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Ideologia, ideologias?
ROGATA SOARES DEL GAUDIO
Professora do COLTEC/UFMG, graduada em Geografia (IGC/UFMG); mestre em
Ciências Sociais (ênfase em Ciência Política) - PUC/SP; doutora em Educação -
FAE/UFMG. Membro do NEILS (Núcleo de Estudos sobre Ideologias e Lutas
Sociais – PUC/SP).
Tutora da TABA ELETRÔNICA.
DORALICE BARROS PEREIRA
Professora do IGC/UFMG, graduada em Geografia, mestre em Geografia pela
Universidade Federal de Minas Gerais e Doutora em Geografia pela Universidade
de Montréal.
Slides preparados para a disciplina Tópicos Especiais IV – Geografias e
Ideologias, ministrada pelas referidas professoras no Programa de Pós-
Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG entre 2009 e
2010.
O espaço...
Não é um objeto científico afastado da ideologia e da
política; sempre foi político e estratégico. Se o espaço
tem uma aparência de neutralidade e indiferença em
relação a seus conteúdos e, desse modo, parece ser
“puramente” formal, a epítome da abstração racional é
precisamente por ter sido ocupado e usado, e por já ter
sido o foco de processos passados cujos vestígios nem
sempre são evidentes na paisagem. O espaço foi
formado e moldado a partir de elementos históricos e
naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é
político e ideológico. É um produto literalmente repleto
de ideologias.
(H. Lefebvre, apud SOJA, E. 1993, p. 102)
IdeologiaIdeologia : origens do conceito: origens do conceito
ÉÉ o conceito mais indefino conceito mais indefiníível no conjunto das ciências sociais.vel no conjunto das ciências sociais.
O termo ideologia aparece pela 1ª vez na França, início do séc. XIX, no livro de Destutt de
Tracy, Éléments d’idéologie, publicado em 1801. Junto ao médico Cabanis, de Gérando e
Volney, de Tracy pretendia elaborar uma ciência da gênese das idéias, tratando-as como
fenômenos naturais que exprime a relação do corpo humano enquanto organismo vivo,
com o meio ambiente. Elabora uma teoria sobre as faculdades sensíveis, responsáveis
pela formação de todas as nossas idéias: querer (vontade), julgar (razão), sentir
(percepção) e recordar (memória).
Marx conservará o significado napoleônico do termo: o ideólogo é aquele que inverte as
relações entre as idéias e o real. (CHAUI, 2006, 25)
Para Destut de Tracy as idéias derivam exclusivamente de percepções sensoriais, a
inteligência humana é um aspecto da vida animal e "ideologia" é, portanto, parte da
zoologia. Nessa análise reducionista, as atividades mentais seriam atribuídas as causas
fisiológicas subjacentes, e levariam à verdade científica; eles exigiram reformas
educacionais a partir dessa nova ciência.
Napoleão quis defender a religião contra seus detratores e denunciou de Tracy e seu
círculo como “metafísicos nebulosos" e sua ciência de idéias como uma ideologia
perigosa. A palavra "ideologia" assumiu um sentido pejorativo. As idéias estariam sendo
usadas para obscurecer a verdade e manipular as pessoas através do engano
(propaganda).
Os significados associados a ideologia: uma ciência de idéias, que se originam de
alguma base fundamental, extra-ideacional (fisiologia, classe, luta pelo poder e assim por
diante), a denúncia de idéias como visionárias e subversivas, e daí a associação de
doutrinas ou mitos a algum grupo ou movimento inclinado a pôr em ação algum plano
político ou cultural perigoso. (OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do
Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1996, p. 371-372)
O significado pejorativo de ideologia tornou-se um recurso nas lutas políticas do
século XIX, quando a política dos notáveis deu lugar ao desenvolvimento de partidos
políticos, com apelos às massas. As questões públicas eram preocupação de uns poucos
privilegiados, que partiam do princípio de que sabiam o que era melhor para seus inferiores.
O privilégio de sua posição social dispensava justificativas às suas ações e seus
oponentes eram acusados de visionários ideológicos que subvertiam a ordem social através
de maquinações abstratas, fora de contato com a realidade. Liberais e radicais
sustentavam que as questões públicas eram uma preocupação do povo e organizavam
clubes ou partidos políticos para promoverem seus objetivos.
Era o velho paradoxo do mentiroso: um homem diz que todos os homens usam
idéias para enganar; ele é homem, logo sua própria afirmação também é enganosa.
Marx e Engels denunciaram seus oponentes como "ideólogos" e elaboraram uma
teoria da "verdade histórica" que afirmava que seus próprios pontos de vista eram
científicos. A história é uma história de lutas de classe, afirmaram, brotando da
organização da produção e afetando todos os aspectos da consciência. Marx diferencia
sucessivas estruturas sociais, tais como feudalismo e capitalismo, em termos das classes e
da consciência a que elas dão origem.
Eles identificam a verdade com o papel histórico da classe que, pelo fato de ter
sido subjugada no passado, tem o futuro progressista em suas mãos. O domínio
reacionário de uma classe (a aristocracia no feudalismo, a burguesia no capitalismo) leva a
defesas ideológicas do status quo; o papel progressista de uma classe (a burguesia no
feudalismo, o proletariado no capitalismo) é a fonte da verdade no sentido do acesso à
compreensão correta de toda a presente alienação e da emancipação humana no futuro.
No passado os filósofos interpretaram o mundo e produziram
reflexões ideológicas de relações de classe desumanizantes, por mais
abstratamente que fosse. Hoje trata-se de destruir tais condições
desumanizantes por uma unidade de teoria e prática tal que, na crise final do
capitalismo (e devido a ela), os que se identificam com a classe operária
poderão e irão compreender "teoricamente o movimento histórico como um
todo". A obra de Marx foi colocada no centro de sua distinção histórico-mundial
entre ideologia e verdade. Estar do "lado certo", e portanto "científico", da
história do mundo distingue o marxismo de todas as outras teorias sociais e
políticas.
Outras concepções de ideologia consideram que as idéias não
podem nem devem ser tomadas pelo seu significado manifesto, mas
analisadas quanto as "forças" que estão por trás delas: as lutas de classe de
Marx, a vontade de poder de Nietzsche, a constituição libidinal da natureza
humana de Freud ou uma preferência geral por explicações genéticas. A
atenção se volta não sobre o que uma pessoa diz, mas o motivo porque ela
o diz, o que retarda o "fim da ideologia". (OUTHWAITE, William e
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de
Janeiro: Zahar Ed., 1996, p. 371-372)
CHAUÍ, (2006): “desfazer a suposição de que a ideologia é um ideário qualquer ou
qualquer conjunto encadeado de idéias e, ao contrário, mostrar que a ideologia é um ideário
histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de
assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”.
Concepção de ideologia: “tomar as idéias como independentes da realidade
histórica e social, quando na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as idéias
elaboradas e a capacidade ou não que elas possuem para explicar a realidade que as
provocou”. (CHAUI, 2006, p. 8 e 13)
A alienação social se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea,
formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e
justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida.
Exemplo: a “explicação da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa
(preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural”. Esse senso comum
social resulta de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou
intelectuais da sociedade - sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, jornalistas, artistas -,
que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a qual pertencem, a
classe dominante de sua sociedade. Tal elaboração intelectual incorporada pelo senso comum
social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das
classes sociais - a dominante e dirigente - tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as
classes e de toda a sociedade.
A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas,
dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão:
apesar da divisão social das classes, somos induzidos a crer que somos todos iguais porque
participamos da idéia de “humanidade”, ou de “nação” e “pátria”, ou “raça”, etc. Diferenças
naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são
produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das
capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.
A produção ideológica da ilusão social visa fazer com que todas as
classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais,
normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las
realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as
condições reais em que vivemos e as idéias.
P. ex., a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos
todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No
entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua, os
mendigos não tem direitos ou tem direitos restritos; os direitos culturais das
crianças nas escolas públicas é distinto daquele das crianças em escolas
particulares, pois o acesso aos bens culturais é diferenciado; negros e
índios são discriminados como inferiores; os homossexuais são
perseguidos como pervertidos, etc.
A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e
contribuir com os impostos já os faz cidadãos, sem considerar as condições
concretas que fazem alguns serem mais cidadãos que outros. A função da
ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas.
Os procedimentos da ideologiaOs procedimentos da ideologia
A ideologia opera por inversão, coloca os efeitos no lugar das causas e
transforma estas últimas em efeitos. Ela opera com o inconsciente: este fabrica
imagens e sintomas; aquela fabrica idéias e falsas causalidades.
Por ex., certo senso comum afirma que a mulher é um ser frágil, sensitivo,
intuitivo, feito para as doçuras do lar e da maternidade e que foi destinada, por
natureza, para a vida doméstica, o cuidado do marido e da família. Assim o “ser
feminino” é colocado como causa da “função social feminina”.
Historicamente ocorreu o contrário: na divisão sexual-social do trabalho e dos
poderes no interior da família, atribuiu-se à mulher um lugar levando-se em
conta o lugar masculino: como este era o lugar do domínio, da autoridade e do
poder, deu-se à mulher o lugar subordinado e auxiliar, a função complementar
e, visto que o número de braços para o trabalho e para a guerra aumentava o
poderio do chefe da família e chefe militar, a função reprodutora da mulher
tornou-se imprescindível, trazendo como conseqüência sua designação
prioritária para a maternidade.
Estabelecidas essas condições sociais, era preciso persuadir as mulheres de
que seu lugar e sua função não provinham do modo de organização social, mas
da Natureza, e eram excelentes e desejáveis. Montou-se a ideologia do “ser
feminino” e da “função feminina” como naturais e não como históricos e sociais.
Passamos então, a tomar os efeitos pelas causas.
A segunda maneira de operar da ideologia é a produção do
imaginário social, através da imaginação reprodutora.
Recolhendo as imagens diretas e imediatas da experiência social
(isto é, do modo como vivemos as relações sociais), a ideologia
as reproduz, mas transformando-as num conjunto coerente,
lógico e sistemático de idéias que funcionam em dois registros:
a) representações da realidade (sistema explicativo ou teórico) e
b) como normas e regras de conduta e comportamento:
Representações, normas e valores formam um tecido de
imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a
sociedade o que ela deve e como deve pensar, falar, sentir e
agir. A ideologia assegura, a todos, modos de entender a
realidade e de se comportar nela ou diante dela, eliminando
dúvidas, ansiedades, angústias, admirações, ocultando as
contradições da vida social, bem como as contradições entre
esta e as idéias que supostamente a explicam e controlam.
3ª. maneira de operação da ideologia é o silêncio.
Um imaginário social se parece com uma frase onde nem tudo é
dito, nem pode ser dito, porque, se tudo fosse dito, a frase perderia
a coerência, tornar-se-ia incoerente e contraditória e ninguém nela
acreditaria.
A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia vêm,
portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto, a ideologia
opera exatamente como o inconsciente descrito pela psicanálise).
Por ex., a certas ideologias afirmam que o adultério é crime (tanto
assim que homens que matam suas esposas e os amantes delas
foram por décadas e são, em alguns países, considerados
inocentes porque praticaram um ato em nome da honra), que a
virgindade feminina é preciosa e que o homossexualismo é uma
perversão e uma doença grave (tão grave que, para alguns, Deus
resolveu punir os homossexuais enviando a peste, isto é, a Aids).
O que estO que estáá sendo silenciado pela ideologia?sendo silenciado pela ideologia?
Os motivos pelos quais, em nossa sociedade o vínculo entre sexo e
procriação é tão importante é que ela exige a procriação legítima e legal a
que se realiza pelos laços do casamento, porque ela garante, para a classe
dominante, a transmissão do capital aos herdeiros.
Assim, o adultério e a perda da virgindade são perigosos para o capital e
para a transmissão legal da riqueza; por isso, o primeiro se torna crime e a
segunda é valorizada como virtude suprema das mulheres jovens.
Em nossa sociedade, a reprodução da força de trabalho se faz pelo
aumento do número de trabalhadores e, portanto, a procriação é
fundamental para o aumento do capital que precisa da mão-de-obra. Por
esse motivo, toda sexualidade que não se realizar com finalidade
reprodutiva será considerada anormal, perversa e doentia, donde a
condenação do homossexualismo.
A ideologia, porém, perderia sua força e coerência se dissesse essas
coisas então as silencia.
Erguendo o vErguendo o vééu, tirando a mu, tirando a mááscarascara
Para que tanto esforço na teoria do conhecimento, se, afinal, tudo é ilusão,
véu e máscara? Para que compreender a atividade da consciência, se ela é
a “pobre coitada”, espremida entre o id e o super-ego, esmagada entre a
classe dominante e os ideólogos? Como, sendo a consciência tão frágil, o
Inconsciente e a ideologia tão poderosos, Freud e Marx chegaram a
conhecê-los, explicar seus modos de funcionamento e suas finalidades?
A prática médica e a busca de uma técnica terapêutica para os indivíduos
que permitiram Freud a descoberta do inconsciente e o trabalho teórico de
onde nasceu a psicanálise. Marx decidiu compreender a realidade a partir
da prática política de uma classe social (os trabalhadores) e portanto
perceber os mecanismos de dominação e exploração sociais, de onde
surgiu a formulação teórica da ideologia.
A busca da cura dos sofrimentos psíquicos, em Freud, e a luta pela
emancipação dos explorados, em Marx, criaram condições para uma
tomada de consciência pela qual o sujeito do conhecimento pôde
recomeçar a crítica das ilusões e dos preconceitos que iniciara desde a
Grécia, mas, agora, como crítica de suas próprias ilusões e preconceitos.
Em lugar de invalidar a razão, a reflexão, o pensamento e a
busca da verdade, as descobertas do inconsciente e da
ideologia fizeram o sujeito do conhecimento conhecer as
condições - psíquicas, sociais, históricas - nas quais o
conhecimento e o pensamento se realizam.
Como disseram os filósofos existencialistas acerca dessas
descobertas:
Encarnaram o sujeito num corpo vivido real e numa história
coletiva real, situaram o sujeito. Desvendando os obstáculos
psíquicos e histórico-sociais para o conhecimento, puseram
em primeiro plano as relações entre pensar e agir, ou, como se
costuma dizer entre a teoria e a prática. (CHAUÍ, Convite à
filosofia, 2000, p.172-5)
A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais
concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o
peso de outras condições históricas anteriores e determinadas.
Dupla alienação: os homens não se reconhecem como agentes e autores da
vida social com suas instituições - não percebem que instituem a sociedade;
por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres,
capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar
das instituições sociais e das condições históricas - ignoram que a sociedade
instituída determina seus pensamentos e ações.
As três formas da alienação social nas sociedades modernas ou
capitalistas:
1. A alienação social, os humanos não se reconhecem como produtores das
instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam
passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional,
ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e
inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois
casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo, separado, diferente de
nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós.
2. A alienação econômica, os produtores não se reconhecem como tal,
nem nos objetos produzidos por seu trabalho. A alienação econômica é
dupla:
1º. os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos
proprietários do capital (donos) = serão mercadorias e receberão um preço= o salário.
Mas, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que
produzem coisas; que foram desumanizados e coisificados.
2º. o trabalho produz alimentos, objetos de consumo, instrumentos para a
produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros
trabalhos. A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Nas lojas parecem estar ali
porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano nelas cristalizado, nem
efetuado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem
preço.
O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada e
não percebe que ele, enquanto classe social foi quem produziu tudo aquilo com seu
trabalho. Não pode ter os produtos porque seu salário não comporta seus preços altos.
As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e
tornam-se bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece).
Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho
por alguma coisa que tem 1um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador.
Na segunda forma, as mercadorias não permitem que o trabalhador nelas se reconheça
e dele estão separadas, são lhes exteriores e podem mais do que ele. As mercadorias
são um igualmente um outro, que não o trabalhador.
3. A alienação intelectual = separação social entre trabalho material (que produz
mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social entre as
duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que
não exige conhecimentos, apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho
intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade
alienada, os intelectuais também se alienam triplamente:
1o, esquecem ou ignoram que suas idéias estão ligadas às opiniões e pontos de
vista da classe a qual pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao
contrário, que são idéias universais, válidas para todos, em todos os tempos e
lugares.
2o, esquecem ou ignoram que as idéias são produzidas por eles para explicar a
realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e
que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.
3o, esquecendo ou ignorando a origem social das idéias e seu próprio trabalho
para criá-las. Acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a
realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar
que as idéias se produzem umas as outras, são causas e efeitos umas das outras
e que somos apenas seus receptáculos ou instrumentos. As idéias se tornam
separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um
outro.
Referências
1. Ideologia1. Ideologia : origens do conceito: origens do conceito
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Ed. Brasiliense,
8ª. Ed., 2006 [1980], 118p.
MCLELLAN, D. A ideologia. Lisboa: Estampa, 1987, 151p.
OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do
Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Ed.,
1996, p. 371-372
THERBORN, Göran. La ideología del poder y el poder de la
ideología. México: Siglo Veintiuno Ed. 3ª. Ed. 1991[1987], 101p.
2. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente não marxist2. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente não marxistaa
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MANNHEIMMANNHEIM, K., K. EssaysEssays onon thethe SociologySociology ofof KnowledgeKnowledge, 1957, 1957
_____________,_____________, IdeologyIdeology andand Utopia, 1936Utopia, 1936
3. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente marxista3. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente marxista
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(1991;1987).
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de Janeiro : Contraponto, 1996. 337p.

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Ideologias

  • 1. Ideologia, ideologias? ROGATA SOARES DEL GAUDIO Professora do COLTEC/UFMG, graduada em Geografia (IGC/UFMG); mestre em Ciências Sociais (ênfase em Ciência Política) - PUC/SP; doutora em Educação - FAE/UFMG. Membro do NEILS (Núcleo de Estudos sobre Ideologias e Lutas Sociais – PUC/SP). Tutora da TABA ELETRÔNICA. DORALICE BARROS PEREIRA Professora do IGC/UFMG, graduada em Geografia, mestre em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutora em Geografia pela Universidade de Montréal. Slides preparados para a disciplina Tópicos Especiais IV – Geografias e Ideologias, ministrada pelas referidas professoras no Programa de Pós- Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG entre 2009 e 2010.
  • 2. O espaço... Não é um objeto científico afastado da ideologia e da política; sempre foi político e estratégico. Se o espaço tem uma aparência de neutralidade e indiferença em relação a seus conteúdos e, desse modo, parece ser “puramente” formal, a epítome da abstração racional é precisamente por ter sido ocupado e usado, e por já ter sido o foco de processos passados cujos vestígios nem sempre são evidentes na paisagem. O espaço foi formado e moldado a partir de elementos históricos e naturais, mas esse foi um processo político. O espaço é político e ideológico. É um produto literalmente repleto de ideologias. (H. Lefebvre, apud SOJA, E. 1993, p. 102)
  • 3. IdeologiaIdeologia : origens do conceito: origens do conceito ÉÉ o conceito mais indefino conceito mais indefiníível no conjunto das ciências sociais.vel no conjunto das ciências sociais. O termo ideologia aparece pela 1ª vez na França, início do séc. XIX, no livro de Destutt de Tracy, Éléments d’idéologie, publicado em 1801. Junto ao médico Cabanis, de Gérando e Volney, de Tracy pretendia elaborar uma ciência da gênese das idéias, tratando-as como fenômenos naturais que exprime a relação do corpo humano enquanto organismo vivo, com o meio ambiente. Elabora uma teoria sobre as faculdades sensíveis, responsáveis pela formação de todas as nossas idéias: querer (vontade), julgar (razão), sentir (percepção) e recordar (memória). Marx conservará o significado napoleônico do termo: o ideólogo é aquele que inverte as relações entre as idéias e o real. (CHAUI, 2006, 25) Para Destut de Tracy as idéias derivam exclusivamente de percepções sensoriais, a inteligência humana é um aspecto da vida animal e "ideologia" é, portanto, parte da zoologia. Nessa análise reducionista, as atividades mentais seriam atribuídas as causas fisiológicas subjacentes, e levariam à verdade científica; eles exigiram reformas educacionais a partir dessa nova ciência. Napoleão quis defender a religião contra seus detratores e denunciou de Tracy e seu círculo como “metafísicos nebulosos" e sua ciência de idéias como uma ideologia perigosa. A palavra "ideologia" assumiu um sentido pejorativo. As idéias estariam sendo usadas para obscurecer a verdade e manipular as pessoas através do engano (propaganda). Os significados associados a ideologia: uma ciência de idéias, que se originam de alguma base fundamental, extra-ideacional (fisiologia, classe, luta pelo poder e assim por diante), a denúncia de idéias como visionárias e subversivas, e daí a associação de doutrinas ou mitos a algum grupo ou movimento inclinado a pôr em ação algum plano político ou cultural perigoso. (OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1996, p. 371-372)
  • 4. O significado pejorativo de ideologia tornou-se um recurso nas lutas políticas do século XIX, quando a política dos notáveis deu lugar ao desenvolvimento de partidos políticos, com apelos às massas. As questões públicas eram preocupação de uns poucos privilegiados, que partiam do princípio de que sabiam o que era melhor para seus inferiores. O privilégio de sua posição social dispensava justificativas às suas ações e seus oponentes eram acusados de visionários ideológicos que subvertiam a ordem social através de maquinações abstratas, fora de contato com a realidade. Liberais e radicais sustentavam que as questões públicas eram uma preocupação do povo e organizavam clubes ou partidos políticos para promoverem seus objetivos. Era o velho paradoxo do mentiroso: um homem diz que todos os homens usam idéias para enganar; ele é homem, logo sua própria afirmação também é enganosa. Marx e Engels denunciaram seus oponentes como "ideólogos" e elaboraram uma teoria da "verdade histórica" que afirmava que seus próprios pontos de vista eram científicos. A história é uma história de lutas de classe, afirmaram, brotando da organização da produção e afetando todos os aspectos da consciência. Marx diferencia sucessivas estruturas sociais, tais como feudalismo e capitalismo, em termos das classes e da consciência a que elas dão origem. Eles identificam a verdade com o papel histórico da classe que, pelo fato de ter sido subjugada no passado, tem o futuro progressista em suas mãos. O domínio reacionário de uma classe (a aristocracia no feudalismo, a burguesia no capitalismo) leva a defesas ideológicas do status quo; o papel progressista de uma classe (a burguesia no feudalismo, o proletariado no capitalismo) é a fonte da verdade no sentido do acesso à compreensão correta de toda a presente alienação e da emancipação humana no futuro.
  • 5. No passado os filósofos interpretaram o mundo e produziram reflexões ideológicas de relações de classe desumanizantes, por mais abstratamente que fosse. Hoje trata-se de destruir tais condições desumanizantes por uma unidade de teoria e prática tal que, na crise final do capitalismo (e devido a ela), os que se identificam com a classe operária poderão e irão compreender "teoricamente o movimento histórico como um todo". A obra de Marx foi colocada no centro de sua distinção histórico-mundial entre ideologia e verdade. Estar do "lado certo", e portanto "científico", da história do mundo distingue o marxismo de todas as outras teorias sociais e políticas. Outras concepções de ideologia consideram que as idéias não podem nem devem ser tomadas pelo seu significado manifesto, mas analisadas quanto as "forças" que estão por trás delas: as lutas de classe de Marx, a vontade de poder de Nietzsche, a constituição libidinal da natureza humana de Freud ou uma preferência geral por explicações genéticas. A atenção se volta não sobre o que uma pessoa diz, mas o motivo porque ela o diz, o que retarda o "fim da ideologia". (OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1996, p. 371-372)
  • 6. CHAUÍ, (2006): “desfazer a suposição de que a ideologia é um ideário qualquer ou qualquer conjunto encadeado de idéias e, ao contrário, mostrar que a ideologia é um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”. Concepção de ideologia: “tomar as idéias como independentes da realidade histórica e social, quando na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as idéias elaboradas e a capacidade ou não que elas possuem para explicar a realidade que as provocou”. (CHAUI, 2006, p. 8 e 13) A alienação social se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida. Exemplo: a “explicação da pobreza, em que o pobre é pobre por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural”. Esse senso comum social resulta de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade - sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, jornalistas, artistas -, que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a qual pertencem, a classe dominante de sua sociedade. Tal elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das classes sociais - a dominante e dirigente - tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade. A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos induzidos a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de “humanidade”, ou de “nação” e “pátria”, ou “raça”, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.
  • 7. A produção ideológica da ilusão social visa fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as idéias. P. ex., a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua, os mendigos não tem direitos ou tem direitos restritos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas é distinto daquele das crianças em escolas particulares, pois o acesso aos bens culturais é diferenciado; negros e índios são discriminados como inferiores; os homossexuais são perseguidos como pervertidos, etc. A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e contribuir com os impostos já os faz cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas.
  • 8. Os procedimentos da ideologiaOs procedimentos da ideologia A ideologia opera por inversão, coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estas últimas em efeitos. Ela opera com o inconsciente: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica idéias e falsas causalidades. Por ex., certo senso comum afirma que a mulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo, feito para as doçuras do lar e da maternidade e que foi destinada, por natureza, para a vida doméstica, o cuidado do marido e da família. Assim o “ser feminino” é colocado como causa da “função social feminina”. Historicamente ocorreu o contrário: na divisão sexual-social do trabalho e dos poderes no interior da família, atribuiu-se à mulher um lugar levando-se em conta o lugar masculino: como este era o lugar do domínio, da autoridade e do poder, deu-se à mulher o lugar subordinado e auxiliar, a função complementar e, visto que o número de braços para o trabalho e para a guerra aumentava o poderio do chefe da família e chefe militar, a função reprodutora da mulher tornou-se imprescindível, trazendo como conseqüência sua designação prioritária para a maternidade. Estabelecidas essas condições sociais, era preciso persuadir as mulheres de que seu lugar e sua função não provinham do modo de organização social, mas da Natureza, e eram excelentes e desejáveis. Montou-se a ideologia do “ser feminino” e da “função feminina” como naturais e não como históricos e sociais. Passamos então, a tomar os efeitos pelas causas.
  • 9. A segunda maneira de operar da ideologia é a produção do imaginário social, através da imaginação reprodutora. Recolhendo as imagens diretas e imediatas da experiência social (isto é, do modo como vivemos as relações sociais), a ideologia as reproduz, mas transformando-as num conjunto coerente, lógico e sistemático de idéias que funcionam em dois registros: a) representações da realidade (sistema explicativo ou teórico) e b) como normas e regras de conduta e comportamento: Representações, normas e valores formam um tecido de imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a sociedade o que ela deve e como deve pensar, falar, sentir e agir. A ideologia assegura, a todos, modos de entender a realidade e de se comportar nela ou diante dela, eliminando dúvidas, ansiedades, angústias, admirações, ocultando as contradições da vida social, bem como as contradições entre esta e as idéias que supostamente a explicam e controlam.
  • 10. 3ª. maneira de operação da ideologia é o silêncio. Um imaginário social se parece com uma frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque, se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-ia incoerente e contraditória e ninguém nela acreditaria. A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia vêm, portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto, a ideologia opera exatamente como o inconsciente descrito pela psicanálise). Por ex., a certas ideologias afirmam que o adultério é crime (tanto assim que homens que matam suas esposas e os amantes delas foram por décadas e são, em alguns países, considerados inocentes porque praticaram um ato em nome da honra), que a virgindade feminina é preciosa e que o homossexualismo é uma perversão e uma doença grave (tão grave que, para alguns, Deus resolveu punir os homossexuais enviando a peste, isto é, a Aids).
  • 11. O que estO que estáá sendo silenciado pela ideologia?sendo silenciado pela ideologia? Os motivos pelos quais, em nossa sociedade o vínculo entre sexo e procriação é tão importante é que ela exige a procriação legítima e legal a que se realiza pelos laços do casamento, porque ela garante, para a classe dominante, a transmissão do capital aos herdeiros. Assim, o adultério e a perda da virgindade são perigosos para o capital e para a transmissão legal da riqueza; por isso, o primeiro se torna crime e a segunda é valorizada como virtude suprema das mulheres jovens. Em nossa sociedade, a reprodução da força de trabalho se faz pelo aumento do número de trabalhadores e, portanto, a procriação é fundamental para o aumento do capital que precisa da mão-de-obra. Por esse motivo, toda sexualidade que não se realizar com finalidade reprodutiva será considerada anormal, perversa e doentia, donde a condenação do homossexualismo. A ideologia, porém, perderia sua força e coerência se dissesse essas coisas então as silencia.
  • 12. Erguendo o vErguendo o vééu, tirando a mu, tirando a mááscarascara Para que tanto esforço na teoria do conhecimento, se, afinal, tudo é ilusão, véu e máscara? Para que compreender a atividade da consciência, se ela é a “pobre coitada”, espremida entre o id e o super-ego, esmagada entre a classe dominante e os ideólogos? Como, sendo a consciência tão frágil, o Inconsciente e a ideologia tão poderosos, Freud e Marx chegaram a conhecê-los, explicar seus modos de funcionamento e suas finalidades? A prática médica e a busca de uma técnica terapêutica para os indivíduos que permitiram Freud a descoberta do inconsciente e o trabalho teórico de onde nasceu a psicanálise. Marx decidiu compreender a realidade a partir da prática política de uma classe social (os trabalhadores) e portanto perceber os mecanismos de dominação e exploração sociais, de onde surgiu a formulação teórica da ideologia. A busca da cura dos sofrimentos psíquicos, em Freud, e a luta pela emancipação dos explorados, em Marx, criaram condições para uma tomada de consciência pela qual o sujeito do conhecimento pôde recomeçar a crítica das ilusões e dos preconceitos que iniciara desde a Grécia, mas, agora, como crítica de suas próprias ilusões e preconceitos.
  • 13. Em lugar de invalidar a razão, a reflexão, o pensamento e a busca da verdade, as descobertas do inconsciente e da ideologia fizeram o sujeito do conhecimento conhecer as condições - psíquicas, sociais, históricas - nas quais o conhecimento e o pensamento se realizam. Como disseram os filósofos existencialistas acerca dessas descobertas: Encarnaram o sujeito num corpo vivido real e numa história coletiva real, situaram o sujeito. Desvendando os obstáculos psíquicos e histórico-sociais para o conhecimento, puseram em primeiro plano as relações entre pensar e agir, ou, como se costuma dizer entre a teoria e a prática. (CHAUÍ, Convite à filosofia, 2000, p.172-5)
  • 14. A alienação social é o desconhecimento das condições histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Dupla alienação: os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas instituições - não percebem que instituem a sociedade; por outro lado e ao mesmo tempo, julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, apesar das instituições sociais e das condições históricas - ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações. As três formas da alienação social nas sociedades modernas ou capitalistas: 1. A alienação social, os humanos não se reconhecem como produtores das instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona. Nos dois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externo, separado, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós.
  • 15. 2. A alienação econômica, os produtores não se reconhecem como tal, nem nos objetos produzidos por seu trabalho. A alienação econômica é dupla: 1º. os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários do capital (donos) = serão mercadorias e receberão um preço= o salário. Mas, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; que foram desumanizados e coisificados. 2º. o trabalho produz alimentos, objetos de consumo, instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização de outros trabalhos. A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Nas lojas parecem estar ali porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano nelas cristalizado, nem efetuado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem preço. O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada e não percebe que ele, enquanto classe social foi quem produziu tudo aquilo com seu trabalho. Não pode ter os produtos porque seu salário não comporta seus preços altos. As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e tornam-se bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece). Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho por alguma coisa que tem 1um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador. Na segunda forma, as mercadorias não permitem que o trabalhador nelas se reconheça e dele estão separadas, são lhes exteriores e podem mais do que ele. As mercadorias são um igualmente um outro, que não o trabalhador.
  • 16. 3. A alienação intelectual = separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam triplamente: 1o, esquecem ou ignoram que suas idéias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a qual pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são idéias universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares. 2o, esquecem ou ignoram que as idéias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais. 3o, esquecendo ou ignorando a origem social das idéias e seu próprio trabalho para criá-las. Acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as idéias se produzem umas as outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas seus receptáculos ou instrumentos. As idéias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro.
  • 17. Referências 1. Ideologia1. Ideologia : origens do conceito: origens do conceito CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 8ª. Ed., 2006 [1980], 118p. MCLELLAN, D. A ideologia. Lisboa: Estampa, 1987, 151p. OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1996, p. 371-372 THERBORN, Göran. La ideología del poder y el poder de la ideología. México: Siglo Veintiuno Ed. 3ª. Ed. 1991[1987], 101p.
  • 18. 2. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente não marxist2. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente não marxistaa WEBER, M.WEBER, M. TheThe MethodologyMethodology ofof thethe SocialSocial SciencesSciences, 1946, 1946 DURKHEIM, E.DURKHEIM, E. TheThe RulesRules ofof SocialSocial MethodMethod, 1982, 1982 FREUD, S. TotemFREUD, S. Totem andand TabooTaboo, 1939, 1939 MANNHEIMMANNHEIM, K., K. EssaysEssays onon thethe SociologySociology ofof KnowledgeKnowledge, 1957, 1957 _____________,_____________, IdeologyIdeology andand Utopia, 1936Utopia, 1936 3. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente marxista3. Ideologia no campo das ciências sociais: vertente marxista MCLELLAN, D. A ideologia. Lisboa: Estampa, 1987, 151p. THERBORN, Göran. La ideología del poder y el poder de la ideología (1991;1987).
  • 19. ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos do estado. Lisboa: Editorial Presença. 1988. BELL, Daniel. O fim da ideologia. Brasília: Editora da UNB. 1980. CARBONI, Florence e MAESTRI, Mário. A linguagem escravizada – língua, história, poder e luta de classes. São Paulo:Editora Expressão Popular. 2000. CHATELET, François, Histoire des ideologies. Paris : Hachette, 1978. LACOSTE, Yves. Vive la nacion – destin d´une idée géopolitique. Paris: Fayard, 1997. LÖWY, Michel. Nacionalismos e internacionalismos - da época de Marx até nossos dias. São Paulo: Xamã, 2000. ______. Ideologias e ciência social. São Paulo: Cortez, 1985. MANNHEIMM, K. Ideologia e utopia. São Paulo: Zahar, 1976. MARX e Engels, A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1986 MESZAROS, Istvan. O poder da ideologia. São Paulo:Boitempo editorial [1989]2004. MORAES, Antonio Carlos Robert. Ideologias geográficas: espaço, cultura e política no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1988. MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. São Paulo: Ed. Vozes, 2004. SANTOS, Boaventura de Sousa. (org.). A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002. ______. Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estudos Avançados, vol.2, no.2, São Paulo May/Aug. 1988 THIESSE, A.M. Ils apprenaient la France – l’exaltation des régions dans les discours patriotique. Paris: Maison des Sciences de l’home. 1997. ______. “La petit patrie enclose dans la grande: regionalismo e identidade nacional na França durante a Terceira República (1870 – 1940)”. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 15, p. 1-16, 1995. THOMPSON, Edward. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis: Vozes. 1989. ŽIŽEK, Slavoj. (org). Um mapa da ideologia. Trad. Vera Ribeiro; Rev. de trad. Cesar Benjamin. Rio de Janeiro : Contraponto, 1996. 337p.