1. O Jantar dos Gouvarinhos
“Os Maias” – Capítulo XII
2. Ambiente na sala de jantar
* “A condessa (…), vestida de preto, com uma tira de veludo em volta do
pescoço, picada de três estrelas de diamantes.”
* “…rumor lento das caudas de seda…”
* “…cesta de esplêndidas flores…”
* “…romances ingleses e uma Revista dos Dois Mundos…”
* “Sauterne”, “jambon aux épinards”, “galantine”, “champagne”
* “Na sala de jantar, um pouco sombria, forrada de papel cor de vinho,
escurecida ainda por dois antigos painéis de paisagem tristonha…”
3. Colonização e Escravatura
* “O conde via ali só inveja – a inveja que nos têm todas as nações por causa
da importância das nossas colónias…”
* “-(…) E eu que conheço alguma coisa de sistemas coloniais, posso afirmar
que não há hoje colónias nem mais suscetíveis de riqueza, nem mais
crentes no progresso, nem mais liberais que as nossas!”
* “Mas Ega (…) pronunciou-se alegremente contra todas essas explorações
da África, e essas longas missões geográficas… Porque não se deixaria o
preto sossegado, na calma posse dos seus manipansos? Que mal faria à
ordem das coisas que houvesse selvagens? (…) Com a mania francesa e
burguesa de reduzir todas as regiões e todas as raças ao mesmo tipo de
civilização, o mundo ia tornar-se de uma monotonia abominável.”
4. Colonização e Escravatura
* “Ega declarou muito decididamente ao Sr. Sousa Neto que era pela
escravatura. Os desconfortos da vida, segundo ele, tinham começado com
a libertação dos negros. (…) Por isso ninguém agora lograva ter os seus
sapatos bem envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua escada bem
lavada, desde que não tinha criados pretos em quem fosse licito dar
vergastadas... Só houvera duas civilizações em que o homem conseguira
viver com razoável comodidade: a civilização romana, e a civilização
especial dos plantadores da Nova Orleans. Porquê? Porque numa e noutra
existira a escravatura absoluta, a sério, com o direito de morte!...”
5. Filho e Esposa de Sousa Neto
* “…havia uma outra senhora, que nem Carlos nem Ega conheciam, gorda e
vestida de escarlate (…) E foi então que Carlos percebeu que ela era a
esposa de Sousa Neto, e que se tratava dum filho deles, filho único,
despachado segundo-secretário para a legação de S. Petersburgo.”
* “É um horror de estupidez... Nem francês sabe! De resto não é pior que os
outros... Que a quantidade de monos, de sensaborões e de tolos que nos
representam lá fora até faz chorar... (…) Isto é um país desgraçado.”
6. Educação das Mulheres
* “O Ega achava-a deliciosa (…) E o conde, que a admirava também, gabava-lhe
sobretudo o espírito, a instrução. Isso, segundo o Ega, prejudicava-a: porque o
dever da mulher era primeiro ser bela, e depois ser estúpida... O conde afirmou
logo com exuberância que não gostava também de literatas: sim, decerto o lugar
da mulher era junto do berço, não na biblioteca...”
* “- No entanto, é agradável que uma senhora possa conversar sobre coisas
amenas, sobre o artigo de uma revista, sobre… Por exemplo, quando se publica
um livro… Enfim, não direi quando se trata de Guizot, ou de um Jules Simon…”
* “Neto, grave, murmurou:
- Uma senhora, sobretudo quando ainda é nova, deve ter algumas prendas…”
* “Ega protestou, com calor. Uma mulher com prendas, sobretudo com prendas
literárias (…) é um monstro (…) A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar
bem e amar bem.”
7. Crítica à falta de cultura
* “- V. Excelência decerto, Sr. Sousa Neto, sabe o que diz Proudhon?
-Não me recordo textualmente, mas...
-Em todo o caso V. Excelência conhece perfeitamente o seu Proudhon?
O outro, muito secamente, não gostando decerto daquele interrogatório, murmurou que Proudhon
era um autor de muita nomeada. Mas o Ega insistia, com uma impertinência pérfida:
-V. Excelência leu evidentemente, como nós todos, as grandes páginas de Proudhon sobre o amor?
O Sr. Neto, já vermelho, pousou a chávena sobre a mesa. E quis ser sarcástico, esmagar aquele
moço, tão literário, tão audaz.
-Não sabia, disse ele com um sorriso infinitamente superior, que esse filósofo tivesse escrito sobre
assuntos escabrosos!
Ega atirou os braços ao ar, consternado:
-Oh Sr. Sousa Neto! Então V. Excelência, um chefe de família, acha o amor um assunto escabroso?!
O Sr. Neto encordoou. E muito direito, muito digno, falando do alto da sua considerável posição
burocrática:
-É meu costume, Sr. Ega, não entrar nunca em discussões, e acatar todas as opiniões alheias,
mesmo quando elas sejam absurdas...”
8. Conde de Gouvarinho
* “Ainda este inverno nós lhe ouvimos um paradoxo brilhante! Até foi em
casa da Sr.ª D. Maria da Cunha... Vossa Excelência não se lembra, Sr. D.
Maria? Esta minha desgraçada memória! Ó Tereza, lembras-te daquele
paradoxo do Barros? Ora sobre que era, meu Deus?... Enfim, um paradoxo
muito difícil de sustentar... Esta minha memória!... Pois não te lembras,
Tereza?”
* “-Esta minha desgraçada memória!...”
9. Conclusão
* “- Ó Ega, quem é aquele homem, aquele Sousa Neto, que quis saber se em
Inglaterra havia também literatura?
-Ega olhou-o com espanto:
- Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste imediatamente quem neste
país é capaz de fazer essa pergunta?
- Não sei... Há tanta gente capaz...
E o Ega radiante:
- Oficial superior duma grande repartição do Estado!
- De qual?
- Ora de qual! De qual há de ser?... Da Instrução pública!”
* “-Creio que não há nada de novo em Lisboa, minha senhora, desde a morte do Sr.
D. João VI.”