Este documento discute a sustentabilidade em arquitetura, com foco nos materiais. Aborda a situação ambiental atual e o impacto da construção civil. Apresenta o selo LEED e analisa os créditos relacionados a materiais e recursos. Discute o que torna um material sustentável, considerando todo o seu ciclo de vida, desde a extração até a possível reutilização.
1. Universidade Presbiteriana Mackenzie
MATERIAIS SUSTENTÁVEIS EM ARQUITETURA
Stephanie Behisnelian (IC) e Ricardo Vasconcelos (Orientador)
Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa
Resumo
Este trabalho aborda o tema da sustentabilidade, mais especificamente em relação a materiais
usados em arquitetura. Busca dar uma visão geral da sustentabilidade hoje no mundo e no Brasil,
mostrando que a situação ambiental do nosso planeta não deve mais ser deixada de lado, já que é
urgente e alarmante. Focando então em arquitetura, busca mostrar o que vem sendo discutido na
área da construção civil, e como os arquitetos podem e devem fazer a diferença no cuidado com o
meio ambiente por meio da profissão. Abordará também os selos verdes, mais especificamente o
LEED, selo americano mais utilizado atualmente, com foco no LEED CI (para interiores comerciais).
Os créditos e pré-requisitos do LEED CI em relação a materiais e recursos terão uma análise um
pouco mais cuidadosa. Entrando, então, no foco que são os materiais, estes serão analisados desde
o processo de extração de sua matéria prima, passando pela fabricação e transporte, a energia gasta
durante todo seu processo, até sua reutilização e reciclagem, buscando entender o que realmente
são os chamados “materiais verdes” e qual o impacto deles sobre o meio ambiente. Uma análise
sobre o que vem acontecendo em relação a materiais no Brasil será feita como conclusão de toda a
discussão.
Palavras-chave: materiais, sustentabilidade, reciclagem
Abstract
This work is about the issue of sustainability, specifically in relation to materials used in architecture. It
seeks to give an overview of sustainability in today’s world and in Brazil, showing that the
environmental situation of our planet should no longer be left out since it is urgent and alarming. Then
focusing on architecture, seeks to reveal what has been discussed in the construction area and how
architects can and should make a difference through the profession. It will also address the Green
rating systems, specifically LEED, U.S. label in large use today, focusing on LEED CI (commercial
interiors). The credits and prerequisites for LEED CI in relation to materials and resources will have a
careful analysis. Focusing materials, they will be analyzed from the extraction of their raw materials,
throughout its process until its reuse and recycling, trying to understand why they are called “Green
materials” and what are their impact on the environment. An analysis of what is happening to the
materials in Brazil will be made at the conclusion of the discussion.
Key-words: materials, sustainability, recycling
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INTRODUÇÃO
O objetivo principal do trabalho era analisar, caso a caso, materiais sustentáveis para serem
usados em arquitetura. Após pesquisas, aulas e palestras, pude entender melhor o tema e
percebi que o principal deveria ser discutir o que torna um material sustentável. O tema da
sustentabilidade tem sido muito recorrente nos dias de hoje, porém, muitas vezes não é
tratado de maneira séria ou coerente, especialmente o tema dos materiais. Hoje em dia as
empresas adotam critérios muitas vezes sem fundamento para vender um material como
“verde”. É preciso analisar de maneira crítica o que torna um material realmente sustentável.
É fundamental para um arquiteto que irá utilizar algum dos chamados materiais verdes em
suas obras, entender o porquê este é considerado não prejudicial ao meio ambiente, quais
são os critérios de análise, até mesmo para, assim, poder desenvolver produtos ou saber
qual é a melhor utilização, por exemplo, para um certo tipo de material, que condições
fazem com que ele seja favorável a um certo tipo de ambiente ou clima, se pode ou não ser
reciclado ou qual é sua procedência. Foi decidido também, juntamente com o orientador,
que seria melhor ter uma base para o trabalho, algo que já existe e foi testado com sucesso.
Por isso, um selo reconhecido como o LEED é um ponto de partida ideal, pois foi
desenvolvido por meio de muitos estudos, por diversos especialistas da área. Mais
especificamente, será analisado o LEED CI (commercial interiors), que tem por objetivo
certificar interiores de prédios já existentes, por exemplo. Os materiais acabam sendo um
meio viável para essa solução, por isso a escolha desse LEED. Será feita uma visão sem
esgotamento dos aspectos gerais do assunto , mas uma análise com um pouco mais de
foco será na parte de materiais e recursos.
Durante todo o processo de pesquisa também pude perceber que a questão geral da
sustentabilidade ainda é pouco discutida, pouco conhecida e, principalmente, pouquíssimo
aceita. Dados de pesquisas revelam que a construção civil é uma das principais (senão a
principal) responsáveis pelo acumulo de resíduos, extração de recursos naturais e emissões
de CO2. Mesmo assim, os arquitetos brasileiros não conhecem ou não procuram conhecer a
questão da sustentabilidade. Há ainda muito preconceito ou falta de informação e interesse,
o que leva a uma recusa do tema.
Será, portanto, aberta uma discussão sobre os materiais verdes no Brasil. Como é a oferta e
a procura, quais são as barreiras para a compra verde, aspectos que devem ser levados em
consideração e, após esta análise, o trabalho será finalizado com uma crítica à maneira
como o assunto é tratado no Brasil.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A QUESTÃO GERAL DA SUSTENTABILIDADE
Segundo os conceitos de Brian Edwards, no seu livro “O Guia básico para a
sustentabilidade”, a sustentabilidade envolve todos os recursos necessários para o
desenvolvimento das atividades humanas.
A civilização humana e o ecossistema terrestre estão entrando em choque, e a mais
destrutiva demonstração disso é a crise climática. Extinção de diversas espécies de animais,
derrubada e queima de florestas, emissão de gases tóxicos, acúmulo de lixo e poluição do
ar e da água são alguns exemplos (GORE, 2009).
Atualmente a queima de carvão, petróleo e gás natural são as maiores fontes de CO2 e,
consequentemente, a maior e mais crescente fonte de poluição, que causa o aquecimento
global (GORE, 2009).
“Os níveis alarmantes de poluição, de violência, de fome, de escassez de água e de
energia, de elevação da temperatura global, de danos à camada de ozônio, entre outros,
fazem-nos acreditar que as mudanças ambientais induzidas pela atividade humana
excederam o ritmo natural da evolução, fazendo com que tenhamos que buscar,
urgentemente, formas para nos adequarmos aos problemas que estamos criando com
tamanho descontrole” (Kronka, 2002, p. 23).
“O desenvolvimento sustentável é algo mais do que um compromisso entre o ambiente
físico e o crescimento econômico - ele significa uma definição de desenvolvimento que
reconhece, nos limites da sustentabilidade, origens não só naturais como estruturais. Cabe,
assim, reconhecer na relação homem-natureza os processos históricos nos quais o
ambiente é transformado, e a sustentabilidade será uma decorrência de uma conexão entre
movimentos sociais, mudança social e, consequentemente, possibilidade de políticas mais
efetivas” (BECKER, Bertha K. – “Amazônia pós Eco 92”, Para pensar o desenvolvimento
Sustentável, p. 138).
“As únicas soluções significativas e efetivas para a crise climática envolvem grandes
mudanças no comportamento e no pensamento humanos” (GORE, 2009).
O objetivo final da implantação da sustentabilidade deve ser deixar para as gerações futuras
reservas naturais iguais ou maiores às que herdamos (ROGERS, 2008).
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A SUSTENTABILIDADE E A CONSTRUÇÃO CIVIL
A indústria da construção civil deve ser levada em consideração se quisermos pensar em
sustentabilidade, já que consome 40% de toda a energia gerada e emite 40% de gases
poluentes (PORTO, 2009).
“A indústria da construção civil consome 50% dos recursos mundiais, convertendo-se em
uma das atividades menos sustentáveis do planeta. No entanto, nossa vida cotidiana
desenvolve-se em ambientes edificados: vivemos em casas, viajamos sobre estradas,
trabalhamos em escritórios e nos sociabilizamos em bares e restaurantes. A civilização
contemporânea depende de edificações para seu resguardo e sua existência, mas nosso
planeta não é capaz de continuar suprindo a atual demanda de recursos. Evidentemente,
algo deve ser mudado nesse aspecto, e os arquitetos e designers têm uma grande
responsabilidade nesse processo” (EDWARDS, 2008).
Com dados e números tão alarmantes em relação ao meio ambiente, a indústria global vem
trabalhando para oferecer materiais e recursos que revertam essa situação (PORTO, 2009).
“A construção sustentável deve levar em conta a proteção das águas, solo, clima,
vegetação, ecossistema local e regional, o espírito do lugar” (FUJIOKA, 2008).
Após a II Guerra Mundial, houve uma grande expansão das técnicas construtivas, e com o
combustível barato, pode-se então fazer utilização mais frequente da energia elétrica, por
exemplo. Houve então um grande aumento no consumo de energia (CORBELLA, 2003).
Ainda assim, os arquitetos modernistas brasileiros desde o início se preocuparam em
construir de acordo com as condições climáticas de nossa região, procurando aproveitar, na
arquitetura, os nossos recursos naturais (PORTO, 2009).
A partir da década de 70, nos vimos invadidos por prédios inadequados ao meio ambiente
(KAWAKAMI, 2008). Com a crise energética de 70, o petróleo aumentou os preços,
impulsionando, assim, a busca por novas formas de geração de energia (CORBELLA,
2003).
No Brasil, a partir dos anos 80, a questão ecológica na arquitetura se tornou mais forte. O
debate sobre o futuro da arquitetura brasileira nessa época passava a incluir, agora, o
respeito pelo contexto histórico, natural e geográfico e a tradição espacial e construtiva
regional (FUJIOKA, 2008).
“...agora todos estão preocupados em recuperar antigas questões, pensar na função do
edifício, além da forma” (KAWAKAMI, 2008).
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“Em tempo: chega-se ao consenso de que a arquitetura sustentável deve ser uma síntese
entre projeto, meio e tecnologia, considerando, ainda, aspectos econômicos, culturais e
sociais” (PORTO, 2009).
SELOS NO BRASIL E NO MUNDO
Muitos países criaram critérios para avaliar e guiar os projetos de edifícios. Selos de
certificação verde foram criados em vários países, como, por exemplo, o BREEAM (Building
Research Establishment’s Enviromental Assessment), no Reino Unido, O HQE (Haute
Qualité Environnmentale), na França, o GBTOOL e o Casbee, no Japão, e o LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design), nos Estados Unidos. No Brasil, o IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas), de São Paulo, e a UFSC, estão criando métodos no
Laboratório de Eficiência Energética das Edificações (Labeee) (PORTO, 2009).
O LEED é o selo mais reconhecido mundialmente na avaliação e certificação na indústria da
construção civil. Funciona como uma ferramenta para medir o quão sustentável é uma
construção. Possui classificações, podendo ser simples, prata, ouro ou platina. No Brasil
tem sido muito divulgado GBC.....(KAWAKAMI, 2008).
E é no setor comercial que há um maior investimento em relação ao desempenho ambiental
e eficiência energética (PORTO, 2009). Por isso, o LEED CI (para interiores corporativos)
pode ter grande importância para a implantação da sustentabilidade no Brasil.
O LEED CI, assim como os outros LEEDs, é feito por créditos e pré-requisitos como
espaços sustentáveis, que pretende fazer com que haja uma preocupação com o entorno,
eficiência e uso da água, para que esse recurso seja usado de maneira consciente, energia
e atmosfera, visando a diminuição do consumo excessivo de energia, qualidade do
ambiente interno, que visa um melhor conforto ambiental para os usuários, inovação e
processo de design, para novas ideias e, em uma análise mais profunda, materiais e
recursos (USGBC, 2004).
Os créditos e pré-requisitos de materiais e recursos beneficiam projetos que se preocupam
com aspectos como depósito e coleta de materiais recicláveis, construindo, assim, nos
usuários uma consciência ecológica, gestão de resíduos da construção, para que a obra em
si seja o mais limpa possível, com o mínimo desperdício, reuso de materiais e conteúdo
reciclado, buscando um controle no consumo de novos materiais, materiais regionais, o que
evita o transporte, materiais de rápida renovação , e uso de madeira certificada, o que evita
a destruição de nossas florestas (USGBC, 2004).
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O QUE QUALIFICA UM MATERIAL COMO SUSTENTÁVEL
Quando os materiais construtivos são escolhidos de maneira consciente, já é um grande
ponto de partida para que seja realizada uma arquitetura de baixo impacto humano e
ambiental (YEANG, 1999).
Devemos escolher o sistema construtivo buscando vantagens como mínima perda no
processo de construção, diferentes usos da edificação durante sua vida útil, além de
possibilidade e facilidade de reciclagem e reaproveitamento. Devemos levar em
consideração não apenas o custo, durabilidade, manutenção, entre outros fatores, como
normalmente era feito, mas pensar também nos aspectos ambientais (KRONKA, 2002).
Não apenas o método construtivo, mas os materiais utilizados tornam o projeto mais
adequado ao meio ambiente, e mais integrado com seu entorno (KRONKA, 1998).
Para que a escolha seja adequada, é preciso fazer uma análise dos materiais durante um
grande ciclo. Desde a extração de sua matéria-prima, a utilização no processo de
construção, até a fase final, na demolição do edifício, se é possível a reciclagem. O custo
disso tudo não é pago somente pelo cliente, mas também pelo usuário e meio ambiente
(RATHMANN, 1999).
No nosso sistema econômico, os materiais estão em um ciclo em linha reta, partindo da
matéria-prima, passando pelo processo de fabricação, até se tornarem produtos que irão
para o consumidor final. Muitas vezes não nos damos conta de que eles podem impactar o
meio ambiente (YEANG, 1999).
Devemos levar em consideração o impacto ambiental que está nos processos de extração,
transporte, utilização e demolição (KRONKA, 2002).
Pensando na fase inicial do material, a matéria-prima pura, devemos considerar, por
exemplo, se há na região da obra abundância do material que será empregado, para evitar
gastos de energia e emissão de CO2 com o seu transporte (LENGEN, 2008).
A empresa que irá produzir o material deve ter uma preocupação com a redução da poluição
da água, ar e solo (KRONKA, 2002).
Dar preferência aos materiais para que, ao serem extraídos, não causem um impacto
ecológico tão grande, é de grande importância (YEANG, 1999).
Nessa fase, podemos considerar também se o material de construção pode ser proveniente
de matérias-primas da região e se na comunidade há mão de obra disponível para trabalhar
esse material. Quando não há material local disponível, devemos levar em consideração
como será o transporte até o local da obra (LENGEN, 2008).
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A origem geográfica e certificada dos materiais empregados são fatores importantes a
serem considerados (FUJIOKA, 2008).
Fatores determinantes para a qualidade do material, levando em conta o processo de
fabricação, são: energia necessária para produzir o material, emissão de CO2 resultante da
fabricação do material e transporte durante sua fabricação até entrega ao sítio (ROAF,
2006).
Pensando agora no material já na obra, fatores determinantes para a sua escolha são:
toxicidade do material, manutenção necessária, se para ela é necessário gastar muito
dinheiro ou esforço, ou se precisa de materiais prejudiciais, como o material contribui para a
redução do impacto ambiental do edifício, ou seja, se ele auxilia no conforto interno do
projeto (ROAF, 2006 e LENGEN, 2008).
Outros fatores de grande importância são a vida útil e reciclagem do material. Alguns
materiais não se adaptam ao clima da região e por isso se desgastam mais rápido
(LENGEN, 2008). A flexibilidade do projeto para acompanhar mudanças de uso e o
potencial de reutilização do material empregado podem tornar uma obra mais sustentável
(ROAF, 2006).
A reciclagem só faz sentido se não demandar grande esforço para seu resultado final, ou
seja, grande gasto de energia (ROAF, 2006).
A seleção dos materiais deve levar em consideração seu potencial de reutilização e
reciclagem. Ao pensar no edifício, devemos pensar também nos objetivos em relação à
gestão de recursos de produtos. O objetivo final deve ser reduzir o impacto do edifício em
seu entorno. Para isso, reutilizar e reciclar são processos fundamentais. Ainda assim,
reutilizar é melhor que reciclar, já que exige menor esforço e gasto de energia. Materiais
procedentes de fontes não renováveis devem ainda mais ser reutilizados ou reciclados.
Tudo isso ajuda a reduzir a quantidade de energia embutida em um edifício (YEANG, 1999).
A energia embutida nos materiais considera seu custo energético de produção e transporte.
Trata-se da energia empregada na extração e transformação das matérias-primas, na
fabricação, no transporte e na construção (YEANG, 1999).
A energia embutida nos materiais é importante no impacto ambiental, pois ela define
aspectos como modo de extração, modo de produção e utilização. Porém, segundo Ken
Yeang, não apenas a energia embutida, mas especialmente a possibilidade de reutilização
do material, já que isso pode diminuir os níveis de energia embutida (YEANG, 1999).
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O transporte pode ser o fator de maior peso na análise de energia embutida dos materiais,
mais uma razão para dar preferência a materiais locais (COOK, 2001). Não só a distância,
mas também o peso e a facilidade de transporte influenciam nesse aspecto. (ROAF, 2006)
Para calcular o gasto de energia embutida, devem-se considerar todos os estágios nos
quais ela é utilizada para aquele material. Desde a extração, transporte, processo de
fabricação, transporte à obra e a utilizada durante a construção são energias a serem
consideradas (ROAF, 2006).
Quanto mais processos pelos quais o material tiver que passar durante sua fabricação,
maior será a energia embutida e os resíduos produzidos. Portanto, quanto mais próximos de
seus estados naturais, menos impactantes serão os materiais (ROAF, 2006).
Outra opção eficiente são os materiais naturais. Estes, segundo Brian Edwards, são
considerados saudáveis. Porém, por terem baixo desempenho técnico, muitas vezes os
arquitetos dão preferência aos industrializados. Hoje em dia, novas técnicas construtivas
estão permitindo o uso diversificado de materiais orgânicos como: derivados da terra, pedra,
madeira, entre outros (EDWARDS, 2008). Os materiais naturais têm baixa energia
embutida, baixa toxicidade e menor impacto ambiental (KRONKA, 2002).
Outro aspecto que pode ser considerado em relação à escolha dos materiais é o
desempenho térmico. Os materiais podem regular o desempenho térmico em um edifício,
influenciando, assim, no conforto ambiental. Conhecendo as propriedades térmicas dos
materiais e as leis básicas da transferência de calor, pode-se, então, escolher de maneira
mais consciente o melhor material a ser empregado em relação ao clima da região. Os que
permitem um controle no ganho de calor e dissipação da energia térmica interior podem
propiciar maior conforto térmico aos usuários (CORBELLAS e YANNAS, 2003).
Até mesmo a embalagem do material deve ser considerada; se é feita de componentes
recicláveis, por exemplo. Muito do lixo produzido é consequência da enorme quantidade de
embalagens. O emprego de embalagens recicláveis ou mesmo a não utilização destas pode
ser um fator importante (KRONKA, 2002).
Materiais biodegradáveis, ou seja, com capacidade de reabsorção e de decomposição de
seus componentes sem que se tornem tóxicos, podem ser um fator importante na
construção verde (KRONKA, 2002).
O material sustentável é aquele em que sua produção atende ou mesmo excede as
necessidades de consumo do meio (COOK, 2001).
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Enfim, tudo isso deve ser planejado para que tenha bons resultados. Para isso, a etapa do
projeto é fundamental para maior êxito nas reduções, pois é nela que são definidos os
materiais construtivos (KRONKA 2002).
Nosso planeta tem uma quantidade finita de recursos e materiais. O ritmo de consumo atual
não poderá ser atendido para sempre (YEANG, 1999).
OS MATERIAIS NO BRASIL
No Brasil há ainda uma certa dificuldade para se obter alguns tipos de materiais e até
mesmo serviços adequados às exigências de uma obra verde. Os fornecedores brasileiros
ainda precisam crescer muito no sentido de oferta. Mas isso depende também da procura
dos fornecedores. O aumento da demanda deve modificar esse cenário (KAWAKAMI, 2008).
Algumas barreiras ainda existem para a construção de greenbuildings no Brasil. Existe ainda
uma diferença grande entre a ABNT, norma brasileira, e as exigências do LEED, o que pode
prejudicar um projeto em alguns parâmetros de certificação (PORTO, 2009).
Apesar de os consumidores brasileiros se dizerem interessados na compra de produtos
verdes, a falta de oferta ou os altos preços muitas vezes assustam. “É fácil constatar, e as
pesquisas comprovam, que enquanto 52% dos consumidores estão dispostos a comprar
produtos de fabricantes que não agridem o meio ambiente, mesmo que sejam mais caros
(de acordo com pesquisa IBOPE, set/2007), 76% das empresas admitem que não
conhecem as preocupações de seus clientes com responsabilidade socioambiental” (dados
IBM, jan/2008) (fonte: SITE SELO SUSTENTAX).
MÉTODO
O mais importante no processo de pesquisa foi, primeiramente, tomar conhecimento num
âmbito geral do tema. Por ser uma questão pouco discutida e pouco conhecida, entender
melhor os seus aspectos gerais foi fundamental para desenvolvê-la melhor. Num primeiro
momento, palestras e aulas, com professores pesquisadores do assunto e pessoas que
trabalham no meio foram imprescindíveis para entender a sustentabilidade como tema,
como proposta e como realidade. A participação em congressos também foi importante para
ver a realidade brasileira e também do mundo. Livros que tratam da sustentabilidade como
um todo também foram essenciais.
Na metodologia inicial foi sugerida uma análise das características climáticas, sociais,
econômicas do Brasil para poder implementar a sustentabilidade aqui. Porém, antes disso é
importante entender o porquê estes dados influenciam na inserção do tema. O que os
materiais têm, que levam a esta discussão?
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Deixou de ser um foco a análise específica de cada material, mas sim a importância geral
deste assunto, o motivo pelo qual os materiais são tão importantes para a sustentabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uma discussão que tem se tornado cada vez mais constante no planeta é a preservação
ambiental. Uma área que foca muito esta questão é a sustentabilidade. Cuidar do lugar onde
vivemos para que tenhamos uma qualidade de vida melhor e preservá-lo para gerações
futuras deve ser um assunto a ser pensado, discutido e resolvido por todos. Ninguém está
isento da responsabilidade de tornar o planeta um lugar cada vez melhor. Com os recursos
finitos sendo cada vez mais utilizados, com problemas de poluição nas cidades,
desmatamento de florestas importantes para o planeta, efeito estufa, entre outros, a
consciência ambiental deve ser despertada nas pessoas enquanto ainda há tempo de
mudar esta realidade. Por isso, nossa responsabilidade é reverter esta situação, não
importando a área em que atuamos. Cada pessoa, em sua própria área, deve procurar fazer
algo para ajudar o planeta.
“A profissão também deve definir sua dimensão ética. A exigência de que a arquitetura
contribua para uma cidade sustentável em seus âmbitos social e ambiental cobra agora
responsabilidades dos arquitetos” (ROGERS, 2008).
Na arquitetura, a sustentabilidade tem sido um meio utilizado pelos profissionais da área
para fazer sua parte. Construções autossustentáveis, certificados verdes, são alguns dos
aspectos desse novo segmento da arquitetura. Porém, no Brasil, a sustentabilidade ainda é
pouco explorada na arquitetura, por falta de interesse ou por falta de conhecimento e
informação de estudantes e arquitetos. No futuro, não será possível imaginar
uma arquitetura separada das questões socioambientais. Por isso, desde já, devemos nos
informar e especializar nessa área.
Como resultado da pesquisa, entender cada aspecto que torna um material sustentável
pode deixar mais clara a diferença entre os bons e maus produtos oferecidos atualmente.
Para ser sustentável, um produto deve ter responsabilidade socioambiental. Como é de
nossa responsabilidade a escolha dos materiais de uma construção, saber identificar os
aspectos fundamentais para que um material não seja um choque para o meio ambiente é
de grande utilidade, especialmente na fase de projeto. Pude perceber também que é nessa
fase que será definido se a arquitetura será ou não sustentável. Um projeto bem planejado,
feito pensando em todas as etapas, desde a construção até o fim da vida útil do edifício,
está visando o bem-estar de nosso planeta.
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CRÍTICA
O Brasil é conhecido como um país com grande diversidade. Diversidade de cultura, de
etnias, de fauna e flora, de recursos. Temos florestas que oferecem matérias-primas
incríveis. Temos um clima agradável em todas as estações do ano. No clima quente-úmido
brasileiro, uma das características mais notáveis é a influencia da ventilação, que pode ser
bem aproveitada na arquitetura (HERTZ, 1998). Com tantos recursos naturais disponíveis,
ainda não sabemos aproveitá-los de maneira a não prejudicar a natureza.
Cada pessoa deve fazer sua parte, e a parte dos arquitetos pode ser feita com construções
verdes. Ainda em nosso meio, entre arquitetos, estudantes e professores, o assunto é pouco
discutido e aceito, sendo visto, muitas vezes, como um assunto que está na “moda”. Temos
que entender que isso tudo é uma questão de sobrevivência. A urgência da situação de
nosso planeta ainda não atingiu de maneira impactante a indústria da construção civil.
O impacto ambiental de nossas escolhas na construção de edifícios é um aspecto que
deveria ser óbvio, natural, e não motivo de propaganda, como ocorre com muitos edifícios
verdes brasileiros.
Apesar de ainda existirem poucas obras certificadas, há um trabalho crescente para que o
Brasil caminhe cada vez mais para a sustentabilidade.
“As políticas sustentáveis já estão colhendo frutos visíveis. Por trás desse sucesso, e com
determinação popular, a sustentabilidade poderia tornar-se a filosofia dominante da nossa
era. Desta forma, as cidades, habitat da humanidade, poderiam estar, uma vez mais, ligadas
com o ciclo da natureza. Cidades bonitas, seguras e igualitárias estão ao nosso alcance”
(ROGERS, 2008).
A oferta de materiais verdes no Brasil vem sendo crescente, porém devemos tomar
cuidados em nossas escolhas. Precisamos analisar os aspectos como impactos da extração
da matéria-prima, transporte, distância da obra, processo de fabricação, possibilidade de
reciclagem e reutilização, entre outros, para que a escolha do material seja correta. Não
podemos acreditar em qualquer propaganda. Como profissionais, temos a obrigação de
analisar a origem do “verde” de certo produto. Produtos verdes existem muitos, mas quais
são realmente confiáveis? Quais realmente não agridem o meio ambiente? Há uma grande
quantidade de aspectos a serem analisados, por isso não devemos nos contentar com
apenas um aspecto atendido. Cabe a nós fazer o julgamento, por meio de pesquisa e
informação, do que devemos ou não utilizar em nossas obras.
A construção civil não pode mais andar separada do meio ambiente. As construções devem
estar diretamente ligadas ao meio em que estão inseridas, de maneira que convivam
harmoniosamente.
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Selos verdes, a princípio, podem ser ótimos guias na compra verde, mas futuramente não
devemos mais nos preocupar em atender os créditos e pré-requisitos destes. Devem, a
cada dia, se tornar algo cotidiano para os arquitetos, parte fundamental de sua formação e
base de qualquer projeto de arquitetura.
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HERTZ, John – Ecotécnicas em arquitetura: como projetar nos trópicos úmidos do Brasil –
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www.selosustentax.com.br
Contato: stebehis@gmail.com; ricardo@rva.arq.br
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