1. TORRES VEDRAS
Enquadramento Geográfico
Torres Vedras é um município de Portugal, administrativamente integrado no distrito de Lisboa e
pertencente à NUTSI Continente, NUTSII Centro e NUTSIII Oeste, sendo delimitado a norte pelo município da
Lourinhã, a nordeste pelo do Cadaval, a este por Alenquer, a sudeste por Sobral de Monte Agraço, a sul por
Mafra e a oeste pelo Oceano Atlântico. Possui uma população residente de 79465 habitantes, de acordo com
os Censos 2011, e uma superfície total de 407,15 Km2, contribuindo para uma densidade populacional 195
hab./Km2. Desde 2013, após a reforma administrativa, que o município de Torres Vedras é subdividido em 13
freguesias: União das Freguesias de A dos Cunhados e Maceira; Silveira; São Pedro da Cadeira; Freiria;
Ventosa; Ponte do Rol; Santa Maria, São Pedro e Matacães; Turcifal; União das Freguesias de Dois Portos e
Runa; União das Freguesias de Carvoeira e Carmões; União das Freguesias de Maxial e Monte Redondo;
Ramalhal; e União das Freguesias de Campelos e Outeiro da Cabeça.
Meio Natural
Localizado no litoral, o município de Torres Vedras apresenta um clima mediterrânico com forte
influência marítima, principalmente no território das freguesias do litoral, o que se traduz em temperaturas
relativamente amenas, tanto de Verão como de Inverno, e precipitação moderada. As normais climatológicas
da estação do Vimeiro para o período de 1961 – 1990 revelam uma temperatura média anual de 14,8ºC e uma
precipitação total anual de 656 mm. A posição central do território do município em relação ao país faz com a
feição mediterrânica do clima esteja presente, embora não seja tão evidente como noutras regiões mais
meridionais do país, fruto da proximidade do Oceano Atlântico. Os Verões são amenos, em parte devido à
nortada que o território do município sofre, sendo desencadeada pela interacção entre o Anticiclone dos Açores
e uma depressão térmica localizada no centro da Península Ibérica (na sequência do elevado aquecimento),
provocando um forte vento de norte e que é responsável pelo fenómeno marítimo denominado por
upwelling – a nortada faz mover as águas do mar mais quentes à superfície e possibilita a ascensão de água
mais fria das profundidades, arrefecendo o ar próximo da costa e com grande valor de humidade trazida pelo
mar, o que está na origem dos nevoeiros na costa durante o período estival. A função moderadora do
oceano no clima também se verifica de Inverno, evitando que as temperaturas desçam a baixos valores e
assim a ocorrência de geadas.
No que toca ao relevo, o município de Torres Vedras apresenta-se “ondulado”, com algumas formas de
relevo antigas e fortemente sujeitas ao processo erosivo, o que é visível através de cumes “arredondados”.
No sector sudeste do território municipal situa-se a sua área mais acidentada. A altitude varia entre os 0
e os 395 metros da Serra do Socorro, na extremidade sul do território municipal. A linha de costa do
município apresenta cerca de 20 Km, maioritariamente de arribas, começando a norte na Praia do Valmitão
(União das Freguesias de A dos Cunhados e Maceira) e tendo o término a sul na Praia da Assenta (Freguesia
de São Pedro da Cadeira).
Em relação à rede hidrográfica, o município de Torres Vedras não é banhado por cursos de água de
grande dimensão, no entanto será pertinente salientar os rios Alcabrichel e Sizandro. O último apresenta
uma extensão de cerca de 35 Km e desagua nas proximidades da Praia Azul, depois de atravessar a área
urbana de Torres Vedras. Os terrenos localizados nas margens dos rios Alcabrichel e Sizandro são férteis
e por isso alvo do aproveitamento agrícola.
2. População
Os Censos 2011 indicaram uma população residente no município de Torres Vedras de 79465 habitantes,
repartidos de forma desigual pelas 13 freguesias, sendo que as freguesias do litoral e a freguesia que
alberga a sede de município – Santa Maria, São Pedro e Matacães – concentram a maior parte da população.
Freguesia População
Santa Maria, São Pedro e Matacães 25717
União das Freguesias de A dos Cunhados e
Maceira
10391
Silveira 8530
Ventosa 5276
São Pedro da Cadeira 5077
União das Freguesias de Campelos e Outeiro da
Cabeça
3667
União das Freguesias de Maxial e Monte Redondo 3546
Ramalhal 3472
Turcifal 3342
União das Freguesias de Dois Portos e Runa 3128
Freiria 2461
Ponte do Rol 2444
União das Freguesias de Carvoeira e Carmões 2414
TORRES VEDRAS 79465
A população do município de Torres Vedras tem registado acréscimos relativamente constantes ao longo
do último século, salvo alguns períodos, designadamente na década de 1960 em função do maior surto
migratório da história do país. Nos últimos anos, a tendência de decréscimo da população em Portugal não
tem sido acompanhada em Torres Vedras, na medida em que a taxa de crescimento efectivo do município
permanece em valores positivos, sendo um dos 46 municípios em Portugal em situação de aumento
populacional, de acordo com as estimativas anuais do INE referentes a 2015.
Ano/Censos População
1864 24268
1878 27746
1890 32269
1900 35726
1911 38993
1920 41790
1930 47917
1940 52143
1950 56514
1960 58837
1970 56814
1981 65039
1991 67185
2001 72250
2011 79465
3. Torres Vedras Portugal
Taxa de natalidade 8,3‰ 8,3‰
Taxa de mortalidade 11,3‰ 10,5‰
Taxa de crescimento natural -0,30% -0,22%
Saldo migratório 294 -10491
Taxa de crescimento efectivo 0,07% -0,32%
Índice de envelhecimento 140,1 146,5
Torres Vedras revela uma situação pior comparativamente a Portugal em relação ao crescimento natural,
por outro lado há uma compensação pela via do saldo migratório positivo, contribuindo para que se registe
um ligeiro aumento da população no município de Torres Vedras. O município apresenta um índice de
envelhecimento bastante elevado, ainda que ligeiramente inferior à média nacional.
Povoamento e Rede Urbana
O povoamento no município de Torres Vedras apresenta-se disperso, através da existência de um grande
número de aldeias e casais, geralmente de pequena dimensão, espalhados pelo território municipal. Os
estudos do Plano Director Municipal (PDM) em vigor estabelecem uma hierarquia de perímetros urbanos no
município, sendo que ao primeiro nível corresponde a cidade de Torres Vedras – sede de município e o
único lugar com estatuto de cidade – ocupando uma posição geográfica central no território municipal. A cidade
de Torres Vedras possui 17837 habitantes (22% da população do município) e a sua área de influência
extravasa os limites administrativos do município, estendendo-se aos municípios vizinhos do Oeste e da
Área Metropolitana de Lisboa. A cidade de Torres Vedras revela uma área de influência que cobre cerca
de 140 mil habitantes para funções especializadas, o que a coloca em 24º lugar a nível nacional (INE, 2004).
Entre as funções que se encontram presentes na cidade de Torres Vedras destacam-se os serviços
administrativos municipais e regionais, hospital, estabelecimentos de ensino secundário e superior,
bancos e grandes superfícies comerciais. O segundo nível da hierarquia é preenchido pela maior parte
das sedes de freguesias e por Santa Cruz, que, pese embora não ser sede de freguesia e encontrar-se
repartida entre a União das Freguesias de A dos Cunhados e Maceira e a Silveira, é considerada um perímetro
urbano de segundo nível em função do seu dinamismo turístico. Neste segundo nível, destaque ainda para os
lugares com estatuto de vila no município de Torres Vedras – Campelos, A dos Cunhados e Turcifal. Os
restantes níveis correspondem a aldeias e outros lugares de menor dimensão dispersos pelo município.
Nível I Torres Vedras
Nível II
Maceira, A dos Cunhados, Santa Cruz, Silveira, São
Pedro da Cadeira, Freiria, Ventosa, Ponte do Rol,
Portela da Vila, Turcifal, Dois Portos, Runa, Maxial,
Ramalhal, Campelos e Outeiro da Cabeça
Nível III
Quinta da Piedade, Sobreiro Curvo, Paradas,
Boavista, Bombardeira, Póvoa de Penafirme,
Palhagueiras, Casalinhos de Alfaiata, Coutada,
Cambelas, Escravilheira, Assenta, Chãos,
Fernandino, Arneiros, Pedra, Bonabal, Bordinheira,
Gondruzeira, Fonte Grada, Paúl, Varatojo, Sarge,
Matacães, Ribeira de Pedrulhos, Serra da Vila,
Freixofeira, Furadouro, Caixaria, São Domingos de
Carmões, Carreiras, Carvoeira, Monte Redondo,
Ereira, Ameal, Vila Facaia e Cabeça Gorda
4. Transportes
A rede rodoviária no município de Torres Vedras é estruturada pela Auto-estrada A8, que corresponde a
um dos troços do Itinerário Complementar 1. Existem diversas estradas nacionais que atravessam o
território do município, designadamente a EN8, EN9, EN115, EN247, EN248 e EN374. Num nível hierárquico
inferior, surge a rede rodoviária municipal, que totaliza 88 vias, cobrindo as áreas do território onde não
chegam as estradas nacionais e contribuindo para a redundância da rede rodoviária no ponto de vista da
acessibilidade aos diversos lugares dispersos pelo município de Torres Vedras. No que diz respeito à rede
ferroviária, esta é constituída pela Linha do Oeste, uma infra-estrutura que atravessa o território municipal em
sentido longitudinal, com início em Agualva-Cacém e término na Figueira da Foz. Trata-se uma linha ferroviária
única e não electrificada. O município de Torres Vedras conta com seis estações ferroviárias: Outeiro da
Cabeça, Ramalhal, Torres Vedras, Runa, Dois Portos e Feliteira.
Em relação aos serviços de transporte rodoviário de passageiros, estes são assegurados por operadoras
pertencentes ao Grupo Barraqueiro, nomeadamente a Barraqueiro Oeste, que possui um conjunto de
carreiras intra-concelhias e inter-concelhias, centralizadas na cidade de Torres Vedras através de uma
lógica de hub and spoke, totalizando-se 22 carreiras com origem ou destino na sede de município. As
ligações interurbanas são realizadas entre a cidade de Torres Vedras e a capital, através de uma ligação
directa de 40 minutos via A8, efectuada pela Barraqueiro Oeste, com elevadas frequências nos períodos
de ponta, respondendo a uma procura de deslocações pendulares com destino a Lisboa, sobretudo
composta por estudantes e trabalhadores do sector terciário. As operadoras Mafrense, Boa Viagem e
Rodoviária do Oeste também garantem ligações interurbanas entre Torres Vedras e as sedes dos
municípios limítrofes, designadamente Mafra (operadas pela Mafrense), Sobral de Monte Agraço, Arruda dos
Vinhos, Alenquer, Vila Franca de Xira (operadas pela Boa Viagem), Lourinhã, Bombarral e Peniche (operadas
pela Rodoviária do Oeste). A cidade de Torres Vedras conta com carreiras urbanas, através das Linhas
dos Transportes Urbanos de Torres – TUT – cujo serviço é prestado pela Barraqueiro Oeste,
funcionando a Câmara Municipal de Torres Vedras como autoridade de transportes nestas carreiras
urbanas. Existem quatro Linhas dos TUT, todas elas com origem no terminal rodoviário e com destino a
um dos bairros da cidade ou lugares na sua envolvência imediata: Linha Azul – Hilarião; Linha Vermelha –
Sarge; Linha Verde – Paúl; Linha Amarela – Sanatório. Existem ainda 53 licenças de táxis em todo o
município de Torres Vedras.
No que toca aos serviços de transporte ferroviário de passageiros, conta-se unicamente o Regional da CP
(Comboios de Portugal) entre Lisboa e Caldas da Rainha, com baixas frequências e uma reduzida
velocidade comercial, pelo que se torna pouco competitivo face ao transporte rodoviário.
Em matéria de modos activos, destaque para o sistema de bicicletas partilhas presente na cidade de Torres
Vedras – Agostinhas – que conta com 11 bike stations espalhadas pela cidade, ainda que careça de pistas
cicláveis, pelo que as bicicletas são obrigadas a partilhar o mesmo espaço que os automóveis.
A análise aos movimentos pendulares revela que 13% da população residente do município de Torres
Vedras desloca-se diariamente para fora do município e que a duração média dos movimentos
pendulares situa-se nos 20,2 minutos (INE, 2011).
5. Actividades Económicas e Desenvolvimento
A agricultura é uma importante actividade na economia do município de Torres Vedras, sendo que a
Superfície Agrícola Utilizada – SAU - representa 52% do território municipal. A vinha representa 45% da
SAU, sendo Torres Vedras o município português com maior produção de vinho a nível nacional, embora
o município seja também referência na produção de hortícolas. A produção de hortícolas é feita,
sobretudo, em estufas, que estão esmagadoramente concentradas na Freguesia da Silveira e na União das
Freguesias de A dos Cunhados e Maceira. A importância da produção de pêra-rocha aumentou nas últimas
décadas, encontrando-se Torres Vedras no conjunto dos 5 municípios portugueses com maior produção desta
fruta, com mais de 1000 hectares de cultivo. Muitos dos produtos agrícolas são comercializados pelos
produtores no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL). A exploração florestal merce também
destaque, nomeadamente nas freguesias mais setentrionais do município, onde se encontra a sua maior
área florestal, dominada pelo eucalipto e pinheiro. No sector industrial, as indústrias alimentares e as
cerâmicas surgem como os ramos mais relevantes.
Nas últimas décadas, com a evolução das sociedades humanas, deu-se a crescente importância do sector
terciário, no qual o comércio a retalho assume uma preponderância económica no município de Torres
Vedras. No comércio, ramos como máquinas agrícolas e industriais, produtos químicos e produtos
alimentares merecem uma referência, o que reflecte a realidade agrícola presente no município.
É de notar o dinamismo económico presente em Torres Vedras, nomeadamente a partir das empresas
“Gazela”, que são empresas recentes e que revelam um elevado ritmo de crescimento, contando-se 5 empresas
desta categoria no município em 2016, colocando-o em 2º lugar na Região Centro (apenas atrás de Coimbra).
Apesar disso, Torres Vedras apresenta um PIB Per Capita inferior à média nacional, registando 94% do
valor de Portugal, o 3º valor mais elevado do Oeste. Por outro lado, Torres Vedras contribui em 0,7% para o PIB
nacional, surgindo como o município do Oeste com maior criação de riqueza, de acordo com os dados do
INE referentes a 2014. A repartição da população empregada por sectores de actividade económica faz-se do
seguinte modo: 6% no sector primário, 27% no sector secundário e 67% no sector terciário (Pordata, 2011).
14
66
13
5
0 0 1 1
16
62
12
3 2 3 1 1
Repartição modal nos movimentos
pendulares (%)
Torres Vedras Portugal
6. Turismo
O turismo, sendo uma importante actividade económica para o país, também possui relevância para o município
de Torres Vedras. De facto, o município apresenta um conjunto de recursos turísticos que o transforma
num destino potencial. Os vinte quilómetros de costa e as praias de boa qualidade são um dos maiores
atractivos deste território, tendo sido galardoadas 11 praias com Bandeira Azul em 2017. O turismo balnear
não esgota a actividade turística em Torres Vedras, pese embora o facto de ser um município do litoral e com
uma extensa linha de costa. O turismo termal, cuja base se desenvolve a partir das Termas do Vimeiro
(localizadas na Maceira), e o turismo cultural, através do património edificado, são outras modalidades de
turismo que não devem deixar de ser referenciadas. No que diz respeito ao património edificado, salienta-se os
monumentos nacionais classificados no município de Torres Vedras, como o Castelo de Torres Vedras, Chafariz
dos Canos, Aqueduto da Fonte dos Canos, Igreja de São Pedro, Ermida de Nossa Senhora do Ameal, Convento
do Varatojo, Castro Zambujal, Tholos do Barro e Gruta da Ermegeira
O turismo é cada vez mais associado a experiências e nesse sentido Torres Vedras conta com uma série de
eventos que ajuda a tornar mais apelativa a oferta turística deste território. Desde logo destaca-se o
Carnaval de Torres Vedras, um dos principais do país e que atrai centenas de milhares de visitantes. Outros
eventos importantes como a Feira de São Pedro, Festas da Cidade, Feira Rural e a Onda de Verão em
Santa Cruz complementam a oferta no município de Torres Vedras. Ainda a nível do turismo, Torres
Vedras e o Oeste afirmam-se como um dos principais destinos de golfe do país, tirando-se partido da
proximidade geográfica à capital portuguesa.
De acordo com os dados do INE referentes a 2015, Torres Vedras apresenta uma capacidade hoteleira de
1593 camas, registando nesse mesmo ano um total de 170 108 dormidas, 56% das quais referentes a
nacionais e 44% a estrangeiros, o que o coloca em 2º lugar no Oeste (somente atrás de Óbidos) e em 8º lugar
no conjunto dos 100 municípios que constituem a Região Centro.
História
Torres Vedras revela vestígios de ocupação humana que remontam a 2000 a.C. no lugar do Castro
Zambujal, uma estrutura fortificada da Idade do Cobre. Porém, a cidade de Torres Vedras tem a sua génese
numa outra localização, que corresponde a uma colina na margem do rio Sizandro, tendo-se expandido ao
longo dos séculos para sul, por um vale, em resultado das melhores condições naturais à ocupação
humana, desde logo a maior insolação e os solos férteis.
As primeiras edificações foram erguidas pelos romanos, que valorizavam a urbanidade, optando-se por
ocupar a colina adjacente ao Sizandro, identificada como núcleo fundacional da cidade de Torres Vedras. Os
terrenos aplanados a sul seriam reservados à agricultura, pela sua aptidão agrícola. Os produtos agrícolas
seriam comercializados em Olissipo (actual Lisboa), tirando partido da boa rede viária entretanto construída
pelos romanos. Mais tarde, a Península Ibérica foi ocupada pelos muçulmanos, que valorizavam a actividade
agrícola. Nesse sentido, optaram por conter a expansão urbana, erguendo muralhas, a fim de proteger os
terrenos férteis para a agricultura. No âmbito da Reconquista, Torres Vedras foi conquistada aos mouros
por D. Afonso Henriques, em 1147, não se fazendo demorar a cristianização do lugar, na medida em que um
ano após a conquista fora erguida a Igreja de Santa Maria, a mais antiga das quatro Igrejas hoje presentes na
cidade de Torres Vedras. Os mouros ainda tenteram retomar o controlo do lugar de Torres Vedras,
nomeadamente em 1184, embora sem sucesso, visto que já dispunha de meios de defesa eficazes.
A Carta de Foral fora atribuída a Torres Vedras por D. Afonso III, em 1250, consolidando a sua organização
municipal e a importância que a vila já vinha adquirindo como pólo de abastecimento agrícola de Lisboa. Nas
décadas posteriores, assistir-se-ia a um desprendimento da vila das suas muralhas e a um espraiamento
em direcção ao sopé da colina, sendo que a administração e o clero estariam presentes nas cotas mais
elevadas e o povo nas cotas mais baixas. No século XIV, Torres Vedras é descrita como uma vila
7. muralhada, dominada pela colina do seu castelo (erguido por alturas da Reconquista) e com três portas:
Várzea, Sant’Ana e Corredoura, tendo sido construído junto à última o Chafariz dos Canos, uma fonte
gótica, hoje classificada como monumento nacional. O Renascimento veio proporcionar uma maior
racionalidade ao planeamento urbano, o que teve reflexos na vila de Torres Vedras, através da contenção
da sua expansão e da requalificação do seu tecido urbano – muitos edifícios foram alvo de intervenções,
sendo acrescentados alguns traços manuelinos, nomeadamente na Igreja de São Pedro. Entretanto havia se
reunido em Torres Vedras o Conselho Régio, em 1413, com vista à expedição a Ceuta, episódio que
marcaria o início da Expansão Marítima, em 1415.
O Terramoto de 1755 provocou danos em Torres Vedras e muitos dos seus edifícios tiveram de ser
reconstruídos. Por esta época procedeu-se à abertura do primeiro jardim público da vila, junto à Igreja da
Graça, na entrada sul da vila. O início do século XIX reservou a Torres Vedras a sua mais importante função
defensiva e militar da História, relacionada com as Linhas de Torres – conjunto de fortificações entre a Praia
Azul e Alhandra, passando por Torres Vedras, com o objectivo de defender a capital das tropas
napoleónicas. Ainda durante o século XIX, Torres Vedras veria a construção da Alameda da Várzea (na
actual Rua Maria Barreto Bastos) e a construção do caminho-de-ferro, permitindo ligar mais rapidamente
Torres Vedras e Lisboa. A chegada do caminho-de-ferro a Torres Vedras provocou uma revolução
urbanística na vila, através da abertura de novos arruamentos que permitiram chegar mais rapidamente
à estação de comboios. A partir desse ponto de vista, foram abertas as avenidas Casal Ribeiro (actual 5 de
Outubro) e Tenente Valadim. No final do século XIX, a vila de Torres Vedras testemunharia o aparecimento da
iluminação pública.
O século XX trouxe a Torres Vedras um forte investimento na rede viária, à medida que o automóvel se ia
difundindo. Esse investimento ocorreu não só na vila, como no restante território do município. Entretanto novos
equipamentos haviam chegado a Torres Vedras, designadamente os bombeiros, mercado municipal e cine-
teatro. Na década de 1940, a vila consolida definitivamente a sua expansão para sul, por intermédio de
um plano de urbanização, que previa a construção de bairros residenciais a sul da Igreja da Graça, com
dois arruamentos a delimitar o novo perímetro urbano da vila pelo lado sul – Avenida Humberto Delgado e Rua
Teresa de Jesus Pereira – fazendo a ligação entre a estação de comboios e o lado poente.
Depois do 25 de Abril de 1974, Torres Vedras foi o primeiro lugar do país a adquirir o estatuto de cidade,
tendo essa elevação acontecido em 1979. Novas infra-estruturas de transporte chegaram, como a A8, o
que permitiu ligar Torres Vedras e Lisboa a uma distância de apenas 40 minutos. Como tal, a cidade foi
ganhando mais procura por parte de indivíduos que aí queriam estabelecer a sua residência, o que
resultou numa nova expansão urbana, mais desordenada que a anterior e que aproximou o perímetro
urbano do nó de acesso à A8. Ao mesmo tempo, dá-se o abandono progressivo do centro histórico e o
comércio e serviços começam a implantar-se em alguns eixos, salientando-se as avenidas 5 de Outubro
e General Humberto Delgado. Na década de 1990 foi criada uma nova centralidade na cidade de Torres
Vedras – Parque Regional de Exposições – albergando grandes eventos, como a Feira de São Pedro. No
século XXI, Torres Vedras viu obras que vieram alterar o aspecto geral da cidade, nomeadamente o
Parque da Várzea, o grande espaço verde de referência da cidade, construído no antigo espaço de feiras. Mais
recentemente, foi construído o Arena Shopping, a grande superfície comercial da cidade, e requalificou-se o
Parque do Choupal. Estas obras mais recentes vieram contrariar aquela que tinha sido até então a
tendência de expansão urbana de Torres Vedras para sul.