Comentário bíblico: 23° Domingo do Tempo Comum - Ano A
- TEMA: "A DIFÍCIL ARTE DE SER JUSTO"
- LEITURAS BÍBLICAS (PERÍCOPES):
http://pt.slideshare.net/josejlima3/23-domingo-do-tempo-comum-ano-a-2014
- TEMAS E COMENTÁRIOS: AUTORIA: Pe. José; Bortolini, Roteiros Homiléticos, Anos A, B, C Festas e Solenidades, Editora Paulus, 3ª edição, 2007
- OUTROS:
http://www.dehonianos.org/portal/liturgia_dominical_ver.asp?liturgiaid=426
SOBRE LECIONÁRIOS:
- LUTERANOS: http://www.luteranos.com.br/conteudo/o-lecionario-ecumenico
- LECIONÁRIO PARA CRIANÇAS (Inglês/Espanhol): http://sermons4kids.com
- LECIONÁRIO COMUM REVISADO (Inglês):
http://www.lectionary.org/
http://www.commontexts.org/history/members.html ;
http://lectionary.library.vanderbilt.edu/
- ESPANHOL: http://www.isedet.edu.ar/publicaciones/eeh.htm (Less)
1. A DIFÍCIL ARTE DE SER JUSTO
Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 23° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. Os seguidores de Jesus se reúnem para celebrar juntos
a memória daquele que nos amou até às extremas conse-qüências
do amor: Jesus Cristo morto e ressuscitado, pre-sente
onde dois ou três se reúnem em seu nome. Os que se
reúnem em nome dele buscam criar e expressar relações
onde a única dívida a ser paga é a do amor, pois "amar é
obedecer à Lei com perfeição" (cf. 2ª leitura Rm 13,8-10).
À luz da Palavra de Deus, os seguidores de Jesus aprendem
a praticar a justiça do Reino na comunidade, fazendo de
tudo para salvar o irmão (cf. evangelho Mt 18,15-20), pois
a luta pela justiça é a carteira de identidade do profeta (cf.
1ª leitura Ez 33,7-9).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Ez 33,7-9): A luta pela justiça é questão de
vida ou morte
2. Os três versículos lidos na liturgia deste domingo fa-zem
parte de uma unidade maior dentro do livro de Eze-quiel
(caps. 33-39), cujo tema central é a ressurreição do
povo que sofre. De fato, Israel está no exílio e é lá que
Ezequiel se encontra com a missão de sustentar a esperan-ça
de seus compatriotas.
3. O início do cap. 33 marca nova etapa na vida do profe-ta,
a quem Deus estabeleceu como sentinela para a casa de
Israel (v. 7a). Trata-se de imagem bastante conhecida: a
sentinela devia ficar no alto da muralha da cidade e vigiar,
olhando ao redor e para o horizonte, a fim de alertar e pre-venir
a população diante dos possíveis perigos. Mas Eze-quiel
não é sentinela no sentido real do termo, pois nessa
época o povo estava exilado na Babilônia. Ele não é o
vigia que se posiciona sobre a muralha da cidade e espia o
horizonte; ao contrário, seu lugar é no meio do povo e é
daí que ele perscruta o horizonte da história, tornando-se,
dessa forma, anunciador da restauração do povo exilado.
4. Qual é a função do profeta? Sua tarefa é ser "a boca de
Deus", alguém que alerta em nome de Deus (v. 7b). Seu
papel é fortalecer a luta pela justiça e denunciar os respon-sáveis
pela injustiça. É deste último aspecto que falam os
vv. 8-9: o profeta não pode calar diante dos responsáveis
pela injustiça: "Se para o injusto eu digo: ‘Injusto, é certo
que você vai morrer’, se você não avisa o injusto para que
mude de comportamento, o injusto morrerá por causa de
sua própria culpa, mas é a você que eu pedirei contas do
sangue dele" (v. 8). A responsabilidade do profeta, portan-to,
está associada à causa da justiça, pois só esta será capaz
de devolver liberdade e vida ao povo. Em nação onde não
há justiça também não pode haver liberdade e vida.
5. A luta pela justiça é questão de vida ou morte. O pro-feta
não tem escolha: para salvar a vida terá que denunciar,
caso contrário não acontecerá a restauração do povo. Con-tudo,
ele não será responsável pela ruína do injusto quando
este, depois de ter sido desmascarado, não voltar atrás da
sua conduta: "Se você prevenir o injusto para que ele mude
de comportamento, e ele não mudar, ele morrerá por causa
de sua própria culpa, mas você terá salva a sua própria
vida" (v. 9). Disso tudo aprendemos que ser responsável
pela própria vida é ser responsável pela vida dos outros,
lutando a favor da justiça e contra as injustiças.
Evangelho (Mt 18,15-20): A justiça do Reino na comu-nidade
6. O tema que domina o evangelho de Mateus é o da
justiça do Reino como chave que cria sociedade e história
novas. É assim que o Reino vai acontecendo. Nesse evan-gelho
Jesus é apresentado como o Mestre que traz para
dentro de nossa sociedade e história ensinamento e prática
centrados na justiça que gera relações novas e, conseqüen-temente,
constrói um mundo novo (Reino). Todo o evange-lho
de Mateus é dominado pelas primeiras palavras que
marcam o programa de Jesus: "Devemos cumprir toda a
justiça" (3,15) e também o programa dos seus seguidores:
"Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e
dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do céu" (5,20);
"em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e sua justi-ça…"
(6,33a).
7. O capítulo 18 de Mateus — ao qual pertence o texto de
hoje — não foge à regra, procurando mostrar aos seguido-res
de Jesus como viver a justiça do Reino dentro da co-munidade,
sobretudo em situações difíceis, como no caso
de alguém cometer uma falta considerada grave. Isso nos
ajuda a colocar os pés no chão: nossas comunidades não
são feitas de pessoas perfeitas, e nem sempre a atitude que
tomamos diante dos erros dos outros é a mais adequada.
Qual o espírito que nos deverá orientar nessas ocasiões?
a. Fazer de tudo para ganhar o irmão (vv. 15-18)
8. O trecho de hoje é próprio de Mateus, e deve ser lido à
luz da parábola que o precede, ou seja, a do pastor que vai
procurar a ovelha que se perdeu, deixando as noventa e
nove nas montanhas (vv. 12-14). E assim chegamos ao
caso concreto: alguém da comunidade cometeu falta grave
contra seu irmão. Como reagir: fazendo-se de vítima? "Pôr
a boca no mundo" e denunciar o erro? A primeira atitude
— talvez a mais difícil — é a de perdoar e ir à procura de
quem errou na qualidade de quem já perdoou, a fim de
mostrar ao outro o erro e convidá-lo novamente a se rein-tegrar
na comunidade: "Se o seu irmão pecar, vá e mostre o
seu erro, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele lhe
der ouvidos, você ganhou o seu irmão" (v. 13). Mas há um
detalhe: ganhar para quem? Para si? Não. O irmão não
precisa ser ganho para si, mas para a comunidade. Por que
não ganhá-lo para si? Porque quem ofendeu a um membro
da comunidade rompeu, de certa forma, com a comunidade
enquanto um todo.
9. Suponhamos que isso não dê resultados. Tudo perdi-do?
Não. A justiça do Reino não se cansa, como o pastor
que procura a ovelha perdida, e tenta outra forma de apro-ximar
quem errou: "Se ele não lhe der ouvidos, tome con-sigo
mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão
seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas"
(v. 16). À primeira vista tem-se a impressão de que estarí-amos
fazendo um cerco em torno de quem errou. Mas isso
pode ser visto sob a ótica da justiça do Reino que tem co-mo
princípio fazer de tudo para que o irmão não se perca.
2. 10. E se isso não der certo? Aí toda a comunidade — que
até agora não tomou conhecimento do erro — é chamada a
se pronunciar: "Caso não der ouvidos, comunique à Igreja"
(v. 17a). E se também isso não der certo? Somente aí, isto
é, depois de esgotados todos os recursos, depois de ter
dado a quem errou a chance de ouvir o parecer de toda a
comunidade (e depois que a comunidade inteira ouviu o
que o outro tem a dizer) é que a pessoa, por decisão de
todos, é excluída: "Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos,
seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de
impostos" (v. 17b). Mesmo nesse caso a comunidade deve
manter-se em atitude prudente pois, em outros lugares,
Jesus se declarou "amigo dos cobradores de impostos" (cf.
11,19). Trata-se de exclusão da comunidade a fim de que a
pessoa se arrependa e volte a ela.
11. Disso tudo deduzimos que, antes de condenar ou ex-cluir
alguém, é preciso ter aprendido o que é a justiça do
Reino. E ter consciência de que os passos aconselhados por
Jesus não são normas rígidas, e sim um modo de agir que
tempera de justiça as relações entre pessoas. Em outras
palavras, é preciso ser criativos no esforço de recuperar
quem erra e se afasta da comunidade. E o espírito que ani-ma
essa tarefa não é o da exclusão, mas da busca para
reintegrar.
12. Em Mt 16,18 Jesus confiara a Pedro a tarefa de ligar e
desligar. Aqui, no v. 18, essa missão é confiada à comuni-dade
como um todo. Sinal de que Pedro, em 16,18, é figura
representativa de toda a comunidade dos seguidores de
Jesus. Ligar e desligar são termos jurídicos e atribuições da
comunidade inteira: "Tudo o que vocês ligarem na terra
será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra
será desligado no céu" (v. 18). Aqui também cabe um
questionamento sobre o que é mais importante para a co-munidade,
se a faculdade de excluir pessoas ou a capaci-dade
de integrá-las. Claro está que, de acordo com o cap.
18 de Mateus — que está na linha do "perdoa as nossas
dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores"
(6,12) — a comunidade é chamada a exercer mais a mise-ricórdia
do que a aplicação do rigor da lei.
b. Em comunidade, na oração e em nome de Jesus (vv. 19-
20)
13. Os vv. 19-20 são normalmente vistos como tema à
parte. De acordo com alguns estudiosos, todavia, eles con-tinuam
e ampliam o significado dos versículos anteriores.
Tomar decisão de incluir ou excluir pessoas da comunida-de
não é tarefa fácil, como pretendiam e faziam os chefes
de sinagoga daquele tempo. De fato, sutilmente ressoa aqui
a advertência de Jesus: "Se a justiça de vocês não superar a
dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no
Reino do Céu" (5,20). O que fazer, então? Jesus dá algu-mas
indicações, que passam pela necessidade de as pessoas
se reunirem em nome dele, a fim de, mediante a oração,
chegar a um consenso: "Se dois de vocês estiverem de
acordo na terra sobre qualquer coisa (isto é, sobre qualquer
tipo de litígio) que queiram pedir, isto lhes será concedido
por meu Pai que está no céu. Pois onde dois ou três estive-rem
reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles"
(vv. 19-20).
2ª leitura (Rm 13,8-10): Tarefa sem limites
14. Rm 12,1-15,13 trata do modo como os seguidores de
Jesus agem na sociedade. Os três versículos de hoje são
marcados pelo tema do amor enquanto cumprimento da
Lei (vv. 8b.10b). O amor é a raiz de tudo o que deve ser
feito e o modo pelo qual tudo deve ser feito. Paulo sintetiza
isso com uma frase lapidar: "Não tenham nenhuma dívida
para com ninguém, a não ser a de se amarem uns aos ou-tros"
(v. 8a). Diante disso a gente se pergunta: essa dívida
que contraímos com nosso próximo é pagável ou impagá-vel?
Temos crédito ou débito? A resposta a essa questão
fica mais clara à luz do tema central da carta aos Romanos.
E o tema central é este: a humanidade toda tinha, em rela-ção
a Deus, uma dívida que jamais poderia saldar, pois o
ser humano não reunia condições para se salvar ou se justi-ficar
por força própria ou em vista de seus méritos. Diante
disso, Deus intervém com a grande novidade: ele anistia a
humanidade inteira, salvando-a em Cristo Jesus, morto e
ressuscitado. Para a humanidade não resta senão um gesto
capaz de responder a esse amor inesperado e extraordiná-rio,
ou seja, acreditar em Jesus e procurar responder, com a
mesma intensidade, ao amor que ele manifestou.
15. Paulo sabe disso e mostra em que consiste amar a Deus
e a seu Filho Jesus: "Quem ama o próximo cumpriu a Lei.
De fato, os mandamentos: Não cometerás adultério, não
matarás, não furtarás, não cobiçarás, e todos os outros,
estão resumidos nesta palavra: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo" (vv. 8b-9). Note-se que, em todo esse trecho,
não se menciona Deus. Tem-se a impressão de que esteja
faltando algo, mas não está, porque não há muitas formas
de amarmos a Deus; aliás, há uma só, que é amando o pró-ximo,
cada pessoa, do jeito que ela é, pois sabemos que
ninguém escolhe o próximo para amá-lo. Ele simplesmente
se apresenta como dom de Deus e também como desafio à
nossa capacidade de amar. Nesse sentido, todos somos
devedores de uma dívida impagável, a não ser que sejamos
capazes de gestos gratuitos como os de Jesus, que se entre-gou
totalmente por amor.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
16. A luta pela justiça é questão de vida ou morte. Foi o que aprendemos de Ezequiel (Ez 33,7-9),
profeta que sentiu de perto os anseios de sua gente e intuiu caminhos que conduzissem à restauração
do povo. Quais são os maiores anseios do povo hoje?
17. A justiça do Reino na comunidade. O evangelho (Mt 18,15-20) nos pergunta se fazemos tudo
o que é possível para recuperar as pessoas que erram. Pergunta-nos também o que é mais importante:
a aplicação rigorosa da lei ou o exercício da misericórdia? O que é mais fácil para as comunidades:
excluir pessoas ou integrá-las? Quando é que nos alegramos mais: ao excluir pessoas da comunidade
ou ao reintegrá-las? Quais os critérios que deveriam nos orientar na escolha de quem eleger?
18. Tarefa sem limites. Paulo nos alerta sobre a dívida impagável que temos com nosso próximo: O a-mor.
(Rm 13,8-10).