Enron, desenvolvendo uma atividade que envolvia um claro conflito de interesses e um problema moral, se não legal. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 4
  • 5. Não se deve supor, porém, que as ações censuráveis que ganharam a atenção da mídia constituam-se em paradigmas da realidade do mercado. Em sua obra Beyond Integrity: A Judeo-Christian Approach to Business Ethics, Scott B. Rae and Kenman L Wong demonstram que este é apenas um lado da história. Dois notáveis exemplos de ações moralmente louváveis - a decisão de Aaron Feuerstein de reconstruir sua tecelagem após um incêndio que a reduziu a cinzas, duas semanas antes do Natal de 1995 e a determinação da Companhia Farmacêutica Merck & Co. de destinar US$ 20 milhões de seu orçamento anual para a produção e envio do remédio para a cura de uma doença ribeirinha - demonstram que "há muitas corporações... cujas declarações de missão e ações assemelham-se às dos cidadãos mais louváveis." A preocupação com o estudo da moralidade no contexto da economia de mercado tem suscitado amplo interesse com a publicação de uma literatura especializada no campo da Ética dos Negócios. Contudo, uma avaliação da bibliografia disponível neste campo revela uma atenção ainda reduzida ao tópico do interesse específico deste artigo, a saber, a Ética na Captação de Recursos. Duas das exceções à regra são as obras de Marilyn Fischer e de Albert Anderson. Após conceituar alguns termos fundamentais, oferecer indicações da relevância do assunto e identificar áreas de tensão moral existentes na captação de recursos numa primeira seção, analisar-se-ão algumas pressuposições antropológicas relacionadas à prática do levantamento de recursos com fins filantrópicos à luz do ensino da Escritura e de alguns documentos da teologia reformada. Uma breve discussão de alternativas ao modelo proposto por Fischer - Ética como Narrativa - será desenvolvida na terceira seção deste artigo, concluindo que um modelo deontológico, associado à ênfase à virtude, evitaria alguns dos dilemas morais em que a proposta de Fischer parece incorrer. Captação de Recursos: Resumo Terminologia, Relevância do Assunto e Áreas de Tensão Moral A captação de recursos é definida por Custódio Pereira como "uma sofisticada arte que é freqüentemente descrita como a mais sofisticada de todas as formas de relações públicas." Esta atividade, realizada na maioria das vezes de maneira amadora e improvisada no Brasil, constitui o chamado "terceiro setor" da economia que engloba organizações filantrópicas e outras organizações sem fins lucrativos. Filantropia, entende Fischer, "é provavelmente melhor descrita listando o que ela tem feito do que tentando oferecer uma definição unificada." A autora apela para a obra de O'Connell intitulada Philanthropy in Action [Filantropia em Ação] para identificar as múltiplas áreas promovidas pela filantropia, a saber, a descoberta de novas fronteiras do conhecimento, o apoio e o encorajamento da excelência, a capacitação de pessoas para o exercício de seu potencial, o alívio da miséria humana, a preservação e a otimização do governo e instituições democráticas, a melhoria da vida comunitária, o nutrimento do espírito, a criação de tolerância, Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 5
  • 6. entendimento e paz entre as pessoas e, finalmente, a preservação da memória dos mortos. Em suma, filantropia diz respeito a "criar e sustentar comunidades - comunidades de lugar, de escolha, de propósito, de compromisso, de interesse." Ainda que se possam oferecer definições alternativas para filantropia, sua importância pode ser percebida simplesmente atentando para o valor a ela atribuído por Aristóteles. Ao lado da justiça, a filantropia é considerada como a única outra virtude moral fundamental para o bem-estar humano. O objetivo de organizações filantrópicas é, portanto, "a promoção de um propósito público, a melhoria do bem comum." Estima-se que o terceiro setor movimentou R$ 12 bilhões e gerou 1,7 milhão de empregos no Brasil, em 1999, números que embora expressivos tornam-se insignificantes se comparados à realidade norte-americana. Segundo Pereira, No ano de 2000, os americanos doaram 203,45 bilhões de dólares para instituições sem fins lucrativos, o que representou um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior... Esses números mostram a relevância das doações e o interesse que os americanos vêm demonstrando em apoiar a ação social, a arte e a cultura, a saúde e a educação. Falta de conhecimento do assunto, ausência de literatura, de dados estatísticos e de informações acuradas sobre como captar recursos, bem como de métodos adequados, de estímulo, de incentivos fiscais, e de credibilidade das instituições beneficiadas são alguns dos fatores listados como responsáveis pela diferença significativa entre o volume de recursos captados nos Estados Unidos e no Brasil. Merece destaque, porém, o fato de que em 1999 já existiam no Brasil 250 mil ONG's e 14 mil fundações, a maioria delas criada nos últimos 16 anos. O potencial de recursos para investimento em causas filantrópicas é também significativo. A necessidade da discussão da Ética na Captação de Recursos se evidencia tanto a partir de exemplos contemporâneos quanto do passado. Em 1996, o Conselho Nacional de Igrejas nos Estados Unidos (NCC) lançou uma campanha para captação de recursos visando a reconstrução de igrejas queimadas, a maioria das quais usadas por congregações negras ou miscigenadas. Esta campanha levantou mais de US$ 9 milhões em doações e empréstimos de diversas fontes, desde fundações até indivíduos. A despeito do sucesso na captação de recursos, The Wall Street Journal publicou um artigo de primeira capa, em sua edição de 9 de agosto de 1996, denunciando que o NCC vinha lutando com dificuldades para levantar dinheiro para programas de justiça racial, mas ao conectar os incêndios com a ação "orquestrada de grupos de supremacia branca, levantou mais dinheiro mais rapidamente do que o fez em qualquer causa anterior." O mesmo artigo, acrescenta o articulista do The Christian Century, questionava o uso da contribuições pelo NCC, suspeitando que parte do dinheiro estivesse sendo usado para outros propósitos além da reconstrução das igrejas. A Secretária Geral do NCC respondeu às denúncias afirmando que 85% do montante levantado seria usado na reconstrução e 15% em programas relacionados ao racismo, com base no seguinte argumento: "Devemos assumir uma abordagem holística a menos que desejemos reconstruir igrejas somente para vê-las queimar novamente. Nós queremos que os ataques às igrejas motivados pelo ódio parem." A despeito do Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 6
  • 7. arrazoado do NCC, a denúncia feita pelo The Wall Street Journal levanta um questionamento moral legítimo: A utilização (parcial) dos recursos levantados com uma finalidade específica - a reconstrução de igrejas queimadas - em outro fim apenas indiretamente relacionado ao propósito específico alegado para o levantamento é moralmente permissível? Esta questão aponta para uma das áreas em que problemas morais podem ocorrer na captação de recursos, a saber, nas relações entre captadores de recursos e doadores. Outros exemplos contemporâneos poderiam ser facilmente multiplicados. Não obstante, um exemplo clássico de uma captação de recursos bem sucedida é suficiente para demonstrar de modo indiscutível a importância da definição de princípios para que tal captação seja moralmente legítima. No século XVI, John Tetzel destacou-se como um captador de recursos extraordinariamente bem sucedido através da venda de indulgências. O reconhecimento da doação era feito através de um documento da Igreja Católico-Romana garantindo o perdão de pecados para o próprio doador ou para alguém em favor de quem a doação era feita. O moto de Tetzel era; "Tão logo a moeda alcança o fundo do cofre, a alma emerge do purgatório." Por que a formidável captação de recursos promovida por Tetzel deveria ser considerada moralmente reprovável? Simplesmente porque os recursos levantados feriam a missão fundamental da Igreja, a saber, ser instrumento para a salvação de almas. A missão da organização que capta os recursos é, portanto, uma segunda área de tensão moral. Não é difícil imaginar situações em que a falta de integridade pessoal do captador de recursos seja responsável por problemas morais quer pela omissão ou distorção de informações quanto à missão da organização, quer pela aceitação de recursos que firam a missão da mesma. Não é o propósito deste artigo aprofundar a discussão de problemas específicos relacionados a cada uma destas áreas de tensão, a saber, na (in)definição da missão da organização, nas relações profissionais entre doador e captador, e na falta de integridade pessoal do captador. É conveniente, porém, destacar que Fischer observa com propriedade que "dificuldades éticas geralmente envolvem falta de alinhamento entre a missão da organização e as decisões diárias." Olhando para o ensino da Escritura acerca do assunto, constata-se que o Novo Testamento menciona ao menos um exemplo de captação de recursos. Porém, a falta de maiores informações a respeito do evento recomenda cautela em sua utilização, exceto talvez para afirmar a preocupação de Paulo, no sentido de que a idoneidade moral do agente que encaminharia a oferta levantada pelas igrejas da Macedônia para os pobres da Judéia - Tito, recomendado como "o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas" (2 Coríntios 8:18), garantisse a transparência do processo de captação e envio dos recursos. Pressuposições Antropológicas Envolvidas na Captação de Recursos Na identificação de algumas pressuposições antropológicas envolvidas na captação Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 7
  • 8. de recursos, recorrerei primariamente à obra de Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising. É minha convicção que as características por ela atribuídas ao ser humano expressam um entendimento comum do assunto do ponto de vista da filantropia. Fischer inicia o primeiro capítulo de seu livro com um parágrafo destinado ao seu público-alvo que revela alguns de suas pressuposições antropológicas. Segundo a autora: Este livro é escrito para captadores de recursos trabalhando para organizações filantrópicas e para outras organizações que apreciam a filantropia como um modo de criar e de enriquecer a vida comunitária. A maioria dos que se enquadram nesta descrição são pessoas compassivas, honestas e decentes, que já têm considerável perícia em tomar decisões éticas e agir de maneiras que demonstram sensibilidade ética. Eles já se esforçam por serem confiáveis, para agir com integridade e tratar outros com decência e respeito. O objetivo de Fischer é "entremear tecidos organizacionais de modo que pessoas de decência e coragem usuais possam se sair bem." A mesma idéia é retomada pouco adiante nos seguintes termos: Meu alvo neste livro é ajudar pessoas de decência e coragem usuais a alcançar seus propósitos, ajudá-las a construir organizações em que santidade não é um requisito para o sucesso, mas onde possuir decência e coragem usuais é suficiente. Logo, Fischer crê que seres humanos são capazes de agir com honestidade, decência e coragem, inclusive criando modelos sócio-economicos alternativos- como o das Ilhas Trobriand (vide nota de rodapé 12) - onde um sistema serial de presentes oferecidos ao próximo convive com a economia de mercado e estimula o bem-estar comunitário sem um propósito egocêntrico. Mais do que meros seres biológicos vinculados a um meio-ambiente físico, seres humanos usam as artes, a cultura e símbolos religiosos e culturais como parte do processo de descoberta de sua própria identidade, e são capazes do exercício de virtudes como altruísmo, generosidade, caridade, compaixão, gratidão, mutualidade e integridade. Fischer se refere a virtudes no sentido Aristotélico do termo, como "características permanentes e estáveis da personalidade." De modo a evitar um alongamento inconveniente deste ensaio, apenas duas das virtudes mencionadas serão objeto de atenção, a saber, altruísmo e integridade. Por que seres humanos agem com altruísmo em determinadas situações? Por que circunstancialmente se dispõem até a sacrificar suas próprias vidas por outros seres humanos? Fischer lança mão de uma obra de Kristen Renwick Moroe (The Heart of Altruism: Perceptions of a Common Humanity [O Coração do Altruísmo: Percepções de uma Humanidade Comum] para responder estas questões. Segundo ela, o fundamento de uma postura altruísta é simplesmente a Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 8
  • 9. consciência de que todo indivíduo co-participa de uma "humanidade comum." Isto, contudo, não responde à questão por quê determinadas pessoas - talvez a maioria - não reage com altruísmo seja ante o drama dos judeus na guerra, seja diante de necessidades básicas de seus semelhantes. Falta-lhes percepção racional ou intuição acerca de sua humanidade comum? Independentemente da resposta a esta questão, o fato permanece que uma parcela de seres humanos reage com altruísmo ante determinadas necessidades. Seres humanos em geral - e captadores de recursos em particular - devem cultivar integridade pessoal, acrescenta Fischer. Integridade é definida tanto como harmonia da alma e fidelidade a ideais, quanto como o exercício de uma responsabilidade confiável e flexibilidade. Em sua discussão de integridade como virtude a ser desenvolvida, Fischer apresenta duas faces intrinsecamente conflitantes. Primeiro, integridade é definida em termos individuais. Em suas palavras, integridade "é o mais próximo que [alguém] se aproxima de identificar a qualidade moral de si mesmo, de seu próprio companheiro absoluto... Você é aquele perante quem você é em última análise responsável." Complementarmente, integridade também é definida em termos sociais. Fischer parece endossar a tese proposta por Jane Addams de que devemos "afastar nosso foco de nossa inteireza [ou integridade] individual, concentrando-o em nossas atividades em conexão com outras pessoas." Assim, conclui Fischer: Nós necessitamos de um modo de entender integridade que nos faça sentido quanto às nossas vidas como seres sociais com múltiplas identidades, vivendo em múltiplas comunidades e com múltiplos compromissos com outras pessoas. O exemplo para o qual Fischer apela é elucidativo, ainda que perturbador. Ela cita a filósofa Maria Lugones, a quem ela descreve como lésbica e hispânica, como um paradigma de integridade. Sua comunidade étnica, argumenta Fischer, é preconceituosa acerca de sua opção sexual. A despeito da tensão envolvida, Maria Lugones não deseja abrir mão nem de sua opção pelo lesbianismo nem de suas raízes latinas. De acordo com a visão de integridade de Fischer, Maria Lugones deve mover-se entre ambas as comunidades [de lésbicas e hispânicos] exercitando flexibilidade e sendo forte, evidenciando que membros das duas comunidades podem contar com seu amor e participação. Segundo Fischer, Lugones pode ser uma pessoa de integridade "sem necessitar alcançar uma harmonia interna." Parece evidente que este conceito de integridade suscita sérias questões morais do ponto de vista da captação de recursos. Seria admissível que um captador de recursos pertencente a diferentes comunidades com interesses conflitantes pudesse desenvolver sua atividade de modo moralmente permissível, independente dos conflitos internos existentes, simplesmente apelando para a conclusão lassa proposta por Fischer? Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 9
  • 10. Ainda mais, integridade é definida em termos teleológicos , pois Fischer a conecta com uma perspectiva de crescimento pessoal, propondo que decisões morais devem levar em consideração a seguinte questão: "De que maneira esta alternativa ajuda ou não você a desenvolver-se na pessoa que você quer se tornar?" Não parece difícil imaginar que sobre este fundamento teleológico, decisões morais não permissíveis sob uma perspectiva deontológica pudessem eventualmente ser consideradas como legítimas. Anderson, seguindo uma linha semelhante à de Fischer, entende que os praticantes da filantropia têm bons instintos morais. Tais instintos, crê Anderson, são intuídos pelos agentes morais envolvidos na filantropia - sejam doadores, sejam captadores de recursos. A consciência é a fonte destes instintos morais, acrescenta Anderson sem definir se, em seu entendimento, ela deveria ser compreendida como uma realidade inata implantada por Deus ou como uma resposta condicionada aprendida em nosso convívio social. Portanto, do ponto de vista da captação de recursos, seres humanos devem ser considerados capazes do exercício de virtudes como altruísmo e integridade entre outras mencionadas. No entender de Fischer, a captação de recursos deve ser desenvolvida a partir destes pressupostos antropológicos, aplicáveis tanto ao potencial doador quanto ao captador. Em última análise, seres humanos devem ser considerados capazes de almejar e praticar o bem. Seriam estas pressuposições antropológicas compatíveis com os princípios bíblicos e com a teologia reformada? A próxima seção deste ensaio oferecerá uma resposta a esta questão avaliando passagens da Escritura e textos de documentos reformados que lançam luz sobre a mesma. Fundamentos Teológicos: Quem Pode Fazer o Bem? Diversos textos da Escritura são enfáticos em afirmar a incapacidade do ser humano em fazer o bem. Escrevendo à Igreja em Roma, o apóstolo Paulo retoma o tema dos Salmos 14 e 53 e descreve o estado de pecado do ser humano nos seguintes termos: "Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer" (Romanos 3:10b-12, minha ênfase). O diagnóstico da condição espiritual de todo ser humano é claro: ele é por natureza injusto, sua capacidade cognitiva está afetada especialmente no que diz respeito à sua compreensão da vontade e caráter de Deus, todos os seus esforços são inúteis no que tange a cumprir as exigências do seu Criador. Em suma, nenhuma de suas ações pode ser considerada intrinsecamente boa, uma vez que o padrão santo de Deus seja estabelecido como critério. O diagnóstico de Romanos 3 é perfeitamente compatível com diversas outras afirmações da Escritura que apontam para o estado de corrupção do ser humano após a queda. Como um exemplo, temos Gênesis 8:21 onde lemos: "E o Senhor... disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 10
  • 11. porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade [ou infância, segundo o texto original]..." Ainda que o texto de Gênesis 8:21 vincule esta condição à infância - uma tradução alternativa do vocábulo hebraico naur - o ensino geral da Bíblia deixa claro que esta é uma condição constitutiva de todo ser humano desde sua concepção. Conforme o salmista Davi, todo ser humano nasce em iniqüidade e é concebido em pecado (Salmo 51:5). O Catecismo de Heidelberg ratifica esta afirmação em sua resposta à questão 7, onde se lê que a queda e desobediência dos progenitores da raça humana "envenenou, ou corrompeu nossa natureza de tal forma que nascemos pecadores - corruptos desde nossa concepção." Este estado de corrupção, acrescenta o mesmo Catecismo, torna o ser humano incapaz de fazer qualquer bem e inclinado a todo mal, "a menos que sejamos nascidos de novo pelo Espírito de Deus." A despeito deste trágico diagnóstico, outras passagens da Escritura referem-se a seres humanos regenerados pela ação graciosa de Deus como capazes de fazer o bem. Na parábola dos talentos, Jesus ensina que alguns servos receberam a aprovação do seu senhor, sendo individualmente chamados de "servo bom e fiel." (Mateus 25:21, 23). O próprio apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto, manifesta sua confiança de que a graça de Deus seria capaz de fazê-los abundar "em toda boa obra." (2 Coríntios 9:8, minha ênfase). Semelhantemente, o apóstolo Pedro em sua primeira epístola exorta os cristãos a viverem exemplarmente, de modo que suas boas obras motivassem os incrédulos a glorificar a Deus no dia da visitação - provavelmente numa referência a ação misericordiosa de Deus visitando estes mesmos incrédulos para salvá-los. O ensino de que seres humanos regenerados são capazes de fazer o bem é ratificado pela Confissão Belga em seu artigo 24, onde lemos que é a fé que "leva o homem a fazer as obras que Deus ordenou em sua Palavra." Estas obras, "procedentes da boa raiz da fé são boas e aceitáveis a Deus, desde que elas são todas santificadas pela sua graça." Todavia, passagens da Escritura como essas acima, bem como as de alguns documentos reformados, não nos ajudam a lançar luz sobre a questão em pauta uma vez que eles afirmam que apenas pessoas regeneradas e salvas pela ação graciosa de Deus são capazes de obras boas, uma realidade que não necessariamente se aplica àqueles que praticam a filantropia. Os Cânones de Dort (1618-19), ao tratarem da total incapacidade decorrente da corrupção da natureza humana, introduzem uma qualificação muito importante ao afirmar: "[T]odas as pessoas são concebidas em pecado e nascem como filhas da ira, inadequadas para qualquer bem salvífico, inclinados para o mal, mortos em seus pecados, e escravos do pecado..." O mesmo documento, porém, reconhece que, a despeito de sua condição decaída, permanece "com certeza uma certa luz de natureza no homem [ser humano] após a queda, em virtude da qual ele retém algumas noções sobre Deus, sobre as coisas naturais e acerca da diferença entre o que é moral e imoral, e demonstra um certo anelo pela virtude e por um bom comportamento exterior." Os mesmos Cânones se apressam em acrescentar que Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 11
  • 12. esta luz da natureza não só é insuficiente para conduzir o ser humano a um conhecimento salvífico de Deus, mas também que freqüentemente ela não é usada de modo apropriado até mesmo em assuntos relacionados à natureza e à sociedade. Não há diferença conceitual entre os documentos reformados acima apresentados. O que se pode entender é que enquanto que a Confissão Belga discute os resultados da queda e regeneração a partir de categorias essencialmente soteriológicas, os Cânones de Dort, conquanto mantendo-se fiel ao ensino bíblico acerca da queda e regeneração, introduzem uma categoria que permite uma avaliação mais precisa da ação moral do ser humano não regenerado. É possível, então, à luz do ensino da Escritura e dos documentos reformados acima citados, fazer distinção entre três tipos de bem: salvífico, regenerado e moral. O primeiro é aquele feito com vistas a satisfazer a justiça e santidade de Deus. Nenhum ser humano per se - independente dos méritos de Cristo - é capaz de fazer tal bem. O segundo é o bem realizado por aqueles que foram alcançados pela obra regeneradora de Deus. Estes são capazes de boas obras, pois estas decorrem da verdadeira fé, conformam-se com a lei de Deus e são feitas para Sua glória. O terceiro bem é aquele que se conforma às exigências exteriores da lei de Deus e é praticado independentemente de fé em Jesus Cristo ou do desejo de glorificar a Deus. A despeito de não satisfazer os quesitos para se qualificar como um bem satisfatório para a salvação, nem mesmo como um bem reconhecido por Deus como louvável, ele deve ser reconhecido como um bem real do ponto de vista da moralidade. Dentre os reformadores, João Calvino reconhece a capacidade dos seres humanos não regenerados para boas obras nos campos cultural, científico e moral ao distinguir entre o que ele chama de coisas celestiais e terrenas. "A descoberta ou transmissão sistemática das artes," afirma ele, " é conferida indiscriminadamente sobre piedosos e ímpios, e é corretamente contada entre os dons naturais." Diante disto, Calvino exorta seus leitores a reconhecer a admirável luz da verdade brilhando nos escritores seculares, e aprender com eles, caracterizando o "Espírito da Verdade como o único fundamento da verdade," e afirmando que desprezar a verdade onde quer que ela apareça implicaria em desonrar o próprio Espírito de Deus. Conseqüentemente, Calvino reconhece que a verdade brilhou por detrás dos antigos juristas e filósofos, e que não é possível aproximar-se de seus escritos sem grande admiração e reconhecimento de que tudo louvável e nobre por eles produzido procedeu de Deus. Assim, aqueles homens que a Escritura denomina como "homens naturais" devem ser considerados "brilhantes e penetrantes" em sua investigação das "coisas terrenas ou inferiores. Ainda segundo Calvino, a capacidade do homem não regenerado não se limita à investigação das ciências, mas ao estabelecimento da ordem cívica e da disciplina com grande equidade, incluindo, portanto, elementos morais. Retomando esta Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 12
  • 13. perspectiva de Calvino, Stackhouse reconhece que a graça de Deus, e não a capacidade da vontade humana profundamente afetada pelo pecado, é o fundamento por detrás das realizações do homem natural, seja num "casamento maravilhoso, numa grande escola, numa lei justa, numa ordem política pacífica..." Ainda que Fischer fundamente sua proposta filantrópica de uma economia da doação em alguns pressupostos teológicos e morais discutíveis, diversas de suas pressuposições antropológicas são, em certo sentido, consistentes com o ensino da Escritura e com a teologia reformada. Resta, finalmente, considerar a possibilidade de um modelo ético alternativo à proposta de Fischer que evite seus problemas inerentes e possa ser empregado no processo de captação de recursos. Modelos Éticos Alternativos Fischer reconhece com propriedade que a ação filantrópica é desenvolvida em meio a dilemas morais que se manifestam em meio às histórias pessoais e de organizações. Ao invés de apelar para modelos deontológicos o que, segundo ela, implicaria em conceituar o pensamento ético e tentar aplicar regras mecanicamente, sua proposta é que decidamos "que regras aplicar numa determinada situação e se é um caso em que deveríamos seguir as regras diretamente ou abrir uma exceção." O modelo ético mais adequado para a tomada de decisões, propõe ainda Fischer, deve lançar mão de "padrões de narração de histórias... imaginando diferentes resultados potenciais e perguntando o que cada um significaria para a organização, a comunidade, e os indivíduos afetados." Ética, portanto, deve ser pensada no contexto de uma narrativa de modo a inserir as regras éticas dentro de um contexto apropriado. Fischer se esforça por evitar qualquer acusação de relativismo enfatizando que embora certas escolhas morais se situem no que se poderia denominar de área nebulosa, "algumas escolhas morais são "claramente certas ou erradas, e chamar a ética de nebulosa nestes casos é um modo de se esconder da responsabilidade e verdades éticas." Então, quando quer que um real dilema ético surja, "pensar em ética como uma narração de histórias pode ser útil." No processo de contar nossa história para nós mesmos e para outras pessoas imaginativamente, "características proeminentes emergirão, enquanto detalhes menos importantes esmaecerão." Diálogo exercitado no contexto de uma cuidadosa investigação é evidentemente uma atividade central na reflexão ética. Conclui-se que o modelo proposto por Fischer possui pelo menos três características básicas: a importância da situação em um julgamento moral, a relevância do diálogo e da narração como ferramentas investigativas da decisão moral, e a avaliação dos resultados da decisão moral, podendo ser denominado um modelo situacional-narrativo-teleológico. O diálogo como instrumento, coerente com a metodologia platônica, não implica, porém, necessariamente na adoção de um modelo ético fundamentado na situação e na narrativa, e no conseqüente afastamento de um modelo deontológico. Em algumas de suas obras, Platão evidencia que se pode lançar mão do diálogo como um recurso epistemológico para a identificação de um Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 13
  • 14. princípio moral, sem necessariamente afastar-se de um modelo deontológico. Ainda mais, a adoção de um modelo deontológico é compatível com o cultivo das virtudes, como a proposta aristotélica evidencia. Anderson dá suporte à legitimidade desta conclusão ao afirmar: Sem dúvida, Aristóteles está familiarizado com o conceito [de traçar linhas estabelecendo os limites da moralidade] e assumiu em seu pensamento sobre a Ética a convicção metafísica de que existem linhas inscritas na natureza das coisas às quais nossas próprias decisões e ações deveriam se conformar. Em resumo, o reconhecimento da dificuldade inerente à tomada de algumas decisões morais, da importância do diálogo para a identificação da opção moral correta - ou pelo menos a que aparenta ser - e de uma ênfase ao cultivo das virtudes não são necessariamente incompatíveis com a adoção de um modelo ético deontológico fundamentado na lei moral revelada no Decálogo que, me parece, melhor expressa a tradição cristã em geral e a reformada em particular. A análise de um caso hipotético pode ser útil na avaliação da aplicabilidade dos modelos acima descritos no contexto da captação de recursos. Por exemplo, um doador potencial deseja fazer uma doação significativa para uma escola com princípios evangélicos, digamos R$ 1 milhão. A única restrição imposta é que 50% do dinheiro seja destinado a bolsas de estudo para uma minoria gay. Que respostas os modelos éticos alternativos apresentados no artigo, a saber, o chamado situacional-narrativo-teleológico e o deontológico ofereceriam ao doador em questão? O primeiro modelo requereria uma avaliação do contexto específico do doador e dos potenciais beneficiados por tal doação. A aplicabilidade ou não de regras a priori - supondo que elas existissem - deveria ser objeto de discussão, lançando- se mão da imaginação e considerando os diferentes resultados potenciais para as vidas dos envolvidos no processo de decisão. Em outras palavras, ainda que um conjunto de regras não recomendasse a aceitação da doação, fossem seus resultados concebidos como satisfatórios para um número significativo de pessoas beneficiadas - os membros da minoria gay que recebessem a bolsa - a legitimidade moral da decisão estaria assegurada. No modelo deontológico, em contrapartida, a moralidade da decisão seria avaliada em termos independentes da situação. No caso do modelo deontológico proposto neste artigo, a aceitação da doação deveria ser avaliada com base na Lei Moral revelada no Decálogo, assumindo que a escola em questão explicitamente defina em sua declaração de missão seu compromisso com esta Lei Moral. À luz do Decálogo, seria moralmente não-permissível a aceitação da doação condicionada nos termos mencionados, porque, independentemente dos eventuais benefícios gerados, preceitos morais pré-estabelecidos estariam sendo quebrados. Na eventualidade, porém, da missão da escola não possuir um compromisso formal com os valores da Lei Moral expressa no Decálogo, mas conceber sua responsabilidade simplesmente em termos do desenvolvimento do ser humano, caberia ao órgão responsável pela direção da escola optar por uma dentre as Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 14
  • 15. seguintes alternativas: aceitar a oferta ou rever a declaração de missão. Conclusão Aristóteles estava correto. Decidir a quem, quanto, quando e para que propósito doar recursos financeiros - além de nosso tempo e talentos - não é uma coisa fácil. Dilemas morais surgirão neste processo que envolve a captação de recursos seja do ponto de vista da missão da organização destinatária, seja do ponto de vista do captador, ou das relações envolvendo doador e captador. A atividade filantrópica baseada numa perspectiva antropológica que entende o ser humano como capaz de atos morais e de um caráter virtuoso encontra respaldo na Escritura e na teologia reformada e, conseqüentemente, deve ser valorizada e incentivada. O tratamento das questões morais que inevitavelmente surgirão no processo de captação de recursos deverá levar em consideração o diálogo e enfatizar o cultivo das virtudes - altruísmo e integridade entre outras. Isto, porém, não significará necessariamente abrir mão de um modelo ético deontológico, baseado na lei moral revelada na Escritura, e mais especificamente no Decálogo. O apego - e porque não dizer, submissão - a esta lei moral nos permitirá acolher e nos relacionar com compaixão e boa vontade com doadores e/ou captadores como Maria Lugones, sem necessariamente definir integridade em termos teleológicos sujeitos a uma perspectiva individual e subjetiva. ENGLISH ABSTRACT The process of fundraising may be the source of some serious moral dilemmas concerning the mission of the organization which profits from the funds, the fundraiser, and even the relationship between the former and the latter. The anthropological perspective - foundational to fundraising -, which sees human beings as capable of performing good moral acts and having a virtuous character, should be considered as grounded upon Scripture and Reformed theology as well. Consequently, both this perspective and philanthropy should be appraised and furthered. Fundraising will require an emphasis on dialog and the cultivation of virtues from those dealing with its inherent moral issues. Such an emphasis, however, does not mean that one should dismiss a deontological model based on the moral law revealed in Scripture, and more specifically on the Decalog, as the foundation of moral decisions. The commitment - and even submission - to such deontological morality would allow the development of an ethics of fundraising that would avoid the adoption of alternative ethical systems in which moral decisions are made primarily on the basis of both the situation and the thelos to be achieved. Notas Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 15
  • 16. Neste ensaio, Ética é entendida como o estudo da Moralidade (no que tange ao seu escopo, modelo e fundamento), e esta última como responsável pela identificação das mores, ou critérios, segundo os quais ações devem ser julgadas permissíveis ou não, obrigatórias ou não. Reconhece-se, contudo, que freqüentemente os termos são usados de forma intercambiável como sinônimos. O autor é professor em tempo integral do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É engenheiro civil pela Escola de Engenharia Mauá (1978). Bacherel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1986), Mestre em Teologia Sistemática pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (1997) e Doutor em Filosofia (Ph.D., 2001) pelo Calvin Theological Seminary, em Grand Rapids, Michigan, EUA.. Autor dos artigos "Deus, Revelação e Ética: A teologia da Revelação de James Gustafson," Fides Reformata, vol. III, no. 2 (Julho-Dezembro 1998) e "Nicholas Wolterstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês," Fides Reformata et Semper Reformanda Est, vol. VI, no. 1 (2001). Foi pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração por dois anos (1987-88) e pastor da Igreja Presbiteriana de Praia Grande (1989-1997). Atualmente, integra a equipe pastoral da Igreja Presbiteriana de Pirituba, em São Paulo, Capital. Rae registra que o incêndio ocorrido em Methuen (Massachusetts), que feriu 24 pessoas e deixou 1400 trabalhadores desempregados, trouxe consigo o temor de que a cidade seria economicamente destruída. A despeito de seus 72 anos e de poder simplesmente aposentar-se com o dinheiro do seguro do incêndio, Feuerstein deu um bônus de Natal de US$ 275 a cada empregado mais US$ 20 para serem gastos num supermercado local. Ainda mais, ele propôs o pagamento do salário integral do próximo mês e de noventa dias do seguro-saúde, afirmando sua convicção de que as circunstâncias difíceis representavam um teste das suas convicções morais nas seguintes palavras: "Meu compromisso é com Massachusetts e com a Nova Inglaterra. É onde eu vivo, onde eu me divirto, e onde eu adoro [a Deus]. Malden Mills será reconstruída exatamente aqui..." Scott B. Rae and Kenman L Wong, Beyond Integrity. A Judeo-Christian Approach to Business Ethics (Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1996), p. 16. Em sua decisão de produzir o medicamento para essa doença chamada river blindness, que afetava apenas populações ribeirinhas de países da África e das Américas Central e do Sul, a despeito da ausência de um retorno financeiro imediato, o laboratório Merck permaneceu coerente com um elemento chave da filosofia da companhia: "Nós tentaremos jamais esquecer que medicina é para as pessoas e não para o lucro. O lucro decorrerá [naturalmente] e se nós lembrarmos disso, ele nunca deixará de surgir. Quanto melhor nos lembramos disso, maior o lucro tem sido." Rae, Beyond Integrity, p. 17. Rae, Beyond Integrity, p. 16. Uma pesquisa da literatura disponível nas bibliotecas da Universidade Presbiteriana Mackenzie na área campo de Business Ethics revela a existência de 17 obras tratando de diferentes aspectos deste assunto: Business Ethics, 4th ed. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 16
  • 17. (2002); Business Ethics: Critical Perspectives on Business and Management (2001); Business Ethics: Perspectives on the Practice of Theory (2001); Business Ethics: The Ethical Revolution of Minority Shareholders (2001); Ethics and Governance: Business as Mediating Institution (2001); Business, Institutions, and Ethics: A Text with Cases and Readings (2000); Just Business: Business Ethics in Action, 2nd ed. (2000); Managing Business Ethics: Straight Talk about how to do it Right. 2nd ed. (1999); It's Good Business: Ethics and Free Enterprise for the New Millennium (1997); Current Issues in Business Ethics (1997); Beyond Integrity. A Judeo-Christian Approach to Business Ethics (1996); Business and Society: Corporate Strategy, Public Policy, Ethics. 8th ed. (1996); Business Ethics: A Guide for Mangers (1996); An Introduction to Business Ethics (1996); Ties that Bind: A Social Contracts Approach to Business Ethics (1996); On Moral Business: Classical and Contemporary Resources for Ethics in Economic Life (1995). Uma evidência deste fato é que a obra de Rae & Wong (Beyond Integrity) não dedica sequer uma de suas 655 páginas à Ética na Captação de Recursos. O mesmo pode ser dito da obra editada por Stackhouse e outros (On Moral Business) que apesar de seu valor e extensão (979 páginas) não dedica uma única seção ao tópico de nosso seminário. Marilyn Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising (New York and others: John Wiley & Sons. Inc., 2000) e Albert Anderson, Ethics for Fundraisers (Bloomington: Indiana University Press, 1996). Outras obras mencionadas por Anderson como relevantes são Robert L. Payton, Philanthropy: Voluntary Action for the Public Good (New`York: American Council of Education, Macmillan, 1988), especialmente os ensaios "Philanthropy as Moral Discourse,"e "Virtue and its Consequences." Para uma pesquisa da extensão dos escritos sobre filantropia, consultar Daphne Niobe Layton, Philanthropy and Voluntarism (Washington, DC: Foundation Center, 1987 e Indiana Center on Philanthropy, que hospeda a Payton Philanthropic Studies Library, segundo Anderson - o autor destas indicações - "a maior coleção de livros e dissertações sobre filantropia na nação [norte- americana]." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 135. Custódio Pereira. Captação de Recursos (Fund Raising). Conhecendo Melhor porque as Pessoas Contribuem (São Paulo: Editora Mackenzie, 2001). Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Cabe acrescentar que a filantropia não se restringe à doação de dinheiro, mas inclui a doação de tempo e talentos (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 15) Brian O'Connell, Philanthropy in Action (New York: Foundation Center, 1987), p. 8 apud Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Fischer lança mão da noção de uma economia baseada em doações como uma metáfora para a filantropia, recorrendo ao sistema de presentes (kula) existente lado a lado com o sistema de mercado (gimwali) nas Ilhas Trobriand. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 17
  • 18. Kula inclui "vastos círculos de doação ritual englobando muitas tribos e ilhas... O processo é caracterizado por um fluxo contínuo de presentes dados, aceitos e retribuídos em todas as direções obrigatoriamente sem qualquer interesse próprio, mas como conseqüência da grandeza e por serviços prestados, através de desafios e promessas (p. 11). No sistema descrito, reciprocidade direta não é esperada, tendo em vista que o receptor do presente deve passá-lo adiante, transformando-se num doador e beneficiando assim a outrem. Para mais detalhes da chamada economia baseada em doações, consultar pp. 13-16. Segundo Anderson, "o propósito último da filantropia é melhorar o bem público." Ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 9. Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 15. Pereira, Captação de Recursos, p. 22. O autor ainda ressalta que a maior parte dessas doações são provenientes de pessoas físicas. A título de informação, nos Estados Unidos, a AFP (Association of Fundraising Professionals) conta com 25 mil associados, o que evidencia o investimento feito na formação de captadores de recursos (ver Pereira, Captação de Recursos, p. 19). A principal razão para a diferença significativa entre o volume de recursos captados no Brasil e nos Estado Unidos, argumenta Pereira é "o método de captação de recursos. O método inclui desde a identificação do doador potencial, sua sensibilização para a causa até a efetivação da doação, prestação de contas e o reconhecimento da instituição recebedora." Pereira, Captação de Recursos, p. 23. Um exemplo de captação de recursos bem sucedido mencionado pelo mesmo autor é o da Harvard University que, numa campanha de cinco anos, conseguiu captar US$ 2.1 bilhões de dólares, contando com um quadro de pessoal de 250 funcionários no escritório de captação de recursos. A entidade evangélica norte- americana O Exército da Salvação captou mais de US$ 1 bilhão em 1996, situando-se pelo quinto ano consecutivo entre as 400 maiores obras de caridade segundo The Chronicle of Philanthropy [ver Christian Century (December 3, 1997):1118]. Pereira, Captação de Recursos, p. 45. "Em 1999, a empresa [Instituto C&A] investiu quatro milhões de dólares em programas de apoio a mais de oitenta creches, escolas e centros de educação continuada. Cerca de 50 mil crianças e adolescentes foram atendidos pelo programa. Oitocentos funcionários da empresa atuam como voluntários nestas instituições. Uma vez por semana, são liberados para brincar com as crianças, ajudar na gestão e avaliar resultados." Pereira, Captação de Recursos, pp. 56-57. O Instituto Ethos de Responsabilidade Social conta hoje com 70 associados que representam juntos um faturamento anual de 15 bilhões de reais. Cf. Christian Century, 28 de Agosto-4 de Setembro (1996):806. Christian Century, August 28-September 4 (1996):p. 806. Lucas nos oferece um outro exemplo da tensão moral envolvida na captação de recursos ao registrar em Atos 6 que os recursos levantados para o sustento das Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 18
  • 19. viúvas dos helenistas estariam alegadamente sendo desviados Fischer faz referência ao fato, mencionando o slogan que na língua inglesa possui uma rima: "As soon as [the] coin in coffer rings, the soul from purgatory springs." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 38. Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 22. Ver 2 Coríntios 8. Outros textos neotestamentários que talvez se refiram à captação de recursos são Atos 6 e Filipenses 4. Não há, contudo, evidência textual nestes últimos casos de que os recursos tenham sido captados por iniciativa de alguém e não ofertados por iniciativa das comunidades envolvidas. A utilização de textos veterotestamentários que registram ordens de Deus aos israelitas para a pilhagem de povos derrotados está sendo conscientemente deixada de lado pelos mesmos enfocarem um contexto que foge ao escopo do presente ensaio. A preocupação do apóstolo Paulo se evidencia quando ele afirma que sua intenção ao apontar Tito era estar "evitando, assim, que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós; pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens." (2 Coríntios 8:20-21) Paralelamente, mas em menor medida, recorrerei à obra de Anderson - Ethics for Fundraisers - identificando alguns pontos comuns explorados por aquele autor. Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 3 (minha ênfase). A grande maioria de captadores de recursos, acrescenta ela, "quer agir com integridade e jamais violaria a confiança pública numa escala maciça." (p. 4) Ibid., p. 4 (minha ênfase). Ibid., p. 5 (minha ênfase). "Quaisquer que sejam os motivos do doador, os padrões de doação não são egocêntricos porque eles não são dirigidos só ou primariamente para o benefício doador. Nem são filantrópicos porque os doadores participam das comunidades que tais doações criaram." Ibid., p. 12. Ibid., p. 40. Para Aristóteles, virtudes são traços de caráter firmemente estabelecidos ou disposições para agir segundo componentes intelectuais e afetivos. As virtudes se situam em uma posição intermediária entre dois extremos de deficiência e de excesso, sendo a razão a faculdade que determina esta posição intermediária (cf. Nicomachean Ethics). Não pertence ao escopo deste trabalho uma discussão aprofundada, nem uma avaliação comparativa entre o conceito de virtude em Aristóteles e em Tomás de Aquino (ver Suma Teológica, 5 volumes (Allen, Texas: Christian Classics, reimpr. 1981), 2:819 (Primeira Parte da Segunda Parte, Questão 55 e ss) Ibid., p. 44. Rae & Wong enfatizam a necessidade de virtudes como confiança, honestidade e cooperação como fundamentais para o próprio funcionamento do sistema capitalista, aliado ao caráter para a produção de boas ações. Em suas palavras, "os fundadores dos Estados Unidos criam que o experimento democrático funcionaria somente se houvesse virtude em seus Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 19
  • 20. cidadãos. Ao contrário da crença popular, liberdade total nunca foi o intento dos pais fundadores. Ao invés sua visão era de liberdade 'ordeira' ou 'restringida' - ou seja, liberdade moderada pela moral e caráter." Rae, Beyond Integrity, p. 40. Anderson, a despeito de ressalvar que a cultura contemporânea se caracteriza por "uma ambigüidade moral onipresente," entende que há lugar para enfatizar a virtude no contexto da ação filantrópica. Anderson, Ethics for Fundraisers, p. ix. Na leitura que Anderson faz de Aristóteles, ser moralmente responsável no contexto da filantropia pressupõe o desenvolvimento de um caráter virtuoso. Anderson, Ethics for Fundraisers, p. x. Virtude é entendida como a capacidade para adotar uma linha de ação moderada que evita tanto o excesso quanto a deficiência (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 5) Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 53. Segundo Monroe, uma pesquisa realizada com pessoas que abrigaram judeus da perseguição promovida pelos nazistas revelou que fatores como religião contexto familiar, riqueza, ocupação e posição familiar não foram determinantes na decisão de prestar socorro. Nas palavras de Fischer, "o mais interessante acerca dos resgatadores é que eles reivindicaram que não havia nada a decidir, não haviam alternativas entre as quais escolher." Ibid., p. 52. Ibid., pp. 92-96. Ibid., p. 91. Ibid., p. 96. Ibid. Ibid. Do grego telos (fim). Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 97. Deontologia deriva do termo grego dei, que significa é necessário. Daí, concluem Rae & Wong, "vem a noção de obrigações morais que são inerentemente necessárias e não contingentes aos fins e conseqüências que elas produzem." Rae & Wong, Beyond Integrity, p. 35. Stackhouse, em Moral Business, afirma que Deontologia provém do grego deon, que significa dever, obrigação. A despeito das diferenças, Rae e Stackhouse propõem um mesmo conceito: Deontologia define as obrigações morais em termos de princípios pré-estabelecidos, que podem ser identificados através de diferentes recursos, mas em que a moralidade de um ato independe dos seus resultados. No entendimento de Anderson, o desafio dos agentes morais consiste em posicionar-se ante a pressão da cultura contemporânea, fazendo o que eles sentem que devem fazer (ver Anderson, Ethics for Fudraisers, p. xi) Ibid., p. 25. O texto original afirma que nenhum ser humano é díkaios, ou seja, de acordo com o padrão, vontade ou caráter de Deus. Em outras palavras, nenhum ser humano é bom (outra tradução possível para o vocábulo grego díkaios) "The Heidelberg Catechism, Lord's Day 3, QA7," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions (Grand Rapids: CRC Publications, 1988), p. 15 (minha tradução). "The Heidelberg Catechism," Q/A 8, p. 15. "The Belgic Confession," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions (Grand Rapids: CRC Publications, 1988), p. 101 (minha tradução). A Confissão Belga deixa claro que estas obras não "contam para nossa justificação," mas decorrem dela. Por "bem salvífico," os Cânones de Dort se referem a qualquer ato que possa ser considerado como suficiente para satisfazer o padrão de justiça de Deus e, Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 20
  • 21. conseqüentemente, merecedor de salvação. "Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 3," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução). "Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 4," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução e ênfase). "Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 4," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução). "The Heidelberg Catechism," Q/A 91, p. 54. "Existe um tipo de entendimento das coisas terrenas e outro as coisas celestiais. Eu chamo "coisas terrenas" aquelas que não pertencem a Deus ou ao Seu reino, à verdadeira justiça, ou à felicidade da vida futura; mas que têm sua importância e relacionamento com a vida presente e são, num certo sentido, confinadas aos seus limites. Eu chamo de coisas celestiais o conhecimento puro de Deus, a natureza da verdadeira justiça e os mistérios do Reino Celestial. A primeira classe inclui o governo, o gerenciamento doméstico, todas as habilidades mecânicas e as artes liberais. João Calvino, Institutas da Religião Cristã, John T. McNeil, ed. (Philadelphia: The Westminster Press, 1960), II.ii.13, minha tradução. Ibidem, II.ii.14, minha tradução. Ibidem, II.ii.15, minha tradução. Ibidem, minha tradução. Stackhouse, On Moral Business, p. 31. Stackhouse não faz distinção entre graça comum e graça especial, razão pela qual ele lista ao lados dos elementos acima mencionados "uma comunidade religiosa que cura, inspira e guia todos que em a conhecê-la para a santidade do amor." Por detrás de tudo isto, um "único ponto integrador" deve ser reconhecido, a saber, Deus (p. 31). Para Fischer "economias baseadas em doação podem refletir sistemas de fé profundamente baseados em pressuposições filosóficas, religiosas e cosmológicas." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 13. Expressando suas convicções teológicas pessoais, a autora acrescenta que a "[h]istória não possui um grande senhor controlando o script..." (p. 10), rejeitando assim o ensino da Escritura de que Deus governa os detalhes da história - das nações e de indivíduos - através de um plano eternamente estabelecido (Isaías 46:9-11; Salmo 139:16). "Caridade nos lembra de que doação filantrópica serve a ideais morais e religiosos e que tanto nossos compromissos interiores quanto nossas atividades exteriores deveriam exemplificar estes ideais." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 58. Fischer parece sugerir que seres humanos são individualmente responsáveis somente ante si mesmos, a despeito da Escritura afirmar que "todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas." (Hebreus 4:13b, minha ênfase) Para uma breve, mas útil, perspectiva de diversos modelos (ou sistemas éticos), consultar Era & Wong, Beyond Integrity, onde os autores fazem menção ao Egoísmo Ético, Utilitarianismo, Emotivismo, algumas formas de Deontologia e à Teoria da Virtude. A rigor, ela se refere ao que chamo de dilemas morais como "dilemas éticos" afirmando que "estes surgem nas histórias contínuas de pessoas e organizações." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 5. Semelhantemente, Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 21
  • 22. Anderson, que a "natureza da ética, diferentemente da aritmética, é ser incerta." "Suas questões,"acrescenta, "escolhas e ações podem provocar o menear da cabeça, requerer consideração, consistência e determinação - sem perspectiva clara ou certa de que as decisões sejam totalmente certas." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. xii. Para uma definição de deontologia, consultar nota de rodapé 43. "Conceituar o pensamento ético como apenas uma questão de aplicar regras a ocasiões específicas... é muito limitado.... Quando tentamos aplicar regras mecanicamente, podemos omitir a necessidade por um entendimento compassivo e esquecer que a aplicação própria de regras deve ser responsiva a características específicas do contexto e a peculiaridades de caráter." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 9. "Teorias abstratas e tradições religiosas podem funcionar como recursos, ao invés de pontos de partida." Ibidem., p. xvi. É questionável a tese defendida por Fischer de que a adoção de um modelo deontológico conduziria necessariamente a uma aplicação mecânica de regras. Ibidem, p. 9. Ibidem, p. 8. Fischer se refere positivamente ao filósofo John Dewey quando este afima que "Imaginação é o principalmente instrumento do bem." Os dilemas morais devem ser enfrentados com imaginação quanto às alternativas futuras, ao significado das mesmas para os indivíduos, organizações e comunidades envolvidas. Ainda mais, "a organização e os indivíduos devem ser imaginados como não estáticos, mas como mudando e crescendo." Conseqüentemente, um dilema moral deve ser encarado como "uma fase desse crescimento." Ibidem, p. 7-8. Anderson também enfatiza que ser eticamente responsável requer "imaginação moral." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. xii. Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 9. "Algumas vezes em nossa reflexão ética, não vemos respostas claras, corretas; todas alternativa é tingida com negatividade, o mal mancha o bem." Ibidem, p. 19. Literalmente, chamar ética de "cinza," cf. Ibidem, p. 19. Ibidem, p. 19. Ibidem, p. 8. Ibidem, p. 24. Ver, por exemplo, R. E. Allen, Plato's Euthypro and the Earlier Theory of Forms (New York: Humanities Press, 1970) e Plato, The Republic, Raymond Larson, transl. and ed. (Arlington: Harlan Davidson, Inc., 1979). Nas palavras de Anderson, Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 4. Paralelamente, o mesmo Aristóteles enfatiza a responsabilidade do ser humano no desenvolvimento de um caráter virtuoso, que significa concretamente buscar a moderação entre o excesso e a deficiência (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 5). Na situação hipotética em questão, deliberadamente se evita a discussão de quaisquer implicações relacionadas a um eventual processo seletivo. A preocupação em pauta não é primariamente de ordem legal, mas moral. Por resultados satisfatórios, entendam-se benefícios reais e legítimos oriundos da Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 22
  • 23. concessão da bolsa como, por exemplo, o desenvolvimento pessoal dos beneficiados, a perspectiva de uma contribuição à sociedade em suas áreas específicas de preparo acadêmico, entre outros. Revista Fides Reformata http://www.mackenzie.com.br/teologia/ Parte III O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO Autor(a): PR. FERNANDO FERNANDES Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico Batista de São Paulo. mailto:prfcf@terra.com.br Introdução: Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética. Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a correção moral. É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja, como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por toda a comunidade. Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na conduta. O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados. I - Postulados éticos que influenciam a sociedade: O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 23
  • 24. de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos de relativização ética, são elas: a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas. b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não há normas universais. c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral. d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se preserve o ideal comum no cumprimento do dever. e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo ideal ninguém infringe normas. f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais hierarquicamente ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de modo que, diante de um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma mais elevada nesta estrutura. Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus pastores, líderes e membros. Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o seu distorcido padrão ético personalista. Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 24
  • 25. abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado. II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus: A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva. Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento. Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de relacionamentos para seus membros. A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão integrados á igreja. Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de Deus para a s nossas vidas. Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora de Cristo para o ser humano. Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo, mas é também a revelação da vontade de Deus para nós. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 25
  • 26. Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano, como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser considerada pelo cristão sincero. Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide". Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que humanamente sejamos contrariados. Conclusão: Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que o ato em si. De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados por conceitos errôneos sobre ética e moralidade. Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso, não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade. Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos, que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 26
  • 27. pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações e reações na vivência em sociedade. A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros. Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual. Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3. Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética, mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32. "... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22) Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã. Amém. Parte IV O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO Autor(a): PR. FERNANDO FERNANDES Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico Batista de São Paulo. E-mail: prfcf@terra.com.br Introdução: Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética. Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 27
  • 28. correção moral. É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja, como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por toda a comunidade. Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na conduta. O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados. I - Postulados éticos que influenciam a sociedade: O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos de relativização ética, são elas: a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas. b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não há normas universais. c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral. d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se preserve o ideal comum no cumprimento do dever. e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 28
  • 29. ideal ninguém infringe normas. f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais hierarquicamente ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de modo que, diante de um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma mais elevada nesta estrutura. Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus pastores, líderes e membros. Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o seu distorcido padrão ético personalista. Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado. II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus: A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva. Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento. Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de relacionamentos para seus membros. A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão integrados á igreja. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 29
  • 30. Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de Deus para a s nossas vidas. Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora de Cristo para o ser humano. Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo, mas é também a revelação da vontade de Deus para nós. Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano, como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser considerada pelo cristão sincero. Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide". Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que humanamente sejamos contrariados. Conclusão: Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 30
  • 31. necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que o ato em si. De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados por conceitos errôneos sobre ética e moralidade. Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso, não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade. Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos, que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações e reações na vivência em sociedade. A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros. Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual. Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3. Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética, mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32. "... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22) Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 31
  • 32. Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã. Amém. Parte V Aborto: Infanticídio Qualificado Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com Qualificado porque premeditado. Os envolvidos sabem com antecedência o dia, a hora, o local e os instrumentos usados na execução das vítimas. E mais: o crime é cometido por motivo irrelevante, contra pessoas inocentes e indefesas. O Código Penal estabelece pena de um a três anos de detenção para a gestante que “provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque” (Art.123). Para o crime de aborto deveria existir a figura do “homicídio qualificado”, como previsto no Art. 121: (a) por motivo fútil; (b) com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Dependendo do instrumento usado, a criança sofre ou não sofre tortura? Os meios usados são ou não são insidiosos ou cruéis? Consideradas tais circunstâncias, as penas deveriam ser de doze a trinta anos de detenção para parturientes, médicos, auxiliares e diretores dos hospitais envolvidos no crime. À vista disso, urge que seja alterado o Artigo 123 do Código para atribuir ao aborto a natureza de crime hediondo e, portanto, qualificado. Minha proposta segue em direção contrária à que objetiva descriminar o aborto no Brasil e promover sua total liberação. Com base na Lei de Deus – “não matarás” -, cujos princípios éticos e morais norteiam as constituições das nações cristãs, não podemos permitir a liberação do aborto. A punição severa, além do castigo no plano divino, é instrumento adequado no combate de tais crimes. O ventre de uma mulher não pode se transformar num cárcere de horrores. O ser que ali é gerado pelo Autor da Vida não é um condenado à morte; é predestinado à vida – não importa se tenha um dia ou sete meses de existência uterina. Qualquer projeto de liberação do aborto é de origem satânica. O Diabo deseja matar o maior número possível de pessoas. Ele sabe que o homem é a obra-prima de Deus. Como não pode atingir o Criador, descarrega seu veneno contra as criaturas. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 32
  • 33. ’”Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes? (Jo 8.44- 46). Há tempo para os que estão com as mãos manchadas de sangue inocente. Que se arrependam de suas ações criminosas, recebam o Senhor Jesus como Salvador pessoal e livrem-se do tormento eterno. A vida humana, que começa na concepção, não pode ser tratada como uma questão técnica e puramente materialista. É danoso ao homem ignorar os absolutos morais de Deus, como faz a falsa filosofia do pós-modernismo. A idéia dos materialistas é desvalorizar o ser humano enquanto em crescimento no ventre materno, reduzindo-o a uma questão meramente técnica e funcional. Todavia, o nascituro tem direito à mesma proteção dispensada às pessoas já nascidas. O Estatuto da Criança determina ser dever do poder público assegurar, “com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida da criança, mediante a efetivação de políticas sociais e públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência” (Art. 4º e 7º da Lei 8.069, de 13.07.1990). As tentativas de legalizar o aborto colidem com esses dispositivos, que enfatizam a necessidade de o Estado propiciar ao bebê nascimento sadio. Daí porque “é assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal” (Art. 8º). Vejam quanta insanidade! Os legisladores legislam em favor da criança que se encontra em gestação, para que, com “absoluta prioridade”, o período até o seu nascimento ocorra sem qualquer problema. Os defensores do aborto desejam eliminar a criança antes do nascimento. E querem ter o direito legal de promoverem a matança, sob os auspícios do Governo e recursos do SUS. Os abortistas querem eliminar as crianças antes do nascimento; a Lei as protege nesse período. O Doador da Vida conhece o homem desde a concepção: “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jr 1.5). Notem que o profeta foi santificado antes de nascer. Os abortistas dizem o contrário: “Antes de sair do ventre, a criança não passa de um conjunto de carne e osso informe e sem vida. Queremos o direito de tirá-la do ventre e jogá-la no lixo”. Sei o quanto é difícil conter a atual tendência liberalista que despreza os valores éticos e morais. Mas deixo aqui o meu protesto e repúdio por tais práticas, contrárias à vontade do Criador da Vida. Reverendo Gilson de Oliveira Pastor da Igreja Presbiteriana de Nova Vida 33