Qualquer pessoa entendida em economia sabe que em um quadro de estagnação econômica que afeta o Brasil no momento, o crescimento econômico só se realiza desde que o governo eleve seus gastos para compensar a queda do consumo e do investimento. Quem formulou este ensinamento foi o grande economista John Maynard Keynes em meados do século XX. A tese defendida pelo governo Michel Temer de que precisa primeiro reduzir o gasto do governo para depois promover o crescimento econômico é totalmente irracional sob a ótica Keynesiana. Além disso, faz chantagem com a população ao afirmar que a alternativa é o corte de gastos do governo ou o aumento de impostos. Trata-se de um fato lamentável o governo Michel Temer pretender solucionar a crise econômica do Brasil que se agrava a cada dia com a adoção do ajuste fiscal que reduz o gasto público e tende a aprofundar o processo de estagnação econômica do País.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Controlar o sistema financeiro para evitar a débâcle econômica no brasil
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CONTROLAR O SISTEMA FINANCEIRO PARA EVITAR A DÉBÂCLE
ECONÔMICA NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
Qualquer pessoa entendida em economia sabe que em um quadro de estagnação
econômica que afeta o Brasil no momento, o crescimento econômico só se realiza desde
que o governo eleve seus gastos para compensar a queda do consumo e do investimento.
Quem formulou este ensinamento foi o grande economista John Maynard Keynes em
meados do século XX. A tese defendida pelo governo Michel Temer de que precisa
primeiro reduzir o gasto do governo para depois promover o crescimento econômico é
totalmente irracional sob a ótica Keynesiana. Além disso, faz chantagem com a
população ao afirmar que a alternativa é o corte de gastos do governo ou o aumento de
impostos. Trata-se de um fato lamentável o governo Michel Temer pretender solucionar
a crise econômica do Brasil que se agrava a cada dia com a adoção do ajuste fiscal que
reduz o gasto público e tende a aprofundar o processo de estagnação econômica do País.
Para combater a estagnação econômica, o governo federal deveria: 1) elevar o gasto
público renegociando com o sistema financeiro a redução dos encargos com o
pagamento dos juros da dívida pública visando seu alongamento no tempo; 2) reduzir
drasticamente as taxas de juros Selic e aquelas praticadas pelos bancos para incentivar o
investimento privado; 3) incentivar a atividade produtiva para combater a inflação e,
quando não for possível, promover a importação de produtos para baixar os preços
internamente; e, 4) incentivar as exportações para promover o crescimento econômico
instituindo o câmbio fixo em substituição ao câmbio flutuante.
Todo este conjunto de medidas só terá êxito se houver, entre outras medidas, o efetivo
controle pelo governo dos movimentos de capital no Brasil cuja liberalização aconteceu
desde 1990 durante o governo Fernando Collor quando foi introduzido o modelo
neoliberal na economia brasileira. A liberalização do fluxo de capitais na economia
brasileira está no cerne da grave crise que afeta o Brasil no momento. Encarado como
dogma pelos adoradores do deus-mercado, o livre fluxo de capitais compõe o tripé da
política macroeconômica neoliberal adotada no Brasil – junto com os juros
estratosféricos e o elevado superávit primário. Através deste mecanismo, o Brasil foi
colonizado e se transformou em uma máquina de transferência de riqueza do setor
produtivo para a oligarquia financeira nacional e internacional como vem acontecendo
desde a década de 1990.
Pode-se afirmar que a livre de circulação de capitais é o nó que une o crescimento
desmesurado da dívida pública, a expansão vertiginosa das taxas de juros e a
transferência da riqueza nacional com o superávit primário no Brasil. Pressionado pela
brutal dívida pública que alcança R$ 4,5 trilhões, o governo brasileiro é forçado a
manter os juros extremamente elevados (14,5% ao ano) para atrair novos capitais que
permitam o precário funcionamento da economia. Ao mesmo tempo, ela ajuda a
entender a existência do superávit primário que tem como principal objetivo assegurar o
pagamento dos juros aos credores da dívida pública. Este arrocho fiscal é exigido pelos
credores para dar tranquilidade ao deus-mercado e para atrair novos capitais externos. O
resultado deste modelo nefasto é conhecido pelos brasileiros: a economia fica
estagnada, o desemprego bate recorde, a renda despenca e o Estado tem fragilizada a
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sua capacidade de investimentos na infraestrutura econômica e social. Na outra ponta, o
dinheiro flui livremente para os ricos banqueiros.
Esse mecanismo, tão idolatrado pelos neoliberais, ainda tem outros efeitos perversos.
Faz com que o risco de abruptas crises cambiais se torne permanente, já que a qualquer
momento os investidores externos podem deixar o país – e este perigo é instantâneo, on-
line. Esta ameaça reforça ainda mais o poder do capital financeiro, que a usa como
forma de chantagem contra o governo brasileiro. O Estado brasileiro vira refém, sendo
forçado a fazer sempre mais concessões – reformas liberalizantes, autonomia do BC,
etc. como veem ocorrendo no Brasil desde a década de 1990. O modelo econômico
neoliberal que impera no Brasil, ancorado no superávit primário, na meta de inflação e
no câmbio flutuante, restringe o raio de manobra das políticas domésticas voltadas para
o desenvolvimento do País. É este mecanismo que precisa ser barrado para evitar um
futuro catastrófico para o Brasil.
Outro efeito pernicioso do livre fluxo de capital diz respeito ao incentivo às atividades
ilícitas. Aproveitando-se da liberalização financeira, da ausência de regulamentação e
controle, grande parte das atividades ilegais que degradam o planeta, como a corrupção,
o tráfico de drogas, armas, e órgãos do corpo humano e o crime organizado, encontram
o ambiente ideal para a sua valorização e legalização. Um fato é evidente: vivemos sob
a ditadura das finanças. A fração hegemônica do capital, a oligarquia financeira, manda
e desmanda no Brasil e no mundo, manipula governos, arruína as economias nacionais e
legaliza operações ilícitas. A movimentação financeira é frenética, sem qualquer
controle. A ditadura das finanças reina absoluta. A oligarquia financeira torna-se a
fração hegemônica da burguesia.
Diante do risco de ter que se submeterem à ditadura do capital financeiro, várias nações
passaram a procurar caminhos alternativos. Os chamados “países em desenvolvimento”
da Ásia, após o vendaval financeiro e cambial de 1997, buscaram superar sua
vulnerabilidade externa. Através de diversos mecanismos, muitos países voltaram a
adotar medidas para disciplinar a entrada e a saída de capitais. No geral, eles hoje obtêm
maior sucesso econômico e maior estabilidade do que os que aplicam o modelo
neoliberal como o Brasil. Este é o caso da China, onde as transações de capitais
dependem de autorização do Estado, as operações financeiras com o exterior, de entrada
ou de saída, são autorizadas pelo governo. Outro exemplo é o da Índia, onde predomina
o uso de restrições de natureza quantitativa e administrativa às transações de capitais.
China e Índia, que nunca abandonaram o controle sobre os capitais, são hoje sinônimos
de crescimento econômico continuado.
Diferentemente da China e da Índia, o Brasil é um país altamente vulnerável. Para
manter o frágil funcionamento da economia, o governo brasileiro depende do ingresso
anual de capitais do mercado externo ampliando sua dependência. Essa situação de
dependência, uma triste marca da história nacional, chegou às raias do absurdo durante
o governo FHC que escancarou a orgia financeira no Brasil. Os governos de Lula e de
Dilma Rousseff mantiveram intacta esta dependência do Brasil dela acarretando taxas
reais de juros extremamente elevadas que prejudicam o setor produtivo nacional, o
superávit fiscal continua extremamente elevado que beneficiam os credores da dívida
pública e o livre fluxo de capitais que continua a gerar alegria aos banqueiros. Esta
situação é mantida, também, pelo governo Michel Temer com sua política econômica
recessiva que ameaça levar o Brasil à bancarrota.
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É importante observar que a entrada de capital estrangeiro acarreta inúmeros malefícios
colaterais. Um deles é a valorização cambial que prejudica a competitividade dos
exportadores nacionais. É exatamente esta preocupação que fez com que a China
adotasse uma cautelosa gestão cambial optando pelo câmbio fixo ao invés do câmbio
flutuante em vigor no Brasil. Diante dos males proporcionados pela liberalização do
fluxo de capitais, torna-se uma exigência o controle de capitais que pode ser realizado
com a tributação sobre a entrada de capital estrangeiro. Pode também limitar a
volatilidade dos fluxos exigindo que determinada porcentagem do investimento
estrangeiro fique retida em reserva por determinado número de dias junto ao Banco
Central. Este tipo de controle, denominado política “lock-in”, evita a saída repentina de
capital.
Pode-se afirmar que o controle de capitais pode ser peça importante para uma estratégia
de crescimento e desenvolvimento econômico sustentado, principalmente em economias
marcadas pela instabilidade macroeconômica como a do Brasil. Tais controles
selecionam os fluxos de capital, confinando os capitais especulativos a volumes
administráveis e isolando a economia, em algum grau, dos choques externos. Assim, os
controles de capitais atuam no sentido de reduzir a volatilidade das taxas de câmbio e de
juros, ajudando a estimular as decisões de investimento na economia.
*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011),
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012),
Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,
Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo
(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:
falcoforado@uol.com.br.