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Desenvolvimento de Competências
Tecnológicas no Jardim de Infância: muito
mais do que “jogar no telemóvel”
Henrique Santos
RESUMO
Neste artigo, apresentam-se algumas reflexões sobre o papel das tecnologias na Escola de
hoje, designadamente no nível da educação pré-escolar. Torna-se pertinente a reflexão sobre
a importância da utilização educativa das tecnologias da informação e da comunicação na
construção de ambientes capazes de ajudar a formar seres humanos com capacidade, com-
petência e vontade de aprender, a partir do jardim-de-infância. Nesta comunicação importa
refletir o espaço de aprendizagem numa perspetiva holística e integrada e também o papel
do docente, enquanto pessoa e profissional, que assume especial relevo, considerando-se,
para o efeito, a sua prática, refletida e avaliada numa perspetiva de desenvolvimento pessoal,
cultural e social e da sua relação com a Escola. Por último, analisam-se algumas práticas,
observadas em contexto, propondo-se alguns eixos de análise para reflexão.
Palavras-chave: Educação de Infância, Competências, Habilidades Sociais, Tecnologias da
Informação e da Comunicação, Gestão do Currículo, Formação.
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INTRODUÇÃO
De acordo com inúmeras perspetivas, evidenciadas ao longo dos últimos anos, é na
transição para o jardim de infância que a criança começa a moldar as competências e ha-
bilidades sociais, inserindo-se ou não em grupos de pares, desenvolvendo toda uma gama
de comportamentos que a levarão a níveis de desenvolvimento superiores. É nesse espaço
feito de comunicações interpessoais que se vivenciam as primeiras transições, os primeiros
conflitos e os primeiros confrontos com uma realidade não tão protegida quanto a familiar.
A Educação de Infância tem vindo a ser progressivamente considerada a etapa inicial
de educação básica. As razões que têm levado os países a atuar na base desse pressuposto
derivam dos dados provenientes da investigação (que confirmam a vantagem educativa para
as crianças da frequência de educação Pré-Escolar) e das características das sociedades
desenvolvidas (urbanizadas, massificadas, informatizadas, mediatizadas, globalizadas e
multiculturais) que tornam as famílias cada vez mais desprotegidas, impreparadas e indis-
poníveis para uma educação completa das crianças.
A frequência de um contexto formal tem-se tornado, assim, indispensável para pro-
porcionar às crianças vivências alargadas, relevantes e adequadas que contribuam para a
preparação para uma vida cujas características já experimentaram, em parte, através da
família e dos media.
Educar para uma acumulação de conhecimentos deixou de ser a grande finalidade
da educação, apontando-se antes para a necessidade de proporcionar a cada indivíduo as
condições que lhe permitam aproveitar e utilizar, do berço até ao fim da vida, todas as opor-
tunidades que se lhe oferecem no sentido de actualizar, aprofundar e enriquecer os seus
primeiros conhecimentos e de se adaptar a um mundo em permanente mudança.
Trabalhar de forma qualitativamente superior em educação de infância pressupõe que
o educador seja capaz de responder adequadamente não só à diversidade das infâncias,
observável nos diferentes contextos educativos, mas também que o educador seja um
profundo conhecedor das áreas de conteúdos que aborda e que utilize estratégias de docu-
mentação e avaliação que fundamentem o desenvolvimento do currículo, os processos de
ensino e de aprendizagem.
QUE COMPETÊNCIAS E EM QUE CURRÍCULO?
“(...) Contava o orador que, numa das usas viagens, visitou um lugar em que
se estava a iniciar uma construção. Aproximou-se de um dos operários e per-
guntou-lhe o que estava a fazer. O operário respondeu que estava a picar uma
pedra para que ficasse lisa e quadrada. De seguida, aproximando-se de um
outro operário fez-lhe a mesma pergunta, tendo este respondido que estava
a preparar uns pilares que suportariam uma parede. E questionando operário
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após operário, estes foram-lhe dizendo em que consistia o respetivo trabalho.
Quando repetiu a mesma pergunta a um outro operário, este disse-lhe que
estava fazendo uma catedral. (...) De facto, o último dos operários questiona-
dos tinha uma “mentalidade” curricular (permita-se a transposição do termo
por agora apenas pertencente ao campo educativo). Podíamos mesmo dizer,
mesmo correndo o risco de simplificar, que os outros operários tinham uma
mentalidade técnica, muito próxima do sentido rotineiro, pontual e específico.”
Miguel Zabalza (1999, p. 23)
As sociedades atuais requerem cada vez mais a melhoria do nível de educação dos
seus cidadãos por um conjunto de razões: porque a competição económica o exige mas
também porque a qualidade e melhoria da vida social passa cada vez mais pelo domínio de
competências, incluindo competências para aprender, colaborar e conviver, pelo nível cultural
geral dos indivíduos e pela sua capacidade de se integrarem numa sociedade construída
sobre múltiplas diversidades.
É à luz destas preocupações que se compreendem as tendências no sentido de cen-
trar as finalidades curriculares no desenvolvimento de competências que tornem utilizáveis,
reconvertíveis e operativos os saberes, as técnicas e as práticas que forem integradas no
espaço formal da educação de infância – quer o enunciado quer o implementado.
É fundamental que o currículo (entendido aqui como conceito aglutinador de outras
denominações mais parciais e restritivas, utilizado para se referir a dois aspetos muito dife-
rentes, que condicionam o sentido e a funcionalidade do termo: como esquema ou projeto
de ensino - como o que se pode ou pretende fazer - e como esquema ou marco de análise
- sobre o que se faz ou fez) contribua para a consolidação de competências indispensáveis
à vida pessoal e social, quer pela sua eficácia, como por exemplo, competências orientadas
para a resolução de problemas ou para a tomada de decisões fundamentadas, quer pelo
enriquecimento pessoal, como a capacidade/competência de entender e fruir bens como a
música ou a arte.
Passará, por aí, o papel do currículo baseado em competências da educação de in-
fância, na promoção do nível cívico de uma sociedade, na subida de nível educativo das
populações, na garantia de melhor qualidade de vida pessoal e social para todos, e não só
àqueles que por razões circunstanciais nasçam e vivam com confortável acesso a uma boa
qualidade de vida social e cultural.
O desenvolvimento deste currículo reveste-se de um carácter articulado e globalizan-
te que se relaciona com a natureza do processo de aprendizagem nas crianças em idade
pré-escolar e aponta para determinado tipo de competências que são desenvolvidas nesta
etapa: “Quando as crianças falam sobre os seus projetos, os põem em prática e refletem
sobre eles, estão num triângulo que tem por objetivo fortalecer os interesses, as iniciativas
e as competências” (Gomes, 2014, p. 88).
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A necessidade da sua definição resulta de um conjunto de fatores que se prendem
com uma nova compreensão da própria noção de competência e com a sua reorganização
no espaço da ação educativa.
Esta definição não é fácil nem linear pois envolve não só uma compreensão clara do
conceito de competência, como o seu domínio para a sua operacionalização, tal como um
conhecimento aprofundado de cada um dos domínios e áreas de aprendizagem.
A complexidade associada à definição de competências pode originar grandes dificul-
dades e mesmo equívocos graves, em tentativas de definição de competências feitas sem
o apoio e os conhecimentos necessários para o fazer, de uma forma adequada.
Contudo, podemos suportar-nos na ideia apresentada por Mário Gomes, de que “O
«saber» a promover, definido através do currículo, é traduzido pelos professores no seu
projeto de turma, com objetivos cognitivos, metodológicos e comportamentais de desenvol-
vimento de competências” (Gomes, 2014, p. 41).
Toda a situação de aprendizagem exige a mobilização de saberes já anteriormen-
te adquiridos e a sua aplicação em contexto, de forma adequada a cada nova situação
com que se depara.
Nesta perspetiva, a escola deve promover aprendizagens fundamentais, que se inter-
ligam e que se constituem como pilares do conhecimento, ou seja, a escola deve:
Aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão, combinando uma
cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um
pequeno número de matérias, o que também significa, aprender a aprender, para beneficiar
das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida;
• Aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente, a fim de adquirir não
somente uma qualificação profissional, mas também competências que tornem a
pessoa apta a enfrentar as mais diversas situações e a trabalhar em equipa;
• Aprender a viver em comum, a fim de participar e cooperar com os outros, no res-
peito pelos valores duo pluralismo, da compreensão mútua e da paz; finalmente,
• Aprender a ser, via essencial que integra os três precedentes e que permite a cada
um desenvolver melhor a sua personalidade, ganhar capacidade de autonomia,
discernimento e responsabilidade.
Adaptado de Livro Verde para a Sociedade de Informação em Portugal. Missão
Para a Sociedade da Informação (1997, p. 14-16).
Concluíndo, e citando mais uma vez Gomes, “O currículo escolar tenderá a incluir cada
vez mais dois tipos de “conteúdos curriculares”: as competências cognitivas (o conhecimento
de todo o tipo e os mecanismos que a ele dão acesso e permitem usá-lo) e, por outro lado,
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as competências de convivência e colaboração social (indispensáveis ao equilíbrio da vida
coletiva)”. (Gomes, 2011, p. 34).
Cabe-nos, portanto, a função de organizar o quadro concetual de competências, em
educação de infância, que deverão ser sempre contextualizadas, descritivas nos processos
envolvidos e claras quanto às referências científicas que a fundamentam.
TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA
A utilização dos meios de comunicação na educação de infância pode ser desencadea-
dora de variadas situações de efetiva aprendizagem e desenvolvimento de competências,
nomeadamente de competências de utilização, compreensão e gestão do conhecimento e
dos instrumentos tecnológicos e de comunicação.
O contexto, as interações entre alunos e professores, o tipo de situações a que os
alunos são expostos ou criam, podem constituir os aspetos determinantes no processo de
aprendizagem que, dessa forma, podem contribuir para as recriar, permitindo uma aborda-
gem global a desafios intelectuais.
Na verdade, as tecnologias são peças chave na criação de ambientes de aprendizagem
motivadores e construtores do ser humano. As crianças aprendem melhor se tiverem tarefas,
desafios, ou problemas nos quais as respostas não sejam óbvias ou demasiado simples.
Papert (1998, p. 15) refere que “todas as crianças que têm um computador e uma forte
cultura de aprendizagem são agentes de mudança na escola”.
É nosso objetivo oferecer algumas pistas, neste artigo, para uma abordagem sistemá-
tica e organizativa das possibilidades oferecidas no âmbito da utilização dos instrumentos
tecnológicos ou de marcada característica comunicacional e da sua inter-relação com os
conceitos de desenvolvimento social, cultural e cognitivo das crianças e da sua relação com
as práticas pedagógicas.
Que tecnologias?
Partindo do enquadramento de Tecnologia e dos seus conceitos adjacentes, abordados
numa perspetiva sociológica e humana, como fator de desenvolvimento e crescimento social
das populações, tomar-se-á como linha de rumo um conjunto de apontadores, devidamente
observados e contextualizados, que fornecem pistas sobre modelos de formação/ação e de
desenvolvimento profissional passíveis de serem disseminados e generalizados.
É também primordial compreender, de forma mais profunda, o papel das tecnologias
como meios de trabalho/produção, de consulta e de comunicação como potenciadores do
desenvolvimento formal do cidadão e da cidadania, a partir do jardim-de-infância.
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A reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação deve apoiar-se numa análise prévia
das mudanças na relação do indivíduo com o saber. A primeira constatação dessa mudança
envolve a velocidade do surgimento e da renovação dos saberes. Atualmente, a maioria
das competências adquiridas por uma pessoa no começo de seu percurso profissional são
obsoletas no fim da sua carreira. Também a nova natureza do trabalho contribui para isso,
no qual a parte de transação de conhecimentos é cada vez mais ilimitada. Trabalhar equivale
cada vez mais a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos.
O espaço da tecnologia amplia, exterioriza e altera muitas funções cognitivas humanas:
memória (bancos de dados, hipertexto, ficheiros digitais), imaginação (simulações), perceção
(sensores digitais, realidades virtuais) e raciocínios (inteligência artificial).
Estas tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à informação e novos
estilos de raciocínio e conhecimento. O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento, as
novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão, necessariamente, a modificar
profundamente os dados do problema da educação e da formação.
Descobrir a fórmula certa de explorar os imensos recursos disponíveis é um caminho
que está por desbravar, além da evidente ameaça da infoexclusão. Ponte (1999, p. 60) diz
explicitamente que aqueles que não forem capazes de utilizar e compreender minimamente
os processos informáticos correrão o risco de estar tão desinseridos na sociedade do futuro
como os analfabetos o estão na sociedade de hoje.
Há, atualmente, um desenvolvimento significativo da informação disponível para os
cidadãos. O aluno chega à escola transportando consigo a imagem de um mundo – real ou
fictício – que ultrapassa em muito os limites da família e da sua comunidade. As mensagens
mais variadas – lúdicas, informativas ou publicitárias – que são transmitidas pelos meios
de comunicação social entram em concorrência ou contradição com o que as crianças
aprendem na escola.
Não é um facto indesmentível que as tecnologias associadas à escola tendam a pro-
vocar reações fortes, sejam elas de grande entusiasmo ou de violenta crítica. Por detrás
destas reações está o facto de mexer com aspetos fundamentais das nossas conceções,
dos nossos gostos, dos nossos desejos.
Em qualquer dos modelos, o conhecimento só existe se for realizado pela pessoa, que
por sua vez deve ser intelectual e materialmente ativa à escala dos seus meios. A utilização
das tecnologias deve poder realizar-se através do tempo e dos meios adequados.
Na educação de infância, e com base na utilização de metodologias ativas e parti-
cipativas, com recurso às tecnologias, no processo de ensino e aprendizagem, cabe ao
educador utilizar criticamente a tecnologia como ferramenta transversal ao currículo, par-
tilhar experiências/recursos/saberes no seio da comunidade educativa, valorizar práticas
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avaliativas indutoras de melhoria da qualidade dos processos educativos, estimular estra-
tégias pedagógicas promotoras de metodologias inovadoras, adotar práticas que levem ao
envolvimento dos alunos em trabalho prático com tecnologias, produzir, utilizar e avaliar
recursos educativos potenciadores da construção do conhecimento tecnológico, mudar práti-
cas (com a integração de ferramentas de comunicação e interação à distância) no processo
de ensino e aprendizagem, prolongar momentos de aprendizagem no tempo e no espaço,
fomentando a disponibilização de recursos educativos variados, desenvolver projetos/ativi-
dades que potenciem a utilização de tecnologias em contextos inter e transdisciplinares, de
forma integrada e corrente e promover momentos de reflexão decorrentes da prática letiva
e também da vida quotidiana.
Este novo papel do educador exige uma constante adequação a novas práticas, mas,
acima de tudo, obriga-o a um maior envolvimento na vida extraescolar e, essencialmente,
na sua aproximação aos novos meios de transmissão e difusão de informação.
ATIVIDADES E PRÁTICAS PROMOTORAS DE COMPETÊNCIAS TEC-
NOLÓGICAS
Na educação de infância, mercê da sua especificidade formal (inexistência de um
currículo predefinido, inexistência de programas formais e peso superior da gestão curricu-
lar na pessoa do educador/profissional), torna-se, por vezes, difícil assumir um espaço de
organização e gestão e desenvolvimento de estratégias integradoras da área tecnológica
na organização do espaço e do tempo do jardim de infância.
Cabe ao profissional a escolha de estratégias e atividades que potenciem a utilização/
aprendizagem baseada na utilização de atividades referenciadas na utilização de instru-
mentos tecnológicos.
Apesar da maior evidência da “informatização” da sociedade, não é ainda muito visível
a observação de práticas mediadas e contextualizadas na utilização de instrumentos tecno-
lógicos por parte dos docentes, seja pela pouca disponibilidade pessoal, seja pela ineficiente
formação promovida nos últimos 20 anos. A este propósito, sublinha-se, no entanto, a positiva
evolução dos últimos anos, com a criação de uma Unidade de Missão para a Informação e
o Conhecimento, e, no Ministério da Educação, a criação de uma Equipa para os Recursos
Tecnológicos na Escola (ERTE) que definiu e operacionalizou um conjunto de estratégias
que poderão, num curto espaço de tempo, alterar a situação.
Neste sentido, é fundamental que o docente não ceda à tentativa de simplificar o próprio
processo de formação individual e, acima de tudo, que permaneça constantemente moti-
vado e envolvido na esfera do desenvolvimento tecnológico e social. Por outras palavras,
compete ao docente contextualizar as suas capacidades e competências, nomeadamente
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a sua capacidade para avaliar as situações educativas, a capacidade para planificar a ação
e posterior aplicação dos conhecimentos teóricos e a sua capacidade para pôr em ação um
plano, avaliando a sua progressão e reajustando trajetórias. Só criando situações que per-
mitem, a um dado momento, praticar o comportamento que desejamos construir e retirando,
dessa prática, ensinamentos para o desenvolvimento desse comportamento podemos po-
tenciar os momentos de aprendizagem sem estarmos dependentes duma inserção plástica
e forçada das tecnologias em ambiente escolar. Ao fazê-lo, contudo, o docente pode dar
de si a imagem de um indivíduo preocupado, reflexivo e, acima de tudo, respeitado, neste
“novo” mundo de informação e conhecimento.
Se tivermos, por exemplo, a utilização do computador como fator motivador das (e para
as) aprendizagens, que valoriza o espaço multimédia como estratégia de diversificação de
formas de promoção da leitura e da literacia, ao mesmo tempo que permite a aprendizagem
das diversas formas e funções da leitura, numa perspetiva integrada e integradora, assumi-
mos, consequentemente que este, devidamente enquadrado, consubstancia um conjunto
alargado de funções promotoras de aprendizagem dos processos de leitura e escrita, assim
como dinamiza variados espaços de compreensão cognitiva. É neste espaço de “necessi-
dade” pedagógica e letiva que o docente deverá operacionalizar as suas escolhas.
As aprendizagens possíveis (decorrentes do contacto com instrumentos tecnológicos,
que não apenas o computador), que se enquadram na área de educação para os media,
da educação para a cidadania, no espaço da formação pessoal e social, contribuem, deci-
sivamente para o desenvolvimento de espaços de questionamento, de reflexão participada
e de análise crítica. E, neste particular, a escolha de instrumentos tecnológicos não tem,
necessariamente, de ficar dependente da competência do docente para as utilizar.
Através da reflexão, análise e preparação da utilização de meios audiovisuais de trans-
missão de saberes e de formação pessoal e social, cumpre-se o objetivo de promover uma
atitude crítica e reflexiva sobre os meios mediáticos de transmissão de saber. Ao docente
cabe a missão de desempenhar o mediador de aprendizagem, bem como o de mediador/
potenciador de experiências.
Mas há outras “competências” que podem (e devem) ser potenciadas na educação
pré-escolar, através da mediação de instrumentos tecnológicos ou de informação.
No domínio das competências motoras, por exemplo, a utilização do rato do computador
é uma estratégia promotora do desenvolvimento de outras competências específicas, como
é o exemplo da motricidade fina e da coordenação óculo-manual, entre outras. Porquê ser
refém dos “livros de fichas”, com atividades de “escrita” que têm apenas a função motora,
quando o computador pode ser tão motivador, enquanto promove efetivas aprendizagens?
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Organizar e preparar atividades que, pela sua forma, se transformem em momentos de
motivação pela novidade, mas também pela utilização de instrumentos “invulgares” potencia
o desenvolvimento de competências diversas, enquanto disponibiliza formas alternativas de
expressão. O retroprojetor, por exemplo, pode surgir como instrumento tecnológico (muitas
vezes esquecido) que motiva pela novidade, e que se transforma num equipamento de fácil
manuseio, capaz de potenciar um sem fim de experiência pedagógicas e didáticas, quer
para o educador quer para os alunos envolvidos.
Não obstante, esta inclusão instrumental obriga a uma planificação e preparação cui-
dada de atividades e estratégias, constantemente refletidas e avaliadas, nas quais a profi-
ciência do docente é exigível e necessária, apesar de envolver a necessidade de constante
atualização técnica.
Também as atividades que se baseiam na informação pertinente trazida “de casa” por
cada um dos alunos potenciam um conjunto de conteúdos que trazem à escola o interesse
pessoal de cada um deles, devolvendo-lhes o espaço de identificação com o seu meio de
origem. Utilizar os instrumentos tecnológicos na perspetiva de valorização desta relação
pedagógica é motivador e alarga consideravelmente o espaço motivacional dos alunos.
A Internet, por exemplo, não só se posiciona como um espaço de comunicação efectiva
(escola-família; escola-escola; família-criança) como se assume como fundamental para a
construção de um novo paradigma educativo.
Por outro lado, e no que respeita à promoção de competências técnicas, a utilização
dos meios técnicos e tecnológicos (computadores, telefones móveis, leitores multimédia,
etc.) aumenta o espaço de utilização e representação plástica, expressiva e artística (entre
outras) revelando novas competências motoras e cognitivas nas crianças, ao mesmo tempo
que as desenvolve.
Também a construção de instrumentos tecnológicos na sala do jardim-de-infância (por
exemplo, uma caixa Multibanco) potencia não só o espaço lúdico do próprio processo (cons-
trução) como também a reflexão sobre a função dos instrumentos. Como é devidamente
reconhecido, com a preparação de um instrumento “tecnológico” que serve para brincar,
desenvolvem-se competências linguísticas, motoras e de expressão, mas também se abre
caminho a um conjunto de atividades e estratégias de desenvolvimento cognitivo e mate-
mático. Através da exploração do carácter lúdico e do jogo simbólico, com recurso a “meios
informáticos”, aliada à exploração de conteúdos identitários, de independência e autonomia,
a “Caixa Multibanco” serve os propósitos de potenciar a área de Formação Pessoal e Social
nos seus múltiplos aspetos: com a caixa Multibanco “chegam” os cartões de identificação
pessoal (cartões do de débito, com identificação individual – assinatura, foto e impressão
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digital), a “descoberta” do dinheiro (notas e moedas – valor e uso) e até mesmo as regras
de utilização, com os respetivos códigos numéricos.
Através da seleção de estratégias diversificadas, que incluam a utilização e construção
de “instrumentos tecnológicos”, a integração de saberes, competências e aprendizagens,
motivadas por esse espaço “tecnológico” associado ao “mundo real”, constitui-se como um
aspeto de crucial importância no modo como as tecnologias podem ser encaradas e inte-
gradas no processo de socialização das crianças e dos jovens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as dinâmicas e estratégias introduzidas intencionalmente na sala de jardim-
de-infância potenciam a elaboração de estruturas contínuas de compreensão e aprendiza-
gem social. Se forem concebidas numa perspetiva de integração de meios e de recursos
aumentam não só a variedade das aprendizagens como facilitam a gestão dos recursos
físicos e humanos. Na maior parte das vezes, os instrumentos estão já na sala de atividades
e não serve de desculpa continuar a ambicionar por um computador: o telemóvel, o leitor
vídeo, o retroprojetor, o rádio ou mesmo o relógio fazem parte, cada vez mais, dos objetos
presentes na sala.
O espaço de utilização das tecnologias e dos instrumentos tecnológicos e de comuni-
cação no jardim-de-infância deve ser amplo e não condicionado por intenções de aprendi-
zagens formalizadas ou definidas por parâmetros de causa-efeito imediato.
Se considerarmos que a aprendizagem se situa entre uma intenção de adquirir e uma
aquisição efetiva dos saberes mais diversos e que se faz através de uma escolha de obje-
tivos e de uma escolha de situações, cuja natureza e ordem dependem daquele que teve a
iniciativa da formação, teríamos, como ponto de partida, “uma solicitação do meio ambiente
que encontra um acolhimento favorável naquele que o vai concretizar” (Bidarra, J., 1998,
p. 21). É sobre esta solicitação do meio ambiente que é, atualmente, de carácter eminente-
mente tecnológico, que a escola deve refletir toda a sua estrutura, seja ela pedagógica ou
física, e a educação de infância não se deve autoexcluir.
Por tal, cabe ao educador/profissional de educação, enquanto gestor do currículo,
definir as estratégias (quer a pessoais: de formação, de atualização de conhecimentos, de
experimentação, quer as profissionais: de formação, de construção de paradigmas educati-
vos, de participação em grupos e fóruns de apoio e reflexão pedagógica) e as atividades que
operacionalizem a aproximação da Escola às necessidades sociais de educação e formação.
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24. Roldão, M. (1996) A Educação Básica Numa Perspectiva de Formação ao Longo da
Vida. Inovação. Vol. 9. N.º 3. Lisboa, IIE.
25. Santos, H.(2001) Os Computadores e Nós – Algumas informações úteis sobre o pro-
cesso de aprendizagem.
26. Cadernos de Educação de Infância, n.º 60. Lisboa, APEI.
27. Santos, H. (2001) A Atitude do Educador face às Novas Tecnologias. Cadernos de
Educação de Infância, nº58. Lisboa, APEI.
28. Santos, H. (1999) Os Computadores e Nós - A Internet. Cadernos de Educação de
Infância, n.º 44, Lisboa, APEI.
29. Sartori G. (2000) Homo Videns - Televisão e Pós Pensamento. Lisboa, Terramar Te-
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32. Alves, J. A., Campos, P. e Brito, P. Q. O Futuro da Internet http://www.centroatl.pt/
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Quest.http://www.readingonline.org/editorial/edit_index.asp?HREF=february2001/index.
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em http://www.europa.eu.int/scadplus/leg/pt/cha/c11031b.htm (23 de Julho de 2003)
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eu.int/information_society/newsroom/documents/catalogue_en.pdf, (Maio de 2003)
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Conselho e Ministros. www.umic.pcm.gov.pt (23 de Julho de 2003).

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Desenvolvendo Competências no JI

  • 1. 03 '10.37885/221110823 03 Desenvolvimento de Competências Tecnológicas no Jardim de Infância: muito mais do que “jogar no telemóvel” Henrique Santos
  • 2. RESUMO Neste artigo, apresentam-se algumas reflexões sobre o papel das tecnologias na Escola de hoje, designadamente no nível da educação pré-escolar. Torna-se pertinente a reflexão sobre a importância da utilização educativa das tecnologias da informação e da comunicação na construção de ambientes capazes de ajudar a formar seres humanos com capacidade, com- petência e vontade de aprender, a partir do jardim-de-infância. Nesta comunicação importa refletir o espaço de aprendizagem numa perspetiva holística e integrada e também o papel do docente, enquanto pessoa e profissional, que assume especial relevo, considerando-se, para o efeito, a sua prática, refletida e avaliada numa perspetiva de desenvolvimento pessoal, cultural e social e da sua relação com a Escola. Por último, analisam-se algumas práticas, observadas em contexto, propondo-se alguns eixos de análise para reflexão. Palavras-chave: Educação de Infância, Competências, Habilidades Sociais, Tecnologias da Informação e da Comunicação, Gestão do Currículo, Formação.
  • 3. 38 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br INTRODUÇÃO De acordo com inúmeras perspetivas, evidenciadas ao longo dos últimos anos, é na transição para o jardim de infância que a criança começa a moldar as competências e ha- bilidades sociais, inserindo-se ou não em grupos de pares, desenvolvendo toda uma gama de comportamentos que a levarão a níveis de desenvolvimento superiores. É nesse espaço feito de comunicações interpessoais que se vivenciam as primeiras transições, os primeiros conflitos e os primeiros confrontos com uma realidade não tão protegida quanto a familiar. A Educação de Infância tem vindo a ser progressivamente considerada a etapa inicial de educação básica. As razões que têm levado os países a atuar na base desse pressuposto derivam dos dados provenientes da investigação (que confirmam a vantagem educativa para as crianças da frequência de educação Pré-Escolar) e das características das sociedades desenvolvidas (urbanizadas, massificadas, informatizadas, mediatizadas, globalizadas e multiculturais) que tornam as famílias cada vez mais desprotegidas, impreparadas e indis- poníveis para uma educação completa das crianças. A frequência de um contexto formal tem-se tornado, assim, indispensável para pro- porcionar às crianças vivências alargadas, relevantes e adequadas que contribuam para a preparação para uma vida cujas características já experimentaram, em parte, através da família e dos media. Educar para uma acumulação de conhecimentos deixou de ser a grande finalidade da educação, apontando-se antes para a necessidade de proporcionar a cada indivíduo as condições que lhe permitam aproveitar e utilizar, do berço até ao fim da vida, todas as opor- tunidades que se lhe oferecem no sentido de actualizar, aprofundar e enriquecer os seus primeiros conhecimentos e de se adaptar a um mundo em permanente mudança. Trabalhar de forma qualitativamente superior em educação de infância pressupõe que o educador seja capaz de responder adequadamente não só à diversidade das infâncias, observável nos diferentes contextos educativos, mas também que o educador seja um profundo conhecedor das áreas de conteúdos que aborda e que utilize estratégias de docu- mentação e avaliação que fundamentem o desenvolvimento do currículo, os processos de ensino e de aprendizagem. QUE COMPETÊNCIAS E EM QUE CURRÍCULO? “(...) Contava o orador que, numa das usas viagens, visitou um lugar em que se estava a iniciar uma construção. Aproximou-se de um dos operários e per- guntou-lhe o que estava a fazer. O operário respondeu que estava a picar uma pedra para que ficasse lisa e quadrada. De seguida, aproximando-se de um outro operário fez-lhe a mesma pergunta, tendo este respondido que estava a preparar uns pilares que suportariam uma parede. E questionando operário
  • 4. 39 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br após operário, estes foram-lhe dizendo em que consistia o respetivo trabalho. Quando repetiu a mesma pergunta a um outro operário, este disse-lhe que estava fazendo uma catedral. (...) De facto, o último dos operários questiona- dos tinha uma “mentalidade” curricular (permita-se a transposição do termo por agora apenas pertencente ao campo educativo). Podíamos mesmo dizer, mesmo correndo o risco de simplificar, que os outros operários tinham uma mentalidade técnica, muito próxima do sentido rotineiro, pontual e específico.” Miguel Zabalza (1999, p. 23) As sociedades atuais requerem cada vez mais a melhoria do nível de educação dos seus cidadãos por um conjunto de razões: porque a competição económica o exige mas também porque a qualidade e melhoria da vida social passa cada vez mais pelo domínio de competências, incluindo competências para aprender, colaborar e conviver, pelo nível cultural geral dos indivíduos e pela sua capacidade de se integrarem numa sociedade construída sobre múltiplas diversidades. É à luz destas preocupações que se compreendem as tendências no sentido de cen- trar as finalidades curriculares no desenvolvimento de competências que tornem utilizáveis, reconvertíveis e operativos os saberes, as técnicas e as práticas que forem integradas no espaço formal da educação de infância – quer o enunciado quer o implementado. É fundamental que o currículo (entendido aqui como conceito aglutinador de outras denominações mais parciais e restritivas, utilizado para se referir a dois aspetos muito dife- rentes, que condicionam o sentido e a funcionalidade do termo: como esquema ou projeto de ensino - como o que se pode ou pretende fazer - e como esquema ou marco de análise - sobre o que se faz ou fez) contribua para a consolidação de competências indispensáveis à vida pessoal e social, quer pela sua eficácia, como por exemplo, competências orientadas para a resolução de problemas ou para a tomada de decisões fundamentadas, quer pelo enriquecimento pessoal, como a capacidade/competência de entender e fruir bens como a música ou a arte. Passará, por aí, o papel do currículo baseado em competências da educação de in- fância, na promoção do nível cívico de uma sociedade, na subida de nível educativo das populações, na garantia de melhor qualidade de vida pessoal e social para todos, e não só àqueles que por razões circunstanciais nasçam e vivam com confortável acesso a uma boa qualidade de vida social e cultural. O desenvolvimento deste currículo reveste-se de um carácter articulado e globalizan- te que se relaciona com a natureza do processo de aprendizagem nas crianças em idade pré-escolar e aponta para determinado tipo de competências que são desenvolvidas nesta etapa: “Quando as crianças falam sobre os seus projetos, os põem em prática e refletem sobre eles, estão num triângulo que tem por objetivo fortalecer os interesses, as iniciativas e as competências” (Gomes, 2014, p. 88).
  • 5. 40 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br A necessidade da sua definição resulta de um conjunto de fatores que se prendem com uma nova compreensão da própria noção de competência e com a sua reorganização no espaço da ação educativa. Esta definição não é fácil nem linear pois envolve não só uma compreensão clara do conceito de competência, como o seu domínio para a sua operacionalização, tal como um conhecimento aprofundado de cada um dos domínios e áreas de aprendizagem. A complexidade associada à definição de competências pode originar grandes dificul- dades e mesmo equívocos graves, em tentativas de definição de competências feitas sem o apoio e os conhecimentos necessários para o fazer, de uma forma adequada. Contudo, podemos suportar-nos na ideia apresentada por Mário Gomes, de que “O «saber» a promover, definido através do currículo, é traduzido pelos professores no seu projeto de turma, com objetivos cognitivos, metodológicos e comportamentais de desenvol- vimento de competências” (Gomes, 2014, p. 41). Toda a situação de aprendizagem exige a mobilização de saberes já anteriormen- te adquiridos e a sua aplicação em contexto, de forma adequada a cada nova situação com que se depara. Nesta perspetiva, a escola deve promover aprendizagens fundamentais, que se inter- ligam e que se constituem como pilares do conhecimento, ou seja, a escola deve: Aprender a conhecer, isto é, adquirir os instrumentos da compreensão, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias, o que também significa, aprender a aprender, para beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida; • Aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente, a fim de adquirir não somente uma qualificação profissional, mas também competências que tornem a pessoa apta a enfrentar as mais diversas situações e a trabalhar em equipa; • Aprender a viver em comum, a fim de participar e cooperar com os outros, no res- peito pelos valores duo pluralismo, da compreensão mútua e da paz; finalmente, • Aprender a ser, via essencial que integra os três precedentes e que permite a cada um desenvolver melhor a sua personalidade, ganhar capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade. Adaptado de Livro Verde para a Sociedade de Informação em Portugal. Missão Para a Sociedade da Informação (1997, p. 14-16). Concluíndo, e citando mais uma vez Gomes, “O currículo escolar tenderá a incluir cada vez mais dois tipos de “conteúdos curriculares”: as competências cognitivas (o conhecimento de todo o tipo e os mecanismos que a ele dão acesso e permitem usá-lo) e, por outro lado,
  • 6. 41 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br as competências de convivência e colaboração social (indispensáveis ao equilíbrio da vida coletiva)”. (Gomes, 2011, p. 34). Cabe-nos, portanto, a função de organizar o quadro concetual de competências, em educação de infância, que deverão ser sempre contextualizadas, descritivas nos processos envolvidos e claras quanto às referências científicas que a fundamentam. TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA A utilização dos meios de comunicação na educação de infância pode ser desencadea- dora de variadas situações de efetiva aprendizagem e desenvolvimento de competências, nomeadamente de competências de utilização, compreensão e gestão do conhecimento e dos instrumentos tecnológicos e de comunicação. O contexto, as interações entre alunos e professores, o tipo de situações a que os alunos são expostos ou criam, podem constituir os aspetos determinantes no processo de aprendizagem que, dessa forma, podem contribuir para as recriar, permitindo uma aborda- gem global a desafios intelectuais. Na verdade, as tecnologias são peças chave na criação de ambientes de aprendizagem motivadores e construtores do ser humano. As crianças aprendem melhor se tiverem tarefas, desafios, ou problemas nos quais as respostas não sejam óbvias ou demasiado simples. Papert (1998, p. 15) refere que “todas as crianças que têm um computador e uma forte cultura de aprendizagem são agentes de mudança na escola”. É nosso objetivo oferecer algumas pistas, neste artigo, para uma abordagem sistemá- tica e organizativa das possibilidades oferecidas no âmbito da utilização dos instrumentos tecnológicos ou de marcada característica comunicacional e da sua inter-relação com os conceitos de desenvolvimento social, cultural e cognitivo das crianças e da sua relação com as práticas pedagógicas. Que tecnologias? Partindo do enquadramento de Tecnologia e dos seus conceitos adjacentes, abordados numa perspetiva sociológica e humana, como fator de desenvolvimento e crescimento social das populações, tomar-se-á como linha de rumo um conjunto de apontadores, devidamente observados e contextualizados, que fornecem pistas sobre modelos de formação/ação e de desenvolvimento profissional passíveis de serem disseminados e generalizados. É também primordial compreender, de forma mais profunda, o papel das tecnologias como meios de trabalho/produção, de consulta e de comunicação como potenciadores do desenvolvimento formal do cidadão e da cidadania, a partir do jardim-de-infância.
  • 7. 42 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br A reflexão sobre o futuro dos sistemas de educação deve apoiar-se numa análise prévia das mudanças na relação do indivíduo com o saber. A primeira constatação dessa mudança envolve a velocidade do surgimento e da renovação dos saberes. Atualmente, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no começo de seu percurso profissional são obsoletas no fim da sua carreira. Também a nova natureza do trabalho contribui para isso, no qual a parte de transação de conhecimentos é cada vez mais ilimitada. Trabalhar equivale cada vez mais a aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos. O espaço da tecnologia amplia, exterioriza e altera muitas funções cognitivas humanas: memória (bancos de dados, hipertexto, ficheiros digitais), imaginação (simulações), perceção (sensores digitais, realidades virtuais) e raciocínios (inteligência artificial). Estas tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à informação e novos estilos de raciocínio e conhecimento. O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão, necessariamente, a modificar profundamente os dados do problema da educação e da formação. Descobrir a fórmula certa de explorar os imensos recursos disponíveis é um caminho que está por desbravar, além da evidente ameaça da infoexclusão. Ponte (1999, p. 60) diz explicitamente que aqueles que não forem capazes de utilizar e compreender minimamente os processos informáticos correrão o risco de estar tão desinseridos na sociedade do futuro como os analfabetos o estão na sociedade de hoje. Há, atualmente, um desenvolvimento significativo da informação disponível para os cidadãos. O aluno chega à escola transportando consigo a imagem de um mundo – real ou fictício – que ultrapassa em muito os limites da família e da sua comunidade. As mensagens mais variadas – lúdicas, informativas ou publicitárias – que são transmitidas pelos meios de comunicação social entram em concorrência ou contradição com o que as crianças aprendem na escola. Não é um facto indesmentível que as tecnologias associadas à escola tendam a pro- vocar reações fortes, sejam elas de grande entusiasmo ou de violenta crítica. Por detrás destas reações está o facto de mexer com aspetos fundamentais das nossas conceções, dos nossos gostos, dos nossos desejos. Em qualquer dos modelos, o conhecimento só existe se for realizado pela pessoa, que por sua vez deve ser intelectual e materialmente ativa à escala dos seus meios. A utilização das tecnologias deve poder realizar-se através do tempo e dos meios adequados. Na educação de infância, e com base na utilização de metodologias ativas e parti- cipativas, com recurso às tecnologias, no processo de ensino e aprendizagem, cabe ao educador utilizar criticamente a tecnologia como ferramenta transversal ao currículo, par- tilhar experiências/recursos/saberes no seio da comunidade educativa, valorizar práticas
  • 8. 43 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br avaliativas indutoras de melhoria da qualidade dos processos educativos, estimular estra- tégias pedagógicas promotoras de metodologias inovadoras, adotar práticas que levem ao envolvimento dos alunos em trabalho prático com tecnologias, produzir, utilizar e avaliar recursos educativos potenciadores da construção do conhecimento tecnológico, mudar práti- cas (com a integração de ferramentas de comunicação e interação à distância) no processo de ensino e aprendizagem, prolongar momentos de aprendizagem no tempo e no espaço, fomentando a disponibilização de recursos educativos variados, desenvolver projetos/ativi- dades que potenciem a utilização de tecnologias em contextos inter e transdisciplinares, de forma integrada e corrente e promover momentos de reflexão decorrentes da prática letiva e também da vida quotidiana. Este novo papel do educador exige uma constante adequação a novas práticas, mas, acima de tudo, obriga-o a um maior envolvimento na vida extraescolar e, essencialmente, na sua aproximação aos novos meios de transmissão e difusão de informação. ATIVIDADES E PRÁTICAS PROMOTORAS DE COMPETÊNCIAS TEC- NOLÓGICAS Na educação de infância, mercê da sua especificidade formal (inexistência de um currículo predefinido, inexistência de programas formais e peso superior da gestão curricu- lar na pessoa do educador/profissional), torna-se, por vezes, difícil assumir um espaço de organização e gestão e desenvolvimento de estratégias integradoras da área tecnológica na organização do espaço e do tempo do jardim de infância. Cabe ao profissional a escolha de estratégias e atividades que potenciem a utilização/ aprendizagem baseada na utilização de atividades referenciadas na utilização de instru- mentos tecnológicos. Apesar da maior evidência da “informatização” da sociedade, não é ainda muito visível a observação de práticas mediadas e contextualizadas na utilização de instrumentos tecno- lógicos por parte dos docentes, seja pela pouca disponibilidade pessoal, seja pela ineficiente formação promovida nos últimos 20 anos. A este propósito, sublinha-se, no entanto, a positiva evolução dos últimos anos, com a criação de uma Unidade de Missão para a Informação e o Conhecimento, e, no Ministério da Educação, a criação de uma Equipa para os Recursos Tecnológicos na Escola (ERTE) que definiu e operacionalizou um conjunto de estratégias que poderão, num curto espaço de tempo, alterar a situação. Neste sentido, é fundamental que o docente não ceda à tentativa de simplificar o próprio processo de formação individual e, acima de tudo, que permaneça constantemente moti- vado e envolvido na esfera do desenvolvimento tecnológico e social. Por outras palavras, compete ao docente contextualizar as suas capacidades e competências, nomeadamente
  • 9. 44 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br a sua capacidade para avaliar as situações educativas, a capacidade para planificar a ação e posterior aplicação dos conhecimentos teóricos e a sua capacidade para pôr em ação um plano, avaliando a sua progressão e reajustando trajetórias. Só criando situações que per- mitem, a um dado momento, praticar o comportamento que desejamos construir e retirando, dessa prática, ensinamentos para o desenvolvimento desse comportamento podemos po- tenciar os momentos de aprendizagem sem estarmos dependentes duma inserção plástica e forçada das tecnologias em ambiente escolar. Ao fazê-lo, contudo, o docente pode dar de si a imagem de um indivíduo preocupado, reflexivo e, acima de tudo, respeitado, neste “novo” mundo de informação e conhecimento. Se tivermos, por exemplo, a utilização do computador como fator motivador das (e para as) aprendizagens, que valoriza o espaço multimédia como estratégia de diversificação de formas de promoção da leitura e da literacia, ao mesmo tempo que permite a aprendizagem das diversas formas e funções da leitura, numa perspetiva integrada e integradora, assumi- mos, consequentemente que este, devidamente enquadrado, consubstancia um conjunto alargado de funções promotoras de aprendizagem dos processos de leitura e escrita, assim como dinamiza variados espaços de compreensão cognitiva. É neste espaço de “necessi- dade” pedagógica e letiva que o docente deverá operacionalizar as suas escolhas. As aprendizagens possíveis (decorrentes do contacto com instrumentos tecnológicos, que não apenas o computador), que se enquadram na área de educação para os media, da educação para a cidadania, no espaço da formação pessoal e social, contribuem, deci- sivamente para o desenvolvimento de espaços de questionamento, de reflexão participada e de análise crítica. E, neste particular, a escolha de instrumentos tecnológicos não tem, necessariamente, de ficar dependente da competência do docente para as utilizar. Através da reflexão, análise e preparação da utilização de meios audiovisuais de trans- missão de saberes e de formação pessoal e social, cumpre-se o objetivo de promover uma atitude crítica e reflexiva sobre os meios mediáticos de transmissão de saber. Ao docente cabe a missão de desempenhar o mediador de aprendizagem, bem como o de mediador/ potenciador de experiências. Mas há outras “competências” que podem (e devem) ser potenciadas na educação pré-escolar, através da mediação de instrumentos tecnológicos ou de informação. No domínio das competências motoras, por exemplo, a utilização do rato do computador é uma estratégia promotora do desenvolvimento de outras competências específicas, como é o exemplo da motricidade fina e da coordenação óculo-manual, entre outras. Porquê ser refém dos “livros de fichas”, com atividades de “escrita” que têm apenas a função motora, quando o computador pode ser tão motivador, enquanto promove efetivas aprendizagens?
  • 10. 45 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br Organizar e preparar atividades que, pela sua forma, se transformem em momentos de motivação pela novidade, mas também pela utilização de instrumentos “invulgares” potencia o desenvolvimento de competências diversas, enquanto disponibiliza formas alternativas de expressão. O retroprojetor, por exemplo, pode surgir como instrumento tecnológico (muitas vezes esquecido) que motiva pela novidade, e que se transforma num equipamento de fácil manuseio, capaz de potenciar um sem fim de experiência pedagógicas e didáticas, quer para o educador quer para os alunos envolvidos. Não obstante, esta inclusão instrumental obriga a uma planificação e preparação cui- dada de atividades e estratégias, constantemente refletidas e avaliadas, nas quais a profi- ciência do docente é exigível e necessária, apesar de envolver a necessidade de constante atualização técnica. Também as atividades que se baseiam na informação pertinente trazida “de casa” por cada um dos alunos potenciam um conjunto de conteúdos que trazem à escola o interesse pessoal de cada um deles, devolvendo-lhes o espaço de identificação com o seu meio de origem. Utilizar os instrumentos tecnológicos na perspetiva de valorização desta relação pedagógica é motivador e alarga consideravelmente o espaço motivacional dos alunos. A Internet, por exemplo, não só se posiciona como um espaço de comunicação efectiva (escola-família; escola-escola; família-criança) como se assume como fundamental para a construção de um novo paradigma educativo. Por outro lado, e no que respeita à promoção de competências técnicas, a utilização dos meios técnicos e tecnológicos (computadores, telefones móveis, leitores multimédia, etc.) aumenta o espaço de utilização e representação plástica, expressiva e artística (entre outras) revelando novas competências motoras e cognitivas nas crianças, ao mesmo tempo que as desenvolve. Também a construção de instrumentos tecnológicos na sala do jardim-de-infância (por exemplo, uma caixa Multibanco) potencia não só o espaço lúdico do próprio processo (cons- trução) como também a reflexão sobre a função dos instrumentos. Como é devidamente reconhecido, com a preparação de um instrumento “tecnológico” que serve para brincar, desenvolvem-se competências linguísticas, motoras e de expressão, mas também se abre caminho a um conjunto de atividades e estratégias de desenvolvimento cognitivo e mate- mático. Através da exploração do carácter lúdico e do jogo simbólico, com recurso a “meios informáticos”, aliada à exploração de conteúdos identitários, de independência e autonomia, a “Caixa Multibanco” serve os propósitos de potenciar a área de Formação Pessoal e Social nos seus múltiplos aspetos: com a caixa Multibanco “chegam” os cartões de identificação pessoal (cartões do de débito, com identificação individual – assinatura, foto e impressão
  • 11. 46 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br digital), a “descoberta” do dinheiro (notas e moedas – valor e uso) e até mesmo as regras de utilização, com os respetivos códigos numéricos. Através da seleção de estratégias diversificadas, que incluam a utilização e construção de “instrumentos tecnológicos”, a integração de saberes, competências e aprendizagens, motivadas por esse espaço “tecnológico” associado ao “mundo real”, constitui-se como um aspeto de crucial importância no modo como as tecnologias podem ser encaradas e inte- gradas no processo de socialização das crianças e dos jovens. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todas as dinâmicas e estratégias introduzidas intencionalmente na sala de jardim- de-infância potenciam a elaboração de estruturas contínuas de compreensão e aprendiza- gem social. Se forem concebidas numa perspetiva de integração de meios e de recursos aumentam não só a variedade das aprendizagens como facilitam a gestão dos recursos físicos e humanos. Na maior parte das vezes, os instrumentos estão já na sala de atividades e não serve de desculpa continuar a ambicionar por um computador: o telemóvel, o leitor vídeo, o retroprojetor, o rádio ou mesmo o relógio fazem parte, cada vez mais, dos objetos presentes na sala. O espaço de utilização das tecnologias e dos instrumentos tecnológicos e de comuni- cação no jardim-de-infância deve ser amplo e não condicionado por intenções de aprendi- zagens formalizadas ou definidas por parâmetros de causa-efeito imediato. Se considerarmos que a aprendizagem se situa entre uma intenção de adquirir e uma aquisição efetiva dos saberes mais diversos e que se faz através de uma escolha de obje- tivos e de uma escolha de situações, cuja natureza e ordem dependem daquele que teve a iniciativa da formação, teríamos, como ponto de partida, “uma solicitação do meio ambiente que encontra um acolhimento favorável naquele que o vai concretizar” (Bidarra, J., 1998, p. 21). É sobre esta solicitação do meio ambiente que é, atualmente, de carácter eminente- mente tecnológico, que a escola deve refletir toda a sua estrutura, seja ela pedagógica ou física, e a educação de infância não se deve autoexcluir. Por tal, cabe ao educador/profissional de educação, enquanto gestor do currículo, definir as estratégias (quer a pessoais: de formação, de atualização de conhecimentos, de experimentação, quer as profissionais: de formação, de construção de paradigmas educati- vos, de participação em grupos e fóruns de apoio e reflexão pedagógica) e as atividades que operacionalizem a aproximação da Escola às necessidades sociais de educação e formação.
  • 12. 47 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br REFERÊNCIAS 1. Abrantes, J. C. (1998) Educação para os Media, Cadernos de Educação de Infância, 44, P 28-29, Lisboa, APEI. 2. Bidarra, J. (1998) Aprender na Era Digital, Cadernos de Educação de Infância, 44, P 23-25, Lisboa, APEI. Cardoso, G. (2003) As várias Sociedades de Informação. Textos de Apoio (policopiados) Lisboa, ISCTE- MCCTI 3. Cardoso, C. (2001) Ler a Sociedade da Informação, Usar as NTIs. Actas do 1º Encontro Nacional de Investigação e Educação. Lisboa, ESE de Lisboa. 4. CNE (1999). A Sociedade de Informação na Escola. Lisboa, Ministério da Educação. 5. Cró, M. L. (1998) Formação Inicial e Contínua de Professores, Estratégias de Inter- venção. Porto, Porto Editora. 6. Eça, Teresa A. (1998) NetAprendizagem – A Internet na Educação. Porto, Porto Editora. 7. Fleer, M. (1996) Investigating Young Children’s Home Technological Language And Experience. Australian Reserch In Early Childhood Education, Vol. I. Sydney. 8. Futoran, G., Schofield, J. E Eurich-Fulcer, R. (1995) The Internet As A K-12 Educa- tional Resource: Emerging Issues Of Information Access And Freedom. Computers Education, 24 (3), 229-236. 9. Garcia, M. C. (1999) A Formação de Professores - Para a Mudança Educativa. Porto, Porto Editora. 10. Gomes, Mário Henrique (2011). A Pedagogia Diferenciada na Construção da Escola Para Todos: Conceitos, Estratégias e Práticas. Porto: Edições ECopy Lajus, S. P. E Magnier, M. R. (1999) A Escola na Era da Internet. Lisboa: Instituto Piaget. 11. Levy. P. (1994) Educação e Cibercultura. Edições Paulistas, Rio de Janeiro. 12. Martins, M. I. L. (1997) Folha de Papel branco e écran de computador onde se pintam fantasias. Col. Ciências da Educação. Lisboa, IIE. 13. Ministério da Educação (2001) As Tecnologias de Informação e da Comunicação nas Escolas: Condições de Equipamento e Utilização. Lisboa, DAPP. 14. Ministério da Educação (2002) As Tecnologias de Informação e da Comunicação e a Qualidade das Aprendizagens – Estudos de caso em Portugal. Lisboa, DAPP. 15. Ministério da Educação (2002) Manuais de Formação de Professores. Lisboa, DAPP. 16. Missão Para a Sociedade da Informação (1997) Livro Verde para a Sociedade de In- formação em Portugal. Lisboa, MSI-MCT. 17. Moreira, M. A.; Buchweitz, B. (1993) Novas Estratégias de Ensino e Aprendizagem. Lisboa, Ed. Plátano. Negroponte, N. (1996) Ser Digital. Lisboa, Editorial Caminho. 18. Paiva J. (2002) As Tecnologias de Informação e Comunicação: Utilização Pelos Pro- fessores. Lisboa, DAPP
  • 13. 48 Da Escola Sonhada À Escola Concretizada: diversidade, interculturalidade e aprendizagem autorregulada - ISBN 978-65-5360-222-9 - Vol. 1 - Ano 2022 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.com.br 19. - Ministério da Educação. 20. Patrocínio, T. (2002) Tecnologia, Educação e Cidadania. Lisboa, IIE. Papert, S. (1998) A Família em Rede. Lisboa, Relógio D’água. 21. Pereira, S. (1998) Crianças e Televisão. Cadernos de Educação de Infância, 44, P 14-18, Lisboa, APEI. Ponte, J. (1991) O Computador Como Ferramenta: O Que Diz a Investigação. Ciências da Educação em Portugal: Situação Actual e Perspectivas. Porto, SPCE. 22. Ponte, J. (1997) As Novas Tecnologias e a Educação. Lisboa, Texto Editora. Poster, M. (2000) A segunda Era dos Média. Lisboa, Celta. 23. Ramonet, I. (1999) A Teoria da Comunicação. Lisboa, Campo das Letras. 24. Roldão, M. (1996) A Educação Básica Numa Perspectiva de Formação ao Longo da Vida. Inovação. Vol. 9. N.º 3. Lisboa, IIE. 25. Santos, H.(2001) Os Computadores e Nós – Algumas informações úteis sobre o pro- cesso de aprendizagem. 26. Cadernos de Educação de Infância, n.º 60. Lisboa, APEI. 27. Santos, H. (2001) A Atitude do Educador face às Novas Tecnologias. Cadernos de Educação de Infância, nº58. Lisboa, APEI. 28. Santos, H. (1999) Os Computadores e Nós - A Internet. Cadernos de Educação de Infância, n.º 44, Lisboa, APEI. 29. Sartori G. (2000) Homo Videns - Televisão e Pós Pensamento. Lisboa, Terramar Te- odoro, V. (1992) Educação e Computadores. Lisboa, GEP-ME. 30. Zabalza, M. (1999) Planificação e Desenvolvimento Curricular na Escola. Lisboa. Edi- ções Asa. 31. - Na Internet 32. Alves, J. A., Campos, P. e Brito, P. Q. O Futuro da Internet http://www.centroatl.pt/ titulos/ futuro/index.php3 (23 de Julho de 2003) 33. Grisham, D. L. (2002) Making Technology Meaningful for Literacy Teaching: A Web- Quest.http://www.readingonline.org/editorial/edit_index.asp?HREF=february2001/index. html International Society for Technology in Education, Research on Internet Use in Education http://www.uoregon.edu/%7Emoursund/ResearchReports/internet.htm 34. Marques, R. Os desafios da Sociedade de Informação http://www.cursoverao.pt/c_1997/ rui001.htm (23 de Julho de 2003) 35. Painel da Inovação 2001 da Comissão Europeia [staff working paper SEC(2001) 1414] em http://www.europa.eu.int/scadplus/leg/pt/cha/c11031b.htm (23 de Julho de 2003) 36. Profiles in ICT for Teacher Education (2000-2001): http://ww.tdc.pt/pictte (11 de Junho de 2003) The European Union and the information society (October 2002) http://europa. eu.int/information_society/newsroom/documents/catalogue_en.pdf, (Maio de 2003) 37. UMIC, Plano de Acção para a Sociedade da Informação em Portugal. Presidência do Conselho e Ministros. www.umic.pcm.gov.pt (23 de Julho de 2003).