A ofensiva neoliberal do governo Michel Temer visa colocar em prática o que os governos que lhe antecederam não conseguiram realizar na plenitude. Michel Temer quer restaurar o programa da década de 1990 nas novas condições históricas que foram criadas após o reformismo neoliberal implantado pelo PT. O ajuste fiscal, a redução nas políticas sociais e a política de privatizações fazem parte deste processo. Além de atentar contra a população com suas políticas antissociais, o governo Michel Temer compromete o futuro do País com sua política econômica recessiva que favorece apenas os banqueiros. O favorecimento aos banqueiros resulta do fato de a equipe econômica ter forte representação dos banqueiros no time liderado por Henrique Meirelles, atual ministro da Fazenda. Quando se avalia o déficit público de 2015, que alcançou R$ 620 bilhões, R$ 502 bilhões foram de juros que tem como principal beneficiário o sistema financeiro. Quando se analisa o déficit público em termos de porcentagem, se verifica que 82% são juros, 13% perda de arrecadação e apenas 5% aumento de despesa em relação a 2014.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Os nefastos efeitos do governo neoliberal de Michel Temer sobre o Brasil
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OS NEFASTOS EFEITOS DO GOVERNO NEOLIBERAL DE MICHEL
TEMER SOBRE O BRASIL
Fernando Alcoforado*
David Harvey, geógrafo britânico, professor da City University of New York, afirma
que; 1) o neoliberalismo é, em princípio, a política econômica que defende a tese de que
o bem-estar humano pode avançar mais com a liberalização do empreendedorismo
individual e a existência de uma estrutura institucional caracterizada por empresas
privadas fortes, livre mercado e livre comércio; 2) o papel do Estado neoliberal é o de
criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a tais práticas garantindo, por
exemplo, a qualidade e integridade da moeda, além de dispor de estrutura militar, de
defesa, policial e legal, entre outras funções, requeridas para assegurar os direitos da
propriedade privada e garantir pela força, se necessário, o funcionamento dos mercados;
3) a intervenção do Estado no mercado deve ocorrer em nível mínimo (HARVEY,
David. A brief history of neoliberalism. New York: Oxford University Press, 2007).
David Harvey acrescenta que o neoliberalismo propõe a desregulamentação,
privatizações e a retirada do Estado de muitas áreas de atendimento social. Quase todos
os países do mundo aderiram voluntariamente ou sob pressões coercitivas ao
neoliberalismo a partir da década de 1990. Até mesmo a China, que com Mao Zedong
tentou edificar a sociedade socialista, aderiu ao neoliberalismo sob a liderança de Deng
Xiaop-ing ao institucionalizar o chamado “socialismo de mercado” que representa a
construção de uma economia de mercado capitalista que incorpora, segundo David
Harvey, elementos neoliberais com o controle centralizado do Estado. Com o abandono
do projeto socialista, a introdução do neoliberalismo e a institucionalização do
capitalismo de estado na China, a proteção social dos trabalhadores que existia na época
de Mao Zedong deixou de existir.
Os fatores que desencadearam o neoliberalismo no mundo foram, de um lado, a crise
do sistema capitalista mundial com o declínio do processo de acumulação do capital
em escala mundial agravada com a triplicação dos preços de petróleo, literalmente o
combustível do capitalismo, em 1973 e de novo em 1979, quando houve também um
enorme aumento nas taxas de juros americanas, que causou, na década de 1980, a
chamada “crise da dívida externa” nos países capitalistas periféricos. A crise do
sistema capitalista mundial se deu em várias escalas: política, economia, vida social,
externa e internamente em todos os países. Toda a crise era demonstrada através do
aumento do desemprego, da queda nos níveis de investimento e da redução da
lucratividade do capital, da crise fiscal dos estados nacionais, etc. A resposta para
isso foi o neoliberalismo com base no qual foram adotadas novas ideologias, novas
formas de administração, de gerenciamento e de produção. De outro lado, o fim da
União Soviética e do sistema socialista do Leste Europeu contribuiu também para
que vários países que adotaram o socialismo na Rússia e no Leste Europeu, bem
como alguns que adotavam o Estado de Bem Estar Social na Europa Ocidental como
contraponto capitalista ao sistema socialista o substituísse pelo modelo neoliberal.
O neoliberalismo tem como princípios básicos: 1) mínima participação do Estado nos
rumos da economia nacional; 2) política de privatização de empresas estatais; 3) pouca
intervenção do governo no mercado de trabalho; 4) livre circulação de capitais
internacionais e ênfase na globalização; 5) abertura da economia para a entrada de
multinacionais; 5) adoção de medidas contra o protecionismo econômico; 6)
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desburocratização do Estado com a adoção de leis e regras econômicas mais
simplificadas para facilitar o funcionamento economia; 7) diminuição do tamanho do
Estado para torná-lo mais eficiente; 8) não interferência do Estado nos preços de
produtos e serviços que devem ser determinados pelo mercado com base na lei da oferta
e procura; 9) controle da inflação pelo Estado através de políticas monetárias com base
em metas de inflação; 10) adoção pelo Estado da política de câmbio flutuante; e, 11)
obtenção de superávit fiscal para pagamento da dívida pública.
A prática vem demonstrando a inviabilidade do modelo econômico neoliberal no Brasil
inaugurado pelo presidente Fernando Collor em 1990 e mantido pelos presidentes
Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Roussef. O baixo
crescimento econômico do Brasil e a elevação desmesurada da dívida pública federal
durante os governos FHC, Lula e Dilma Roussef demonstram a inviabilidade do modelo
neoliberal implantado no País. Não apenas FHC deixou um legado econômico
comprometedor do desenvolvimento do Brasil. Lula e Dilma Roussef são também
responsáveis por esta situação porque não foram capazes de adotar um modelo
econômico que contribuísse com efetividade para o progresso econômico e social do
Brasil.
Tanto quanto o governo FHC, os governos do PT de Lula e Dilma Roussef mantiveram
o modelo neoliberal que contribuiu para provocar uma verdadeira devastação na
economia brasileira de 2002 a 2014 configurada: 1) no crescimento econômico pífio e
descontrole da inflação; 2) nos gargalos existentes na infraestrutura econômica e social;
3) na desindustrialização da economia brasileira; 4) na explosão da dívida pública
interna; 5) na desnacionalização da economia brasileira; e, 6) no agravamento da crise
fiscal e financeira do setor público que atinge a União, Estados e Municípios.
O governo Michel Temer aprofunda o modelo neoliberal no Brasil com suas políticas de
ajuste fiscal para assegurar o superávit primário que beneficia o sistema financeiro
estabelecendo o teto para o gasto público por 20 anos que significa o congelamento de
gastos com educação, saúde, infraestrutura, etc. comprometendo o desenvolvimento do
País, de reforma da previdência social que, na prática, vai fazer com que os
trabalhadores paguem para ter uma aposentadoria que não usufruirá, uma reforma
trabalhista que contempla a flexibilização das leis trabalhistas que vai beneficiar os
patrões em detrimento dos trabalhadores e, finalmente, a privatização das empresas
estatais e do serviço público em geral. Tudo isto está sendo feito com base no
argumento de que é preciso criar as condições necessárias para atrair o investidor
privado.
A ofensiva neoliberal do governo Michel Temer visa colocar em prática o que os
governos que lhe antecederam não conseguiram realizar na plenitude. Michel Temer
quer restaurar o programa da década de 1990 nas novas condições históricas que foram
criadas após o reformismo neoliberal implantado pelo PT. O ajuste fiscal, a redução nas
políticas sociais e a política de privatizações fazem parte deste processo. Além de
atentar contra a população com suas políticas antissociais, o governo Michel Temer
compromete o futuro do País com sua política econômica recessiva que favorece apenas
os banqueiros. O favorecimento aos banqueiros resulta do fato de a equipe econômica
ter forte representação dos banqueiros no time liderado por Henrique Meirelles, atual
ministro da Fazenda. Quando se avalia o déficit público de 2015, que alcançou R$ 620
bilhões, R$ 502 bilhões foram de juros que tem como principal beneficiário o sistema
financeiro. Quando se analisa o déficit público em termos de porcentagem, se verifica
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que 82% são juros, 13% perda de arrecadação e apenas 5% aumento de despesa em
relação a 2014.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011),
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012),
Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV,
Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo
(Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail:
falcoforado@uol.com.br.