O documento discute como os cristãos podem ser aliados de Deus para construir uma sociedade justa. A primeira leitura de Isaías fala sobre o jejum que agrada a Deus, que envolve compartilhar com os necessitados. O evangelho de Mateus descreve os cristãos como o sal e a luz do mundo. A segunda leitura de Paulo diz que ele anunciou Jesus crucificado de forma humilde aos pobres de Corinto.
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
ALIADOS DE DEUS PARA UMA NOVA SOCIEDADE
1. ALIADOS DE DEUS PARA UM MUNDO NOVO
BORTOLINE, Pe. José – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades – Paulus, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 5° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
(v. 7). Notemos que não se trata de produzir pão para
os que têm fome, nem de construir casas para os semteto. O profeta insiste para que cada um dê, reparta o
próprio pão e acolha em sua casa os que não têm moradia. Que sentido teria isso para os sem-terra e os
sem-teto?
As comunidades cristãs se reúnem para celebrar a
fé no Deus da vida. Somos seus aliados na construção
de nova sociedade na qual a justiça tempera e ilumina
nossas relações. Como Paulo, sentimo-nos cheios de
fraqueza e temor. A expressão da nossa fé não é discurso teórico, mas experiência do Deus que vai cons- 9. Deus não pede nada para si, nem se contenta com
truindo conosco a história com seu poder e com o celebrações pomposas. Ele quer que seu povo não
poder do Espírito Santo.
repita as estruturas injustas do exílio, onde muitos
serviam a poucos. Culto separado da justiça social não
4.
A Eucaristia é nossa grande aula: Deus partilha
funciona. A solução é a partilha dos bens (pão e casa)
conosco sua vida, para que aprendamos a dar nosso
com os que deles foram privados. "Então chamarás e o
pão a quem tem fome e abrigar em nossa casa o que
Senhor te escutará, gritarás por socorro e ele dirá ‘Esnão tem onde morar. Se aprendermos isso, seremos o
tou aqui!’ "
sal da terra e a luz do mundo, nossas ações brilharão e
10.
Os vv. 8-9a.10b comparam a justiça social à luz
todos irão louvar o Pai que está no céu.
do sol que desponta. A partilha é a transfiguração da
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
pessoa, o brilho do próprio Deus, que se torna presen1ª leitura (Is 58,7-10): O jejum que agrada a Deus te onde nascem formas novas de entender as relações
5.
O capítulo 58 de Isaías é um oráculo nascido no sociais, exatamente como Deus planejou em seu projetempo em que o povo de Deus já havia encontrado to de vida e liberdade para todos: "Diante de ti maruma forma de se estruturar, depois que os exilados chará a tua justiça e a glória do Senhor te seguirá…
retornaram à pátria. Lido por inteiro, o capítulo mostra Então brilhará tua luz nas trevas, e tua escuridão se
que a comunidade tinha um culto organizado, do qual mudará em plena luz do meio-dia".
3.
o povo participava com boa vontade, sem contudo ver
os resultados: "Por que jejuamos e tu não vês? Fizemos mortificações e tu não tomas conhecimento?" (v.
3a). É provável que o profeta tenha denunciado a esterilidade do jejum justamente durante uma assembléia
popular. Por que Deus parece insensível ao clamor do
povo? "O motivo é este: no próprio dia do jejum, vocês correm atrás dos negócios e exploram os trabalhadores" (v. 3b).
Evangelho (Mt 5,13-16): Os aliados de Deus
Mt 5,13-16 é continuação do Sermão da Montanha, a nova constituição do povo de Deus. Por meio
de Jesus, o Pai se dá a conhecer como aliado dos pobres e perseguidos por causa da justiça, confiando-lhes
o Reino do Céu (cf. evangelho do domingo passado).
Os destinatários deste evangelho continuam sendo as
multidões e os discípulos (5,1). Jesus utilizou dois
símbolos — sal e luz — para falar da seriedade que
6.
De nada adianta jejuar quando o jejum acoberta envolve esse compromisso.
injustiças. Seria uma tentativa grosseira de cooptar o
a. Parceiros responsáveis de Deus (v. 13)
próprio Deus. O que fazer então? Onde encontrar
Deus? Como tornar possível sua resposta?
12.
O sal lembra muitas coisas. O povo da Bíblia não
o via como simples tempero, como fazemos nós. Da7.
O profeta não deixa dúvidas: encontra-se Deus no
va-lhe grande valor enquanto elemento que purifica e
sofrimento dos outros. Ele não pede que as pessoas se
dá sabor (Jó 6,6). Nesse sentido, era sinônimo de força
aflijam, mas que sintam a aflição dos que passam fotransformadora. Alguns recolhiam pedaços de sal brume, não têm onde morar, não têm o que vestir. O jeto às margens do mar Morto, e com eles avivavam o
jum não é uma dieta ou uma fome de poucas horas,
fogo caseiro. O sal, portanto, significava preservação,
mas é a solidariedade com os famintos de vida, liberalgo que ajuda a manter acesa a chama vital para as
dade e dignidade. Jejum autêntico é sentir aquela fome
pessoas. Com o sal, o povo da Bíblia costumava esque só os privados dos bens da vida experimentam.
fregar os bebês quando nasciam (cf. Ez 16,4), além de
Quem passa fome não quer somente um lanche para
salgar os sacrifícios oferecidos no Templo (cf. Ex
enganar o estômago; quer, isso sim, condições que lhe
30,35; Lv 2,13). Ao selar alianças, os antigos costupermitam viver.
mavam comer sal como forma de compromisso perene
8.
Deus não dá atenção ao jejum dos repatriados, entre aliados. E no livro dos Números (18,19) enconnem o aprova. O jejum que lhe agrada é este: "Reparte tramos a expressão "aliança de sal": ela recorda que
o teu pão com o faminto, acolhe em tua casa os indi- entre Deus e seu povo há um pacto indestrutível, que
gentes e desabrigados! Quando vires uma pessoa sem compromete Deus e o povo numa causa comum a
roupa, veste-a, e não te recuses a ajudar o próximo!" serviço da justiça, da liberdade e da vida.
11.
2. No Sermão da Montanha Jesus confiou o Reino
aos pobres em espírito e aos perseguidos por causa da
justiça (5,3.10). Agora ele diz a seus discípulos: "Vocês são o sal da terra". Em outras palavras, eles são os
aliados de Deus para a construção do Reino de justiça.
(Não nos esqueçamos que, em Mateus, Jesus é o Mestre da Justiça.) Pelo que consta, o sal jamais perde seu
sabor. Mas os que seguem a Jesus podem, a certo
momento, omitir-se na luta pela justiça que dá expressão ao Reino: "Se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada, serve só
para ser jogado fora e ser pisado pelas pessoas". Grave
alerta para todas as comunidades!
13.
b. A glória de Deus resplandece nas comunidades
(vv. 14-16)
obras que vocês fazem, e louvem o Pai que está no
céu" (v. 16).
Comparados ao sal, os aliados de Deus eram alertados contra a omissão. Comparados à luz, contra a
presunção e a idolatria: é justo que a prática da justiça
seja divulgada, mas o louvor pertence unicamente a
Deus, autor do projeto de vida e liberdade para todos.
17.
2ª leitura (1Cor 2,1-5): A força que vem dos fracos
Paulo fundou a comunidade de Corinto depois de
ter passado por Atenas, onde se confrontou com a elite
intelectual, decepcionando-a e decepcionando-se com
ela. Se dermos crédito à forma como ele agiu e falou
no Areópago segundo os Atos dos Apóstolos (17,1634), podemos afirmar que, a partir de Corinto, nasce
um novo perfil de evangelizador e um novo modo de
ser Igreja. De fato, ao chegar a essa cidade, Paulo abandona a oratória, trabalha para ganhar seu pão e
forma comunidade com os pobres, anunciando-lhes o
Evangelho de Jesus Cristo (cf. 2ª leitura do domingo
passado). Atitude bem diferente da maioria de pregadores itinerantes daquele tempo que conseguiam adeptos à custa da lábia, fazendo-se depois sustentar por
eles. Paulo encontrou o lugar social certo para anunciar Jesus Cristo entre os pobres e marginalizados da
cidade, os trabalhadores dos cais, mão-de-obra barata
ou gratuita.
18.
No evangelho de João, Jesus declara: "Enquanto
estou no mundo, eu sou a luz do mundo" (9,5). No
evangelho de Mateus temos esta afirmação: "Vocês
são a luz do mundo". Para o povo da Bíblia, a luz recorda o primeiro ato do Criador (cf. Gn 1,3), momento
a partir do qual foi desencadeado o processo de harmonia do universo. Por isso as mães judias celebravam, ao cair da tarde, o rito da luz, ao acender a lâmpada que marcava o início do sábado, cercada dos
filhos mais novos e recitando extensa oração. Essa
lâmpada "faz o céu descer em todas as casas dos judeus, enchendo-as de uma paz há muito esperada e
saudada com alegria; fazendo de cada casa um santuá- 19. Mais tarde, escrevendo à comunidade por ele
rio, do pai um sacerdote, e da mãe que acende as velas fundada, recorda-lhe os inícios, o modo como se apresentou "cheio de fraqueza e tremendo de medo" (v. 3),
um anjo de luz" (A. E. Millgram).
sem usar os artifícios da oratória ou da sabedoria hu15.
O Servo de Javé será "luz das nações" (Is 42,6), e
mana (vv. 1.4), recursos tidos como indispensáveis
a própria Lei é chamada de luz. Em Is 60,1-3 Jerusapelos mestres da sabedoria da época.
lém é convidada a se levantar e resplandecer, porque
chegou sua luz e a glória de Javé desponta sobre a 20. Por que Paulo e, mais do que ele, a pessoa de
cidade. À luz de Jerusalém caminharão todas as na- Jesus crucificado, foram aceitos por essa gente, ao
contrário do que aconteceu em Atenas? A resposta é
ções.
muito simples: é que Paulo anunciava Jesus Cristo
16.
Para Jesus, a nova cidade-sociedade são os pobres
crucificado (v. 2) para pessoas que também estavam
em espírito e os perseguidos por causa da justiça que
sendo crucificadas. Só quem passou ou está passando
brilha para todos ("luz do mundo"). Mais ainda: os
por essa experiência compreende quem é Deus, e a ele
destinatários das bem-aventuranças são filhos da luz, a
se entrega, porque da morte de Jesus crucificado veio
cidade que resplandece na noite escura, esplendor da
a ressurreição e a vida nova. A sabedoria humana não
glória de Deus, seus aliados aos quais é confiado o
entende nem aceita isso. Esta é, porém, a força que
Reino de justiça: "Assim também, que a luz de vocês
vem dos fracos, o poder de Deus e do seu Espírito,
brilhe diante das pessoas, para que elas vejam as boas
agindo em Paulo e na comunidade de Corinto.
14.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O jejum que agrada a Deus. Não existe culto a Deus separado da justiça social.
Isaías nos convida a experimentar Deus a partir dos sofrimentos humanos. Onde poderemos encontrá-lo hoje?
21.
22.
Os aliados de Deus. Jesus escolheu o sal e a luz para falar da aliança que compromete Deus e as pessoas. Quando nossas comunidades foram sal e luz para o mundo?
(Sugestão: trabalhar com símbolos que traduzem as lutas e vitórias das comunidades em
favor da justiça.)
A força que vem dos fracos. Confrontar as comunidades e seus agentes de pastoral
com os cristãos de Corinto e a atitude de Paulo.
23.