SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 14
O Espantalho Enamorado




Guido Visconti
Giovanna Osellame
Gustavo era um espantalho feliz. Tinha muitos amigos entre os
animais da vizinhança. E tinha amigos sobretudo entre os
passarinhos, precisamente aqueles que devia espantar.
“Obrigado por nos deixares bicar as espigas” chilreavam eles à
sua volta.
“Bem, eu peço-vos sempre alguma coisa em troca, não é?”,
ria-se ele.
De facto, Gustavo confiava nos pássaros para levarem as suas
ternas mensagens de amor a Amélia, a menina-espantalho
que vivia no topo da colina.
Gustavo estava apaixonado por Amélia.
Sonhava com o dia em que ia poder abraçá-la. Mas como?
Apenas podia, quando a brisa soprava, acenar-lhe com a
manga do casaco.
Quando chegou o Outono, contudo,
Gustavo ficou triste.
As belas espigas douradas foram ceifadas
e muitos dos seus amigos tiveram de partir.
Já não havia andorinhas a chilrear, mas
sim corvos negros.
Embora também fosse amigo dos corvos,
Gustavo não podia mandar mensagens de
amor através das suas vozes estridentes.
Além disso, no Outono não soprava a brisa.
Em seu lugar soprava uma fria nortada, por
vezes tão forte que Gustavo temia que o
seu chapéu voasse da cabeça.
- Queres que a Amélia veja que sou
careca?! – gritou-lhe
- Desculpa, - assobiou a nortada. – Vou-me
embora.
-Não! Se te fores embora, vem o nevoeiro!

Gustavo não gostava do nevoeiro, pois este
impedia-o de ver Amélia.
Mas mesmo que não houvesse vento nem nevoeiro, no
Outono Gustavo não podia admirar Amélia: tinha de
estar alerta para avistar os caçadores a tempo de
avisar os poucos amigos que tinham ficado.

- Inimigo à vista! – gritou ele, um dia, de repente.
À distância avistava-se um homem armado com uma
espingarda…


A raposa que buscava a sua presa, a lebre à procura
de raízes, os falcões à cata de grãos, os patos nas
margens do rio e as codornizes entre os caules
cortados, todos escutaram o grito de Gustavo. E num
ápice, todos desapareceram, como que por magia.


Porém, um dos animais não foi suficientemente rápido.
PUM!, fez a espingarda.
- Aaaaiii! – gemeu uma codorniz.
O caçador aproximou-se.
Pôs-se à procura da codorniz mas não
conseguiu achá-la.
- Mas eu tenho a certeza que lhe acertei –
resmungou.
Procurou durante um bom bocado; da codorniz,
nem sinal. O caçador continuou a resmungar,
primeiro confuso, depois zangado. Estava
cansado e começou a transpirar. Tinha calor
com o cachecol. Então, tirou-o e depositou-o
sobre as costas do espantalho, dizendo-lhe:
- Vê lá se não o deixas voar com este vento.
A     seguir     afastou-se,   procurando    e
resmungando.
-E eu sou algum cabide? – protestou Gustavo.


Mas parou de protestar assim que sentiu o calor
do belo cachecol. Talvez a codorniz…
- Já se foi – murmurou Gustavo. – Estás ferida?
- Só um bocadinho – respondeu a codorniz,
espreitando de um bolso do casaco. – Salvaste-me
a vida. Como posso agradecer-te?
- Leva-me este cachecol à Amélia – respondeu
Gustavo rapidamente. – Deve estar cheia de frio,
com aquela roupa levezinha.
Com o seu rápido bater de asas a
codorniz chegou ao topo da colina.
- Gustavo manda-te este presente –
disse-lhe, esvoaçando em seu redor. –
Está tão apaixonado! Qualquer dia casa
contigo.
- Quem me dera – suspirou Amélia,
acenando para Gustavo com a ponta do
cachecol.
Mas Gustavo não estava a olhar para
ela…
… porque o caçador voltara, com o saco
a tiracolo cheio de caça e um ar
triunfante no rosto.
Já não tinha calor, e vinha buscar o seu
cachecol.
 Mas o cachecol desaparecera.
- Em vez de ficares aí parado, devias ter
evitado que o vento levasse o meu
cachecol! Agora tenho frio – gritou ele ao
pobre espantalho enquanto lhe tirava o
chapéu.
- Oh, vou morrer de vergonha – gemeu
Gustavo.
Ainda por cima o caçador preparava-se
também para lhe tirar o casaco…
- Ai, assim vai morrer de frio – gritaram os seus
amigos que observavam a cena nos seus
esconderijos.
 - Agora é a nossa vez de lhe salvar a vida –
decidiu a raposa, lançando-se ao ataque.
Os outros fizeram o mesmo.
Patos, faisões, corvos, lebres e codornizes
atiraram-se ao caçador, fazendo-o cair.
O caçador tentou defender-se. Arrancou
Gustavo do chão e empunhou-o como se
ele fosse um bastão.
- Assim já é demais! – a raposa, a lebre,
faisões, corvos e codornizes mostraram
as garras e os dentes, verdadeiramente
enfurecidos.
O caçador tentou fugir dos animais.
 - Acudam! Estou a ser atacado! – gritou ele em louca correria
acima, com o Gustavo nas mãos.

A meio da subida o caçador já estava quase sem fôlego, bem
como os animais que o perseguiam, mas Gustavo suplicou-lhes:
- Por favor, só mais um bocadinho. Estamos quase lá.
-Chegámos! Podem parar! – exultou Gustavo ao atingirem o
topo da colina.

- Sim, parem – suplicou o caçador. – Eu devolvo-te o
chapéu, mas diz aos teus amigos para me deixarem em
paz.
Os animais clamaram:
- Por que é que estás contra nós? Já reparaste que
encontrámos o teu cachecol?
Afinal, o cachecol estava ali perto, sobre os ombros de
Amélia…

O caçador pegou nele e virou costas, sem sequer lhe
agradecer.
Gustavo, por outro lado, achou que nunca conseguiria recompensar os seus amigos pelo que
tinham acabado de fazer.
- Obrigado. Muito obrigado – balbuciou. Estava um pouco maltratado, tinha as roupas
amarrotadas, as mangas do casaco estavam caídas, mas ele não sentia vergonha. Estava tão
contente por ter Amélia tão próxima de si…
Tão próxima que sentiu um enorme desejo de a abraçar.
Mas como?

- Deixa-me ajudar-te. – E a nortada pôs-se a soprar, levantando a manga do casaco de
Gustavo e pousando-a sobre os ombros de Amélia.
– Agora sim, estão casados! – soprou ela aos quatro cantos do mundo, enquanto por cima da
colina, a lua branquinha velava pelos dois amantes.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (20)

Leónia devora os livros[1]
Leónia devora os livros[1]Leónia devora os livros[1]
Leónia devora os livros[1]
 
Os ovos misteriosos
Os ovos misteriosos Os ovos misteriosos
Os ovos misteriosos
 
Os ovos misteriosos
Os ovos misteriososOs ovos misteriosos
Os ovos misteriosos
 
Natal, história
Natal, históriaNatal, história
Natal, história
 
O polvo coceguinhas
O polvo coceguinhasO polvo coceguinhas
O polvo coceguinhas
 
Historia ouriço mal_ penteado
Historia ouriço mal_ penteadoHistoria ouriço mal_ penteado
Historia ouriço mal_ penteado
 
Dá me um abraço com animação
Dá me um abraço com animaçãoDá me um abraço com animação
Dá me um abraço com animação
 
O pato-patareco-do-daniel-adalberto
O pato-patareco-do-daniel-adalbertoO pato-patareco-do-daniel-adalberto
O pato-patareco-do-daniel-adalberto
 
História --para-que-serve-o-ouriço
História --para-que-serve-o-ouriçoHistória --para-que-serve-o-ouriço
História --para-que-serve-o-ouriço
 
Gato das botas
Gato das botasGato das botas
Gato das botas
 
A ovelha
A ovelhaA ovelha
A ovelha
 
O sapo apaixonado
O sapo apaixonado O sapo apaixonado
O sapo apaixonado
 
O baile dos 3 porquinhos
O baile dos 3 porquinhosO baile dos 3 porquinhos
O baile dos 3 porquinhos
 
O espantalho enamorado
O espantalho enamoradoO espantalho enamorado
O espantalho enamorado
 
O urso rabugento
O urso rabugentoO urso rabugento
O urso rabugento
 
Lenga lengas
Lenga lengasLenga lengas
Lenga lengas
 
Maria Castanha
Maria CastanhaMaria Castanha
Maria Castanha
 
Quem da prenda ao pai natal
Quem da prenda ao pai natalQuem da prenda ao pai natal
Quem da prenda ao pai natal
 
A Abóbora Gigante
A Abóbora GiganteA Abóbora Gigante
A Abóbora Gigante
 
Uma prenda de natal
Uma prenda de natalUma prenda de natal
Uma prenda de natal
 

Semelhante a O espantalho enamorado

Semelhante a O espantalho enamorado (20)

O espantalho enamorado
O espantalho enamoradoO espantalho enamorado
O espantalho enamorado
 
O espantalho enamorado.ppt
O espantalho enamorado.pptO espantalho enamorado.ppt
O espantalho enamorado.ppt
 
Cópia de o espantalho enamorado
Cópia de o espantalho enamoradoCópia de o espantalho enamorado
Cópia de o espantalho enamorado
 
O espantalho enamorado
O espantalho enamoradoO espantalho enamorado
O espantalho enamorado
 
Espantalho enamorado
Espantalho enamoradoEspantalho enamorado
Espantalho enamorado
 
O espantalho enamorado
O espantalho enamoradoO espantalho enamorado
O espantalho enamorado
 
02. O Patinho Feio Autor Hans Christian Andersen.pdf
02. O Patinho Feio Autor Hans Christian Andersen.pdf02. O Patinho Feio Autor Hans Christian Andersen.pdf
02. O Patinho Feio Autor Hans Christian Andersen.pdf
 
Aquiles e a tartaruga infantil
Aquiles e a tartaruga   infantilAquiles e a tartaruga   infantil
Aquiles e a tartaruga infantil
 
Escrita na ponta de um lápis
Escrita na ponta de um lápisEscrita na ponta de um lápis
Escrita na ponta de um lápis
 
Escrita na ponta de um lápis
Escrita na ponta de um lápisEscrita na ponta de um lápis
Escrita na ponta de um lápis
 
.
..
.
 
Pdf contos
Pdf contosPdf contos
Pdf contos
 
Contos pdf
Contos pdfContos pdf
Contos pdf
 
Escrita na Ponta de um Lápis
Escrita na Ponta de um LápisEscrita na Ponta de um Lápis
Escrita na Ponta de um Lápis
 
Pdf contos
Pdf contosPdf contos
Pdf contos
 
Venha ver o por do sol
Venha ver o por do solVenha ver o por do sol
Venha ver o por do sol
 
.
..
.
 
.
..
.
 
.
..
.
 
Fábulas de monteiro lobato
Fábulas de monteiro lobatoFábulas de monteiro lobato
Fábulas de monteiro lobato
 

Mais de Marta Isabel

A escola que queremos
A escola  que queremosA escola  que queremos
A escola que queremosMarta Isabel
 
Dia de aulas ao ar livre
Dia de aulas ao  ar livreDia de aulas ao  ar livre
Dia de aulas ao ar livreMarta Isabel
 
Equipa de artistas
Equipa de artistasEquipa de artistas
Equipa de artistasMarta Isabel
 
Guiao de pesquisa super3
Guiao de pesquisa super3Guiao de pesquisa super3
Guiao de pesquisa super3Marta Isabel
 
Jogo à descoberta da biblioteca
Jogo   à descoberta da bibliotecaJogo   à descoberta da biblioteca
Jogo à descoberta da bibliotecaMarta Isabel
 
Conhecer a Biblioteca
Conhecer a BibliotecaConhecer a Biblioteca
Conhecer a BibliotecaMarta Isabel
 
Partilhas na sala de aula
Partilhas na sala de aulaPartilhas na sala de aula
Partilhas na sala de aulaMarta Isabel
 
Observation grid teacher
Observation grid  teacherObservation grid  teacher
Observation grid teacherMarta Isabel
 
Grelha de reg aval metas de port 1parteturma
Grelha de reg aval  metas de port 1parteturmaGrelha de reg aval  metas de port 1parteturma
Grelha de reg aval metas de port 1parteturmaMarta Isabel
 
Avaliação metas português (3º ano)
Avaliação metas português (3º ano)Avaliação metas português (3º ano)
Avaliação metas português (3º ano)Marta Isabel
 
Concelho de sintra pwp
Concelho de sintra pwpConcelho de sintra pwp
Concelho de sintra pwpMarta Isabel
 

Mais de Marta Isabel (20)

A escola que queremos
A escola  que queremosA escola  que queremos
A escola que queremos
 
Dia de aulas ao ar livre
Dia de aulas ao  ar livreDia de aulas ao  ar livre
Dia de aulas ao ar livre
 
Dia da familia
Dia da familiaDia da familia
Dia da familia
 
Pav conhecimento
Pav conhecimentoPav conhecimento
Pav conhecimento
 
Equipa de artistas
Equipa de artistasEquipa de artistas
Equipa de artistas
 
Carnaval 2018
Carnaval 2018Carnaval 2018
Carnaval 2018
 
Agualvas
AgualvasAgualvas
Agualvas
 
Dia da matematica
Dia da matematicaDia da matematica
Dia da matematica
 
Guiao de pesquisa super3
Guiao de pesquisa super3Guiao de pesquisa super3
Guiao de pesquisa super3
 
Jogo à descoberta da biblioteca
Jogo   à descoberta da bibliotecaJogo   à descoberta da biblioteca
Jogo à descoberta da biblioteca
 
Conhecer a Biblioteca
Conhecer a BibliotecaConhecer a Biblioteca
Conhecer a Biblioteca
 
S martinho
S martinhoS martinho
S martinho
 
Partilhas na sala de aula
Partilhas na sala de aulaPartilhas na sala de aula
Partilhas na sala de aula
 
Salada de fruta
Salada de frutaSalada de fruta
Salada de fruta
 
Feira de outono
Feira de outonoFeira de outono
Feira de outono
 
Observation grid teacher
Observation grid  teacherObservation grid  teacher
Observation grid teacher
 
Grelha de reg aval metas de port 1parteturma
Grelha de reg aval  metas de port 1parteturmaGrelha de reg aval  metas de port 1parteturma
Grelha de reg aval metas de port 1parteturma
 
Avaliação metas português (3º ano)
Avaliação metas português (3º ano)Avaliação metas português (3º ano)
Avaliação metas português (3º ano)
 
Concelho de sintra pwp
Concelho de sintra pwpConcelho de sintra pwp
Concelho de sintra pwp
 
O valor dos avós
O valor dos avósO valor dos avós
O valor dos avós
 

Último

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Transformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx GeometriaTransformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx Geometriajucelio7
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 

Último (20)

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Transformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx GeometriaTransformações isométricas.pptx Geometria
Transformações isométricas.pptx Geometria
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 

O espantalho enamorado

  • 1. O Espantalho Enamorado Guido Visconti Giovanna Osellame
  • 2. Gustavo era um espantalho feliz. Tinha muitos amigos entre os animais da vizinhança. E tinha amigos sobretudo entre os passarinhos, precisamente aqueles que devia espantar. “Obrigado por nos deixares bicar as espigas” chilreavam eles à sua volta. “Bem, eu peço-vos sempre alguma coisa em troca, não é?”, ria-se ele. De facto, Gustavo confiava nos pássaros para levarem as suas ternas mensagens de amor a Amélia, a menina-espantalho que vivia no topo da colina. Gustavo estava apaixonado por Amélia. Sonhava com o dia em que ia poder abraçá-la. Mas como? Apenas podia, quando a brisa soprava, acenar-lhe com a manga do casaco.
  • 3. Quando chegou o Outono, contudo, Gustavo ficou triste. As belas espigas douradas foram ceifadas e muitos dos seus amigos tiveram de partir. Já não havia andorinhas a chilrear, mas sim corvos negros. Embora também fosse amigo dos corvos, Gustavo não podia mandar mensagens de amor através das suas vozes estridentes. Além disso, no Outono não soprava a brisa. Em seu lugar soprava uma fria nortada, por vezes tão forte que Gustavo temia que o seu chapéu voasse da cabeça. - Queres que a Amélia veja que sou careca?! – gritou-lhe - Desculpa, - assobiou a nortada. – Vou-me embora. -Não! Se te fores embora, vem o nevoeiro! Gustavo não gostava do nevoeiro, pois este impedia-o de ver Amélia.
  • 4. Mas mesmo que não houvesse vento nem nevoeiro, no Outono Gustavo não podia admirar Amélia: tinha de estar alerta para avistar os caçadores a tempo de avisar os poucos amigos que tinham ficado. - Inimigo à vista! – gritou ele, um dia, de repente. À distância avistava-se um homem armado com uma espingarda… A raposa que buscava a sua presa, a lebre à procura de raízes, os falcões à cata de grãos, os patos nas margens do rio e as codornizes entre os caules cortados, todos escutaram o grito de Gustavo. E num ápice, todos desapareceram, como que por magia. Porém, um dos animais não foi suficientemente rápido. PUM!, fez a espingarda. - Aaaaiii! – gemeu uma codorniz.
  • 5. O caçador aproximou-se. Pôs-se à procura da codorniz mas não conseguiu achá-la. - Mas eu tenho a certeza que lhe acertei – resmungou. Procurou durante um bom bocado; da codorniz, nem sinal. O caçador continuou a resmungar, primeiro confuso, depois zangado. Estava cansado e começou a transpirar. Tinha calor com o cachecol. Então, tirou-o e depositou-o sobre as costas do espantalho, dizendo-lhe: - Vê lá se não o deixas voar com este vento. A seguir afastou-se, procurando e resmungando. -E eu sou algum cabide? – protestou Gustavo. Mas parou de protestar assim que sentiu o calor do belo cachecol. Talvez a codorniz…
  • 6. - Já se foi – murmurou Gustavo. – Estás ferida? - Só um bocadinho – respondeu a codorniz, espreitando de um bolso do casaco. – Salvaste-me a vida. Como posso agradecer-te? - Leva-me este cachecol à Amélia – respondeu Gustavo rapidamente. – Deve estar cheia de frio, com aquela roupa levezinha.
  • 7. Com o seu rápido bater de asas a codorniz chegou ao topo da colina. - Gustavo manda-te este presente – disse-lhe, esvoaçando em seu redor. – Está tão apaixonado! Qualquer dia casa contigo. - Quem me dera – suspirou Amélia, acenando para Gustavo com a ponta do cachecol. Mas Gustavo não estava a olhar para ela…
  • 8. … porque o caçador voltara, com o saco a tiracolo cheio de caça e um ar triunfante no rosto. Já não tinha calor, e vinha buscar o seu cachecol. Mas o cachecol desaparecera. - Em vez de ficares aí parado, devias ter evitado que o vento levasse o meu cachecol! Agora tenho frio – gritou ele ao pobre espantalho enquanto lhe tirava o chapéu. - Oh, vou morrer de vergonha – gemeu Gustavo. Ainda por cima o caçador preparava-se também para lhe tirar o casaco…
  • 9. - Ai, assim vai morrer de frio – gritaram os seus amigos que observavam a cena nos seus esconderijos. - Agora é a nossa vez de lhe salvar a vida – decidiu a raposa, lançando-se ao ataque. Os outros fizeram o mesmo. Patos, faisões, corvos, lebres e codornizes atiraram-se ao caçador, fazendo-o cair.
  • 10. O caçador tentou defender-se. Arrancou Gustavo do chão e empunhou-o como se ele fosse um bastão. - Assim já é demais! – a raposa, a lebre, faisões, corvos e codornizes mostraram as garras e os dentes, verdadeiramente enfurecidos.
  • 11. O caçador tentou fugir dos animais. - Acudam! Estou a ser atacado! – gritou ele em louca correria acima, com o Gustavo nas mãos. A meio da subida o caçador já estava quase sem fôlego, bem como os animais que o perseguiam, mas Gustavo suplicou-lhes: - Por favor, só mais um bocadinho. Estamos quase lá.
  • 12. -Chegámos! Podem parar! – exultou Gustavo ao atingirem o topo da colina. - Sim, parem – suplicou o caçador. – Eu devolvo-te o chapéu, mas diz aos teus amigos para me deixarem em paz. Os animais clamaram: - Por que é que estás contra nós? Já reparaste que encontrámos o teu cachecol? Afinal, o cachecol estava ali perto, sobre os ombros de Amélia… O caçador pegou nele e virou costas, sem sequer lhe agradecer.
  • 13. Gustavo, por outro lado, achou que nunca conseguiria recompensar os seus amigos pelo que tinham acabado de fazer. - Obrigado. Muito obrigado – balbuciou. Estava um pouco maltratado, tinha as roupas amarrotadas, as mangas do casaco estavam caídas, mas ele não sentia vergonha. Estava tão contente por ter Amélia tão próxima de si… Tão próxima que sentiu um enorme desejo de a abraçar. Mas como? - Deixa-me ajudar-te. – E a nortada pôs-se a soprar, levantando a manga do casaco de Gustavo e pousando-a sobre os ombros de Amélia.
  • 14. – Agora sim, estão casados! – soprou ela aos quatro cantos do mundo, enquanto por cima da colina, a lua branquinha velava pelos dois amantes.