Capital social na saúde: humanização e comunicação
1. Capital Social
Aplicações
Devani Salomão
Simone Carvalho
01/10/2014
GP Comunicação Pública e Política
2. Capital social: relações humanizadas
na saúde pública
Simone Alves de Carvalho
Palavras-chave: comunicação pública,
SUS, humanização, capital social, relação
paciente-profissional da saúde
MATOS, Heloiza (org.). Comunicação pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas. São Paulo: ECA/USP, 2013.
3. Problemas na assistência médica
Dificuldade à assistência sanitária, aos medicamentos, aos
diagnósticos universalização dos serviços de assistência
à saúde
Erro médico avanços tecnológicos e qualificação
técnica
Falta de humanidade no tratamento capital social (?)
(Mezzomo, 2010)
4. Humanização na assistência médica
“a ação de humanizar o atendimento (médico), tornando-o
sensível às necessidades e desejos dos pacientes e familiares,
mediante ações que visam transformar positivamente o
ambiente hospitalar” (Godoi, 2008)
“falar de humanização da assistência hospitalar soa como um
paradoxo, pois toda atividade é realizada pelo homem, para
o homem. Mas diz-se que a partir dessa atividade
desapareceram a sensibilidade, a emotividade, a compaixão
e a empatia. Prevê-se, portanto, um urgente retorno a essas
dimensões, especialmente necessárias quando o homem
adoece. “ (Mezzomo, 2010)
5. Humanização na assistência médica
“só há uma coisa a fazer para melhorar e manter-se no
mercado [hospitalar] tão competitivo: investir na
humanização, a última descoberta da tecnologia
moderna”
“os clientes de saúde (enfermos, familiares,
acompanhantes, visitantes) sentem-se confiantes e
motivados quando a solidariedade apresenta-se
estampada nos semblantes de todos os envolvidos em seu
atendimento”
(Taraboulsi, 2009)
6. Organizações desumanizadas
violência simbólica, em que “as formas institucionais
criam sistemas de diferença que constroem e posicionam
as pessoas como de dentro ou de fora, dignas ou indignas,
valiosas ou sem valor” (Mumby, 2010) desaparecimento
gradual do tratamento humanizado dos doentes
O ambiente hospitalar humanizado só poderá existir em
uma organização que apresentar um ambiente de trabalho
verdadeiramente satisfatório aos empregados de todos os
setores, sendo um reflexo de sua identidade.
7. Organizações públicas na saúde
“No caso específico das organizações públicas, constata-se
ainda a centralização do poder, a burocracia elevada, o
atendimento insatisfatório e funcionários desinteressados, o
que compromete a prestação do serviço público com
qualidade e satisfação. Diante disso, torna-se imprescindível
uma gestão que coloque o ser humano e seu
desenvolvimento como início, meio e fim dos objetivos e das
práticas organizacionais, em prol de relações de trabalho
mais humanas, dignas e éticas. É por meio dessa gestão que a
organização pública poderá propiciar uma cultura de
valorização, em busca de um serviço público mais qualificado e
voltado integralmente para o bem-estar social.” (Silva, 2010)
8. O uso do capital social na humanização
Coleman e Putnam (apud Matos, 2009) apontam que a saúde
pública é um dos campos em que a influência do capital
social pode ser analisada
Partimos dessa premissa para afirmar que o capital social é
determinante para que o processo de humanização
hospitalar seja possível, especialmente no que tange ao SUS
O capital social é “componente da ação coletiva, ativando
as redes sociais” (Matos, 2009)
9. Capital social
confiança entre os membros da rede,
capacidade de estrutura social e
fluxos informacionais e normas para reger o processo
(Coleman apud Matos, 2009)
Comitês de humanização (PNH) pautados
(instintivamente?) nesses pressupostos
10. Males de origem
O país assume algumas características identitárias como
clientelismo, populismo, dependência e o insolidarismo,
entre outros de sentidos negativos, especialmente no
que tange a organização social para a criação e
consolidação de um capital social (Cremonese, 2006)
“No Brasil a cidadania existe, mas não para todos”
(Peruzzo, 2011)
11. A importância da comunicação pública
para a humanização
A comunicação pública deve envolver “o cidadão de
maneira diversa, participativa, estabelecendo um fluxo
de relações comunicativas entre o Estado e a
sociedade” (Matos, 2009)
A comunicação pública é “o processo de comunicação
que ocorre entre as instituições públicas e a sociedade
e que tem por objetivo promover a troca ou o
compartilhamento das informações de interesse
público” (Novelli, 2006)
12. Comunicação pública
Categorias analíticas (Duarte, 2009):
institucionais consolidar a identidade institucional
de gestão
de utilidade pública informações úteis
de interesse privado
mercadológico
de prestação de contas
dados públicos
13. Considerações finais (iniciais*)
O sujeito é atendido por pessoas, muitas vezes sem o treinamento
adequado ou sem habilidade para o atendimento e pode ser
verificada a existência ou não de um tratamento humanizado
Essa humanização é transmitida através de ações e palavras, a
comunicação interpessoal, que é “a comunicação entre os
indivíduos, como as pessoas se afetam mutuamente e, assim, se
regulam e controlam uns aos outros” (Kunsch, 2003)
Ou seja, a humanização está relacionada com a comunicação entre
as pessoas, da maneira como elas oferecem e recebem informações,
e o processamento destas dependerá intrinsecamente do capital
social dos interlocutores
14. Idosos: qualidade de vida, capital
social, respeito e reconhecimento em
políticas de saúde
Devani Salomão
Palavras-chave: saúde pública, idoso,
qualidade de vida, capital social, respeito e
reconhecimento.
MATOS, Heloiza (org.). Comunicação pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas. São Paulo: ECA/USP, 2013.
15. O idoso no Brasil
No Brasil, a previsão é que o número de idosos triplique
até 2050, passando de 21 milhões para 64 milhões.
Seguindo essa previsão, a proporção de pessoas mais
velhas em relação ao total da população brasileira
passaria de 10% para 29%, em 2050 riscos econômicos
ligados ao envelhecimento da população
Institucionalização da aposentadoria velhice e
invalidez associados no imaginário popular
16. Idadismo
De modo semelhante ao que sucede nos casos do racismo
e do sexismo, o idadismo refere-se, de um modo geral, a
atitudes e práticas negativas generalizadas em relação a
indivíduos, baseadas somente numa característica – a
sua idade (Kite, Stockdale, Whitley & Johnson, 2005)
A adoção de termos que “soam bem” para designar a
idade mais avançada desmascara o preconceito existente
Neri e Freire (2000)
17. A idade cronológica
A classificação de um indivíduo como idoso não deve limitar-se apenas à idade
cronológica, embora a mesma tenha sido adotada de forma massiva e quase
como exclusiva nas discussões sobre o envelhecimento. É fundamental
também levar em conta as idades biológica, social e psicológica que não
coincidem necessariamente com a cronológica. Portanto, a diferença entre as
mesmas é importante, a fim de que se possa compreender melhor as
múltiplas dimensões da velhice.
18. A promoção da saúde
indicadores de bem-estar na velhice: longevidade, saúde
biológica, saúde mental, satisfação, controle cognitivo,
competência social, produtividade, atividade, eficácia
cognitiva, status social, renda, continuidade de papéis
familiares e ocupacionais, e continuidade de relações
informais em grupos primários (principalmente rede de
amigos) (Neri, 2000)
19. O capital social e a velhice
É o conjunto de relações e redes de ajuda mútua que
podem ser mobilizadas efetivamente para beneficiar o
indivíduo ou sua classe social (Bourdieu, 1980)
O capital social é propriedade do indivíduo e de um grupo,
é concomitantemente estoque e base de um processo
de acumulação que permite as pessoas incialmente bem
dotadas e situadas de terem mais êxito na competição
social
20. O capital social e a velhice
De todas as situações estudadas, no intuito de se verificar as
consequências do capital social, não há nenhuma outra em que
o valor das relações sociais está comprovado como na saúde
e bem-estar (Putnam, 2002)
Outros estudos têm ligado os baixos níveis de mortalidade com
a afiliação a grupos de trabalhos voluntários, participação em
atividades culturais, à assistência à igreja, telefonemas e
visitas a amigos e parentes, as práticas de sociabilidade,
participação em esportes organizados ou ao pertencimento a
unidades militares coesas (Putnam, 2002)
21. Os medicamentos na velhice e a luta
pela cidadania
Uso médio de 3 medicamentos por dia reflexão das
condições futuras do envelhecimento saudável,
relacionadas às condições socioeconômicas
“Tornar os indivíduos conscientes e participativos na
conservação da sua saúde e na prevenção da doença
implica conduzir os usuários e os profissionais de saúde a
uma relação de autonomia do idoso, em uma perspectiva
de adaptação contínua ao ambiente”
22. O respeito e cuidar de si mesmo
Segundo Senett (2004) “a sociedade forma o caráter de três maneiras para
que as pessoas conquistem respeito ou não consigam suscitá-lo,
1ª. Ocorre através do autodesenvolvimento, pelo desenvolvimento de
capacidade e habilidades;
A pessoa muito inteligente que desperdiça talento não inspira respeito;
alguém menos dotado, que trabalhe no limite de sua capacidade, sim.
Isso porque a sociedade condena o desperdício, valorizando o uso eficiente de
recursos;
23. O respeito e o cuidar de si mesmo
Conquista do respeito:
2ª. Cuidar de si mesmo: não se tornar um fardo para os
outros o adulto dependente expõe-se à vergonha
Isso se deve devido ao ódio ao parasitismo
3ª. Retribuir aos outros: a troca é o princípio social que
anima o caráter de quem retribui à comunidade fonte de
estima mais universal, intemporal e profunda para o caráter
de alguém
(Sennett, 2004)
24. O locus da pesquisa
Maio 2010
52 idosos abordados no salão de espera do atendimento
ambulatorial
Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato
de Oliveira”, pertencente ao Instituto de Assistência
Médica ao Servidor Público Estadual, uma entidade
autárquica autônoma, sem fins lucrativos, com
personalidade jurídica e patrimônio próprio
25. População idosa pesquisada
Muitos aposentados descobriram novas habilidades. A não ser por
incapacidade física , eles continuam ativos, nos espaço privados e públicos.
Quanto à troca, pode-se inferir que recebem muito pouco, levando-se em
consideração o que já deram nos anos vividos, seja pelo aspecto econômico,
pela experiência, pelo papel que ocupam nas famílias
26. Considerações finais
Difícil falar em qualidade de vida
Falta de orgulho de ter chegado à velhice
Capital social adquirido nas próprias relações sociais
visão crítica apurada, atentas para os direitos assegurados
pelo Estatuto do Idoso e pela Constituição, mas tem
dúvidas quanto a poder exigir esses direitos
27. Posfácio sobre o método da pesquisa
Jessé Souza
“O inimigo de qualquer pesquisa empírica crítica que
reflete sobre seus pressupostos é o ‘fetiche do
número’”
“A ‘quantidade’ de pessoas entrevistadas se
transforma no único critério de ‘cientificidade’ de
pesquisas empíricas numa sociedade de informação
sem reflexão”
SOUZA, Jessé (org.). A ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: UFMG, 2009.
28. Quali ou quanti?
“Isso não deve levar a uma oposição enganosa entre
‘qualidade’ e ‘quantidade’. Ao contrário, desde que
apropriada reflexivamente e contextualizada num quadro
teórico de referência que lhe confere poder explicativo
efetivo, a quantificação estatística, por exemplo, é um
instrumento indispensável de qualquer pesquisa crítica”
“Os tipos sociais aqui estudados foram escolhidos, em
grande medida, por sua relevância estatística”
29. Pesquisa inicial
“4 pesquisas estatisticamente relevantes no contexto da
literatura da sociologia empírica convencional, entre 1996
e 1998 no DF”
3 pesquisas “600 pessoas obedecendo as regras da
amostra domiciliar. Infelizmente essas pesquisas não
trouxeram o retorno esperado. Perguntas diretas e
estereotipadas”
4ª pesquisa “método frankfurtiano das questões
indiretas e projetivas” (Adorno) utilização simultânea
de princípios convencionais e críticos
30. Trajetória
“Foi, portanto, um penoso processo de aprendizado,
tentativa e erro”
“Entrevistar 20-25 prostitutas durante um período de 2
anos, repetindo as entrevistas, observando sua atuação
prática no seu próprio meio, assistindo a conversas com
seus filhos e com suas mães, refazendo as entrevistas para
aproveitar as contradições, inconsistências e lacunas das
entrevistas anteriores”
31. Trajetória (cont.)
“Nossa pesquisa desenvolveu um método reflexivo e
coletivo – especialmente nos últimos 18 meses de sua
duração total de quase quatro anos – que consistiu em
discutir todas as entrevistas mais importantes e todos os
textos interpretativos em conjunto. Isso permitiu que
cada um pudesse ouvir e aprender com as sugestões dos
outros colegas. Esse procedimento exigiu que cada texto
fosse escrito e reescrito diversas vezes, de modo que
todos participassem ativamente do exercício
interpretativo”
32. Trajetória (cont.)
Reuniões semanais durante 18 meses grupo de
pesquisadores com disponibilidade de tempo integral
“Os pesquisadores foram ‘formados’, enquanto
pesquisadores qualificados, no próprio processo de feitura
da pesquisa ao longo desses quatro anos”
33. “A pesquisa científica crítica desafia os poderes instituídos
dentro e fora do mundo acadêmico. Por conta disso, ela
nunca é dominante. Mas é com pesquisas desse tipo que mais
aprendemos sobre o mundo como ele é, e não como os
interesses dos vários poderes que dominam todas as esferas
da vida querem que o percebamos. O que está por trás dessa
discussão sobre quantidade e qualidade, sobre a aceitação
ingênua da verdade do agente ou sua reconstrução
contextualizada e metódica é uma forma de compreender o
mundo: legitimando os poderes de fato ou desvelando as
bases das injustiças sociais legitimadas, inclusive, por esse
tipo de ‘ciência’ da ordem.”
Jessé Souza