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Artigo 1 – GP Comunicação Pública e Política 26 08 14 
O processo de evolução metodológica dos conceitos de 
comunicação pública e propaganda política no Brasil. 
Adolpho Queiroz 
A apreciação sintética dos quatro textos oferecidos como base para as leituras do 
curso sobre metodologias da pesquisa sobre propaganda política, enseja-nos um olhar 
sobre diferentes métodos utilizados em quatro períodos relativamente recentes da história 
da comunicação pública e política no país. 
No primeiro deles, sobre o período de Getúlio Vargas, há que se considerar como 
estratégia comunicacional, através da confecção e distribuição a estudantes dos cursos 
primários – assim definidos à época – do país, noções sobre o governo nacionalista 
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Apresentado como herói, o texto vai nos colocando as contradições pretendias 
entre a intenção do governo de apresentar-se como construtor de novas ideias para o país 
contra as aspirações mais legítimas da sociedade, espelhadas através de seus sindicatos e 
associações de classe. 
O texto procura esconder figuras mais visíveis do período, de um Presidente 
ditador, embora afável, competente e que legou ao país – e em especial à classe 
trabalhadora – grandes conquistas como as oito horas diárias de trabalho, a jornada de 4 
horas semanais, o 13º salário, a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, 
mostrando-se como uma oferta paternal do governo e esvaziando as lutas das classes 
trabalhadoras para que estas conquistas fossem estabelecidas. 
Ao fazer chegar estas informações, através dos jovens estudantes, o governo 
exerceu claro processo de coerção. Contudo não se pode deixar de enxergar em Getúlio 
Vargas – e na sua competente equipe de comunicação, comandada pelo jornalista 
Lourival Fontes – um primeiro sinal claro, evidente de construção de uma máquina de 
propaganda governamental, da qual faziam parte jornalistas, publicitários, elações 
públicas, fotógrafos, cinegrafistas, cineastas, entre outros profissionais. 
Na segunda abordagem oferecida para análise, os autores constroem um texto que 
passeia pelos períodos dos presidentes militares, de Castelo Branco a João Figueiredo, 
destacando-se esforços e contradições exercidos pelos ocupantes do cargo naquele 
período. 
A criação de uma nova estrutura de comunicação política, a AERP, Assessoria 
Especial de Relações Públicas, ocupou o espaço do velho DIP de Getúlio Vargas, mas 
com intenções similares, de difundir a comunicação pública governamental, agora com a 
novidade da presença da televisão como instrumento de integração nacional. 
A perplexidade com a vitória eleitoral do MDB, em novembro de 1974, foi o 
estopim para os processos de abertura e redemocratização do país. Em que pese o esforço 
do governo de utilizar a televisão como instrumento de campanhas públicas de
valorização do voto e de estímulos à vida comunitária. É daquele período a campanha 
institucional do “Sugismundo”, um sujeito desregrado que vivia a emporcalhar a cidade. 
O grande mérito deste texto é discorrer justamente sobre as ações políticas e 
comunicacionais exercidas durante o regime militar. 
A presença do rádio foi retomada no período da “Nova República”, sob o comando 
de José Sarney. Homem de comunicação e das letras, o presidente eleito assume em 
condições de comoção nacional, por dois fatores: a derrota de uma campanha magnífica 
pela retomada das eleições diretas, as “Diretas Já”, capitaneadas por Tancredo Neves e 
Ulisses Guimarães e a morte do presidente eleito indiretamente pelo colégio eleitoral, 
com a posse do vice. 
Primeiro jornalista a ocupar o maior cargo político do país, especialista em 
comunicação desde os tempos de vereado no Maranhão, Sarney reinaugurou estilos de 
comunicação popular -- sob a inspiração de Vargas, Mussolini e Goebbels – criando o 
programa “Conversa ao pé do rádio”, que ia ao ar nas manhãs de sexta feira e falava 
diretamente com o cidadão mais simples, o operário, a dona de casa, o ascensorista, o 
motorista de táxi, enfermeiros, entre outros profissionais. 
Utilizado politicamente desde a sua criação, o rádio desempenhou papel 
estratégico na popularização do nome e das ações do presidente e foi instrumento decisivo 
quando a criação do “Plano Cruzado”, uma tentativa de reordenar a economia do país e 
da instituição dos “Fiscais do Sarney”, como forma de pressão da sociedade contra a 
remarcação diária dos preços dos gêneros de primeira necessidade e dos serviços no Brasil 
daqueles dias. 
Por fim, o quarto texto oferece-nos parâmetros para verificarmos de que forma o 
tema da “comunicação pública” e, noutra dimensão, a propaganda política, foram 
inseridas nas várias constituições que o Brasil teve ao longo do Século XX. 
A preocupação evidente com a ‘nacionalização” dos veículos de comunicação, 
naqueles dias, dava conta de que o país estaria protegido contra a desnacionalização da 
cultura e dos costumes, preservando a integridade de empresas genuinamente brasileiras 
nos campos do jornalismo impresso, do rádio ou da televisão. 
Os esforços da Constituinte de 1988, que debateu exaustivamente o assunto no 
período legou outros conceitos importantes, além do caráter nacionalista da radiodifusão, 
entre os quais a ampliação do prazo de concessões de 10 para 15 anos; a ampliação da lei 
para os setores público e privado; a criação do Conselho Nacional de Comunicação, até 
hoje não implementado; a abolição da censura; eliminar o uso abusivo do poder 
econômico e o direito de defesa das famílias contra programação considerada abusiva ou 
enganosa, entre outras. 
À guisa de considerações finais, constata-se que as questões de natureza 
ideológica, entre democratas ou militares, sempre teve como pano de fundo a 
identificação ideológica dos regimes. O autoritarismo manifesto dos períodos Vargas e 
do ciclo dos Militares, evidenciou um aperfeiçoamento da construção da máquina pública 
de propaganda política, com a extensão as ações que foram do campo das cartilhas para 
jovens e instrumentalização da imprensa, passando posteriormente para campos mais
sofisticados utilizados pelos militares, como o planejamento estratégico para a área e a 
televisão. 
Do período democrático apresentado, as ações permaneceram com grande carga 
ideológica, como a utilização do rádio como meio de massificação de um discurso 
igualmente nacionalista, mas com tom para as contradições econômicas do período de 
Sarney, até um primeiro momento de participação da sociedade civil organizada, 
influenciando a Constituição de 1988, com seus apelos oferecidos pelas associações de 
classe, entre eles, a nacionalização da propriedade intelectual dos meios de comunicação 
de massa no país. 
Com a chegada da internet em 1990, os esforços daquela última ação 
constitucional, diluiu-se entre os milhões de usuários das novas plataformas, dos 200 
milhões de blogs e sites existentes e trouxe o mundo para dentro das casas, universidades, 
do serviço público e dos partidos políticos, suscitando um novo aprendizado e um novo 
método de análise sobre os processos comunicacionais. 
PERROTI, Edmir e PINSKY, Mirna. Getúlio Vargas para crianças: a exceção e a regra, in “Populismo e comunicação”, 
org. José Marques de melo, INTERCOM, São Paulo, 1975; 
JAMBEIRO, Othon. As múltiplas faces da Constituição cidadã, in GOULART, Jeferson, “A comunicação na 
constituição de 1988; 
VELASCO, E CRUZ, Sebastião, De Castelo a figueiredo, uma visão histórica da abertura, in CHERESKY, Isidoro e 
CHONCHOL, Jacques, Crise e transformação dos regimes autoritários”; 
PINTO, Célia Regina Jardim Pinto. Com a palavra o Senhor Presidente José Sarney, o discurso do plano cruzado. 
Adolpho Queiroz, é pós-doutor em comunicação pela UFF e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
adolpho.queiroz@mackenzie.br

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Evolução dos conceitos de comunicação pública e propaganda política no Brasil

  • 1. Artigo 1 – GP Comunicação Pública e Política 26 08 14 O processo de evolução metodológica dos conceitos de comunicação pública e propaganda política no Brasil. Adolpho Queiroz A apreciação sintética dos quatro textos oferecidos como base para as leituras do curso sobre metodologias da pesquisa sobre propaganda política, enseja-nos um olhar sobre diferentes métodos utilizados em quatro períodos relativamente recentes da história da comunicação pública e política no país. No primeiro deles, sobre o período de Getúlio Vargas, há que se considerar como estratégia comunicacional, através da confecção e distribuição a estudantes dos cursos primários – assim definidos à época – do país, noções sobre o governo nacionalista implantado pelo então presidente. Apresentado como herói, o texto vai nos colocando as contradições pretendias entre a intenção do governo de apresentar-se como construtor de novas ideias para o país contra as aspirações mais legítimas da sociedade, espelhadas através de seus sindicatos e associações de classe. O texto procura esconder figuras mais visíveis do período, de um Presidente ditador, embora afável, competente e que legou ao país – e em especial à classe trabalhadora – grandes conquistas como as oito horas diárias de trabalho, a jornada de 4 horas semanais, o 13º salário, a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, mostrando-se como uma oferta paternal do governo e esvaziando as lutas das classes trabalhadoras para que estas conquistas fossem estabelecidas. Ao fazer chegar estas informações, através dos jovens estudantes, o governo exerceu claro processo de coerção. Contudo não se pode deixar de enxergar em Getúlio Vargas – e na sua competente equipe de comunicação, comandada pelo jornalista Lourival Fontes – um primeiro sinal claro, evidente de construção de uma máquina de propaganda governamental, da qual faziam parte jornalistas, publicitários, elações públicas, fotógrafos, cinegrafistas, cineastas, entre outros profissionais. Na segunda abordagem oferecida para análise, os autores constroem um texto que passeia pelos períodos dos presidentes militares, de Castelo Branco a João Figueiredo, destacando-se esforços e contradições exercidos pelos ocupantes do cargo naquele período. A criação de uma nova estrutura de comunicação política, a AERP, Assessoria Especial de Relações Públicas, ocupou o espaço do velho DIP de Getúlio Vargas, mas com intenções similares, de difundir a comunicação pública governamental, agora com a novidade da presença da televisão como instrumento de integração nacional. A perplexidade com a vitória eleitoral do MDB, em novembro de 1974, foi o estopim para os processos de abertura e redemocratização do país. Em que pese o esforço do governo de utilizar a televisão como instrumento de campanhas públicas de
  • 2. valorização do voto e de estímulos à vida comunitária. É daquele período a campanha institucional do “Sugismundo”, um sujeito desregrado que vivia a emporcalhar a cidade. O grande mérito deste texto é discorrer justamente sobre as ações políticas e comunicacionais exercidas durante o regime militar. A presença do rádio foi retomada no período da “Nova República”, sob o comando de José Sarney. Homem de comunicação e das letras, o presidente eleito assume em condições de comoção nacional, por dois fatores: a derrota de uma campanha magnífica pela retomada das eleições diretas, as “Diretas Já”, capitaneadas por Tancredo Neves e Ulisses Guimarães e a morte do presidente eleito indiretamente pelo colégio eleitoral, com a posse do vice. Primeiro jornalista a ocupar o maior cargo político do país, especialista em comunicação desde os tempos de vereado no Maranhão, Sarney reinaugurou estilos de comunicação popular -- sob a inspiração de Vargas, Mussolini e Goebbels – criando o programa “Conversa ao pé do rádio”, que ia ao ar nas manhãs de sexta feira e falava diretamente com o cidadão mais simples, o operário, a dona de casa, o ascensorista, o motorista de táxi, enfermeiros, entre outros profissionais. Utilizado politicamente desde a sua criação, o rádio desempenhou papel estratégico na popularização do nome e das ações do presidente e foi instrumento decisivo quando a criação do “Plano Cruzado”, uma tentativa de reordenar a economia do país e da instituição dos “Fiscais do Sarney”, como forma de pressão da sociedade contra a remarcação diária dos preços dos gêneros de primeira necessidade e dos serviços no Brasil daqueles dias. Por fim, o quarto texto oferece-nos parâmetros para verificarmos de que forma o tema da “comunicação pública” e, noutra dimensão, a propaganda política, foram inseridas nas várias constituições que o Brasil teve ao longo do Século XX. A preocupação evidente com a ‘nacionalização” dos veículos de comunicação, naqueles dias, dava conta de que o país estaria protegido contra a desnacionalização da cultura e dos costumes, preservando a integridade de empresas genuinamente brasileiras nos campos do jornalismo impresso, do rádio ou da televisão. Os esforços da Constituinte de 1988, que debateu exaustivamente o assunto no período legou outros conceitos importantes, além do caráter nacionalista da radiodifusão, entre os quais a ampliação do prazo de concessões de 10 para 15 anos; a ampliação da lei para os setores público e privado; a criação do Conselho Nacional de Comunicação, até hoje não implementado; a abolição da censura; eliminar o uso abusivo do poder econômico e o direito de defesa das famílias contra programação considerada abusiva ou enganosa, entre outras. À guisa de considerações finais, constata-se que as questões de natureza ideológica, entre democratas ou militares, sempre teve como pano de fundo a identificação ideológica dos regimes. O autoritarismo manifesto dos períodos Vargas e do ciclo dos Militares, evidenciou um aperfeiçoamento da construção da máquina pública de propaganda política, com a extensão as ações que foram do campo das cartilhas para jovens e instrumentalização da imprensa, passando posteriormente para campos mais
  • 3. sofisticados utilizados pelos militares, como o planejamento estratégico para a área e a televisão. Do período democrático apresentado, as ações permaneceram com grande carga ideológica, como a utilização do rádio como meio de massificação de um discurso igualmente nacionalista, mas com tom para as contradições econômicas do período de Sarney, até um primeiro momento de participação da sociedade civil organizada, influenciando a Constituição de 1988, com seus apelos oferecidos pelas associações de classe, entre eles, a nacionalização da propriedade intelectual dos meios de comunicação de massa no país. Com a chegada da internet em 1990, os esforços daquela última ação constitucional, diluiu-se entre os milhões de usuários das novas plataformas, dos 200 milhões de blogs e sites existentes e trouxe o mundo para dentro das casas, universidades, do serviço público e dos partidos políticos, suscitando um novo aprendizado e um novo método de análise sobre os processos comunicacionais. PERROTI, Edmir e PINSKY, Mirna. Getúlio Vargas para crianças: a exceção e a regra, in “Populismo e comunicação”, org. José Marques de melo, INTERCOM, São Paulo, 1975; JAMBEIRO, Othon. As múltiplas faces da Constituição cidadã, in GOULART, Jeferson, “A comunicação na constituição de 1988; VELASCO, E CRUZ, Sebastião, De Castelo a figueiredo, uma visão histórica da abertura, in CHERESKY, Isidoro e CHONCHOL, Jacques, Crise e transformação dos regimes autoritários”; PINTO, Célia Regina Jardim Pinto. Com a palavra o Senhor Presidente José Sarney, o discurso do plano cruzado. Adolpho Queiroz, é pós-doutor em comunicação pela UFF e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. adolpho.queiroz@mackenzie.br