O documento discute distúrbios psicossomáticos em crianças. Apresenta sintomas como cólicas, vômitos, eczema e enxaquecas e discute suas possíveis causas psicológicas, como ansiedade materna ou carência afetiva. Também aborda a relação mãe-filho e como o sintoma pode assumir um papel nessa interação.
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Distúrbios psicossomáticos na criança: sintomas, causas e abordagem terapêutica
1. DISTÚRBIOS
PSICOSSOMÁTICOS
Na criança possui um caráter especifico das manifestações
somáticas da criança, em particular seus constantes vínculos
com os processos de maturação e de desenvolvimento.
Delimitar o que se entende por “psicossomático”.
O sintoma psicossomático assume um lugar privilegiado no
sistema de interação mãe- criança e é nessa perspectiva que se
deve encará-lo.
2. A existência de distúrbios psicossomáticos graves na pequena infância
prepara o caminho para organizações posteriores:psicose ou
sobretudo psicopatia.
CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DOS SINTOMAS
PSICOSSOMÁTICOS DA CRIANÇA
Possui estreita relação com os sucessivos estágios maturativos que a
criança percorre, manifestações psicossomáticas tendem a
aparecer em idades específicas, demonstrando estreita relação com
a maturação do funcionamento dos órgãos e com as características
do desenvolvimento psicológico.
“calendário” das manifestações psicossomáticas em função da idade.
3. Spitz e as desordens psicossomáticas
segundo dois grandes tipos de atitudes
maternas
• Desordens psicotóxicas:
Correspondem a relações
mãe-criança inapropriadas.
• Desordens por deficiência:
Correspondem a relação
mãe-criança
quantitativamente
insuficientes.
4. • A relação de cuidado que a patologia psicossomática
frequentemente instaura entre mãe e filho é fundamental.
• Nas crianças que apresentam uma sintomatologia
fortemente evocadora de um problema somático, o
procedimento de investigação é duplo:
Por um lado, tentar evidenciar o “vínculo psicossomático” não
apenas pelo estudo de uma correlação entre um sintoma e
um acontecimento exterior (os vômitos com a saída da
mãe, a cefaléia diante da redação na escola), mas também
à luz das etapas privilegiadas do desenvolvimento;
5. • Por outro, tentar apreender o sentido que adquire o sintoma
psicossomático na espiral de interação mãe-criança e o papel
econômico que aí ocupa.
DOENÇAS DA ESFERA DIGESTIVA
Cólicas Idiopáticas do Primeiro Semestre
Caracteriza-se por gritos e choros que se produzem
depois das refeições, quando a criança vai dormir.
O exame somático por sua vez mostra-se normal.
Terapêutica da chupeta e do acalentamento mostra-
se eficaz.
6. Causas:
Lactentes hipertônicos, que comem com voracidade.As mães
são ansiosas, tensas, mostram uma excessiva solicitude ou
impaciência e pouco respeitam os ritmos próprios da criança.
Cura:
A cólica cessa devido à “aprendizagem” e, ao mesmo tempo
ao ajuste progressivo da mãe a seu filho, além desse último,
por outro lado, descobrir novas vias de descarga das tensões
com a idade: gestualidade intencional, sucção do polegar,
etc.
7. Vômitos do lactente e da criança pequena
Em geral, trata-se de lactente anoréticos nos quais a
interação alimentar entre mãe e filho se engajou
precocemente em uma via conflitual. Os vômitos
alternam-se com episódios anoréticos.
Vômitos da criança maior
Pode ocorrer em contextos muitos variados, em
particular assim que um constrangimento ou um
sentimento de ansiedade ou de angústia.
8. Mericismo
• Surgi no decorrer do segundo trimestre. Caracteriza-se por uma
regurgitação provocada, ora por esforços manifestos, ora por uma
facilidade exagerada em reconduzir o alimento à boca. Esse vômito
provocado leva a uma ruminação.
• Esse distúrbio somente ocorre quando a criança se encontra
sozinha.Ela fica imóvel, atônica, com o olhar vazio, alheia ao
mundo exterior.
• O apetite é conservado, inclusive exagerado.
• Essa atividade é secundária a uma síndrome de carência afetiva.
• A evolução a curto prazo é favorável.
9. Retocolite Úlcero- Hemorrágica
• Determinantes psicológicos freqüentes (separação parental,
nascimento de um irmão, ingresso na escola, início da
puberdade...).
• Manifesta-se na maioria das vezes, nas crianças em idade escolar,
por volta dos 7 e 8 anos.
• Perfil, essas crianças são, com freqüência, descritas como
apagadas, submissas, obedientes.
• A relação mãe-criança passaria de uma tonalidade agressiva e de
rejeição, em épocas normais, a uma relação de cuidados invasora e
manipuladora, quando do aparecimento dos sintomas, dando à
criança o benefício de uma posição regressiva.
10. ASMA INFANTIL
• Habitualmente aparece no decorrer do terceiro ano e persiste
durante toda a infância;
• O processo pode ser desencadeado por diversos fatores;
• Impossível determinar o que é constitutivo e o que é
simplesmente reativo na interação familiar;
• As crises freqüentes normalmente aparecem após um trauma
afetivo.
Personalidade da Criança Asmática e Interações Familiares
Na maioria das vezes, a criança asmática é descrita como
obedientes, calma, sobretudo dependente,submissa a seu meio,
facilmente ansiosa.
11. “Não é raro que as únicas trocas afetivas girem em
torno da doença: a mãe cuida da criança e de sua
própria culpabilidade, o filho submete-se à sua mãe,
suscitando, ao mesmo tempo, a angustia desta. A
ambivalência dos afetos, tanto da mãe
(rejeição/culpabilidade) quanto da criança (submissão/
independência), encontraria, assim, sua resolução na
relação de cuidado instaurada em torno da crise de
asma.”
Com referência ao arcaísmo da função
respiratória:o grito-choro, primeiro sinal de
angústia do bebê, precursor da comunicação, não
pode ser vencido.
12. Atitude Terapêutica
• Não existe qualquer paralelo entre, de um lado, a
gravidade e a freqüência das crises de asma e, de outro, a
gravidade das perturbações psicológicas. Porém, é
importante avaliar o lugar que os processos mentais
ocupam, em particular o papel da angústia, entre os
diferentes fatores desencadeadores.
Asma do Lactente
Ocorrência no segundo semestre e seu freqüente
desaparecimento por volta dos 2 ou 3 anos; ausência de
angústia manifesta. No plano psicológico, a excessiva
familiaridade, sem que surja a angústia normal frente ao
estranho.
13. ESPASMO DO SOLUÇO
Generalidades
Caracteriza-se por uma
breve perda de
consciência devido a
uma anóxia cerebral que
ocorre em condições
precisas em uma criança
cuja idade varia, na
maioria das vezes, entre
6 e 18 meses.
Distinguem-se duas formas:
• A forma azul, a mais freqüente
(80%), perda da consciência que
ocorre em um contexto de
choros quando de uma
reprimida, frustração ou dor.
• A forma pálida caracteriza-se
pela ocorrência de uma síncope
quando de um acontecimento,na
maior parte das vezes
desagradável:dor súbita, medo
ou emoção intensa.
14. • PLANO SOMÁTICO
A evolução é benigna.
As crises habitualmente desaparecem pelos 3 anos.
• PLANO NEUROFISIOLÓGICO
Ausência de qualquer anomalia de tipo epiléptico
e a existência de sinal típico de anóxia cerebral.
15. Abordagens Psicológicas e Psicopatológica
• No plano psicológico
Há diferença entre a forma azul e a pálida. Na primeira, as
crianças são ante enérgicas, ativas,opondo-se e embrabecendo
facilmente, dominadora. Na segunda, a forma pálida, as crianças
parecem mais temerosas, tímidas, dependentes, em resumo,
passivas.
• No plano psicopatológico
A mãe sente angústia que a leva a um comportamento de
amabilidade, inclusive de submissão, visando evitar o espasmo
evocador de morte em seu filho.Este, por sua vez, rapidamente
retirará desse temor benefícios secundários que vão alimentar
uma megalomania incessantemente reconfirmada pelas novas
crises.
16. Atitude Terapêutica
• Conseguir que o temor do espasmo não seja mais pretexto
para o abandono de toda e qualquer atitude educativa e que a
mãe se desinteresse relativamente dessas manifestações.
PATOLOGIA DA ESFERA CUTÂNEA
A pele é um órgão cujas funções fisiológicas e psicológicas
são ricas e diversificadas.
Eczema do Lactente
Spitz demonstrou claramente a elevada freqüência desse sintoma
em lactentes vivendo em condições institucionais.
17. Peladas
O choque afetivo causador de tal sintoma representa, muitas vezes, uma
perda real ou simbólica.
AFECÇÕES DIVERSAS
Enxaquecas
Sobrevêm na criança em idade escolar e estão, por vezes, ligadas a
uma escolaridade muito investida. O caráter familiar da enxaqueca
é, com freqüência, salientado.
Cefaléias
A busca do benefício secundário;
É o resultado de uma tensão entre um medo ou uma angústia e um
desejo de autonomia ou de auto-afirmação.
Respondem a um mecanismo bastante direto de conversão histérica.
18. Retardo de Crescimento de Origem Psicossocial
• “nanismo psicossocial” caracteriza-se pela existência
de um importante retardo de crescimento (superior a
três desvios-padrão)associado a uma diminuição da
velocidade de crescimento em uma criança com mais de
três anos.
• A interpretação fisiopatológica: os autores
reconhecem a dimensão profundamente carencial do
meio familiar, mas o vínculo entre essa carência afetiva
muitas vezes manifesta, e a alteração neuroendócrina
permanece um mistério.
19. O estudo psicopatológico
• permite distinguir um
grupo de crianças
inibidas, tensas, vivendo
de modo defensivo, em
uma posição de
passividade ou de
oposição.
• Um segundo grupo
caracteriza-se pelo contrário
uma tendência excessiva a
agir, em um contexto
dominado pela violência das
relações entre a criança e seu
meio, em particular a mãe.
Um vínculo de ódio
particularmente intenso
parece unir mãe e filho.
20. • A atitude terapêutica preconizada é a separação
prolongada da criança do meio familiar.
Psicossomática da Criança Maior:
a Relação de Cuidado
Quanto maior for a criança menos parece, com efeito,
existir um vínculo estreito entre um tipo de sintoma
somático e uma organização psicológica específica.
O sintoma psicossomático da criança vem ocupar o campo
bastante concreto das interações desta com seu meio e,
muito particularmente, com seus pais.